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Pró-Reitoria de Graduação
Pró-Reitoria
Curso
de Administraçãode Graduação
Trabalho de Conclusão de Curso
Curso de Pedagogia
Trabalho de Conclusão de Curso
Pró-Reitoria de Graduação
Curso de pedagogia
Trabalho de Conclusão de Curso
ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA
PERSPECTIVA DO LETRAMENTO
SATISFAÇÃO
HOSPITALAR
NO
TRABALHO:
ESTUDO
EM
UMA
INSTITUIÇÃO
Autor: Bruna Karoline da Silva Pedro
Orientadora: MsC. Silvanete Pereira dos Santos
Autor: Silvanir da Silva de Andrade
TERMO DE APROVAÇÃO
Orientador: Professora Adrienne de Capdeville
Examinador: José Henrique L. C. D. Barreiros
S
Brasília - DF
2014
1
BRUNA KAROLINE DA SILVA PEDRO
ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA PERSPECTIVA DO
LETRAMENTO
Monografia apresentada ao curso de
graduação
em
Pedagogia
da
Universidade Católica de Brasília, com
requisito parcial para obtenção do titulo de
Licenciado em Pedagogia.
Orientador: Professor
Pereira Dos Santos
BRASÍLIA
2014
MsC.
Silvanete
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3
ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA PERSPECTIVA DO
LETRAMENTO
Bruna Karoline da Silva Pedro
Resumo:
O presente artigo trata sobre as dificuldades enfrentadas pelos alunos e
professores na aprendizagem na educação de jovens e adultos na questão da
alfabetização na perspectiva do letramento, destacando os desejos e as dificuldades
desses alunos na busca do aprendizado. Esta é uma modalidade de educação
importante para a nossa sociedade, pois possibilita aos indivíduos uma nova
oportunidade. O artigo se atenta ao fato de analisar como o letramento está inserido
na educação de jovens e adultos, visando analisar se os professores da EJA utilizam
o letramento na prática da alfabetização e identificar os efeitos do letramento na
aprendizagem dos alunos e constatar como o letramento contribui para o processo
de alfabetização na EJA. A pesquisa é qualitativa, na qual foram observados os
aspectos da realidade vivida pelos alunos e os problemas bem como os fatores que
determinam e contribuem para o letramento na EJA. A abordagem usada na
pesquisa foi qualitativa, e como instrumento de pesquisa foi utilizado o questionário
para os alunos e uma entrevista para os professores.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Letramento. Alfabetização.
Introdução
A educação de jovens e adultos (EJA) é uma oportunidade dada aos cidadãos
que por diversos motivos não puderam cursar a educação básica durante a infância
e/ou adolescência.
Estas pessoas em sua maioria buscam aprender a ler e a escrever, e cabe ao
professor à tarefa de alfabetizar seus alunos. Porém ler e escrever apenas não
basta para que estes indivíduos estejam inseridos na sociedade, pois necessitam do
entendimento sobre o que estão lendo. Este processo denomina-se letramento.
Os indivíduos quando são alfabetizados aprendem a ler e escrever, porém
não essencialmente adquirem a prática da leitura e da escrita, assim não possuem
4
capacidade para usá-las em seu cotidiano seja para solucionar problemas ou buscar
informações.
O letramento vai além da leitura e da escrita, é quando a pessoa já esta
envolvida com a sociedade e consegue interpretar o que lê e o que escreve. É o
resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e a escrever, onde o individuo
adquiri condições de se integrar na sociedade. O letramento político ajuda neste
processo de assimilação de conhecimentos como direitos humanos, instituições
políticas, democracia, participação nas tomadas de decisão, diálogo e valores para a
conservação e o uso da democracia.
Existem pessoas que sabem escrever o próprio nome, mas não conseguem
escrever uma carta ou encontrar informações em dicionários, tabelas, catálogos,
conta de luz, bula de remédio nem mesmo conseguem preencher um formulário.
Esta pesquisa constitui-se da perspectiva de que devemos alfabetizar
letrando os alunos da EJA trazendo o apoio do letramento para esse processo de
ensino. Teve como objetivo geral analisar como o letramento esta inserido na
educação de jovens e adultos e como objetivos específicos analisar se os
professores da EJA utilizam o letramento na prática da alfabetização bem como
identificar os efeitos do letramento na aprendizagem dos alunos e constatar como o
letramento contribui para o processo de alfabetização na EJA.
A pesquisa foi realizada em uma escola pública do Distrito Federal, na qual
foram realizadas entrevistas gravadas e aplicação de questionários.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual foram observados os aspectos
naturais da realidade vivida pelos alunos e os problemas, bem como os fatores que
determinam e contribuem para o letramento na EJA.
Os instrumentos de pesquisa utilizados para o levantamento dos dados foram:
entrevista e análise documental. A entrevista foi aplicada a 5 educadores da EJA e a
100 estudante. A análise documental foi realizada com base no estudo do Projeto
Política Pedagógico da Escola da escola pesquisada.
1. Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil
Em nosso país a educação de adultos teve inicio com o Brasil Colônia onde a
população adulta tinha uma educação que abrangia os aspectos religiosos mais do
que os educacionais. Já no Brasil Império iniciam-se algumas reformas educacionais
5
e surge o ensino noturno. Em 1876 o ministro José Bento da Cunha Figueiredo
através de relatório aponta que existe mais de 200 mil alunos frequentes nas aulas
noturnas.
As aulas noturnas durante muitos anos foram à única forma de educação
para adultos existente no país. No século XX com o desenvolvimento industrial
iniciou-se um processo vagaroso de valorização da educação de adultos, mas essa
valorização causava opiniões diferentes, para uns o objetivo era a aquisição da
leitura e da escrita para a inclusão social e para outros essa alfabetização era para
ampliação dos votos.
A partir de 1940 percebeu-se os altos índices de analfabetismos no país o
que levou o governo criar um fundo destinado á alfabetização da população adulta
analfabeta. Em 1945 com o fim da ditadura de Vargas, teve inicio o movimento de
revigoramento dos princípios democráticos no país. A criação da Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) teve grande
influência para a alfabetização de adultos, já que foi através dela que se iniciaram as
campanhas para acabar com o analfabetismo, pois a UNESCO fez uma solicitação a
todos os países integrantes ( entre eles o Brasil) de educar os adultos analfabetos.
Em 1947 o governo Duntra lançou a 1ª campanha de Educação de Adultos,
sugerindo alfabetizá-los em três meses, oferecendo um curso de primário de duas
etapas de sete meses, a primeira seria a capacitação profissional e a segunda o
desenvolvimento comunitário. Logo após o lançamento dessa campanha a
Associação de Professores do Ensino Noturno e o Departamento de educação
organizaram o 1º Congresso de Educação de Adultos e foram convocados pelo
Ministério da Educação, dois representantes de cada Estado, para participar do
referido congresso.
O Serviço de Educação de Adultos do MEC (SEA) a partir desse congresso
preparou e enviou para as SEAs estaduais, uma serie de publicações sobre o tema
para ser discutido. Segundo Soares (1996) eram: o investimento na educação como
solução para os problemas sociais existentes na sociedade; o alfabetizador
identificado como missionário; o analfabeto visto como causa da pobreza; o ensino
de adultos como uma tarefa fácil; a não necessidade de formação especifica; a não
necessidade de remuneração, devido à valorização do “voluntariado”. Dai então
começa a ação de mobilização nacional visando discutir a educação de jovens e
adultos no país.
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Embora a primeira Campanha não tenha alcançado seus objetivos ela
colaborou para diminuir o preconceito em relação ao processo de educação de
adultos. Após esse fracasso começaram a surgir diversas pesquisas e algumas
teorias. Assim o método de alfabetização de adultos dessa primeira Campanha
recebeu muitas criticas, devido à má remuneração dos professores, as condições
precárias onde aconteciam as aulas, a falta de material didático, a baixa frequência
dos alunos em aula, entre outras (SOARES, 1996).
Com base nas críticas negativas que a primeira campanha recebeu e os
resultados insatisfatórios, surge o enfraquecimento do programa, mas a delegação
de Pernambuco se destaca e vai além das criticas arrumando soluções, Paulo Freire
fazia parte dessa delegação que sugeria uma maior comunicação entre professor e
aluno e um ajustamento do método característico das classes populares (SOARES,
1996).
No final de 1950 e início de 1960 ocorre uma forte mobilização da sociedade
civil para as reformas de base, que colaborou para as mudanças da educação de
adultos, onde surgiu um novo olhar para o analfabetismo e uma nova pedagogia de
alfabetização de adultos que tinha como referência Paulo Freire. O analfabetismo
então que antes era visto como a causa da pobreza passa a ser apontada como o
efeito da pobreza devida a estrutura social não igualitária (SOARES, 1996).
A ideia de Paulo Freire mostrou que o processo educativo precisaria interferir
na estrutura social, onde o aluno seria alfabetizado levando em consideração seu
contexto social. Em 1964 acontece o Golpe Militar e o exilio de Paulo Freire, a partir
disto o governo cria o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).
O MOBRAL era voltado para a população de 15 a 30 anos, e seu objetivo era
a alfabetização funcional, onde ocorria a aquisição de técnicas elementares de
leitura, escrita e cálculo (CUNHA, 1999)
Em 1962, já em vigência da lei n° 4.024/61, de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, foi instituída pelo MEC, a MNCA (Mobilização Nacional contra o
Analfabetismo), pelo decreto n° 51.470/62. Essa Mobilização pretendia escolarizar
indivíduos de até 21 anos de idade e “se possível, até de mais de 21 anos”, e
incorporava as seguintes ações/movimentos:
- Campanha de Educação de Adultos e Adolescentes, que previa a instalação
de 20.000 classes para jovens de mais de 12 anos.
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- Campanha Nacional de Educação Rural, voltada ao combate do
analfabetismo na zona rural e ao treinamento de professores leigos.
- Campanha de Erradicação do Analfabetismo, que deveria cuidar dos
Centros de Treinamentos dos professores leigos.
- Construção de Prédios Escolares, em um projeto ao qual ficou subordinados
a construção de salas de aula com os recursos orçamentários a ele destinados, e
ainda não aplicados, por Centros-Piloto especificados.
- Campanha da merenda escolar.
Em 1985 o MOBRAL foi abolido e em seu lugar nasceu a Fundação
EDUCAR, que passa a sustentar financeiramente e tecnicamente as ações
existentes para a EJA. Cunha (1999) diz que a década de 80 foi marcada pela
propagação das pesquisas sobre língua escrita com pontos positivos relacionados a
alfabetização de adultos. Em 1988 a Constituição Federal expandiu o dever do
estado para a EJA e garantiu o ensino fundamental obrigatório e gratuito para todos
(SOARES, 2004).
Na década de 90 a EJA ganhou reconhecimento e sendo apontada por ter
importância na cidadania e formação cultural da população devido as conferencias
organizadas pela UNESCO, criada pelo ONU e responsável pela implantação da
educação nos países em desenvolvimento, neste tempo surgi uma mobilização
social das delegações de todo o pais para discutir sobre o assunto.
Após essa mobilização social foram organizados Fóruns Estaduais de EJA
que se espalharam por todo o Brasil, esses fóruns tinham como objetivo discutir
sobre a EJA. Assim a historia da EJA começa a ser publicada em um Boletim da
Ação Educativa que socializa uma agenda de Fóruns e os relatórios das ENEJAs
(SOARES, 2004).
De 1999 a 2000 os fóruns começam a aparecer nas audiências do Conselho
Nacional de Educação para discutir as diretrizes curriculares para a EJA. Os Fóruns
contribuíram muito para a discussão, melhora e aprofundamento da EJA no país
(SOARES, 2004).
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2. Os marcos legais da Alfabetização de Jovens e Adultos
A Constituição Brasileira de 1988 traz sobre a EJA nos artigos:
- art. 208: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:
I- ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria.
- art. 206: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I- igualdade de condições de acesso e permanência na escola
- art. 3: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:
IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer formas de discriminação.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em seu artigo 37 garante Educação a
Jovens e Adultos que não tiveram acesso, ou que interromperam os estudos no
ensino fundamental e médio na idade adequada. Assegura um ensino gratuito e
oportunidades educacionais considerando as características e interesses dos alunos
assim como as condições de vida e trabalho de cada um, através de cursos e
exames. Os governantes devem providenciar e estimular o acesso e a permanência
dos estudantes na escola por meio de ações e incentivos.
A proposta curricular para a educação de jovens e adultos é um documento
do qual a escola e os professor devem utilizar como base na elaboração de projetos
e propostas a serem desenvolvidas em âmbito escolar. E tem como objetivo
proporcionar um auxílio que oriente a preparação de programas de Educação de
Jovens e Adultos e também o fornecimento de materiais didáticos e a formação de
educadores a ela destinados. Deve ser considerado a dimensões social, ética e
política dos alunos.
A ideia da Educação Popular, referência importante na EJA, enfatiza o valor
educativo do diálogo e da participação, o estudante como sujeito portador de
saberes, que devem ser reconhecidos.
Em 21 de janeiro de 1964, foi instituído o Programa Nacional de
Alfabetização. O artigo 1° da Lei que o criou determinava que os trabalhos seriam
realizados utilizando-se o método de Paulo Freire, sendo o Programa coordenado
pelo próprio professor.
Em 1971 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Lei n º 5.692/71 é
implantado o Ensino Supletivo, onde foi dedicado um capitulo para a Educação de
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Jovens e Adultos sendo reconhecida como um direito de cidadania e um grande
avanço para a EJA no Brasil.
O MEC realiza, desde 2003, o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), voltado
para a alfabetização de jovens, adultos e idosos. O programa é uma oportunidade
de ingresso à cidadania e do interesse pela acréscimo da escolaridade. O Brasil
Alfabetizado é desenvolvido em todo o território nacional, com prioridade no
atendimento a municípios que exibem alta taxa de analfabetismo. Tem como
objetivo promover a superação do analfabetismo entre jovens com 15 anos ou mais,
adultos e idosos e colaborar para a universalização do ensino fundamental no Brasil.
Sua visão conhece a educação como direito humano e a oferta pública da
alfabetização como porta de entrada para a educação e a escolarização das
pessoas ao longo de toda a vida. Sua ação e apoiar e financeiramente os projetos
de alfabetização de jovens, adultos e idosos apresentados pelos estados, municípios
e Distrito Federal.
3. A contribuição de Paulo Freire para a Alfabetização de Jovens e Adultos
O educador Paulo Freire começou a sistematizar seu método de ensino para
a educação de jovens e adultos no final de 1950. Freire era um dos fundadores e
diretores do Serviço de Extensão Cultura da Universidade do Recife e por meio
deste cargo constituiu os primeiros estudos de um novo método de alfabetização,
que foi divulgado em 1958 e apresentado em 1962.
A primeira tentativa da utilização do método teve início na cidade de Angicos,
no Rio Grande do Norte em 1962, com a participação de 300 trabalhadores que
foram alfabetizados em 45 dias. Com o sucesso do método de Freire surgiram vários
movimentos e programas de educação em diversos lugares do país.
Para Freire, a educação é o componente necessário para que a população
adquira o conhecimento para uma possível transformação politica na sociedade. Seu
método tem como meta que uma alfabetização fosse além da técnica, deixando de
ser automática e tomando-se fonte de conscientização e democracia da cultura, que
oferecesse aos cidadãos um conhecimento crítico ao mesmo tempo em que estão
sendo alfabetizados (FREIRE, 2005). Para Freire:
10
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta
não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade
se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua
leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto
(FREIRE, 2006 p. 11).
A alfabetização de adultos não pode ser apenas a memorização de silabas,
palavras ou frases, mas principalmente a reflexão crítica sobre o processo de ler e
escrever em um contexto significativo de compreensão da linguagem e da leitura de
mundo.
O método de Freire para a alfabetização deve partir de palavras e temas
geradores, com isto os educadores devem conhecer e considerar a identidade
cultural dos alunos, pois essa cultura era dada como essencial no processo de
aprendizagem dos educandos, sendo utilizado como ponto de partida para o alcance
de novos conhecimentos (FREIRE, 2005).
Freire (2005) afirma que o indivíduo se torna alfabetizado quando consegue
ter uma postura para intervir sobre o meio em que vive. Por isso, o educador deve
sempre conversar com o educando a respeito de situações existente em seu
cotidiano, para que assim o aluno consiga pensar, discutir, argumentar e procurar
solucionar os problemas existentes em seu meio social. Assim, cabe ao professor
trazer para os momentos de aprendizagens aspectos da cultura dos alunos devendo
estimula-los a serem críticos e participativos na sociedade em que estão inseridos.
Neste contexto, o educador deve sempre guiar os educandos para a reflexão
coletiva e estimular a análise critica da realidade. Assim, pode ser oferecida aos
adultos uma educação que possa possibilitar o pensamento crítico bem como, seu
papel na sociedade, fazendo com que reflitam sobre suas possíveis ações,
permitindo perceber e desenvolver o seu papel social, seus direitos e deveres
perante a comunidade em que vive (FREIRE, 2005).
Para Freire (2005), a educação de adultos proporciona a transformação de
uma consciência ingênua para uma consciência critica. Assim o método valorizou a
conscientização da população sobre a realidade brasileira e destacou a importância
do processo de educação ser de forma dialógica, onde o diálogo é uma ação
humana de interação e não de submissão (FREIRE, 1975).
Segundo Freire (2005), o diálogo exige humildade, amor, fé, esperança e
confiança. Existe diálogo quando estes elementos se relacionam e permite
aprendizagem para ambos os sujeitos envolvidos no processo dialógico.
11
Portanto, a alfabetização e o letramento de pessoas jovens e adultas precisa
ser uma educação dialógica, trazendo problemas presentes nas realidades sociais,
às condições políticas dos alunos em seu contexto real, possibilitando uma ação
crítica de compreensão e prática de uma leitura da palavra conectada a uma leitura
de mundo.
Paulo Freire colabora significativamente com a educação de jovens e adultos
exibindo uma inovação na alfabetização da EJA com a valorização da cultura e do
indivíduo como ser participante no processo da construção do conhecimento. Cada
pessoa desempenha e faz parte da elaboração de uma sociedade democrática.
Freire deixa uma herança para todos os educadores com iniciativa e
consciência de uma pedagogia popular na qual o ato educativo deve revelar uma
educação transformadora da sociedade e confiante na ação pedagógica para a
independência do indivíduo.
No pensamento freiriano, o aluno ao fazer uma leitura crítica de sua realidade,
se tornar capaz de entender os seus direitos e deveres, de se torna independente, e
um processo lento, mas futuramente o sujeito se tornara capaz de resolver seus
problemas, criticar, buscar soluções, e viver na realidade social, politica e econômica
em que se está inserido
Para freire o processo de alfabetização a leitura do mundo antecede a leitura
das palavras, assim os alunos precisam entender a realidade em que estão
inseridos, conversando e pensando a respeito de si mesmos e de tudo o que esta ao
seu redor. O professor ligado a educação popular inicia sua aula partindo de uma
roda de conversa, começando um discurso para que os alfabetizandos possam falar
de forma crítica e emancipadora sobre o seu contexto sociocultural. Partindo desse
processo, os educandos serão capazes de realizar uma releitura de sua existência e
recuperar através da linguagem os seus conhecimentos transformando seu saber,
pelo meio de sua experiência de vida em produções de texto.
O diálogo ente educador e educando é essencial para o processo de ensino
aprendizagem, pois é através dele que se constroem uma relação de confiança
entre professor e aluno. Proporciona também o conhecimento a troca de saberes e
estimula o aluno a querer aprender sempre mais. Não se consegue fazer um diálogo
sozinho, pois resulta em uma educação bancária que o aluno apenas escuta e nele
é depositado o conhecimento. Neste sentido, Freire (2005) diz que a alfabetização
não pode ser feita de cima para baixo, como uma dádiva ou uma imposição, mas de
12
dentro para fora, pelo próprio educando e apenas com a colaboração do educador.
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens educam-se entre
si, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2005. p. 78.).
Assim a edificação da relação entre educador e educando se concretiza
quando no processo ensino-aprendizagem o professor faz com que o aluno sinta
que faz parte deste mundo letrado de maneira critica e emancipatória.
4. As práticas sociais de leitura e escrita
Ser alfabetizado hoje em dia tem se mostrado pouco para acompanhar as
demandas da sociedade atual. Saber ler e escrever de forma mecânica não garante
a interação dessa pessoa no meio social é preciso saber mais do que apenas
reconhecer sons e letras, tem que compreender os significados e os usos das
palavras nos contextos distintos.
No Brasil em 1990 começa a usar o termo analfabeto funcional que é
destinado aos indivíduos que apenas sabem ler e escrever, sem conseguir fazer uso
da leitura e da escrita, foi a partir daí que os pesquisadores sentiram a necessidade
do conceito de letramento.
Alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever e letrado é aquele que sabe ler
e produzir textos, dos mais variados gêneros e temas, aquele que compreende o
significado do que esta sendo lido. Assim na sociedade letrada não a espaço para
os analfabetos, pois acabam sendo prejudicados e encontram dificuldades para
disfrutar dos benefícios que a cultura escrita proporciona.
O letramento inicia-se muito antes da alfabetização, ou seja, quando uma
pessoa começa a interagir socialmente com as práticas de letramento no seu mundo
social. Como afirma Freire (1989. p.11-12),
[...] A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura
desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e
realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada
por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.
O letramento entra no meio acadêmico para tentar dividir os estudos sobre o
impacto social da escrita dos estudos sobre a alfabetização, cujas conotações
13
escolares destacam as competências individuais no uso na prática da escrita
(KLEIMAN, 1995).
Soares (2006), lembra que quando a escrita e introduzida a um individuo, ela
traz diversas consequências a esta pessoa e também ao grupo social em que ela
esta inserida, assim quando aprende a ler e escrever se torna alfabetizado e adquiri
novos conhecimentos nas praticas sociais de leitura e escrita, onde passa a sofrer
os
efeitos
sociais,
culturais,
linguísticos,
cognitivos,
econômicos
e
como
consequência muda-se o modo de pensar, agir e viver na sociedade.
Soares lembra ainda que uma pessoa pode ser analfabeta e de certa forma
ser letrada, pois este indivíduo, pode se encontrar em uma situação de vida em que
a leitura e a escrita esteja muito presente em seu cotidiano, e demonstrar interesse
em que alguém leia para ele uma carta, cartaz, jornal, revista, avisos e placas. Ele
se encontra envolvido nas praticas sociais de leitura e escrita. Portanto, as grandes
maiorias dos jovens e adultas que ainda não foram alfabetizados são de certa forma
letrados, pois ao longo da vida foram adquirindo conhecimentos através da leitura de
outras pessoal.
5. A compreensão de letramento da Alfabetização de Jovens e Adultos
Na atualidade ser alfabetizado tem se mostrado pouco para atender
apropriadamente as exigências da sociedade Há algum tempo atrás era suficiente
que os indivíduos soubessem apenas assinar o nome ou escrever um bilhete
simples, mas nos dias de hoje ler e escrever de forma mecânica não garante a
inserção dessas pessoas no convívio social.
O termo letramento surgiu a partir da palavra inglesa “literacy” que significa
letrado, pela necessidade de uma nova realidade social, onde além de ser exigido o
domínio da leitura e da escrita deve também fazer o uso adequado e constante de
ambos. Kleiman (2005), diz que o letramento não é alfabetização, mas que são
integrados.
Para Soares (2010), o surgimento desse novo termo e devido à precisão que
a sociedade tem para nomear coisas e objetos para que só assim possam realmente
existir. Contudo, a palavra letramento aparece para diferenciar os indivíduos que não
conseguem fazer o uso correto da leitura e da escrita dos que conseguem
14
corresponder às características exigidas pela sociedade onde solicita o uso das
praticas da leitura e da escrita no cotidiano das pessoas.
Nos anos 70 a organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (UNESCO) recomendou que os alunos que somente conseguem ler e
escrever sem que consigam fazer o seu uso no cotidiano seja denominado
“analfabetismo funcional” porem somente nos anos 90 a expressão começou a ser
utilizada pela sociedade. Segundo Soares (1998),
À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez
maior de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que,
concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada na
escrita (cada vez mais grafocêntrica), um novo fenômeno se evidencia; não basta
aprender a ler e escrever. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a
escrever, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita,
não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para
envolver-se com práticas sociais de escrita.
O letramento esta relacionado com o uso da leitura e da escrita na vida social,
e será mais bem aproveitado se o indivíduo que estiver sendo alfabetizado tenha
uma pratica diária e real do que se esta aprendendo. De acordo com Tfoouni (2006).
[...] não se restringe somente àquelas pessoas que adquiriram a escrita, isto é,
aos alfabetizados. Buscam investigar também as consequências da ausência da
escrita a nível individual, mas sempre remetendo ao social mais amplo, isto é,
procurando, entre outras coisas, ver quais características da estrutura social tem
relação com os fatos. Pois, a ausência tanto quanto a presença da escrita em uma
sociedade são fatores importantes que atuam ao mesmo tempo como causa e
consequência de transformações sociais, culturais e psicológicas às vezes
radicais.
Para Soares (2010), letrar é mais que alfabetizar é ensinar a ler e escrever
dentro de um contexto onde tenham sentido e faça parte do dia a dia dos alunos não
basta apenas formar palavras é preciso compreender o que se lê, assimilar
diferentes tipos de textos e constituir relações entre eles.
Soares (2010), vai além e diz que um adulto pode ser analfabeto e de certa
forma ser letrado, onde o individuo não aprende a ler nem escrever mas utiliza a
escrita para escrever uma carta através de uma pessoa alfabetizada onde ele dita o
texto e a outra pessoa escreve. Assim ele demostra que conhece de alguma forma
as estruturas e funções da escrita, esse indivíduo não possui as técnicas de
15
decodificação das letras e sons, mas possui certo grau de letramento em decorrer
das experiências de vida.
Os professores precisam tornar os estudantes capazes de compreender que
para ler e escrever de verdade precisa ir além de decodificar sons e letras, mostrar
que devem ser capazes de usar essa aprendizagem no cotidiano para atender as
exigências da sociedade.
A tarefa de alfabetizar letrando significa contribuir para que os alunos estejam
preparados para utilizar qualquer tipo de linguagem em vários tipos de situação,
assim desenvolvendo capacidade, habilidade e desempenho de escrita e leitura das
palavras e do mundo.
Vale lembrar que o letramento não é de responsabilidade exclusiva do
professor de Língua Portuguesa, mas sim de todos os educadores que trabalham
com a turma, e importante que os educadores consigam inserir os alunos em
diferentes ambientes que os levem ao letramento como a musica, dança, teatro,
pintura entre outras, para que assim possibilitem os alunos a terem diferentes tipos
de aprendizagem.
É de responsabilidade dos educadores transformar o aluno alfabetizado em
um indivíduo letrado, este processo é realizado através de vários incentivos como
utilizar diversos tipos de leitura, o uso de atividades de interpretação e compreensão
de texto, variar nas fontes de leitura como revistas, livros, jornais entre outras fontes
de informação escrita.
Assim no processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita deve-se
ensinar aos alunos que o letramento não é a analise da língua portuguesa, mas sim
o seu uso em deferentes contextos e se adequando a diversas situações de
comunicação.
Kleiman (2005, p.16), diz que o letramento é complexo, e envolve muito mais
do que só habilidades, envolve também várias capacidades e conhecimentos, e
alguns nem tem essencialmente relação com a leitura e a escrita, mas sim com a
leitura de mundo, assim afirma que o letramento e iniciado antes mesmo da
alfabetização, pois quando uma pessoa começa a interagir socialmente com outra
pessoa ou com a comunidade utilizando as práticas sociais de letramento.
Para Soares (2010), o nível de letramento está basicamente relacionada às
condições sociais, culturais e econômicas da população, e é imprescindível que
antes de falarmos sobre letramento escolar temos que primeiramente criar
16
condições para que o letramento aconteça, disponibilizando recursos e materiais de
leitura proporcionando aos jovens e adultos condições reais para aprenderem a ler e
escrever bem como, a utilizar tais conhecimentos em seu cotidiano.
Para Soares (2010), o letramento foca em duas dimensões: a individual e a
social. Na dimensão individual o letramento é visto como uma característica pessoal,
onde o indivíduo tem a competência de ler e escrever. Já na dimensão social o
letramento
é
visto
como
um
elemento
cultural,
onde
existem
diversos
acontecimentos sociais que utilizam a língua escrita. Não podemos arriscar analisar
o letramento como um atributo que o indivíduo tem ou não tem, temos que tentar
identificar a prática real das capacidades de leitura e de escrita assim como a
constância do uso social dessa habilidade, para que assim possamos medir os
níveis de letramento, e não facilmente avaliar o nível básico de ser capaz de ler e
escrever.
6. Análise de dados: A perspectiva do letramento na Alfabetização de Jovens e
Adultos em na escola pública pesquisada
Para a realização dessa pesquisa, foram entrevistados 5 professores, 2 do
primeiro segmento 3 do segundo segmento da EJA e 100 alunos. Os professores
participaram separadamente de uma entrevista onde responderam 9 perguntas e os
alunos um questionário com 10 perguntas de múltipla escolha.
A primeira pergunta foi: Qual a sua formação acadêmica? Todos são
formados em pedagogia. E a segunda pergunta “Você possui algum curso de
especialização e/ou curso específico para trabalhar nesta modalidade de ensino?”
Os professores A, C e D tem especialização em educação de jovens e adultos, o
professor B em ensino especial e o professor E, em psicomotricidade.
A formação do professor deve ser um processo contínuo, como diz Paulo
Freire (1996, p.50) ensinar exige consciência do inacabamento. Segundo Nóvoa
(1997, p.26): “A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços
de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar,
simultaneamente, o papel de formador e de formando.”.
Afirma
ainda
Nóvoa
(1992),
que
a
formação
pode
estimular
o
desenvolvimento profissional dos professores em sua independência da profissão
17
docente. Portanto, devemos considerar o profissional competente e suas habilidades
de formular respostas às situações problema que requerem decisões difíceis.
Terceira pergunta: Quanto tempo trabalha com a Educação de Jovens e
Adultos? Os professores A, D e E já trabalham com esse modalidade de ensino a
mais de 10 anos e os professores B e C há 5 anos. Todos os professores disseram
que se sentem realizados em seu trabalho, os professores B,D e E acrescentaram
também que é uma grande troca de experiência e que os alunos em sua maioria são
interessados.
Pedro e Peixoto (2006, p. 248), afirmam que a relevância e o interesse
profissional dos professores surgem pelo fato de a ela aparecerem associadas
variáveis tão importantes como a autoestima, o bem-estar físico e mental, a
motivação, o empenho, o envolvimento, o estresse, o abandono, o sucesso, a
realização profissional dos professores”.
Jesus (1996), considera que a natureza do trabalho em si, os aspectos
intrínsecos ao trabalho, sobretudo os decorrentes do processo de ensinoaprendizagem, quando significativos gratificantes, bem como os fatores afetivos e
humanos, estão essencialmente ligados à satisfação dos professores. Jesus (1996),
considera ainda que o professor motivado e realizado tende também a ter alunos
motivados e ativos.
Quarta pergunta: Quais as dificuldades enfrentadas com a EJA? Todos os
docentes concordaram que a maior dificuldade da educação de jovens e adultos é a
falta de recursos e de materiais como livros didáticos adequados para os adultos.
Os materiais servem basicamente ao aluno e devem ser utilizadas como
referência para fazer comparações, corrigir conceitos e estimular o interesse dos
alunos. Uma de suas funções principais é auxiliar o aluno, possibilitando a
concretização dos conteúdos estudados e assim, a construção do conhecimento
(SCHMITZ, 1993).
A eficácia de um material dependerá da interação entre ele e o aluno,
portanto cabe ao professor estimular a atenção, receptividade e a participação ativa
dos alunos (PILETTI, 2000).
Sendo assim, os materiais didáticos podem colaborar para a melhoria na
qualidade de acolhimento à EJA e para a aprendizagem dos alunos.
Quinta pergunta: Quais as dificuldades que você percebe que os alunos da
EJA enfrentam? Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos da EJA
18
segundo os cinco professores entrevistados foi a falta de tempo para poderem se
dedicar aos afazeres escolares, pois a grande maioria dos alunos trabalha o dia
todo. O professor A destacou também que a maioria tem dificuldade para aprender.
Bossa (2000), diz que ao se preocupar com o problema de aprendizagem,
deve se atentar primeiramente ao ‘processo de aprendizagem’. Assim, devemos
prestar
atenção
no
como
se
aprende,
como
essa
aprendizagem
varia
evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as
alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e ‘preveni-las’.
Aprendizagem é fenômeno do dia-a-dia que ocorre desde o início da vida. A
aprendizagem é um processo fundamental, pois todo indivíduo aprende e, por
meio deste aprendizado, desenvolve comportamentos que possibilitam viver.
Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da
aprendizagem (PORTO, 2009, p. 42).
Sexta pergunta: Qual o seu maior desafio em sala de aula? Os cinco
professores disseram que a dificuldade é conseguir que os alunos assimilem os
conteúdos, os professores B, C e E acrescentaram que a interpretação de texto, a
dificuldade em compreender os comandos das atividades, a leitura e a escrita
também são desafios que precisam encarar todos os dias em sua sala de aula.
De acordo com Klein (2003), o ensino da língua escrita tem por finalidade
transformar o estudante em um falante, leitor e escritor competente. Com o objetivo
de tornar o aluno capaz de se expressar oralmente e por escrito com clareza e
objetividade, bem como ler e interpretar com facilidade.
Sétima pergunta: Como você procura conhecer o aluno e se interagir com
cada um? O professor A, B, D e E, utiliza a roda de conversa e as dinâmicas para
conhecerem melhor os seus alunos e sua história de vida, para que possam
respeitar os limites de cada um. O professor C, disse que sempre que inicia o ano
ele pede para que os alunos façam um relato de suas vidas colocando expectativas
pessoais, onde e como querem chegar, e ao longo do ano conversam sobre o dia a
dia.
Demo (2002), diz que o professor deve se interessar por cada alunos
individualmente, buscando conhecer suas motivações e seus contextos culturais,
estabelecendo com eles um relacionamento de confiança mútua, tranquila. Trata-se
19
sempre de aprender junto, onde a experiência do aluno será sempre valorizada. O
que se aprende na escola deve aparecer na vida. Segundo Lopes (2205, p.2):
É papel do professor, especialmente do professor que atua na EJA, compreender
melhor o aluno e sua realidade diária. Enfim, é acreditar nas possibilidades do ser
humano, buscando seu crescimento pessoal e profissional.
Oitava pergunta: Explique a(s) sua(s) metodologia(s) de ensino e forma de
avaliação sobre o letramento? Os professores responderam que a metodologia esta
ligada a realidade do aluno e são avaliados através de trabalhos com tema gerador
como propõe Paulo Freire, os professores B e E completaram dizendo que os
conteúdos são materializados, sistematizados e ajustando a realidade dos alunos.
Nona pergunta: Como você trabalha o letramento com os alunos? Todos os
professores disseram que procuram trabalhar com conteúdos integrados com a
realidade vivenciada pelos alunos, utilizar tarefas e exercícios em sala de aula para
fixar os conteúdos, a leitura e a escrita de textos, frases e relatos. Freire (1999, p.
51), afirma que:
A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e
de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando seu
mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela
algo de que ele mesmo é fazedor. Vai temporalizando os espaços geográficos.
Faz cultura.
Freire (2009), diz que os temas geradores devem ser, não só entendidos, mas
pensados, para que ocorra a tomada de consciência dos sujeitos sobre eles. Mais
do que palavras, os temas são objetos de conhecimentos que deverão ser
interpretados e representados pelos aprendizes. Ainda segundo Freire (2009), os
temas geradores podem assumir caráter universal, ou temas mais peculiares,
denominados também de situações-limites.
Foi aplicado um questionário para 100 alunos da instituição em que estudam
no EJA sendo 20 de cada sala. Responderam um questionário de 10 perguntas de
múltipla escolha. Os alunos que tiveram dificuldades para responder foram
auxiliados por mim e pelos professores. Houve a devolução dos 100 questionários.
20
Na primeira questão foi perguntada qual a idade dos participantes, 20% tem
entre 18 a 25 anos, 22% tem entre 26 a 35 anos, 37% tem entre 36 a 50 anos e 21%
tem acima de 50 anos.
Na segunda questão foi perguntado “Qual motivo que o levou a abandonar os
estudos?” 30%responderam que foi o trabalho, 17% casamento, 25% reprovação,
8% não gostavam da escola, 7% desinteresse e 6% para cuidar dos filhos.
De acordo com Oliveira (2012, p.05 apud Campos 2003), os motivos para o
abandono escolar podem ser explicados a partir do momento em que o aluno deixa
a escola para trabalhar; quando as condições de ingresso e segurança são
precárias, os horários incompatíveis com as responsabilidades que se são obrigados
a assumir; evadem por motivo de vaga, de falta de professor, da falta de material
didático e também abandonam a escola por considerarem que a formação que
recebem não se dá de forma significativa para eles.
Um fator impediente relacionado ao desinteresse dos jovens estudantes do
são as consecutivas reprovações, que têm significativo peso na decisão de continuar
ou não os estudos, pois, geralmente, a repetência é seguida pelo abandono escolar
(LOPEZ; MENEZES, 2002, p.26).
Terceira pergunta “O que lhe motivou a voltar a estudar?” 62% responderam
que foi devido ao mercado de trabalho que esta exigente, 28% pelo incentivo da
família e amigos e 10% para elevar a autoestima.
Quarta pergunta “Como você se sente na sala de aula?” 30% se sentem
muito satisfeito (a), 32% com dificuldades 11% Indiferente e 27% inseguros com os
conteúdos estudados.
Oliveira (1996), averiguando os processos de alfabetização de jovens e
adultos, avalia que o retorno escolar é um marco decisivo na retomada do
conhecimento, libertando-os da marca do analfabetismo e dos
sentimentos de
inferioridade.
Ceratti (2008), afirma que uma parte significativa da população que abandona
a escola após um tempo reconhece a falta de conhecimento e/ou ensino em suas
vidas, retornando deste modo a escola.
De acordo com Souza (1994) as emoções e as esperanças destes jovens e
adultos depois de vivenciarem um tempo longe da escola e retornarem percebem
que a escola é algo essencial para suas vidas e também um meio para a ascensão
social
21
Oliveira (1996), coloca que o retorno à escola “significa um marco decisivo no
restabelecimento dos seus vínculos com o conhecimento escolar, libertando-os do
estigma do analfabetismo e dos sentimentos de inferioridade” (OLIVEIRA, 1996, p
25).
Quinta pergunta “Já sentiu preconceito de não ser alfabetizado?” 55% dos
alunos responderam que sim, que em algum momento da vida já se sentiram
excutidos socialmente por não serem alfabetizados, e 45% disseram que não. Freire
(1999, p.4) diz:
A educação como prática de liberdade, ao contrario daquela que é a pratica da
dominação implica a negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do
mundo, assim também a negação do mundo como uma realidade ausente dos
homens.
O indivíduo alfabetizado é muito importante em nosso dia a dia, pois a
sociedade em que estamos inseridos nós exige certo grau de entendimento não
somente para o mercado de trabalho, mas á necessário de aprender a ler e escrever
torna-se importante para tantas outras coisas como para o simples fato de fazer
compras, pegar um ônibus, telefonar.
Ler e escrever são uma necessidade de
todos, independente da idade, sexo, raça, etnia ou grupo social.
Sexta pergunta “Qual o grau de instrução das pessoas com que convive
diariamente?” 7% responderam que são analfabeto, 21% ensino fundamental I 1º ao
5º ano, 19% ensino fundamental II 6º ao 9º ano, 41% ensino médio e 22% ensino
superior.
Sétima pergunta “Quais as suas maiores dificuldades hoje na sala de aula da
EJA?” 20% tem dificuldade em ler, 22% em escrever, 17% em Cálculo e 41% em
interpretação de textos.
Oitava pergunta “Você já tinha estas dificuldades nas séries anteriores?” 52%
responderam que sim, 22% que não e 26% disseram que já tinham um pouco de
dificuldade.
Freire (2005), diz a alfabetização não pode ser feita de cima para baixo, como
uma dádiva ou uma imposição, mas de dentro para fora, pelo próprio educando e
apenas com a colaboração do educador.
22
Nona pergunta “A professora tem alcançado as suas expectativas?” 73% dos
alunos disseram que sim, 22% que não e 18% que alcançaram um pouco. Vieira e
Jesús (2008, p.2) afirmam que:
Destarte, na educação escolar, sobretudo na EJA, o professor não pode operar no
vazio. Sabendo-se que os alunos trazem consigo um conjunto de saberes
históricos, valores culturais e políticos, crenças, atitudes, comportamentos
adquiridos ao longo de suas vidas, nos diversos espaços, a metodologia de
trabalho requer um diálogo permanente entre os diversos saberes, o debate de
diferentes concepções, análise, síntese e produção de novos conhecimentos.
Freire (1996), diz que o educador deve partir das percepções do aluno, seja
ela qual for, pois partindo dos níveis de percepções e linguagem do mesmo e não da
nossa, procuramos, com eles, atingir um nível de compreensão e expressão da
realidade mais rigorosa.
Décima pergunta “Quais suas expectativas para quando concluir a EJA?” 29%
querem conquistar um emprego melhor, 53% cursar uma faculdade e 18% fazer um
curso técnico. Assim 71% dos alunos que estudam na escola pesquisa pretendem
continuar estudando quando concluírem a EJA.
Conclusão
Com esta pesquisa, verifiquei que os jovens e adultos que não tiveram acesso
à educação e que por vários motivos abandonaram os seus estudos alguns chegam
a fazer as matrículas, mas não conseguiam manter-se estudando, enfrentavam
dificuldades de permanência e aumentando os índices de evasão.
Através de uma entrevista realizada com cinco professores de uma escola
pública do DF, foram destacadas algumas dificuldades enfrentadas na educação de
jovens e adultos da realidade pesquisada, como a falta de recursos adequados para
esse segmento de ensino. Destacaram ainda a falta de tempo e dedicação aos
estudos e a dificuldade de assimilação, interpretação, escrita e leitura dos
estudantes.
Através de um questionário realizado com 100 alunos que estudam no
primeiro e segundo segmento da educação de jovens e adultos da instituição
pesquisada, pude perceber que a grande maioria está em busca de melhoria de vida
por meio dos estudos, 71% dos participantes pretendem cursar uma faculdade ou
23
um curso técnico no futuro. Porém eles mesmos destacam que a interpretação, a
leitura e a escrita ainda são suas maiores dificuldades para concluir a educação
básica.
A pesquisa conclui que a educação de jovens e adultos deve ser uma
educação em que a alfabetização e o letramento andem juntos, transformando os
estudantes jovens e adultos em seres pensantes, trazendo problemas presentes na
realidade social e considerando às condições políticas dos alunos em seu contexto
real, possibilitando uma ação crítica de compreensão e prática de uma leitura da
palavra conectada a uma leitura de mundo.
Pude compreender que o letramento está totalmente inserido na educação de
jovens e adultos da escola pesquisada, que os professores se dedicam a utilizar em
suas aulas uma metodologia que prioriza o letramento, para que assim estes
indivíduos possam adquirir a capacidade para usar a leitura e a escrita em seu
cotidiano seja para solucionar problemas ou buscar informações. Assim o letramento
auxilia no ensino para ajudar a formar cidadãos críticos e pensantes para poderem
ser participativos na sociedade em que estão inseridos.
Percebi que o diálogo é algo que faz toda a diferença neste segmento de
ensino, pois tanto os professores quanto os alunos destacaram que o diálogo entre
educador e educando é essencial para o processo de ensino e aprendizagem, pois é
através dele que se constrói uma relação de confiança entre professor e aluno. O
diálogo proporciona também o conhecimento e a troca de saberes e estimula o
aluno a querer aprender sempre mais.
24
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27
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO ALUNO (A)
QUESTIONÁRIO ALUNO (A):
1) Qual sua idade?
( ) 18 a 25 anos ( ) 26 a 35 anos ( ) 36 a 50 anos ( ) acima de 50
2) Qual motivo que o levou a abandonar os estudos?
( ) Trabalho ( ) Casamento ( ) Reprovação ( ) Mudança de cidade
( )Não gostava da escola ( )Desinteresse ( )outros. Qual?________________
3) O que lhe motivou a voltar a estudar?
( ) Mercado de trabalho ( ) Incentivo de familiares ( ) Auto estima
( ) Outros. Qual _____________
4) Como você se sente na sala de aula ?
( ) Muito satisfeito(a) ( ) Com dificuldades ( ) Indiferente
( ) Inseguro com os conteúdos estudados ( ) Outras. Qual?_______________
5) Já sentiu preconceito de não ser alfabetizado?
( ) Sim ( ) Não
6) Qual o grau de instrução das pessoas com que convive diariamente?
( ) Analfabeto ( ) Ensino Fundamental I 1º ao 5º ano
( ) Ensino Fundamental II 6º ao 9º ano ( ) Ensino Médio ( ) Ensino superior
7) Quais as suas maiores dificuldades hoje na sala de aula da EJA?
( ) Ler ( ) Escrever ( ) Cálculo ( ) Interpretação de textos
( ) Outros. Qual? __________________________________________
8) Você já tinha estas dificuldades nas séries anteriores?
( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco
9) A professora tem alcançado as suas expectativas?
( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco
10) Quais suas expectativas para quando concluir a EJA
( ) Conquistar um emprego melhor
( ) Cursar uma faculdade
( ) Fazer um curso técnico
( ) Outro. Qual? ___________________________________________________
28
APÊNDICE B - PERGUNTAS DA ENTREVISTA (EDUCADOR)
PERGUNTAS DA ENTREVISTA (EDUCADOR)
1- Qual a sua formação Acadêmica?
2- Você possui algum curso de especialização e/ou curso específico para trabalhar
nesta modalidade de ensino?
3- Quanto tempo trabalha com a Educação de Jovens e Adultos?
4- Quais as dificuldades enfrentadas com a EJA?
5- Quais as dificuldades que você percebe que os alunos da EJA enfrentam?
6- Qual o seu maior desafio em sala de aula?
7- Como você procura conhecer o aluno e se interage com cada um?
8- Explique a(s) sua(s) metodologia(s) de ensino e forma de avaliação sobre o
letramento?
9- Como você trabalha o letramento com os alunos?
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Bruna Karoline da Silva Pedro - Universidade Católica de Brasília