René A. Wormser
FUNDAÇÕES: SEU PODER E INFLUÊNCIA
PREFÁCIO
A MAIS DIFÍCIL missão dos meus trinta anos no Congresso dos Estados Unidos foi a
presidência da Comissão Especial para Investigar as Fundações com Isenção de
Impostos, informalmente identificada como a “Comissão Reece”. Essa investigação
exigiu um exame embaraçosamente secreto das atividades intelectuais sustentadas pelos
grandes e altamente respeitados nomes de Carnegie, Rockefeller e Ford.
Os obstáculos eram óbvios desde o começo. Sabíamos que a influente imprensa
“liberal”, definida por The New York Times, a New York Herald Tribune e o
Washington Post-Times Herald, lançaria seu poder editorial à Comissão.
Sabíamos que muitos educadores proeminentes, independentemente do que eles
sentiam, não podiam esquecer que suas instituições dependiam da liberalidade contínua
das fundações envolvidas. Sabíamos que o grupo de homens proeminentes - cujas
decisões teriam que ser julgadas - estendia-se até a íntimos da Casa Branca.
Mas eu sentia que o trabalho da Comissão Cox tinha deixado inúmeras questões
importantes não respondidas, das quais a mais grave era: até que ponto, se houver
algum, os fundos das grandes fundações estão ajudando e induzindo tendências
marxistas nos Estados Unidos e enfraquecendo o amor que todo americano deveria ter
por seu modo de vida?
Queremos explorar os problemas das fundações pelo exame de suas ações e não pelas
suas declarações ao público.
Achamos que nos conceitos pelos quais as fundações operam e crescem nos Estados
Unidos estão envolvidos certos perigos para o bem-estar público.
Foi nossa intenção encontrar a base factual para preservar suas funções construtivas e,
ao mesmo tempo, fornecer orientação para uma legislação futura e ação administrativa
contra o uso do poder da fundação para fins políticos.
A história dessa aventura, do que descobrimos e das hostilidades a que fomos
submetidos está incluída neste livro.
Brazilla Carroll Reece
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INTRODUÇÃO
EM SUA COLUNA no New York Daily News de 21 de dezembro de 1954, John
O’Donnell disse que a Comissão Reece tinha a “tarefa quase impossível” de contar que
“aos contribuintes que o incrível era, de fato, a verdade.” “O fato incrível”, continuava
ele, “era que as enormes fortunas acumuladas por gigantes industriais, como John D.
Rockefeller, Andrew Carnegie e Henry Ford estavam sendo usadas, hoje, para destruir
ou desacreditar o sistema da livre empresa que lhes deu origem.”
A Comissão Reece tinha, talvez, a carreira mais arriscada de qualquer comissão na
história do Congresso. Ela sobreviveu a suas muitas ameaças, contudo, para chamar a
atenção do Congresso e do povo para graves perigos para a nossa sociedade.
Esses perigos se referem sobretudo ao uso dos fundos da fundação para fins políticos;
eles surgem da acumulação de poder econômico substancial e influência cultural nas
mãos de uma classe de administradores de fundos com isenção de impostos estabelecida
perpetuamente. Surgiu, assim, uma “élite”, no controle de recursos financeiros
gigantescos, operando fora de nossos processos democráticos, que está querendo e
podendo moldar o futuro desta nação e da humanidade conforme a imagem de seus
próprios conceitos de valor. Uma quantidade incomparável de poder está concentrada de
forma crescente nas mãos de um grupo entrosado e vitalício. Diferentemente do poder
da gestão empresarial, ele não é controlado pelos acionistas; diferentemente do poder do
governo, ele não é controlado pelo povo; diferentemente do poder das igrejas, ele não é
controlado por quaisquer cânones de valor firmemente estabelecidos.
As “fundações” que a Comissão investigou não carregam, todas elas, esse rótulo. Em
acréscimo às fontes primárias das doações das fundações, tais como a Fundação Ford, a
Fundação Rockefeller e a Corporação Carnegie de Nova York, a Comissão examinou
distribuidores secundários de dinheiro de doação, especialmente organizações como o
Conselho de Pesquisa em Ciência Social, o Instituto de Relações Pacíficas e o Conselho
Americano de Educação, que são sustentados pelas maiores fundações e usados para
selecionar os receptores finais. Uma definição no dicionário do termo “fundação” pode
funcionar: “uma instituição dotal, corporação ou de beneficência”. Esta incluiria
faculdades, hospitais, igrejas e outras instituições de um caráter bem diferente daquele
das fundações de que estamos tratando. Estas são essencialmente receptoras de dinheiro
para seu uso próprio e não estão no negócio de distribuir subvenções para outros. Elas
são, em relação às fundações mencionadas acima, o que o consumidor é em relação ao
fornecedor.
Limitadas aos tipos de organização que temos em mente, o número total agora existente
nos Estados Unidos pode ser calculado acima de 7.000.
Na medida em que há muita sobreposição, as fundações podem ser divididas em três
classes: aquelas que são fundações puramente doadoras; as que usam seu dinheiro para
suas próprias pesquisas e operações (fundações operantes); e aquelas que podem ser
chamadas de “intermediárias”, “carteiras de compensação” ou “agências” para outras
fundações. Embora as fundações que podem agora ser classificadas como de “pesquisa
geral” não excedam provavelmente o número de 150, elas controlam mais da metade
dos ativos de todas as fundações e são, em larga escala, as líderes e definidoras padrão
para o movimento da fundação.
2
A taxa de natalidade das fundações está acelerando rapidamente. A principal motivação
para a criação de fundações há muito deixou de ser pura filantropia – ela é agora
predominantemente abstenção ou minimização de imposto. A criação de uma nova
fundação muito frequentemente serve ao propósito de contribuir para uma opinião
pública favorável à pessoa ou corporação que a dota. Se forem feitos presentes na forma
de ativos apreciados em vez de dinheiro (ações, terra ou outra propriedade que tenha
valorizado desde sua aquisição), o doador no mais alto escalão terá mais dinheiro
deixado depois da doação do que se ele mesmo tivesse liquidado o ativo, tivesse pagado
um imposto de 25% sobre ganhos de capital e tivesse distribuído coisa alguma
A esmagadora maioria das fundações tem tido carreiras muito além da crítica e algumas
daquelas que têm sido mais criticadas têm notáveis realizações a seu crédito. O trabalho
de ambas a fundações, Rockefeller e Carnegie, em alguns campos da medicina, saúde
pública e ciência, por exemplo, merece os agradecimentos do povo americano.
É nos campos da educação, negócios internacionais e as chamadas “ciências sociais”
que pode ser feito o maior dano à nossa sociedade. Por esta razão, a Comissão Reece
restringiu sua investigação quase que inteiramente a estas áreas.
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CAPÍTULO 1
O ESTUDO DAS FUNDAÇÕES
QUANDO o 82º Congresso indicou uma comissão seleta para investigar as fundações,
tal comissão foi direcionada para determinar quais dessas fundações e organizações
estão usando seus recursos para outros propósitos que não aqueles para os quais foram
estabelecidos, e especialmente para determinar quais delas estão usando seus recursos
para atividades antiamericanas e subversivas ou para propósitos fora do interesse ou da
tradição dos Estados Unidos.
Semelhantemente, a Comissão Especial para Investigar Fundações Isentas de Imposto e
Organizações Comparáveis indicada pelo 83º Congresso - “a Comissão Reece”- foi
instruída para fazer um estudo do uso de tais recursos “para atividades antiamericanas e
subversivas; para propósitos políticos; propaganda ou tentativas para influenciar a
legislação.”
A fundação americana é uma invenção social, criada para contribuir para o
aperfeiçoamento do bem-estar social. Como toda e qualquer invenção, ela criou
situações novas. Essas instituições podem exercer influência política, apoiar a subversão
ou exibir tendências conflitantes com nossas tradições nacionais. A emergência de
pessoas jurídicas ricamente dotadas de juntas vitalícias de diretores, livres de qualquer
responsabilidade formal quanto a suas políticas e ações, e crescendo em número e
riqueza, merece a mais completa atenção de todos aqueles que estão preocupados com o
futuro de nossa República.
A “COMISSÃO WALSH”
Os problemas das fundações não são novos. Eles já foram anteriormente apresentados
por inquérito do Congresso.
A Comissão sobre Relações Industriais examinou as fundações há mais de quarenta
anos sob um Ato do Congresso de 23 de agosto de 1912. Seu objetivo principal era
estudar as condições de trabalho e o tratamento dos operários pelas maiores empresas
industriais. Começando com um estudo da exploração do trabalho, ela foi em frente
para investigar as concentrações de poder econômico, diretorias interligadas e o papel
das então relativamente novas grandes fundações filantrópicas (especialmente da
Carnegie e da Rockefeller) como instrumentos de concentração de poder.
Louis D. Brandeis depôs em 23 de janeiro de 1915 sobre o motivo de ele estar
gravemente preocupado com o crescimento do poder econômico concentrado. Primeiro
ele falou sobre poder corporativo; depois, sobre o que lhe parecia um problema
semelhante em relação às grandes fundações. Ele disse:
“Quando um grande poder financeiro se desenvolveu, quando aí existem
essas organizações poderosas, que podem convocar forças de todas as partes
do país, que podem se dar ao luxo de usar tremendas quantias de dinheiro
em qualquer conflito para realizar o que eles consideram como seu princípio
de negócio, e também podem se dar ao luxo de sofrer perdas – você tem
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necessariamente uma condição de desigualdade entre duas forças rivais”.
Ali, dentro do Estado, se desenvolve um estado tão poderoso que as forças sociais e
industriais ordinárias que existem são insuficientes para enfrentá-lo [64º Congresso, 1ª
sessão, Documento do Senado 415, vol. VIII].
Brandeis disse que a fundações expressam um desejo, um propósito zeloso de ajudar a
humanidade. Mas ele também afirma que sentiu uma “grave apreensão, algumas vezes,
quanto ao que poderá ser o efeito final dessas fundações quando o controle tiver passado
das mãos dos que presentemente as estão administrando para aquelas que podem não ser
governadas pela intenção excelente dos criadores.”
O Dr. John Haynes Holmes, um eminente ministro protestante depôs sobre sua
preocupação com o poder das juntas vitalícias da fundação. Ele temia muito a “paralisia
das possibilidades da democracia” quando as fundações assumissem o comando. Ele
recomendava a nomeação pelo governo dos administradores da fundação. Opunha-se de
tal maneira às grandes fundações que preferia “ver a democracia morrer por sua própria
corrupção do que ser favorecida pela beneficência ou serviço autocrático de qualquer
indivíduo particular.”
John D. Rockefeller Jr, ao depor durante vários dias, começando em 25 de junho de
1915, respondeu à pergunta quanto à possibilidade de as grandes fundações
constituírem uma possível ameaça ou à causa geral da educação, ou ao bem-estar
industrial do povo. Ele disse: “Estas fundações, tal como verdadeiramente ocorre com
todas as corporações modernas, estão sujeitas ao poder reservado aos corpos legislativos
que as criaram, a saber: modificar ou revogar as Cartas sempre que os interesses
públicos exigirem” [p. 7854].
Ele defendeu os relatórios públicos voluntários das fundações licenciadas pela federação
“sobre assuntos fiscais”, mas não a introdução de uma lei exigindo tais relatórios; queria
deixar os conteúdos desses relatórios por conta da avaliação dos diretores e do que eles
entendiam por interesse público. Ele não achava que qualquer método de inspeção
pública fosse desejável ou necessário [p. 7860].
Questionado sobre o poder das fundações de influenciar o pensamento e a ação
independentes na investigação das condições sociais, o Sr. Rockefeller disse que não
haveria restrições. Alegou que uma seleção apropriada de diretores protegeria
suficientemente o interesse público e que o poder financeiro das grandes fundações seria
percebido somente na esfera do investimento. Defendeu a liberdade acadêmica e a
completa independência no uso das doações pelas instituições educacionais de ensino
superior beneficiadas. O presidente Walsh estava preocupado com a possibilidade de
que a doação de fundos para as escolas pudesse resultar em “pessoas se formando tendo
o ponto de vista, consciente ou inconscientemente, do homem que deu o dinheiro ou da
fundação que deu o dinheiro” [p. 7866].
O Sr. Rockefeller, no que concerne à educação superior, respondeu: “Há uma
possibilidade de perigo, se o doador retém alguma espécie de controle; acho que seria
imprudente”.
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Em 1915, quando essas opiniões se expressaram, obviamente ninguém esperava a
emergência das organizações intermediárias - que servem às fundações na distribuição
das doações – e seu consequente poder no mundo acadêmico. “A educação
progressiva”, próxima de ser favorecida por apoio substancial, estava em sua infância; o
que tinha sido chamado de rede de clientelismo da Faculdade de Professores da
Universidade de Colúmbia ainda não conquistara as organizações dos professores com a
ajuda de doações isentas de imposto.
Em seu relatório final, o Sr. Basil M. Manly tratou longamente dos problemas da
fundação. Preocupado com a “concentração de riqueza e influência”, o relatório
concluiu da evidência examinada: que um pequeno número de financistas ricos e
poderosos detinha em suas mãos o controle final da indústria americana; que o controle
através da propriedade das ações reais, a despeito do grande número de acionistas,
permanecia com um número muito pequeno de pessoas; e que em cada grande indústria
básica uma única grande corporação dominava o mercado.
O relatório do Sr. Manly, para a maioria da Comissão, viu que “a dominação pelos
homens em cujas mãos repousa o controle final de uma grande parte da indústria
americana se estendeu ao controle da educação e do ‘serviço social’ da Nação.”
O controle vem sendo largamente ampliado através da criação de fundos enormes
gerenciados pela iniciativa privada para propósitos indefinidos, a seguir designados
“fundações”, pela dotação de faculdades e universidades, pela criação de fundos para
professores aposentados, bem como através do controle ou influência da imprensa
pública. Provas na posse da Comissão confirmaram que várias faculdades e
universidades abandonaram suas filiações sectárias e cláusulas constitucionais relativas
a religião no sentido de garantir dotações da Corporação Carnegie.
Isto levou o relatório a comentar: “Deve parecer conclusivo que se uma instituição
abandonar de boa vontade suas filiações religiosas pela influência dessas fundações, ela
conformará ainda mais facilmente à vontade delas qualquer outra parte de sua
organização ou ensino” [p. 123].
O relatório concluiu:
“No que concerne às ‘fundações’ criadas para propósitos ilimitados e dotadas
de enormes recursos, suas possibilidades finais são uma ameaça de tal
maneira grave não somente no que se refere às suas próprias atividades
e influência, mas também ao efeito entorpecedor que elas têm sobre os
cidadãos e as entidades públicas que, se elas pudessem ser diferenciadas com
clareza de outras formas de esforço altruístico voluntário, seria desejável
recomendar sua abolição”.
Foi, portanto, recomendado que o Congresso promulgasse legislação limitando o
exercício do poder por gestores de fundos, junto com inspeção rígida das finanças e
publicidade completa através de relatórios abertos ao governo. Em acréscimo, o
relatório propunha a criação de um organismo de investigação para o estudo contínuo
das atividades das fundações e de suas afiliadas.
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Não é o objetivo deste estudo, porém, discutir o negócio ou o uso da evasão fiscal das
fundações em detalhe.
Minha preocupação é com os aspectos culturais e intelectuais da atividade da fundação.
É no campo das ideias que as fundações exercem a maior influência sobre nossas vidas
e sobre o futuro de nosso país.
O LIVRO DE KEPPEL – 1930
Em 1930, apareceu um livro escrito por Frederick P. Keppel, A Fundação, seu lugar
na vida americana [MacMillan, 1930]. O Dr. Keppel, antigo deão da Faculdade
Colúmbia, e um representante e administrador com liderança das fundações, reviu as
responsabilidades relativas das dotações privadas e do governo. Ele concebia as
fundações como câmaras de compensação para ideias (p. g8), sustentando que elas
precisam estar querendo muito tomar a iniciativa e precisam mostrar não só coragem
como prudência (p. g4). Elas precisam, diz ele, estar sempre em guarda contra
condescendência em propaganda, ainda que propaganda virtuosa: “Em geral, fundo
privados são mais adequadamente usados para trabalho de caráter mais experimental ou
para atividades, não para uma responsabilidade pública” em questões referentes ao bemestar e à cultura. Ele defendia a dependência de juntas de conselheiros especialistas,
atuando como intermediárias para as fundações.
Assumindo essa posição, o Dr. Keppel pode ter sido parcialmente responsável por
muitas das práticas da fundação referentes ao patrocínio e à seleção de projetos que têm
estado sob crítica severa. Contudo, ele mesmo disse: “O camelo administrativo tem
excluído de sua tenda o peregrino intelectual”, ao mesmo tempo em que se refere à
crítica das práticas burocráticas como “ crítica frequentemente irracional.”
O Dr. Keppel encorajou um padrão de operação que tende a fazer das fundações os
orientadores definitivos e juízes de méritos no mundo intelectual. Fez isto ao sugerir
que os administradores e os gestores da fundação deviam e podiam assumir a liderança
na esfera das ideias, com a ajuda de organizações intermediárias de especialistas,
sustentadas, em troca, pelos fundos da fundação.
O LIVRO DE LINDEMAN – 1936
Edward C. Lindeman, outro líder no mundo das organizações isentas de impostos, reviu
a significância da fundação em seu livro Riqueza e Cultura [Harcourt, Brace and
Company, 1936]. Considerando que o relatório da Comissão Walsh havia expressado o
medo das maquinações políticas capitalistas pelas grandes fundações, Lindeman
acreditou e aprovou seu poder de contribuir para a mudança social.
O Estado Novo do futuro necessitaria de técnicos sociais que seriam solicitados para se
engajarem no planejamento cultural exatamente como especialistas técnicos, e
economistas seriam instigados a planejar produção e distribuição material sistemática.
Lindeman apresentou os verdadeiros fatos da vida na relação entre as fundações e os
depositários do apoio. Suas observações estão em conflito com as alegações
apologéticas daqueles gestores de dotações que testemunharam, em audiências
posteriores do Congresso, que eles não interferiam com os objetivos intelectuais das
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doações. As fundações, diz ele, não apenas exercem poderes sobre aqueles que aceitam
seu dinheiro. Tal influência é óbvia mesmo quando a concessão de subvenções pela
fundação insiste no contrário.
Um controle muito mais sutil e mais amplamente espalhado ocorre com o frequente
suprimento dos fundos iniciais das fundações para um novo projeto, sendo esses fundos
usados para fins exploratórios e de conferência.
No tempo em que o projeto final é formulado, fica claro que nada será proposto ou
realizado de maneira a poder ser interpretado como um desafio à concepção ortodoxa de
valores que caracteriza as fundações como um todo. Muito poucos projetos culturais
importantes de qualquer tamanho são consumados neste país sem ter experimentado o
impacto direto ou indireto da filosofia e influência da fundação.
Temos, aqui, uma expressão de preocupação não mais com o poder econômico ou a
intenção política para proteger o capitalismo, mas de maneira geral com o controle do
pensamento praticado pelos dispensadores do apoio financeiro.
Numa sociedade decente, não se deveria esperar que pessoas criativas se rebaixassem ao
nível de pessoas com o objetivo de ganhar segurança econômica que lhes permita
trabalhar, Quando elas fazem isso, sua verdadeira criatividade evapora com trágica
rapidez.
Uma geração de críticos que temiam o efeito adverso do viés “capitalístico” dos
administradores foi sucedida por observadores que, a partir de seu estudo do apoio das
ideias e organizações por fundações isentas de impostos, concluíram que as fundações
têm se tornado terreno fértil para movimentos e ações políticas socialistas e afins. Essa
geração mais recente de estudantes, enquanto igualmente impressionada com o controle
da educação e dos negócios públicos em geral por ricas organizações vitalícias além do
controle público, tem ficado preocupada como perigo do apoio da fundação a vários
conceitos e movimentos indesejáveis que têm implicações políticas.
O LIVRO DE FRANK HUGHES – 1950
Frank Hughes, em seu livro Preconceito e Imprensa [Devin-Adair, 1950] em conexão
com uma análise do Relatório da Comissão Hutchins-Luce sobre Liberdade de
Imprensa, aponta para a emergência de executivos profissionais das fundações como o
grupo realmente no controle dos bilhões de dólares dos recursos da fundação (P. 292).
Ele sugere que, ao assumirem posições de conselheiros, os homens de negócios
abandonaram sua responsabilidade com uma classe profissional de administradores.
“A principal função da junta de conselheiros é a ampla determinação de
Políticas em harmonia com a Carta da fundação. Embora a junta tenha
sido investida de completa autoridade, ela não tem nem tempo nem o
conhecimento especial requerido para a administração detalhada do
trabalho das maiores fundações”.
Na influência dos administradores na escolha das causas e dos depositários apoiados
pelas doações, Hughes vê um perigo real à República.
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Ele acusa as fundações de praticarem comumente gestão entrosada junto com algumas
das maiores universidade (pp. 284-297); de darem dinheiro - com exceções - somente a
projetos supervisionados; de atuarem como e apoiarem agências de propaganda; de
concederem pouco dinheiro disponível para fomentar pensamento e pesquisa individual
e independente. “Um controle mais apertado e monopolista da grande riqueza seria
difícil de encontrar em qualquer outro segmento da economia americana.”
Esse entrosamento com os conselhos das grandes universidades está documentado por
numerosos nomes. Ele aponta para a invasão nas universidades pelas juntas de
conselheiros da fundação, em acréscimo à emergência de professores universitários
como gestores profissionais das fundações.
O LIVRO DE WILLIAM WHYTE – 1956
Frank Hughes está essencialmente baseado no medo abstrato da grandeza e
concentração de poder como um fator político. Ele dá atenção insuficiente ao impacto
que a fundação confere aos padrões culturais e às motivações para criatividade. O
problema da relação entre o dinheiro e o gênio criativo exige um exame maior. Tal
exame foi assumido por William H. Whyte Jr., um editor da revista Fortune, em seu
livro O Homem da Organização [Simon and Shuster, 1956].
Em seu livro, ele lida com o impacto desastroso das técnicas de organização na vida da
América. Ele atribui a elas uma força crescente para o conformismo, ameaçando, no
fim, destruir todos os vestígios do gênio, da responsabilidade e iniciativa individuais e,
com elas, os conceitos de independência e liberdade individuais tão caros às gerações
anteriores. Na mecânica corporativa das fundações, ele vê uma das mais ameaçadoras
tendências resultantes dos padrões sociais de uma era controlada por burocratas da
organização. Ele afirma que o fluxo das ideias realmente boas e da realização científica
está impedido e não adiantado pela grandeza habitual dos projetos de pesquisa apoiados
pela corporação – ou fundação.
A América, diz ele, vem emprestando ideias da Europa, especialmente em pesquisa
básica, de nações que não são favorecidas nem por grandes operações de pesquisa
industrial, nem pela subvenção de fundações gigantescas isentas de impostos.
O planejamento do trabalho científico pela comissão tornou-se o padrão aceito.
Consequentemente, os cientistas não submetem meramente suas descobertas ao
julgamento de outros – como tem sido o caso, através dos tempos, do diálogo erudito.
Agora eles dependem de outros também na fase inicial, quando decidem quais
problemas específicos deverão investigar.
Ele cita um exemplo de um encontro de vinte cientistas de topo num campo particular,
com o objetivo de ouvir os planos de um presidente de uma grande fundação. Cerca de
oito desses homens estavam à beira de algum trabalho realmente importante, ele relata.
Mas como não foi dado nenhum sinal de interesse nas preferências dos cientistas pelo
presidente da fundação, o encontro apenas tratou dos seus planos e projetos que exigiam
recomeço.
Whyte teme as consequências dessa usurpação do papel básico do cientista por uma
burocracia científica e financeira. A crescente dependência que a pesquisa tem do apoio
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das doações obriga os cientistas num círculo vicioso. Para fazer um pedido de
subvenção antes da Segunda Guerra Mundial, poucas linhas ou, quando muito, um
parágrafo ou dois eram suficientes para o projeto experimental; agora, ele pode se
estender até seis ou oito páginas datilografadas em espaço simples. E mesmo assim,
membros da comissão podem voltar para mais detalhes. Sob tais circunstâncias, passar a
responsabilidade a outrem se tornou um hábito amplamente praticado. Os projetos são
passados de Comissão para Comissão – num caso de meu conhecimento, seis
Comissões – em grande escala porque em nenhum ponto ao longo da linha alguém
acredita ter a informação adequada para chegar a uma firme decisão.
O controle imposto a um cientista pela exigência de que seus projetos de pesquisa sejam
aprovados pelos membros de numerosas comissões gigantescas trará suas ideias para o
mais baixo denominador comum intelectual. Impor-lhe-á a mais poderosa pressão para
conformá-lo a um padrão de mediocridade.
Não é de admirar que tantos indivíduos criativos tenham sido condicionados a
abandonar seus projetos individuais. O clima produzido no mundo das ideias pelas
grandes fundações - em cujo apoio tantos bolsistas precisam confiar para pesquisar –
não é favorável a projetos individuais.
Os méritos inquestionáveis de uma parte substancial daquilo que as fundações têm feito
não as absolvem da crítica, toda vez que suas preferências escolhidas se desenvolverem
como perigos para a República. Tais perigos têm sido demonstrados por investigadores
públicos e por observadores privados da influência potencial e real do poder da
fundação no campo da política. A essa observação foi agora acrescentado um medo da
influência de longo alcance do dinheiro controlado pela fundação na esfera das ideias e
nos padrões de comportamento criativo dos cientistas e artistas.
Gostem ou não os gestores da fundação de admitir sua influência, o fato é que a
concessão da fundação tem mais obviamente um impacto enorme na educação, no
pensamento social e finalmente na ação política.
A RESPONSABILIDADE DA FUNDAÇÃO
Em sua declaração à Comissão Reece, em 1954, o Sr. H. Rowan Gaither, então
Presidente da Fundação Ford, avaliou as contribuições anuais para filantropia nos
Estados Unidos em $600.000.000. Desse total, disse ele, menos de 3% vem das
fundações.
O Sr. Gaither apoiou-se numa base fraca, porém, se procurava provar a insignificância
relativa das fundações pela comparação financeira com outros meios filantrópicos.
As fundações ocupam um lugar original em nossa sociedade por muitas razões. Uma é
que as fundações não estão sujeitas às formas normais de controle pelas quais outras
instituições são controladas, tais como a responsabilidade para com um eleitorado ou
uma associação, ou uma entidade acadêmica. A segunda é que, sob a influência da
teoria do “capital de risco”, muito dinheiro das fundações tem sido canalizado em favor
da mudança social.
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Somente uma minoria das fundações caiu vítima da obsessão por mudanças sociais.
Mas dentro dessa minoria encontram-se algumas das mais ricas e algumas das mais
antigas dotações. Grandes fundações podem causar mais prejuízo, bem como mais
benefício, do que as menores. Mas mesmo comparativamente, as fundações pequenas
podem ter um impacto na sociedade desproporcional à sua capacidade monetária,
particularmente quando promovem uma idéia sedutora que promete coisas melhores
para a sociedade.
Por causa de sua relativa liberdade em relação ao governo e outras instituições de
controle, tem sido sugerido que as fundações podem ter um mandato especial para
entrar em campos de controvérsia, onde a natureza explosiva dos temas tornaria
suspeitas as descobertas de organizações menos independentes e onde o financiamento
necessário por qualquer outra fonte pode revelar-se difícil (P. 19).
Um exemplo da natureza às vezes explosiva da concessão das fundações é o apoio dado
por elas ao falecido Dr. Kinsey naquilo que ele chamou de pesquisa sobre sexo.
A Fundação Rockefeller apoiou a Comissão do Conselho Nacional de Pesquisa para
pesquisar problemas de sexo, com um total de $1.755.000 de 1931 a 1954. Dessa soma,
as atividades conduzidas pelo Dr. Kinsey receberam $414.000 de 1941 a 1949, como foi
relatado pela Fundação Rockefeller à Comissão Reece. Essa quantia é microscópica se
comparada com o total de $6.000.000.000 anualmente gastos em filantropia nos Estados
Unidos. Mas o impacto desta soma comparativamente pequena para uma única questão
foi bem desproporcional em relação ao tamanho das duas figuras.
O QUE É “PROPAGANDA” E O QUE É “EDUCAÇÃO”?
A forma de controle que o Governo Federal pode exercer sobre as fundações se baseia
quase que inteiramente no direito fiscal.
O direito fiscal é lamentavelmente fraco. O estatuto de controle está redigido de forma
muito geral e vaga; as cortes têm se inclinado a interpretar essas disposições flexíveis
em favor das fundações. A limitação mais importante na lei é a que proíbe atividade
política.
Essa proibição está, agora, coberta principalmente pela Seção 501 (c) (3) do Código da
Receita Nacional de 1954 (antigamente, o parágrafo [6] da Seção 101), nos seguintes
termos: uma fundação pode ser qualificada para isenção de imposto desde que nenhuma
parte substancial de suas atividades esteja promovendo propaganda, ou tentando de
outra maneira influenciar a legislação.
Esse critério é quantitativamente fraco. O que significa parte “substancial” de suas
atividades? Dólares? Número de doações? Impacto? Também é fraco qualitativamente.
A legislação é “influenciada” somente se uma fundação apoiar diretamente a
promulgação ou anulação de uma seção da legislação – ou uma fundação também
“influencia” a legislação ao promover uma teoria política que indiretamente resulta
numa mudança de lei ou que pretende isso?
O termo “propaganda” não está definido no estatuto. A redação do estatuto criou muitas
ambiguidades. Às vezes é extremamente difícil demarcar o limite, por exemplo, entre
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aquelas formas de educação que são essenciais ou desejáveis em nossa sociedade
democrática e aquelas que têm como seus objetivos a promoção de conceitos de valor
políticos na esfera das ideias.
No entanto, a fundação indubitavelmente proclamaria seus esforços para ser
“educacional”. Apoiada por uma fundação para o governo mundial dotada com
$1.000.000 pela Sra. Anita McCormick Blaine, uma Comissão isenta de imposto para
elaborar uma Constituição Mundial, conduzida pelo Chanceler Robert Hutchins, da
Universidade de Chicago, escreveu um programa para a República Mundial em 1948. A
fundação existia para financiar “uma campanha pública educacional nos princípios do
governo mundial”.
O Dr. Hutchins, agora Presidente de um ramo da Fundação Ford, O Fundo para a
República, declarou em 1948 – e deve bem ter acreditado nisso – que “o governo
mundial é necessário, portanto é - ou precisa se tornar – possível.” Mas a expressão de
uma tal crença dificilmente era apolítica, e o apoio por uma fundação isenta de imposto
ao programa que o Dr. Hutchins sustentava dificilmente era o apoio à “educação”.
O Serviço Americano de Educação para o Trabalho, Inc. é uma organização isenta
de imposto. Entre seus objetivos, ele inclui: “cooperar com o movimento sindical para
intensificar a educação no campo dos negócios internacionais; e encorajar o estudo de
tais temas dentro dos grupos e sindicatos.” Torna-se evidente, contudo, a partir de um
exame da literatura dessa organização, que a “educação” mencionada é essencialmente
propaganda para o movimento sindical político.
Talvez a presença da palavra “Educação” no título do Serviço Americano de Educação
para o Trabalho fosse suficiente para provar que seu trabalho era puramente
“educacional”.
Outra estranha organização “educacional” isenta de imposto é a Liga para a
Democracia Industrial (antigamente, a Sociedade Socialista Intercolegial). Num
folheto intitulado, significativamente, “Revolta”, ela descreve seu trabalho como um
movimento educacional militante que reivindica aqueles que pensariam e atuariam para
uma “nova ordem social baseada na produção para uso sem fins lucrativos”. Esse é um
lema revolucionário. Ele significa que os membros da LDI pensam e trabalham para a
eliminação do capitalismo e a sua substituição por uma nova ordem. A Agência da
Receita Nacional contestou o status isento de impostos da LDI. Entretanto, a Corte
Itinerante de Apelos dos Estados Unidos, em 1931 [Weil v. Comissário, 48 F. (2d) 811],
defendeu sua isenção de impostos ao aplicar a interpretação mais ampla possível do
termo “educação”, contra a alegação do Coletor da Receita Nacional de que a
organização era política. Ela tem desfrutado de isenção de impostos desde então; tem se
ocupado em promover o socialismo sem o assédio do Serviço da Receita Nacional.
Numa longa carta submetida à Comissão Reece, o Dr. Laidler, da LDI, insistiu na
semelhança entre o trabalho da LDI e alguns cursos universitários das ciências sociais.
Ele disse que livros e panfletos publicados pela LDI eram, de fato, usados em alguns
cursos de faculdade. Usando isso como uma premissa maior e o fato de que as
faculdades são educacionais como uma premissa menor, ele produz um silogismo com a
conclusão de que o trabalho da LDI é também educacional.
12
Dificuldades semânticas para interpretar estatutos não são incomuns.
Reconhecidamente, nossas cortes têm um problema ao tentar demarcar os limites entre
educação no seu sentido aceitável e “educação” que seja propaganda política destinada a
influenciar a legislação. Elas estão inclinadas a interpretar liberalmente estatutos
punitivos em favor do litigante e estritamente contra o governo. Provavelmente isso
deve ser assim. Mas decisões como a do caso da LDI exibem uma generosidade de
interpretação tão extrema como tornar o estatuto punitivo virtualmente inútil, ao mesmo
tempo em que proíbe atividades de propaganda pelas fundações dirigidas no sentido de
influenciar a legislação.
Se a lei é suficientemente ambígua para permitir propaganda política sob o pretexto de
educação, essa ambiguidade não justifica, porém, que os gestores da fundação apoiem
tais atividades. Uma interpretação da teoria do capital de risco permitindo o uso de
fundos isentos de impostos para propósitos partidários seria um absurdo palpável.
O QUE É “RELIGIOSO”?
As cortes enfrentam outras dificuldades semânticas quando são obrigadas a determinar
quais organizações têm direito à isenção de impostos porque suas atividades estão
verdadeiramente dentro do escopo do termo “religioso”, e quais delas cruzam a linha e
servem a fins políticos. No curso de suas legítimas atividades religiosas, igrejas e
entidades religiosas frequentemente desenvolvem programas auxiliares que não são
religiosos no sentido estrito da palavra.
A RESPONSABILIDADE DA FUNDAÇÃO AO APOIAR MUDANÇA SOCIAL
Em declarações arquivadas pela Comissão Reece, alguns gestores de fundação
sustentaram que não eram responsáveis pela frequência com a qual as subvenções têm
sido aplicadas à mudança social voltada ao anticapitalismo.
Se as fundações têm favorecido causas “liberais” quase socialistas e discriminado
programas “conservadores”, isso pode ser devido, até certo ponto, ao fato de que a
preferência já tinha existido no mundo acadêmico.
A tendência foi acelerada pelo uso das agências intermediárias e de consultores
“especialista” individuais. O julgamento do mérito dos pedidos de subvenção foi
delegado àquelas agências e consultores. Tal delegação, contudo, desvia a
responsabilidade dos gestores da fundação.
Esses “especialistas” têm seguido quase invariavelmente a moda atual que cresceu entre
professores e cientistas políticos sob o impedimento da propaganda comunista e
socialista e sob o impacto causado pela depressão de 1930. Essa moda é aquela da
confiança no poder do homem para criar o céu na terra pela manipulação da estrutura do
governo.
A crença na mudança radical se encontra manifestada na declaração de William C. Carr,
Secretário Executivo da Associação Nacional de Educação dos Estados Unidos, à
Comissão Reece. Ela atribui a grandeza da América à liberdade de seus cidadãos “de
propor e adotar modificações na estrutura do Governo e de suas outras instituições”. O
Sr. Carr é citado por salientar que a mudança que ele apoia é claramente política. Parece
13
evidente, porém, que a defesa de tal mudança, tendo implicações políticas essenciais,
não é um campo apropriado para uma fundação cuja isenção de impostos é concedida
pela graça de todo o público. No entanto, algumas das grandes fundações parecem ter
adotado uma crença quase religiosa na mudança pela mudança. Mesmo na ausência de
uma conspiração entre as fundações para promover mudança, o efeito cumulativo dessa
abordagem quase em uníssono - além da ausência de qualquer apoio substancial para
movimentos contrários na direção da estabilidade social – parece justificar que se
pergunte se essas fundações estão verdadeiramente realizando seu dever de confiança
para com o público.
Embora muitos gestores de fundação possam falar sobre seus direitos e deveres para
usar seus fundos fiduciários como capital de risco, pode haver uma pequena dúvida
quanto ao fato de que em seus “riscos” eles deram preferência às ideias políticas
sustentadas por facções de acadêmicos e aos teóricos das ideias que são geralmente
identificadas como esquerdistas.
O controle e a estabilidade normais em nossa vida pública podem ser aniquilados pelo
apoio unilateral de uma fundação às forças que pedem mudança.
O apoio não crítico pelas fundações à idéia de que precisamos mudar por mudar
justificou dois Congressos recentes pela suspeita de serem as fundações agências que
frequentemente favorecem metas indesejáveis e destrutivas.
14
CAPÍTULO 2
O PODER DA FUNDAÇÃO INDIVIDUAL
A FUNDAÇÃO GIGANTE pode exercer enorme poder através do uso direto de seus
fundos. Mais que isso, ela aumenta materialmente esse poder e sua influência
construindo alianças colaterais que servem imensamente para isolá-la contra a crítica. É
provável encontrar amigos entre os bancos que retêm seus grandes depósitos; no
investimento e nas corretoras que resolvem seu problema de investimento; nos maiores
escritórios de advocacia que atuam como seu consultor jurídico. Pela seleção cuidadosa
de um administrador, aqui e ali, entre os proprietários e executivos dos jornais,
periódicos e outros meios de comunicação, ela pode assegurar-se da adulação e do
apoio.
O poder direto da fundação é o poder do dinheiro. Instituições educacionais financiadas
pela iniciativa privada tiveram um mau tempo durante o período de rápido aumento dos
custos. As subvenções da fundação tornaram-se uma fonte tão importante de apoio que
os presidentes das faculdades e das universidades não podem se dar ao luxo de ignorar
as opiniões e desejos dos executivos que distribuem a dádiva da fundação.
Esses administradores admitirão voluntariamente que eles não gostam de receber
concessões restritas ou programadas. Mas também admitirão que normalmente não
ousam devolver uma doação, por mais incoerente que ela possa ser com sua política,
prioridade de metas ou necessidades urgentes, por medo de atrair o descontentamento
da fundação doadora.
A situação permite que grandes fundações exerçam uma profunda influência sobre a
opinião pública e sobre o curso dos negócios públicos. Pois a opinião acadêmica hoje,
como expressou o relatório da Comissão Reece, “é a opinião dos intelectuais de amanhã
e muito provavelmente estará depois refletida na legislação e nos negócios públicos”.
O controle exercido por uma grande fundação também não está limitado às suas
relações diretas com os executivos e administradores das instituições educacionais. A
pressão começa na parte inferior da escada acadêmica. Uma concessão de fundação
pode capacitar um iniciante para atingir seu precioso doutorado, que é o primeiro
degrau.
Aí ele se torna um professor, com um salário às vezes inferior ao de um trabalhador
comum. Sem a ajuda suplementar de uma concessão de fundação, ele pode sustentar sua
família somente na pobreza; não pode rejeitar o tempo ou o dinheiro necessário para
capacitá-lo a fazer o estudo, a pesquisa e a redação que podem fazê-lo avançar em sua
carreira.
Esse professor descobre, à medida que progride em sua carreira, que tem poucas fontes
para aumentar sua renda além das fundações; sem essa renda acessória, não pode
alcançar aquelas distinções extracurriculares acadêmicas que lhe dão prestígio e o
impulsionam na hierarquia da educação.
15
Grandes organizações distribuidoras intermediárias controlam jornais eruditos e editoras
universitárias; elas detêm a chave para as publicações acadêmicas e formam um
instrumento efetivo de patrocínio.
As fundações raramente impõem a conformidade de maneira direta. Mas
frequentemente o fazem através da seleção dos beneficiados e a rejeição ou aprovação
dos temas sugeridos e dos métodos de pesquisa. Um acadêmico que está “in” com uma
grande fundação pode esperar por progresso até o topo. Aquele que não estiver ainda
pode chegar lá, mas é infinitamente mais difícil.
Assim como o presidente da instituição - cuja principal função hoje pode bem ser a de
angariar fundos – não pode se dar ao luxo de ignorar os desejos dos burocratas, também
o acadêmico não pode. Tanto os bolsistas como os levantadores de fundos logo
aprendem a estudar as predileções, preferências e aversões dos executivos das
fundações.
O poder da fundação coloca um problema inteiramente à parte das preferências
momentâneas dos gestores desses fundos. Esses gestores podem ser não menos
conscienciosos do que funcionários públicos. Mas, pelo fato de que estão livres de
verificação e controles pelos quais os funcionários públicos são restringidos, há menos
probabilidade de que seus erros venham a ser descobertos; e, se o forem, que venham a
ser revertidos.
COMO O PODER É ADMINISTRADO
Nas fundações pequenas, os administradores normalmente assumem o trabalho real e a
responsabilidade pelo exame das aplicações e distribuição das concessões. Nas grandes,
eles podem exercer o poder total de gestão e direção se quiserem, mas não o fazem.
Frequentemente debatem temas; frequentemente delegam e determinam princípios de
operação; consideram e tomam medidas para muitas concessões específicas. Mas o
tempo limitado que eles devotam a esse trabalho não é suficiente para capacitá-los a
exercer o grau de controle e responsabilidade que seu cargo requer.
Não é desatenção. É o fato de que a maior parte das grandes fundações tem escolhido
operar de uma forma tão complexa que fica impossível para gestores ocupados com
outras coisas, trabalhando para a fundação somente parte do tempo, levar a cabo
adequadamente. Erros incontáveis de natureza séria têm sido tolerados por gestores
eminentes e inteligentes simplesmente porque eles não tiveram tempo para estudar,
verificar e seguir a operação detalhada da fundação suficientemente. O ingovernável
volume de negócio que desafia os gestores de uma grande fundação não justifica,
contudo, a delegação de poder tão frequentemente praticada. Tal delegação pode fazer
sentido numa empresa de negócios, onde tudo que se tem a perder é dinheiro. A
responsabilidade de uma fundação é muito mais importante, é uma responsabilidade
social.
O poder de se aventurar na esfera do pensamento, de apoiar e promover ideias não devia
ser delegado exceto num sentido menor, administrativo. Se o volume de trabalho se
torna excessivo, faz-se necessário aumentar o número de administradores e esperar
deles uma atenção a suas obrigações em tempo integral. Uma alternativa seria deixar
16
que instituições indubitavelmente responsáveis, como as universidades, assumissem a
função que, de outra forma, seria delegada a empregados da fundação ou subsidiada por
organizações intermediárias.
Em muitos casos, as cabeças verdadeiramente operantes dessas fundações apresentam
um programa aos administradores que é “geral o bastante para conseguir aprovação e
ainda insuficientemente indefinido para permitir atividades que, na avaliação dos
críticos mais competentes, são inúteis ou prejudiciais”.
Um exemplo extremo disso é o Instituto de Relações Pacíficas, ele mesmo uma
fundação e uma das agências usadas por outras fundações. Para ele a Corporação
Carnegie, a Dotação Carnegie para a Paz Internacional e a Fundação Rockefeller
contribuíram com milhões de dólares. Seu registro é hoje bem conhecido. O Serviço da
Receita Nacional divulgou, em 1955, que tinha revogado sua isenção de imposto.
Alguns anos atrás, depois de uma investigação detalhada dessa fundação, a Comissão
McCarran chegou à conclusão de que o Instituto de Relações Pacíficas tinha sido
virtualmente um órgão do Partido Comunista dos Estados Unidos.
No conselho de diretores do Instituto de Relações Pacíficas estavam homens de alto
calibre e reputação excelente. Como, então, podiam os funcionários do Instituto
transformar suas atividades em objetivos pró soviéticos?
O Professor David N. Rowe explicou isso à comissão Reece.
O Professor Rowe tinha sido, ele próprio, um diretor do Instituto de Relações
Pacíficas durante vários anos, renunciando quando descobriu algumas de suas
negligências e achou que ele não tinha nenhum poder como diretor.
A organização era dirigida por um grupo interno de executivos. Esse grupo de controle
interno conseguiu reunir diretores que ou fariam sua vontade ou seriam demasiado
permissivos na diligência para descobrir a verdadeira natureza daquilo para o que deram
seu assentimento.
Agora vamos olhar para o outro lado do quadro. Por que os administradores da
Fundação Rockefeller, por exemplo, continuam a fazer doações substanciais ao
Instituto de Relações Pacíficas tanto tempo depois que, como indicou a Comissão Mc
Carran, havia evidência de que o Instituto tinha se tornado um agente do comunismo?
Em 1944, Alfred Kohlberg, um diretor do Instituto que tinha se tornado suspeito de suas
atividades, apresentou fatos à atenção da Fundação Rockefeller que mostravam, para
além de qualquer dúvida razoável, o caráter real do Instituto. Mesmo depois da
discussão das condições críticas, a Fundação Rockefeller continuou a fazer doações
substanciais a ele. Sua desculpa – a de que queria ajudar a “reformar” o Instituto de
Relações Pacíficas – não é defensável. Ninguém continua fazendo contribuições para
uma organização comunista na esperança de convertê-la contra o comunismo.
A resposta, no caso da Fundação Rockefeller, deve ser que os administradores não
estavam inteiramente cientes do que estava acontecendo. Os resultados foram
desastrosos para nosso país. O IRP, mais do que qualquer outro fator, teve mais a ver
com o condicionamento de nosso povo para abandonar o continente da China aos
17
comunistas. Sua influência penetrou até no Departamento de Estado. E seu apoio veio
principalmente das grandes fundações americanas isentas de imposto.
O grande número de nomes famosos na lista de administradores é para impressionar o
Congresso, assim como o povo americano; impressionar a opinião pública tanto quanto
possível. Sim, indubitavelmente muitos dos administradores não estariam a serviço se
eles percebessem que seriam chamados para fazer muito mais do que ir às reuniões,
ouvir os relatórios e não dizer, às vezes, uma única palavra. Você não teria uma coleção
de homens tão brilhantes, tão altivos, tão notáveis como administradores se lhes
solicitasse um pouco mais de responsabilidade de sua parte.
OS BUROCRATAS DA FUNDAÇÃO
Na prática, portanto, a maioria das fundações muito grandes é operada por trabalhadores
profissionais que assumem as funções de elaborar programas, e determinar e selecionar
doações e donatários. Foi muito mais angustiante para a Comissão Reece descobrir que
tais profissionais, não tendo eles mesmos responsabilidade fiduciária, exerciam tão
vasto poder. No total, os funcionários dessas fundações exercem um montante incrível
de influência e direção sobre pesquisa, educação e propaganda nos Estados Unidos e até
nos outros países.
Esses filantropóides são, então, os homens com o poder. Onde quer que eles estejam nos
círculos acadêmicos, são recebidos com respeito extraordinário e ouvidos com atenção
concentrada.
Um eminente professor, coberto de merecidas honras, ouvirá com deferência toda e
qualquer palavra desse jovem, cujas opiniões sobre questões acadêmicas - por mais
inculto que ele possa ser em relação a elas - são de importância prática muito maior do
que aquelas de seu distinto ouvinte. Uma simples sugestão por um desses jovens das
fundações pode influenciar concretamente a direção de um projeto proposto por uma
instituição ou por um acadêmico. E rejeitar um projeto sugerido pelo próprio jovem –
isso é demasiadamente perigoso para ser levianamente considerado por qualquer
universidade ou professor. Na verdade, isso raramente acontece. O risco é muito grande.
Estou pensando em diversos administradores de grandes fundações, homens que
conheci por acaso e por quem tenho grande admiração pessoal. Suas extraordinárias
capacidades para direção e sua experiência os qualifica para uma importante “voz no
conselho” em nossa sociedade. Eles têm, contudo, apenas a compreensão mais
periférica de muitos dos campos de atividade nos quais suas fundações se engajam.
Se eles forem convencidos, por exemplo, por um executivo da fundação de que ela
deveria entrar no campo da “ciência comportamental” ou da “teoria educacional”,
poderiam fazer pouco mais além de aprovar a generalidade das dotações para o
propósito e deixar tudo o mais para os executivos contratados, que julgam saber como
agir na qualidade de intermediários entre os administradores e o campo. Eles não podem
exercer juízo, mas deixam isto aos profissionais que empregaram. Podem apenas
transferir seu poder e esperar pelo melhor.
18
Alguma coisa está errada com esse método de operação. Administradores que dirigem
grandes empresas nunca sancionariam métodos desse tipo em suas próprias
organizações.
O PROBLEMA DA GRANDEZA
Em seu livro Fundações Filantrópicas, F. Emerson Andrews ilustra o poder financeiro
de umas poucas grandes dotações. Suas cifras se baseiam no número de fundações
elencadas em diretórios (4, 162), o que é claramente uma cifra baixa; e sobre uma
estimativa de riqueza agregada ($7.000.000.000), que é ao menos 2 bilhões demasiado
baixa. Mas as comparações que ele faz são, todavia, instrutivas. Das 4.162 fundações
elencadas, 77, em 1958, detinham 3 bilhões do total de 7 bilhões em ativos. Entre as 77,
seis declaravam bens de mais de $100.000.000 cada, sendo seu valor combinado
$1.269.500.000. Esses gigantes estão elencados como Ford ($520.000.000), Rockefeller
($318.000.000) e Corporação Carnegie ($196.000.000).
Algumas outras fundações estão tão intimamente aliadas na origem com algumas das
seis grandes que nelas podem ser incluídas. Entra essas estaria o Fundo da Companhia
de Motores Ford ($16.500.000); o Fundo dos Irmãos Rockefeller ($59.700.000), a
Fundação Carnegie para o Progresso do Ensino ($20.600.000); a Instituição Carnegie de
Washington ($65.100.000); a Dotação Carnegie para a Paz Internacional ($20.600.000).
Carnegie e Rockefeller declararam bens no valor de mercado. Temos boas razões para
supor que o valor combinado dos bens das seis grandes tivesse um excesso de
$4.000.000.000. É provável que a Fundação Ford, por exemplo, tenha sido listada perto
de $3.000.000.000, ao invés de meros $520.000.000.
Há uma poderosa escola de cientistas políticos que afirma que a grandeza em si é um
perigo para a sociedade. Ela mantém que o poder econômico das grandes corporações
deveria ser suprimido por dissoluções e suspensões. Bibliotecas inteiras têm sido
escritas sobre a alegada ameaça ao bem-estar público na forma do crescimento de
empresas gigantescas.
Sob a influência da filosofia da antigrandeza, a Suprema Corte, ao lidar com casos de
antitruste, deu uma guinada em direção a uma posição de que a grandeza em si mesma
constitui uma restrição ou competição. Há, assim, uma tendência a considerar que a
grandeza em si mesma, quando é capaz de restrição neutralizante, é justificativa
suficiente para uma legislação de reparação, mesmo quando não há evidência real de
competição injusta ou de conluio.
Uma subescola do cientista social “antigrandeza” descobriu recentemente um novo
problema-de-grandeza para atacar. Muitas corporações que se engajaram formalmente
numa única atividade têm visto, agora, a sensatez da diversificação e têm entrado para
várias indústrias, às vezes não associadas. Alguns oponentes da grandeza agora desejam
prevenir a diversificação, mesmo quando as atividades colaterais de uma grande
corporação não lhe atribuem posição preponderante ou mesmo de comando nas
indústrias colaterais. Sua objeção básica não é mais “competição injusta” ou “restrição
do comércio”, mas a mera grandeza e o receio do poder agregado que acompanha a
grandeza.
19
Há uma clara analogia entre grandeza na indústria e grandeza no mundo das fundações.
Cada uma das grandes fundações pode exercer uma influência tão poderosa no campo
das ideias que isso justifica um medo da simples grandeza. O argumento que pode ser
alegado – como, aliás, tem sido usado em relação à Grande Grandeza – é que não é
necessário provar que se tenha realmente abusado do poder que repousa na grandeza.
Basta mostrar que o poder existe.
Se, contudo, há alguma justiça em opor-se à grandeza nas empresas comerciais, há
ainda mais em temer a grandeza entre as fundações.
As fundações devem sua existência ao público. Este faz um sacrifício para dar a elas
isenção de imposto, supondo que será, em troca, devidamente recompensado por sua
generosidade através da aplicação dos fundos isentos de taxa ao bem-estar comum. Por
essa razão, senão por outra, as fundações têm que ter a aprovação do público para
prosseguir; este, na verdade, estaria completamente justificado ao aplicar as restrições
legislativas nas operações da fundação em que parecesse haver perigo ao bem-estar
comum. O problema da grandeza em si da fundação pode, assim, surgir seriamente a
ponto de preocupar o público em geral, a menos que os gestores da fundação se ponham
em estado de alerta aos perigos inerentes da grandeza, evitando, no futuro, as técnicas
de planejamento conjunto; de apoio conjunto das organizações intermediárias que assim
alcançam posições de comando no mundo das ideias; e eliminando ou destruindo a
concorrência de contrapeso no apoio das ideias. A conformidade que essas técnicas
fomentam é socialmente doentia e altamente indesejável. Ela deriva em parte do uso de
um grupo comum de especialistas e de uma aplicação comum de fundos para o apoio
das modas intelectuais do dia, em vez de aplicar a teoria do capital de risco de forma
equitativa, doando proporcionalmente, ao menos, para a preservação dos valores do
passado.
20
CAPÍTULO 3
A CONCENTRAÇÃO DE PODER
INTERLIGAÇÕES
EMBORA a Comissão Cox reconhecesse que a responsabilidade de um administrador
de fundação era “onerosa a ponto de interferir seriamente no trabalho de um homem de
negócios de tipo médio”, ela achava “compreensível que os serviços de um homem
excepcional fossem procurados por mais de uma fundação”. Nesse sentido, a Comissão
Cox compreendeu mal por completo.
Que existiam interligações entre os conselhos das fundações era claro o bastante. F.
Emerson Andrews, em sua obra Fundações Filantrópicas, menciona dois casos
complexos como evidência da proeminência nacional de muitos administradores de
fundação. Num dos casos, a fundação tinha 20 administradores que detinham 113
posições como administradores ou funcionários de outras organizações filantrópicas, ou
uma média de 5.6 cada. A série das posições externas estendia-se de 0 a 14. O Conselho
da outra fundação que o Sr. Andrews citava era composto de 14 administradores,
detendo um total de 85 posições filantrópicas externas, ou uma média de 6 por
administrador, sendo a série de 0 para 1 g. Se, como considerou a Comissão Cox, a
função do administrador de uma fundação era “onerosa” a ponto de “interferir
seriamente” em seu negócio, é o caso de perguntar como alguém poderia
simultaneamente preencher treze ou catorze cargos filantrópicos efetiva e
conscientemente.
A sobreposição de administradores de fundações é uma velha história. Em sua
fundação, John D. Rockefeller empregou alguns dos mesmos homens a quem Andrew
Carnegie tinha confiado suas dotações. Dean Rusk, falando pela Fundação Rockefeller,
explicou que a consulta entre as fundações surgiu “do desejo, da parte de cada uma, de
usar seus fundos da maneira mais vantajosa”. Ele defendia as discussões entre os
funcionários das fundações como um meio desejável de troca de informação, no sentido
de evitar duplicação de esforços e para permitir que os fundos fossem usados de forma
sensata.
Contudo, as associações íntimas que o Sr. Rusk elogia podem ser perigosas. Elas podem
operar no sentido de forçar nossa cultura para dentro de um padrão uniforme. Seria
muitíssimo melhor para nossa sociedade enfrentar o desperdício ocasional que a falta de
planejamento entre as fundações poderia causar do que assumir o risco de perder um
clima intelectual verdadeiramente competitivo. De fato, há similaridade entre a alegação
do Sr. Rusk pela cooperação entre as fundações e os argumentos dados pelos cartéis
industriais e pela concorrência regulada – quanto a essa questão, com a lógica para uma
economia socialista planejada.
Os homens que operam as fundações com certeza têm poder frequentemente maior que
aquele dos funcionários do governo que foram eleitos ou indicados. A aplicação da lei
para funcionários públicos é muito estrita ao definir conflitos de interesse.
Não há limitações semelhantes para aplicar aos administradores ou funcionários das
fundações. Eles podem apoiar suas causas favoritas. Eles podem fazer com que doações
21
sejam destinadas a instituições ou fundos em cujos conselhos diretivos eles se sentam.
Podem ser, ao mesmo tempo, doadores e donatários. Podem favorecer seus amigos e
parentes, e pagar salários e gratificações sem limites. Há centenas de anos, a Igreja
introduziu regras contra o nepotismo. Tais regras não impedem que aqueles que estão
no controle das fundações usem seu poder para ganhar mais poder, através de
combinações com outros, endossos mútuos e apoio, além das muitas formas sutis de
conivência disponíveis para eles sob nosso sistema de fundação.
O entrosamento efetivo que existe no mundo das fundações encontra expressão de
muitas maneiras, entre elas:
1. administradores servindo em mais de uma organização isenta de imposto,
sendo ambas frequentemente organizações doadoras e receptoras;
2. apoio e/ou controle conjunto por várias fundações de instituições que
recebem fundos;
3. distribuição de concessões combinadas, ou promessas de concessões com
a condição de que os fundos sejam supridos somente se e quando outros
apoiem o mesmo projeto ou causa;
4. serviço de pessoal de fundação, simultaneamente ou em curta sucessão,
em equipes de instituições apoiadas por fundação; e
5. serviço de funcionários de fundação (administradores ou gestores) nos
conselhos consultivos do governo, no controle da política de governo ou
do gasto em campos identificados com filantropia de fundação.
A emergência de agências dominantes em vários campos de aprendizagem e ensino foi
uma provável evolução. As fundações foram originariamente criadas para apoiar
instituições e assumir certas funções “de operação”. Hoje, e com demasiada frequência,
novas organizações receptoras são criadas pelas fundações, ou com sua subvenção,
enquanto instituições carentes e dignas já existentes são ignoradas. A Fundação Ford,
nos seus anos iniciais, criou muitos subfundos para pesquisa e educação que duplicaram
organizações similares existentes. Nos anos 20, vários e influentes conselhos científicos
e educacionais foram estabelecidos conjuntamente por fundações cooperantes.
De fato, quase todas as maiores fundações insistem em aprovar a seleção de pessoal nas
organizações receptoras. Elas desejam saber quem vai gastar suas doações ou se
beneficiar com elas. Uma aparente doação é frequentemente, na realidade, um
financiamento disfarçado de um departamento da fundação. Está anexada a uma
instituição ou organização externa, mas pouca coisa lhe é deixada para fazer, exceto
escrituração e funções administrativas relacionadas. Universidades, hospitais, institutos
e sociedades eruditas às vezes fornecem nada mais que seus nomes afixados como
rótulos àquilo que é, na realidade, um projeto predileto de gestores de fundação. Com
efeito, todas as coisas do orçamento para a escolha de professores ou pesquisadores
indicados ad hoc são controladas e decididas pelos funcionários da fundação.
22
OS INTERMEDIÁRIOS COMO INSTRUMENTO ASSOCIADO DE VÁRIAS
FUNDAÇÕES
Um sistema de interligações entre as maiores fundações e organizações associadas
existe há muito tempo na pesquisa em ciência social e na educação. Ele surgiu em
grande escala através de organizações intermediárias às quais as fundações podiam doar
fundos por atacado para concessões a varejo. O que parecia justificar o uso desses
intermediários era a crença de que eles promoveriam maior eficiência. Mais que isso,
usando a conveniência dos intermediários para delegar poder e, assim, escapar da árdua
obrigação da programação e seleção detalhadas, os administradores de uma fundação
contribuinte se subtraíram cada vez mais dos resultados finais de suas despesas e
tornaram-se cada vez menos capazes de controlar a aplicação de seus fundos.
Nas grandes empresas industriais e no governo, a delegação da autoridade é um
expediente essencial de gestão. O uso apropriado do mesmo instrumento na área das
ideias tem limitações distintas e estreitas. Na indústria e no governo, a delegação é da
responsabilidade operacional dentro da estrutura da política da organização. É bem
diferente da forma de delegação empregada com demasiada frequência nas fundações.
Ali, com efeito, a delegação é de decisões reais de política. Essas decisões de política
podem afetar profundamente nossa sociedade.
Não se poderia encontrar melhor exemplo disto do que o caso do Instituto de Relações
Pacíficas, a que me referi, usado pela Fundação Rockefeller, pela Corporação Carnegie,
pela Dotação Carnegie para a Paz Internacional e outras como um agente de
distribuição. O Instituto tornou-se o especialista no Extremo Oriente. A tragédia é que
ele também se tornou um especialista em promover a causa comunista na Ásia, sendo
tão bem sucedido em seu esforço por causa do vasto apoio financeiro recebido das
maiores fundações.
As fundações doadoras procuraram absolver-se da responsabilidade pelo que daí
resultasse. Mas as fundações de concessão não podem escapar da responsabilidade por
aquilo que seus agentes fizeram. Elas concederam grande poder a esses agentes, um
poder imensamente aumentado quando as fundações, atuando em conjunto, forneceram
um financiamento tão substancial que o agente intermediário se tornou uma força
dominante em sua área de especialização.
O QUE CONSTITUI A INTERLIGAÇÃO
ATIVIDADES DA CIÊNCIA SOCIAL
NO
FINANCIAMENTO
DAS
O relatório da Comissão Reece descreveu a “rede ou cartel” nas ciências sociais
[ibidem, pp. 45-47] como tendo cinco componentes. O primeiro é um grupo de
fundações, composto das várias fundações Rockefeller e Carnegie, a Fundação Ford, o
Fundo da Comunidade, a Fundação Maurice e Laura Falk, a Fundação Russell Sage e
outras.
O segundo componente consiste nos “intermediários” ou “câmaras de compensação”,
tais como: o Conselho Americano de Sociedades Eruditas, o Conselho Americano de
Educação, a Academia Nacional de Ciências, a Associação de Educação Nacional, a
Associação de Educação Progressiva, a Sociedade John Dewey, o Instituto de Relações
23
Pacíficas, a Liga para a Democracia Industrial, o Serviço Americano de Educação para
o Trabalho.
As sociedades eruditas nas diversas “ciências sociais” foram elencadas como o terceiro
componente. O quarto consiste nos jornais eruditos nessas áreas. O quinto era “certos
indivíduos em posições estratégicas, como certos professores nas instituições que
recebem a preferência do conluio”.
O relatório continuou:
“Os Padrões de posições interligadas de poder podem assumir várias formas. As
mais frequentes são as seguintes:
(1) Administradores ou executivos empregados são sucessiva e simultaneamente
administradores e executivos de diversas fundações.
(2) Administradores ou executivos prestam serviços sucessiva e
simultaneamente como funcionários de outras organizações isentas de
imposto recebendo concessões e/ou distribuindo no varejo as doações por
atacado de suas próprias fundações.
(3) Administradores ou executivos aceitam indicações para posições de poder no
controle da educação e/ou beneficência no sentido de multiplicar sua
influência para além dos poderes orçamentários dos recursos de suas
fundações.
(4) As fundações subscrevem conjuntamente os maiores projetos, chegando,
assim, a uma condição de coordenação restritiva da concorrência.
(5) As fundações criam e apoiam conjuntamente agências coordenadoras
centralizadas que operam como instrumentos de controle, proclamando
suprema autoridade no campo da educação, ciência, artes etc., sem qualquer
semelhança de representação democrática dos profissionais na gestão dessas
agências.
(6) Mais do que distribuir dinheiro sem amarras, as fundações favorecem
projetos próprios e fornecem às instituições não só o programa, mas também
a equipe e o orçamento das operações detalhadas, de maneira a que o projeto
esteja realmente sob o controle da fundação, ao mesmo tempo em que se
beneficia profissionalmente do prestígio da instituição receptora. A escolha
dos professores frequentemente é da fundação e não da universidade. Os
empregados da fundação frequentemente mudam do trabalho na fundação,
ou nos conselhos apoiados pela fundação, para o trabalho nos projetos
patrocinados e nas organizações profissionais apoiadas por seus fundos. Eles
se tornam muitíssimo influentes nas organizações profissionais, são eleitos à
presidência e geralmente regulamentam a indústria da pesquisa.”
Como um exemplo de diretórios interligados, o relatório citou o caso da Corporação
Rand. Esta é uma corporação que desempenha um papel importante na pesquisa do
governo. Entre os administradores e funcionários da Corporação Rand foram
encontrados os seguintes, que tinham conexões concretas com outras fundações: [o
24
diretor da Corporação Rand era, ao mesmo tempo, presidente da Fundação Ford, que
concedeu a ela um milhão de dólares em 1952 somente. Entre os demais diretores da
Rand, dois pertenciam também às organizações Carnegie, um terceiro à Fundação
Rockefeller, um quarto simultaneamente à fundação Ford e à Rockefeller, um quinto e
um sexto a outras quatro fundações.]
A lista que se segue de consultores de ciência social a serviço do Conselho de Pesquisa
e Desenvolvimento do Departamento de Defesa num determinado momento (1953)
ilustra a frequência com que os executivos das fundações são apontados como
“especialistas” que controlam a despesa dos fundos do governo em pesquisa:
Leland De Vinney ..... Fundação Rockefeller
John W. Lardner..... Corporação Carnegie
Pendleton Herring ..... Conselho de pesquisa em Ciência Social
(antigamente, Corporação Carnegie)
William C. Menninger ..... Fundação Menninger
J. A. Perkins ..... Corporação Carnegie
Don K. Price ..... Fundação Ford
O CONSELHO DE PESQUISA EM CIÊNCIA SOCIAL
“Tornando-se cada dia mais numerosas, as fundações”, disse o relatório da Comissão
Reece, “poderão controlar, um dia, a totalidade de nossa vida intelectual e cultural – e,
com ela, o futuro deste país. O impacto dessa interligação, desse cartel intelectual, já
tem sido profundamente sentido na educação e no cenário político.”
O relatório então discutiu o Conselho de Pesquisa em Ciência Social [ibidem, p.47 et
seq.], tomando-o como um exemplo da “associação de fundações individuais com uma
das fundações intermediárias ou executivas”, uma outra forma de interligação. Entre as
fundações que apoiam esse agente distribuidor estão as seguintes:
Memorial Laura Spelman Rockefeller
Fundação Russell Sage
Corporação Carnegie
Fundo da Comunidade
Fundo Julius Rosenwald
Fundação Carnegie para o Avanço do Ensino
Fundação Maurice e Laura Falk
Junta de Educação Geral (Rockefeller)
25
Fundação Grant
Fundação Scripps para Pesquisa em Problemas Populacionais
Sociedade Filosófica Americana
Fundação John e Mary R. Markle
Fundação Ford
Fundo do Século Vinte
Fundo do Leste Europeu
Fundo dos Irmãos Rockefeller
Com um apoio deste e ainda o apoio do governo, não é de admirar que o Conselho de
Pesquisa em Ciência Social tenha se tornado o maior poder em pesquisa das ciências
sociais.
Seu relatório anual de 1929-1930 divulgou um certo orgulho pelo fato de ter sido
intimamente interligado a uma rede importante: “Com nossos conselhos irmãos, o
Conselho Nacional de Pesquisa [ativo nas ciências naturais] - o Conselho Americano de
Sociedades Eruditas e o Conselho Americano de Educação -, a cooperação permanece
boa e se torna cada vez mais estreita e significativa. Há membros interligados e muito
contato pessoal das respectivas equipes”.
Apesar de confissões como esta, representantes das fundações e de seus intermediários
negaram com firmeza a existência de interligação. Essas negações não podem ser
sinceras. Há uma multidão de evidências indicando o estreito trabalho em conjunto, ao
qual aludiu o relatório do CPCS 1 acima citado.
O Professor Colgrove testemunhou que havia uma tendência por parte das câmaras de
compensação para mudar para Washington e fazer com que suas sociedades
“constituintes” se mudassem para lá também. Essa concentração numa cidade melhora a
eficiência – eficiência numa “cooperação” que se estende bem além das conotações
comuns desse termo.
O Professor Colgrove disse também que tem havido uma concentração consciente de
direção de pesquisa pelas organizações das câmaras de compensação. Os intermediários
não são meramente agências distributivas no sentido simples da palavra. Eles assumem
uma função diretiva, [embora uma publicação do Conselho de pesquisa em Ciência
Social diga que] o Conselho não “tenta operar como uma agência coordenadora em
qualquer sentido compulsivo”. Contudo, sua total disponibilidade e o amplo apoio
recebido das maiores fundações têm dado ao CPCS um controle sobre a pesquisa nas
ciências sociais que é, segundo o relatório da Comissão Reece, “no seu uso efetivo,
indubitavelmente compulsivo”.
A Comissão ficou impressionada com a forma peculiar de gestão dentro do Conselho de
Pesquisa em Ciências Sociais. Assim como é geralmente o caso das fundações, a gestão
1
CPCS: Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais; em inglês, SSRC (N. da T.)
26
é vitalícia. O CPCS, porém, simula representar sete das disciplinas individuais de
ciências sociais através de suas respectivas sociedades profissionais. Seu material de
escritório dá essa impressão, que é enganosa. Essas sociedades não são realmente
membros do CPCS. Elas têm permissão para eleger diretores para a junta do CPCS, mas
somente dentro dos painéis de candidatos indicados pelo próprio CPCS.
Essa prática pode não ajudar, mas produz conformidade com as ideias da “panelinha”
que regulamenta o Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais. Ela foi introduzida em
substituição a um antigo sistema de permitir que as associações profissionais elegessem
representantes de sua escolha. Eles não têm mais a permissão de selecionar quem
consideram competente e sensato, mas somente entre aqueles indicados pela
“panelinha”.
A Comissão Reece salientou que o caráter totalitário dessa organização - tão importante
na pesquisa em ciências sociais nos Estados Unidos -, é aumentado pelo fato de que
seus “membros” não são as sociedades que ele simula representar, mas seus antigos
diretores. Um desses diretores explicou que a mudança nas regras de eleição surgiu da
necessidade de excluir os cientistas sociais ultrapassados, que contraporiam a
preferência por projetos estatísticos e empíricos.
É fácil perceber, nessa peculiar organização do CPCS, uma operação do conceito de
“élite”. Se as sociedades profissionais supostamente “constituintes” tivessem permissão
para eleger livremente a gestão de sua organização centralizadora, aqueles que a
controlam perderiam seu poder. Mas eles são a “élite”. Eles querem, em sua junta, uma
clara maioria - ou até mesmo uma unanimidade - de cientistas sociais que concordem
com suas teses.
O relatório da Comissão Reece descobriu que o CPCS tinha ganhado liderança no
passado porque, entre outras razões, produziu com sucesso a impressão de representar a
maioria de todos os cientistas sociais na América.
Num sentido democrático, ao menos, o CPCS não representou a cultura americana nas
ciências sociais. Ele prosperou, contudo, dando a impressão de que o fazia. Seu poder
cresceu à medida que a impressão aumentava e à medida que ele se tornava um
beneficiário constante das maiores fundações.
“O poder do CPCS”, disse o relatório da Comissão Reece, “parece ser usado para
efetivar o controle do campo das ciências sociais” [ibidem, p. 50]. “Há evidência”, diz a
Comissão, “de que indicações profissionais no total dos Estados Unidos são
influenciadas pela bênção do CPCS.”
A Comissão sugeriu uma investigação especial da extensão do controle do Conselho de
Pesquisa em Ciências Sociais e das organizações associadas a ele sobre resenhas de
livros e sobre a produção literária - jornais, livros didáticos e outras publicações - de
cientistas sociais. É uma característica do mundo da cultura americana que os
acadêmicos sejam amplamente avaliados em suas publicações, e o teste é
frequentemente mais quantitativo do que qualitativo. Se um cientista social pode ou não
buscar a publicação de seu ensaio tem tudo a ver com o seu progresso na carreira.
Semelhantemente, a natureza das resenhas dadas a seu ensaio podem ser de importância
vital.
27
O Professor Rowe [ibidem, p.50], testemunhando sobre a influência das fundações nas
instituições educacionais, disse:
“Você tem que perceber que o avanço, a promoção e a sobrevivência no campo
acadêmico dependem da pesquisa, dos resultados e da sua publicação. Aqui você
tem, veja, organizações externas influenciando o curso das carreiras do pessoal
nas universidades, através do controle dos fundos que podem liberar essas
pessoas das suas obrigações de ensino, por exemplo, tornando-lhes possível
publicar mais do que seus concorrentes.”
Se, pois, o controle de um jornal acadêmico estiver concentrado em poucas mãos, será
suficientemente fácil impor conceitos e filosofias a uma geração de bolsistas, e sobre
professores e autores de livros didáticos. Em mais de um exemplo isso tem, sem dúvida,
acontecido. Tal controle pode tomar a forma de negar espaço a um não-conformista.
Pode também influenciar editoras comerciais via revisores especializados, aos quais os
livros são submetidos antes da publicação. É muito provável que esses especialistas
sejam selecionados entre aqueles favorecidos pelo jornal. As editoras podem ficar
relutantes em publicar um livro de um não-conformista porque os conformistas,
vinculados e bem recebidos nas páginas de um jornal profissional, podem desacreditá-lo
com resenhas desfavoráveis ou excluí-lo de circulação retendo resenhas nos jornais
eruditos controlados e nas seções de resenha de livros. O grupo de controle tem
eficazmente o poder de recomendar livros para aquisição em bibliotecas públicas e
escolares, e de defender o uso ou a rejeição de livros didáticos selecionados. Tudo isso
pode fazer sentido com relação à conformidade.
Há outros grupos poderosos nas ciências sociais além do Conselho de Pesquisa em
Ciências Sociais – o Fundo para Ciências do Comportamento (Ford), o Fundo do Século
Vinte, a Academia Americana de Ciências Políticas e Sociais, e outros – mas, como
observou a Comissão Reece, “mas com quase todos eles lá, existem vínculos pessoais e
organizacionais, além de conexões cruzadas via fundações de apoio.” Há, de fato, uma
semelhança de abordagem entre esses grupos. Todos eles favorecem o ponto de vista
“liberal”. É possível que seja mera coincidência, mas é extremamente improvável.
Sejam quais forem as razões existentes nas mentes daqueles que as criaram, as
“agências de cartel” têm assumido, para todos os propósitos práticos, as funções de
agências de crédito. A tendência crescente à Gleichschaltung (eliminação do nãoconformismo) em nossas escolas e sociedades profissionais é demonstrada pela
preferência atual por “projetos”. O dinheiro é mais facilmente obtido, hoje, para
“projetos” escolhidos pelas juntas das fundações do que para objetivos gerais sem
compromissos. O administrador escolar, abordando uma fundação, com o chapéu na
mão, e ansioso para propor um projeto que se conforme às conhecidas inclinações dos
executivos da fundação, é um triste produto de nossa era. O bolsista não mais toma a
iniciativa. Ele é degradado à condição de um receptor de esmolas distribuídas por um
esmoler não mais encarregado pelo príncipe.
O CONSELHO AMERICANO DE EDUCAÇÃO
O Conselho Americano de Educação é um intermediário ao qual a Comissão Reece
também deu atenção especial [ibidem, p.52 et seq.].
28
É um conselho de associações nacionais de educação, financiado por quotas dos
associados, contratos do governo, pesadas contribuições das maiores fundações e por
doações das organizações associadas. Entre seus patrocinadores estão:
Conselho Geral de Educação (Rockefeller)
Corporação Carnegie
Dotação Carnegie para a Paz Internacional
Fundação Carnegie para o Avanço do Ensino
Fundação Rockefeller
Fundo Ford para a Educação de Adultos
Fundo Alfred P. Sloan
Fundo Payne
B’nai B’rith
Fundação Edward W. Hazen
Fundação Grant
Fundação Ellis L. Phillips
Este Conselho, como o Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais, é uma agência de
interrelação ou coordenação, que estabelece política e atos como um agente distribuidor
para as fundações cujo negócio é fazer concessões, junto a linhas planejadas e
integradas.
O relatório da Comissão Reece comentou [p. 52]:
Por mais louvável que muito do seu trabalho possa ser, o Conselho tem sido
certamente um dos meios pelos quais os fundos das fundações têm sido usados
para efetivar um controle considerável ou influência sobre a educação nos
Estados Unidos. Alguns podem argumentar, dizendo que o controle ou
influência tem sido totalmente bom – mesmo que fosse, ainda acreditaríamos
que o poder das grandes fundações de afetar as políticas e práticas educacionais
é tal que deveria preocupar o público. Pelo mesmo motivo, acreditamos que as
organizações de “câmaras de compensação”, à medida que elas podem servir a
um propósito voltado à eficiência, são de conveniência questionável quando
interligadas com essas fundações financeiramente ou por pessoal. O poder
acumulado envolvido em tal concentração nos causa preocupação.
OUTROS ASPECTOS DA INTERLIGAÇÃO
As próprias organizações de câmaras de compensação são interconectadas, formando
verdadeiras associações de associações, e conselhos de associações de conselhos. Essas
29
expressam o desejo - tão prevalente entre os executivos das fundações - de evitar a
duplicação e conduzir ao que eles concebem como ordem.
Existe, por exemplo, uma Junta de Conferência dos Conselhos Associados de Pesquisa,
através da qual o Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais, o Conselho Americano de
Educação, o Conselho Nacional de Pesquisa e o Conselho Americano de Sociedades
Eruditas se reúnem “para facilitar a ação em questões de interesse comum”, dando
continuidade a “antigas consultas informais dos executivos dos Conselhos”.
Um conselho para financiar ensino superior foi criado conjuntamente pelas fundações,
Carnegie, Rockefeller, Ford e Sloan, cada uma delas contribuindo com $60.000
anualmente por um período de três anos. Esse dinheiro não vai para o apoio direto do
ensino superior. Ele paga uma equipe sob a direção do Sr. Wilson Compton, que gasta
seu tempo dando consultoria a corporações industriais e a outros doadores sobre como
dar dinheiro, e prestando assistência a instituições em suas campanhas de levantamento
de fundos. Essas fundações criaram, assim, em conivência, uma outra posição de poder
de influência na educação.
Reuniões periódicas de executivos de fundação têm lugar, agora, em Nova York, de
natureza informal, talvez, com o propósito de discutir problemas de política estratégica
e determinar ação comum.
De Tocqueville, numa de suas famosas observações sobre a democracia na América,
relatou com certo espanto a propensão desta nação para a formação de associações
voluntárias para fins comuns. Mas ele enxergou o trabalho das forças democráticas
nessa expressão da liberdade de reunião. O poder de competição entre grupos produziu
um método efetivo de controle e equilíbrio, prevenindo uma dominação das pessoas por
forças autocráticas. O impulso mais recente para as assim chamadas câmaras de
compensação de amplitude nacional e hierárquica, fomentadas pelas fundações, não foi
previsto por De Tocqueville. Estas são, na realidade, instrumentos para a
Gleichschaltung [eliminação do inconformismo] ideológica e política. Há uma diferença
essencial – ou somente uma questão de grau – entre uma organização de cientistas ou
autores, sujeitos ao controle monetário das facções de poder, e as chamadas associações
e academias que operam nos países totalitários? Com um pouco de boa sorte, um
cientista americano pode encontrar uma editora independente e se emancipar do
controle financeiro da “panelinha”. Mas tais casos são raros e confinados a homens de
grande coragem e desapego de recompensas econômicas.
O governo dos Estados Unidos gasta, agora, muito mais dinheiro com pesquisa em
ciência social do que todas as associações juntas. Isso poderia constituir uma
contraforça à influência do complexo das fundações se não fosse o fato de que, em
grande parte, as mesmas pessoas que controlam ou despendem os fundos do complexo
nos campos da ciência social também dirigem ou prestam consultoria para as despesas
do governo federal nessas áreas. Não é surpreendente, portanto, que as agências do
governo que operam nas áreas da ciência social venham exibindo as mesmas
preferências e idiossincrasias do complexo das fundações.
A emergência dessa classe social em nossa sociedade, dotada de imensos poderes de
controle do pensamento, é um fator que precisa ser levado em conta aos julgar os
méritos das operações contemporâneas das fundações. A concentração de poder, ou
interligação, que tem se desenvolvido na pesquisa em ciência social apoiada por
30
fundações e no ensino da ciência social é, em grande parte, o resultado da captura
dessas organizações inter-relacionadas por parte de homens da mesma opinião.
31
CAPÍTULO 4
CIÊNCIA SOCIAL E CIENTFICISMO
EM CHICAGO, em 1949, um grupo de cientistas sociais adotou o termo “ciências do
comportamento”. Eles deram suas razões para a escolha do novo termo: “primeiro,
porque seu caráter neutro o torna aceitável tanto ao cientista social quanto ao biólogo e,
em segundo lugar, porque antevimos uma possibilidade de, um dia, buscar obter apoio
financeiro de pessoas que possam confundir ciência social com socialismo”.
Embora tal confusão possa ser divertida, o apoio das fundações nas ciências sociais
decididamente assume uma importância especial e séria. Ainda que muito da pesquisa e
ensino nessas disciplinas possa não ter qualquer relação com política, legislação ou até
negócios públicos, um extenso e vociferante setor dos cientistas sociais procura
ativamente recriar nosso governo e nossa vida pública. É difícil entender como fundos
com isenção de taxa podem ser apropriadamente usados para apoiar as idiossincrasias
desses autonomeados reformadores.
Temos aqui uma ilustração da mentalidade política agressiva vinda das palavras de um
dos líderes do mundo da ciência social apoiado por fundação, o Professor Harold D.
Lasswell, em seu discurso inaugural como presidente da Associação Americana de
Ciência Política:
“Uma de nossas responsabilidades profissionais é originar, numa escala global,
alternativas políticas, por meio das quais os valores da meta possam ser
maximizados. A ciência política é a ciência de política, por excelência. Parte de
nossa função é perscrutar o horizonte do futuro em expansão, com uma vista
capaz de definir antecipadamente a implicação provável daquilo que é previsível
para os navegantes do Navio do Estado. É nossa responsabilidade trazer para o
fluxo dos eventos emergentes concepções de estratégia futura que, se adotadas,
aumentarão a probabilidade de que aspirações ideais sejam mais
convenientemente realizadas.”
Se essas frases comprometidas deixam alguma dúvida sobre a intenção política dos
cientistas sociais concebidos pelo Professor Lasswell, suas ações em associação com o
governo não. Muito desses doutores, inclusive o Professor Lasswell, prestam serviço
como “especialistas” e conselheiros a numerosas agências governamentais. Eles são os
consultores do governo, os planejadores e os maquinadores da teoria e prática
governamental. Eles estão livres dos controles e avaliações aos quais estão sujeitos os
outros três ramos do governo (legislativo, executivo e judiciário). Eles atingiram sua
influência e sua posição no governo principalmente através do apoio das fundações; e
esse apoio tem sido dado sobretudo a pessoas, instituições e idéias de uma coloração
liberal-progressiva, senão socialista.
Num panfleto intitulado “Ciência enquanto Moralidade”, publicado pela Humanist
Press em 1953, George Simpson critica a retirada da moralidade e a dependência do
subsídio. Ele critica os cientistas sociais por devolverem seu direito de primogenitura
como analistas e críticos das estruturas sociais e por terem se tornado homens
contratados que fazem pequenos serviços para corporações, associações de
levantamento de fundos, revistas interessadas em pesquisa de mercado. Os sociólogos
deviam tornar possível a obtenção de fundos para pesquisa sem vender suas almas. A
32
ideologia das pessoas de nossa assim chamada pesquisa social “aplicada” parece ser a
mesma das fundações ou corporações que lhes dão o dinheiro.
Simpson recomenda a doação de concessões “não marcadas” às universidades e às
sociedades profissionais de sociólogos para evitar dominação pelas fundações. A
dificuldade, observa ele, é que nem as universidades nem as sociedades se prepararam
adequadamente para tal responsabilidade. “Elas se tornaram tão viciadas na posse
descuidada da pesquisa social que muitos sociólogos seriam incapazes de encontrar
qualquer pesquisa para fazer a menos que alguém lhes dissesse o que queria que fosse
feito” (P. 43). Desse ponto de vista “liberal”, ele argumenta que aqueles que subsidiam
têm medo de tópicos “perigosos”, mas diz que os próprios bolsistas - e não aqueles que
fornecem o dinheiro da pesquisa – deveriam decidir que pesquisa precisa ser feita.
A EXCLUSÃO DO DISSIDENTE
O Dr. A. H. Hobbs, da Universidade da Pensilvânia, é um exemplo vivo do perigo de
criticar as fundações e suas práticas. Ele é apenas um professor assistente. Ele
ironicamente se chama “o mais velho professor assistente a leste das Rochosas”. Para
vergonha de sua universidade, foi-lhe dito por seus superiores de lá, em termos não
incertos, que ele não deve ter esperança de crescer na hierarquia. Por que? Porque ele é
um dissidente.
O tratamento dado ao Professor Hobbs na Universidade da Pensilvânia é um exemplo
notável de supressão da liberdade acadêmica.
Por trás da perseguição ao Professor Hobbs, e responsável por ela, encontra-se o fato de
que a “concentração de poder” apoiada pelas fundações irritou-se com sua
independência de opinião e sua crítica franca. Ele tem sido um forte crítico de muitos
dos métodos usados na pesquisa contemporânea de ciência social, métodos que o
complexo das fundações fomentou.
O Professor Hobbs, em seu livro As Reivindicações da Sociologia: uma Crítica aos
Livros Didáticos, publicado em 1951, analisou mais de 100 livros didáticos de
liderança em sociologia usados nas escolas secundárias e faculdades.
Somente uns poucos (seis) livros tentam apresentar uma visão objetiva e integrada dos
princípios e processos que caracterizam as instituições econômicas dos Estados Unidos.
De forma característica, a maior parte do tratamento dado à economia é devotada à
crítica, à ênfase na má distribuição de riqueza e de renda, e à apresentação de remédios
ou alternativas para princípios e processos econômicos predominantes [As
Reivindicações da Sociologia, p. 81].
O Professor Hobbs não está sozinho nessas críticas. Muitos professores eminentes
concordam com ele. Mas ele foi um daqueles poucos que tiveram a coragem de
expressar suas opiniões. Aqueles que dominam a pesquisa em ciência social apoiada por
fundações professam defender a liberdade de opinião, mas não encorajam a expressão
de opiniões contrárias às suas próprias. Professam defender a “controvérsia” e declaram
seu direito de usar os fundos das fundações para promovê-la. Com mais frequência do
que se desejaria, contudo, é apenas um lado de uma controvérsia que eles desejam
ouvir, quando ela tem implicações políticas – o lado da esquerda.
33
O CIENTIFICISMO FOMENTADO PELA FUNDAÇÃO
O Professor Hobbs depôs junto à Comissão Reece que os muitos milhões de dólares
derramados anualmente na pesquisa em “ciência social” por algumas das grandes
fundações e seus satélites ou organizações interligadas, como o Conselho de Pesquisa
em Ciência Social, são grandemente desperdiçados e improdutivos de qualquer coisa
substancial ou útil. Mas o desperdício envolvido não era a sua crítica mais severa. Ele
deu um exemplo atrás do outro dessa pesquisa que oferecia um perigo direto à nossa
sociedade. O que se esconde por baixo do nome de “ciência social” hoje é o que o
Professor Hobbs chamou de “cientificismo” [ver A. H. Hobbs, Problemas Sociais e
Cientificismo, Stackpole, 1953].
Sublinhando a abordagem predominante da pesquisa e do ensino9 nas “ciências sociais”
está o conceito de que os problemas sociais podem ser resolvidos da mesma maneira de
alguns problemas físicos, ou seja, por um método “científico”. Por mais óbvio que
pareça, a compilação de certos tipos de dados empíricos pode ser de enorme valor. Mas
o abuso no conceito de que há uma solução “científica” para problemas sociais, um
abuso que algumas das fundações fomentaram cuidadosamente, produz disparate e
perigo. O Professor Hobbs assinalou que a solução de problemas sociais
invariavelmente envolve a integração de fatores intangíveis, tais como amor,
patriotismo, sentimento e outros elementos que não podem ser medidos com calibrador,
régua de cálculo ou máquina calculadora.
OS “ENGENHEIROS SOCIAIS” E A MANIA DE VERIFICAÇÃO DOS FATOS
Os “cientistas sociais”- que têm seguido o curso tão amplamente encorajado pelo
dinheiro das fundações - ficaram hipnotizados, parece, pelo título de “cientistas” de que
se apropriaram indevidamente. Eles concluíram que somente “cientistas sociais” podem
resolver nossos problemas sociais. Fizeram de si próprios uma “élite” – chamaram-se a
si mesmos de “engenheiros sociais”.
A Comissão Reece encontrou muitas expressões dessa “élite”- o conceito de
“engenharia social” entre escritores e jornalistas que são cientistas sociais.
Os “médicos sociais” adquiriram uma “mania de verificação dos fatos”- eles entraram
mar adentro do empirismo. Tentando imita o uso do método empírico como um dos
instrumentos necessários da ciência natural, eles esqueceram, com demasiada
frequência, que o cientista natural lida com fatos mensuráveis, enquanto o cientista
social só pode medir pouco comparativamente; que o cientista natural estabelece
hipóteses condicionais e as testa através de experimento, enquanto o cientista social
dificilmente pode fazer experiência com seres humanos fora de um campo de
concentração totalitário.
Uma ênfase exagerada sobre os fatos enquanto fatos é uma das características daquilo
que é, às vezes, chamado de abordagem empírica. Idealmente, o empirismo podia
significar que os investigadores se basearam unicamente na observação controlada e
evidência experimental. Na verdade, muito do empirismo em ciência social não envolve
experimentação rígida e os fatos são questionáveis, fragmentários e tendenciosos.
34
Em seu livro Modas e Pontos Fracos em Sociologia Moderna, o Professor Sorokin
destrói a “ilusão do operacionalismo” e a fobia de medição na pesquisa em ciência
social:
“Se os operacionalistas tivessem realmente estudado como se originou e cresceu,
de fato, uma esmagadora maioria das mais importantes descobertas, invenções
tecnológicas, as maiores religiões, verdades filosóficas e técnicas, e as mais altas
realizações artísticas, eles teriam aprendido, em primeiro lugar, que elas
nasceram na intuição; em segundo lugar, que a ideia intuitiva foi desenvolvida e
elaborada pelo pensamento lógico e matemático que foi usado para fazer todas
as deduções necessárias ou consequências do princípio intuitivo (ou
“postulado”); e finalmente que, no campo das ciências, essas deduções foram
testadas por um método de novo racionalmente planejado, a saber, ou
experimental, ou indutivo ou operacional [pp. 35-36].”... “Abandonar o “insight”
intuitivo e o pensamento lógico em favor do método operacional equivaleria a
castrar o pensamento, em geral, e na ciência, em particular. Sem intuição e
lógica, nenhum progresso na ciência, na religião, na filosofia, na ética e nas artes
plásticas foi ou será possível”.
A “compulsão do comptômetro”, a “mania de verificação dos fatos” desses “cientistas
sociais” apoiados por fundação os induz a aceitar o princípio da relatividade moral –
que as leis morais são apenas relativas – “os fatos” falam por si e devem ditar a lei
moral; o que quer que seja que “os fatos” revelem está certo.
A lei moral aceita deve ser levada em consideração em qualquer tentativa para encontrar
soluções socialmente aceitáveis para os problemas sociais. Mas os “engenheiros
sociais”, que se dedicaram a nos “dirigir” para dentro de caminhos melhores, rejeitam
esse princípio. Desse modo, se o Dr. Kinsey conclui que as garotas seriam mais felizes,
a longo prazo, se seus casamentos fossem precedidos por experiência sexual
considerável e até mesmo incomum, então, dizem esses “engenheiros sociais”, os
conceitos morais e legais que a proíbem deviam ser abandonados.
Nem, dizem esses “engenheiros sociais”, quaisquer princípios políticos devem ser
aceitos como básicos. Se, por exemplo, uma função pode ser mais eficientemente
exercida pelo governo federal do que pelos estados individuais, ela deve ser assim
exercida, independentemente do princípio da jurisdição federal limitada, que é
fundamental para nosso sistema e é nossa maior proteção contra o totalitarismo.
E visto que os “cientistas” sociais se julgam exclusivamente competentes, nem os
princípios políticos devem ser determinados por esses incompetentes advogados,
médicos, fazendeiros e empresários. Como disse o Conselho de Pesquisa em Ciência
Social em sua declaração arquivada na Comissão Reece, os cientistas sociais comandam
os métodos analíticos para mais efetivamente atacar essas questões em termos básicos e
tangíveis [ibidem, p.126].
Uma outra citação, novamente do Dr. Herring, o presidente do Conselho de Pesquisa
em Ciência Social, em sua primeira questão de itens diz:
“Aqui desejamos simplesmente enfatizar que, em nossa geração, estão sendo
feitos esforços para organizar e controlar as relações humanas mais
conscientemente, mais deliberadamente e, espera-se, mais responsavelmente que
35
durante o século passado. Um mundo interdependente está sendo forçado a uma
percepção das limitações da liberdade individual e da escolha pessoal” [ibidem,
p. 126].
Para deixar essa situação duplamente clara, citarei uma vez mais o Conselho de
Pesquisa em Ciência Social, porque ele é, mais ou menos, o espírito orientador da
pesquisa em ciência social. Seu relatório de 1928-1929 revela um de sues propósitos:
um método empírico de pesquisa mais sólido tinha que ser alcançado na ciência política,
se fosse para auxiliar o desenvolvimento de um controle político científico [ibidem,
p.125].
O relatório da Comissão Reece citou um distinto professor, Dr. Carl. O. Sauer, da
Universidade da Califórnia. O eminente acadêmico não mediu palavras para discutir o
papel desempenhado pelo complexo composto por certas fundações e organizações
intermediárias preocupadas com pesquisa direta, tais como o Conselho de Pesquisa em
Ciência Social. Ele disse:
“Um sério e delicado problema se coloca pelo papel crescente do conselho e da
fundação na pesquisa nacional, considerando a contínua e cada vez maior
concentração de influência vista nos últimos anos”.
E, disse ele, os cientistas sociais desenvolveram
“hierarquias de membros de conferência que falam uma linguagem comum,
ocultada de nós por seus próprios termos cerimoniais. Eles se tornaram uma
Elite, moldando cada vez mais as direções e limites de nosso trabalho, à medida
que eles se tornam mais e mais afastados dos autores”.
O conceito de “engenharia social” apoiado pelas fundações, com suas implicações
políticas, foi castigado pelo Professor Sauer nestas palavras:
“Os programas de pesquisa são estabelecidos em termos de metas sociais, e
presume-se que treinamento profissional promova o profundo discernimento
necessário. Tendo estabelecido escolas de treinamento de profetas, é gratificante
ouvir que a grande missão da ciência social é refazer o mundo” [ibidem, p.84].
Em meio ao material usado pela Comissão estão cartas recebidas de três dos sociólogos
de liderança nos dias de hoje, Professor Pitirim A. Sorokin, de Harvard, Professor Carle
C. Zimmerman, de Harvard, e Professor James H. S. Bossard, da Pensilvânia. O
Professor Zimmerman foi longe o bastante para dizer:
“As fundações isentas de imposto nos Estados Unidos têm enfatizado, de
maneira injusta e indesejável, a pesquisa empírica numa extensão tal que o
significado total da pesquisa em ciência social passou a ser dominado por
práticas falsas e duvidosas” [ibidem, p. 64].
O Professor Sorokin disse [Relatório, p.78]:
“A futilidade de favorecer excessivamente essa espécie de pesquisa [a empírica]
em particular é demonstrada por sua esterilidade – a despeito dos muitos milhões
de dólares, além da enorme quantidade de tempo e energia despendida pelas
equipes de pesquisa. Quase toda a enormidade de pesquisa nessa linha, nos
36
Estados Unidos da América, durante os últimos 25 ou 30 anos, não produziu
qualquer teoria social nova significativa, ou algum método novo, ou alguma
nova técnica, ou qualquer teste cientificamente válido, ou mesmo alguma
uniformidade causal limitada”. ... “Como resultado, estamos hoje de posse de
montanhas de dados quantitativos, cuja interpretação não é favorecida por
nossos experimentos, e não descobrimos leis da maneira como as ciências exatas
conhecem lei. Somente possuímos grandes volumes de conclusões quantitativas
quase inúteis para fins de previsão”.
“As fábricas de pesquisa que manufaturam tais produtos se tornaram a indústria
dominante de pesquisa sociológica e psicológica. Seus produtos são
manufaturados em escala maciça, movendo-se ao longo de uma linha de
montagem tão mecanicamente quanto automóveis. O resultado disso é que os
jornais científicos, os textos e monografias são preenchidos principalmente com
esse tipo de pesquisa. Seu volume total já se tornou tão grande que ninguém
consegue saber, lembrar e usar essa massa cósmica de pesquisa. Bolsistas e
cientistas humanos dificilmente podem dominá-la; afinal, a memória humana é
limitada e a fida humana é muito curta. Mais que isso, não se tem certeza se
esses produtos são dignos de serem lembrados. Nessa indústria de pesquisa, os
pesquisadores dificilmente têm tempo até para pensar seriamente sobre os
problemas estudados e menos tempo ainda para cultivar a intuição ou o
pensamento racional incisivo, ou para desenvolver suas mentes de maneira
geral”.
Na notável epidemia de “quantofrenia”, todo mundo pode ser “pesquisador” e
“investigador científico”, porque todo mundo pode pegar umas poucas páginas
de papel, preenchê-la com toda sorte de perguntas, enviar o questionário a todos
os que possivelmente responderão, receber as cópias respondidas, classificá-las
deste ou daquele jeito, processá-las numa máquina de tabular, organizar os
resultados em várias tabelas (com todas as porcentagens, coeficientes ou
correlação, índices de qui-quadrado, desvios padrão e erros prováveis
mecanicamente computados), e então escrever uma tese ou um livro preenchido
com a mais impressionante variedade de tabelas, fórmulas, índices e outras
evidência de “pesquisa objetiva, aprofundada, precisa, quantitativa’.”
Declarações semelhantes foram feitas por vários acadêmicos que se mostraram
relutantes em ter seus nomes revelados por receio de represália por parte do mundo das
fundações. Um renomado professor de economia, cujos ensinamentos conflitam com a
escola intervencionista dominante, um homem de prestígio mundial e de pensamento
independente, declarou-me que nenhum estudante seu podia obter uma concessão das
fundações que fazem parte do complexo (ao qual a Comissão Reece se referiu como
uma “concentração de poder”) porque ele não segue a escola de pesquisa do tipo
comptômetro, que as maiores fundações promovem.
Não é de admirar que tamanha esterilidade tenha resultado nos campos da pesquisa em
ciência social. Há pouca controvérsia nessa “ciência” assim mantida. Os pesquisadores
trabalham num clima criado pela fundação, que oferece recompensas para a
conformidade e penalidade ou abandono para o dissidente. O efeito degradante disso
sobre o mundo acadêmico dá a razão para a esterilidade geral da pesquisa em ciência
social nos Estados Unidos.
37
ROCKEFELLER FINANCIA O CIENTIFICISMO DO DR. KINSEY
O Professor Hobbs afirmou com acerto que os cientistas sociais deviam tomar o maior
cuidado ao informar o público quando seu trabalho não é verdadeiramente “científico. O
sentido do termo “ciência social” implica no fato de que suas conclusões são inatacáveis
porque foram alcançadas “cientificamente”. Há o perigo constante, então, de que os
leigos assumam essas conclusões como bases axiomáticas para a ação social. Talvez a
melhor ilustração disso seja o número notável de escritos que apareceram depois da
publicação dos relatórios sobre os estudos de Kinsey apoiados pela Fundação
Rockefeller.
Os estudos de Kinsey - muito divulgados como um “best-seller”- fundamentam uma
reforma criminal e social sobre o material nada científico que o Dr. Kinsey tinha
coletado e permitido que fosse amplamente disseminado.
Apesar das limitações patentes do estudo e seu viés persistente, suas conclusões
relativas ao comportamento sexual foram amplamente aceitas. Foram apresentadas em
aulas de faculdade; médicos as citaram em palestras; psiquiatras as aplaudiram; um
programa de rádio observou que as descobertas estavam servindo de base para a revisão
dos códigos morais referentes a sexo; e um editorial de um jornal para estudante
universitário admoestou a administração da faculdade para que providenciasse medidas
favoráveis às escapadas sexuais dos estudantes, de acordo com as “realidades
científicas” estabelecidas pelo livro.
Alguns desses “Kinseyítas” chegaram a dizer que nossas leis estavam erradas porque
não seguiam os “fatos” biológicos. Relatórios publicados como esses de Kinsey causam
danos quando fingem revelar falsamente “fatos “biológicos. Grande parte do produto
Kinsey não tem base em “fato” verdadeiro e é mera propaganda para alguns conceitos
pessoalmente intrigantes.
O Professor Hobbs observou que o Dr. Kinsey ridicularizou “padrões de
comportamento sexual socialmente aprovados”, chamando-os de “racionalizações”,
quando estava se referindo, de modo geral, a formas de comportamento sexual
socialmente condenadas como se fossem “normais” ou “normais no animal humano”.
Essa apresentação, diz o Professor Hobbs, “podia dar a impressão - e deu a impressão a
muitos revisores - de que coisas que se conformam aos códigos de conduta sexual
socialmente aprovados são racionalizações, não suficientemente corretas, enquanto que
coisas que se desviam desses códigos, como a homossexualidade, são normais, num
sentido correto.
O Professor Hobbs destacou o fato de que essas apresentações pseudocientíficas podiam
afetar seriamente a moralidade pública. Eis aqui uma parte de seu depoimento:
“Como ilustração, no segundo volume está enfatizado, por exemplo que nós
objetamos contra adultos molestadores de crianças principalmente porque fomos
condicionados contra eles, e que as crianças que foram molestadas se tornam
emocionalmente perturbadas principalmente por causa das atitudes ultrapassadas
de seus pais quanto a tais práticas, e os pais (a implicação é) são quem causam
os danos reais, fazendo um estardalhaço sobre o fato de uma criança ser
molestada. Porque o molestador, e aqui eu cito diretamente de Kinsey, “pode ter
contribuído favoravelmente para o seu futuro desenvolvimento sociosexual”. Ou
38
seja, um molestador de crianças pode não só, insiste Kinsey, não as ter
prejudicado, mas pode ter contribuído favoravelmente para seu futuro
desenvolvimento sociosexual. Enfatizados de maneira especial no segundo
volume, o volume sobre mulheres, são os supostos efeitos benéficos das
experiências sexuais pré-maritais. Tais experiências, Kinsey afirma:
proporcionam uma oportunidade para que as fêmeas aprendam a se ajustarem
emocionalmente a diversos tipos de machos”. Evitar que as mulheres tenham
experiência sexual pré-marital, de acordo com o Professor Kinsey, pode levar a
inibições que danificam a capacidade de reagir, de tal maneira que essas
inibições podem persistir por muitos anos depois do casamento, “se, de fato, se
dissiparem”. Assim, tem-se uma contínua ênfase na conveniência do
envolvimento das mulheres no comportamento sexual pré-marital. Em ambos
esses volumes, há uma ênfase persistente, um questionamento persistente dos
códigos tradicionais e das leis relativas ao comportamento sexual. O Professor
Kinsey pode estar certo ou errado, mas quando alguém dá a impressão de que as
descobertas são científicas no mesmo sentido das descobertas em ciência física,
aí o assunto vira não uma questão sobre se ele é uma pessoa correta ou incorreta,
mas uma questão sobre a impressão que é dada ao público, que pode ser
completamente infeliz (Audiências, pp.129, 130).
A responsabilidade especial da Fundação Rockefeller por ter financiado os “best
sellers” de Kinsey vem alojar-se penetrantemente nesta citação de um artigo de Albert
Deutsch, na Harper’s:
São tão surpreendentes suas revelações, tão contrárias ao que o homem
civilizado tem aprendido por gerações, que seriam inacreditáveis - não fosse o
peso impressionante das agências científicas apoiando a pesquisa [ibid., p. 71].
Observem quão impressionante é a palavra “científicas”. E quão falsa. Quão perigoso é
para a sociedade que as fundações apoiem a teoria de que os problemas sociais podem
ser resolvidos cientificamente por meras técnicas de entrevista. Ao lado da veracidade
duvidosa das amostras de homens e mulheres entrevistados por Kinsey, seus métodos
estatísticos foram seriamente criticados por órgãos de Associação Americana de
Estatística e diversos revisores acadêmicos. Mas mesmo que a amostragem tivesse sido
representativa das atitudes americanas sobre sexo, e mesmo que todas as pessoas
entrevistadas tivessem querido fornecer respostas verdadeiras e fossem
psicologicamente capazes de fazê-lo, parece absurdo propor que a mudança social fosse
justificada com base somente na pesquisa empírica.
Deveriam ser abandonados os conceitos de valor (ideias legais, religiosas, éticas)
meramente porque um certo número de homens os considera opressivos e negligencia
viver de acordo com eles? É legítimo defender uma mudança no código penal porque
certos tipos de crime são amplamente praticados?
Que porcentagem de nossa população precisa manifestar-se, seja por resposta a
entrevistas, seja por ação, em favor de uma ilegalidade para convencer um cientista
social de que a lei que a proíbe deveria ser revogada? Perguntas similares deviam ser
feitas em relação à ponderação sobre conceitos éticos existentes, tais como patriotismo,
respeito pelos pais e pelos mais velhos, e tolerância de dissidência.
39
A doutrina pueril de que a mudança é sempre necessária tem levado muitos desses
“cientistas” a acreditar que não existem mais quaisquer “direitos inalienáveis”, nem
deveres imutáveis. Eles se consideram justificados, com o apoio das concessões das
fundações, para rotular seus preconceitos como verdade e para fazer experiências com a
sociedade.
A Comissão Reece colocou isso assim:
Parece, para essa Comissão, que há uma forte tendência da parte de muitos dos
cientistas sociais – cuja pesquisa é favorecida pelas maiores fundações na
direção do conceito de que não existe o absoluto – para achar que tudo é
indeterminado, que nenhum padrão de conduta, de moral, de ética e de governo
deve ser considerado inviolável, que todas as coisas, incluindo a lei moral
básica, estão sujeitas à mudança e que cabe aos cientistas sociais não aceitar
nenhum princípio concedido como uma premissa no raciocínio social ou
jurídico, por mais fundamental que ele possa ter sido considerado até agora sob o
sistema moral judaico-cristão.
A pesquisa de opinião tornou-se um aspecto da mania de verificação dos fatos.
AS FUNDAÇÕES GERAM O ESTUDO ADEQUADO DA HUMANIDADE
Em face das evidências produzidas pela Comissão Reece, é fútil negar que o complexo
das maiores fundações inclinou sua pesquisa e seu trabalho para a esquerda. Um
exemplo típico é a produção de O Estudo Adequado da Humanidade, escrito por
Stuart Chase, por sugestão de Donald Young, à época membro do Conselho de Pesquisa
em Ciências Sociais, e de Charles Dollard, então membro da Corporação Carnegie, para
retratar a condição e o funcionamento das ciências sociais. Esse livro teve um impacto
enorme. Aproximadamente cerca de 50.000 cópias foram vendidas, o que, para um livro
dessa espécie, é verdadeiramente monumental.
A primeira edição de seu O Estudo Adequado da Humanidade, uma Pesquisa
dentro do Estudo das Relações Humanas [Harper, 1948], inclui uma introdução,
“Como esse livro chegou a ser escrito”. Fica bem claro, a partir dessa introdução, que
o Sr. Chase foi escolhido por dois eminentes executivos de fundação - Donald Young
(então presidente do CPCS e, agora, presidente da Fundação Russell Sage) e Charles
Dollard (na época, presidente da Corporação Carnegie de Nova York) - para escrever
um livro para eles. O livro era destinado a ser uma peça publicitária popular para
interpretar o significado e as metas das ciências sociais para o público em geral. Ambos
os cavalheiros deviam ter se familiarizado com o trabalho anterior do Sr. Chase e com
suas convicções políticas bem divulgadas. A conclusão inevitável é que eles escolheram
o Sr. Chase porque aprovavam o seu viés, ainda que, na verdade, concedessem completa
indiferença a suas convicções.
O livro, de fato, pode corretamente ser considerado como tendo sido uma publicação
semioficial do Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais.
“Preparem-se, agora, para uma surpreendente proposição universal”, diz o Sr. Chase:
O talento individual é por demais esporádico e imprevisível para ser admitido
como parte importante na organização da sociedade. Os sistemas sociais que
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perduram são construídos sobre a pessoa comum que pode ser treinada para
ocupar qualquer posição adequadamente, senão brilhantemente [Relatório da
Comissão Reece, p. 87].
E como se dará essa administração “científica”? Infere-se do livro do Sr. Chase – que
parece representar a linha oficial do complexo das fundações – que isso ocorrerá através
de um “determinismo cultural”, por meio da moldagem de nossas mentes pela
propaganda. O Sr. Chase escreveu:
Teoreticamente, uma sociedade poderia ser completamente reformada
dentro de uns 15 anos – tempo que leva para inculcar uma nova cultura
num grupo de crianças em idade de crescimento.
Comentando esse livro, o Professoro Hobbs viu que “o determinismo cultural é uma
arma tanto do fascismo, como do comunismo, uma variante da “lavagem cerebral” das
experiências do russo Pavlov sobre o condicionamento de cães [IBID., pp. 86-87].
A ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Os exemplos de cientificismo que eu dei até agora, tendendo agudamente para a
esquerda, não são casos isolados – “passatempo” do investimento das maiores
fundações. Um ou dois, ou três, ou quatro, ou até mais poderiam ser relevados como
acidentes.
A Enciclopédia das Ciências Sociais é o livro de referência básica nas “ciências
sociais”. Embora fosse até então um tanto obsoleta, avaliou-se que, em 1952, ela foi
consultada 500 mil vezes. É um livro de tremenda importância e influência. A criação
da Enciclopédia foi financiada ou materialmente apoiada pela Fundação Rockefeller,
pela Corporação Carnegie e pela Fundação Russell Sage. Foi um risco altamente
desejável. Preparada objetivamente, poderia ter ocupado um lugar soberbo e meritório
em nossa biblioteca de livros de referência básica. Contudo, a objetividade que era
essencial à sua exatidão, enquanto projeto apoiado por uma fundação, estava
marcadamente ausente no produto que se apresentou.
Não estou sugerindo que as fundações que financiaram o projeto deveriam tê-la
censurado, ou controlado de alguma forma sua produção. Eu realmente sou de opinião
que elas deveriam ter se certificado de que aqueles que iriam editá-la e criá-la tivessem
a objetividade necessária. Nisso elas [as fundações] falharam.
O relatório da Comissão comentou mais adiante [p. 93]:
O que é espantosamente característico da Enciclopédia é constatar até que ponto
os artigos sobre temas “de esquerda” foram assinados por esquerdistas; no caso
das matérias da “direita”, os esquerdistas novamente foram escolhidos para
descrevê-las e apresentá-las.
A GUINADA PARA A ESQUERDA
O Professor Rowe, em seu depoimento à Comissão Reece, contribuiu com esses
comentários referentes à tendência para a esquerda de tantas pesquisas em ciência social
apoiadas por fundação:
41
“Eu acho que o desenvolvimento das ciências sociais neste país, nos últimos 40
ou 50 anos, tem sido pesadamente influenciada, em minha opinião, por ideias
importadas do exterior, que foram conectadas – senão originadas – à
mentalidade socialista; e afirmar isso é simplesmente dizer que é normal na
ciência social, hoje, aceitar uma boa parte de determinismo econômico, aceitar
uma boa porção de ênfase na pesquisa empírica acima e contra o pensamento
básico e o avanço da teoria, e aceitar um monte de ideias sobre a posição do
cientista social na sociedade, que me parece um tanto alienado da tradição
americana.”
“Acho que é preciso ter em mente que a teoria da engenharia social está
estreitamente relacionada com a noção de elite, que encontramos dominante no
marxismo, a noção de que umas poucas pessoas são aquelas que possuem a
tradição e que têm a habilidade, e que essas pessoas podem manobrar o povo
como um todo na direção de um caminho melhor de vida, não importando se ele
gosta e quer isso ou não. É dever delas conduzi-lo à força, por assim dizer, nessa
direção. Tudo isso está amarrado à convicção dos marxistas de que eles parecem
ter – mais do que realmente têm – uma ciência social perfeita. Este é mais um
dogma do marxismo – que eles têm uma ciência social que é perfeita; ele não só
explica toda a história passada, mas ainda conduzirá para a completa vitória do
estado socialista numa base mundial. Quando refletimos sobre até que ponto
essas ideias se tornaram aceitas na comunidade intelectual americana, acho que
devemos ficar um pouco alarmados e um pouco hesitantes sobre a direção para a
qual caminhamos.”
A INFLUÊNCIA DE ALGUMAS
ESCÂNDALOS POLÍTICOS
FUNDAÇÕES
NA
DENÚNCIA
DE
O Professor Kenneth Colegrove juntou-se àqueles acadêmicos que afirmaram que a
pesquisa em ciência social apoiada por fundações enfatizou exageradamente o método
empírico e que isso resultou no materialismo esquerdista, na decadência da moralidade
e no declínio do respeito pelas tradições americanas. Ele atribuiu tudo isso em parte a
um interesse excessivo por coisas “patológicas”:
Eu acho que houve, infelizmente, uma tendência por parte das fundações em
promover pesquisa que é patológica no que diz respeito a assinalar os aspectos
negativos do governo americano, da política americana, da sociedade americana
e assim por diante, em vez de enfatizar os aspectos bons [ibid., p.116].
Dessa “ênfase exagerada na constante necessidade de reforma” brotou o conceito de
“engenharia social”, de acordo com o Professor Colegrove. E ele ofereceu estes
comentários astutos:
“Este [conceito] se origina, é claro, da ênfase exagerada sobre a constante
necessidade de reforma. A hipótese é que tudo precisa de reforma, que se você
não estiver se reformando, não estará progredindo. Acho que isso se deve, em
grande parte, à falha das fundações - a falha de muitos dos acadêmicos que elas
escolheram – em entender completamente o que são os princípios da
Constituição americana, o que são os princípios da tradição americana.”
42
PESQUISA DE MASSA – INTEGRAÇÃO E CONFORMIDADE
Dois longos artigos sobre fundações de William H. Whyte Jr. apareceram na revista
Fortune (outubro e novembro de 1955) antes da publicação de seu livro, O Homem da
Organização.
Seu segundo artigo, intitulado “Onde as Fundações Caem”, é dedicado quase que
inteiramente à crítica da tendência das grandes fundações para alimentar pesquisa de
massa.
Ao fazer concessões, elas canalizam o volume de seu dinheiro em larga escala para
projetos e programas de equipes, reservando uma pequena parte para a pesquisa
individual. Ademais, isso tende a perpetuar-se. Os acadêmicos fazem gracejos em
particular (e com amargura), dizendo que é mais fácil conseguir $500.000 de uma
fundação do que $5.000; compreensivelmente, muitos reagem inflando seus projetos, e
quanto mais o fazem, mais satisfeitas ficam as fundações, considerando seu método de
doar como o mais adequado.
A maioria dos cientistas sociais acredita que as fundações desejam apoiar (a) grandes
projetos, (b) mapeados detalhadamente, (c) ajustados aos interesses da fundação.
Os projetos inflados geralmente acabam mal, mas o fracasso não é notificado. Os
pesquisadores ficam relutantes em contar para a fundação que eles desperdiçaram seu
dinheiro; e mesmo que o projeto não dê em nada, há sempre o consolo de que pessoas
mais jovens tiveram um bom treinamento. Ocasionalmente, os pesquisadores de fato
confessam o fracasso, mas é provável que isso seja um preâmbulo dissimulado para
pedir mais dinheiro para alcançar o topo agora em vista.
Mesmo quando querem fazer alguma pesquisa pequena e independente por si próprios,
homens que estão no auge frequentemente têm grande dificuldade em conseguir
dinheiro para tanto. Há, também, o “lobo solitário”, o homem que insiste em perseguir
seu próprio curso independente. De um modo geral, as fundações o descartam como não
sendo um problema.
Há sérias acusações sobre os “projectitis” que assolaram as grandes fundações, que
desperdiçam o talento precioso, tendendo a criar conformidade e uniformidade,
reprimindo a iniciativa individual e destruindo a independência intelectual, que é o bem
mais valioso do acadêmico.
O Sr. Macdonald citou Einstein, dizendo: “Sou cavalo de um arreio só, não talhado para
a carruagem ou trabalho em equipe; pois bem sei que para atingir qualquer meta
definitiva, é imperativo que uma única pessoa pense e comande.”; e citou também
Elbridge Sibley, quando estudava as necessidades do pesquisador do tipo “lobo
solitário” para a Fundação de Pesquisa em Ciência Social, dizendo: “Não foi encontrado
- nem é provável que venha a ser – um substituto efetivo para a mente humana
individual enquanto instrumento para fazer novas descobertas fundamentais.”
Quando o Professor Rowe depôs anteriormente perante a Comissão McCarran, foi-lhe
perguntado se ele sabia de alguns esforços das fundações em “integrar estudos e em
promover a unanimidade de acordo em algum assunto em particular”. Isso levou ao
seguinte testemunho:
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SR. ROWE – “Do meu ponto de vista, as fundações e essas organizações de
pesquisa, como o Instituto de Relações Pacíficas, perderam o controle da
coordenação de pesquisa. Elas se comprometeram tão completamente com a
coordenação de pesquisa que, de fato, em vez de apoiar uma grande variedade de
projetos que enriqueceriam o cenário intelectual americano pela diversidade –
que é um valor no qual eu acredito essencialmente –, você vê um estreitamento
da ênfase, uma concentração de poder, uma concentração de autoridade e um
empobrecimento do cenário intelectual americano. Isso nos interessa
particularmente porque, veja, exercendo o poder sobre pesquisa desse jeito e
insistindo na integração da atividade de pesquisa, qualquer um que queira pode
controlar os resultados de pesquisa nas universidades americanas.
Intelectualmente falando, este país corre um grande risco de tentar
intelectualmente imitar a abordagem totalitária ao permitir que pessoas em
centros de poder financeiro – elas não têm poderes políticos neste sentido –
digam ao público sobre o que estudar ou trabalhar e que estrutura estabelecer. Se
eu puder continuar por mais um instante, Senador, gostaria de chamar sua
atenção para o fato de que Adolf Hitler muito eficazmente frustrou a pesquisa
atômica na Alemanha por dizer aos físicos o que ele queria que eles
alcançassem. Ora, isso é verdade. E se você pode fazer isso em física atômica,
pode fazer 10 vezes mais rápido nas assim chamadas ciências sociais. Agora
você consegue entender sobre o que estou falando quando me refiro a essa
direção interligada? Isso é o que me incomoda. Mas quando você tem um
vínculo no dinheiro, um vínculo na promoção de monografias, um vínculo na
pesquisa e um vínculo na publicação, então eu lhe digo que os intelectuais
receberam rédeas e antolhos.”
SENADOR WATKINS – “De outra forma, eles não participam da equipe.”
SR. ROWE – Correto. Eles não fazem parte da equipe e não têm a chance de
levar a bola. Agora, para o membro da faculdade, isso significa dinheiro, renda,
sua sobrevivência. É vital. Não é apenas algo recreativo, sabe? E, claro, lembrese disso. As pessoas da fundação têm que ter trabalho. Têm que ter alguma coisa
para administrar. Eles não querem doar o dinheiro para as universidades e dizer
“Vão em frente e gastem do jeito que quiserem”. Eles querem ver que a
atividade compensa. Ela tem que ter um certo peso. E para que isso aconteça,
não vamos dar o dinheiro para uma universidade onde vão permitir que qualquer
Tom, Dick ou Harry que seja professor expresse seu próprio pensamento. “Não,
nós queremos uma integração.” Aliás, não pude encontrar melhor exemplo dos
perigos da doação de grandes somas de dinheiro, por anos a fio, a organizações,
sabe, com objetivos de pesquisa do que o perigo que está seriamente envolvido
no próprio Instituto de Relações Pacíficas. É um bom exemplo do fato de que o
poder corrompe, e de que quanto mais poder você tem, mais corrupto você fica
[Relatório da Comissão Reece, p. 41 et seq.]”.
Depondo perante a Comissão Reece, o Professor Rowe repetiu sua profunda
preocupação com a tendência das grandes fundações para criar projetos de pesquisa
orientada em vez de apoiar o pesquisador individual em seja qual for a direção que ele
quiser tomar.
O Professor Rowe ilustrou um outro aspecto da tendência das fundações para organizar
pesquisa de acordo com planos pré-determinados. Ele citou a tentativa da Corporação
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Carnegie de induzir a Universidade de Yale “a eliminar o trabalho que estamos fazendo
no campo do Extremo Oriente e concentrar nosso trabalho no campo do sudeste
asiático”. Seu depoimento prosseguiu:
“A única razão para eu lhes apresentar esse incidente tão detalhadamente é para
indicar o que considero ser uma tendência real nas fundações de hoje de adotar a
função de tentar racionalizar a educação superior e a pesquisa, nesse país, nesse
sentido da assim chamada maior eficiência. Usei a expressão “assim chamada”
deliberadamente porque, no meu ponto de vista, a noção de que a eficiência
educacional, investigativa e erudita pode ser produzida desse jeito numa
sociedade democrática é inaceitável. A mim me parece que, numa sociedade
democrática temos que nos esforçar por conseguir a maior diversidade possível e
a diferenciação entre as universidades nesse sentido, e a sugestão de que uma
universidade qualquer deveria monopolizar mais ou menos um campo, ou umas
poucas universidades monopolizarem um campo, e dar os outros campos para
que outras façam o mesmo, isso é repugnante para mim pessoalmente. Não está
de acordo com minha noção de liberdade acadêmica no tipo de sociedade
democrática na qual acredito [ibid., p 35]”.
Como o Professor Rowe colocou: “O que deve pensar um professor quando aparece
gente com dinheiro e diz à sua universidade que o que ele está fazendo é inútil e deve
ser liquidado porque está sendo feito de modo muito melhor em outro lugar?”
45
CAPÍTULO 5
AS FUNDAÇÕES E O RADICALISMO NA EDUCAÇÃO
UM COMPLEXO MUITO PODEROSO de fundações e organizações aliadas
desenvolveu-se, ao longo dos anos, para exercer um alto grau de controle sobre a
educação. Parte desse complexo - e, em última instância, responsáveis por ele – são os
grupos Rockefeller e Carnegie entre as fundações. O maior dos gigantes em fundação, a
Fundação Ford, é uma recém-chegada. Uniu-se agora ao complexo e seu impacto é
tremendo; mas a operações dos grupos Carnegie e Rockefeller têm início bem antes.
Se os esforços iniciais das fundações Carnegie e Rockefeller no campo da educação
produziram resultados substanciais e salutares é questão a ser discutida. A Comissão
Reece quis saber se suas ações foram inteiramente louváveis. A razão para essa dúvida
provém do fato de que foram usados métodos coercitivos.
Uma avaliação pública desfavorável do velho Rockefeller e de Andrew Carnegie tornou
essa abordagem coercitiva inconveniente, em 1905, para que suas fundações
filantrópicas recentemente criadas tentassem quaisquer reformas diretas no ensino
superior [Relatório da Comissão Reece, p. 134]. O método usado, portanto, foi o da
dissimulação – “indiretamente através de objetivos gerais e não controversos”.
Era o caso de escolher entre ajustar-se ou perder a concessão! Quando ajustar-se
significava banhar-se num riacho de milhões, os administradores de faculdade e
universidade se inclinavam à conformidade.
Nós questionamos, contudo, se as fundações teriam poder até para fazer o bem da
maneira coercitiva que era empregada. Nunca é demais repetir que o poder em si
mesmo é perigoso. O que podia ter sido usado para um propósito benigno poderia, no
futuro, ser empregado para promover objetivos contra os interesses das pessoas. Dizer
que homens bons conduziam as fundações não anula o perigo. É o poder que é perigoso
– poder não controlado pela responsabilidade pública [ibid., p. 135].
Não basta simplesmente reconhecer os resultados satisfatórios da coerção benigna ou
assinalar as reformas acadêmicas altamente desejáveis pelas quais a coerção foi
responsável. Tal erro foi cometido por aqueles que louvaram as reformas internas do
fascismo, na Itália, e ignoraram o custo da autonomia e da liberdade. O poder é por si
mesmo perigoso. Quando tornamos possível ao poder financeiro exercer controle
substancial sobre a educação, colocamos em risco nosso bem-estar. Talvez o risco valha
a pena se assumido no sentido de preservar a liberdade de ação das fundações. Mas
devemos estar conscientes do risco e atentos ao que transparece. A Comissão Walsh
ouviu testemunhas deporem sobre o fato de que houve faculdades que abandonaram
suas afiliações religiosas durante - ou antes de - 1915 para se ajustarem aos requisitos
estabelecidos pelas fundações! Hoje, os mentores de política escolar antecipam as
idiossincrasias e preferências dos funcionários das fundações de uma maneira que
semelhantemente produz conformidade.
E não é difícil ser bem sucedido nisso. O país está cheio de faculdades e universidades
famintas de doação. O número de acadêmicos miseravelmente pagos é incontável. Os
professores têm que comer; e as universidades têm que pagar seus zeladores. Embora
seja possível que a maioria dos acadêmicos e administradores resista, suas vozes
46
reunidas não são tão poderosas como aquelas de uma minoria de acadêmicos
subsidiados na publicação de seus escritos, e de uma minoria de administradores cujas
instituições florescem financeiramente. Como é difícil resistir quando a pressão para
mudar conceitos educacionais vem acompanhada de um persuasivo fluxo de centenas de
milhões ou mesmo bilhões!
Há muita evidência de que, num grau significativo, as fundações se tornaram os
dirigentes da educação nos Estados Unidos. É difícil saber até que ponto isso foi
causado pelas condições vinculadas ao apoio financeiro do início das atividades das
fundações Carnegie e Rockefeller. Nós temos certeza de que seus primeiros esforços
para reformar as faculdades foram apenas um começo.
Organizações creditadas e outros instrumentos na forma de associações cívicas,
profissionais e escolares foram criadas ou apoiadas para implementar os planos de
reforma desses dois grupos de fundação. O Conselho Americano de Educação tornou-se
sua maior agência executiva. Outras organizações de câmaras de compensação,
operando diversamente na educação superior, secundária e primária e, mais tarde, no
campo da “educação de adulto”, receberam apoio pesado. Entre elas se encontravam a
Associação Nacional de Educação e grupos associados, a Associação de Educação
Progressiva, a Sociedade John Dewey, o Conselho Nacional de Educação dos Pais e a
Comissão da Juventude Americana.
Enquanto os resultados da primeira fase das operações da fundação em educação foram
inteiramente benéficos, o mesmo não pode ser dito dos estágios posteriores. Junto com
inúmeros benefícios, as fundações foram responsáveis igualmente por muito daquilo
que teve um efeito decididamente deletério em nossa sociedade.
Pesquisa e estações experimentais foram estabelecidas em universidades selecionadas,
notavelmente a de Colúmbia, Stanford e Chicago. Ali nasceram alguns dos piores danos
à educação recente. Nessas vinhas estabelecidas por Rockefeller e Carnegie trabalharam
os principais personagens na história do suborno da educação americana. Ali as
fundações nutriram entre os acadêmicos alguns dos mais ardentes defensores da
deposição do sistema americano e sua suplantação pelo estado socialista.
O NASCIMENTO DO RADICALISMO EDUCACIONAL
Qualquer que seja sua origem ou manifestação anterior, há pouca dúvida de que o
movimento radical na educação foi acelerado por um movimento socialista organizado
nos Estados Unidos. Em 1905, a Sociedade Socialista Intercolegial foi criada sob a
direção de Jack London, Upton Sinclair e outros para a promoção ativa do socialismo.
Ela estabeleceu ramificações em muitas grandes faculdades e universidades, onde se
desenvolveram líderes para exercer influência futura considerável. Essa Sociedade não
foi uma organização transitória. Ela ainda existe e opera, hoje, como uma fundação
isenta de imposto, tendo mudado seu nome, alguns anos atrás, para Liga para a
Democracia Industrial [que será discutida em detalhes no próximo capítulo].
O movimento gerado ou acelerado pela Liga foi comparado ao movimento Socialista
Fabiano, na Inglaterra, pelo Sr. Aaron Sargent, uma das testemunhas perante a
Comissão Reece.
47
Nas audiências de Reece, o Sr. Sargent citou o Fabianismo na Grã Bretanha, um livro
de Margaret Patrícia McCarran, filha do falecido Senador McCarran, no qual ela
descreve a extensão gradual da influência da ideia de Fabian. O Sr. Sargent considerou
movimento socialista na América – aquele impelido pela Sociedade Socialista
Intercolegial – um produto do movimento de Fabian.
O movimento americano apoderou-se de alguns dos ensinamentos de John Dewey que,
conforme expôs o Sr. Sargent, expôs um princípio que se tornou destrutivo das tradições
e criou boa parte das dificuldades e da confusão que encontramos hoje. O Professor
Dewey negou que houvesse algo como a verdade absoluta, que tudo era relativo, tudo
era duvidoso, que não havia valores básicos e nada que fosse especificamente
verdadeiro. Você automaticamente esquece o passado, atira sua experiência histórica e
sua formação ao vento, e começa tudo de novo – o que é exatamente o que os marxistas
querem que seja feito.
A rejeição da tradição carrega um enfraquecimento da doutrina dos direitos inalienáveis
e da teoria da lei natural subjacente a nosso sistema de governo. Ficou intrínseco na
filosofia “liberal” que assumiu o ponto de vista de Dewey que, enquanto houver direitos
fundamentais que sejam sagrados, eles estarão sujeitos a constante revisão. Em certos
casos, prossegue a abordagem, alguns não são tão sagrados quanto outros, estejam ou
não incluídos na Declaração da Independência e na Constituição original, ou em suas
emendas.
O Sr. Sargent muito persuasivamente contou a história do crescimento do movimento
radical em educação. A filosofia de Dewey ganhou força justamente no tempo de que
John D. Rockefeller criou sua primeira fundação, o Conselho Geral de Educação, em
1902. A época era de agitação de reforma, mas os reformadores moderados e sensatos
de então estavam muito frequentemente oprimidos – e até certo ponto, seduzidos – por
um pequeno exército de socialistas, criptosocialistas e coletivistas que aproveitavam o
movimento de reforma necessária para impulsionar suas próprias filosofias radicais e
teorias de governo. Estes tiraram proveito dos ensinamentos de Dewey para seus
propósitos.
Foi na Universidade de Colúmbia, porém, a instituição onde o Professor Dewey
lecionou por tanto tempo, que foram feitos, talvez, os maiores avanços na aplicação
dessa filosofia no ensino. Em1916, estabeleceu-se o Departamento de Pesquisa em
Educação na Faculdade de Professores (parte da Universidade de Colúmbia). Esse
departamento foi o responsável pela criação da Escola Lincoln, em 1917, que, para usar
as palavras de um panfleto da Faculdade de Professores, “ateou o fogo que ajudou a
espalhar a educação progressiva”.
O mesmo panfleto [Relatório da Comissão Reece, pp. 147-149] observou que John D.
Rockefeller, através do Conselho Internacional de Educação, doou $100.000 para criar
um Instituto Internacional na Faculdade de Professores.
O radicalismo crescente que começava rapidamente a permear os círculos acadêmicos
não foi um movimento popular. O Sr. Sargent citou uma declaração do Professor
Ludwig Von Mises de que o socialismo não brota das massas, mas é instigado pelos
intelectuais “que formam eles mesmos uma ‘panelinha’. Não é em absoluto um
movimento do povo. É a capitalização em cima das emoções e simpatias das pessoas em
direção a um ponto que essas pessoas desejam alcançar.”
48
CARNEGIE FINANCIA UM DECRETO SOCIALISTA PARA A EDUCAÇÃO
O Sr. Sargent ofereceu uma evidência convincente de que os esforços em usar as
escolas para nos trazer uma nova ordem, de natureza coletivista, seguiram um plano e
que este foi apoiado por dinheiro de fundação. Ele citou as Conclusões e
Recomendações da Comissão de Estudos Sociais da Associação Histórica Americana.
Num de seus discursos no Congresso, o Sr. Reece referiu-se a uma “conspiração”, e o
uso que fez desse termo atraiu-lhe a raiva e o escárnio da imprensa “liberal”. Embora o
termo fosse forte, o Sr. Reece apresentava justificativa para usá-lo. Durante a
preparação do meu manuscrito, apareceu um livro, cuja leitura leva qualquer um à
conclusão de que havia, de fato, alguma coisa com natureza de conspiração verdadeira
entre alguns educadores com liderança, nos Estados Unidos, para efetuar o socialismo
através do uso dos sistemas de nossas escolas (O livro é Curvando a Vara, de
Augustin C. Rudd, publicado em 1957 pela Fundação Heritage Inc., um trabalho por
demais admirável e esclarecedor.). Na medida em que o movimento para subornar
nossas escolas foi pesadamente financiado pelas fundações de liderança, através da
Escola Lincoln, a Associação de Educação Progressiva, a Sociedade John Dewey,
unidades da Associação de Educação Nacional e outras organizações, essas fundações
devem ser responsabilizadas em grande parte pelo sucesso do movimento. É impossível
acreditar que as incontáveis declarações públicas de algumas dessas organizações e de
seus líderes - que deixaram seu programa totalmente claro - não tenham penetrado na
consciência administrativa dos gestores das fundações que os subsidiaram.
A Associação Histórica Americana é a associação profissional de historiadores e,
enquanto tal, uma das organizações que participam do Conselho de Pesquisa em Ciência
Social. O trabalho de sua Comissão foi financiado pela Corporação Carnegie num total
de $340.000. As Conclusões foram a última seção do relatório final da Comissão,
produzido em 1934. Tiveram um impacto enorme e duradouro sobre a educação em
nosso país.
As Conclusões anunciam o declínio do capitalismo nos Estados Unidos:
“Evidência cumulativa apoia a conclusão de que a idade do individualismo e
‘laissez faire’ na economia e no governo está se consumando e que uma nova
idade de coletivismo está emergindo.”
“E o ‘conselho de educação’ tem que ter como objetivo ‘apoiar um programa
escolar concebido em termos do bem-estar geral e ajustado às necessidades de
uma época marcada pela transição a uma forma de economia socializada1.’ A
comissão, então, discute ‘as linhas ao longo das quais podem e serão feitos os
ataques ao problema de aplicar suas conclusões em relação à instrução nas
ciências sociais’.”
“Como tem sido frequentemente repetido, o primeiro passo é acordar e
consolidar liderança em torno da filosofia e objetivo da educação aqui exposta
[Relatório da Comissão Reece, p. 139].”
Esse foi um apelo aos professores da América para condicionar nossas crianças à
aceitação de uma nova ordem em processo de transição. Quanto à natureza dessa
49
pretensa ordem, não pode haver dúvida. O Professor Harold J. Laski, filósofo do
socialismo britânico, afirmou sobre o relatório da Comissão:
“No fundo, e despojado de suas frases cuidadosamente neutras, o relatório é um
programa educacional para uma América socialista [ibid., p.141]”.
O comentário do Sr. Sargent sobre o relatório produzido pelo dinheiro da Corporação
Carnegie é altamente significativo:
O que esses cavalheiros propõem que seja feito é apresentado no fim de seu
capítulo que fala sobre os passos seguintes. Está dito que primeiro é para acordar
e consolidar liderança em torno da filosofia e objetivo da educação exposta no
relatório. Que a Associação Histórica Americana, em cooperação com o
conselho Nacional de Estudos Sociais, providenciou para que a revista The
Outlook 2 fosse assumida como um jornal de ciência social para os professores.
Que os autores de livros didáticos devem renovar e reescrever seus antigos
trabalhos de acordo com esse quadro de referência. Esse relatório tornou-se a
base para uma tendência definitiva no currículo para a seleção de certos fatos
históricos e para a exclusão de outros [ibid., p. 153].
A Corporação Carnegie denunciou ou renunciou a esse apelo por uma socialização da
América? Na verdade, não. Seu relatório anual de 1933-1934 diz:
Tanto o mundo educacional quanto o público têm, em geral, um débito de
gratidão tanto para com a Associação - por ter patrocinado esse estudo
importante e oportuno num campo de dificuldade peculiar -, como para com os
distintos homens e mulheres que serviram à Comissão [ibid., p. 141].
A reação da Corporação Carnegie é a mais espantosa. Em sua declaração à Comissão
Reece, o Sr. Charles Dollard, presidente dessa fundação, apresenta uma justificativa
adicional de que, uma vez que os fundos tinham sido concedidos, a Fundação não tinha
“o poder para censurar ou reescrever os trabalhos produzidos graças a suas doações.”
Ele assume a postura de que “os trabalhos serão apoiados pelas concessões da
corporação (fundação), contendo visões que diferem daquelas sustentadas por seus
administradores e funcionários.”
O Sr. Dollard não explica os comentários de elogio da fundação Carnegie depois da
publicação do último volume do relatório da Comissão. Nem absolve convincentemente
a fundação da responsabilidade pelo trabalho da Comissão. A doação não foi para uma
pesquisa científica, mas foi essencialmente para o desenvolvimento de novos princípios
em educação. Como tal, ela apoiou a formulação de um sistema de valores filosófico,
baseado em suposições a priori de metas de educação e formas desejáveis de governo e
organização social. O trabalho da Comissão não foi uma pesquisa científica, mas um
esforço para persuadir a América em favor de um novo ideal na vida pública e na
educação. O apoio a esse projeto foi essencialmente político.
É claramente desejável que as fundações se abstenham de adulterar a pesquisa
científica, uma vez que uma doação foi feita para uma organização científica apolítica.
Quando, porém, o dinheiro da fundação é oferecido para um programa de natureza
2
Em português: A Perspectiva (N. da T.)
50
político-social, a responsabilidade por seu impacto na sociedade não pode ser esquivada
pela manipulação de termos, como “socialismo” e “Novo Acordo”.
Havia coerência na posição do Sr. Dollard ao defender o trabalho da Comissão, ao
apoiar a escolha de Stuart Chase e do Dr. Myrdal, e em apoiar a Enciclopédia das
Ciências Sociais depois que esse viés ficou bem conhecido. Parece justo concluir que
essa coerência tinha, em sua base, uma simpatia pelos objetivos políticos que essas
atividades favoreciam.
Pode-se perguntar como aconteceu de fundações como a Carnegie e a Rockefeller controladas por administradores cuja composição era esmagadoramente conservadora –
terem se prestado ao movimento radical na educação. Os apologistas das fundações
explicam isso de maneira diferente. Eles dizem que essas fundações fizeram concessões
a organizações respeitáveis e para propósitos respeitáveis; tendo agido assim, viram-se
obrigadas a não se intrometerem; portanto, não podem ser responsabilizadas pelo que
foi produzido.
Essa justificativa dos administradores da fundação não pode ser aceita por pessoas
sensatas. Como já observei, existe a obrigação de se certificar da objetividade que vai
acompanhar a operação de uma concessão proposta. O que é igualmente importante –
há uma obrigação de examinar o produto e, se for encontrada falta de objetividade,
providenciar os meios de proteger o público contra seus efeitos.
Os administradores da Corporação Carnegie estavam atuando num campo em que
tinham somente competência limitada quando autorizaram a pesada doação que
produziu o relatório da Comissão de Estudos Sociais. Concedendo, por uma questão de
argumento, que eles tinham o direito, todavia, de assumir que riscos para a sociedade
estavam envolvidos, sua omissão em repudiar o resultado foi uma negligência para com
o dever. Ao se informarem de que esse produto era “um programa educacional para uma
América socialista”, eles tinham que ter compensado qualquer negligência ou
incompetência ligada à criação do projeto providenciando um outro projeto - com um
financiamento ao menos igual –, a ser feito por um grupo de educadores eminentes que
acreditassem que nosso sistema governamental e econômico era digno de preservação e
que as escolas não deviam ser usadas como máquinas de propaganda política.
OS EDUCADORES RADICAIS
O relatório da Comissão Reece se referiu a números da elite educacional que apoiaram e
seguiram o plano estabelecido pela Comissão de Estudos Sociais – financiada pela
Carnegie. Todos eles estavam, de várias maneiras, ligados ao complexo educacional
apoiado pelos milhões de Rockefeller, Carnegie e outras fundações.
Entre os favoritos desse movimento radical em educação apoiado por fundação estava o
Professor George S. Counts, um líder no projeto de usar as escolas para reformar nossa
ordem política e social.
Que muitos homens como estes (políticos travestidos de educadores) tenham atingido
tal proeminência é algo que deve ser atribuído ao apoio das fundações.
51
Outro desses “educadores” nos dá uma ideia de quão perto eles chegaram do
totalitarismo Num artigo na revista A Educação Progressiva, o Professor Norman
Woelfel escreveu:
Pode ser necessário paradoxalmente para nós controlar nossa imprensa como a
imprensa russa é controlada e como a imprensa nazista é controlada [ibid., 0.
153].
O Professor Woefel, como tantos da sua espécie, é contra a tradição e códigos de
moralidade. Ele escreveu:
A geração mais jovem está na sua e a última coisa que interessaria à juventude
moderna é a salvação da tradição cristã. Os controles ambientais que os técnicos
alcançaram e as operações por meio das quais os operários ganham sua
subsistência não precisam da ajuda ou sanção de Deus nem de qualquer bênção
da Igreja. Nas mentes dos homens que pensam experimentalmente, a América é
concebida como tendo um destino que explode as demasiadamente óbvias
limitações das sanções da religião cristã e da economia capitalista de lucros
[ibid., p. 144].
Os educadores de que falamos eram líderes em seus campos, proeminentes no conselho
daquela organização de professores mais poderosa, a Associação Nacional de Educação,
que se proclamava como
“a única organização que representa ou tem a possibilidade de representar p
grande corpo de professores nos Estados Unidos [ibid., p. 146]”.
A ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO PROGRESSIVA
Citações já oferecidas de publicações da Associação de Educação Progressiva indicarão
seu caráter. Tivesse ela se dedicado inteiramente a melhorar métodos educacionais e
poderia ter servido a um digno propósito na educação. Seus líderes, contudo, eram
devotados não apenas a novos métodos de ensino (muitos desses métodos, considerados
inteiramente impraticáveis, foram, desde então, abandonados), mas também a seguir a
tese da Comissão de Estudos Sociais de que os educadores precisam usar as escolas
para doutrinar a juventude para uma aceitação do coletivismo. Seu nervo de guerra (o
dinheiro) foi suprido pelas fundações. Até 1943, diz o relatório da Comissão Reece, as
fundações tinham contribuído com $4.257.800 para essa Associação. A que remonta o
valor agregado, isso eu não sei.
OS LIVROS DIDÁTICOS COLETIVISTAS
Havia abundância de professores prontos para seguir a liderança da Comissão em
Estudos Sociais da Associação Histórica Americana, e seus esforços se estenderam a
todos os aspectos da educação. Novos livros didáticos foram requisitados para substituir
as obras-padrão e objetivas usadas nas escolas. Esses novos livros podiam ser
empregados para doutrinar os estudantes, para lhes oferecer a visão patológica de seu
país sobre a qual o sentimento favorável ao coletivismo seria construído. O autor de um
livro didático conservador ou clássico tem dificuldade para conseguir os fundos que lhe
permitem produzir seu trabalho. Em comparação, um autor de livro didático apoiado por
fundação, como regra, pode aplicar uma parte substancial do seu tempo - ou todo ele -
52
na sua produção. Mais que isso, o próprio fato do apoio da fundação (ou o apoio de uma
organização distribuidora intermediária) ao seu projeto e a consequente inferência da
aprovação criarão um clima de opinião favorável à aceitação de seu trabalho pelas
escolas. Antes das recentes investigações do Congresso, pelo menos, os autores radicais
consideravam uma questão simples conseguir a liberalidade das fundações. Sob a
influência das “panelinhas” no mundo do ensino, as escolas nos Estados Unidos foram
inundadas com livros que desacreditaram o sistema da livre-empresa e as tradições
americanas.
Os famigerados livros didáticos de Rugg eram dessa classe. Foram preparados pelo
Professor Harold Rugg, que começou, na Escola Experimental Lincoln, financiada pelas
fundações Rockefeller, a emitir panfletos que se tornaram estas séries de livros
didáticos. Cinco milhões de cópias dos livros foram despejados nas escolas americanas
até 1940 – quantos desde então, não sei. Foram banidos finalmente das escolas no
Estado da Califórnia depois que uma lista de homens competentes - indicados pelo
Conselho de Educação de São Francisco – unanimemente os considerou repreensíveis.
Uma das razões apresentadas por essa lista era que esses livros promoviam a tese de
que, entre as funções das escolas a principal era planejar o futuro da sociedade. Mais
que isso, os livros continham uma ênfase constante a nossos defeitos nacionais.
Certamente consideraríamos um grande erro pintar nossa nação como perfeita, mas é
nossa convicção que esses livros oferecem decididamente uma impressão distorcida
através de uma sobrecarga de fraquezas e injustiças. Eles tendem, portanto, a
enfraquecer o amor do estudante pelo seu país, o respeito pelo seu passado e a confiança
no seu futuro.
O Sr. McKinnon, um dos membros da lista, acrescentou que esses livros negavam a lei
moral; que o Professor Rugg estava tentando concluir “uma reconstrução social através
da educação”. “Um viés antireligioso”, disse ele, “atravessa os livros” [Relatório, pp.
149-150].
Vamos dar uma olhada mais atenta no Professor Rugg. Em seu livro Grande
Tecnologia [John Day, 1933] Rugg, que tinha visitado a China, no ano anterior, numa
missão para preparar um projeto de “reconstrução social e educação” para aquele país,
disse:
Maneiras independentes de viver podem ser realizadas por mais tempo sobre
uma base competitiva irresponsável? Não é necessário que um controle público
central seja imposto sobre os beligerantes capitães da indústria que se
promovem? Esse controle pode ser estabelecido com o consentimento de uma
grande minoria de pessoas com rapidez suficiente para prevenir a imposição da
ditadura – que parece iminente - por parte ou dos líderes empresariais, ou de um
bloco de agricultores proletários ultrajados?
Ele fez essas perguntas não se referindo à China, mas aos Estados Unidos!
Milhões de livros didáticos escritos por este homem foram usados, de uma só vez, em
nosso país. Seguindo as Recomendações da Comissão de Estudos Sociais financiada
pela Carnegie, ele sugeriu que tal mudança exigia uma doutrinação de nossa juventude
através das escolas. Ele recomendou que a ciência social fosse o “núcleo do currículo
escolar” para ocasionar um clima de opinião favorável à sua filosofia.
53
Através dos esforços deste e de outros seguidores das Recomendações e através da rede
de patrocínio da Faculdade de Professores da Universidade de Colúmbia, a filosofia
educacional que o Professor Rugg abraçou logo permeou o sistema escolar americano.
Essa filosofia envolve:
“implementar uma expectativa de mudança; retratar a América de hoje como um
fracasso; depreciar a Constituição americana e os motivos dos fundadores da
República; e apresentar uma ‘Nova Ordem Social’.”
O Sr. Aaron Sargent também depôs detalhadamente em relação à série de livros
didáticos Construindo a América, que a Comissão Reece caracterizou como uma nova
“tentativa dos educadores radicais financiados pelas fundações de subornar as escolas”
[Relatório da Comissão Reece, 1. 154]. Foi o Conselho Geral de Educação, uma
fundação de Rockefeller, que forneceu mais de $50.000 para a produção desses livros,
assumidos e intensivamente promovidos pela Associação Nacional de Edcuação.
O Estado da Califórnia baniu esses livros também de suas escolas depois que uma
comissão legislativa, a Comissão Dilworth, investigou e concluiu, em seu relatório, que
eles eram tentativas sutis para apregoar o Marxismo e destruir nossas tradições.
O Sr. Sargent assinalou que tinha havido um “apagão” no ensino de história na
Califórnia por cerca de doze anos; durante esse tempo, não foram fornecidos livros
didáticos de história pelo Departamento de Educação, que estava operando sob o
esquema radical planejado de “estudos sociais”. Depois de uma investigação, livros de
história foram novamente fornecidos, como exigia a lei. Nesse meio-tempo, os livros
Construindo a América ocuparam seu espaço largamente, oferecendo às crianças fatos
distorcidos e desinformações conscientemente dirigidas em relação à nossa história e
nossa sociedade.
O relatório da Comissão Dilworth – do qual resultou a recusa, por parte da Legislatura
da Califórnia, de qualquer apropriação para a aquisição dos livros didáticos
Construindo a América – concluiu que esses livros “não apresentam um cenário
histórico verdadeiro da história americana e seu progresso, e que os desenhos e fotos
que aprecem nos ditos livros depreciam os estadistas americanos, que têm sido
defendidos como heróis da tradição americana e idealizados pelo povo americano; mas,
por outro lado, a série ‘Construindo a América’ torna fascinantes os estadistas russos e
[é] repleta de fotos que atribuem grande crédito aos líderes do pensamento russo.” O
relatório continua dizendo que “os livros contêm propositadamente referências
distorcidas que favorecem o Comunismo e a vida na Rússia Soviética, de preferência à
vida conduzida pelos americanos.”
A este respeito, a Comissão sentiu que as fotos representando condições de inanição
entre as famílias americanas dificilmente apresentavam um quadro verdadeiro a vida em
família na América. Quando as crianças do 7º e 8º grau, disse a Comissão, comparam
tais fotos com as ilustrações da vida em família russa, elas concluirão que a vida em
família na Rússia é igual ou até preferível à dos Estados Unidos.
Uma crítica específica foi feita aos livros de referência elencados nos panfletos
Construindo a América como guias para informação adicional. Esse livros
recomendados foram considerados como sendo altamente tendenciosos e com
54
probabilidade de doutrinar os alunos de uma maneira contrária às melhores tradições da
América.
O panfleto sobre a Rússia contém numerosas fotos de propaganda proveniente de fontes
soviéticas de informação.
A revolução e o regime bolchevique são apresentados como uma bênção para o povo
russo. Na descrição da longa estrada que conduziu ao comunismo, não há uma única
palavra ou fato de crítica em relação ao terror vermelho assassino de 1917 e 1918, ou
sobre a traição do comunismo ao destruir as esperanças dos revolucionários democratas
da Rússia.
Há um capítulo sobre tornar o Estado seguro para o socialismo, que inclui isto:
“Provavelmente nenhuma outra nação jamais fez tais avanços ao oferecer as
oportunidades educacionais para o povo.” A imagem retratada do progresso social não
contém nenhuma referência à obliteração da liberdade, aos campos de concentração, aos
expurgos e às atividades subversivas mundiais dirigidas por Moscou.
É difícil acreditar que a Fundação Rockefeller e a Associação Nacional de Educação
podiam ter apoiado esses livros didáticos. Mas o fato é que Rockefeller os financiou e a
ANE os promoveu muito amplamente. Eles ainda estavam em uso em algumas partes
do país por ocasião da investigação da Comissão Reece..
Esses textos, financiados pela Fundação Rockefeller e distribuídos pela Associação
Nacional de Educação, devem ter influenciado o pensamento de centenas de milhares de
jovens americanos indefesos. Eles bem podem ter contribuído para a filosofia recente de
gasto público irresponsável e crescimento excessivo do governo.
Esses livros que mencionei são apenas um pequeno exemplo do que tem acontecido
com o material de ensino em nossas escolas e faculdades.
A vasta maioria de livros didáticos - agora usados em faculdades e escolas -, sobre
temas em que uma tendência política poderia ser oferecida, está fortemente inclinada
para a esquerda. Isso foi demonstrado pelo Professor A. H. Hobbs, da Universidade da
Pensilvânia, cujo trabalho em divulgar alguns dos vícios e pontos fracos da sociologia
moderna lhe obteve o martírio em sua carreira. Em sua análise de um grande número de
livros didáticos de sociologia em seu livro “A Reivindicações da Sociologia: uma
Crítica dos Livros Didáticos”, ele encontrou (p. 157), em setenta de oitenta e três
textos, seções devotadas à mudança social. Vinte e sete autores de livros didáticos
exigem o uso das ciências sociais num programa de planejamento social. Da maneira
como são usados nesses textos, os termos “planejamento” ou “engenharia social”
envolvem controle de processos sociais pela sujeição de longo alcance da sociedade à
orientação de cientistas sociais.
Não é de admirar que alguns de nossos cidadãos, diante do caráter político de muito
daquilo que simula ser ensino sociológico, tenham dificuldade em distinguir entre os
termos “sociologia”, “as ciências sociais” e “socialismo”.
55
O PROJETO DE EDUCAÇÃO DOS CIDADÃOS
O Projeto de Educação dos Cidadãos foi criado na Faculdade de Professores da
Universidade de Colúmbia, sob um financiamento que excedia de longe um milhão de
dólares, fornecido pela Corporação Carnegie. “Que o Projeto foi conduzido com
propensão considerável para a esquerda é inquestionável” [Relatório da Comissão
Reece. P. 120]. Aí se levanta, então, a questão da responsabilidade. O relatório da
Comissão declarou que era incapaz, sem inquérito complementar, de determinar se se
tratava da falta ou intenção dos administradores do Projeto ou da fundação Carnegie.
Ele continua seu comentário, no entanto, como se segue:
Nós realmente vemos, contudo, a responsabilidade instalada na Corporação
Carnegie. Ela podia não ter a obrigação de supervisionar o projeto ou dirigi-lo
em trânsito – isso podia até ser imprudente. Mas, na medida em que o projeto
representava um investimento substancial de dinheiro público e seu impacto
sobre a sociedade podia ser forte, parece claro que teria sido obrigação de
Carnegie examinar o que tinha sido feito e repudiá-lo se fosse contra o interesse
público. Isto, até onde sabemos, Carnegie não fez.
56
CAPÍTULO 6
A REVOLUÇÃO QUASE SE CONSUMA
“NOS ESTADOS UNIDOS tivemos duas revoluções violentas: aquela que nos libertou
da Inglaterra e aquela que procurou dividir-nos. Eu sugiro que estamos, agora, na
Terceira Revolução Americana, de jeito nenhum menos séria pelo fato de ser incruenta.
Esta nova revolução é um movimento de reforma que deu errado. Tornou-se uma
tentativa de instituir o estado paternalista, onde a liberdade individual deve estar
subordinada e esquecida no mau uso da teoria do maior bem para o maior número.”
Escrevi essas palavras num artigo publicado no Jornal da Ordem Americana dos
Advogados, de maio de 1953. Minha declaração pode não ter sido inteiramente exata.
Em vez de dizer que estamos na Terceira Revolução, teria sido melhor ter dito que ela
está quase concluída; que tudo o que podemos esperar é por uma contrarrevolução.
O Professor Seymour E. Harris, de Harvard, expressou isso da seguinte forma:
Nos 20 anos entre 1933 e 1953, os políticos, professores de faculdade e
advogados, com pequena ajuda do comércio, criaram uma revolução nas
políticas econômicas dos Estados Unidos [Audiências da Comissão Reece, p.
628].
O Professor Harris devia ter acrescentado que a revolução foi materialmente ajudada
pelas fundações.
PENETRAÇÃO COMUNISTA NAS FUNDAÇÕES
Uma boa parte do ímpeto da “revolução” veio dos marxistas. Até que ponto alguma
parte dela veio dos verdadeiros comunistas é algo que provavelmente nunca seremos
capazes de juntar de forma adequada – mas há igualmente pouca dúvida de que muito
dessa “revolução” foi de inspiração comunista. A presença no governo de tantos
comunistas declarados durante o New Deal [Novo Acordo, traduzido] e o Fair Deal
[Acordo Justo] torna essa conclusão inevitável. Além disso, há muitas evidências de que
os comunistas fizeram incursões substanciais e diretas no mundo das fundações, usando
os recursos delas para promover sua ideologia.
A Comissão Reece tem sido severamente criticada por afirmar que influências
subversivas vêm desempenhando um papel na história das fundações nos Estados
Unidos. No entanto, foi sua antecessora, a Comissão Cox, que tornou isso totalmente
evidente, na medida em que estava envolvida a real penetração comunista nas
fundações. Essa comissão produziu provas que apoiaram sua conclusão de que tinha
havido uma específica conspiração dirigida por Moscou para penetrar nas fundações e
usar seus fundos para a propaganda comunista e para sua influência na sociedade. Havia
também evidência de que essa conspiração tinha sido bem sucedida numa certa medida.
Nunca saberemos o alcance total dessa penetração, mas depoimentos perante a
Comissão Cox revelaram que a Fundação Marshall Field, o Fundo Garland, a Fundação
John Simon Guggenheim, a Fundação Robert Marshall, o Fundo Rosenwald e o Fundo
57
Phelps Stokes foram usados com sucesso pelos comunistas. As fundações Marshall e
Garland tinham, com efeito, perdido suas isenções de impostos. A investigação Cox
também divulgou a descoberta de cem concessões para indivíduos e organizações com
registros esquerdistas extremos, que tinham sido feitas por algumas das mais
importantes fundações, incluindo a Fundação Rockefeller, a Corporação Carnegie, a
Dotação Carnegie para a Paz Internacional, a Fundação John Simon Guggenheim, a
Fundação Russell Sage, a Fundação William C. Whitney e a Fundação Marshall Field.
Cem concessões não é muita coisa, comparada com o total de concessões das
fundações. Mas o Professor Rowe deixou claro - no seguinte depoimento perante a
Comissão Reece -, em primeiro lugar, que o problema é qualitativo e não quantitativo;
e, em segundo lugar, que o efeito total da penetração comunista não pode ser medido
pela mera consideração do número de doações diretas a indivíduos comunistas
[Relatório da Comissão Reece, pp. 199-200]:
Em grande parte da atividade que tem a ver com a identificação da atividade
comunista nos Estados Unidos, pareceu-me que estamos tomando a pista errada
quando nos limitamos a esforços para identificar comunistas públicos ou,
digamos, comunistas organizados, pessoas que levam consigo um cartão ou que
podem ser positivamente identificadas como membros de uma organização
sujeita a disciplina organizada. Para cada um daqueles que deixamos de
identificar – e me parece que falhamos mesmo em identificar a maioria deles -,
há milhares de pessoas que possivelmente não podem ser identificadas como tais
- porque nunca tiveram qualquer tipo de afiliação organizada -, mas entre elas se
encontram muitos que fazem avançar os interesses do comunismo mundial,
embora não estejam sujeitos a disciplina e não pertençam a alguma organização
[Relatório da Comissão Reece, pp. 199-200].
As pessoas que podem ser rastreadas e rotuladas pelo FBI são uma minoria
muito, muito pequena. Ocupam uma posição muito poderosa e potencialmente
importante, mas as pessoas que fazem o trabalho importante não são
identificáveis e, se eu estivesse planejando infiltrar pessoas nos Estados Unidos,
gostaria que elas não fossem identificáveis [Audiências da Comissão Reece, p.
536].
PENETRAÇÃO SOCIALISTA
Se algum americano deve saber como os comunistas operam, esse americano é J. Edgar
Hoover. Num discurso em outubro de 1955, o Sr. Hoover disse que os comunistas
fazem seu trabalho mais efetivo através de “liberais fictícios”. Eles os definiu como
“indivíduos que, através de escritos e relatórios propagandísticos insidiosamente
tendenciosos, contrapõem medidas de segurança interna urgentemente
necessárias; apresentam a ameaça do comunismo como um mito de histeria;
pressionam para que toleremos os atos subversivos dos comunistas porque eles
são apenas “não-conformistas”; alegam que o Partido Comunista é um
movimento político e que é impróprio considerá-lo uma conspiração criminosa
para derrubar o governo pela força e pela violência.”
58
O relatório da Comissão Reece dá um exemplo desse processo nas palavras do Sr.
Pendleton Herring, Presidente do extremamente poderoso Conselho de Pesquisa em
Ciência Social.
O relatório da Comissão Reece comentou o discurso tipicamente “liberal” do Sr.
Herring como segue:
Ele usa o termo “feiticeiros” para caracterizar a raça de expositores do
comunismo. Ele fala de “incursões planejadas e alarmes” – sugerindo que a
ameaça comunista tem sido grosseiramente exagerada por razões políticas.
“Precisamos ir dos sintomas para as causa. Uma causa profunda, eu acho, é a
falha em entender as forças que operam no mundo à nossa volta. Por que tantos
americanos se sentem ameaçados? É a complexidade obstinada dos problemas
mundiais e as dificuldades que nascem de diferenças ideológicas e rivalidades
internacionais que os levam a buscar bodes expiatórios entre seus compatriotas.”
Essa é uma declaração espantosa vinda de um dos mais graduados daqueles que
desembolsam o dinheiro público que as fundações controlam. Um outro exemplo
do “manto de respeitabilidade” (ao qual o Sr. J. Edgar Hoover se referiu) pela
eminência no fundo das fundações encontra-se nas declarações públicas do Sr.
Paul Hoffman, antigo Presidente da Fundação Ford e, agora, Presidente de seu
produto, o Fundo para a República. Num artigo intitulado Para garantir o fim
de nossa histeria, na seção de revista do New York Times de 14 de novembro
de 1954, o Sr. Hoffamn referiu-se à Comissão de Atividades Antiamericanas, do
Senado da Califórnia, como uma “caça às bruxas altamente divulgada”
[Relatório da Comissão Reece, pp. 115-116].
Os Srs. Herring e Hoffman não são cidadãos comuns expressando um ponto de
vista político pessoal. Eles têm sido dois dos mais importantes personagens entre
as dramatis personae do complexo das fundações.
FUNDAÇÕES E “SUBVERSÃO”
A Comissão Reece concluiu que, devido à identidade essencial do socialismo
evolucionário e revolucionário, muito do radicalismo que tem sido apoiado e
financiado pelas fundações era “subversivo”.
Os porta-vozes das fundações têm enfaticamente negado qualquer apoio
à subversão. Nós perguntamos, porém, se em tais negações eles não
interpretaram mal o significado do termo “subversão”. Suas negações
foram justificadas na medida em que estão relacionadas ao apoio direto
do comunismo, mas esses porta-vozes estavam bem cientes da natureza
de algumas provas que foram produzidas perante esta Comissão, que
mostraram que as fundações têm apoiado frequentemente aqueles que
desejam solapar nossa sociedade. Suas negações de subversão em relação
a tais atividades não têm mérito. O que o termo “subversão” significa?
No uso e na prática contemporâneos, ele não se refere à revolução
definitiva, mas a uma promoção de tendências que levam, em suas
consequências inevitáveis, à destruição de princípios pela perversão ou
alienação. Por sua própria natureza, a subversão bem sucedida é difícil de
detectar. Ela pode ser facilmente confundida com crítica honesta e direta.
59
Em nossa sociedade livre, crítica direta e honesta não só é permitida, mas
imensamente desejável. Os indivíduos que se engajam abertamente em
tal crítica, que criticam instituições políticas a partir de uma perspectiva
política - e instituições econômicas a partir de uma perspectiva
econômica – deveriam dar asas à imaginação e ser encorajados. Os temas
envolvidos na permissão de crítica aberta e honesta, contudo, diferem
vitalmente dos temas levantados pela subversão promovida pelas
fundações. Algumas dessas diferenças vitais são as seguintes: é
fundamental, para o conceito integral de isenção de imposto para as
fundações, o princípio de que suas concessões devem ser principalmente
dirigidas ao fortalecimento da estrutura da sociedade que as criou. A
sociedade não concede isenção de imposto para o privilégio de solapar a
si mesma. Uma licença razoável é concedida para satisfazer
idiossincrasias pessoais, donde se segue o resultado de que há muito
desperdício social quando as doações não servem a um propósito
verdadeiramente útil à sociedade. Mas esse desperdício tolerado é uma
coisa bem diferente do impacto das doações feitas pelas fundações que
tendem a minar nossa sociedade. Além disso, os projetos subversivos têm
sido oferecidos com alegações ilegítimas de “ciência”. Com esse falso
rótulo, eles têm sido recompensados com um status privilegiado. Eles
têm sido oferecidos como “científicos” e, portanto, como projetos que
estão além da refutação. O impacto desses trabalhos subversivos tem se
intensificado de formas múltiplas pelo patrocínio das fundações [ibid.,
pp. 205-206].
ESQUERDISTAS FORNECIDOS AO GOVERNO PELAS FUNDAÇÕES
É uma declaração abrandada dizer que a maioria da Comissão Reece ficou chocada
diante das revelações do Professor Kenneth Colegrove, concernentes à extensão da
responsabilidade das organizações apoiadas por fundação quanto à penetração no
governo de comunistas e simpatizantes do comunismo como conselheiros.
Quando os conselheiros estavam para ser selecionados nas áreas da ciência social para
nossas autoridades em ocupação na Alemanha e no Japão, o Professor Colegrove
apresentou, como Secretário da Associação Americana de Ciência Política, por
solicitação do governo, uma lista de conselheiros políticos propostos. Ao mesmo tempo
em que ele mesmo foi indicado e tomou posse como um conselheiro junto ao General
MacArthur (não por sua própria sugestão), sua lista foi completamente ignorada. Ele
descobriu, para sua consternação, que os conselheiros tinham sido inteiramente
selecionados de listas fornecidas por duas outras organizações. Uma foi o notório
Instituto de Relações Pacíficas, tão generosamente apoiado pela Fundação Rockefeller,
pela Corporação Carnegie e pela Dotação Carnegie para a Paz Internacional. A outra foi
o Conselho Americano de Sociedades Eruditas, outra organização intermediária
fortemente apoiada pelas fundações.
As conexões comunistas do IRP já foram mencionadas. No caso do Conselho
Americano de Sociedades Eruditas, seu Secretário Executivo era o Dr. Mortimer
Graves, cuja lista de associações de fachada comunista impressionou até a Comissão
Cox.
60
O professor Colegrove verificou a lista dos indicados aceitos. E testemunhou o seguinte:
Nós conferimos esses nomes. Alguns deles são conhecidos por nós como
comunistas, muitos dos outros como pró-comunismo ou simpatizantes. Eram
extremamente esquerdistas. Voltei ao Pentágono para protestar contra um certo
número dessas pessoas e, para meu assombro, descobri que todas elas tinham
sido convidadas, que todas tinham sido aceitas e que algumas já estavam a
caminho do Japão [ibid., p. 201].
61
CAPÍTULO 7
O IMPACTO DA FUNDAÇÃO NA POLÍTICA EXTERNA
A ATIVIDADE DA FUNDAÇÃO não teve, em parte alguma, impacto maior do que no
campo das relações exteriores. Ela conquistou a opinião pública e estabeleceu
amplamente as metas políticas internacionais de nosso país. Um pequeno número de
grandes fundações com tendências internacionalistas criou ou fomentou um grupo
variado de organizações, que agora dominam a pesquisa, a educação e o fornecimento
de especialistas no campo. Entre esses instrumentos estão o Conselho de Relações
Exteriores, a Associação de Política Externa, o Instituto de Relações Pacíficas, a
Associação das Nações Unidas, e as conferências e seminários realizados pelas
universidades americanas sobre relações internacionais e temas afins.
Seria difícil encontrar uma única organização apoiada por fundação com certa solidez
que não tenha favorecido a ONU ou sistemas globais similares. Embora as somas de
dinheiro investidas pelas fundações com mentalidade internacionalista possam parecer
relativamente pequenas em comparação com concessões maiores gastas em outra parte,
elas permitiram que suas organizações-satélite ou subsidiadas desempenhassem um
papel manifesto e dominante. Isso era comparativamente fácil de realizar porque não
havia oposição organizada ou apoiada por fundação.
A influência do complexo das fundações no internacionalismo foi longe dentro do
governo, dentro dos círculos de decisão política do Congresso e dentro do
Departamento de Estado. Isso se efetuou através da pressão da opinião pública,
mobilizada pelos instrumentos das fundações; pela promoção dos favorecidos pela
fundação como professores e especialistas em relações exteriores; por uma dominação
de periódicos eruditos em assuntos internacionais; através da nomeação frequente de
funcionários do Departamento de Estado para serviços da fundação; e pela indicação
frequente de funcionários da fundação para serviços do Departamento de Estado.
Pelo menos uma fundação estrangeira teve uma forte influência em nossa política
externa. O Fundo Rhodes para Bolsas da Grã-Bretanha, criado para melhorar as relações
públicas internacionais da Inglaterra, mas não registrado aqui como um agente
estrangeiro, ganhou grande influência nos Estados Unidos para as idéias britânicas. Isso
foi realizado pela seleção anual de um grupo jovem de homens promissores para estudar
na Inglaterra. Os ex-alunos anglófilos desse sistema geralmente são encontrados em
posições eminentes na legislação, administração, educação e nas fileiras dos
funcionários das fundações americanas.
De um tota lde 1.372 bolsistas da Rhodes Americana até 1953, 431 assumiram ou
assumem posições no ensino e na administração educacional (entre eles, 31 presidentes
de faculdade); 113 alcançaram posições no governo; 70 comandaram posições na
imprensa e no rádio; e 14 foram executivos em outras fundações. Dean Rusk, presidente
da Fundação Rockefeller, e vários dos membros dessa fundação são bolsistas da
Rhodes. O Senador J. W. Fulbright, os congressistas C. R. Clason, R. Hale e C. B.
Albert, além de 14 legisladores do estado americano são também ex-alunos da Rhodes.
O Dr. Aydelotte narra que, em acréscimo, 12 bolsistas da Rhodes foram vinculados a
várias agências intergovernamentais (OIT, ONU etc.)
62
Não deve ser mera coincidência nesta questão que Cecil Rhodes, que criou as Bolsas, e
Andrew Carnegie fossem amigos. Este último deve ter aprendido com o primeiro a
técnica de alcançar grandes efeitos com meios relativamente modestos.
Assim como tem havido interligações e uma “concentração de poder” na educação e na
pesquisa em ciência social nas áreas domésticas, tem havido uma combinação
semelhante no campo da política externa.Os principais componentes da concentração no
internacionalismo têm sido a Corporação Carnegie, a Dotação Carnegie par a Paz
Internacional, a Fundação Rockefeller e, recentemente, a Fundação Ford. Eu já
mencionei seus mais importantes satélites. Depois, há as “conferências”.
Uma das mais importantes atividades das fundações e dos grupos associados operando
no campo internacional consiste em promover conferência atrás de conferência, e fórum
atrás de fórum para a discussão dos assuntos internacionais. Estes serviriam a um
propósito útil não fosse o fato de que são, quase invariavelmente, feitos dentro de
plataformas para os pontos de vista especiais que esses grupos favorecem.
Através de seu controle virtualmente monopolístico do mercado de ideias nas áreas das
relações internacionais, essas organizações exercem uma influência muito além do peso
dos seguidores em geral da política “liberal”. Seus oponentes desfrutam de pouco ou
nenhum apoio financeiro. Assim, a intensidade da campanha “internacionalista” produz
retornos de propaganda até entre empresários e grupos que, geralmente, sem a carga de
tal propaganda, estariam inclinados a um ponto de vista mais conservador.
A PARTE DA DOTAÇÃO CARNEGIE
Quando Andrew Carnegie estabeleceu a Dotação Carnegie para a Paz Internacional,
ele deu aos gerentes desse fundo uma tarefa difícil. Como eles poderiam contribuir para
promover a paz? Parece que eles não tinham uma ideia muito clara sobre isso até que o
Dr. Nicholas Murray Butler, em cujas mãos o Sr. Carnegie colocou a direção inicial do
fundo, se sentiu estimulado pelo perigo dos aliados na 2ª Guerra Mundial e decidiu que
o melhor jeito de estabelecer a paz era ajudar a colocar os Estados Unidos na guerra.
Para esse fim específico ele começou a usar os fundos da Dotação.
Quando a guerra acabou, essa questão não existia mais. Um apoio para a Liga das
Nações deu à Dotação uma nova saída para suas energias e fundos, mas era necessário
um campo de ação maior que esse, dada a máquina de propaganda em que tinha se
tornado. Um guia frutífero para operação foi encontrado na senha pessoal do Dr. Butler
da “mente internacional”, uma expressão à qual ele se devotava em seus discursos e
escritos.
O conceito de “mente internacional” tinha um valor considerável. De modo geral, os
americanos, no tempo do Dr. Butler, não eram tão bem informados em assuntos
internacionais como seria desejável; todo esforço para educá-los era bastante
recomendável. Mas o Dr. Butler foi mais além do mero desejo de nos dar uma educação
internacional melhor.
De qualquer forma, criou-se uma máquina de propaganda poderosa. Usada
objetivamente, poderia ter sido um enorme serviço para o país. Mas, como é provável
63
que seja o caso, ela tendeu para a defesa própria. Quando você controla um veículo de
propaganda, é tentador usá-lo para promover seu próprio programa.
A Dotação Carnegie foi totalmente franca em revelar sua função de propaganda. Ela
usava frequentemente termos como “a educação da opinião pública”. Isso não é
“educação pública”, mas sim moldagem da opinião pública. O relatório da Comissão
indicou que uma coisa parecia “totalmente clara: nenhum grupo privado deveria ter o
poder ou o direito de decidir o que deveria ser lido e ensinado em nossas escolas e
faculdades”, embora fosse isso que a Dotação procurasse fazer ao “educar a opinião
pública”.
O relatório de 1946 da Fundação Rockefeller também não mediu palavra para defender
o globalismo. Nele se lia:
O desafio do futuro é fazer deste mundo um único mundo – um mundo
verdadeiramente livre para se engajar em esforços intelectuais comuns e
construtivos, que servirão ao bem-estar da humanidade por toda parte.
O ideal de um mundo unido como uma base para a paz permanente é um ideal
esplêndido. Mas os executivos das fundações de mentalidade internacional cometeram
dois erros sérios ao promovê-lo. Um é que eles tiveram pressa demais para traduzir em
ação imediata um ideal que exige mais um século de planejamento e ajuste
extremamente cuidadosos para realizar. O outro é que o “mundo comum” que eles
vislumbraram e para o qual eles procuram nos apressar é, inquestionavelmente, um
coletivismo internacional ampliado.
O CONSELHO DAS RELAÇÕES EXTERIORES
O Conselho das Relações Exteriores, outro membro do complexo internacional,
financiado por ambas as fundações Rockefeller e Carnegie, faz propaganda do conceito
globalista de forma esmagadora.
O “APAGÃO HISTÓRICO”
Um dos objetivos da propaganda do Conselho das Relações Exteriores era a promoção
do “apagão histórico”. O relatório de 1946 da Fundação Rockefeller, uma das
patrocinadoras do Conselho, contém o seguinte:
A Comissão de Estudos do Conselho de Relações Exteriores está preocupada no
sentido de que a campanha jornalística desmascaradora que se seguiu à 1ª Guerra
Mundial venha a ser repetida e acredita que o público americano merece uma
declaração clara e competente de nossos anseios e atividades fundamentais
durante a segunda Grande Guerra.
A declaração merece uma pausa. Ela tem uma intenção política óbvia. Não pode ser
considerada objetiva. Vários historiadores eminentes escreveram livros críticos de
grande parte da posição do governo na 1ª Guerra Mundial. É extremamente reprovável
que uma organização isenta de imposto difame tais historiadores críticos com o termo
“jornalismo desmascarador”.
64
O plano pedia uma história da 2ª Guerra Mundial em três volumes, na qual não deveria
haver “desmascaramento”. Observe-se que este evidentemente não podia ser um estudo
objetivo. A propaganda oficial da 2ª Guerra Mundial era para ser perpetuada. De acordo
com o que o Professor Charles Austin Beard colocou:
“Em resumo, eles esperam, entre outras coisas, que as políticas e medidas de
Franklin D. Roosevelt escaparão, nos próximo anos, da análise, avaliação e
exposição críticas que sucederam as políticas e medidas de Woodrow Wilson e o
Pacto dos Aliados depois da 1ª Grande Guerra” [ibid. p. 178].
O Professor Harry Elmer Barnes, na obra O Apagão Histórico e a Guerra Perpétua
para a Paz Perpétua, descreveu o equivalente a uma conspiração para impedir que o
povo americano conhecesse a verdade. Essa conspiração foi apoiada pela fundação. A
Fundação Rockefeller alocou $139.000 para a produção da história em três volumes que
devia excluir o “desmascaramento”.
INTERLIGAÇÕES COM O GOVERNO
Tem havido interligações entre as fundações de mentalidade internacionalista e o
governo federal já mesmo desde a 1ª Guerra Mundial. A Dotação foi de tal maneira
longe nesse sentido a ponto de declarar, em seu Livro do Ano de 1934, que estava se
tornando um instrumento não oficial da política internacional, assumindo aqui e ali os
objetivos e os encadeamentos de problemas e questões internacionais com que os
governos (sic) tinham dificuldade de lidar, e alcançando, através da iniciativa privada,
conclusões que não são de natureza formal, mas que não oficialmente encontram seu
caminho dentro das políticas dos governos (sic) [ibid., p. 177].
Se retornarmos a um relatório antigo da Dotação (1925), poderemos reconhecer que
essa declaração orgulhosa no relatório de 1934 representa um panegírico de vitória. O
relatório de 19925 dizia:
Por baixo e por trás dessas incumbências permanece a tarefa de instruir e
iluminar a opinião pública de maneira a não só guiar, mas compelir a ação dos
governos e funcionários públicos na direção do progresso construtivo [ibid., p.
178].
Que uma fundação pudesse propor abertamente um plano para influenciar as opinião
pública até o ponto em que ela, em troca, coagisse o governo é realmente muito
espantoso.
PROPAGANDA PARA A ONU
A obsessão “internacionalista” da Dotação Carnegie e suas organizações associadas
atingiu avidamente a ONU. Nenhuma pessoa inteligente podia duvidar da conveniência
de uma organização internacional projetada com eficiência e sensatez. Mas o grupo de
fundações e organizações, das quais a Dotação Carnegie é um membro de liderança,
acredita que qualquer organização deveria ser apoiada se fosse internacional. Nada mais
pode explicar a propaganda imoderada que foi lançada para doutrinar nosso povo para
um apoio cego às Nações Unidas. Não houve qualquer disposição para ser objetivo,
65
para criticar o que é falacioso e o que é perigoso. Não houve debate sobre méritos.
Houve apenas propaganda para apoio.
Esse grupo de fundações, conduzido pela Dotação Carnegie, despejou milhões de
dólares em propaganda para nos convencer de que a ONU, como está agora constituída,
é nossa luz e nosso salvador.
A operação detalhada da ONU permanece um mistério para a maioria dos americanos.
Isso é especialmente assim porque a proporção de representantes comunistas e
socialistas nessas agências é normalmente alta. Sob a pressão de governos estrangeiros,
exercida frequentemente por uma combinação de coletivistas, as Nações Unidas muitas
vezes produziu resoluções e tomou medidas de forma hostil à América.
Quem sabe que planejamento econômico de alcance mundial está sendo tramado pelas
agências da ONU, boa parte do qual será, mais tarde, promovida domesticamente por
essas fundações, seguindo sua tese de que a ONU é a única estrada para a paz? Nem
podemos esquecer as tentativas para nos impor mudanças em nossas próprias
declarações de direitos humanos. A que foi proposta pela ONU ignorou o direito à
propriedade privada. De fato, no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, uma
resolução - adotada contra a oposição dos Estados Unidos – estabeleceu o princípio de
que nenhum governo pode interferir no direito de outras nações de expropriar ou reduzir
a propriedade de seus cidadãos.
O CONSELHO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA SOCIAL
Significativa também foi a criação de um Conselho Internacional de Pesquisa em
Ciência Social. Esse nasceu pela ação da UNESCO e por sugestão de Alva Myrdal. A
Sra. Myrdal, uma socialista militante que teve seu visto negado uma vez por nosso
Departamento de Estado, é a esposa de Gunnar Myrdal, o autor de Um Dilema
Americano.
Essa nova organização merece ser observada. Aparentemente, ela devia atuar
internacionalmente de acordo com o modelo diretivo e de câmara de compensação
segundo o qual o Conselho de Pesquisa em Ciência Social (CPCS) funciona
domesticamente. Parece que a carta constitutiva proposta na reunião da organização
estipulava não uma representação democrática de cientistas sociais das nações
participantes mas, em vez disso, um método de dominação autoperpetuante, semelhante
àquela em uso pelo CPCS doméstico, que descrevi antes.
INTROMISSÃO INTERNACIONAL DA FUNDAÇÃO
Se ao menos as juntas de administradores das grandes fundações – esmagadoramente
compostas de homens distintos, responsáveis e bem-intencionados – pudessem perceber
que os grandes fundos que elas administram podem ser usados para um efeito tão
devastador no mundo das mentes humanas quanto o efeito das bombas nucleares no
mundo físico do homem!
Uma agência de propaganda como a Dotação Carnegie pode muito facilmente tornar-se
um veículo de subversão intencional. O que é igualmente perigoso é que ela pode cair
nas mãos administrativas de pessoas incompetentes, negligentes ou equivocadas, contra
66
as quais os administradores, responsáveis em última instância por sua ação, só podoem
se proteger através da mais atenta vigilância ou pelo abandono da ocupação basicamente
perigosa da propaganda.
Como colocou o Dr. Frederick P. Keppel, ele mesmo presidente da Corporação
Carnegie, uma organização irmã da Dotação [citado com aprovação em Andrews,
Fundaçãoes Filantrópicas, p. 203]:
O perigo surge sempre que qualquer grupo com poder nas mãos - seja ele uma
legislatura do estado, ou o conselho de uma universidade ou de uma fundação –
acredita ser sua função dirigir a opinião. Um tal grupo é um grupo perigoso,
independente da forma de sua composição e independente de sua ação ser
consciente ou inconsciente e, se consciente, se benigna ou sinistra em seu
propósito.
O Sr. Joseph E. Johnson, presidente da Dotação Carnegie, minimizou o papel da
fundação nos assuntos mundiais em sua declaração à Comissão Reece. Ele atribuiu as
mudanças nas atitudes americanas para com as relações exteriores aos problemas
criados pelas modernas convulsões sociais e políticas, pelas novas invenções e pelas
duas guerras mundiais. Esse argumento não é convincente. A Dotação, em qualquer
evento, não se limitou a estudos e discussões de temas públicos, mas se engajou na
propaganda política a favor de pontos de vista particulares, sendo que muito dessa
propaganda se direcionou para influenciar a legislação.
67
CAPÍTULO 8
A FUNDÇÃO FORD – GARGÂNTUA DA FILANTROPIA
ENTRE OS GIGANTES DAS FUNDAÇÕES, a Fundação Ford é, de longe, a maior.
Ela foi criada em 1936. Em 1949, os administradores finalmente chegaram a um
programa definitivo para “executar os propósitos mais amplos previstos para a
Fundação por seus fundadores e benfeitores” e promover uma reorganização dentro do
quadro de políticas supostamente estabelecidas por Henry Ford e seu filho, Edsel. Esse
programa foi o resultado de um vastíssimo trabalho por uma comissão de conselheiros
sob a liderança de H. Rowan Gaither, que se tornou, mais tarde, presidente da
Fundação. O resultado não diferia muito do padrão de operações das fundações mais
antigas, como a Carnegie, Rockefeller, Sage e outras criadas para propósitos sociais e
eruditos.
A única novidade real na operação da Ford era seu tamanho. O desafio e a
responsabilidade dessa riqueza estão além da comparação com qualquer precedente
histórico.
Em 1956, o Dr. Henry T. Heald, antigo presidente da Universidade de Nova York,
tornou-se presidente da Fundação Ford, sucedendo o Sr. Gaither, que foi promovido de
presidente para diretor do conselho. A nomeação do Dr. Heald foi animadora, não só
por causa de sua habilidade, seu caráter e experiência, mas também porque ela podia
indicar uma consciência crescente, por parte dos administradores, dos erros muito
graves que tinham sido cometidos pela Fundação durante os anos que seguiram a
adoção da plataforma de 1949.
O Dr. Heald afirmou, num discurso, que 4/5 do dinheiro gasto pela Fundação no final
de 1956 (cerca de 1 bilhão) foi devotado à educação. Sua ênfase na educação é, por si
mesma, estimulante. Contudo, ele usou o termo “educação” em sue sentido mais amplo.
Sugeriu que é “virtualmente impossível tornar real e duradouro o progresso da
humanidade sem educação e sua constante extensão no alcance e melhoria na
qualidade.” Essa declaração está além de questionamento. Mas ele explica mais adiante:
“Por definição, melhoria implica e envolve mudança. Mudança não é algo para temer ou
evitar. Mudança não é somente inevitável, mas desejável. Problemas são resolvidos,
males são corrigidos, progresso é feito por mudança.”
Ele ainda acrescenta: “Mas primeiro precisa haver uma admissão, um reconhecimento
de que existe um problema. Aí, os homens de boa vontade devem empreender a
mudança das coisas.” No entanto, essa qualificação parece omitir a possibilidade de
que, com relação a muitos “problemas”, a mudança não seja desejável. Para
exemplificar, uma democracia é certamente ineficiente. Portanto, existe um problema.
Isso não significa que abandonar a democracia seja desejável. Para exemplificar de
novo, um problema se cria pelo fato de que um governo centralizado podia realizar
muitas funções bem mais eficazmente do que um sistema federal. Isso significa que a
mudança é necessária ou desejável?
O Dr. Heald acrescenta: “Se nada precisa mudar, então estamos todos perdendo nosso
tempo e nossos recursos, pois não há nada realmente a ser feito, exceto alimentar e
68
vestir as pessoas.” Essa ênfase na mudança é clássica entre os executivos da
“concentração de poder”. Afinal de contas, há muita coisa que uma fundação pode fazer
– que não envolve promoção de “mudança” – além de alimentar e vestir as pessoas.
O que é mais óbvio do que considerar a mudança desejável quando ela é desejável? Mas
a ênfase tão frequentemente colocada pelos líderes das fundações na “mudança” quase
sempre resulta na defesa da mudança porque é mudança – como se houvesse uma
certeza de melhoria se ocorresse uma mudança.
É encorajador ouvi-lo dizer que uma fundação devia apoiar, às vezes, a exploração de
ideias impopulares. A Fundação Ford não demonstrou essa dedicação no passado. Bem
ao contrário, na maioria dos casos, ela apoiou a facção dominante dos cientistas sociais
materialistas, que já foram uma minoria, mas que há muito tempo se tornaram, com a
assistência da fundação, uma clara maioria.
Em muitas áreas essa “panelinha” dirigente das ciências sociais - tão bem apoiada pela
Fundação Ford e outras – defende a mudança de instituições, princípios e métodos, além
de mecanismos sociais, econômicos e políticos que um grande número de pessoas (em
alguns casos, uma vasta maioria de pessoas) deseja manter como estão. Onde está o
apoio para esses que desejam proteger algo que temos contra os movimentos bem
financiados para mudá-lo? Somente o homem que quer mudar alguma coisa deve
receber apoio de fundação?
Num discurso de 8 de abril de 1957, o Dr. Heald, ao discutir as Responsabilidades da
Filantropia Privada, assinala uma consciência de que a responsabilidade das fundações
junto ao público vai além da mera publicação de relatórios. As atividades da fundação,
diz ele, envolvem “risco e exigem inteligência, discernimento e sabedoria. Seu sucesso
ou fracasso final forma a base sobre a qual as fundações serão julgadas pelo público que
elas servem e que lhes dá a liberdade e oportunidade que elas usufruem.” Mas aí o Dr.
Heald parece cair num erro convencional para o gerente da “concentração”.
Não há acordo geral sobre o que é bom para a sociedade. Numa sociedade democrática,
a decisão do que é bom para ela (o que é certo e o que é errado de fato) é tomada pela
maioria. A injeção do poder da fundação no processo democrático - pelo qual a maioria
faz essas decisões de valor - cria um desequilíbrio que interfere no conceito de que os
negócios públicos devem ser controlados pela livre vontade do povo. A liberdade
mencionada pelo Dr. Heald implica a crença numa elite intelectualmente aristocrática
dos gerentes da fundação com o direito de influenciar nosso destino. Coerentemente
com esse conceito de elite, ele fala da oportunidade e responsabilidade “de ser pioneiro
à frente da opinião pública, de fazer coisas que, no tempo em que são feitas, podem não
ser aprovadas pelo voto popular, de estar à frente, mas não demasiadamente.” Esse
direito de estar “à frente” do povo pode ser exercido por um indivíduo se ele tiver
vontade de exercê-lo. Se um tal direito é atribuível a uma pessoa jurídica que opera com
fundos de crédito público, é um assunto altamente questionável.
Concordo com o Dr. Heald que “estimular o desenvolvimento de ideias” é uma
preocupação legítima das fundações. Mas a função do desenvolvimento deveria ser
deixada para outros. A fundação deveria limitar-se a oferecer às forças concorrentes
uma oportunidade justa e igual.
69
Eu não vejo como aqueles que se encontram em posições como a do Dr. Heald podem
esquecer que o privilégio de isenção de imposto é concedido por todas as pessoas,
independente de seus credos, ideias e metas políticas. A isenção de imposto não faz das
fundações os guardiões da nação no mundo das ideias e no planejamento do futuro.
“A Fundação Ford está interessada em melhorar a sociedade americana”, diz seu
presidente. Ele afirma que os experimentos e a pesquisa assinados pela Fundação
“podem não ser uniformemente populares, e provavelmente não devem ser. Os
problemas das ciências sociais não são problemas dos quais todo mundo tem
consciência ou com cuja solução todo mundo concorda. Ainda assim, faz parte da
função da fundação cruzar à frente das noções populares e correr o risco de ser atingida,
quando há um progresso válido para ser realizado.” Este é, ao que me parece, o conceito
de “engenharia social” levado ao estado selvagem. Não é muita presunção que os
administradores das fundações pretendam que sua escolha de valores seja superior à de
outros?
O PASSADO RECENTE
O Relatório Anual da Fundação Ford para 1956, assinado pelo Sr. Gaither, contém as
últimas declarações das políticas da Fundação. Como explicarei mais tarde, a Fundação
começou com cinco grandes áreas de atividade proposta. Ela agora se estendeu para
vinte e três grandes áreas de projetos. O relatório faz grande alarde do abandono do
controle da Fundação pela família Ford. Essa etapa deve ter sido desejável a partir de
vários pontos de vista, mas a mudança do controle da família para um controle
burocrático vitalício pode não ter sido tão louvável. Ela assumiu o risco de uma
característica criação de círculos de poder de administradores e o uso de recursos para
fins políticos ao invés de doações beneficentes.
Recebendo o controle da Fundação, os administradores, diz o Sr. Gaither, “aceitaram o
desafio do conceito de amadurecimento da filantropia da fundação americana, no qual a
ênfase mudou, num período de quarenta anos, dos efeitos dos problemas sociais para
suas causas. Eles concordam que os recursos da Fundação devem estar comprometidos
com a solução de problemas que constituem graves ameaças ou obstáculos ao progresso
humano – tais como as demandas crescentes na estrutura educacional e a necessidade de
melhor compreensão entre homens e nações.” Mas as soluções para tais problemas são
principalmente políticas. As fundações que tomam a iniciativa da liderança
propagandística pela mudança social deixam de ser filantrópicas, no sentido legal do
termo, e entram na arena política, à qual não pertencem.
Eminentemente desanimadora no relatório do Sr. Gaither é a evidência do contínuo uso
extensivo de organizações intermediárias para desembolsar o dinheiro da Fundação.
Entre essas, proeminentemente, estão o Conselho de Pesquisa em Ciência Social e a
presumivelmente apartidária Associação de Política Externa, agora sob a presidência
partidária de Vera Micheles Dean. Mais espantosas são as concessões para outras
fundações: por exemplo, para a Fundação Russell Sage, a Dotação Carnegie para a Paz
Internacional e a Fundação Whitney. As conexões com outras fundações são tão
numerosas que parece haver ali quase uma mistura de gestão.
Uma forma de discriminação é mais difícil de entender. Há 30 milhões de católicos
neste país, que mantêm contas de universidades e faculdades. Suas instituições não
70
figuram entre as favorecidas pelo complexo das fundações nem os acadêmicos a elas
ligados têm a probabilidade de receber doações para pesquisa do complexo. Talvez haja
uma boa razão para essa discriminação. Se assim for, não posso adivinhar o que possa
ser.
A HISTÓRIA ANTERIOR DA FUNDAÇÃO FORD
Depois de um período inicial, durante o qual a fundação não teve políticas definidas
para governar suas doações, um programa planejado foi adotado, mediante a
recomendação de uma comissão especial. Essa comissão era encabeçada por W. Rowan
Gaither Jr., que se tornou, mais tarde, presidente da fundação. O Sr. Gaither disse que o
Sr. Ford queria saber como o povo dos Estados Unidos achava que a fundação deveria
usar seu dinheiro e, portanto, ele [Gaither] saiu para ver “o povo”. Mas “o povo” veio a
ser um grande número de “especialistas” de vários tipos – que achavam que deviam ser
capazes de dizer o que era bom para “o povo”.
O resultado foi um livro de 139 páginas, que pode ser obtido na Fundação Ford. Sua
maior tese era que a Fundação Ford devia tentar ajudar a resolver os problemas da
humanidade e fazer isso em cinco áreas:
O Estabelecimento da Paz
O Fortalecimento da Democracia
O Fortalecimento da Economia
Educação numa Sociedade Democrática
Comportamento Individual e Relações Humanas
Raymond Moley observou que a comissão que delineado esse programa era
“composta de um advogado, W.Rowan Gaither Jr., atual presidente da fundação;
um médico; um administrador escolar e cinco professores. Nenhum deles era
experiente em trabalho de fundação. Dificilmente poderia ser uma coincidência
que as cinco “áreas” que eles recomendavam para a fundação correpondesse, até
certo ponto, aos departamento acadêmicos nos quais os professores estavam
ensinando. O plano excluía pesquisa médica, saúde pública e ciência natural com
o pretexto vago de que “o progresso na direção de metas democráticas é hoje
mais social do que físico.” As “metas democráticas” não está definidas em aprte
alguma [Newsweek, 9 de janeiro de 1956].
Não obstante, ninguém poderia se queixar da seleção dos cinco campos de atividade,
por mais vagos que fossem, se o plano consistisse em fazer somente concessões diretas
e simples para instituições e indivíduos desejáveis. Mas este não era o plano da
Fundação Ford. A fundação estava para gastar a maioria de seus esforços no projeto
detalhado de como seus propósitos selecionados deveriam se realizar.
Não se sabe se foi porque um número esmagador de “especialistas” consultados era
“liberal”, ou porque a gestão diretiva inicial da fundação era “liberal” e buscava
justificação “liberal” para um programa “liberal”, mas o fato é que a Fundação Ford se
tornou um veículo “liberal” consciente.
71
O “liberal” a que me refiro é ao menos tingido de marxismo, fabianismo ou algumas
outras variedades de coletivismo econômico e centralização política. É um “estadista”,
um defensor do governo altamente centralizado, do “planejamento do estado”, do
paternalismo. Sua direção passa longe da gestão de negócios pessoal ou de grupo e se
encaminha para a gestão do governo.
Um “liberal” eminente, o Sr. Paulo Hoffman, foi selecionado como administrador-chefe
da Fundação Ford. Suas predileções políticas eram bem conhecidas quando ele foi
nomeado presidente e ficou mais evidente desde então. Ele escolheu como um de seus
principais assistentes o Dr. Robert Maynard Hutchins, um educador e jornalista
“liberal”, cujas ideias eram ainda mais extremistas do que as de Hoffman.
Não só esses dois eram “liberais”. Os principais membros da equipe, os homens que
deviam construir a principal linha de pensamento para os administradores, eram quase
todos “liberais”. Ninguém pode acreditar que essa seleção era fruto de uma
coincidência. Decididamente, esse homens não representam o perfil da crença
americana.
O Sr. Hoffman e o Dr. Hutchins foram eventualmente dispensados, depois que o Sr.
Ford e alguns outros administradores não puderam mais aguentar suas atividades.
Durante esse tempo, um grande dano tinha sido feito com o vasto poder financeiro que a
fundação administrava. Nem podemos ter certeza de que os administradores, tendo se
livrado do Sr. Hoffman e do Dr. Hutchins, estejam prontos para remover da fundação
seus elementos fortemente “liberais” ou mesmo se estão plenamente conscientes da
necessidade social de operar essa grande responsabilidade pública com uma equipe
objetiva.
Não tem sido incomum, nos Estados Unidos, que uma fundação teoricamente
gerenciada por administradores predominantemente conservadores seja assumida em
funcionamento por um grupo “liberal” e amplamente dirigida por ele a fins políticos.
No caso da Fundação Ford, esse processo ocorreu com muita facilidade através do plano
de operação detalhada que os administradores foram persuadidos a adotar. De acordo
com esse plano – e isso ficou totalmente claro – os administradores não podiam se opor
à equipe.
O Relatório de Estudo para a Fundação Ford sobre Política e Programa, datado de 19 de
novembro de 1949, diz, em parte, o seguinte:
Membros individuais da Junta de Administradores não devem procurar decidir
questões técnicas envolvidas em aplicações e projetos particulares. Nada
destruiria com tanta certeza a eficácia da fundação. Pelo contrário, os
administradores serão capazes certamente mais capazes de controlar as
principais linhas da política da Fundação – e a contribuição que ela fará ao bemestar humano – se eles derem ao Presidente e aos funcionários liberdade
considerável no desenvolvimento do programa, ao mesmo tempo em que
evitarem influenciar (mesmo indiretamente) a condução dos projetos, para os
quais a Fundação concedeu fundos (Página 127 e 128). Como indivíduos, os
administradores devem aprender, por todos os meios formais e informais, tudo
quanto for possível sobre o programa da Fundação em relação aos assuntos do
mundo. Mas a Junta de Administradores, como um corpo responsável, deve agir
72
somente de acordo com seus procedimentos formais regulares, e geralmente com
base na agenda, nos sumários e nas recomendações apresentadas pelo Presidente
(Página 128). As reuniões da Junta devem ser planejadas no sentido de que a
discussão não seja dirigida principalmente às concessões individuais
recomendadas pelos funcionários, bem como às instituições para recebê-las.
Uma fundação pode querer, de tempos em tempos, fazer pequenas doações, seja
para explorar as possibilidades de programas mais amplos, seja para tirar
vantagem de uma oportunidade isolada e incomum. Para tais propósitos, será útil
para os administradores criar (e reabastecer de vez em quando) um fundo sem
restrições, com o qual o Presidente possa fazer concessões por sua própria
autoridade. O presidente da Fundação Ford, como seu principal funcionário, não
deve prestar serviços apenas como um membro da Junta de Administradores,
mas deve receber plena autoridade para administrar sua organização. Ele deve
ter plena autoridade para apresentar recomendações sobre programas, e plena
autoridade para nomear e remover todos os outros funcionários e empregados da
Fundação (Página 132). Os fundadores de pelo menos duas das maiores
fundações americanas pretendiam que seus administradores devotassem a maior
parte de seu tempo à condução ativa dos negócios da fundação. Geralmente esse
arranjo não se mostrou viável (Página 133). Pois o programa de uma fundação
pode ser mais seguramente determinado pela seleção de seus funcionários de
topo do que por alguma declaração de política ou qualquer conjunto de
instruções.
O relatório da Comissão Reece comentou essa plataforma do seguinte modo:
Não podemos evitar a conclusão de que os administradores da Fundação Ford
abdicaram de sua responsabilidade de custódia, quando deram assentimento a
esse plano de operação, sob o qual tudo – exceto, possivelmente, o
estabelecimento de generalidades brilhantes – pudesse ser deixado a empregados
[P. 26].
Ou seja, ao mesmo tempo em que os administradores são, sem dúvida, confrontados
periodicamente com um certo número de relatórios apresentados por seus empregados
profissionais – e esses relatórios são, em si mesmos, suficientemente difíceis de
entender - , eles nem sequer veem a grande quantidade de material que a equipe usa
para decidir sobre programas, planos, projetos e donatários. Os administradores sabem
apenas de modo geral o que está acontecendo. Eles agem somente sobre o que foi
filtrado dos escalões inferiores até eles.
Afinal de contas o que se pode esperar de um administrador não familiarizado com o
jargão que é a língua franca do administrador profissional de uma fundação? A
tendência de muitos executivos de fundação para evitar escrever simplesmente pode ser
atribuída, tenho certeza, a uma certa imitação dos cientistas sociais com quem eles
entram em contato e cujos escritos obscuros eles tão frequentemente veem. Num
esforço para fazer suas “ciências” soarem mais “científicas”, eles se apossam de termos
que têm um significado preciso na ciência natural e os implantam em seus próprios
trabalhos. Ele [o Professor Sorokin] exemplifica o absurdo que resulta disso
descrevendo certos incidentes históricos como o faria um cientista social com essa
desordem de discurso:
73
“Em março de 1917, a localização da Rússia locomoveu-se num plano
(superfície) bidimensional da monarquia para a república, com catexia positiva e
induzibilidade de promoção do governo provisório vetorizado na direção da
meta de um regime democrático. Em outubro de 1917, essa locomoção foi
seguida por uma nova locomoção em espaço hodológico, fluido e permeável, ao
longo das dimensões do comunismo, marcado por catexia negativa e
induzibilidade contriente na direção de uma estrutura democrática de
‘grupalidade’, de ‘nós-idade’, ‘valência’ e ‘sintalidade’ [Ver pp. 21-30].”
Foi relatado que os administradores da Fundação Ford se reúnem por dois dias, quatro
vezes ao ano; que eles fazem alguma lição de casa; que eles têm conversas informais
com o Sr. Gaither ocasionalmente; e que ele agem sobre as comissões de vez em
quando.
O Sr. Henry Ford II é o mais importante membro da junta da Fundação Ford. Quanto
tempo ele gasta no trabalho dela? Ele foi citado como tendo dito o seguinte: “Eu
raramente tomo uma posição em qualquer programa até que a equipe tenha agido sobre
ele.” Seu trabalho principal é o de executivo-chefe da Companhia de Motores Ford, uma
empresa bem grande para dirigir. Ele disse acertadamente: “Se eu ficar envolvido com
tudo aquilo” (referindo-se ao trabalho detalhado da Fundação Ford), “nunca terei feito
nada por aqui” (referindo-se à Companhia de Motores Ford).
É urgentemente necessário um alerta ao administrador porque tendências políticas são
muito facilmente introduzidas dentro do material social.
O FUNDO (FORD) DAS CIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
O relatório da Comissão Reece incluiu um diagrama da estrutura da Fundação Ford e
suas subsidiárias.
Particularmente importante é o Fundo das Ciências Comportamentais, engajado num
campo de operações, no qual, se falhar em agir com a máxima objetividade, pode causar
um dano irremediável. O relatório da Comissão Reece comentou sobre ele da seguinte
forma:
Este Fundo das Ciências Comportamentais tem vastos recursos sob seu
comando. Sua lista de objetivos indica o pressuposto subjacente de que o
comportamento humano pode ser entendido como seria entendido um objeto das
ciências naturais, dentro do quadro de um número limitado de relações de causaefeito. Essa doutrina não é, de forma alguma, aceita universalmente, e há o
perigo de que uma soma enorme disponível ao Fundo para promover sua tese
subjacente possa torná-la a doutrina dominante nas ciências sociais.
A FORD VIOLA A CONFIDENCIALIDADE DE JURADOS
Se os administradores da Fundação Ford estivessem limitados a destinar concessões não
premeditadas para as instituições que operam, eles seriam exonerados se alguma coisa
infeliz fosse feita com a doação. Se, porém, a fundação planejou ou designou uma
doação, ou tomou parte na determinação ou aprovação do assunto exposto em detalhe,
de seus objetivos ou seus métodos de operação, é difícil que os administradores
74
escapem da responsabilidade pelo que acontece. O incidente da interceptação de
informações em júris é ilustrativo.
O FUNDO (FORD) PARA O AVANÇO DA EDUCAÇÃO
Foi preciso coragem para que alguns acadêmicos testemunhassem perante a Comissão
Reece. Apresentar crítica das principais fundações e daquelas organizações com as
quais elas se interligam é equivalente a anular seus próprios livros. Elas sabem como
lidar com aqueles que se atrevem a discordar. Como depôs o Professor Charles W.
Briggs, professor emérito da Universidade de Colúmbia, elas aterrorizaram muitos que
teriam sido críticos.
O Dr. Briggs foi um dos poucos corajosos que estavam querendo quando ele achou que
a crítica era devida. Sua capacidade como um dos educadores de liderança foi
reconhecida pelo Fundo para o Avanço da Educação, criado pela Fundação Ford, que o
tinha indicado para sua comissão consultiva
Foi principalmente com referência ao Fundo para o Avanço da Educação, a criança
muito dotada da Fundação Ford, que o Professor Biggs depôs. Ele tinha se demitido da
comissão consultiva revoltado. Lendo sua própria declaração cuidadosamente
preparada, ele disse que todos os funcionários do Fundo (Ford) para o Avanço da
Educação tinham sido nomeados direta ou indiretamente por um executivo influente da
fundação (Ford) mãe.
Quem distribuiu esses vastos fundos? O Professor Briggs nos conta:
Nem um único membro da equipe, do presidente ao mais humilde empregado,
tinha tido alguma experiência - certamente nenhuma nos últimos anos - que
pudesse oferecer compreensão dos problemas que são encontrados diariamente
pelos professores e administradores de nossas escolas.
Nem deram ouvidos a conselho competente:
Como um membro antigo de uma assim chamada comissão consultiva, eu fui
testemunha de que em nenhum momento a administração do fundo procurou
algum conselho da comissão sobre princípios de operação nem recebeu
hospitaleiramente ou agiu de acordo com tal conselho quando foi oferecido
[Relatório da Comissão Reece, p. 23].
Entre suas acusações, sustentadas em detalhe em sua declaração cuidadosamente
preparada [Audiências da Comissão Reece, p. 94 et seq.], o Professor Biggs disse que o
Fundo (Ford) para o Avanço da Educação “está equipado inadequadamente” com uma
equipe “sem simpatia com o ideal democrático de oferecer uma educação apropriada
para todas as crianças de todo o povo”; que ele fez propaganda contra os programas
aprovados pelo público; que ignorou as organizações profissionais de professores; que
tem desperdiçado extremamente os fundos públicos fiduciários.
Tendo criticado severamente a propaganda da Fundação Ford contra as teorias de
educação, ele acusou os funcionários do Fundo de uma “arrogância” de “presunção de
onisciência”.
75
Não há dúvida de que o Professor Biggs estava se referindo ao Dr. Robert M. Hutchins,
quando disse um homem era responsável pelo pessoal do Fundo para o Avanço da
Educação. O Fundo era sua criatura e seu projeto. É bem sabido que as ideias do Dr.
Hutchins sobre educação e a responsabilidade dos professores contrariam severamente a
teoria aceita; e eu acredito que é seguro dizer que o Fundo para o Avanço da Educação
usou seus milhões em grande medida para propagar as ideias do Dr. Hutchins.
Há indícios de que os administradores da Ford não estão totalmente satisfeitos com os
resultados de suas despesas gigantescas através do seu Fundo para o Avanço da
Educação.
O FUNDO (FORD) PARA A REPÚBLICA
O Fundo para a República é a mais fina flor daquilo que poderia ser chamado a “escola
paqueradora de filantropia”. Era fruto da imaginação do Sr. Paul Hoffman,
provavelmente parido pelo Dr. Hutchins. Nasceu simultaneamente com a dispensa do
Sr. Hoffman como presidente da Fundação Ford e não é desarrazoado supor que havia
uma conexão entre os dois eventos.
Não foi muito antes de os administradores da Fundação Ford decidirem que não
aguentavam também o Dr. Hutchins e o liberarem de suas obrigações como um diretor
principal, depois do que o Sr. Hoffman o instalou como presidente do Fundo para a
República, de cuja presidência o Sr. Hoffman tinha sido rebaixado. Os Srs. Hoffman e
Hutchins ficaram, assim, novamente juntos. Na medida em que foi dada independência
ao Fundo para a República por parte da Fundação Ford, esses dois estavam para atingir
seu apogeu.
O Fundo da República mantém-se firme quanto a ser educacional no propósito. Seu
relatório impresso – bonito e caro - de 31 de maio de 1955 inclui esta declaração:
“O objetivo do Fundo é avançar na compreensão das liberdades civis. O
Conselho de Diretores acredita que os direitos dos americanos não devem ser
comprometidos ou perdidos por negligência ou confusão. Ele acredita que o
cidadão deve saber quais são seus direitos e o que está acontecendo com eles.”
Esses nobres propósitos foram testados quando foi feita uma proposta ao Fundo para a
República para que fosse feito um estudo dos direitos reservados às pessoas pelas 9ª e
10ª Emendas à Constituição.
Certos direitos e “liberdades” foram expressamente reservados às pessoas na
Constituição e suas Emendas. As 9ª e 10ª Emendas estabeleceram, ainda, que quaisquer
direitos que as pessoas pudessem ter que não estivessem expressamente enumerados
também seriam reservados a elas. O problema é que ninguém parece ter uma ideia
muito clara do que esses direitos não enumerados e reservados possam ser. Certamente,
se o Dr. Hutchins queria dizer o que disse, ou seja, que desejava que o cidadão “saiba
quais são seus direitos e o que está acontecendo com eles”, o estudo proposto era um
imperativo.
A proposta foi rejeitada por escrito pelo Fundo para a República sobre o fundamento de
que ela não se encaixava no programa.
76
Essa reação devia ser esperada. Os documentos resultantes da criação do Fundo para a
República convenceram a Comissão Reece de que um dos propósitos do Fundo tinha
sido investigar as investigações do Congresso. Ele tinha se tornado, em funcionamento,
ainda mais perigoso do que a Comissão previa. Enquanto a investigação da Comissão
Reece estava em andamento, o Fundo manteve-se moderadamente “limpo”. Porém,
desde que o relatório da Comissão foi arquivado, ele mostrou suas verdadeiras cores
como uma agência de propaganda para ideias políticas esquerdistas de seus funcionários
dirigentes, a saber, os Srs. Hoffman e Hutchins, e associados cuidadosamente
escolhidos, com inclinações similares.
O Fundo para a República tem, agora, a seu crédito muitas realizações monumentais em
propaganda:
1. Um estudo de $100.000 do programa federal de lealdade-segurança,
destinado a ressaltar a crítica dos métodos usados para remover os
comunistas e os simpatizantes do comunismo do serviço no governo. O Sr.
Walter Millis, um consultor do Fundo, está associado a esse projeto. O Sr.
Millis, num recente debate no rádio como juiz Robert Morris, disse: “Eu não
me oponho ao procedimento do programa (lealdade-segurança), mas ao
próprio fato de que o sistema está lá.”
2. A subvenção ao projeto Edward R. Murrow para circular entre as escolas
onde puder sua entrevista de T.V. com Robert Oppenheimer. Esse projeto se
destinava a elogiar o Dr. Oppenheimer depois que ele foi despojado de seu
certificado de segurança – uma tentativa óbvia de desacreditar o sistema de
segurança.
3. O exame de $150.000 de professores do ensino médio e da faculdade para
apurar até que ponto eles “temiam” ensinar assuntos controversos nas salas
de aula. A intenção desse projeto era tornar pública a falsa queixa de que o
programa de lealdade-segurança e a “histeria” da parte dos anticomunistas
tinham aterrorizado professores inocentes.
4. O estudo de $300.000 da influência do comunismo na vida americana
contemporânea. Esse projeto se distinguiu por contratar Earl Browder, antigo
chefe do Partido Comunista nos Estados Unidos e ainda um ardente
comunista.
5. O estudo de $185.500 das “atitudes americanas quanto ao comunismo e às
liberdades civis”. Seu propósito, bastante óbvio, é promover a teoria
Hoffman-Hutchins de que nossas medidas de segurança violam “direitos
civis” e que a proteção desses direitos deve ser mais importante do que a
nossa proteção contra o comunismo.
6. O Estudo de $64.500 do “registro comunista”, incluindo bibliografias. Esse
projeto produziu Uma Bibliografia sobre o Problema Comunista nos
Estados Unidos. Foi desacreditado por um grande número de críticos
informados. O Professor Philip Taft, da Universidade Brown, uma
autoridade em liderança do comunismo nos sindicatos, disse que o Fundo
para a República merece um “voto de agradecimento do Partido Comunista”.
77
7. A circulação de um grande número de outros livros esquerdistas, entregues a
legisladores, advogados, juízes, presidentes de faculdades e outros que
pudessem criar opinião ou influenciar a legislação.
8. O estudo de $100.000 da “lista negra”: a circulação de um questionário para
empresas usando rádio e televisão para descobrir o que os anticomunistas
estão fazendo.
9. Uma apropriação de $200.000 (mais tarde revogada pelo ridículo evidente e,
talvez, por medo de perder a isenção de imposto) para por Herb Block na
televisão. Herb Block é um cartunista do Washington Pos-Times. O relatório
de 1954 do Fundo para a República elenca esse projeto como “Educação
Popular”. David Lawrence descreveu o Sr. Block como “um cartunista que
regularmente ridiculariza o programa de segurança e é conhecido por seus
desenhos “de esquerda” [N. Y. Herald Tribune, 16 de set. de 1955].
10. O estudo de $25.000, na Universidade Stanford, do depoimento de
testemunhas em procedimentos relativos ao comunismo. O estudo é para ser
conduzido por um tal de Herbert Packer, antigo empregado do Fundo para a
República. O resultado será, sem dúvida alguma, uma deprecação do
depoimento de comunistas que se corrigiram, como Elizabeth Bentley e
Louis Budenz, cujas divulgações de comunistas têm sido tão importantes
para a segurança dos Estados Unidos.
David Lawrence, em sua coluna de 18 de agosto de 1955, referindo-se ao Fundo para a
República, chamou a atenção para a “atual onda de apaziguamento” que está destruindo
nossos ideais nacionais, e continuou:
Há, por exemplo, uma tentativa deliberada de fazer pouco da infiltração
comunista nos Estados Unidos. Mal passa um dia sem que algum golpe seja
desferido contra aqueles que estão lutando contra a subversão comunista.
A Legião Americana tem adotado várias vezes, em sua convenção nacional, resoluções
instando o Congresso a fazer um estudo mais aprofundado e completo das fundações
isentas de imposto. O Comandante Nacional da Legião Americana, Seaborn P. Collins,
conforme uma notícia do New York Herald Tribune, de 11 de setembro de 1955,
exortou os membros da Legião para que não “quisessem conversa” com o Fundo para a
República. Ele disse:
“Estou emitindo este alerta a nossos associados porque parece que o Fundo para
a República, encabeçado pelo Dr. Robert Maynard Hutchins, está ameaçando e
pode ter sucesso na incapacitação da segurança nacional.”
Ele acusou o Fundo de “crítica constante e carregada aos esforços do Congresso e da
Administração para resistir à infiltração comunista.” Ele disse:
78
Uma linha aparente de ataque é a tentativa de persuadir os americanos de que o
comunismo não é nem nunca foi uma ameaça séria aos Estados Unidos.
O Fundo para a República tornou-se o líder do movimento anti-anticomunista nos
Estados Unidos.
A REPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES DA FORD
O Fundo para a República fez crescer, de uma forma pungente, o problema da
responsabilidade dos administradores. Algumas das declarações das fundações
arquivadas com a Comissão Reece proclamavam o princípio totalmente sólido de que
uma fundação não deveria exercer censura na execução de uma doação. Mas eles usam
esse princípio sólido para se eximirem da responsabilidade de um prejuízo que poderia
ter sido previsto. Há uma enorme diferença entre insistir ou controlar a pesquisa em que
se engajou o Professor Jones, ao qual foi feita uma doação, e assegurar-se de que o
professor a ser selecionado para a doação não é alguém dado a radicalismos e forte
preconceito em seu trabalho. Há um mundo de diferença entre exigir conformidade de
um pesquisador e insistir na objetividade ao selecioná-lo; a primeira opção é
repreensível; a última é um dever público.
Sim, deve haver uma exceção para essa conclusão. Uma doação podia ser feita de
maneira apropriada para uma pessoa de tendência conhecida, se isso fizesse parte de um
programa ou plano no qual o ponto de vista contrário também fosse adequadamente e
com justiça apresentado ao público.
Segundo noticiais da imprensa, o Sr. Henry Ford II finalmente informou que estava
desautorizando o Fundo para a República. Ele fez isso através de uma série de cartas a
correspondentes que lhe perguntavam por que ele permanecia silencioso tendo em vista
os antecedentes aparentemente criminais do Fundo criado pela Fundação Ford. O Sr.
Ford disse que algumas das ações do Fundo para a República “tinham sido dúbias de
caráter e inevitavelmente tinham conduzido a acusações de um julgamento pobre.” Essa
foi uma desautorização fraca. O Sr. Ford deve saber que algumas das atividades do
Fundo foram mais que “dúbias” e que muito mais coisa além de pobreza de
“julgamento” estava envolvida. O Sr. Ford manteve, de qualquer modo, que a Fundação
Ford não era responsável de jeito nenhum porque ela tinha criado o Fundo como uma
unidade independente, para ser gerenciada por seu próprio conselho. [Na realidade, o
cordão umbilical entre a Fundação Ford e o Fundo para a República não foi totalmente
rompido. Estava previsto que, se o Fundo perdesse sua isenção de imposto, o dinheiro
remanescente reverteria para a organização-mãe]. Essa postura não pode ser aceita pelo
público.
Eis o que o Wall Street Journal de 9 de dezembro de 1955 publicou em seu editorial,
comentando a posição do Sr. Ford:
E, assim, temos aqui um grupo de homens que entregaram $15 milhões em nome
de Ford para propósitos políticos e educacionais, sem prestar contas a ninguém.
Eles não estão sujeitos a retratação ou referendum. Eles nomeiam seus próprios
sucessores. Ele podiam, se quisessem, adotar projetos para “educar” para o
comunismo, fascismo ou seja lá qual for a fantasia que atingisse seus cérebros. E
ninguém poderia dizer não.
79
O Sr. Ford e os outros administradores da Fundação Ford podem esquivar-se da
responsabilidade dizendo que eles criaram uma unidade independente e autônoma?
Pode alguém, de maneira justa e ética, simplesmente despejar quinze milhões no colo de
alguém e dizer: “Faça com isso o que quiser; lavo minhas mãos quanto ao que você
fizer”? Sim, talvez isso pudesse ser feito ao se conceder uma subvenção para uma
universidade, uma igreja, um hospital ou alguma outra instituição responsável que
existe com tradições e padrões reconhecíveis e aceitáveis. Caso contrário, a máxima
delegatus non potest delegare aplica-se – que nenhum administrador pode delegar sua
função de confiança. [Essa máxima foi citada nas audiências da Comissão Cox pelo Dr.
Henry Allen Moe, da Fundação do Memorial John Simon Guggenheim. Essa fundação
fez, ela mesma, doações lamentáveis, algumas delas para comunistas; mas pelo menos o
Dr. Moe não tentou se esquivar da responsabilidade dos administradores pela aplicação
dos fundos que eles administram.]
Não, o dinheiro que está sendo tão erroneamente usado pelo Fundo para a República é
dinheiro da Fundação Ford. Os administradores da Ford também deveriam saber que
havia perigos inerentes ao programa detalhado que o Sr. Hoffman lhes apresentou para
o Fundo para a República.
Todo esforço razoável deve ser feito para assegurar que assuntos que contenham
dinamite política sejam tratados com o cuidado que eles exigem – com total
objetividade e imparcialidade. Ao permitir que sua criatura, o Fundo para a República,
se tornasse uma máquina de propaganda para o avanço de ideias políticas esquerdistas,
os administradores da Ford abandonaram sua obrigação para com o público, a cujo
serviço se dedicaram quando aceitaram sua nomeação.
A declaração da Fundação Ford arquivada pela Comissão Reece disse o seguinte:
Os administradores da Fundação Ford se orgulham de seu ato ao criarem o
Fundo para a República [Audiências da Comissão Reece, p. 1053].
Desde então, tivemos a desaprovação qualificada e gentil do Sr. Henry Ford II, relativa
a algumas das ações do Fundo para a República. Mas se tratava da expressão de uma
opinião pessoal. Não houve nenhum repúdio oficial da Fundação Ford em relação ao
Fundo para a República. Tanto quanto é possível ao público saber, exceto pela crítica
moderada do Sr. Ford ao Fundo para a República, os administradores estão totalmente
satisfeitos com todos os trabalhos da Fundação Ford.
80
CAPÍTULO 9
DAQUI PARA FRENTE?
A PARTIR DA PUBLICAÇÃO do relatório da Comissão Reece, tem havido mais
crítica pública às fundações do que em toda a sua história prévia. Muitos escritores,
comentaristas e outros jornalistas ficaram chocados com o que a Comissão Reece
descobriu. Permanece um núcleo resistente, que consiste naqueles “liberais” que não
conseguem ver nada de errado no uso de fundos públicos de crédito para a realização de
fins políticos “liberais”. Há um terceiro grupo, à primeira vista inclinado a considerar
as revelações da Comissão Reece com reserva, que abriu seus olhos diante das asneiras
da criança presunçosa da Fundação Ford.
Grandes fundações como a Rockefeller e Carnegie contribuíram muito (e
frequentemente de uma forma espetacular) para o bem-estar público através de seu
trabalho em medicina, saúde pública e outros campos úteis. Mas a publicidade ampla e
legítima dada a esses grandes benefícios públicos tendeu a embotar a sensibilidade para
outros desenvolvimentos no mundo das fundações que não foram benignos. Esses
desenvolvimentos desagradáveis não podiam ser expostos sem um inquérito como esse
que a Comissão Reece conduziu.
Somente uma pequena parte da história das fundações foi contada. A Comissão Reece
insistiu veementemente numa continuidade, ou recomeço, de seu inquérito.
Uma investigação contínua do Congresso tem sido exigida por resoluções da D. A. R.
[Daughters of the American Revolution] 3 , da Legião Americana e de outras
organizações patrióticas. A maioria dos profissionais das fundações tem sido
radicalmente contra essa investigação contínua. Eles consideram “anti-intelectuais”
organizações do tipo da Legião Americana. Suas resoluções apenas provam para a
“Elite liberal” do mundo das fundações que ela precisa aumentar seus esforços para
guiar o povo americano na direção de um modo de vida melhor.
A Fundação Rockefeller, por exemplo, aparentemente pretende fazer exatamente isso,
se as declarações de seu presidente, o Sr. Dean Rusk, forem uma indicação. Num
discurso na Universidade de Nova York, o Presidente da Fundação Rockefeller parece
ter deixado sua posição bem clara. O New York Times de 22 de maio de 1955
comentou, em editorial sobre o discurso, como se segue:
“É interessante saber que, a despeito do nervosismo do Representante B. Carroll
Reece com relação a esses assuntos, as fundações americanas estão lidando cada
vez mais com esses temas “controversos” – especialmente quando essa opinião é
expressa por aqueles que mais sabem sobre as atividades da fundação. Tanto
Dean Rusk, Presidente da Fundação Rockefeller, como F. Emerson Andrews,
autor de estudos oficiais desse campo [o Sr. Andrews é um executivo da
Fundação Russell Sage], falaram muito na conferência sobre os problemas das
fundações beneficentes, realizada em Nova York na semana passada.”
3
Em português: Filhas da Revolução Americana (N. da T.)
81
É preciso entender o jargão dos principais profissionais das fundações, como o Sr.
Rusk, para saber do que eles estão falando. O termo “controverso”, como já observei,
não implica a apresentação justa dos dois lados de um tema. Significa a apresentação de
um lado de uma controvérsia, e somente um lado – o lado “liberal”. Conforme noticiou
o New York Herald Tribune, outro discurso do Sr. Rusk (dessa vez em Pasadena, em
junho de 1955) dizia que a Fundação Rockefeller continuaria a “apoiar vigorosamente
um programa de bolsas de estudo livres e responsáveis.”
Essa promessa teria sido animadora se a palavra “continuaria” não tivesse aparecido
nessa notícia de jornal. A Fundação Rockefeller, quando atuante em ciências sociais, em
educação e em negócios externos, nem sempre mostrou disposição para promover
bolsas de estudos tanto “livres” quanto “responsáveis”.
O mesmo editorial no New York Times, que louvou o Sr. Rusk e o Sr. Andrews por
afirmarem que as fundações aumentariam o apoio a “questões controversas”, forneceu a
pista para o que os executivos da fundação querem dizer com esse termo. Ele elogiou o
Fundo para a República como um exemplo de quão certos estavam os Srs. Rusk e
Andrews quanto à previsão de um aumento geral no apoio da fundação às “questões
controversas”.
Felizmente, o trabalho das investigações do Congresso não deixou de influenciar as
fundações.
As doações gigantescas da Fundação Ford a faculdades e outras instituições em 1955,
1956 e 1957 evidenciaram uma nova política de apoio direto à educação sem restrições.
O apoio aos estudos de Kinsey pela Fundação Rockefeller terminou depois que a
Comissão Reece esclareceu o público sobre a origem dos fundos usados para esse
projeto.
Em meu relatório inicial sobre o procedimento proposto à Comissão Reece, expressei
minha opinião de que nenhuma ação do Congresso deveria ser considerada de natureza
legislativa a não ser que fosse inevitável.
Por isso, não concluirei com qualquer discussão sobre que medidas legislativas
deveriam ser consideradas no sentido de evitar o agravamento do prejuízo à nossa
sociedade, mas sim com uma discussão sobre que medidas deveriam ser tomadas pelos
administradores das fundações no sentido de corrigir a situação infeliz a partir de dentro
e, assim, prevenir a então inevitável legislação restritiva.
1. Parece-me claro que ninguém deve se permitir ser um mero administrador
testa-de-ferro de uma grande fundação.
2. A alternativa para a demissão, se os administradores se consideram
incapazes de contribuir com o tempo e a atenção que o dever para com o
público exige, é simplificar o programa da fundação.
3. A menos que o administrador esteja certo de que compreende razoavelmente
as ramificações, os meandros e as implicações de uma concessão proposta e
indicada, parece impróprio que ele lhe dê o seu consentimento. A alternativa
preferível seria fazer uma concessão direta a uma instituição que existe e
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4. Os administradores das fundações devem evitar quaisquer situações que
envolvam conflito de interesses. Eles não devem prestar serviços
simultaneamente em conselhos que doam e recebem de organizações isentas
de imposto. Também devem insistir para que seus executivos empregados
tomem cuidados similares.
5. Evitar administrações múltiplas parece altamente desejável para eliminar a
concentração de poder através de interligações.
6. A prática de favorecer tão injustificadamente apenas algumas das grandes
universidades com subvenções para pesquisa deve ser abandonada. A
justificativa dada para esse favoritismo – que os melhores homens e os
melhores equipamentos são encontrados nessas instituições – não é
inteiramente verdadeira.
7. Os administradores daquelas fundações que, como a Fundação Ford, se
excluíram substancialmente das ciências naturais, devem reconsiderar se essa
decisão foi sábia.
Quando os apologistas das fundações procuram defendê-las contra críticas, eles
apontam invariavelmente para as grandes coisas que as fundações fizeram por nosso
país. Essas grandes coisas de fato foram feitas, e as fundações responsáveis por elas
(algumas grandes, como a Rockefeller e a Carnegie, algumas menores, como a
Corporação de Pesquisa, e muitas outras) estão quase que invariavelmente nos campos
da ciência natural - medicina, saúde pública – e algumas nas humanidades. Quando as
principais realizações das fundações são catalogadas, quantas se incluem nas assim
chamadas “ciências sociais”? Muito poucas, de fato! É, então, um efeito da teoria de
que, como já está sendo feito o suficiente nos campos da verdadeira ciência, as
fundações deveriam “arriscar” seu capital e renda predominantemente em direções
“sociais”?
Ao expor a necessidade gritante de mais apoio à pura ciência, o Professor Woodward
atacou a teoria da “defasagem cultural”, que está na base da política de algumas das
principais fundações para justificar tanto gasto com pesquisa organizada em ciência
social. A Fundação Ford tem sido a maior pecadora nessa direção. Seus primeiros
administradores sucumbiram à pressão dos cientistas sociais que defendem a teoria da
defasagem cultural – que desenvolvemos a ciência [natural] tão rapidamente que não foi
possível acompanhá-la do ponto de vista social (ou socialmente).
Eu cito a seguinte passagem dos parágrafos conclusivos de um discurso feito por
Admiral Strauss, no Sexto Instituto da Fundação Thomas Alva Edison, sobre “A
Crescente Escassez de Cientistas e Engenheiros”, em 2 de novembro de 1955:
“A dimensão que a ciência atingiu como um fator principal em nossa vida, nosso
ambiente e nosso destino é, agora, algo aparente para todos que examinarem os
fatos. Nossa posição de eminência e influência no mundo deve ser creditada às
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aplicações prudentes e vigorosas da tecnologia ao desenvolvimento de nossos
recursos e potencial. Se valorizamos essas posses que conquistamos para nossa
eminência e influência, precisamos estar preparados para defendê-las. Nossa
maior posse – a liberdade – é, ela mesma, em parte o produto da ciência, já que
foi a tecnologia que tornou a escravidão inútil, e graças à liberdade e somente
graças à liberdade todos os nossos outros tesouros floresceram. É paradoxal que
tenhamos que nos encontrar, nesta altura da história, repentinamente mais
pobres em relação aos próprios meios pelos quais nossa grandeza foi alcançada.
Esta é a guerra fria das classes de aula. Dentro de cinco anos, nossa liderança no
treinamento de cientistas e engenheiros pode ser aniquilada, e em dez anos,
podemos ser irremediavelmente ultrapassados. A menos que sejam tomadas
medidas imediatas para corrigi-la, a situação – já perigosa – em menos de uma
década se tornará um desastre.
Pode muito bem acontecer que a Fundação Ford e outras fundações partidárias da teoria
da defasagem cultural tenham cometido um erro irrecuperável por não reconhecer que o
que nós enfrentamos não é uma defasagem cultural, mas científica.
Não estou sugerindo que as fundações deixem de apoiar qualquer pesquisa em ciência
social. O que realmente proponho é que elas abandonem quase todos os procedimentos
imensamente caros de pesquisa de grupo dirigida, que têm sido tão característicos das
operações recentes das fundações e que têm sido tão ridicularizados até por seus amigos
mais calorosos.
The End
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fundações: seu poder e influência prefácio