O João queria ser...
Era uma vez um menino chamado João que vivia numa linda quinta perto
de um riacho.
O João passava os dias a resmungar, porque nunca estava contente com
aquilo que tinha. Todas as manhãs o João vestia-se para ir para a escola mas
sempre com uma cara de zangado, porque para ele tudo isso era aborrecido.
Certo dia o João decidiu não ir à escola e resolveu dar um passeio pela
quinta.
João- Ai como é bom ser livre, sentir a brisa do campo tocar-me o rosto,
sem ter ninguém a dar-me ordens. Quem me dera ser um passarinho para poder
voar livremente por estes belos espaços verdes, ai como era bom.
Narrador- Após um longo passeio o João sentiu-se cansado e resolveu
sentar-se junto ao tronco de uma árvore. Nesse mesmo instante a árvore
perguntou-lhe muito admirada:
Árvore- Que fazes aqui Joãozinho? Hoje não foste à escola?
João- Não gosto de ir à escola porque tenho que ficar muito tempo preso
numa sala. Eu queria ser como tu e poder viver livremente!
Árvore- Se fosses como eu não estarias preso apenas umas horas mas
durante toda a vida. Eu não posso passear, não posso ver mais nada do que aquilo
que me rodeia, não tenho onde me abrigar quando chove e um dia estou sujeita a
que me cortem.
Narrador- O João ficou muito pensativo e disse:
João- Realmente tens razão. Não é bom viver sempre no mesmo sítio. Mas
mesmo assim não gosto de ser aquilo que sou, se eu pudesse ser outra coisa
qualquer, nem que fosse só por um dia!
Narrador- Entretanto aproximou-se do João um lindo cavalo castanho. O
João olhou para o cavalo e disse prontamente:
João- Nem mais! Já sei o que quero ser, um cavalo. Assim posso cavalgar
por aqueles verdejantes vales...
Narrador- De repente o cavalo interrompeu-o e disse muito admirado:
Cavalo- O quê?!! Tu querias deixar de ser um Humano para ser como eu?
João- Claro! Tu não tens que obedecer a ordens todos os dias, não tens de
ir à escola, não tens de estudar...
Cavalo- Pois é meu rapaz, mas tenho que lavrar a terra todos os dias e por
vezes debaixo de um sol abrasador. Além disso quando as forças se acabam, em
vez de ir para casa o meu dono ainda me obriga a trabalhar mais.
Quem me dera a mim trocar isto pelas tuas idas à escola.
Árvore- Estás a ver João, a vida dos animais e das plantas não é assim tão
fácil como tu pensas.
João- Não acredito! Ninguém pode ter uma vida pior que a minha.
Narrador- O João continuou o seu passeio convencido de que tudo aquilo
era mentira, no entanto, no riacho perto de sua casa o João ouviu uma conversa
entre o peixe e a borboleta.
Peixe- Estou só amiga borboleta! A maior parte dos peixes do lago
morreram devido à poluição daquela maldita fábrica. Não sei mais o que fazer,
cada dia que passa tenho a sensação que será o último.
Borboleta- Não fiques assim. A tua vida não é pior que a dos outros.
Todos temos que sofrer para ultrapassar as dificuldades. Olha para mim, qualquer
dia apanham-me e serei apenas uma borboleta de colecção.
Narrador- Entretanto a borboleta apercebeu-se da presença do João e
disse:
Borboleta- Olá João, estavas a ouvir a nossa conversa? Tu é que tens
sorte, não tens nada a temer. Tens alguém que cuide de ti e te livre do perigo, não
tens que estar sempre a temer pela vida.
Narrador- O João ouviu aquilo e ficou muito triste, a borboleta tinha
razão. Afinal a vida dele não era assim tão má, comparada com a vida daqueles
pobres animais.
Decidiu então voltar para casa. Durante o regresso, o João olhou o sol e
disse:
João- E tu sol, será que és livre?
Narrador- O sol respondeu sorrindo:
Sol- Sim João eu sou livre, mas tu não ias querer ser como eu, porque eu
apesar de poder ver tudo, apesar de aquecer o mundo, não posso ser olhado pelas
pessoas durante muito tempo, não posso ter longas conversas, vivo muito sozinho.
João- Pois é, acabei de perceber que todos nós somos diferentes e temos
de viver com aquilo que temos. Todos temos problemas, mas os meus nada são
comparados com os vossos. O melhor mesmo é eu ir para casa, porque a minha
mãe ainda pode ficar preocupada.
Narrador- Antes que o João desaparecesse o Sol perguntou-lhe:
Sol- Oh João! Então a escola, vais continuar a faltar?
Narrador- O João respondeu com um grande sorriso no rosto:
João- Não, hoje aprendi muitas coisas, e uma deles é que todos nós temos
obrigações e todos nós temos que as cumprir.
Sol- Mas ir à escola não devia ser nenhuma obrigação. Aprender é uma
oportunidade que não devias desperdiçar.
João- Pois é, aprender é muito bom, os animais da quinta fizeram-me ver
isso.
Narrador- Depois de se despedir do sol o João continuou então a sua
caminhada de regresso. A partir desse dia o João nunca mais acordou com uma
cara de zangado e aprendeu a gostar daquilo que tinha, porque afinal era a vida
dele.
FIM
Estagiárias
Mat / Ciên
3º Ano
2001/2002
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