Software Livre – Algumas reflexões
Edwin Hübner
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Quando se fala em software livre, está se falando de uma categoria específica
de programas ou sistemas de computador. Categoria esta também conhecida pela sigla
FOSS (Free Open Source Software), ou OSS (Open Source Software). Embora já
bastante utilizado, ainda se observa, tanto por parte de pessoas, como por parte de
empresas ou instituições dúvidas e/ou questionamentos em relação ao software livre.
Apresentamos a seguir alguns aspectos para reflexão.
Muitas vezes software livre é confundido com software gratuito, denotando
dúvidas a respeito. Mesmo que ambos possam ser gratuitos, são, na verdade,
categorias diferentes. Talvez, em vez de software livre, deveríamos usar software
aberto, ou de código aberto, pois “freeware” do inglês poderia ser traduzido como
software livre, visto que “free” tanto pode ser “livre” como “gratuito” em português,
porém, software livre NÃO é “freeware” (software gratuito). O termo “livre” vem de
“liberdade”, entendendo-se como sendo o software que dá liberdade aos usuários para
o usarem e modificarem. Richard Stallman, fundador da “Free Sotware Foundation”,
afirma que software livre deve respeitar quatro liberdades básicas, que são: usar,
estudar, redistribuir e modificar, ou seja:
Liberdade de execução para qualquer fim e por qualquer pessoa física ou
jurídica (usar)
Liberdade para que o código seja analisado e adaptado às necessidades locais
(estudar)
Liberdade para repassar cópias para outros, ajudando assim outras
pessoas/instituições (redistribuir)
Liberdade para que seja aperfeiçoado e as modificações disponibilizadas, para
que toda a comunidade seja beneficiada (modificar)
A principal diferença entre software livre e software gratuito, portanto, consiste
no fato de que este último não pode ser estudado e nem modificado, pois o código
fonte fica em poder do autor ou da instituição que o desenvolveu. Por exemplo, o
WinSISIS é considerado software gratuito, mas não livre, pois não é distribuído com o
código fonte para que possa ser modificado.
A questão que se levanta muitas vezes é quanto à manutenção e suporte para
software livre. Neste sentido vale lembrar que a confiança não se apóia em uma
licença adquirida com direito a suporte, como no caso de software proprietário, mas se
baseia na comunidade de usuários e no compartilhamento de soluções, através de
listas de discussão e fóruns. Referindo se ao software livre PHP, Melo e Nascimento
afirmam: “Seu suporte é feito pelas comunidades que crescem dia a dia, tanto no
Brasil quanto ao redor do mundo. Estas comunidades são uma das melhores maneiras
de se obter suporte, trocar experiências e discutir idéias sobre a linguagem”. Portanto
o software livre pode ser até mais confiável do que o proprietário, pois o seu
desenvolvimento e manutenção são realizados de modo colaborativo por profissionais
e voluntários em todo o mundo e com mais know-how no seu conjunto do que
qualquer outro indivíduo que uma empresa possa contratar.
Alguém pode perguntar: software livre é sempre gratuito? Podemos afirmar
que, em geral, não requer pagamento para se obter uma cópia, mas isto não significa
que não tem custo envolvido. Alguém pagou ou investiu seu tempo para desenvolver e
o usuário precisa gastar tempo ou pagar alguém para estudá-lo, adaptá-lo ou modificálo. A principal vantagem, porém, é que o software livre passa a ser realmente seu,
como afirma Ricardo Bánffy: “Isso é importante: Quando você paga, você paga pelo
software. Você vira dono dele. Em vez de pagar caro (ou não) apenas pelo direito de
usar uma cópia de uma coisa que continua pertencendo a outra pessoa ou empresa. E
ai de você se esquecer que aquilo nunca foi seu. Pela primeira vez na história, o
software é seu, de verdade. Você pode levar para casa tudo, mas tudo mesmo, o que
comprou.”
Hoje em dia o software livre já está bem consolidado na área de software
básico, como sistemas operacionais (ex. Linux), SGBD’s (ex. PostgreSQL e MySQL)),
servidores Web (Ex. Apache) e linguagem de programação (ex. PHP), mas ainda há
pouca disponibilidade e uso de aplicativos de software livre, principalmente nas áreas
de biblioteconomia e documentação. Atendendo aos anseios da vasta comunidade
internacional de CDS/ISIS, foi desenvolvido durante os últimos anos o ABCD, uma
solução integrada de software livre para a automação dos serviços de bibliotecas e
centros de documentação, conforme consta na “Declaração do Rio para o futuro do
ISIS”, elaborada e divulgada no ISIS3 – III Congresso Mundial de Usuários ISIS,
realizado em setembro de 2008, quando foi apresentada a versão beta 0.1:
“A Família do Software ISIS foi agora incorporada ao enfoque de Software Livre e de Código
Aberto (FOSS), e o suporte às estruturas UNICODE para ser totalmente aberto e multilíngüe, o
que melhor se adapta ao mandato especial de promover a auto-suficiência, sustentabilidade e
criação de conhecimento compartilhado com bibliotecários e de trabalhadores da informação”.
O ABCD é fruto de um trabalho colaborativo, envolvendo pessoas de mais de
20 países, onde muitos colaboram de forma voluntária e gratuitamente. Vale destacar
que o trabalho colaborativo, além da possibilidade de se obter as melhores soluções,
pois um grupo possui mais informação (conhecimento) do que qualquer membro em
particular e, consequentemente, mais alternativas podem ser apresentadas para a
resolução de problemas, é gratificante e traz vantagens para todos.
Referências:
MELO, André Altair de e NASCIMENTO, Mauricio G.F. HP Profissional: Aprenda a
desenvolver sistemas profissionais orientados a objetos com padrões de objetos. São
Paulo: Novatec Editora Ltda, 2007.
Declaração do Rio sobre o futuro do Software ISIS. Disponível em 09/06/2011:
http://www.eventos.bvsalud.org/agendas/isis3/public/documents/Declaracao_Rio_Soft
ware_ISIS-171429.pdf
BÁNFFY, Ricardo – Quem paga a conta do software livre? Disponível em
09/06/2011:
http://www.portugal-a-programar.org/forum/index.php?topic=8635.0
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