Não há saída para o gás a curto prazo
Luiz Gonzaga Bertelli
Diretor de energia da Fiesp
Depois do apagão elétrico de 2001, o Brasil fez opção errônea pelas termelétricas,
movidas a gás natural importado da Bolívia. Desde então, o gás natural boliviano passou a
integrar a matriz energética brasileira, com a indução ao crescente consumo nas indústrias e
nos veículos. Em decorrência, o consumo passou a evoluir exponencialmente e sem o
adequado planejamento.
Com a falta do energético gasoso para as usinas térmicas (19 delas que gerariam 6.738
MW), haverá a imprescindibilidade de construção das hidrelétricas, cuja efetivação não agrada
aos ambientalistas ortodoxos. O Brasil consome diariamente 45 milhões de metros cúbicos de
gás natural. Metade é originária da Bolívia e empregada nas indústrias paulistas de maior
porte; outros 25% vão para as térmicas. O restante é direcionado para os veículos (GNV),
comércio e refinarias do petróleo.
Sem a oferta do gás boliviano, o governo examina a possibilidade de substituir o
combustível pelo diesel, óleo combustível ou carvão mineral importado, soluções mais caras,
além de altamente poluentes. Com a eventual adoção desses combustíveis fósseis, o Brasil
ficará na contramão da história, quando o universo está cada vez mais preocupado com o
efeito estufa e a redução do CO².
Desde 1º de maio de 2006, a Petrobras recebe ameaças dos sindicalistas da Bolívia, que
desejam a definitiva suspensão das exportações do gás, culminando com o aumento do preço.
O tom amistoso até recentemente mantido entre as diplomacias brasileira e boliviana poderá
sofrer alterações, eis que a Bolívia pretende expropriar as refinarias da Petrobras instaladas
no solo daquela nação.
Com efeito, os grupos políticos que lideram as manifestações contrárias à Petrobras não
têm comprometimento com a diplomacia boliviana. Desgostoso com a postura boliviana, o
presidente Lula ameaça o governo de Evo Morales com retaliações econômicas e a ida às
cortes internacionais, caso a Petrobras não seja paga com os preços de mercado pelas suas
unidades de refino no vizinho país.
Os analistas ponderam que, na hipótese de ocorrer interrupções nas importações do gás
boliviano, haverá inevitável racionamento do produto, que vai prejudicar, sensivelmente, as
indústrias e a frota de veículos movida a GNV. Para a diretoria de gás da Petrobras, a saída
encontrar-se-ia na importação de diversos fornecedores mundiais do gás natural liquefeito
(GNL), transportado por navios especiais criogênicos, onde seriam incorporadas unidades de
regaseificação. Tais barcos vão precisar de terminais marítimos e transporte terrestre,
também especiais, para o descarregamento, além do GNL ser muito caro.
Paralelamente, seria intensificada a extração do combustível gasoso das bacias
brasileiras, como as do Espírito Santo e Santos. Ao que tudo indica, a questão com a Bolívia
persistirá por razoável período, redundando na interrupção do gás natural para o Brasil, além
de ser implantado o plano de contingência coordenado pelo governo.
Com a preterição das hidrelétricas pelo Ibama, desprezo à biomassa (bagaço da cana),
falta de preços remuneradores à energia nova gerada e limitada oferta do gás natural
brasileiro ou importado, não existirão mais condições para atender à demanda energética
pretendida pelo governo, indispensável ao ambicionado crescimento econômico. Em eólica,
não há fabricantes no país de equipamentos, e a legislação exige que 60% sejam nacionais.
Nos últimos quatro anos, enquanto as nações em desenvolvimento vêm crescendo mais de
7% ao ano, o Brasil vem trotando em torno de 3%.
Não há, contudo, o risco de falta de energia pelo menos até 2010/2011, em virtude do
grande volume de água armazenada nos reservatórios das usinas hidrelétricas, embora o
consumo continue alto (51 mil MW médios), decorrente das temperaturas altas e maior uso
de ar-condicionado e eletrodomésticos. Hoje, o Brasil conta com 54 mil MW médios de energia
assegurada. Ainda, temos 4 mil MW de folga no sistema. Em março deste ano (dia 28)
alcançamos a demanda de 65 mil MW. No mês de abril, os dados apontaram crescimento de
9% na carga de energia elétrica, quando comparada com o mesmo mês do ano passado.
Jornal CORREIO BRAZILIENSE
http://www.exercito.gov.br/Resenha - Acessado em 04/06/2007
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