UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
TUANE PONTES SIQUEIRA DA SILVA
CONTRIBUIÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM PLUVIAL PARA A CONDIÇÃO DE
BALNEABILIDADE NA PRAIA DO BALNEÁRIO ARROIO DO SILVA, SC
CRICIÚMA, 2010
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TUANE PONTES SIQUEIRA DA SILVA
CONTRIBUIÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM PLUVIAL PARA A CONDIÇÃO DE
BALNEABILIDADE NA PRAIA DO BALNEÁRIO ARROIO DO SILVA, SC
Trabalho de Conclusão de Curso III, apresentado
para obtenção do grau de Bacharel no Curso de
Ciências Biológicas da Universidade Extremo Sul
Catarinense – UNESC.
Orientadora: Prof. MSc. Nadja Zim Alexandre
Co-orientadora: Prof. MSc. Jacira Silvano
CRICIÚMA, 2010
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“A água faz parte do patrimônio do planeta, cada
continente, cada povo, cada nação, cada região, cada
cidade, e cada cidadão é plenamente responsável aos olhos
de todos.”
Declaração Universal dos Direitos da Água
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AGRADECIMENTOS
À Deus em primeiro lugar, pelo dom da vida e por me conceder uma família
linda, por me atender quando eu chamo, por me ensinar a viver.
Aos meus pais, por acreditarem que eu posso, que eu consigo e por me
concederem amor eterno.
A minha família pelo apoio, pela paciência, pelo amor, pela amizade.
À minha amiga Francielle Mina Gonçalves, por estar sempre ao meu lado em
todos os momentos, por fazer parte da minha vida, por me fortalecer.
A todos os meus amigos, por estarem ao meu lado em todos os momentos e pelas
aventuras inesquecíveis.
À minha Orientadora MSc. Najda Zim Alexandre, por me ajudar em todos os
momentos, por fornecer seu conhecimento e pela paciência.
À minha Co-orientadora MSc. Jacira Silvano, pela ajuda na execução do trabalho.
Aos professores da banca examinadora.
À FATMA (Fundação do Meio Ambiente) pelo fornecimento dos dados aplicados
no trabalho.
Obrigada!
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localização da área de estudo. Balneário Arroio do Silva, SC................................21
Figura 2 - Localização do Lago Dourado (em azul) e da região de banhados (em vermelho) no
Município de Balneário Arroio do Silva, SC. Fonte: Google Earth, imagem de
novembro/2005.........................................................................................................................22
Figura 3 – Contribuição significativa de drenagem pluvial para a área de banho no Município
de Balneário Arroio do Silva, SC............................................................................................ 24
Figura 4 - Localização das estações de amostragem. Balneário Arroio do Silva, SC. Fonte:
Google Earth, imagem de novembro/2005...............................................................................24
Figura 5 – Diluição serial (10 ml, 1,0 ml e 0,1 ml) para determinação do NMP/100mL de
organismos do tipo coliformes. Fonte: IPAT/UNESC, 2010...................................................27
Figura 6 – Série de tubos com caldo lauril sulfato de sódio bili 2% lactosado, onde se observa
no primeiro tubo a reação negativa e no segundo tubo a reação positiva com turvação do meio
e formação de bolha de ar no interior do tubo de Duran. Fonte: IPAT/UNESC, 2010.........29
Figura 7 – Resultado positivo (com turvação) e negativo (sem turvação) para teste
confirmativo de coliformes, onde: a) caldo verde brilhante (coliformes totais) e b) caldo EC
(coliformes fecais ou termotolerantes). Fonte: IPAT/UNESC, 2010......................................30
Figura 8 - Concentração de coliformes fecais (NMP/100mL) e condições de balneabilidade na
praia do Arroio do Silva (área de banho) no período de 1998 a 1999. Fonte:
FATMA/UNESC, 1999............................................................................................................31
Figura 9 - Concentração de coliformes fecais (NMP/100mL) e condições de balneabilidade na
foz do córrego Arroio do Silva (equivale ao P2 deste trabalho) no período de 1998 a 1999.
Fonte: FATMA/UNESC, 1999.................................................................................................32
Figura 10 - Representação do NMP de coliformes totais e fecais nas campanhas de verão e
inverno, onde no eixo x as estações de amostragem encontram-se na sequência Norte – Sul;
eixo y encontra-se em escala logarítmica e representa a contagem de bactérias em
NMP/100mL.............................................................................................................................35
Figura 11 – Resultados obtidos na contagem de coliformes totais e fecais no verão (alta
temporada), valores em NMP/100mL.......................................................................................37
Figura 12 – Precipitação pluviométrica registrada na campanha do verão (alta temporada)
representada em milímetros em 24hs, onde o círculo vermelho destaca o dia da
amostragem...............................................................................................................................38
Figura 13 - Resultados obtidos na contagem de coliformes totais e fecais no inverno (baixa
temporada), valores em NMP/100mL.......................................................................................38
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Figura 14 - Precipitação pluviométrica na campanha de inverno, representada em milimetros
em 24hs, onde o círculo vermelho destaca o dia da amostragem.............................................39
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Número mais provável de bactérias (NMP) em 100 mL de amostra, com limite de
confiança de 95% para várias combinações de resultados positivos quando 5 tubos são usados
para
cada
diluição
(10
ml,
1,0
ml
e
0,1
ml).............................................................................................................................................26
Tabela 2 – Resultados obtidos nas campanhas de verão (17/02/2010) e inverno (25/08/2010)
nos pontos localizados no córrego (Arroio do Silva) a montante (ponto 1) e próximo à foz
(ponto 2)....................................................................................................................................33
Tabela 3 – Contagem de coliformes totais e fecais (em NMP/100mL) nas drenagens pluviais
da orla do Balneário Arroio do Silva, onde P2 refere-se a amostragem realizada na foz do
arroio.........................................................................................................................................34
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Localização e descrição dos pontos amostrados.....................................................25
Quadro 2 - Pontos de monitoramento e condições de balneabilidade no município de
Balneário Arroio do Silva nos meses de fevereiro e agosto. Dados obtidos no período de 2007
e 2010 (FATMA, 2010)............................................................................................................33
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RESUMO
O município de Balneário Arroio do Silva localizado no litoral sul de Santa Catarina tem o
turismo como uma das suas principais atividades econômicas. Por ser uma cidade litorânea, a
população durante a temporada de verão aumenta consideravelmente, passando de 8.000 para
70.000 habitantes, ocasionando o aumento da poluição de origem doméstica. Por esta razão, a
FATMA – Fundação do Meio Ambiente, por meio do seu Programa de Balneabilidade tem
registrado pontos impróprios para o banho naquele município. A área central da cidade é
drenada por um pequeno córrego que recebe o nome de Arroio do Silva. A falta de rede
coletora e de estação de tratamento de esgoto faz com que a população busque alternativas
próprias para a disposição destes despejos. Assim, em praticamente todo o território
municipal, é comum o uso de fossas sépticas instaladas em série com sumidouros cuja função
é infiltrar o esgoto decantado no solo. Situação ainda mais grave do ponto de vista ambiental
ocorre quando a população utiliza a rede de drenagem pluvial e até mesmo o próprio córrego
que atravessa o centro da cidade, para o descarte clandestino do despejo doméstico. Esse
trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade da água que chega à orla através da drenagem
pluvial, visando verificar se esta é uma das formas de contaminação daquele balneário. Foram
realizadas duas campanhas de amostragem (alta e baixa temporada) em oito estações de
monitoramento onde se concluiu que a densidade de bactérias do grupo coliforme encontra-se
em número bem superior aquele recomendado pelo CONAMA - Conselho Nacional do Meio
Ambiente. A pesquisa permitiu constatar que mesmo na baixa temporada a carga de
contaminante chega à orla marítima tanto pela drenagem pluvial quanto pela descarga do
córrego Arroio do Silva, embora os dados obtidos na coleta realizada na alta temporada
registraram maior nível de contaminação.
Palavras-chave: Poluição da água, bactérias termotolerantes, condição de banho.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................11
1.1 Poluição das águas..........................................................................................13
1.2 Balneabilidade................................................................................................ 17
2 OBJETIVOS..........................................................................................................................20
3 MATERIAS E MÉTODOS.................................................................................................. 21
3.1 Descrição da Área de Estudo......................................................................... 20
3.2 Seleção dos pontos de amostragem ...............................................................23
3.3 Análises Laboratoriais - Exames Bacteriológicos ........................................26
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................... 31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ......................................................41
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 43
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1 INTRODUÇÃO
A fragilidade do nosso ecossistema é um dos fatos mais discutidos nas empresas,
nas escolas, em projetos de pesquisa, em todo e qualquer lugar, com o objetivo de construir
uma solução viável para a melhoria da qualidade do meio ambiente. O ambiente marinho é
um dos nossos maiores bens, e deve ser preservado, no entanto é um dos mais afetados
principalmente por ações humanas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que 97,5% de toda a água do
planeta são constituídos de água salgada que se encontra nos oceanos. Já 2,493% são
constituídos de água doce de difícil acesso por estar nas geleiras ou em depósitos
subterrâneos. Somente 0,007% de toda a água da terra é constituída de água doce, considerada
de fácil acesso por ser encontrar em rios e lagos (FREITAS, 2008).
Os oceanos são os maiores reservatórios de água no nosso planeta e de acordo
com Grassi (2001), constituem-se na maior fonte de vapor d’água que aporta no ciclo
hidrológico. Grandes acumuladores do calor oriundo do sol, os oceanos desempenham um
papel fundamental no clima da Terra. Freitas (2008) complementa, citando que a água do mar
será, em breve, utilizada como fonte alternativa desse recurso vital para manutenção da vida
sobre o planeta. A dessalinização é uma alternativa que já vem sendo bastante utilizada em
países do Oriente Médio como Israel ou o Kuwait. Embora ainda seja uma solução cara, seu
preço já diminuiu bastante (CORRÊA, 2009).
As zonas costeiras representam uma pequena parte da área e do volume dos
oceanos. No entanto, a sua importância como interface entre a terra e o mar é enorme
(DUARTE; GUERREIRO, et al 2007). A Zona Costeira brasileira se estende por uma faixa
de 8.698 km de extensão e largura variável, onde são encontrados ecossistemas contíguos
sobre uma área de aproximadamente 388 mil km² (FREITAS, 2008).
As zonas costeiras garantem uma série de serviços essenciais ao homem, uma vez
que são as mais produtivas dos oceanos, fornecendo alimentos através da pesca e da
aquacultura, proporcionando locais de lazer, além de se constituir na interface dos transportes
marítimos. Em função disso, mais de 60% da população humana vive a menos de 60 km do
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mar, fazendo com que este se torne o receptor final de grande parte da poluição produzida
pelo homem, que atinge o mar através de fontes pontuais e difusas (TUNDISI, 2003).
O usufruto deste serviço reflete uma grande pressão sobre os recursos naturais das
zonas costeiras, principalmente no caso dos sistemas lagunares e dos estuários, que são mais
procurados pelo homem devido as condições de abrigo natural e de grande produtividade
biológica (DUARTE; GUERREIRO, et al 2007).
A zona costeira brasileira merece uma atenção especial, tanto pela diversidade de
ecossistemas nesse espaço geográfico, quanto pelo fato de concentrar mais de 20% da
população brasileira e reunir parcela de conflitos sócio-ambientais na apropriação e uso dos
recursos naturais (SILVA, 2006).
O mesmo autor relata ainda que as várias formas de ocupação e uso do solo na
zona costeira, a diversidade de atividades humanas aí desenvolvidas e os diversos quadros
naturais fazem com que o planejamento territorial seja um instrumento fundamental na
definição do futuro desse espaço em busca da construção da sustentabilidade urbana.
Dada a extensão territorial do país, as bacias hidrográficas brasileiras apresentam
uma grande diversidade de espécies da fauna e da flora aquática (SANTOS, et al, 2005).
Segundo Grassi (2001), um importante reservatório são os mangues, nos quais o nível do
lençol freático se encontra praticamente na superfície.
O mesmo autor aponta que, os ecossistemas marinhos suportam uma vasta
população de plantas e animais, constituindo-se em berçários bastante importantes para a vida
selvagem, como é o caso das baleias francas na costa catarinense. (...) Ao findar-se o verão, as
baleias francas deixam as áreas de alimentação nas latitudes mais frias e buscam as regiões
costeiras onde se concentram para o acasalamento, a parição e amamentação dos filhotes
nascidos no ano subseqüente à fecundação (Projeto Baleia Franca, 2001).
Santos, et al (2005) ainda ressalta que, preservar a qualidade da água superficial e
subterrânea representa, também, preservar essa rica biodiversidade, um dos maiores objetivos
das políticas de gestão do meio ambiente.
A saúde, o bem-estar e, em alguns casos, a própria sobrevivência da população
costeira depende da saúde e das condições dos sistemas costeiros, incluídas as áreas úmidas e
regiões estuarinas, assim como as correspondentes bacias de recepção e drenagem e as águas
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interiores próximas à costa, bem como o próprio sistema marinho. Em síntese, a
sustentabilidade das atividades humanas nas Zonas Costeiras depende de um meio marinho
saudável e vice-versa (TUNDISI, 2003); sendo que o gerenciamento deste universo implica,
fundamentalmente, na construção de um modelo cooperativo entre os diversos níveis e setores
do governo, e deste com a sociedade, lembrando que a conscientização ambiental assume,
ainda, dimensões do conhecimento jurídico, social, psicológico, histórico e pedagógico, que
estão ligadas ao comportamento ambiental humano (GOUVÊA; VIEIRA, 2006).
1.1 Poluição das águas
A Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, define a poluição como, a
degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou
indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente; ou lancem matérias ou energia em desacordo
com os padrões ambientais estabelecidos (BRASIL, 1981).
As principais fontes de poluição das águas podem ser tanto naturais quanto
conseqüências da atividade humana. Segundo Nemetz (2004) quando a fonte da poluição é de
origem natural geralmente decorre da erosão, desagregação de rochas, gases dissolvidos ou
solúveis, material orgânico em vários estágios de biodegradação, microorganismos e
partículas minerais. O mesmo autor complementa, citando o escoamento superficial e a
salinização.
As fontes de poluição provenientes da atividade do homem compreendem os
esgotos domésticos, despejos industriais e agropastoris e resíduos sólidos. Na poluição
doméstica, os esgotos sanitários, originários das habitações, são provenientes de instalações
sanitárias, lavagem de utensílios domésticos, pias, banheiros, lavagem de roupas, entre outros,
e são os responsáveis pelo material orgânico decomposto, material orgânico parcialmente
degradado, microorganismos, detergentes, entre outros (NEMETZ, 2004).
Segundo Gonçalves e Souza (1997) em mar aberto o esgoto doméstico não
apresenta grande influência nas modificações da flora e fauna bentônicas, desde que os
movimentos e as bactérias marinhas se encarregam de dispersá-los e abatê-los.
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Mas Silva (2006) afirma que, a falta de sistemas de coleta e tratamento adequados
é grande, (...), tornando a maioria dos corpos d’água receptores e veículos de transporte de
despejos in natura. Ao desaguarem no mar esses corpos d’água podem, em determinadas
circunstâncias, comprometer a balneabilidade das praias, tornando-as impróprias à recreação
de contato primário. (...) Isso ocorre, sobretudo no verão, pelo aumento do contingente
populacional e o consequente aporte de efluentes de origem doméstica. A disposição oceânica
de efluentes domésticos e industriais está cada vez mais difundida no litoral. (...) A disposição
final de resíduos sólidos tem sido um fator de interferência no meio ambiente litorâneo,
afetando praias, cursos d’água e águas costeiras, implicando em e trazendo riscos à saúde
pública com agravamento do quadro durante a temporada, quando a geração de resíduos
sólidos aumenta em até seis vezes em relação aos demais períodos do ano. Com isso, é grande
a quantidade de resíduos que se convertem em lixo marinho, geralmente constituído por
plásticos, vidros, borrachas, metais, papéis, madeiras e tecidos, cada qual com diferentes
graus de permanência e persistência no ambiente, de acordo com seu processo de
biodegradação.
Considerando que grande parte da população vive em zonas costeiras, e que há
uma tendência permanente de aumento da concentração demográfica nessas regiões, o
lançamento direto ou indireto de efluentes domésticos e a incidência de doenças de veiculação
hídrica tende a aumentar. Com grande concentração urbana no litoral, é inevitável que haja no
Brasil uma pesada poluição orgânica da região litorânea (SALES, 2006).
A Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, define como poluidor, a pessoa
física ou jurídica, de direito publico ou privado, responsável, indireta ou diretamente, por
atividade causadora da degradação ambiental (BRASIL, 1981)
Segundo FREITAS (2008), a tutela penal dos mares é feita especialmente pela Lei
9.605, de 12.02.1998, comumente conhecida como lei dos crimes ambientais. O art. 54
considera crime, punido de 01 a 04 anos e multa, a “poluição de qualquer natureza em níveis
tais que possam resultar em danos á saúde humana, ou que provoque a mortandade de
animais ou a destruição significativa da flora”.
A falta de saneamento básico é hoje o maior responsável pela poluição
generalizada de rios, lagos, represas, estuários, praias e lençóis subterrâneos no País dado que,
na grande maioria dos casos, ou não existe tratamento de esgotos ou ele é feito de forma
muito ineficiente (SANTOS, et al, 2005).
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A drenagem adequada da água pluvial é parte integrante do saneamento básico, e
segundo Neto (2005) as águas pluviais ao atingirem solo, irão escoar, infiltrar ou ficar
armazenada na camada mais superficial do solo, independente da existência, ou não, de um
sistema de drenagem adequado. Se o armazenamento natural for eliminado pela implantação
de uma rede de drenagem sem a adoção de medidas compensatórias eficientes, o volume
eliminado acabará sendo conduzido para outro local. Em outras palavras, os canais, as
galerias e os desvios deslocam a necessidade de espaço para outros locais, ou seja,
transportam o problema para jusante.
A composição da água da chuva tem grande influência sobre a qualidade das
águas superficiais, contribuindo com uma série de elementos de outras regiões como nitratos
trazidos de regiões distantes de pólos industriais (PORTO, 1991).
Segundo Tucci (1997), a precipitação pluviométrica é entendida como toda água
proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre, sendo a chuva o tipo de
precipitação mais importante dentro da hidrologia. Quando a intensidade de precipitação
excede a capacidade de infiltração do solo, dá-se início ao escoamento superficial, cuja água
pode ser armazenada em reservatórios superficiais para atender a necessidades diversas e, ou
atingir rios e o mar (MOURA, et al, 2007).
A forte intensidade de chuvas faz com que ocorram enchentes, e é nessas horas
que o sistema de drenagem pluvial exerce seu papel, captando essas águas, para que não haja
um acúmulo nas ruas e vários outros locais.
Porto (1991) afirma que, a composição da chuva varia com a localização
geográfica do ponto de amostragem, com as condições meteorológicas (intensidade, duração e
tipo de chuva, regime de ventos, estação de ano, etc.), com a presença da vegetação e também
com a presença de carga poluidora regional.
Corpos d’água contaminados por esgotos domésticos, por exemplo, ao atingirem
as águas das praias podem expor os banhistas a bactérias, vírus e protozoários. Crianças,
idosos, bem como pessoas com baixa imunidade, podem vir a desenvolver doenças ou
infecções após terem se banhado em água contaminada. Assim, a composição microbiológica
das águas recreacionais está associada a problemas relacionados também à saúde pública
(SALES, 2006).
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A doença mais comum associada à água poluída por esgoto é a gastroenterite.
Esta doença ocorre numa grande variedade de formas e pode apresentar um ou mais dos
seguintes sintomas: enjôo, vômitos, dores de estômago, diarréia, dor de cabeça e garganta
(VON SPERLING, 2005). Em locais muito contaminados, os banhistas podem estar expostos
a doenças mais graves como, disenteria, hepatite, cólera e febre tifóide. Outras doenças menos
graves incluem dermatoses e infecções nos olhos, ouvidos, nariz e garganta (SALES, 2006).
O grupo coliforme consiste de alguns gêneros de bactérias que pertencem à
família Enterobacteriaceae. A classificação dos coliformes segundo Geus e Lima (2008),
apresenta o grupo de Coliformes totais que inclui as bactérias na forma de bastonetes Gramnegativos, não esporogênicos, aeróbios ou aeróbios facultativos, capazes de fermentar a
lactose com produção de gás, em 24 a 48 horas em temperatura de 35o C. Existem cerca de 20
espécies, dentre as quais se encontram tanto bactérias originárias do trato intestinal de
humanos e outros animais de sangue quente.
As bactérias termotolerantes pertencem ao grupo dos coliformes totais e são
caracterizadas pela presença da enzima ß-galactosidade e pela capacidade de fermentar a
lactose com produção de gás em 24 horas à temperatura de 44 a 45°C em meios contendo sais
biliares ou outros agentes tensoativos com propriedades inibidoras semelhantes (BRASIL,
2001). Entre as bactérias termotolerantes encontram-se as bactérias que são consideradas
estritamente de origem fecal (E.Coli) (Von Sperling, 2005).
Assim, as bactérias termotolerantes incluem aquelas presentes em fezes humanas
e de animais e outras consideradas de vida livre, podendo ser encontradas em solos, plantas
ou quaisquer efluentes contendo matéria orgânica (Von Sperling, 2005).
Em função disto, o índice de coliformes fecais é empregado como indicador de
contaminação fecal, ou seja, de condições higiênico-sanitárias deficientes, visto presumir-se
que a população deste grupo é constituída de uma alta proporção de E. coli, que tem seu
habitat exclusivo no trato intestinal de animais de sangue quente.
Escherichia coli (E.Coli) bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae
caracterizada pela atividade da enzima-glicuronidase. Produz indol a partir
do aminoácido triptofano. É a única espécie do grupo dos coliformes
termotolerantes cujo habitat exclusivo é o intestino humano e outros animais
homeotérmicos, onde ocorrem em densidades elevadas (MIERZWA;
HESPANHOL, 2005).
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A presença destas bactérias no ambiente indica a possibilidade de ocorrerem
outros microrganismos entéricos na amostra, por isso são relatados por alguns sanitaristas
como organismos indicadores de contaminação (BRANCO, 1986).
Segundo Von Sperling (2005) as espécies de patogênicos são inúmeras e cada
uma necessita de uma técnica específica de análise.
O mesmo autor lembra que os coliformes fecais e a espécie E. Coli são bactérias
que vivem nos intestinos de animais homeotérmicos, portanto, eles não são causadores de
doenças. Por outro lado, por existirem em tão grande número estes formam boa parte do
volume fecal, o que possibilita o uso destes organismos como indicadores de contaminação
fecal.
Branco (1986) informa que cada adulto expele normalmente junto com as fezes,
um número situado entre 50 e 400 bilhões de bactérias coliformes do tipo fecal ou E.Coli.
Desta forma percebe-se que a proporção entre a população de organismos coliformes e
organismos patogênicos nos esgotos é bastante discrepante, tendo em vista que apenas uma
pequena parcela da população é portadora de organismos patogênicos.
Uma vez que estes organismos se reproduzem apenas em seu habitat natural, ou
seja, no intestino dos homeotérmicos, e ainda que, fora deste ambiente o tempo de vida é
relativamente curto, em torno de algumas horas (ESTEVES, 1998), a presença de coliformes
fecais ou E. Coli indica obrigatoriamente a presença de matéria intestinal. Conforme
mencionado por Von Sperling (2005) devido ao elevado número em que se encontram, é
impossível que a presença de material fecal, ainda que extremamente diluída em água, não
seja revelada pela presença dos coliformes fecais ou E. Coli.
1.2 Balneabilidade
A balneabilidade é definida pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente - Conama,
através da Resolução nº 274, de 29 de novembro de 2000, Art. 2º, como a condição das águas
doces, salobras, e salinas destinadas à recreação de contato primário (SANTA CATARINA,
2005), sendo este entendido como contato direto e prolongado com a água (natação,
mergulho, esportes aquáticos e outros), onde a possibilidade de ingerir quantidade apreciável
de água é elevada (SALES, 2006).
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No Brasil as ações empregadas para garantir o Índice de Balneabilidade, estão
juridicamente ligadas aos programas de Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA,
Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH e ao Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro - PNGC. Com relação à qualidade das águas marinhas e salobras, há duas resoluções
do Conama que tratam do assunto: a Resolução 357/05 que define o sistema de classificação
das águas doce, salobra e salgada e fixa padrões máximos para os principais poluentes; e a
Resolução 274 de 29 de novembro de 2000, específica sobre balneabilidade (MORAES;
SAMPAIO FILHO, 2009).
Nos critérios estabelecidos pelo Conama as águas doces, salobras e salinas
destinadas à recreação de contato primário terão sua condição avaliada nas categorias própria
e imprópria. A categoria de qualidade “própria” é subdividida em: (...) Excelente: quando em
80% ou mais de um conjunto de amostras, houver no máximo, 250 coliformes fecais
(termotolerantes) por l00 mililitros; (...) Muito Boa: quando em 80% ou mais de um conjunto
de amostras, houver no máximo, 500 coliformes fecais (termotolerantes) por 100 mililitros e
(...) Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras, houver no máximo
1.000 coliformes fecais (termotolerantes) por 100 mililitros (BRASIL, 2001).
Ainda conforme estabelece Brasil (2001), caso no local avaliado não for
verificado o atendimento aos critérios estabelecidos para as águas próprias em termos do
número de coliformes fecais, ou ainda se, o valor obtido em uma única amostragem for
superior a 2500 coliformes fecais (termotolerantes) por 100 mililitros, a condição da água
analisada será considerada imprópria.
Como forma de simplificar a divulgação dos resultados das condições de
balneabilidade, as águas de recreação têm suas condições avaliadas nas categorias própria ou
imprópria, de acordo com as densidades de coliformes termotolerantes (fecais), Escherichia
coli ou Enterococcus (estreptococos fecais, estreptococos do grupo D) somente para águas
marinhas, resultantes de análises feitas em cinco semanas consecutivas (MORAES;
SAMPAIO FILHO, 2009).
Mesmo apresentando baixas densidades de coliformes fecais, uma praia pode ser
classificada na categoria imprópria quando ocorrerem circunstâncias que desaconselhem à
recreação de contato primário, tais como: a presença de óleo provocada por derramamento
acidental de petróleo; ocorrência do fenômeno de maré vermelha; sinais de poluição por
esgoto, perceptíveis pelo olfato ou visão; presença de parasitas que afetem o homem ou a
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constatação de seus hospedeiros; e pH menor que seis ou maior que nove (SANTA
CATARINA, 2005).
A Fundação do Meio Ambiente (FATMA) é o órgão ambiental responsável por
monitorar, o estado de Santa Catarina. A pesquisa de balneabilidade é um trabalho realizado
sistematicamente pela FATMA, desde 1976, seguindo as normas da Resolução CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente. Ele começa com a coleta de amostras da água do mar
em mais de 180 pontos dos 500 quilômetros da costa catarinense. A FATMA seleciona esses
pontos de tal forma que todo o litoral seja avaliado, concentrando as coletas justamente nos
locais mais suscetíveis de poluição - os de maior fluxo de banhistas. As coletas são feitas
mensalmente de março a novembro e semanalmente de dezembro a fevereiro - o pico da
temporada de Verão (FATMA, 2008).
As condições de balneabilidade são divulgadas no respectivo local, através de
placas sinalizadoras, instaladas nos locais onde ocorre a amostragem e indicando a qualidade
da água para o banho (FATMA, 2008).
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2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Avaliar a contribuição do sistema de drenagem pluvial para a condição de
balneabilidade na praia do Balneário Arroio do Silva, SC.
2.2 Objetivos Específicos
 Realizar levantamento em campo para identificar os principais pontos de contribuição
de drenagem pluvial para a praia;
 Realizar amostragem em drenagens de água pluvial contribuintes para zona de banho;
 Determinar o número mais provável de coliformes totais e fecais nas amostras;
 Comparar a densidade da contaminação na drenagem pluvial nos períodos de inverno
e de verão.
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3 MATERIAS E MÉTODOS
3.1 Descrição da Área de Estudo
O município de Balneário Arroio do Silva localiza-se no litoral sul de Santa
Catarina entre as coordenadas 28º59'00.67" S 49º24'46.54"O (Figura 1). Com economia
fundamentada na atividade turística, tem a alta temporada no período de verão, época com
maior faturamento econômico por parte das empresas instaladas no município. Além do
turismo, destacam-se também a pecuária, pesca artesanal na baixa temporada, extração e
industrialização de adubos a base de turfa, produção de mel, artesanato e o comércio varejista
em geral (PREFEITURA MUNICIPAL DE BALNEÁRIO DO ARROIO DO SILVA, 2010).
Figura 1 - Localização da área de estudo. Balneário Arroio do Silva, SC.
22
Por ser uma cidade litorânea, a população durante a temporada de verão aumenta
consideravelmente, passando de 8.000 para 70.000 habitantes, ocasionando o aumento da
poluição de origem doméstica. A área central da cidade é banhada por um pequeno córrego
que recebe o nome de Arroio do Silva (PREFEITURA MUNICIPAL DE BALNEÁRIO DO
ARROIO DO SILVA, 2010).
A população que frequenta o município no período de alta temporada, tem por
hábito se concentrar na porção central da orla marítima, nas proximidades do Posto de SalvaVidas. As ruas e avenidas centrais do município são bem estruturadas e construídas de forma
a facilitar o escoamento superficial em época de precipitação pluviométrica mais intensa,
condição esta que facilita o descarte clandestino das águas residuais domésticas.
Além disso, a área urbana do Balneário Arroio do Silva localiza-se entre uma
extensa área de banhados naturais e o Oceano (Figura 2), o que faz com que o lençol freático
se encontre muito próximo à superfície, ou seja, é praticamente aflorante.
Figura 2. Localização do Lago Dourado (em azul) e da região de banhados (em vermelho) no
Município de Balneário Arroio do Silva, SC.
23
Carvalho e Ozorio (2007) colocam banhados como, áreas constantemente ou
provisoriamente alagadas, de solo saturado e rico em matéria orgânica de origem vegetal que
resulta num ambiente físico-químico particular, colonizado por uma biota também particular
adaptada morfologicamente e fisiologicamente ao hidroperíodo do sistema. São ecossistemas
sensíveis e muito vulneráveis à poluição.
Os mesmos autores ainda colocam que, os banhados podem ter comunicação
direta com outros corpos hídricos, desenvolvendo-se na planície de inundação, ligando-se
com lagoas e rios apenas no período das cheias, ou até serem isolados (CARVALHO;
OZORIO, 2007).
A FATMA (Fundação do Meio Ambiente) realiza o monitoramento das condições
de balneabilidade no balneário de Arroio do Silva, pertencente ao município de Araranguá
desde 1992. Naquela ocasião, era monitorado um único ponto na zona de banho, localizado
nas proximidades do único posto de guarda-vidas, a 100 metros do local onde o córrego
Arroio do Silva deságua no Atlântico (FATMA, 2008).
3.2 Seleção dos pontos de amostragem
Em excursões realizadas em campo para a realização da presente pesquisa, foram
identificados os pontos mais significativos de drenagem pluvial, ou seja, os locais onde
durante todo o ano se constata o fluxo contínuo, exceto em ocasiões de estiagem prolongada.
A Figura 3 mostra um destes locais de amostragem e representa o que foi considerado neste
estudo como contribuição significativa de drenagem pluvial.
24
Figura 3 – Contribuição significativa de drenagem pluvial para a área de banho no Município de
Balneário Arroio do Silva, SC.
Com base neste critério, foram selecionadas seis estações de amostragem que
representam a drenagem pluvial do município (P3 a P8) e duas estações localizadas no
córrego denominado Arroio do Silva (P1 e P2), conforme mostra a Figura 4.
Figura 4 - Localização das estações de amostragem. Balneário Arroio do Silva, SC. Fonte:
Google Earth, imagem de novembro/2005.
25
O Córrego denominado de Arroio do Silva recebe contribuição do sistema de
drenagem pluvial da área central do município. Em função da ausência de sistema de coleta e
tratamento de esgoto, estes são despejados também, de forma irregular, neste córrego.
No Quadro 1 são apresentadas as coordenadas geográficas das estações de
monitoramento codificadas como P1 a P8, assim como uma breve descrição da localização
destas estações.
Quadro 1 - Localização e descrição dos pontos amostrados
Coordenadas Geográficas
Código da
Estação
LATITUDE
LONGITUDE
Descrição da Estação
P1
28°59'8.51"S
49°24'57.53"O
Córrego Arroio do Silva na altura da Rua Santa
Catarina.
P2
28°59'17.00"S
49°24'42.27"O
Córrego Arroio do Silva próximo à sua foz, na
Avenida Mondardo (atrás do Chapelão).
P3
28°59'5.33"S
49°24'30.16"O
Drenagem superficial 500 metros à esquerda da
foz do Arrio do Silva, na Avenida Otávio Ranir
do Canto.
P4
28°58'43.41"S
49°24'7.74"O
Drenagem superficial a 900 metros à esquerda do
P3, na esquina da Avenida Beira Mar com a Rua
Vinte e Três.
P5
28°58'11.17"S
49°23'33.17"O
Drenagem superficial a 1400 metros à esquerda
do P4, na esquina da Avenida Beira Mar com a
Rua Quarenta e Três.
P6
28°59'29.66"S
49°24'55.98"O
Drenagem superficial 500 metros à direita da foz
do Arrio do Silva, na Avenida Passo Fundo.
P7
28°59'36.20"S
49°25'2.89"O
Drenagem superficial a 270 metros à direita do
P6, na altura da Rua Araranguá
P8
28°59'44.06"S
49°25'10.80"O
Drenagem superficial a 300 metros à direita do
P7, na altura da Rua Tubarão.
Foram realizadas duas campanhas de amostragem com objetivo de se verificar a
influência da população flutuante (turistas). A primeira campanha foi realizada na alta
temporada, no dia 17 de fevereiro de 2010 e a segunda, em 25 de agosto de 2010 (baixa
temporada).
26
O levantamento de dados históricos da evolução das condições de balneabilidade
do Município de Balneário Arroio do Silva foi realizado no site da FATMA
(www.fatma.sc.gov.br), onde constam os resultados dos boletins de análise de 2007 a 2010.
Para comparação com os resultados deste trabalho, foram pesquisados os dados coincidentes
com os meses de fevereiro (campanha de verão) e agosto (campanha de inverno).
3.3 Análises Laboratoriais - Exames Bacteriológicos
As análises foram realizadas no Laboratório de Microbiologia do Instituto de
Pesquisas Ambientais e Tecnológicas (IPAT) da UNESC. Foi empregada a metodologia de
Tubos Múltiplos (NMP), recomendado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA, através da Resolução 20 de 18 de junho de 1986, revisada pela Resolução nº 274
de 29 de novembro de 2000 e que se fundamenta no “Standard Methods for the Examination
of Water and Wastewater” APHA – AWWA – WPCE (FATMA, 2008).
Esse método é baseado em combinações de tubos que apresentam resultado
positivo à reação desejada. O resultado é expresso em NMP/100mL, ou seja, número mais
provável de organismos em 100 mililitros de amostra. Dependendo da combinação dos
resultados e com auxílio de uma tabela de resultados correlata obtêm-se o resultado numérico
através da combinação formada pelo número de tubos positivos que apresentaram as diluições
no Teste Confirmativo, conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Número mais provável de bactérias (NMP) em 100 mL de amostra, com limite de
confiança de 95% para várias combinações de resultados positivos quando 5 tubos são usados
para cada diluição (10 mL, 1,0 mL e 0,1 mL).
Combinação de
resultados positivos
NMP/100mL
5-4-4
Limites
Inferior
Superior
350
160
820
5-5-0
240
100
940
5-5-1
300
100
1300
5-5-2
500
200
2000
5-5-3
900
300
2900
5-5-4
1600
600
5300
5-5-5
≥ 1600
-
-
Fonte: FUNASA, 2004
27
O Manual do Laboratório de Microbiologia do IPAT/UNESC elaborado com base
no “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater” (2005) afirma que as
seguintes suposições são necessárias para dar suporte ao método de tubos múltiplos:
a) A amostra é preparada de tal forma que as bactérias são distribuídas randomicamente.
b) As bactérias estão separadas, não agrupadas e elas não se repelem.
c) O meio de cultura e as condições de incubação são selecionados de tal maneira que se
somente um organismo viável for inoculado, este poderá produzir crescimento detectável.
A essência do método de tubos múltiplos é a diluição da amostra de tal modo que
o inóculo, algumas vezes, mas não sempre, contenha organismos viáveis. O “resultado”, isto
é, o número de inóculos produzindo crescimento em cada diluição irá implicar numa
estimativa do original, ou seja, da concentração de bactérias viáveis na amostra não diluída.
Para que se obtenham estimativas sobre um amplo intervalo de concentrações possíveis,
utiliza-se diluição serial, inoculando alguns tubos (ou placas) de cada diluição (Figura 5).
A
B
28
C
Figura 5 – Diluição serial (10 ml, 1,0 ml e 0,1 ml) para determinação do NMP/100mL de organismos do
tipo coliformes. Fonte: IPAT/UNESC, 2010.
O método de tubos múltiplos utiliza como meio de cultura o Caldo Lauril Sulfato
de Sódio Bili 2% Lactosado; Caldo Verde brilhante e Caldo EC. Para a diluição serial utilizase solução salina peptonada com concentração 0,1%.
A sequência de análise é composta por duas etapas, sendo a primeira chamada de
teste presuntivo e a segunda de teste confirmatório. Para a realização do teste presuntivo
segue-se a seguinte rotina:
a) Organizar os tubos (com caldo Lauril concentração dupla) no suporte para tubos
de ensaio.
b) Anotar em pelo menos um tubo o número da amostra e o volume de amostra
utilizado.
c) Inocular em cada tubo 10 mL de amostra.
d) Os tubos devem ser incubados a temperatura de 36  1°C por 24 a 48 horas.
e) Após este período, deve-se verificar a presença de crescimento bacteriano o que
ocorre com a turvação do meio, podendo ou não ter presença de bolhas.
f) Considera-se positivo os tubos que apresentarem crescimento (turvação do
meio) ou bolhas nos tubos invertidos (Duran) ou efervescência quando agitado
gentilmente (Figura 6).
29
Figura 6 – Série de tubos com caldo lauril sulfato de sódio bili 2% lactosado, onde se observa no primeiro
tubo a reação negativa e no segundo tubo a reação positiva com turvação do meio e formação de bolha de
ar no interior do tubo de Duran. Fonte: IPAT/UNESC, 2010.
Para cada tubo positivo, deve-se fazer o teste confirmativo para coliformes,
utilizando para isto o caldo verde brilhante para a determinação de coliformes totais e caldo
EC para a determinação de coliformes fecais, conforme o roteiro básico:
a) Para cada tubo positivo do ensaio presuntivo, inocular um tubo contendo caldo
verde brilhante e um tubo contendo caldo EC, com uma alça de platina
esterilizada ou 0,1 mL com micropipeta.
b) Para cada tubo de caldo lactosado, deve-se organizar um tubo de verde brilhante
e um tubo de caldo EC em suportes separados. Os tubos devem ser dotados de
tubos de Duran invertido.
c) Deve-se inocular o tubo de caldo verde brilhante primeiro e depois o tubo de
caldo EC.
d) O caldo verde brilhante deve ser incubado em estufa a uma temperatura de 36 
1°C por 48 horas. O caldo EC deve ser colocado em banho-maria à temperatura
de 45  0,2ºC por 24 a 48 horas.
30
Tanto para o caldo EC quanto para o caldo verde brilhante a reação positiva é
identificada com a formação de bolhas no interior do tubo de Duran, ou ainda, apresentarem
turvação do meio ou efervescência quando o tubo é agitado gentilmente (Figura 7).
A
B
Figura 7 – Resultado positivo (com turvação) e negativo (sem turvação) para teste confirmativo de
coliformes, onde: a) caldo verde brilhante (coliformes totais) e b) caldo EC (coliformes fecais ou
termotolerantes). Fonte: IPAT/UNESC, 2010.
Toda a rotina do ensaio é realizada em capela de fluxo laminar e em ambiente
esterilizado por radiação UV para evitar a contaminação da amostra. Também com este
objetivo, previamente à inoculação os meios de cultura esterilizados a 121ºC e sob pressão de
1 kg/cm2 em autoclave durante 15 minutos (FUNASA, 2004).
31
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Fundação do Meio Ambiente (FATMA) realiza o monitoramento no litoral
catarinense visando avaliar as condições de balneabilidade desde 1976. Contudo, na região
Sul de Santa Catarina, este programa foi implementado no ano de 1992. Na ocasião, eram
monitoradas, com apoio da FUCRI/UNESC, 23 estações de monitoramento distribuídas entre
os municípios de Imbituba e Passos de Torres.
No balneário de Arroio do Silva, na época pertencente ao município de
Araranguá, a amostragem era realizada em um único ponto localizado 100 metros ao Sul da
foz do córrego denominado Arroio do Silva. Os resultados obtidos nesta estação levaram a
FATMA a incluir em seu programa, a partir do ano de 1995, uma estação de amostragem na
foz deste córrego. As Figuras 8 e 9 mostram os resultados obtidos nas duas estações de
monitoramento em Arroio do Silva.
Praia do Arroio do Silva
aproximadamente 100 m ao sul do Posto Salva-vidas Central
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
10000
Imprória para banho
Coliformes Fecais
(NMP/100 mL)
24000
Imprória para banho
100000
1000
230
100
J A S O N
D
J
F
Meses de Coleta
Período: 1998-1999
M
A M J
Inverno
Verão
Primavera
Outono
Figura 8- Concentração de coliformes fecais (NMP/100mL) e condições de balneabilidade na
praia do Arroio do Silva (área de banho), ponto 1 (aproximadamente 100m ao sul do Posto
Salva-vidas Central) no período de 1998 a 1999. Fonte: FATMA/UNESC, 1999.
32
Foz do Arroio do Silva
ao lado do Posto Salva-vidas
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
Imprória para banho
10000
Imprória para banho
Coliformes Fecais
(NMP/100 mL)
24000
Imprória para banho
100000
1000
230
100
J A S O N
D
J
F
Meses de Coleta
Período: 1998-1999
M
A M J
Inverno
Verão
Primavera
Outono
Figura 9 - Concentração de coliformes fecais (NMP/100mL) e condições de balneabilidade na foz
do córrego Arroio do Silva, ponto 2 (ao lado do Posto Salva-vidas), equivale ao P2 deste trabalho
no período de 1998 a 1999. Fonte: FATMA/UNESC, 1999.
Observa-se então, que desde que iniciou o monitoramento da balneabilidade na
área em estudo, com frequência se registra a condição “Imprópria” para banho nas estações de
monitoramento naquele município. Esta situação tem ocorrido durante o verão, uma vez que
nesta época a população residente no Balneário aumenta significativamente. Por outro lado,
estes episódios colocam em risco uma importante atividade econômica do município, o
turismo.
A má condição de balneabilidade na praia do Arroio do Silva sempre foi atribuída
à má qualidade da água do córrego Arroio do Silva, uma vez que o fato deste encontrar-se
canalizado na porção central do balneário facilita o descarte clandestino de esgoto residencial
em suas águas.
Esta situação levou a FATMA a implantar mais duas estações de monitoramento
com a finalidade de avaliar a condição de balneabilidade no Balneário Arroio do Silva,
conforme Quadro 2.
33
Quadro 2 – Pontos de monitoramento e condições de balneabilidade no município de Balneário
Arroio do Silva nos meses de fevereiro e agosto. Dados obtidos no período de 2007 e 2010
(FATMA, 2010).
Código da
estação
Localização
Condição histórica nos meses de fevereiro
e agosto (2007 a 2010).
Ponto 1
Na praia a 100 metros ao Própria em 100% das amostragens.
Norte do arroio.
Ponto 2
Na praia a 100 metros ao Sul Própria em aproximadamente 63% das
do arroio.
amostragens.
Ponto 3
No córrego conhecido como Própria em aproximadamente 12% das
Arroio do Silva (foz).
amostragens (uma única campanha em
janeiro/2010).
Ponto 17
Na praia a 500 metros ao Sul Própria em 100% das amostragens
da foz do arroio.
(realizada apenas 4 campanhas).
Assim, com base nas informações da FATMA verifica-se que a maior
contribuição para a qualidade da água na zona de banho provém do córrego que drena a
porção central do Balneário Arroio do Silva. Esta situação é confirmada com os resultados
obtidos nos pontos 1 e 2 nas campanhas de fevereiro e agosto de 2010, conforme Tabela 2.
Tabela 2 – Resultados obtidos nas campanhas de verão (17/02/2010) e inverno (25/08/2010) nos
pontos localizados no córrego (Arroio do Silva) a montante (ponto 1) e próximo à foz (ponto 2).
Estações de
amostragem
Coliformes Totais
(NMP/100mL)
Coliformes fecais ou
Termotolerantes (NMP/100mL)
Verão
Inverno
Verão
Inverno
Ponto 1
3,5E+04
1,6E+04
2,4E+04
2,4E+03
Ponto 2
1,7E+05
>1,6E+04
5,4E+04
1,1E+03
Os dados demonstram que o córrego que drena o Balneário Arroio do Silva
encontra-se contaminado por bactérias termotolerantes tanto na estação de amostragem
localizada mais a montante, onde atravessa a Rua Santa Catarina, quanto na sua estação de
jusante (próximo à foz), sugerindo que neste trecho existe a contribuição efetiva de esgoto
sanitário.
34
Observam-se ainda que ambas as estações de amostragem apresentam elevada
densidade de organismos indicadores de contaminação fecal na alta temporada (amostragem
realizada em fevereiro de 2010) e na baixa temporada (agosto de 2010), de onde presume-se
que este corpo hídrico encontra-se com sua capacidade de assimilar a carga poluidora bastante
comprometida, não suportando nem mesmo a população fixa do município.
Quando se avalia a qualidade da drenagem pluvial que chega até a orla marítima
ao longo de uma faixa aproximada de 4 km, compreendida entre a estação de amostragem P5
e P8, verifica-se que a contaminação típica de esgoto doméstico encontra-se disseminada no
município.
A Tabela 3 mostra os resultados obtidos nas campanhas de fevereiro e agosto de
2010 nas drenagens que atingem a orla no Balneário Arroio do Silva e na foz do arroio (P2).
Para facilitar o entendimento, as estações de amostragem se encontram em sequência
conforme a sua distribuição geográfica, no sentido Norte – Sul.
Tabela 3 – Contagem de coliformes totais e fecais (em NMP/100mL) nas drenagens pluviais da
orla do Balneário Arroio do Silva, onde P2 refere-se a amostragem realizada na foz do arroio.
Estação de
amostragem
Campanha de verão
Campanha de inverno
Coliforme
Total
Coliforme
Fecal
Coliforme
Total
Coliforme
Fecal
P5
3,4E+03
3,4E+03
1,6E+04
3,3E+02
P4
7,9E+04
4,9E+04
1,7E+04
7,8E+01
P3
3,3E+04
3,3E+04
>1,6E+04
2,3E+02
P2
1,7E+05
5,4E+04
>1,6E+04
1,1E+03
P6
5,4E+04
2,4E+04
7,0E+02
2,0E+01
P7
1,3E+05
7,9E+04
>1,6E+04
1,6E+04
P8
1,7E+05
1,1E+05
2,0E+01
Ausente
Na amostragem realizada no verão, os sete pontos monitorados à beira mar
(incluindo a foz do córrego) apresentaram densidade de coliformes fecais acima de 1.000
NMP/100mL, limite estabelecido como condição própria para banho pela resolução do
CONAMA considerando 80% de no mínimo 5 resultados ou acima de 2.500 NMP/100mL em
uma única amostragem.
35
Na amostragem de inverno observa-se que apenas os pontos P2 (foz do córrego) e
P7 (localizado a 770 metros ao sul do P2) apresentaram valores acima de 1000 NMP/100mL;
enquanto que o P5 (localizado a 2.773 metros ao norte do P2), o P4 (localizado a 1.422
metros ao norte do P2), o P3 (localizado a 503 metros ao norte do P2), o P6 (localizado a 802
metros ao sul do P2) e o P8 (localizado a 1.113 metros ao sul do P2) apresentaram densidade
de bactérias termotolerantes menor que 1000NMP/100mL, ou seja, considerando uma única
amostragem, estes locais seriam definidos pela resolução do CONAMA com condições
próprias para banho.
Na figura 10, observa-se que há diferença entre a amostragem realizada no verão,
alta temporada, e a amostragem de inverno na estação P8. O incremento no número de
coliformes na amostragem de verão pode estar relacionado ao número de residências
predominantemente ocupadas somente no verão no local, diminuindo assim a população
residente no local no período de inverno.
Figura 10: Representação do NMP de coliformes totais e fecais nas campanhas de verão e
inverno, onde no eixo x as estações de amostragem encontram-se na sequência Norte – Sul; eixo
y encontra-se em escala logarítmica e representa a contagem de bactérias em NMP/100mL.
Em todos os pontos amostrados houve variação entre a campanha de verão e de
inverno, o que confirma que a população flutuante, ou seja, a parcela de população que reside
no município apenas durante a alta temporada, influencia na qualidade da drenagem
36
superficial urbana, e consequentemente contribui de forma mais efetiva para a degradação das
condições de banho.
Dos 9500 domicílios existentes no município, somente 2778 são ocupados durante
todo o ano, sendo o restante (6714) ocupado apenas nos meses de verão (IBGE, 2007). Essa
situação faz com que a condição de balneabilidade se torne imprópria no verão e própria no
inverno em alguns locais monitorados pela FATMA, como pode ser observado nos Boletins
Mensais de Balneabilidade divulgados e disponibilizados no site www.fatma.sc.gov.br.
Segundo a CETESB (1986), é conveniente para a comunidade que a área urbana
seja planejada de forma integrada, ou seja, que todos os melhoramentos públicos sejam
planejados coerentemente, e que quando esses sistemas de drenagem não são considerados
desde o inicio da formulação do planejamento urbano, é bastante provável que esse sistema,
ao ser projetado, revele-se ao mesmo tempo, de alto custo e ineficiente.
As chuvas constituem-se em uma das principais causas da deterioração da
qualidade das praias. Esgotos, lixos e outros detritos, são carreados para as praias através de
galerias, córregos e canais de drenagem na ocorrência de chuvas, produzindo assim, o
aumento considerável na densidade de bactérias nas águas litorâneas. Acrescenta-se a prática
disseminada na região litorânea de se ligar a rede de esgoto cloacal ao sistema coletor de
águas pluviais (FATMA, 2008).
A amostragem realizada no verão (Figura 11) permite verificar que os pontos mais
críticos em termos de contaminação por coliformes são: a) o ponto 2, localizado na foz do
córrego que passa na área central do município; e b) ponto 8, drenagem superficial localizada
a 1070 metros da foz do córrego (P2), na altura da Rua Tubarão.
37
Figura 11 – Resultados obtidos na contagem de coliformes totais e fecais no verão (alta
temporada), valores em NMP/100mL.
Quando se avalia a poluição de uma área em função da água da chuva, têm-se
duas situações distintas. A primeira se refere a uma quantidade de chuva suficiente para
“lavar” não só a atmosfera, mas também as ruas de determinado local. Uma amostragem nesta
situação poderia representar mais fielmente a concentração de contaminantes transportados
pelo escoamento superficial. A outra situação refere-se à realização da amostragem após um
período prolongado de precipitação pluvial, ou após uma precipitação muito intensa. Neste
caso, ocorre o efeito da diluição dos contaminantes, podendo a concentração real destes ser
maior do que aquela registrada (ALEXANDRE, 2000).
Avaliando a Figura 12, observa-se que a precipitação pluviométrica iniciou dois
dias antes da amostragem, estendendo-se até o período da amostragem. Esta situação pode ter
influenciado no escoamento pluvial, alterando os compostos químicos, e carreando resíduos e
bactérias junto ao escoamento superficial. Por outro lado, quando a chuva é prolongada, pode
ser detectada uma redução na concentração de contaminantes em função da diluição, uma vez
que o fluxo ou vazão do escoamento é maior.
38
Figura 12 – Precipitação pluviométrica registrada na campanha do verão (Fevereiro/2010)
representada em milímetros em 24hrs, onde o círculo vermelho destaca o dia da amostragem.
Fonte: BRASIL, 2010.
A amostragem realizada no período do inverno apresentou em três pontos os
maiores índices de poluição por coliformes totais, sendo que o P7 apresentou o maior número
de coliformes fecais (Figura 13). De acordo com a Figura 14 ocorreu pouca precipitação
pluviométrica no período que antecedeu a amostragem.
Figura 13 - Resultados obtidos na contagem de coliformes totais e fecais no inverno (baixa
temporada), valores em NMP/100mL.
39
Figura 14 - Precipitação pluviométrica na campanha de inverno (agosto/2010), representada em
milimetros em 24hs, onde o círculo vermelho destaca o dia da amostragem. Fonte: BRASIL,
2010.
Segundo a FATMA (2008) os municípios litorâneos catarinenses são desprovidos
de sistemas adequados para a coleta, tratamento e disposição final dos esgotos. A deficiência
desses sistemas tem como consequência o lançamento direto ou indireto dos esgotos nos
cursos de água mais próximos afluindo até as praias.
Ainda de acordo com esta fonte, com o aumento da população durante os períodos
de férias e feriados prolongados, os sistemas de coleta de esgotos quando existentes não são
suficientes para afastar os despejos, que terminam por serem lançados em galerias de águas
pluviais, córregos ou até diretamente nas praias, o que prejudica as condições de
balneabilidade.
O ponto P5 parece ser o menos comprometido, principalmente quando se avalia a
contaminação por coliformes fecais. Observando a imagem do Google Earth (Figura 2)
verifica-se um número menor de residências que efetivamente contribuem para este ponto, o
que justiça o resultado obtido para termotolerantes. No entanto, o número relativamente
elevado de bactérias do tipo coliformes totais, nesta estação de amostragem se deve
provavelmente à presença de banhados naturais e áreas naturais (pouca ocupação antrópica),
uma vez que entre estes organismos, ao contrário dos fecais, tem vida livre, ou seja, tem
habitat fora do intestino de animais de sangue quente.
40
A estação de monitoramento P7 apresenta o mesmo comportamento do P2 (foz do
arroio), ou seja, comprometido durante todo o ano, apresentando na amostragem realizada no
inverno, uma densidade de coliforme fecal maior do que a foz do córrego Arroio do Silva.
Neste sentido importante destacar que na área de influência do P7 (à Oeste)
ocorreu um processo de invasão em local que deveria ser preservado, constituído em grande
parte por áreas alagadas naturais ou banhado. A infraestrutura no local é bastante precária, e a
população reside no local durante todo o ano. Essa situação pode ser a explicação da
contaminação no P7, uma vez que a ocupação irregular de áreas alagadas implica na
contaminação do lençol freático, que por sua vez em áreas litorâneas se refletem na qualidade
da água na zona de banho.
Com relação a isso, destaca-se ainda que a esta possa ser a causa dos resultados de
balneabilidade da FATMA apontarem como o ponto no mar com pior condição para banho,
aquele localizado ao Sul da foz do arroio, lembrando que a corrente marítima predominante é
de Sul para Norte.
41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
Com base neste estudo pode se concluir que existe contribuição da drenagem
pluvial para a degradação da qualidade das águas balneáveis no município de Balneário do
Arroio do Silva. Esta situação torna-se mais evidente durante o verão, o que deve servir como
alerta para a população e para as autoridades responsáveis pela estruturação e conservação da
cidade.
O sistema de drenagem pluvial deve ser planejado e bem executado e a população
deve estar consciente da necessidade de separar o sistema de esgotamento sanitário do
esgotamento pluvial.
Contudo, deve ser considerado que a falta de opção para o esgotamento sanitário
na área de estudo, faz com que a comunidade busque soluções alternativas, como é o caso da
adoção de fossas sépticas e sumidouros.
A disposição do esgoto no solo faz com que a contaminação atinja de forma muito
rápida o lençol freático, que nas áreas litorâneas é praticamente aflorante, atingindo
rapidamente a área de banho e faixa de areia, devido ao escoamento superficial, ou até mesmo
subterrâneo.
O problema se agrava no verão em função do aumento da população, e nessa
situação é comum à presença de pessoas, principalmente crianças brincando próximo aos
pontos de esgotamento pluvial, que em algumas ocasiões formam “pequenos córregos de
água quentinha”, o que possibilita maior risco quanto a doenças hídricas, devido à qualidade
da água no local.
Neste sentido, destaca-se que mesmo quando a condição de banho é considerada
própria, a água apresenta contaminação por coliformes. Como exemplo, na condição
Satisfatória o resultado da análise pode ser de até 1000 organismos termotolerantes ou 800
organismos do tipo E. coli em 100 mL de amostra. Essa densidade de bactérias representa
respectivamente 10 organismos termotolerantes ou 8 organismos de E. Coli em apenas 1 mL
de água. Se estas bactérias tiverem sido excretadas por um indivíduo doente, a água poderá
estar contaminada também por organismos patogênicos. Situação esta que pode por em risco a
saúde da população.
42
A resolução CONAMA N°274 de 2000 em seu artigo 8° recomenda aos órgãos
ambientais a avaliação das condições parasitológicas e microbiológicas da areia, para futuras
padronizações. Com base nos dados deste estudo, parece importante que esta medida seja
adotada o mais rapidamente possível neste município.
Por fim, alerta-se para o fato de que a falta de políticas públicas voltadas às
questões de saneamento no Balneário Arroio do Silva poderá colocar em risco a principal
atividade econômica daquele município, ou seja, o turismo.
43
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