REDES NEURAIS HIERARQUICAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE COMPORTAMENTOS EM
AGENTES AUTONÔMOS
FLÁVIO DE ALMEIDA E SILVA, MAURO ROISENBERG, JORGE MUNIZ BARRETO
Depto. de Informática e de Estatística, Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis, SC, BRAZIL
E-mails: [email protected], [email protected], [email protected]
Resumo Ao utilizar-se os mecanismos naturais como fonte de inspiração para a implementação de comportamentos em Agentes
Autônomos (AA's), podemos constatar que existem classes de comportamentos cada vez mais complexas. Estes comportamentos parecem estar relacionados com o grau de complexidade de organização do sistema nervoso, isto é, considerando-se uma estrutura hierárquica, comportamentos simples são gerados por sistemas nervosos elementares, por outro lado, comportamentos complexos emergem pela ação de níveis superiores do sistema nervoso, que controlam, ordenam e selecionam os comportamentos mais simples. Este
artigo visa mostrar que se pode utilizar esta inspiração na natureza, utilizando uma estrutura hierárquica de diferentes topologias de
redes neurais artificiais como o equivalente computacional do sistema nervoso central (SNC). Conseguindo-se desta forma elevar o
grau de autonomia e utilidade dos AA's.
Abstract When using the natural mechanisms as inspiration source for the implementation of behaviors in Autonomous' Agents
(AA's), we can verify more and more classes of complexes behaviors. These behaviors seem to be related to the degree of complexity
of the nervous system organization. Being considered a hierarchical structure, simple behaviors are generated by elementary nervous
systems, on the other hand, complex behaviors emerge for the action of superior levels of the nervous system, which they control, they
order and they select the simplest behaviors. This article seeks to show that this inspiration from the nature, using a hierarchical
structure of different topologies of nets artificial neural as the equivalent computational of the central nervous system (CNS).
Makeing able this way elevate the autonomy degree and usefulness of AA's.
Keywords Autonomous Agents, Neural Networks, Backpropagation Algorithms, Genetics Algorithms, Artificial Intelligence, Robot Sensors..
1 Introdução
Nas últimas duas décadas, tem-se intensificado o
trabalho de pesquisadores que procuram aumentar o
grau de inteligência e autonomia de Agentes
Autônomos (AA's) como podemos ver em (Anderson
e Donath, 1991)(Beer at all, 1991)(Brooks,
1991)(Maes, 1991)(Roisenberg, 1996). Além de
sistemas especialistas, técnicas relativamente
recentes de inteligência artificial, tais como
algoritmos genéticos e redes neurais artificiais, e até
mesmo abordagens híbridas destas técnicas, estão
sendo utilizadas (Anderson e Donath, 1991)(Beer at
all, 1991)(Brooks, 1991)(Maes, 1991)(Roisenberg,
1996). Apesar de grandes progressos alcançados,
ainda não existe uma solução ótima bem
estabelecida, e mesmo soluções satisfatórias
raramente têm sido apresentadas.
Nos últimos anos, têm-se visto
implementações que apresentam um grande apelo
popular, destinadas a demonstrar, ao grande público,
as possíveis potencialidades da robótica, tais como
AA's que sobem cordas, que sobem escada, que
repetem os gestos físicos dos humanos ou ainda
AA's capazes de penetrar em escombros em ruínas
de edificações, à procura de sobreviventes. Apesar
da sua importância, a característica destas
implementações é a de apresentar um repertório de
comportamentos limitados e com um grau de
autonomia limitado.
Na busca por AA's com repertório de
comportamentos e grau de autonomia cada vez
1473
maiores, tem-se buscado na inspiração biológica, e
em especial, na advinda do comportamento animal
(Roisenberg,
1996),
ferramentas
para
a
implementação de comportamentos em AA's, ou
seja, o desenvolvimento de AA's que apresentem
comportamentos que se assemelham aos de animais.
Se um animal estiver diante de um abismo ou diante
de um predador, este animal sabe que não pode dar
mais um passo em direção ao abismo, pois, cairá e
muito provavelmente morrerá, e se ficar e enfrentar
o predador também será muito provável sua morte.
Entretanto existe no animal um mecanismo
inteligente de avaliação de situações e seleção de
comportamentos que nesta situação escolherá um
dos
comportamentos
que
permitirá
sua
sobrevivência. Também existe um mecanismo de
aprendizado de modo que, se um rato comer algo
que lhe faça mal, este evitará comer novamente o
mesmo alimento.
Com isto, podemos perceber que muitos
dos atos dos seres vivos são previamente calculados,
pois, já haviam passado por situação parecida ou
foi-lhes ensinado a maneira de agir diante daquela
situação. Então podemos dizer que a sua rede neural
aprendeu e guardou num local do cérebro para
posteriormente tirar proveito, pois, era algo
considerado de suma importância para a
“sobrevivência”.
Na área de implementação de AA's, um
grande progresso pode ser alcançado se for possível
tornar um AA um ser capaz de perceber que atitude
deve ser tomada diante de uma situação que ele se
encontra ou que ainda não encontrou, mas, que em
sua “memória” já foi armazenado algo parecido,
portanto, ele deverá ser capaz de escolher que
“caminho tomar” ou qual atitude deve ser tomada.
Um exemplo seria dar um comando para o AA pegar
um objeto em uma sala, mas, no meio do caminho
ele “percebe” que as suas baterias estão quase
acabando. Qual atitude ele deve tomar? Continuar
andando até o objeto ou primeiro recarregar suas
baterias? Isto é o que será tratado, qual
comportamento tem prioridade sobre outros.
E pode-se perceber que no cérebro dos
animais acontece a mesma coisa. Eles tentam se
manter vivos e também procriar, ao mesmo tempo
em que tentam desempenhar seu papel em vários
ambientes, desviando de obstáculos que possam
atrapalhá-los nestas tarefas.
Um ponto que parece comum a todos os
comportamentos aqui apresentados, é que deve
existir uma “coordenação” e “hierarquia” de
comportamentos. Ou seja, existem diversas ocasiões
em que o comportamento correto deve ser
selecionado de um “repertório” de comportamentos
disponíveis e, além disso, eventualmente vários
destes comportamentos são antagônicos (fugir do
perigo e buscar comida, por exemplo). Deve haver
então uma “entidade” capaz de organizar, selecionar
e coordenar comportamentos mais elementares,
fazendo emergir um comportamento mais complexo
e adequado a operação do ser vivo.
O objetivo deste trabalho é procurar dar
uma contribuição na busca por AA's com alto grau
de inteligência e autonomia. Para isto, as fontes de
inspiração são os sistemas biológicos, em especial o
sistema nervoso e como ele se organiza nos seres
vivos para a geração, seleção e coordenação de
comportamentos capazes de garantir a operação no
ambiente.
Na
seção
seguinte
aborda-se
o
comportamento animal, como ele pode ser
classificado e como o sistema nervoso se organiza
para a geração destes comportamentos.
Na terceira seção faz-se uma descrição do
equivalente computacional do sistema nervoso
biológico, as redes neurais artificias (RNA's).
Apresentam-se as principais topologias de redes
neurais e que tipos de comportamentos cada
topologia é capaz de gerar.
Na quarta seção propõe-se então uma
arquitetura de redes neurais hierárquicas onde as
redes neurais dos níveis inferiores são responsáveis
pela
implementação
do
repertório
de
comportamentos básicos do AA, enquanto as redes
dos níveis superiores da hierarquia fazem a tarefa de
seleção e coordenação dos comportamentos básicos,
fazendo emergir um comportamento mais complexo
e inteligente.
2 Comportamento Animal
1474
2.1 Definições
O que vem a ser o comportamento animal? As
definições são difíceis, pois, o comportamento é
apenas uma das atividades pelas quais um animal se
mantém. (Messenger, 1980)Cerca todas as
atividades como procurar comida, evitar perigo,
acasalar-se e até criar sua prole. Isto requer a
ativação dos órgãos de sentido que coletam
informações, principalmente do mundo externo.
Devemos nos ater ao sistema muscular,
pois, é através da sua atividade ou inatividade diante
de uma situação que determinamos ou
caracterizamos o comportamento.
2.2 Classes de Comportamentos
2.2.1 Comportamentos Reflexivos
Uma característica que parece ser marcante tanto aos
comportamentos reflexivos quanto às taxias se refere
ao fato de que a intensidade e a duração das
respostas dos organismos são uma função direta da
intensidade e duração do estímulo que disparou o
comportamento. Também é importante notar que o
tempo decorrido entre a ocorrência do estímulo e o
aparecimento da resposta é mínimo.
2.2.2 Comportamentos Reativos
É uma classe intermediária entre os comportamentos
puramente reflexivos e os comportamentos
instintivos. É
formada por uma série de
comportamentos estereotipados como resposta a um
dado estímulo. O estímulo que dispara o
comportamento é geralmente mais complexo e
específico que o necessário para disparar um
comportamento reflexivo. A resposta envolve uma
seqüência temporal de ações que se desenrolam até o
seu final, mesmo que o estímulo disparador não
esteja mais presente.(Roisenberg, 1996).
2.3 Comportamentos e o Sistema Nervoso Central
O certo de tudo que falamos é que o comportamento
é determinado pelo Sistema Nervoso Central (SNC).
Ele é quem impulsiona os músculos. A importância
da saída motora final (comportamento), reside no
fato de ser adaptativa, como descrito em (Messenger,
1980). O sistema nervoso determina quais são os
músculos que serão ativados.
Um tipo de controle considerado
importante é o de retroação (circuito fechado), onde
a saída do sistema é usada para influenciar a
entrada. Que na biologia é chamado de homeostase.
O que basicamente acontece é o controlador (SNC)
que tem como prioridade, em termos gerais, as
instruções: “sobreviva e procrie” recebe as
informações dos órgãos dos sentidos, processa esta
informação, ajustando a saída do “sistema
controlado”, fazendo com que sejam neutralizadas as
situações que poderiam prejudicar o animal.
Mas, quando se fala de animais superiores
isto fica mais complexo, como por exemplo, nosso
SNC é complexo, pois, nos oferece canais múltiplos,
isto é, as informações são processadas em paralelo
em diferentes áreas do nosso cérebro, onde, devemos
esperar encontrar sistemas distintos de controle para
diferentes atividades.
Um exemplo é que não temos como
mesmo controlador o dos músculos da perna e o dos
olhos, eles são diferentes, mas, também sabemos que
não estão totalmente independentes.
Isto nos leva à conclusão que o circuito
fechado para operações complexas não pode ser
muito simples e que nestes casos o controlador deve
ser controlado, isto é, controlar o controlador.
(Messenger, 1980).
Para finalizar, o comportamento de um
animal também depende da situação em que ele se
encontra. Podemos citar muitos exemplos de
comportamento usando nossa própria experiência de
vida. Então, por exemplo, se estamos caminhando e
em nossa direção vem uma outra pessoa, nossa
reação (comportamento) é desviar para não nos
chocarmos. Se estivermos diante a um fogão onde
estamos esquentando algo, em uma jarra de metal,
sabemos que após algum tempo não podemos pegar
diretamente na parte de metal que iremos nos
queimar. E também, se estivermos diante de um fogo
e algo muito importante cair nele, podendo estragar,
nós sabemos que se tentarmos pegar rapidamente
não nos queimaremos. Este tipo de comportamento
já estava previamente guardado em nossa memória,
pois, de alguma forma nós aprendemos aquilo ou por
vivência própria ou por alguém que nos falou. Este
exemplo nos mostra bem que deve existir uma
hierarquia de controladores dentro do sistema
nervoso, pois o primeiro comportamento ou reação
ao segurarmos um objeto muito quente é o de largálo para que não nos queimemos, entretanto, se este
objeto for muito valioso ou raro, um controle de
nível superior é acionado e inibe o comportamento
de largar imediatamente o objeto, acionando então
um comportamento de colocação do objeto em
segurança sobre uma superfície.
Um fator de complicação adicional vem
do fato que os comportamentos não são somente
aprendidos por experiência ou ensinados. Grande
parte dos comportamentos já está “pré-fiados” no
sistema nervoso central, e foram determinados por
processos evolutivos.
Se pegarmos como exemplo a espécie de
gaivota que para proteger sua prole, de predadores,
retiravam as cascas dos ovos, já chocados, do ninho
e levavam para longe, poderíamos dizer que no
passado pode ter existido, dentro desta mesma
espécie, algumas que não retiravam as cascas e, por
isto, suas proles não chegavam a idade de
reprodução resultando no seu desaparecimento,
1475
como mostrado em (Dawkins, 1989)
Então, podemos assumir que aquelas que
sumiram eram diferentes, geneticamente, dos tipos
bem sucedidos, portanto, a crença de que o
comportamento evoluiu leva-nos a supor que houve
uma variação genética. Somente neste sentido
podemos dizer que o “comportamento foi
determinado por genes”.
Mesmo que se possa dizer que o
comportamento foi determinado geneticamente, há a
complicação adicional na qual pode-se mostrar que o
ambiente contribui para a variação. Tem-se que
avaliar a maneira como o indivíduo foi tratado desde
a sua infância até a fase de reprodução (adulto).
Pois, isto afeta o comportamento tanto quanto a
linhagem genética a que pertence.
O que podemos perceber é que o
comportamento pode ser determinado por genes e
também pelo ambiente em que vivemos.
3 Redes Neurais
3.1 Redes Neurais Diretas
As redes neurais diretas (Feedforward) têm a
particularidade de não haver ciclos no seu grafo.
Pode-se dizer que são redes em camadas. As
camadas estão divididas em camada de entrada ou
primeira camada, onde, os neurônios recebem os
sinais de ativação. Camada de saída ou última
camada, onde, os neurônios têm sua saída como
saída de rede e por fim a camada interna ou camada
escondida, podendo ser mais de uma e estes
neurônios não pertencem nem a primeira nem a
última camada(Boers e Kuiper, 1992). Estas redes
são as mais populares e que tem como o algoritmo
de aprendizado, mais usado, o “backpropagation”,
que não é um algoritmo eficiente(Barreto,
1997)(Boers e Kuiper, 1992). A função de ativação
(Φ) geralmente é a soma das entradas, em alguns
casos o produto e raramente outra função, mesmo
que seja possível. Quanto a não linearidade do
neurônio geralmente é calculada por uma função
logística, tangente hiperbólica.
Figura 1. Exemplo de uma rede Neural Direta.
Onde U é o conjunto dos valores de
entrada. Φ e λ a função de transição dos estados. V
os pesos calculados. Y conjunto das saídas obtidas.
3.2 Redes Neurais Recorrentes
Ao contrário das redes diretas, este tipo de rede
contém pelo menos um ciclo (realimentação,
retroação ou “feedback”) no seu grafo. Estas redes
podem ser compostas por uma ou mais camadas
sendo que cada neurônio fornece o seu sinal de saída
como entrada para cada um dos outros
neurônios(Barreto, 1997)(Boers e Kuiper, 1992).
Também pode não conter uma camada intermediária
(escondida).
Exemplos de destas redes são as redes
propostas por Hopfield, as Redes Bidirecionais, as
Redes de Jordan e as Redes Recorrentes de Tempo
Real (Roisenberg, 1996)..
Figura 2. Exemplo de uma Rede Neural Recorrente.
Onde L é o conjunto de entradas. X(k)
vetor de dimensões M-por-1 de sinais externos
aplicados aos neurônios de entrada da rede no
instante k. x(k+1) um vetor de dimensões N-por-1
correspondente à saída obtida nos neurônios de saída
no instante k+1. Z-1 atraso unitário, o que resulta em
um comportamento não linear em virtude da
natureza não linear dos próprios neurônios (Barreto,
1997)
Existem vários trabalhos que demonstram
que Redes Neurais Diretas são capazes de modelar
unicamente sistemas estáticos. Como característica
básica pode-se dizer que nos sistemas estáticos a
saída do sistema é função apenas de suas entradas, o
que nos remete a capacidade desta topologia de redes
neurais em implementar apenas comportamentos
reflexivos, onde o comportamento é uma resposta
imediata do ser vivo a um estímulo ambiental e, uma
vez cessado o estímulo, cessa também a sua saída
correspondente.
Já as redes neurais recorrentes são por sua
própria característica são capazes de modelar
sistema dinâmicos. Neste sistemas, a saída não
depende apenas das entradas mas, também de
variáveis de estado. As variáveis de estado, por sua
vez, se alteram em função das entradas do sistema e
do seu estado anterior.
Deste modo, estas topologias de redes
neurais podem ser utilizadas para modelar sistemas
1476
e comportamentos mais complexos, como por
exemplo os comportamentos reativos e instintivos,
onde a reação do ser vivo não é função apenas de
estímulos ambientais mas, também de um estado
interno ou “memória” deste ser (Roisenberg,
1996)(Barreto, 1997).
4 Redes Neurais Hierárquicas
Para que se possa então implementar AA's com um
grande repertório de comportamentos, e ainda para
que se possa selecionar e coordenar qual
comportamento deve estar ativo a cada instante, a
solução natural, assim como aparece nos animais é
criar uma rede neural hierárquica onde ambas as
topologias de redes neurais estejam presentes de
modo que as redes diretas sejam responsáveis pela
implementação de comportamentos reflexivos
básicos e as redes recorrentes implementem as
tarefas de coordenação e seleção destes
comportamentos, obtendo-se como resultado final o
controle eficaz do comportamento dos AA's. Como
citado em (Messenger, 1980) iremos controlar o
controlador.
Entendemos que os comportamentos de um AA
em relação aos seus atuadores são reflexivos e de
certa forma ineficazes em alguns momentos, como
por exemplo, num simulador do robô Khepera onde
foi implementada uma rede neural para controlar os
sensores de distâncias. A rede foi treinada e
executou perfeitamente sua tarefa, mas, encontrava
situações onde o comportamento resultante
apresentava o robô rodando em círculos, pois, não
estava capacitada a reconhecer trajetórias. Da
mesma forma, ao implementarmos a rede para
reconhecer e ir de encontro à luz, isto é, ao
ativarmos os sensores de luminosidade e
desabilitarmos os sensores de proximidade, quando o
robô encontrava um ponto de luz, mesmo que atrás
de um obstáculo, ele se chocava com o obstáculo
para poder cumprir a sua tarefa.
A implementação destes comportamentos
é relativamente fácil, pois, os comportamentos
reflexivos podem ser implementados através de
redes neurais diretas e os comportamentos reativos
através de redes recorrentes.
Entretanto, um problema emerge quando
vários
comportamentos,
muitos
inclusive
antagônicos são implementados e postos para operar
simultaneamente, uma vez que, não se sabe qual
comportamento emergirá quando por exemplo este
AA estiver diante de um obstáculo e ao mesmo
tempo procurar seguir uma fonte de luz.
Uma possível solução para este problema
é a utilização de uma rede hierárquica onde se
conecta as redes neurais diretas responsáveis pela
implementação deste comportamentos reflexivos a
uma rede recorrente, para que esta faça o controle
de qual comportamento será mais adequado a cada
momento. (McFarland e Bösser, 1993).
Na nossa proposta, esta rede terá a função
de emitir um "sinal" para cada rede direta (comp.
reflexivo) ou recorrente (comp. reativo) "avisando"
qual comportamento será ativado, isto é, o flag tem a
capacidade de excitar ou inibir o comportamento,
isto fará com que apenas um comportamento venha
ser excitado, consequentemente os outros serão
inibidos.
O esquema da fig. 3 mostra apenas uma rede de
controle fazendo o controle das demais, mas, podese ter mais redes controlando e tornando cada vez
mais complexa a rede de controle do comportamento
em AA's.
sendo, 8 para os sensores do robô e 1 para o flag de
excitação ou inibição, 8 neurônios na camada escondida e dois na camada de saída, sendo estes dois os
motores, que são os atuadores.
Figura 4. Esquema da Rede Neural a ser implementada no simulador
do robô de khepera
4.1.1 Resultados Obtidos
Figura 3. Rede Neural Hierárquica proposta para o controle dos
comportamentos.
4.1 Exemplo Prático
Para testar esta proposta faremos uma implementação dos controles do robô Khepera, que tem na sua
configuração 8 sensores de distância e 8 sensores de
luminosidade. Para isto será necessário construir três
redes, a princípio, sendo, duas redes diretas e uma
recorrente.
Inicialmente, o treinamento desta rede
será “off-line” , isto é, primeiro serão treinadas as
redes responsáveis pelos comportamentos reflexivos,
após elas estarem treinadas, será dado início à
segunda fase que é treinar a rede de controle
(recorrente), com isto, finalizar-se-á o treinamento e
então poder-se-á colocar a rede neural hierárquica
no simulador do khepera para iniciar os testes.
No simulador, os comportamentos ativos
serão os sensores de distância (obstáculos) e os sensores de luminosidade (buscar foco de luz), sendo
estes, implementados em redes diretas e será usado
como algoritmo de treinamento o "algoritmo
backpropagation".
A configuração da rede de cada comportamento será de 9 neurônios na camada de entrada,
1477
Para o teste com o simulador do robô de khepera
criou-se um conjunto de treinamento para cada rede
neural. O conjunto das redes do subsistema sensório
continha cerca de 31 situações, que são as situações
observadas após termos construídos vários mundos e
feito o robô andar por eles.
As redes de controle continham 12
situações que foram extraídas após ter sido analisada
a máquina de estados. E por fim, as redes de
subsistema motor continham 94 situações que foram
tiradas das redes sensórias + a rede de controle.
Então, são as situações possíveis encontradas através
dos sensores do robô + os estados possíveis da rede
de controle( total de 3 estados).
Os resultados obtidos foram satisfatórios,
pois, o comportamento do robô atendeu as
expectativas. Ele "andava" pelo mundo sem esbarrar
em obstáculos e quando detectava um foco de luz,
independente da sua intensidade, ele ia direto para
este ponto. Se este ponto de luz estivesse atrás de
algum obstáculo, primeiro ele desviava e depois ia
ao encontro do foco, mas, se não houvesse caminho
para chegar, ele vagava pelo mundo até encontrar
outro foco.
5 Conclusão
Neste trabalho apresentou-se a idéia de que a
inspiração
biológica
é
uma
ferramenta
extremamente poderosa para a implementação de
AAs. Ao observar e classificar os comportamentos
dos seres vivos, entendendo como eles emergem da
ação do sistema nervoso e como eles estão
relacionados com a organização deste sistema, ao
transferirmos estas fenômenos para o ambiente
computacional, poderemos desenvolver AAs com
grande grau de autonomia e inteligência.
(McFarland e Bösser, 1993).
A utilização de redes neurais hierárquicas
parece ser uma alternativa extremamente
interessante para a implementação de AAs pois é
capaz de apresentar todas as vantagens inerentes às
redes neurais, tais como, alta imunidade a falhas e
ruídos, podem ser treinadas ao invés de
programadas, rápido tempo de resposta, etc., ao
mesmo tempo em que pode ser capaz de modelar
comportamentos altamente complexos.
Como sugestões para trabalhos futuros, podemos
citar a necessidade de mais experiências práticas,
uma vez que este trabalho ainda está na sua fase
inicial. Sugerimos também a utilização da
computação evolucionária na geração desta
hierarquia de redes neurais, como também, a
possibilidade de resolver os problemas de
planejamento com as técnicas simbólicas de IA, nos
níveis superiores da hierarquia. Com isto, pode-se
prever que a capacidade do sistema cresce
rapidamente e de maneira modular, aumentando em
muito o repertório e a complexidade dos
comportamentos implementáveis.
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