UM OLHAR SOBRE A DEPRESSÃO PÓS-PARTO1
MIOLA, Maria Medianeira Silveira Gomes 2; MACHADO, Letícia Martins3; SILVA,
Amarilis Pagel3; SILVA, Fabiana Porto 3; MORISSO, Tayane dos Santos3;
KIISTER, Daniela da Silva Ribeiro3; DESCONCI, Maurício3
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Trabalho de conclusão do Curso Técnico em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano
(UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil
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Concluinte do Curso Técnico em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa
Maria, RS, Brasil
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Enfermeiro(a), docente do Curso Técnico em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano
(UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil
E-mail: [email protected]
RESUMO
Este estudo tem como objetivo revisar a bibliografia acerca da depressão pós- parto, a qual
acomete cerca de 10% a 15% das mulheres com maior incidência entre a quarta e oitava semana
após o parto, podendo persistir por um ano posterior a ele. Para a concretização deste estudo foi
realizado uma pesquisa bibliográfica entre os meses de março e maio de 2011. Alguns estudos
levantam hipóteses de que a causa da depressão puerperal se da pela alteração hormonal. Já os
fatores de risco, geralmente estão relacionados às questões psicológicos, biológicos, sociais e
obstétricos. Os sintomas apresentam semelhança dependendo do quadro em que se encontra se:
tristeza pós- parto; psicose pós- parto ou depressão pós-parto. O tratamento da depressão puerperal
baseia- se na farmacologia, psicoterapia e na eletroconvulsoterapia. O profissional de enfermagem
deve manter atenção especial a mulher com depressão pós-parto para assegurar a saúde dela e de
seu filho.
Palavras-Chave: Puerpério; Depressão Pós-Parto; Cuidados de Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
A gravidez representa uma série de transformações fisiológicas e emocionais na
mulher que se prepara para dar a luz e cuidar de seu filho. Neste período a mulher sente-se
mais frágil, passa por uma série de transformações e adaptações. A futura mãe ajusta-se a
várias mudanças em sua estrutura física e mental implicando em um processo de
modificação na rede de relação familiar e social. Essas transformações compreendem o
período gravídico e puerperal (REZENDE, 2005).
Situar a gravidez como um período normal na vida mulher, não significa que este
período termine com o parto ou no parto, pois grande parte das mudanças ocorre após o
parto. Este período após o parto denomina-se puerpério, o qual se inicia imediatamente
após a expulsão do feto e seus anexos de dentro do útero. No puerpério podem ocorrer
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algumas alterações hormonais significativas como a: sensação de desconforto físico devido
a náuseas, dores e ao sangramento pós-parto, ocorrendo junto com a excitação pelo
nascimento do filho (MALDONADO, 2002).
Ainda para Maldonado (2002), labilidade emocional é o padrão mais característico da
primeira semana após o parto, onde surge o medo da responsabilidade de ser mãe, medo
de não saber cuidar de um ser que depende tanto dela. Deve-se ficar atento a essas
alterações, pois a puérpera pode estar desenvolvendo um quadro de depressão pós-parto.
Neste contexto, Schmidt, Piccoloto e Müller (2005) trazem que cerca de 10 a 15%
das mulheres sofrem de depressão pós- parto (DPP), havendo uma grande incidência entre
a quarta e oitava semana após o parto, podendo persistir por 1(um) ano posterior a ele. Este
é um problema que se manifesta por um conjunto de sinais e sintomas que afetam a saúde
da mãe e o desenvolvimento de seu filho. Assim, objetiva-se com este estudo descrever de
forma abrangente a depressão pós-parto, apontando as ações dos profissionais de
enfermagem como de suma importância no atendimento as puérperas que vivenciam a
depressão pós- parto.
2. METODOLOGIA
Consiste em uma revisão bibliográfica, que segundo Moresi (2003) é o processo de
levantamento e análise do que já foi publicado sobre o tema de pesquisa escolhido,
permitindo efetuar um mapeamento do que já foi escrito e de quem já escreveu algo sobre o
tema da pesquisa. Wazlawick (2009) complementa dizendo que a revisão bibliográfica não
produz conhecimento novo, mas apenas supre as deficiências de conhecimento do
pesquisador no tema de pesquisa.
A presente revisão bibliográfica foi realizada no período de março a maio de 2011
em livros do acervo da biblioteca do Centro Universitário Franciscano e em artigos
publicados em periódicos online, a fim de buscar entendimento acerca da depressão pósparto. Para este estudo não foi delimitado recorte temporal para a busca e seleção do
material bibliográfico.
3. DESENVOLVIMENTO
Segundo Catafesta et al. (2007) consideram que a vida da mulher é marcada por
períodos de acontecimentos e transições marcantes, dividido em 3 partes: adolescência,
gravidez e climatério. A adolescência marca um período de transição da infância para o
mundo adulto, onde a jovem mulher passa a ir à busca de sua identidade. Já a gravidez
marca o desenvolvimento de sua vida sexual, da feminilidade, da auto- estima. Período este
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que a mulher deixa de ser apenas filha e esposa, mas passa a ser mãe. Enfim o climatério,
período onde a mulher perde a capacidade de gerar.
A gravidez, para Maldonado (2002), é um processo normal e natural que ocorre na
vida da mulher, envolve ainda a necessidade de reestruturação e reajustamento em vários
aspectos como mudanças de identidade, mulher passa a se olhar e ser olhada de outra
maneira,
relacionamento
com
o
cônjuge,
mudanças
psicológicas,
psicossociais,
socioeconômico. Na primípara, além de ser filha e mulher passa a ser mãe, o mesmo ocorre
no caso das multíparas que se deparam com uma mudança de identidade, pelo fato de que
ser mãe de um filho é diferente de ser mãe de dois ou mais, tendo em mente que a vinda de
cada filho mexe com a estrutura familiar.
O puerpério é compreendido como o período após o parto que vai da dequitação à
volta do organismo materno às condições pré- gravídicas, com duração aproximada de 6 a 8
semanas. Esta fase exige cuidados e atenção especial à mulher, a qual requer atenção da
família e dos profissionais da saúde. Este período é que dividido em 3 fases: Puerpério
imediato; (1° ao 10° dia após o parto); Puerpério tardio (11° ao 45° dia); e Puerpério remoto
(a partir do 46° dia). Estas fases são marcadas por intenso e rico período de vivências
emocionais e de transformações para a puérpera (CRUZ; SIMÕES; FAISAL-CURY, 2005).
Ainda para Cruz, Simões e Faisal-Cury (2005), as transformações com o corpo,
mudanças hormonais, adaptação ao bebê, amamentação, noites mal dormidas, carência
afetiva, pouco apoio familiar e social nesse período de adaptação, de exigências e todas as
outras modificações, tornam a mulher mais vulnerável a desencadear um transtorno mental
o mais comum neste período é a depressão pós- parto, que pode acometer cerca de 7 a
15% das mulheres adultas e até 26% das mulheres adolescentes.
A causa da depressão pós- parto é desconhecida, porém acredita-se que dentre
outros, os fatores hormonais influenciem no seu surgimento. No período gestacional, os
níveis de estrogênio e progesterona encontram-se em quantidade elevada quando
comparado com as mulheres que não se encontram no período gravídico. Este fator pode
estar envolvido nas alterações de humor que ocorrem no puerpério. A queda brusca da
progesterona e do estrogênio no pós-parto pode estar envolvida na depressão puerperal
(CAMACHO et al., 2006).
Segundo Frizzo e Piccinini (2005), a depressão pós-parto assim como outros
transtornos mentais pode ser iniciada ou precipitada pelo parto, diferenciando-se entre si
principalmente pelo grau de severidade, podendo ser dividida em tristeza pós-parto, psicose
pós-parto e depressão pós-parto. A tristeza pós-parto consiste em alterações transitórias do
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estado mental materno no puerpério imediato e ocorrem durante os dez primeiros dias do
pós- parto. Este quadro é considerado normal e essencial para aliviar a ansiedade após o
parto, onde se apresenta de uma forma leve e de prognóstico benigno com regressão
espontânea.
A psicose pós-parto, é considerado o mais grave dos transtornos psiquiátricos do
pós-parto, ocorre entre 1 a 2 partos de cada1000 partos. Tem início nas três primeiras
semanas de puerpério. Os sintomas são inicialmente agudos, ocorrendo além do quadro
depressivo, crises psicóticas. Já a depressão pós-parto é caracterizada por apresentar
quadros depressivos não psicóticos, geralmente tem o início menos agressivos, podem até
mesmo não serem reconhecidos e ignorados pelos familiares e profissionais da saúde
(FRIZZO; PICCININI, 2005).
Diferentes fatores de riscos envolvem a depressão pós-parto, estando centrados
principalmente dentro de um contexto multifatorial. Os fatores de risco mais comuns incluem
mulheres com episódios passados de DPP (no caso as multíparas), ritmo de vida
estressante, falta de apoio social, da família e do pai da criança, ansiedade, estado civil,
relacionamento conjugal insatisfatório, depressão durante a gravidez, mau relacionamento
com a mãe, dificuldades obstétricas, falta de um confidente, condições psicossociais
desfavoráveis, histórico de DPP na família, gravidez não planejada, gravidez na
adolescência, dificuldade financeira, desemprego, amamentação, quantidade de filhos,
paridade. As puérperas com baixo nível de escolaridade, baixo nível socioeconômico e que
não aceitam a gravidez estão mais vulneráveis a desenvolver a depressão pós- parto
(MORAES et al., 2006).
Conforme Silva et al. (2010) e Camacho et al. (2006) fatores como: episódios
estressantes durante a gravidez, instabilidade financeira, auto- estima limitada, problemas
conjugais são fatores de acentuam a depressão puerperal. Os autores ainda relacionam a
perda da liberdade de ir e vir como antes, falta de tempo para si e o seu companheiro, perda
de controle sobre vida fazem com que a mulher sinta-se fragilizada com a sensação de
fracasso e de incompetência para exercer seu papel de mãe, tornando-se vulnerável ao
desenvolvimento da depressão puerperal.
Os sinais e sintomas que a puérpera pode apresentar durante o quadro de
depressão pós- parto são irritabilidade, choro freqüente, sentimentos de desamparo e
desesperança, alterações na alimentação e no sono, sensação de incapacidade em lidar
com novas situações, cefaléia, dores nas costas, erupções vaginais, dor abdominal, sem
causa orgânica aparente (SCHMIDT; PICCOLOTO; MULLER, 2005).
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A depressão pós-parto apresenta-se na maioria das vezes de forma insidiosa
geralmente nas duas primeiras semanas do puerpério precedida de vários sintomas como:
tristeza, choro fácil, abatimento, distúrbio do sono, insônia inicial e pesadelo, às vezes
apresentam náuseas, irritabilidade, dificuldade de se concentrar e memorizar, sentimentos
de incapacidade em relação à maternidade, idéias suicidas e sentimentos negativos
relacionados ao marido, temor em sentir ciúmes dos outros filhos em relação ao recémnascido, no caso das multíparas (SILVA; BOTTI, 2005).
Frizzo e Picinini (2005) consideram que a depressão não tem inicio logo após o parto
e sim ao longo do 1º ano de vida da criança compreendido pelo aparecimento de sinais e
sintomas como: alterações no sono e apetite, dificuldade de dormir logo após amamentar o
bebe, crises de choro, desatenção, falta de energia, desinteresse pelas atividades que
exercia antes com prazer, sintomas estes que podem trazer grande prejuízo para a mãe e
filho se passarem despercebidos pela equipe de saúde e pela família.
O tratamento da depressão puerperal baseia- se na farmacologia, psicoterapia e na
eletroconvulsoterapia. O uso de fármacos no puerpério apresenta algumas contraindicações devido o aleitamento materno que pode ser comprometido devido à
concentração destes medicamentos no leite. Faz-se necessário a promoção de uma medida
criteriosa e supervisionada de contato entre a mãe e seu filho, levando em consideração o
estado emocional, de raciocínio e percepção da realidade, destacando assim formas
adequadas para fazer esse contato (SILVA; BOTTI, 2005).
Neste constructo, Silva e Botti (2005) ainda afirmam que a amamentação é um
momento essencial para que se possa estabelecer um vínculo entre a mãe e seu filho, além
de estar ajudando a puérpera a se situar no cenário maternal.
A abordagem
psicoterapêutica é de grande importância no tratamento da depressão pós- parto, uma vez
que esta abordagem seja feita com a puérpera e familiares. A eletroconvulsoterapia só é
indicada em casos extremos em que a puérpera não respondeu positivamente a terapia
medicamentosa antidepressiva e a psicoterapia.
As intervenções psicossociais e hormonais mostram- se com resultados pouco
eficientes já as pacientes que receberam tratamento de psicoterapia, estratégia cognitivacomportamentais e intervenções farmacológicas apresentaram resultados satisfatórios.
Segundo o autor muitas mulheres abandonam o tratamento medicamentoso quando
descobrem que estão grávidas ou amamentando com medo de prejudicar o feto ou o
lactente, conforme a evolução e a gravidade de menor escala a psicoterapia pode ser o
tratamento melhor indicado, podendo até mesmo ser aliada na redução de medicamentos
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diminuindo assim os ricos de recaída ou dos sintomas do quadro depressivo. O uso dos
fármacos não podem descontinuar sem conhecimento do médico. O quadro depressivo leve
obtém resposta positiva com o tratamento de psicoterapia, sendo este benéfico para a
puérpera e seu filho (CAMACHO, et al., 2006).
Para Silva e Botti (2005) a assistência de enfermagem durante o puerpério é muito
importante para o diagnóstico e tratamento uma vez que o enfermeiro é o profissional que
matem o primeiro contato com a paciente, sendo na rede pública, hospitalar ou ambulatorial.
Os enfermeiros além de obter conhecimento sobre a depressão puerperal devem estar
atentos aos fatores de risco bem como os sinais e sintomas.
Cabe ao enfermeiro manter uma observação direta e constante, ajudar a paciente na
sua higiene, encorajar a expressão de sentimento e pensamentos, ajudar e orientar a
puérpera nos cuidados com seu filho bem como a amamentação, dar suporte e
esclarecimento à família sobre o momento delicado em que se encontra a puérpera frisando
o quanto é importante o apoio da família nesse momento (SILVA; BOTTI, 2005).
4. CONCLUSÃO
O estudo mostrou que o cuidado a mulher no período puerperal é de grande
importância e que exige da equipe de saúde e familiares atenção à saúde física e mental da
mulher, pois neste período de adaptação ao cenário maternal que a puérpera pode estar
desenvolvendo a depressão pós- parto. Encontrou-se neste estudo uma lacuna com relação
à atuação dos profissionais da saúde, bem como a pouca preparação para lidar e direcionar
uma demanda diversificada, tendo em vista que o vínculo entre profissionais e pacientes é
muitas vezes deficiente.
Os cuidados as mulheres no período puerperal na maioria das vezes se limita aos
aspectos fisiológicos, e se oferece a atenção e cuidado a criança enquanto a mulher é
considerada parte integrante nos cuidados com o bebê minimizando as mudanças vividas
por esta mulher. Ressalta-se que a enfermagem pode estar contribuindo a prevenção,
orientação e detecção precoce da depressão pós- parto, considerando a qualidade do
atendimento prestado a mulher, ao seu companheiro, a sua família e aos demais membros
componentes do contexto de vida desta mulher.
REFERÊNCIAS
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p.181-8, 2005.
CATAFESTA, F. et al. Pesquisa-cuidado de Enfermagem na Transição ao Papel Materno entre
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FRIZZO, G. B., PICCININI, C.A. Interação Mãe-Bebê em Contexto de Depressão Materna: Aspecto
Teóricos e Empíricos. Psicologia em Estudo, Maringá, vol.10, n.1, p.47-55, 2005.
MORAES, I.G.S. et al. Prevalência da Depressão Pós-Parto e Fatores Associados. Rev. Saúde
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MORESI, E. Metodologia de Pesquisa. Universidade Católica de Brasília, 2003.
REZENDE, J. Obstetrícia. 10º edição, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
SCHMIDT, E. B., PICCOLOTO, N. M., MÜLLER, M. C. Depressão Pós- Parto: Fatores de Risco e
Repercussões no Desenvolvimento Infantil. Psico-USF, Rev., vol.10, n.1, p.61-68, 2005.
SILVA, E.T., BOTTI, N.C.L. Depressão Puerperal: Uma Revisão de Literatura. Revista de
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SILVA, F.C.S. et al. Depressão Pós- Parto em Puérperas: Conhecendo Interações entre Mãe, Filho e
Familia. Acta Paul Enfer., vol.23, n.3, p.411-6, 2010.
WAZLAWICK, R.S. Metodologia de Pesquisa para Ciência da Computação. Editora Elsevier,
2009.
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