A EXAUSTÃO DE SÍSIFO: GESTÃO PRODUTIVA E
O TRABALHADOR CONTEMPORÂNEO
Rafael Alves da Silva1
Introdução
Ao analisar a atual configuração produtiva, temos um cenário em que as recentes
tecnologias da informação associadas a novos métodos organizacionais possibilitam
aumentar a produtividade, reduzindo o tempo de produção. Tal situação, longe de
diminuir o desgaste no trabalho, permite a redução de postos e resulta na intensificação
de trabalho para os que continuam trabalhando, ao mesmo tempo em que precariza sua
condição. Contraditoriamente, as ‘ferramentas’ de gestão associadas ao toyotismo e à
qualidade total, demandam uma participação e envolvimento do trabalhador diferentes
de outros momentos como, por exemplo, no auge do período fordista, aproveitando
também os elementos cognitivos do ‘colaborador’, num discurso que fomenta a
criatividade, a competição e a busca por melhorias.
Se considerarmos que as ‘ferramentas’ de gestão atuais e as técnicas próprias
dos departamentos de recursos humanos não podem manipular livremente o trabalhador,
que a adesão e participação desses trabalhadores, tão importantes para a gestão atual,
não resultam exclusivamente de um engodo, podemos sugerir que tal configuração
somente é possível por ter sido formado um tipo específico de trabalhador e de
sociedade. Com a articulação entre toyotismo, neoliberalismo e teoria do capital
humano, temos uma sociedade organizada sob a forma de empresa, composta de
indivíduos que devem agir de forma ‘empreendedora’, investindo em si próprios,
buscando atender aos ditames do mercado.
Dito de outra forma: é possível verificar que a lógica inerente à organização
produtiva atual é reduzir e precarizar postos de trabalho. Outra característica do modelo
é a necessidade de adesão e cooperação dos trabalhadores para que tal intento seja bem
sucedido. Grande parte da crítica feita às técnicas toyotistas de gestão, busca denunciar
esse caráter de intensificação do trabalho e de como o trabalhador é levado, seja pelo
1
Doutorando em Ciências Sociais – IFCH – UNICAMP; E-mail: [email protected]
1
discurso da empresa, seja pelas técnicas psicológicas, a pensar para o capital, a
contribuir com sugestões e melhorias ao processo. O que nos interessa nesse texto é, a
partir dessas constatações e das críticas que já foram formuladas, considerar que vem
sendo formado um trabalhador com uma mentalidade específica, assim como um
discurso na sociedade, e não somente dentro da fábrica, que são imprescindíveis para o
funcionamento do quadro descrito.
Assim como o trabalhador do período fordista teve de aprender a acompanhar o
ritmo imposto pelo maquinário e aceitar a disciplina imposta pela administração
científica, tendo sido formado todo um modo de vida e uma imagem do operário
modelo, o trabalhador atual também tem de apresentar novas características, tais como a
polivalência, a criatividade, a flexibilidade, etc., e queremos propor que isso não é
exclusivamente imposto dentro da fábrica, mas sim um processo que está associado a
discursos presentes na sociedade.
Vale frisar que tais apontamentos referem-se à observação de tendências.
Evidentemente, não pretendemos ignorar a existência de um número enorme de
trabalhadores que atuam ainda dentro dos moldes tayloristas, muitas vezes chegando a
aberrações próximas à escravidão. Buscamos apenas explicitar um discurso que, no
limite, defende mesmo a indiferença entre trabalho e capital, sendo o trabalhador um
capitalista de si próprio, ‘investidor’ em sua educação e sócio da empresa, num cenário
em que a concorrência do mercado atesta não haver alternativas a não ser ‘defender a
empresa para defender a própria vida’.
Outro ponto a destacar desde já é que a afirmação de que a configuração atual
está programada para reduzir postos de trabalho não significa dizer que o trabalho
perdeu importância analítica ou para o capital. Ao contrário, é esse um ponto de tensão
interessantíssimo, na medida em que o capital busca reduzir cada vez mais postos, mas
não pode prescindir totalmente do trabalho vivo 2.
Objetivos
2
Podemos citar experiências que tentaram reestruturar empresas unicamente pela via tecnológica, como o
projeto Saturno da General Motors, completamente frustrado. A chave do modelo toyotista está em
articular tecnologia e uma força de trabalho envolvida e participante também com sua dimensão cognitiva
do processo.
2
O objetivo principal é discutir aspectos da atual configuração produtiva e da
gestão do trabalho, levando em consideração discursos associados ao neoliberalismo e à
teoria do capital humano. Reforçando as críticas feitas ao modelo que se convencionou
chamar de toyotista no tocante à intensificação da exploração, buscamos questionar
como as pessoas toleram o intolerável, tentando tratar a questão não produzindo um
discurso de vitimização do trabalhador, mas considerando-o como participante do
processo. Longe de oferecer respostas, o texto visa apenas contribuir com o debate.
Metodologia
Este texto apresenta algumas reflexões que partem de pesquisa realizada como
dissertação de mestrado (Silva, 2008). Na pesquisa foi aplicada análise de material de
treinamento e ‘literatura empresarial’; entrevistas e conversas informais; participação
em eventos e processos de consultoria para reestruturação produtiva; estudo teórico de
autores ligados à teoria do capital humano, toyotismo e neoliberalismo. Este texto é uma
discussão teórica e reflexão mais livre de alguns pontos presentes na citada dissertação e
que estão embasados na pesquisa realizada nessa ocasião.
Reflexões acerca da gestão contemporânea
Embora não seja possível desenvolver esse argumento aqui, partimos da
premissa de que a lógica inerente às doutrinas da qualidade total
3
e os resultados dos
mecanismos da gestão contemporânea são a redução de postos de trabalho e a
intensificação da expropriação dos que permanecem na ativa (Silva, 2008). O ganho em
produtividade que havia sido conquistado pela gerência científica de Taylor e
intensificado com Ford, encontra um novo patamar a partir da década de 1970,
possibilitado pelo avanço tecnológico e a disseminação de concepções que não
3
Nas empresas e entre os consultores, a Qualidade é tratada como substantivo e não adjetivo,
portanto os profissionais trabalham na gestão “da qualidade” e não “de qualidade”. Pode parecer
uma bobagem, mas este detalhe pode ser ligado ao caráter de discurso mobilizador que a gestão
da qualidade assume, sem estar vinculado a nenhuma preocupação com a qualidade do produto.
Uma empresa que apresente um eficiente sistema de gestão da qualidade, não apresenta
necessariamente um produto de qualidade.
3
desprezam a capacidade cognitiva do trabalhador, diferentemente do “gorila amestrado”
de Taylor.
Temos um trabalhador em permanente estado de alerta: atento à qualidade e à
necessidade de melhoria contínua durante a execução de seu trabalho; preocupado em
dar idéias para os ‘grupos de braimstorm’ e discussões de ‘melhoria’; temeroso por sua
colocação no mercado e ciente de sua responsabilidade em se aperfeiçoar. A
preocupação com o trabalho – e, já que as idéias são úteis para a empresa, o trabalho em
si – não cessa ao ‘bater o ponto’.
Por outro lado, as ‘ferramentas’ de gestão da qualidade, os mecanismos
organizacionais e os sistemas de padronização da produção dependem de uma
participação e envolvimento diferentes dos exigidos em momentos anteriores. A própria
tecnologia da informação necessita dessa participação. No momento de implantação de
tais sistemas, na adequação de uma empresa à ISO 9001, por exemplo, é necessário o
envolvimento de todos os trabalhadores, inclusive os terceirizados, seja para
descreverem suas atividades em procedimentos documentados ou para aprenderem
novos métodos de organização. Nenhum software é eficientemente implantado
ignorando os conhecimentos dos trabalhadores. Além disso, posteriormente, já que um
dos diferenciais da configuração atual é justamente o aproveitamento das idéias dos
executores das tarefas, permanece a necessidade de envolvimento e participação destes.
Taylor já tinha clareza das contrapartidas necessárias para que colaborassem
com seu sistema. Considerando que sua tarefa era “fazer com que Schimidt operasse 47
toneladas de ferro por dia e torná-lo feliz com isso” (Taylor apud Braverman, 1981: 96),
ele lhe oferece $ 1, 85 diários no lugar dos $ 1,15. Seu método procura estabelecer uma
“relação formal de reciprocidade entre dois sujeitos histórica e politicamente desiguais:
capital e trabalho” (Heloani, 1994: 18). Já no Fordismo, as contrapartidas vão além dos
melhores salários, ligadas também às políticas keynesianas e do Estado de bem estar
social, durante uma espécie de “círculo virtuoso (ganhos elevados de produtividade grande produção - aumento dos salários - consumo alto)” (Linhart, 2007: 76). Por outro
lado, as contrapartidas do toyotismo, ainda que existam, “são imediatamente
abandonadas se elas representam, de alguma forma, uma ameaça às taxas de lucro.
Acrescenta-se a isso o fato de que no Brasil essas contrapartidas foram praticamente
nulas, se comparadas a de países centrais do capitalismo” (Marcelino, 2004: 114).
4
“Em suma, encontramo-nos em uma situação paradoxal: no momento em que as
empresas têm menos contrapartida a propor aos assalariados é que elas procuram estabelecer um
consenso. No momento em que as diretorias das empresas não podem mais recuar, (...) é que se
voltam para os assalariados, pedindo-lhes para cooperar, participar, integrar-se em uma nova
moral da empresa, prometendo-lhes menos, principalmente no plano dos salários” (Linhart,
2007: 76).
Sendo paradoxal um sistema que depende de um envolvimento e participação
qualitativamente acrescidos, ao mesmo tempo em que precariza as condições daqueles
de que necessita a adesão, mais contraditório é o fato dessa ‘colaboração’ ser
conseguida. Pois, frente aos resultados da organização toyotista, os constantes aumentos
de produtividade com redução de postos de trabalho, e levando em consideração que os
mecanismos de gestão que permitem tal situação apenas são eficientes com a
participação dos executores da tarefa; temos que o trabalhador trabalha para sua própria
exclusão.
Quando um operador preenche todos os dados referentes à atividade de seu
setor, atendendo às diretrizes da norma ISO 9001 – num processo que será auditado
para manter o certificado de qualidade da empresa, necessário para que essa se
mantenha no mercado e possibilite seu emprego – ele deu o primeiro passo para que sua
atividade seja totalmente compreendida pelo sistema da qualidade, padronizada em
procedimentos e facilmente terceirizada, ou simplesmente programada em software e
automatizada. No momento em que ele participa de ‘grupos de melhoria’ e apresenta
idéias para aperfeiçoar os processos, quando realiza modificações para tornar para si
mesmo o trabalho mais fácil, ele contribui para a obsolescência de sua função.
Vale lembrar que esta lógica não é exclusividade dos trabalhadores menos
qualificados. Há hoje uma tendência de desemprego e precarização também para as
funções mais especializadas. Comentamos noutra oportunidade terceirizações de
laboratórios dentro de indústrias químicas, processos inteiros de gestão da qualidade
organizados por trainees e estagiários e redução de efetivos em diversos setores (Silva,
2008). A busca de ‘melhoria contínua’
4
se dá em todos os processos da organização,
reduzindo o tempo necessário para a execução da tarefa, redistribuindo funções,
4
Segundo a norma NBR ISO 9001:2000, o compromisso com a melhoria contínua deve ser declarado na
política da empresa (elemento 5.3) e é especificado no elemento 8 tornando-o auditável, já que também é
exigida a definição de metas e os meios para atingí-las e renová-las.
5
implementando tecnologias da informação; ou seja, reduzindo postos, seja o de um
operador da produção ou coordenador da área financeira.
Diante disso, podemos pensar que os mecanismos de apropriação de saberes dos
trabalhadores, as ‘ferramentas’ participativas que buscam fazer o trabalhador pensar
para o capital, atuam mascarando suas reais intenções. Se partirmos do princípio de que
um operador não contribuiria com sugestões se soubesse que ao fim do processo seu
emprego estaria ameaçado, então tal participação só seria possível havendo um engodo
por parte do sistema.
Assim, o toyotismo não se apresentaria reduzindo postos enquanto intensifica o
trabalho e precariza as condições dos que permanecem na ativa, mas respondendo aos
modelos anteriores, tão criticados, tornando a produção mais eficiente, portanto, menos
desgastante e possibilitando o desenvolvimento do trabalhador na medida em que este
participa intelectualmente do processo.
“Em lugar do trabalho desqualificado, o operário é levado à polivalência. Em vez da
linha individualizada, ele integra uma equipe. No lugar da produção em massa, para
desconhecidos, trabalha um elemento para satisfazer a equipe que vem depois da sua na cadeia.
Em suma, o ‘toyotismo’ elimina, aparentemente, o trabalho repetitivo, ultra simplificado,
desmotivante, embrutecedor” (Gounet, 1999: 33).
Porém, até que ponto esse engodo se sustentaria atualmente? A citação acima é
uma ironia de Gounet, autor crítico ao toyotismo, resumindo suas principais inovações.
E fora os autores que combatem o modelo, os próprios trabalhadores já não estariam
cientes de que as contribuições que fazem ao processo visam aumentar a produtividade
da empresa? Já não sentiriam na pele os efeitos do desemprego e da precarização?
Evidentemente, existem diversos entraves para resistências por parte dos
trabalhadores. A própria necessidade de sobrevivência, o exército de reserva existente e
a ameaça de desemprego talvez já sejam suficientes para justificar uma posição
defensiva. Mas o que queremos destacar aqui (e questionar) é uma participação que vai
além, muitas vezes, daquilo que foi pedido.
Se considerarmos não ser possível que as ‘ferramentas’ de gestão da qualidade, o
conhecimento psicológico da área de recursos humanos (Deming, 1990; Juran, 1993 ) 5,
as ‘reuniões do abraço’, os concursos, os prêmios, as gincanas, enfim, que as técnicas de
5
Autores de teorias da administração e expoentes da ‘qualidade total’.
6
gestão e seus mecanismos de cooptação sejam os únicos responsáveis pela adesão dos
trabalhadores, é preciso destacar que esse envolvimento só é possível em um tipo
específico de trabalhador e de sociedade.
Ou seja, diante de um regime de acumulação que precariza a condição daquele
de quem necessita maior participação, considerando que esse caráter já está bastante
evidente e tendo em conta que, por mais eficientes que sejam, as práticas de gestão não
poderiam manipular livremente os trabalhadores; temos de levar em conta a formação
da sociedade e do indivíduo que permitem tal situação. Pois, na competição interna em
uma empresa, na disputa entre os colegas de trabalho, o que está escondido a não ser
somente as estratégias de cada um? Na constatação de que não há vagas para todos e é
necessário lutar por elas, o que não está dito?
Embora esteja evidente que o capital é o grande beneficiário desse tipo de
mobilização dos trabalhadores, a própria definição dos responsáveis por uma possível
manipulação é complicada, visto que muitos daqueles que atuam na definição de metas,
execução das ‘ferramentas’ da qualidade e implementação de softwares são técnicos,
também substituíveis como os demais. Os próprios executivos, muitas vezes, parecem
não estar em melhor situação, tendo de direcionar toda sua energia para a manutenção
de sua empregabilidade, podendo também ser cortados em qualquer reestruturação, num
processo impessoal que estará apenas respondendo aos ditames do mercado,
simplesmente executando a lógica para o qual está ‘programado’.
Tomando como exemplo o comentário de Danièle Linhart, de que “os gestores
estão deliberadamente manipulando a subjetividade operária” 6, cabe perguntar quem
são os gestores ou, pelo menos, destacar que eles não estão isentos dos mesmos
processos. Ela mesma contou que, num colóquio em Lion onde tratava de temas ligados
aos mecanismos de cooptação do trabalhador, lhe perguntaram o que ela fazia ali, não
porque sua posição desagradasse aos presentes, gestores de empresas, mas porque eles
já sabiam de tudo aquilo, disseram estar numa guerra econômica e todos deviam ser
militantes e defensores da empresa. Os discursos da qualidade total aproximam-se
mesmo de uma “mobilização total”, no sentido dado por Ernst Jünger ao tratar da
mobilização para a guerra em seu ensaio de 1930 (Jünger, 1990).
Sem a possibilidade de maior aprofundamento, gostaríamos apenas de destacar:
7
• O modo de produção capitalista tem como objetivo único a maximização do
lucro. O sistema de gestão da produção, tal como está configurado hoje, tem
como lógica inerente o aumento da produtividade concomitante a uma redução
de efetivos, o que é permitido, também, pelo atual patamar tecnológico.
• O princípio de competição do mercado, muito além de determinar as regras do
jogo (ou a falta delas) para as empresas, também é observado nos trabalhadores.
Pois, na medida em que se está em uma ‘guerra econômica’, estando o
neoliberalismo vitorioso, declarando a escassez e a falta de alternativas, nada
mais resta, a não ser procurar se adaptar, aumentar a empregabilidade,
competindo pelas vagas cada vez mais raras. Na passagem da ‘fábrica’ para a
‘empresa’ 7, ao poder prescindir do capataz, mantendo uma vigilância entre os
próprios trabalhadores – “o trabalhador torna-se (...) um déspota de si próprio”
(Antunes, 2003: 205) –, a “empresa introduz o tempo todo uma rivalidade
inexpiável como sã emulação, excelente motivação que contrapõe os indivíduos
entre si e atravessa cada um, dividindo-o em si mesmo” (Deleuze, 1992: 221) .
Configura-se uma situação em que quanto menos o sistema oferece, quanto
menor a possibilidade de ascender, mais consegue a dedicação dos indivíduos, mais se
delineia a “mobilização total”. E esta lógica faz, por exemplo, com que os diversos
alertas de Richard Sennett em A corrosão do caráter, sobre as conseqüências pessoais
das mudanças recentes no capitalismo, coloquem o sociólogo como um dos sete
principais entrevistados durante os sete anos da Revista Você S/A 8, publicação do
segmento de ‘gestão da carreira’. Seus comentários sobre a reestruturação produtiva e
seu impacto na vida das pessoas são recebidos como necessidade de se desenvolver
mais, seja nos conhecimentos técnicos para tentar garantir o emprego, seja no
aprendizado emocional para resistir ao aumento da pressão e do estresse ou em saber se
adaptar às mudanças – o que, em última instância, também busca garantir o emprego.
A aceitação de que esse processo é inevitável, uma necessidade econômica, e
que os indivíduos têm de competir por um lugar no mercado, que declara ter vagas
somente para os melhores, ou seja, os mais aptos, possibilita também que o consultor
6
Seminário ‘Qual o sentido social da modernização no trabalho?’ – Fac. de Educação, UNICAMP,
21/08/07.
7
Nesse sentido nos referimos à concepção de Deleuze ao tratar da passagem das ‘sociedades
disciplinares’ para as ‘sociedades de controle’ – cf. Deleuze, 1992.
8
Roberto Shinyashiki seja vivamente aplaudido por um auditório de trabalhadores de
departamentos de Recursos Humanos, ao mostrar imagens da seleção de ‘pintinhos’ em
uma granja, onde os considerados inadequados são triturados, e perguntar: “não é isso
que vocês fazem todos os dias?” 9.
Imperando a racionalidade de tipo econômica, toda situação passa a ser encarada
dentro da lógica da empresa e todo aprendizado aproveitável: “ ‘Eu negociei a vida do
meu filho’ – O empresário Alexander Lucinski passou 15 dias negociando com
seqüestradores. Dessa experiência, tirou lições para a vida e para o trabalho” 10.
Feitos esses apontamentos, passemos a comentar alguns elementos que
contribuíram para a formação do quadro atual.
Adaptação
A necessidade de adaptação às mudanças da racionalização da produção e do
trabalho não é uma exclusividade do momento atual. Gramsci, ao analisar no início da
década de 1930 as transformações pelas quais passava a produção e a vida social com a
implementação dos métodos taylorista/fordistas, aponta para a formação de um novo
homem e uma nova sociedade.
“A história do industrialismo sempre foi (e hoje o é de forma mais acentuada e rigorosa)
uma luta contínua contra o elemento ‘animalidade’ do homem, um processo ininterrupto, muitas
vezes doloroso e sangrento, de sujeição dos instintos (naturais, isto é, animalescos e primitivos)
a sempre novos, complexos e rígidos hábitos e normas de ordem, exatidão, precisão, que tornem
possível as formas sempre mais complexas de vida coletiva, que são a conseqüência necessária
do desenvolvimento do industrialismo. Esta luta é imposta do exterior e até agora os resultados
obtidos, embora de grande valor prático imediato, são em grande parte puramente mecânicos,
não se transformaram numa ‘segunda natureza’. Mas, todo novo modo de vida, no período em
que se impõe a luta contra o velho, não foi sempre durante certo tempo o resultado de uma
compressão mecânica? Inclusive os instintos que hoje devem ser superados como ainda bastante
8
Revista Você s/a. Ed. Abril, edição 86, agosto de 2005 – pp. 46-47
FÓRUM LÍDER RH 2002 , 23-26 maio 2002, Centro de Convenções Rebouças, São Paulo “Liderança: Como Criar Equipes de Campeões” – Palestrante: Roberto Shinyashiki
9
10
Revista Você s/a. Ed. Abril, edição 88, outubro de 2005.
9
‘animalescos’, constituíram, na realidade, um progresso notável em relação aos anteriores, ainda
mais primitivos: quem poderia enumerar o ‘custo’, em vidas humanas e em dolorosas sujeições
dos instintos, da passagem do nomadismo à vida sedentária e agrícola? (...)
Até agora, todas as mudanças do modo de ser e viver se verificaram através da coerção
brutal, através do domínio de um grupo social sobre todas as forças produtivas da sociedade: a
seleção ou ‘educação’ do homem apto para os novos tipos de civilização, para as novas formas
de produção e de trabalho, foi realizada com o emprego de brutalidades inauditas, lançando no
inferno das subclasses os débeis e os refratários, ou eliminando-os simplesmente” (Gramsci,
1980: 391-393).
A longa citação faz-se necessária dada a riqueza do texto. Gramsci contempla as
transformações de seu tempo como uma etapa dentro de um processo que deve
continuar. Aponta a adaptação dos trabalhadores necessária para atender às mudanças
na produção, adaptação que não se limita às questões físicas ou psicológicas, mas
também aos costumes e a um modo de vida que deve se expandir por toda a sociedade,
eliminando os que não se adaptarem. Importante observar que o autor enxerga uma
limitação à coerção externa, uma necessidade de articular repressão e persuasão, já
apontando para a possibilidade da coerção mecânica passar a um estágio de
“autocoerção” e “autodisciplina”, também comentando que as mudanças tendem a ser
mais rápidas que no passado.
Para o autor, o fenômeno americano que observa é o maior esforço coletivo
realizado para criar com uma consciência do fim jamais vista “um tipo novo de
trabalhador e de homem” (Gramsci, 1980: 396). E Gramsci considera estar assistindo
uma etapa de um longo processo que começou com o industrialismo e deve continuar,
fase que é mais explícita e brutal que as precedentes, mas que também será superada
“com a criação de um novo nexo psicofísico de um tipo diferente dos precedentes e,
indubitavelmente, superior. Verificar-se-á, inevitavelmente, uma seleção forçada, parte
da velha classe trabalhadora será impiedosamente eliminada do mundo do trabalho e
talvez do mundo tout court” (Gramsci, 1980: 397).
Capital humano e neoliberalismo
10
Como vimos, as transformações na organização da produção forçam o
trabalhador a adaptar-se. Atualmente, com a capacidade de aumentar a produtividade
reduzindo efetivos, o mercado declara ter lugar apenas para os melhores
11
. Dessa
forma, essa adaptação assume um caráter mais intenso, é preciso estar a todo o
momento se aperfeiçoando na concorrência com os demais. É preciso, como se diz no
meio empresarial, valorizar o “capital humano”.
O sociólogo Osvaldo López-Ruiz, num estudo sobre os executivos das
transnacionais, busca delinear o ethos que motiva e impulsiona o capitalismo na fase
contemporânea. Sua análise volta-se para o conceito de “capital humano” e os
economistas da Escola de Chicago.
Na reconstituição do percurso de formação de tal conceito, aponta que o período
de opulência do desenvolvimento econômico posterior à Segunda Guerra traz um
problema para os economistas: “os fatores originários da produção, terra, capital e
trabalho mostravam um crescimento individual que, somado, era significativamente
inferior ao crescimento total da economia” (López-Ruiz, 2007: 55). O economista
Theodore W. Schultz formula sua hipótese de que a explicação deveria ser buscada na
acumulação de riqueza humana que era excluída das medidas convencionais de “horashomem trabalhadas” e capital tangível.
López-Ruiz explica que para Schultz, o valor do stock ‘capital humano’ não é
inferido de uma analogia com o ‘não humano’ ou ‘morto’, mas que são as próprias
‘destrezas e habilidades’ adquiridas pelos trabalhadores. Trata-se de estabelecer quanto
valem para o mercado certos atributos que o homem pode desenvolver e que valor
econômico eles podem produzir. Além disso, o que antes fora tratado como “custo”, um
gasto derivado da utilização de mercadorias e serviços para a satisfação de necessidades
humanas, Schultz tratará por “investimento”.
As idéias relativas ao capital humano sofreram resistências no início, tanto de
cunho ético como críticas relacionadas ao sentido de custo-benefício dado à educação e
na definição de suas políticas, ou em justificar os investimentos no homem
11
“[O economista americano] Jeremy Rifkin publicou um artigo no "Guardian" em 2004 dizendo que,
entre 1995 e 2002, a China perdeu 15 milhões de trabalhadores industriais crescendo 10%, 12% ao ano. O
crescimento não é sinônimo de inclusão no trabalho. Ele é possível com maquinário e trabalho
multifuncional (em bom e claro português, significa o trabalhador fazer muitas coisas)”. – Antunes, Folha
de S. Paulo, 22/10/06
11
exclusivamente pelo retorno. Gary S. Becker, por exemplo, foi vaiado pelo auditório ao
propor, em 1960, considerar as crianças como “bens de consumo duráveis”. No entanto,
tais entraves foram gradativamente superados na segunda metade do século XX e
autores como Becker e Schultz passaram a ser parte do mainstream da economia.
“A ciência econômica, nesse caso, não cria só uma teoria sobre a economia; cria um
repertório de interpretação que nos permite pensar e pensar-nos de maneira tal que não nos
resulte repulsiva a imagem do humano como riqueza – como o havia sido em tempos de J. S.
Mill. A partir de seus postulados ‘cientificamente verificáveis’, o humano passa a ser entendido
como uma forma de capital e, portanto, o ‘capital humano’ e tudo o que se faça para
incrementá-lo é investido de um valor positivo: cada pessoa deve – porque é economicamente
conveniente, mas também porque é ‘moralmente bom’ – aumentar suas habilidades (...) a partir
de ‘investimentos’ constantes” (López-Ruiz, 2007: 62).
É importante perceber como tal concepção afasta-se da teoria econômica
clássica, na qual o trabalho é pensado como um fator originário da produção, e passa a
pensá-lo, assim como ao próprio trabalhador, como um meio de produção produzido.
Assim, na análise de López-Ruiz, com a sua proposta de um deslocamento
conceitual-valorativo do consumo para o investimento, estamos diante da emergência de
uma sociedade organizada a partir do modelo de empresa. Ou em outras palavras, uma
sociedade na qual cada indivíduo é levado a incorporar a forma empresa como meio de
organizar, não apenas a sua atividade profissional, a sua carreira, mas a sua própria vida.
Dessa forma, sendo ‘proprietários’ de suas próprias habilidades e competências, são
também
responsáveis
por
sua
manutenção
e
incremento, devendo
investir
constantemente em si para corresponder às exigências de seleção do mercado.
O filósofo André Gorz, tratando de mudanças recentes no capitalismo, analisa que
“desfeitas as relações salariais convencionais, resolveu-se a questão a respeito do modo
como o capital consegue exercer poder sobre os homens e é capaz de mobilizar a todos: os
empregados têm de se tornar empresas (...). Na briga com a concorrência, eles serão forçados a
internalizar a pressão trazida pela lógica de obtenção do máximo de proveito possível. No lugar
daquele que depende do salário, deve estar o empresário da força de trabalho, que providencia
sua própria formação, aperfeiçoamento, plano de saúde, etc. ‘A pessoa é uma empresa’. No
lugar da exploração entram a auto-exploração e a autocomercialização do ‘Eu S/A’, que rendem
lucros às grandes empresas, que são clientes do auto-empresário” (Gorz, 2005: 10).
12
E podemos dizer que, diferentemente da adaptação que Gramsci observou em
sua época, agora ela poderá ser ativa e conscientemente buscada já que o “trabalhador
não se apresenta mais apenas como o possuidor de sua força de trabalho heteroproduzida (ou seja, de capacidades predeterminadas inculcadas pelo empregador), mas
como um produto que continua, ele mesmo, a se produzir” (Yann Moulier-Boutang
apud Gorz, 2005: 19).
Passemos agora ao tema do neoliberalismo. O filósofo Michel Foucault,
refletindo sobre a “arte de governar”, considera que a partir de meados do século XVIII,
caracteriza-se o que ele vai chamar de “razão governamental moderna”, instaurando um
princípio de limitação intrínseco à arte de governar, objetivando o excesso de governo,
no lugar de abuso da soberania. Nessa transformação, ocorre que a regulação não advém
do direito, mas da economia política, entendida como todo método de governo
suscetível de assegurar a prosperidade de uma nação. A economia política não se pauta
em direitos naturais, mas na natureza daquilo que deve ser governado. Uma natureza
que se deve observar para se obter êxito, de modo que a legitimidade é substituída pela
eficácia. O mercado permite que apareçam os mecanismos naturais e quando se deixa
que atuem possibilita a formação de um preço natural e bom. E é justamente para
estudar o que chama de “regime de verdade” estabelecido pela economia política, que o
autor se volta para o liberalismo.
“Valor de troca e veridição espontânea dos processos econômicos, medidas de utilidade
e jurisdição interna dos atos do poder público: aí está como a razão governamental articula os
princípios fundamentais de sua autolimitação. Troca de um lado utilidade de outro, (...) a
categoria geral que vai abranger tanto a troca quanto a utilidade é, naturalmente, o interesse,
dado que o interesse é o princípio da troca e o critério da utilidade” (Foucault, 2004: 46).
A reflexão de Foucault acerca do liberalismo, ao analisar como os conceitos de
utilidade, interesse e eficácia, se sobrepõem às noções de soberania e legitimidade,
explicita as transformações ocorridas no século XVIII. Daí, após as diversas facetas da
intervenção estatal, como o nazismo, o socialismo e o welfare state, ocorrerão novas
transformações na segunda metade do século XX, ligadas ao neoliberalismo. O autor
comenta primeiramente o neoliberalismo alemão, os ordoliberais, e a necessidade de
refundar o Estado sem acudir a nenhum dos princípios que tinham levado ao Estado
nacional-socialista.
13
Para os ordoliberais não era suficiente o que ocorria no século XVIII, que a
economia de mercado delimitasse um ponto onde o Estado não poderia mais intervir. Já
que o Estado portava defeitos intrínsecos, e nada indicava que a economia de mercado
portasse os mesmos defeitos, era coerente que ela fosse o princípio de regulação do
Estado, “um Estado sob vigilância do mercado antes de um mercado sob vigilância do
Estado” (Foucault, 2004: 120)
Tais autores insistirão, dirá Foucault, na formalização da sociedade no modelo
de empresa. Na sociedade vislumbrada pelo neoliberalismo alemão, não estamos
submissos ao efeito mercadoria, mas sim à dinâmica da concorrência. O princípio
regulador de tal sociedade não é o da troca, mas o da concorrência. Não se trata da
‘sociedade de supermercado’ ou do ‘homem consumidor’, mas da ‘sociedade empresa’
e do ‘homem da empresa e da produção’. E, noutro momento, de forma mais concreta
na Universidade de Chicago na década de 1960, ocorrerá uma transformação da
concepção neoliberal:
“A mutação epistemológica essencial das análises neoliberais, é que elas pretendem
mudar o que havia constituído de fato o objeto, o domínio dos objetos, o campo de referência
geral da análise econômica. Praticamente, a análise econômica de Adam Smith, até o início do
século XX, se deu como objeto o estudo dos mecanismos de produção, dos mecanismos de troca
e dos fatos de consumo no interior de uma estrutura social dada, com a interferência desses três
mecanismos. Ora, para os neoliberais, a análise econômica deve consistir não no estudo desses
mecanismos, mas no estudo da natureza e das conseqüências do que eles chamam de escolhas
substituíveis, ou seja, o estudo e a análise de como são alocados recursos raros a fins que são
concorrentes” (Foucault, 2004: 228).
A teoria do capital humano – a qual tratamos com López-Ruiz – será, na opinião
de Foucault, a reinterpretação em termos econômicos de domínios até então não
considerados dessa forma. A economia torna-se uma ciência preocupada com o
comportamento humano, procurando o cálculo, que pode ser errôneo, mas qual foi o
cálculo por trás da decisão de um indivíduo alocar recursos raros em determinado fim.
Os neoliberais da Escola de Chicago reintroduzem o trabalho na análise econômica, mas
de forma a questionar como aquele que trabalha dispõe seus próprios recursos. Para
Marx o salário era o preço da venda da força de trabalho (abstrato), já os neoliberais vão
considerar o salário como rendimento de um capital. “Decomposto do ponto de vista do
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trabalhador em termos econômicos, o trabalho comporta um capital, ou seja, uma
aptidão, uma competência” (Foucault, 2004: 230)
Assim, com o neoliberalismo alemão teríamos a generalização da forma empresa
pela sociedade, uma reformulação da relação entre o Estado e o mercado. E, com os
neoliberais da Escola de Chicago, temos a aplicação ilimitada da forma do mercado,
levando essa lógica como princípio para o entendimento (e condução) dos
comportamentos individuais; uma reconfiguração da relação entre indivíduo e mercado.
Tendo o mercado, a partir de meados do século XVIII, se convertido no lugar de
formação de verdade, em meados do século XX se dará a passagem do homo
oeconomicus liberal, homem da troca, para o neoliberal, o homo oeconomicus
empresário de si mesmo.
Resultados (considerações finais)
Apresentamos alguns elementos fundamentais para a formação dos discursos
contemporâneos e do “regime de verdade” formado que viabilizam o funcionamento da
lógica produtiva que descrevemos, justificando as ações das empresas e pautando um
conjunto de valores considerado na condução da vida pelo indivíduo. Pensar as
características do trabalhador contemporâneo e acompanhar estes discursos presentes na
fábrica e na sociedade organizada como empresa, nos parece importante para fazer a
crítica às condições atuais de exploração do trabalho. Pois – lembrando das levas de
jovens universitários participantes de fóruns de empreendedorismo, ou do público
consumidor de toda literatura para gestão de carreiras – de que adiantaria demonstrar
como um trabalhador perdeu tempo livre ao ser mandado para trabalhar em sua
residência, quando ele considera que ganhou liberdade? Que força pode ter hoje a
simples denúncia de que as formas atuais de gestão intensificam o trabalho, quando
ocorrem suicídios de trabalhadores em posição de planejamento de grandes montadoras
automotivas e o episódio vale para alimentar as consultorias, já que esses trabalhadores
não tiveram ‘inteligência emocional’ para lidar com as metas? Temos de levar em
consideração que “muitos jovens pedem estranhamente para serem ‘motivados’, e
solicitam novos estágios e formação permanente” (Deleuze, 1992:226).
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1 A EXAUSTÃO DE SÍSIFO: GESTÃO PRODUTIVA E O