O Podcast como recurso educacional.
Nivaldo Neves Oliveira Junior
Bacharel em Ciências da Computação pela USJT
Licenciado pelo curso de formação de professores da USJT.
Aluno do curso de Pedagogia da USJT
Inicio este texto na intenção de proporcionar uma reflexão acerca
de como podemos usar o computador como recurso educacional, porém
não vejo a necessidade de argumentar sobre o uso de computadores em
sala de aula, visto que os participantes do projeto Podescola em sua
maioria já usam esta máquina como recurso educacional, o
questionamento aqui é como isto vem sendo feito?
Parafraseando Rosa, em seu livro Construtivismo e Mudança,
quando a autora nos diz que o professor que muda a disposição das
cadeiras, a cor da lousa, etc, não muda, necessariamente, a sua prática
docente, podemos então garantir que o uso dos computadores não muda
a nossa prática pedagógica, pois, caso a maquina fosse responsável pela
mudança, estaríamos associando o sucesso desta prática ao computador
e suas capacidades quando sabemos que, na realidade, o sucesso de
qualquer prática pedagógica está ligado a um conjunto de fatores e não a
uma máquina ou uma só pessoa.
O projeto Podescola, encabeçado pelo professor Eziquiel Menta,
mostra o exemplo de uma pratica pedagógica associada ao uso de
computadores e tomei a liberdade de escrever esse texto para uma
pequena reflexão pedagógica sobre a nossa prática, visto que todos os
demais conceitos estão sendo, de uma forma ou outra, esclarecidos em
nosso curso no Podescola.
Se a idéia da nova educação é transformar, daí o motivo de muitos
educadores usarem o termo Educação Transformadora, as propostas
educacionais só terão validade se ao final da mesma o aluno mudar o seu
discurso em relação aquilo que ele trabalhou, ou seja, aquilo que ele
realmente aprendeu.
O podcast como recurso educacional deve antes de mais nada ser
elaborado de forma a auxiliar na mudança do discurso do aluno, sendo
assim o planejamento desta tarefa de elaboração de um podcast, deve
seguir alguns caminhos que facilitem o aluno a pesquisar o assunto, algo
como um mapa do conhecimento, uma rota que o aluno deve seguir antes
de chegar ao processo final de gravação de um podcast.
Após algumas pesquisas na internet encontrei dicas que podem
auxiliar o professor na elaboração deste projeto, e em forma de pergunta
coloquei-as aqui para questionar a valia do projeto:
Ao montar um projeto de podcast pergunte-se:
1 – Qual a real necessidade do assunto a ser tratado?
2 – O assunto a ser tratado é de interesse do aluno e comunidade?
3 – Onde você realmente quer chegar com o projeto?
4 – Existem recursos, sejam eles humanos ou materiais, disponíveis
para realizar o projeto?
Em relação a primeira questão (Qual a real necessidade do assunto
a ser tratado?) devemos ser objetivos em sua resposta, não se engane.
Segundo Morin (2003,21)
“Cada mente é dotada também de potencial de
mentira para si próprio (self-deception), que é fonte
permanente de erros e de ilusões. O egocentrismo, a
necessidade de autojustificativa, a tendência a projetar
sobre o outro a causa do mal fazem com que cada um
minta para si próprio, sem detectar esta mentira da qual,
contudo, é o autor.”
O problema é que quando o educador mente a ele mesmo, sobre a
real necessidade de um projeto, este erro chega ao educando como
necessidade educacional real, para o aluno se o professor propõe a
elaboração de um projeto, de podcast, sobre a vida do Urso polar nos
Zoológicos da Etiópia é, então, necessário ao aluno saber sobre o
assunto, pois ao criar justificativas para o assunto o professor acaba
convencendo-os que o projeto é necessário, ao menos como
conhecimentos gerais, quando seria mais sensato pensarmos em mera
curiosidade do professor.
Um mau exemplo seria pensar em um projeto de podcast
trabalhado na região da Amazônia que proponha um debate sobre o
transito de São Paulo, pedindo ao aluno mostrar soluções. Esse tipo de
projeto, pois mais que seja muito bem elaborado, não é uma necessidade
da comunidade local, existem outras necessidades locais que podem, e
devem, ser trabalhadas a fim de mudar comunidade.
No segundo questionamento (O assunto a ser tratado é de interesse
do aluno e comunidade?) estamos na realidade interessados em saber
qual a reflexão que o aluno fará daquilo e não, a pertinência do assunto.
Ao olharmos o projeto por esta ótica o tema vira um recurso do professor
para alcançar tal objetivo, pois chegar numa sala de quinta série, onde
após algum estudo da sala tenhamos visto alguma forma de
discriminação entre os alunos, e propor “Vamos fazer um trabalho sobre
preconceito?” é muito diferente de dizer: “Vamos estudar o filme Shrek”.
Um podcast sobre o filme Shrek certamente despertaria a
curiosidade de muitos alunos, mas devemos tomar cuidado para que o
projeto seja realmente transformador. Iria esse assunto modificar a
realidade do aluno? Modificaria o seu discurso de maneira significativa?
Logicamente que seria possível usar um o assunto num podcast que trate
de algum tema que seja mostrado pelo desenho, mesmo que de forma
sutil, como o preconceito, racismo, etc.
Agora trabalhar Shrek para simplesmente agradar os alunos, sem
nenhum tipo de questionamento sobre as idéias do filme não parece nada
coerente a uma pratica transformadora.
Ao responder a terceira questão (Onde você realmente quer chegar
com o projeto?), estabeleça um objetivo ao projeto, projetos feitos sem
algum tipo de objetivo específico estão fardados ao descaso e a
descontinuidade.
É comum vermos projetos educacionais que apenas funcionam
como Marketing escolar, pense, por exemplo, numa escola que todo ano
realiza um projeto sobre reciclagem, durante uma semana os professores
falam sobre o assunto em suas aulas, os alunos pesquisam o assunto e
são avaliados no final da semana por meio de pequenos seminários
aberto ao pais. Durante algum tempo a escola fica limpa, mas após um
mês percebemos que os alunos voltam a sujar essa escola, podemos
realmente dizer que o projeto elaborado pela escola atingiu seu objetivo?
E se não há uma reflexão sobre o projeto e sua funcionalidade, e todo o
ano é aplicado o mesmo projeto, o objetivo deste é conscientizar alguém
ou mostrar para o pai de aluno que a escola trabalha com projetos? Em
uma escola em que todo ano é feito um “projeto de limpeza”, certamente
nunca fez um verdadeiro “projeto de limpeza”.
A quarta questão (Existem recursos, sejam eles humanos ou
materiais, disponíveis para realizar o projeto?) me leva a recordar das
inúmeras vezes que escutei, na sala dos professores, a seguinte frase:
“Estou perdido(a) com o meu projeto...” Quando elaboramos um projeto e
nos esquecemos de verificar os recursos disponíveis certamente ficamos
perdidos pois sabemos o que temos que fazer mas não temos onde fazer
ou como fazer ou, as vezes, nem onde e nem como fazer. É como um
curso de cozinheiro com tudo, menos com sal, temos tudo para fazer um
arroz de primeira menos sal.
Bom, espero que este texto possa ajuda-los a pensar num projeto
de podcast. Ao lecionar para uma turma de 2 ano do ensino médio,
percebi que a turma “engolia” tudo que escutava, qualquer música,
independente de sua letra ou melodia, mas que tivesse sido gravada por
determinado grupo, seria bem vista. Pensando numa forma de mudar isso
apliquei um projeto de webquest que resulta num podcast, caso tenha
curiosidade acesse:
webquest:
http://www.linuxnaescola.com.br/webquests/golpe-64
podcast:
http://www.linuxnaescola.com.br/modules.php?name=News&file=article&
sid=23
É verdade que em minhas experiências apliquei o podcast não como
meio mas como fim, onde o aluno apresenta o seu discurso após algum
tipo de pesquisa direcionada.
Daí o meu fascínio pelo uso de podcast associado a webquest mas
isso é outro assunto do qual trataremos mais tarde.
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