1
Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Psicologia
Trabalho de Conclusão de Curso
A ANSIEDADE COMO FATOR RELEVANTE NO RECONHECIMENTO DE EXPRESSÕES FACIAIS
Autor: Glênio e Silva Moreira
Orientador: Profa. Dra. Graziela Furtado Scarpelli Ferreira
Brasília - DF
2013
2
Monografia de autoria de Glênio e Silva Moreira, intitulada "A ANSIEDADE COMO
FATOR RELEVANTE NO RECONHECIMENTO DE EXPRESSÕES FACIAIS",
apresentada como requisito parcial para a obtenção do Título de Psicólogo pela
Universidade Católica de Brasília, em 5 de dezembro de 2013, defendida e aprovada
pela banca examinadora abaixo assinada:
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Graziela Furtado Scarpelli Ferreira
Orientadora
Curso de Psicologia - UCB
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Alessandra Rocha de Albuquerque
Curso de Psicologia – UCB
2013
3
GLÊNIO E SILVA MOREIRA
A ANSIEDADE COMO FATOR RELEVANTE NO RECONHECIMENTO DE
EXPRESSÕES FACIAIS
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado ao curso de graduação em
Psicologia da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial de
obtenção de titulo de psicólogo.
Orientador: Dra. Prof.ª Graziela Furtado
Scarpelli Ferreira
Brasília
2013
4
Agradecimento
Primeiro agradeço à orientadora, Profa. Dra. Graziela Furtado Scarpelli Ferreira, pela
paciência, apoio, dedicação e disposição.
Agradeço à banca, Profa. Dra. Alessandra Rocha de Albuquerque, pela disposição de
participar da avaliação desse trabalho e de contribuir nesse momento.
A minha família, que tem sempre me oferecido apoio e dedicação incondicionais.
Aos meus amigos dentro e fora da graduação, pelo apoio e principalmente pelos
momentos de descontração.
A todos os mestres que colocaram seus conhecimentos teóricos e práticos a disposição
de nos alunos dentro da graduação.
5
RESUMO
Referência: MOREIRA, Glênio. A ansiedade como fator relevante no reconhecimento
de expressões faciais. 2013. 28 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Psicologia) Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013.
O caráter da atuação em Psicologia, em diversos contextos, exige do profissional
determinadas habilidades no repertório social. Nesse sentido, quanto maior a acurácia
de identificação das diferentes expressões faciais melhor será o estabelecimento de
vínculo do psicólogo com seu cliente e menores serão os conflitos nas relações. No
entanto, essa acurácia na identificação das diferentes expressões faciais de emoções
pode ser sensível às diversas emoções do próprio observador. A exemplo disso, altos
níveis de ansiedade têm sido relacionados com a redução de acertos na identificação de
expressões faciais emocionais básicas. Com isso, este trabalho teve como objetivo
verificar se o nível de ansiedade de estudantes de psicologia alterava a acurácia de
reconhecimento de expressões faciais. Para tanto, 109 alunos do curso de psicologia de
uma instituição de Brasília foram convidados a responder a um teste de avaliação da
acurácia de identificação de expressões faciais de emoções básicas e ao IDATE (teste
que avalia ansiedade Traço e Estado), de tal modo que se pudesse verificar se havia
relações dessas duas variáveis, e se estas relações seriam significativas para tais alunos.
Os resultados dessa pesquisa mostraram que não havia correlação entre essas variáveis.
Assim, mesmo com escores baixos ou altos em Traço e Estado de ansiedade, os
participantes não tiveram suas habilidades perceptuais de reconhecimento de expressões
faciais alteradas. Tal resultado se contrapõe aos achados da literatura.
Palavras chave: Expressões faciais. Ansiedade . IDATE.
6
ABSTRACT
Reference: MOREIRA, Glênio. A ansiedade como fator relevante no reconhecimento
de expressões faciais. 2013. 28 pages. Monograph (Psychology) - Universidade Católica
de Brasília, Brasília, 2013.
The practice of Psychology in many of it’s contexts, demands from the
Psychology professional certain social abilities. Thus, the higher the accuracy of
identification of different facial expressions, the better the relationship between the
psychologist and his patient. However, the identification of facial expressions can be
affected by the emotions of the observer himself. Anxiety levels have been related with
lower scores of correct facial expression identification. As such, this study aimed to
verify if the level of anxiety psychology undergraduate students altered facial
expression identification. Therefore, 109 undergraduate psychology students of an
University were asked to answer a facial expression identification test, and the IDATE
test (a test which evaluates anxiety Trace and State), so it would be possible to evaluate
if there is a relation in between both variables. The results of these tests showed that
there is no relation in between these variables. Thereby, even with low or high scores on
IDATE tests, the students haven’t changed their ability to identify facial expressions.
These results are in disagreement with literature.
Key-words: Facial expressions. Anxiety. IDATE.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01: Média de acerto dos participantes nos questionários de reconhecimento em
expressões faciais aplicados nos dois períodos (N válidas = 62, sendo 35 no final do 1º
período e 27 no início do 2º período de 2013)................................................................18
Figura 02: Média dos resultados válidos dos participantes no questionário IDATE
Estado aplicado nos dois períodos de 2013 (N=62). ......................................................19
Figura 03: Média dos resultados válidos dos participantes no questionário IDATE Traço
aplicado nos dois períodos de 2013 (N=62). ..................................................................20
Figura 04: Média dos resultados válidos dos participantes no questionário expressão
facial e IDATE Traço e Estado aplicado no final do 1º período de 2013 (N=35)...........21
Figura 05: Média dos resultados válidos dos participantes no questionário de
reconhecimento de expressão facial e IDATE Traço e Estado aplicados no início do 2º
período de 2013 (N=27). ................................................................................................22
Figura 06: Média dos resultados válidos dos participantes no questionário IDATE
aplicado nos dois períodos de 2013 (N=62). ..................................................................23
Tabela 01: Tabela de médias de agrupamento por índice de ansiedade de todos os
participantes da pesquisa. ..............................................................................................24
8
SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES
EF: Expressões Faciais.
IT: IDATE Traço.
IE: IDATE Estado.
__
X : Média.
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10
2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 12
3. OBJETIVOS...................................................................................................................... 15
3.1
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 15
4. METODOLOGIA ............................................................................................................. 16
4.1
PARTICIPANTES......................................................................................................... 16
4.2
INSTRUMENTOS ......................................................................................................... 16
4.3
PROCEDIMENTO ........................................................................................................ 17
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 17
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 27
6.1
APÊNDICE I: FICHA DE RESPOSTA ....................................................................... 29
6.2
APÊNDICE II: TERMO LIVRE ESCLARECIDO ...................................................... 32
10
1. INTRODUÇÃO
A habilidade de reagir de modo diferente para variados estímulos garante à
espécie humana uma incrível capacidade de interagir com o meio ambiente. Tal
competência demonstra o que se sente em cada relação e contingência disposta.
As expressões faciais são formas primitivas de esclarecimento das emoções e
possuem relevância social enorme em cada espécie. Nos humanos, as pesquisas atuais
sugerem a existência de expressões faciais universais e inatas. Ekman (2007) propôs
que as expressões faciais são uma pequena parte dos conteúdos emocionais de um
sujeito, desta forma pareceriam “vazamentos emocionais” através de micro expressões.
Há seis expressões faciais básicas, que são: alegria, tristeza, raiva, medo,
surpresa e aversão (nojo e desprezo). Cada expressão pode ser caracterizada por
diferentes movimentos faciais; por exemplo: tristeza representada por olhos baixos e
boca aberta; raiva expressada por sobrancelhas baixas e juntas e os lábios apertados;
surpresa caracterizada por abrir dos olhos e da boca, assim como o subir das
sobrancelhas; medo demonstrado por elevação das pálpebras superiores e das
sobrancelhas que sobem e se juntam; aversão é marcada por nariz enrugado e alegria,
quando os cantos da boca arqueiam em direção das orelhas (EKMAN, 2003).
Ekman (2007) afirma que a expressão dessas emoções se dá de forma inata e,
igualmente, seria reconhecida de forma inata, e, assim, não há necessidade de treino
específico para avaliar expressões faciais de diferentes emoções. Todavia, treinos
específicos de reconhecimento e formais de habilidades sociais, poderiam aumentar as
taxas de acurácia em reconhecimento das expressões emocionais ditas sociais (Ekman,
2007). No entanto, essa acurácia na identificação das diferentes expressões faciais de
emoções pode ser sensível às diversas emoções do próprio observador. Altos níveis de
ansiedade, por exemplo, têm sido relacionados com a redução de acertos na
identificação de expressões faciais emocionais básicas.
Apesar de, no senso comum, as pessoas acharem que ansiedade é algo que não
traz benefícios à saúde, ela é responsável por deixar nosso corpo atento a situações que
nos acarretam risco emocional e físico. Nos mais primórdios tempos da humanidade,
lutar ou fugir era uma necessidade para possibilitar sobrevivência e alimentação.
Atualmente a ansiedade é compreendida como um estado emocional que nos mobiliza
para demandas mais específicas, por exemplo, como medo de perder o emprego, de
ficar sozinho e de não ter dinheiro. Todas essas situações são interpretadas pelo nosso
encéfalo como ameaças a nossa sobrevivência e, assim, fazem com que busquemos
11
força e disposição para enfrentar qualquer situação. Contudo, existem casos em que os
sujeitos responderão às diferentes situações com um grau de ansiedade desproporcional
à situação geradora da mesma, tornando, assim, essa resposta de ansiedade exacerbada
ou até patológica.
Desse modo, quando o nível de ansiedade se torna disfuncional, além de alterar
respondentes autonômicos, são modificadas e até prejudicadas as habilidades
perceptuais. Sendo assim, talvez o nível elevado de ansiedade seja mesmo capaz de
atrapalhar a acurácia de identificação de expressões faciais básicas, mesmo que esta seja
uma habilidade inata.
Autores relatam que há um aumento na capacidade de reconhecimento de
emoções com a formação e treino específicos nessa área. Miguel e Noronha (2006)
verificaram que a capacidade de reconhecer a expressão das emoções, tanto nos outros
como em si mesmo, é elevado em estudantes de Psicologia, quando comparados com
estudantes de Biologia e de Engenharia.
Em um contexto de atendimento psicoterápico em clínica escola de atendimento
psicológico, alunos estagiários podem experimentar níveis diferenciados de ansiedade o
que pode comprometer a capacidade de reconhecimento de expressões faciais. Neste
contexto o reconhecer expressões faciais é de grande valia, facilitando o vínculo
terapêutico, bem como as formas de abordar cada assunto na sessão. Extrapolando essa
evidência, pode-se dizer que o terapeuta que sabe reconhecer as diferentes expressões
faciais, poderá perceber melhor incômodo e indisposições dos seus clientes bem como
estados emocionais positivos.
12
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Emoções, representadas por sinais corporais, são tratadas nos estudos de Darwin
(1872/2009) em seu livro “A expressão das emoções no homem e nos animais”. Nessa
obra, Darwin apresenta três princípios gerais das expressões das emoções e são eles:
princípio dos hábitos associados úteis, princípio da antítese e o princípio das ações
devidas à constituição do sistema nervoso, totalmente independentes da vontade e, num
certo grau, do hábito.
Há uma discussão sobre a funcionalidade dos comportamentos dessas
expressões. No princípio dos hábitos associados úteis, as ações têm uma utilidade em
cada estado de espírito, assim produzem sensações benéficas ao organismo, seus
comportamentos se assemelham pela habituação e associação em cada momento até
mesmo em situações não propícias. Há algumas ações onde o hábito, em certos estados
de espírito, pode não ser tão expressivo, de tal modo que músculos ligados à vontade
conseguem apenas parcialmente serem controlados (DARWIN, 1872/2009, p.32). Este
primeiro princípio pode ser visto em nosso cotidiano quando lembramos ou
descrevemos situações de risco, nosso corpo responde como se estivéssemos nesta
situação, podemos levantar a sobrancelha, fecharmos os olhos ou afastarmos a cabeça
para traz para não ver ou fugir. Neste exemplo, podemos entender como o hábito é
adquirido e fixado, mesmo sendo reproduzidos em situações em que não são mais
necessárias.
O princípio da antítese perpassa pela inversão do habitual, na qual há uma
indução fortemente involuntária oposta ao movimento natural, apesar da função não ter
o menor sentido ele é expressivo (DARWIN, 1872/2009, p.33). Este segundo princípio
parte do pressuposto de que há uma contradição quase que imediata na expressão de
diferentes emoções. É muito usada na linguagem de surdos e mudos, simplesmente
invertendo os sinais para representar constructos opostos. O princípio da antítese mostra
a relevância para uma melhor forma de convívio social.
O terceiro princípio é a atuação do sistema nervoso central. Esta força tem várias
direções, dependendo do hábito e das conexões das células. Apesar dessa força poder
ser interrompida, ela é uma ação direta no sistema nervoso (DARWIN, 1872/2009,
p.33).
Este último princípio mostra a parte independente das vontades, em momentos
de excitações extremas há reações positivas e/ou negativas. Pode-se responder
fisiologicamente em situações diversas de forma “primitiva”; ou seja, quando nosso
13
corpo faz movimento para se esquivar ou relaxar ele está sob controle, especialmente,
de respondentes poderosos para a sobrevivência da espécie. A exemplo disso pode-se
perceber o aumento de ar nos pulmões, gritos e/ou relaxamento muscular, dependendo
da necessidade, com foco, principalmente, na preservação de cada sujeito de cada
espécie.
Todos os princípios influenciam uns aos outros. Suas bases estão na seleção
natural com adaptações conforme a hereditariedade, sendo assim inatas. Mesmo não
sendo fortemente expressivos nos contextos atuais, são úteis, tendo em vista que já
foram, um dia, extremamente relevantes para as diferentes espécies.
Ekman (2011), sobre as premissas de Darwin a respeito das expressões
emocionais serem inatas, fez pesquisas com expressões faciais de emoções consideradas
básicas, alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa, aversão (desprezo e nojo), em países
diferentes: Estados Unidos, Japão, Brasil, por exemplo. Este autor conseguiu verificar
que a identificação de expressões faciais é inata, obtendo, assim, respostas favoráveis a
sua pesquisa. Passou, então, a buscar a resposta sobre qual seria a relevância da cultura
em relação às expressões faciais de diferentes emoções. Ekman resolveu fazer a mesma
pesquisa com povos que tinham o mínimo possível de ligação estrangeira (Papua Nova
Guiné), e comprovou, novamente, seus resultados de que os processos perceptuais sobre
as expressões emocionais tem fundamentação inata e independem da cultura.
Assim, as expressões faciais são formas de comunicação corporal que mostram
os estados emocionais (EKMAN, 2003). Vale ressaltar que cada estado emocional tem
respostas específicas e que estas são rápidas e coerentes com cada emoção. Desse modo,
analisar adequadamente suas próprias emoções favorecerá o reconhecimento das
emoções dos outros.
Uma das emoções mais primitivas entre os animais é a ansiedade. Tal emoção se
refere a uma disposição orgânica, que atribui ao indivíduo condição melhor de
preservação de sua integridade física e mental, dentro de seu contexto ambiental. Desta
forma o corpo percebe perigo ou ameaça, desencadeando diversas respostas sensórioprescritivas, cognitivas e neurovegetativas. A junção destes respondentes designa a
resposta de medo, que está diretamente ligada às experiências de ansiedade. Desse
modo, a ansiedade implica na ocorrência de uma condição aversiva, de incerteza ou
dúvida em uma dada situação (MAY, 1980).
A ansiedade não é prejudicial quando consiste numa resposta de adaptação do
organismo, em contrapartida, ela é considerada patológica quando a intensidade ou
14
frequência de resposta não é proporcional à situação que a desencadeia. A ansiedade
como patologia é quando o sofrimento do indivíduo impede a pessoa de realizar funções
básicas em áreas importantes de sua vida social, acadêmica e profissional (ANDRADE,
GORENSTEIN, 1998).
Sobre os aspectos biológicos, a ansiedade é um estado de funcionamento do
cérebro, que também está ligado ao ambiente e associado a eventos reforçadores ou
eliciadores. Esta percepção é alocada na memória que ativa sistemas cerebrais
associados à defesa (GRAEFF, GUIMARÃES, 2000).
Landeira-Fernandez (2009) aponta dificuldades em identificar uma causa
específica para a ansiedade, pois além dessa emoção ser produzida por uma combinação
entre ambiente e subjetividade do sujeito, há muitas formas desta mesma resposta ser
apresentada. Ele relata que a ansiedade ganha relevância dentro da psiquiatria com
Sigmund Freud (1836-1939), aumenta a importância especialmente quando perpassa
pelas áreas biológicas que coloca a ansiedade dentro do nível da evolução natural. A
ansiedade é a emoção relacionada ao comportamento de avaliação de risco, tendo em
vista uma situação aversiva (estímulo inato de ameaça) ou situação de perigo incerto
(dadas situações semelhantes frustradas ou punidas do passado) ou por não conhecer o
ambiente (situações novas e/ou inusitadas).
Em seres humanos a ansiedade está, em particular, relacionada ao aumento de
comportamentos característicos em função do uso do sistema de símbolos presentes no
social, de natureza verbal ou não verbal. Desse modo, há um plano mais abstrato e
complexo nos humanos, pois, ao utilizar fatores socioculturais, criam formas variadas
de expressões emocionais. Aqui vemos algumas formas, entonação de voz, mobilização
dos músculos da face, ou resposta do organismo como, a pressão arterial, frequência
cardíaca e quantidade de sudorese na pele e até casos de doenças psicossomáticas. Tais
situações ajudam a ter uma noção do nível de ansiedade, de forma não muito precisa,
pois as mesmas variam em condições diferentes de ansiedade (GRAEFF, 2007).
Tendo por base a ansiedade como algo mensurável, existem variedades de testes
que se predispõem a fazer estas medições. Tal método quantitativo representa o
conhecimento da natureza com uma melhor precisão, para descrever fenômenos naturais
observáveis. Há algumas formas de avaliação, uma delas seria a validade de um teste
que constitui um parâmetro da medida, dentro das ciências, pois além da congruência
com o atributo medido de cada objeto, estabelece rigorosidade na medição
(PASQUALI, 2009).
15
O teste IDATE foi criado por Spielberger, Gorsuch e Lushene (1970) e
traduzido e adaptado para o Brasil por Biaggio e Natalício (1979), o IDATE apresenta
duas escalas. A primeira escala propõe avaliar ansiedade enquanto estado (IDATE-E),
sendo que este estado reflete uma situação passageira relacionada a dificuldades de uma
semana; a segunda escala avalia a ansiedade enquanto traço (IDATE-T), que demonstra
como o sujeito lida com a ansiedade ao longo sua vida (FIORAVANTI 2006).
O IDATE, no Brasil, é pouco utilizado como parâmetro para avaliar ansiedade,
mesmo que seja um dos instrumentos mais utilizados fora do país. Talvez isso se dê
porque foram realizados poucos estudos de seus padrões psicométricos aqui. Há,
contudo, resultados que indicam que os testes são bem consistentes e que as escalas
estão de acordo com as amostras brasileiras (ANDRADE & cols, 2001).
Nas escalas IDATE-E e IDATE-T, a variação de pontuação possível está entre
20 e 80 pontos. O padrão utilizado neste trabalho está de acordo com os critérios de
Fioravanti, Santos, Maissonette, Cruz e Landeira (2006). Segundo esses autores, os
resultados entre militares, alunos universitários e do ensino médio na escala IDATE-E
apresentou uma pontuação mínima de 24 pontos, máxima de 77 pontos e média igual a
45,6 com o desvio padra de 8,1. Já no IDATE-T essa população obteve, segundo esses
autores, a pontuação mínima de 21 pontos, máxima de 76 pontos e média igual a 46,0 e
desvio padrão de 8,5. Esses resultados são considerados “esperados” dentro dos
respectivos manuais existentes do instrumento.
Nessa mesma pesquisa, quando o recorte da amostra é apenas de universitários 558 estudantes universitários dos cursos de graduação em Psicologia, Educação Física,
Odontologia ou Fisioterapia de duas universidades particulares da cidade do Rio de
Janeiro, Fioravanti (2006) aponta que os resultados variaram, no IDATE-E, com média
de 38,7 para homens e média de 42,6 para mulheres. Já no IDATE-T os homens
tiveram uma média de 38,0 e as mulheres de 41,8.
3. OBJETIVOS
O presente trabalho teve como objetivo geral verificar se o nível de ansiedade de
estudantes de psicologia alteraria a acurácia de reconhecimento de expressões faciais.
3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
16
•
Verificar o nível de ansiedade de alunos do curso de psicologia do 1º e 2º
períodos do ano de 2013.
•
Avaliar a taxa de acerto de alunos do curso de psicologia do 1º e 2º períodos no
reconhecimento de expressões faciais.
•
Comparar as taxas de acertos de reconhecimento das expressões faciais em
relação ao nível de ansiedade de alunos do 1º e 2º períodos.
4. METODOLOGIA
4.1 PARTICIPANTES
Participaram dessa pesquisa 109 alunos do curso de Psicologia da Universidade
Católica de Brasília – UCB. Foram convidados alunos de quatro turmas (duas do turno
matutino e duas do turno noturno, de aproximadamente 25 alunos cada) sendo estas
compostas por alunos do 3º a 5º semestres e 8º ao 10º semestres do curso. Os alunos
foram divididos em dois grupos, um composto por alunos cuja aplicação dos
instrumentos se deu no final do 1º período (2013) e o outro por alunos cuja aplicação se
deu no início do 2º período do ano de 2013, após a temporada de férias. Como critério
de inclusão, foram considerados os seguintes fatores: ter assinado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, ter acurácia visual preservada, estar
regularmente matriculado no curso e frequentando as aulas. Como critério de exclusão,
foram considerados como dado inválido o material que não estivesse com o
preenchimento adequado dos instrumentos em qualquer etapa do procedimento ou
qualquer instrumento.
4.2 INSTRUMENTOS
O instrumento de reconhecimento de expressões faciais continha dezoito
imagens estáticas correspondentes as seis emoções universais (alegria, tristeza, raiva,
medo, surpresa e aversão) e um questionário (Anexo-I) com 18 quadros de respostas.
Todas as dezoito fotos foram retiradas do Facial action coding system (EKMAN &
FRIESEN, 1978/2002). Os participantes escolheram uma destas emoções como opção
de resposta, ou ainda a opção “não sei”, para fins de eliminação de respostas aleatórias.
Além deste instrumento, foram utilizadas as duas escalas do IDATE: traço
(IDATE T) e estado (IDATE E). A escala IE pede que o sujeito identifique como está
seu estado neste momento e na última semana; para tanto, são descritos 20 itens, sendo
17
dez itens de caráter negativo, são eles 3, 4, 6, 7, 9, 12, 13, 14, 17, 18; e dez itens de
caráter positivo, representados pelas questões 1, 2, 5, 8, 10, 11, 15, 16, 19, 20. Para
serem mensurados, os itens são avaliados a partir de uma escala Likert de quatro pontos:
1- absolutamente não; 2-um pouco; 3- bastante; 4- muitíssimo.
A escala IDATE T também é composta de vinte itens dos quais, quatorze
afirmações são de caráter negativo, que são as de número 2, 3, 4, 5, 8, 9, 11, 12, 14, 15,
17, 18, 20; e seis de caráter positivo, as numeradas 1, 6, 7, 10, 16, 19. Nessa escala o
participante também deveria responder como geralmente reage e suas respostas foram
medidas a partir da escala Likert composta por quatro pontos: 1- quase nunca; 2- às
vezes; 3- frequentemente; 4- quase sempre. Ressalta-se que o material do IDATE não
foi colocado em anexo por questões éticas de controle de material de teste psicológico.
Tais escalas foram avaliadas a partir de afirmações que foram pontuadas.
Algumas afirmações são mensuradas em caráter positivo e negativo para fins de
correção, assim, as questões de caráter positivo são invertidas e se a resposta for 4,
atribui-se valor 1; se a resposta for 3, dá-se valor 2, se a resposta for 2 corresponde ao
valor de 3, se a resposta for 1 assinala-se o valor 4.
4.3 PROCEDIMENTO
Com a aprovação do Comitê de Ética (Número do Parecer de Aprovação
285.495) e autorização da Direção do Curso e dos professores responsáveis pelas
turmas, foi feita uma aplicação dos testes em quatro turmas, onde os participantes
responderam ao teste de reconhecimento das expressões faciais e, depois, ao teste
IDATE. A aplicação foi feita no início de cada aula, quando foi lido o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE e foi assinado por aqueles que tiveram
interesse em participar. Após assinatura, os participantes receberam as instruções de
resposta de cada teste. Primeiramente os participantes assistiram à projeção das 18
imagens contendo expressões faciais básicas e responderam ao primeiro instrumento no
qual julgaram as imagens avaliadas, com a finalização deste teste, eles preencheram o
IDATE-Traço e Estado.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
18
Os resultados deste estudo indicaram que, das 109 fichas aplicadas, apenas 62
foram consideradas válidas, obtendo-se média acima de 77,72 % de acerto no teste de
expressões faciais.
A porcentagem de acerto dos alunos do 1º período de 2013 foi de 87%, esse
dado equivale a uma média de acerto de 15,66 com desvio padrão de 1,11. Já no 2º
período de 2013 a taxa de acerto foi de 82,28%, referente a uma média de 14,81, com o
desvio padrão de 1,79, conforme Figura 01.
Figura 01: Média de acerto dos participantes nos questionários de reconhecimento em
expressões faciais aplicados nos alunos dos dois períodos (N válidas = 62, sendo 35 no
final do 1º período e 27 no início do 2º período de 2013).
Os dados obtidos apresentaram médias muito próximas e, considerando o desvio
padrão, os dois grupos (1º e 2º período) ficaram estatisticamente iguais. A ausência de
diferença entre os dois períodos, corroboram com o estudo prévio do grupo de pesquisa
da UCB, no qual a média de acerto entre alunos ingressantes e concluintes não só foi
equivalente, mas também obteve porcentagem de 80,89% de acertos (GREBOT, 2012,
não publicado).
Estes dados revelam que os estudantes de psicologia têm acurácia no
reconhecimento de expressões faciais, mas não há diferença entre esta população e a de
não estudantes de psicologia (EKMAN, 2007). Acredita-se que as ausências de
19
diferença indiquem a inexistência de treino específico de reconhecimento de expressões
faciais dentro do curso apesar da importância desta habilidade para estudantes e
profissionais da área.
Esses resultados vêm ao encontro das afirmações de Darwin (1872/2009) e
Ekman (2007) quando se referem à habilidade inata de reconhecer expressões faciais de
emoções básicas. Tendo em vista isso, a avaliação da expressão facial de diferentes
emoções não é dependente de treino específico e é estabelecida em toda a população de
uma forma geral.
Em relação ao teste de ansiedade IDATE Estado, os resultados obtidos, no 1º
período de 2013, indicaram uma média de 46,51 com o desvio padrão de 12,81. A
média do 2º período de 2013 foi de 41,48 com o desvio padrão de 9,05. Esses resultados
não indicam diferença entre os dois grupos avaliados (Figura 02).
Figura 02: Média dos resultados válidos dos participantes no questionário IDATE
Estado aplicado nos dois períodos de 2013 (N=62).
Esses resultados indicam que, na comparação dos dois períodos, não foi possível
identificar diferença entre os grupos no que diz respeito ao nível de ansiedade Estado
medido pela escala IDATE.
Os resultados IDATE E (Estado) dos dois períodos de 2013 estão de acordo com
o estudo realizado na universidade do Rio de Janeiro, com universitários, estudo
realizado por Fioravanti (2006) que confirma uma média próxima de 40,65 nessa escala.
Além disso, foi possível averiguar que o nível de ansiedade apresentado nos
resultados do IDATE Estado no primeiro período de 2013, está acima da média prevista
no manual do teste que é de 38 a 42 do escore bruto. Assim poderíamos dizer que estes
20
alunos estão dentro da categoria estabelecida pelo manual como “Tende a ansiedade".
Já os alunos do segundo período de 2013 são pertencentes à categoria nomeada como
“Nível normal”.
Estes dados indicam uma pequena diferença não estatisticamente relevante entre
os períodos, assim hipoteticamente que poderia ser explicada pelo momento de
aplicação, quando o resultado do teste Estado pode ter sido influenciado, porque os
alunos do primeiro período de 2013 estavam no final do período, um momento de
provas. D'Ávila (2013) refere-se à hipótese de que alunos com alta ansiedade fracassam
ao responder inventários, diminuindo o nível de concentração e o desempenho em
situações estressantes de avaliação, ao contrário dos alunos do segundo período de 2013
que tinham recém saído das férias.
O questionário IDATE Traço aplicado no final do primeiro período de 2013,
apresentou uma média de 44,68 com o desvio padrão de 10,10. No questionário
aplicado no início do segundo período de 2013 obteve uma média de 42,29 com o
desvio padrão de 12,81. Sendo assim, os resultados gerais do IDATE Traço para os dois
períodos não apresenta diferença estatisticamente significante (Figura 03).
Figura 03: Média dos resultados válidos dos participantes no questionário IDATE Traço
aplicado nos dois períodos de 2013 (N=62).
A ansiedade traço medida pelo IDATE averiguou que o nível de ansiedade dos
grupos foi próximo, de forma que não podemos dizer que os níveis de ansiedade Traço
dos dois grupos (1º e 2º períodos de 2013) são diferentes.
21
Fioravanti (2006) mostra em sua pesquisa, com alunos universitários, uma média
próxima de 39,9 no IDATE T (Traço), assim muito perto do resultado obtido nesta
pesquisa, confirmando resultados de ansiedade dos alunos em localidades diferentes e
cursos diferentes, já que a pesquisa dele foi feita com graduandos de Psicologia,
Educação Física, Odontologia ou Fisioterapia, enquanto esta pesquisa se restringiu
apenas aos alunos de psicologia da Universidade Católica de Brasília (UCB).
Conseguimos verificar que o nível de ansiedade traço dos alunos do primeiro e
no segundo períodos 2013 são iguais às médias estabelecidas no manual do teste,
descritas como “Tende a ansiedade”, pois estão acima de 42 no teste IDATE Traço
(44,68 no 1º/2013 e 42,29 do 2º/2013).
Comparando os testes de reconhecimento de expressões faciais e o IDATE
Traço e Estado do primeiro período de 2013, as médias obtidas nas diferentes escalas,
foram: 15,66 para acurácia de identificação de expressões faciais, de 46,51 de escore
médio no teste IDATE Estado; e 44,68 de escore médio para o teste IDATE Traço.
(conforme Figura 04).
Figura 04: Média dos resultados válidos dos participantes no questionário expressão
facial e IDATE Traço e Estado aplicado no final do 1º período de 2013 (N=35).
Os resultados de reconhecimento de expressões faciais com relação ao teste
IDATE, indicaram que a ansiedade Traço e a ansiedade Estado não modificaram a
forma de reconhecimento das expressões faciais.
22
Assim, quando analisamos os resultados dos testes IDATE Traço, Estado e
reconhecimento de expressões faciais do segundo período de 2013, as médias desse
grupo também não se mostraram desiguais dos resultados obtidos no primeiro período
2013. Dessa forma a média de acerto dos participantes no questionário de
reconhecimento em expressões faciais foi 14,81. As médias no teste IDATE Estado
41,48, e no IDATE Traço 42,29.
Vale ressaltar que, para o segundo período de 2013, esses instrumentos foram
aplicados no início do período, de maneira oposta ao transcorrido no primeiro período
de 2013 no qual a aplicação se deu ao final do período letivo (Figura 05).
Figura 05: Média dos resultados válidos dos participantes no questionário de
reconhecimento de expressão facial e IDATE Traço e Estado aplicados no início do 2º
períodos de 2013 (N=27).
As médias no teste IDATE Estado aplicado nos dois períodos foram 46,5 (1º/
2013) e 41,48(2º/2013). No teste IDATE Traço dos dois períodos foram: 44,68
(1º/2013) e 42,29 (inicio no 2º/2013).
Já as médias do IDATE Traço e Estado do primeiro e segundo período de 2013
não tiveram uma diferença estatisticamente significante, mas percebe-se que a uma
tendência só no primeiro período para médias mais altas do que as médias do grupo
respondente no segundo período de 2013.
23
Figura 06: Média dos resultados válidos dos participantes nos questionários IDATE
Traço e Estado aplicados nos dois períodos de 2013 (N=62).
Vale ressaltar que o nível de ansiedade Traço no primeiro período é mais baixo
que o nível de ansiedade Estado, e, no segundo período, percebemos que o nível de
ansiedade Traço é mais alto que o nível de ansiedade Estado.
Estes resultados sugerem que, talvez, o resultado do nível de ansiedade no teste
IDATE Traço não esteja relacionado com o IDATE Estado, pois realmente
conseguimos verificar um resultado para Traço que não se correlaciona com Estado. Ou
seja, parece haver interferência entre os níveis, mas não uma relação direta. Pode ser,
dessa forma, que a resposta de ansiedade Estado altere os resultados de ansiedade Traço
para respostas enviesadas. Essa sugestão gera discussão sobre a real estrutura latente
destas escalas, notadamente em relação ao IDATE-T (FIORAVANTI 2006).
Estes resultados corroboram a discussão de Fioravanti (2006) no que diz respeito
à sensibilidade da escala IDATE. Para este autor, o teste de ansiedade traço fica
enviesado pelo resultado da ansiedade estado; uma vez que o participante acaba
confundindo sua forma de ser com o quanto se sente ansioso durante o período de
aplicação das escalas.
Comparando os testes IDATE Traço e Estado com o de reconhecimento de
expressões faciais dos dois períodos de 2013 é possível perceber que há uma
discrepância nos números de sujeitos dentro de cada grupo e que as médias nos números
de acerto estão muito próximas (conforme Tabela 01).
24
Tabela 01
Traço
Estado
Acertos
Erros
Não sei.
Traços e estado altos
N
12
12
12
12
12
Media
63.41667
63.91667
13.66667
3.75
0.666667
Desvio padrão
5.071459
5.946096
2.015095
1.912875
1.073087
EPM
1.464004
1.71649
0.581708
0.552199
0.309773
Traços e estado baixos
N
10
10
10
10
10
Media
32.2
28.2
14
3.3
0.7
Desvio padrão
1.932184
3.552777
3.231787
2.311805
1.159502
EPM
0.570566
1.123487
1.021981
0.731057
0.366667
Traços e estado normais
N
77
77
77
77
77
Media
43.45455
43.5974
13.79221
3.519481
0.675325
Desvio padrão
5.006694
8.151945
2.546089
2.474131
1.031626
EPM
0.570566
0.929
0.290154
0.281953
0.117565
Traços e estado todos os participantes
N
109
109
109
109
109
Media
44.2844
44.25688
13.77064
3.474064
0.761468
Desvio padrão
9.547243
11.14501
2.529943
2.331731
1.253876
EPM
0.91446
1.067498
0.242325
0.223339
0.1201
Tabela 01: Tabela de médias de agrupamento por índice de ansiedade de todos os
participantes da pesquisa.
Visualizando estes grupos por índice de ansiedade, levantamos duas hipóteses, o
teste utilizado para medir a ansiedade (IDATE) não obteve resultados justificáveis
dentro destes grupos, pois o número de sujeitos (109 participante) não proporciona uma
base para criarmos médias mais estatisticamente relevantes dentro do número de acertos
no teste de expressões faciais.
Com uma variação da média de acerto de expressões faciais ficando dentro dos
escores 13,66667 a 14, e um desvios padrões acima de 2, não conseguimos verificar
diferença estatística dentro dos grupos de índice de ansiedade, da mesma forma com foi
observado nos grupos divididos por fatores estressor (1º e 2º períodos).
25
Com o levantamento destes dados é possível pensar na hipótese que o nível de
ansiedade não é relevante para o reconhecimento de expressões faciais, fortalecida pela
idéia de Ekman (2011) e Darwin (1872/2009) de que as expressões são inatas e
primitivas, e em função da ansiedade também exercer um papel importantíssimo na
atenção, e os níveis atingidos pelos participantes não estarem próximos de índices
patológicos, que seria um estado que atrapalharia a concentração e até a visão de cada
sujeito participante da pesquisa (ANDRADE, GORENSTEIN, 1998).
Ao que se refere à acurácia do reconhecimento de expressões faciais, vale
ressaltar que o instrumento utilizado possuía pelo menos 3 imagens de cada expressão
básica – perfazendo um total de 18 imagens de expressões faciais básicas a serem
julgadas. Assim, quando avaliado individualmente esse instrumento, a expressão de
“Alegria” teve maiores números de acerto; dessa forma, das 327 possibilidades de
acerto no item correspondente a “Alegria”, verificou-se 320 identificações da expressão
alegria nos dois períodos.
Ekmam (2007) com sua pesquisa em diversos países notou que, especialmente
no Brasil, o item que correspondia à Alegria obteve quase 100% de acerto no teste
reconhecimento de expressões faciais.
Na cultura brasileira há uma prevalência de sorrisos, sendo assim uma
explicação plausível para alto nível de acerto reconhecimento da expressão alegria,
mesmo sendo inato o reconhecimento e a capacidade de expressão as emoções pelas
expressões faciais, tais habilidades perpassam por um treino social, que inclui alta
exposição a tais expressões, quando se fala da sociedade brasileira.
Indo na contramão da expressão Alegria, o item “Medo” apresentou o menor
número de reconhecimentos das expressões básicas; sendo que com 327 itens a serem
avaliados corretamente, o número de acertos foi de apenas 129 para o item de “Medo”.
Em pesquisa, Ekmam (2007) descobre que a emoção com maior dificuldade de
reconhecimento é a “aversão” (desprezo e nojo). Esse dado não foi corroborado pelo
presente trabalho, pois o “medo” apresentou maior prevalência de julgamentos
equivocados quando comparado com a “aversão”, que obteve o segundo maior escore
dentro da pesquisa tendo 101 acertos dentre os 327 possíveis.
Todas as análises dos dados foram feita a por uma análise quantitativa com um
uso de estatística descritiva, através do programa Excel.
Algumas hipóteses que não foram confirmadas com esta pesquisa, por exemplo,
a correlação entre quanto maior a variação nos níveis de ansiedade no instrumento
26
IDATE Traço e Estado, menor seria o número de acertos no teste de reconhecimento de
expressões faciais.
Não corroborando com a ideia da pesquisa Andrade e cols.(2001), do próprio
instrumento IDATE, que a ansiedade, em níveis muito altos ou muito baixos,
atrapalharia os sujeitos em suas tarefas.
O teste aplicado nesta pesquisa foi destrinchado para averiguar estas hipóteses,
assim os resultados deram inconclusivos para a relação entre ansiedade medida e
acurácia das respostas no reconhecimento das expressões, assim sujeitos pesquisados
demostraram nos escores de ansiedade variações como; extremamente fora da média de
ansiedade no IDATE e com desempenho variado (alto, dentro da média e/ou baixo) nos
testes de reconhecimento de expressões faciais, invalidando a possível hipótese.
Outra hipótese que foi levantada refere-se a uma possível relação entre cada uma
das seis expressões básicas e o número de acertos no teste de reconhecimento de
expressão facial com o nível de ansiedade verificado no IDATE, e qual relação com as
escala do IDATE Traço e Estado em relação a cada expressão; contudo, tal análise não
foi feita em função do número pequeno da amostra para que se pudesse fazer uma
análise fatorial.
Conclui-se, então, que não há relação direta entre expressões faciais e níveis de
ansiedade medidos pelo IDATE (Traço e Estado). Assim, propõe-se que novas
pesquisas sejam realizadas com uma quantidade maior de participantes e que a medição
dos níveis de ansiedade sejam realizadas por testes mais precisos e mais específicos.
27
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE LHSG; GORENSTEIN C. Aspectos gerais das escalas de avaliação de
ansiedade. Revista de Psiquiatria Clínica 25 (6): 285-290, 1998.
ANDRADE, L. et al . Psychometric properties of the Portuguese version of the StateTrait Anxiety Inventory applied to college students: factor analysis and relation to the
Beck Depression Inventory. Brazilian Journal of Medical and Biological Research 34
(3): PP, 367-374 2001.
DARWIN, C. (1872). A expressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
EKMAN, P. A linguagem das Emoções. São Paulo: Lua de Papel, 2011.
EKMAN, P. Emotions Revealed. New York: Times Books, 2007.
EKMAN, P.; FRIESEN, W. V. (1978). Facial action coding system: Investigator's
guide. Palo Alto: Consulting Psychologist Press, 2002.
EKMAN, P., FRIESEN, W. Unmasking the face: A guide to recognizing emotions from
facial expressions. Palo Alto: Consulting Psychology Press Inc, 1974a.2003
D'AVILA, Geruza Tavares. Vestibular: fatores geradores de ansiedade na “cena da
prova”. Rev. bras. orientac. prof, São Paulo , v. 4, n. 1-2, dez. 2003 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167933902003000100010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 07 nov. 2013.
GRAEFF, F.G., GUIMARÃES, F.S., ANDRADE, T.G.C.S. & DEAKIN, J.F.W.
(1996). Role of 5-HT in stress, anxiety and depression. Pharmacology Biochemistry and
Behavior 54 (1) 129-141.
28
GRAEFF, F.G., GUIMARÃES, F.S. Fundamentos de Psicofarmacologia. São Paulo:
Atheneu, 2000.
GRAEFF, F. G., & HETEM, L. A. Transtornos de Ansiedade. São Paulo: Atheneu,
2004.
GRAEFF, F. G. Ansiedade, pânico e o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. Revista
Brasileira de Psiquiatria vol (29): pp, s3-s6 2013.
FIORAVANTI, Ana Carolina Monnerat et al . Avaliação da estrutura fatorial da Escala
de Ansiedade-Traço do IDATE. Avaliação psicológica. 2006, Porto Alegre, v. 5, n. 2,
pp 217-224.
MAY, R. O Significado da ansiedade. Rio de Janeiro: Zahar, 1980 Cap. 3, p. 66-103.
MIGUEL, F. K., & NORONHA, A. P. P. (2006). Estudo da Inteligência Emocional em
Cursos Universitários. In A. P. Soares, S. Araújo & S. Caires (Eds.). Avaliação
Psicológica e Contextos (613-619). Braga, Portugal: Psiquilíbrios.
PASQUALI, Luiz. Psicometria. Revista da escola de enfermagem. USP , 2009, v 43,
n. spe. pp . 613-619.
VIANNA, Renata Ribeiro Alves Barboza; CAMPOS, Angela Alfano; LANDEIRAFERNANDEZ, Jesus. Transtornos de ansiedade na infância e adolescência: uma
revisão. Revista brasileira de terapia cognitiva., 2009, v. 5, n. 1, pp. 46-61.
29
6.1 Apêndice I: Ficha de resposta
30
31
32
6.2 Apêndice II: termo livre esclarecido
Download

Glênio e Silva Moreira - Universidade Católica de Brasília