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CORREIO POPULAR
CIDADES
Campinas, domingo, 27 de junho de 2010
moacyr castro
baú de histórias
E-mail: [email protected]
Fotos: Dominique Torquato/AAN
Só tem Tin Tin
O sítio de cinco alqueires no Bairro da Capela, em Vinhedo, onde vivem 25 pessoas com deficiência que já perderam a família
Inclusão mobiliza ex-bancários
Há 25 anos, ex-banespianos mantêm atendimento a deficientes
ra técnica do grupo, Ivete
Washington Sbragia. A proposta é elevar a autoestima
de cada assistido e os aproximar da convivência social.
As chamadas “oficinas de
trabalho protegido” estimulam a capacidade de expressão e o prazer com o trabalho. O artesanato (vendido
basicamente em papelarias
da cidade) se reverte em “salários simbólicos”, pagos aos
assistidos a cada mês. Fora
da oficina, há portador de deficiência trabalhando no refeitório ou colhendo verdura
na horta.
A Apabex custa cerca de
R$ 200 mil mensais. Hoje, há
apenas 560 sócios colaboradores e doações individuais
simbólicas chegam dos aposentados do Banespa. Mas a
arrecadação mensal não passa de R$ 170 mil. Para manter as contas em dia, pagar
salários e garantir atendimento de qualidade aos assistidos, a entidade conta
com os dividendos de antigas aplicações e eventuais
patrocínios privados. O presidente Cavarzan admite que
o caixa tende a ser cada vez
menor, com a natural redução do número de banespianos vivos.
Hoje, pagam pelo atendimento as famílias economicamente mais estruturadas.
Mas há gente de poucos recursos, atendida praticamente de graça. “Como a Apabex se tornou um patrimônio da coletividade, aberto
inclusive a portadores de deficiência sem relação com o
banco, a gente faz campanha para conseguir parceiros”, afirma.
E a importância da Apabex vai além das duas sedes.
O grupo usa parte das mesmas contribuições mensais
disponíveis para financiar, a
distância, o tratamento de
deficientes que moram em
estados distantes. Há pelo
Brasil todo cerca de 200 beneficiados, parentes especiais dos banespianos.
ROGÉRIO
VERZIGNASSE
Na metade da década de 80,
um grupo de funcionários
do antigo Banco do Estado
de São Paulo (Banespa) inaugurou na Capital uma associação que pudesse prestar
atendimento digno aos seus
próprios filhos portadores de
deficiência. Os bancários dividiam os gastos com a contratação de médicos, psicólogos e fisioterapeutas, que
passaram a atender na Vila
Mariana. Pois hoje, passados
25 anos (e ainda mantida basicamente com a colaboração dos ex-funcionários), a
Chácara serve
de lar para quem
perdeu os pais
O campineiro Ariovaldo Cavarzan, um dos fundadores do grupo
Associaçao dos Pais Banespianos de Excepcionais, a
Apabex, além do prédio paulistano, possui uma sede rural na região de Campinas e
ampara quase uma centena
de adultos especiais. Um
quarto dos assistidos, por sinal, mora no sítio de cinco alqueires em Vinhedo, rodeado das colinas verdes do Bairro da Capela. São 25 deficientes que já perderam os pais
ou que não podem mais morar com outros parentes. Alguns têm deficiência mental
aguda e mal se comunicam.
O presidente (e um dos
fundadores do grupo) é o
SAIBA MAIS
Morador faz artesanato na oficina de “trabalho protegido”
As pessoas interessadas em
conhecer detalhes sobre a
estrutura de atendimento
disponível na Apabex podem
entrar em contato pelo
telefone (19) 3876-3349,
pelo endereço eletrônico
[email protected] ou pelo
site www.apabex.org.br. Os
contatos com o diretor
presidente, o campineiro
Ariovaldo Cavarzan, podem ser
feitos pelo e-mail
[email protected].
falecimentos
MISSAS E FUNERAIS
I I Maria Irene de Pádua e
Castro Cardoso — Faleceu aos
69 anos. Viúva de Walter Cardoso. Deixa os seguintes filhos: Alexandre e Renata. Seu
sepultamento deu-se no dia
26/06/2010 no Cemitério Parque Flamboyant em Campinas/SP. (Associada do Grupo
Serra Campinas)
I I
Anna Andre — Faleceu
de tratamento inspirado no
construtivismo piagetiano,
que procura desenvolver a
potencialidade de cada assistido, apesar das limitações individuais.
Com o tempo, as atividades passaram a ser orientadas por variadas linhas da
psicologia. “A gente busca,
em cada uma, metodologias
úteis para cada assistido. Cada um tem uma história de
vida, uma deficiência e reage
de maneira diferente a cada
método”, diz a coordenado-
campineiro Ariovaldo Cavarzan, de 65 anos, pai de Mauro, portador de síndrome de
Down nascido há 37 anos.
“Maurão”, como o próprio
rapaz se apresenta, passa os
dias no espaço de convivência. Ele é um dos 16 campineiros com deficiência que
se juntam diariamente aos
“moradores” da gleba. Pintam quadros e cartões, montam cadernos de papel reciclável e caixas personalizadas, fazem lembrancinhas
de casamento. É um modelo
A seção Baú de Histórias resgata, sempre aos
domingos, episódios que foram motivos de
reportagem no passado. Leitores que quiserem
sugerir temas para a coluna podem escrever para a
redação do Correio Popular ou enviar e-mail para
[email protected].
NESTA DATA
I I Em 2003, morria Walter Hugo Khouri.
O cineasta realizou 25 longas-metragens e
conquistou vários prêmios nacionais e
internacionais. Seus filmes, influenciados
aos 75 anos. Solteira. Filha
de Cesário Andre e Joaquina
de Jesus. Seu sepultamento
deu-se no dia 26/06/2010 no
Cemitério Parque Nsa Sra da
Conceição em campinas/SP.
(Associada do Grupo Serra
Campinas)
II
I I PARTICIPE DO BAÚ
Domingos Foregatto — Faleceu aos 86 anos. Viúvo de
Nair Pauleli Foregatto. Deixa
os seguintes filhos: Maria,
Lourdes, Antonio e Aparecida. Seu sepultamento deu-se
por Bergman, Antonioni, Camus e
Espinoza, mostram personagens que
buscam sentido para a existência. Seu
principal filme é Noite Vazia, de 1964.
no dia 26/06/2010 no Cemitério Parque das Acácias em
Valinhos/SP. (Associado do
Grupo Serra Campinas)
I I Renato de Barros Nochimowski — Faleceu aos 50 anos.
Solteiro. Filho de Rene Nochimowski e Maria Helena Rodrigues de Barros Nochimowski.
Seu sepultamento deu-se no
dia 26/06/2010 no Cemitério
Parque das Acácias em Valinhos/SP. (Associado do Grupo
Serra Campinas)
Com a ajuda de três “carrófilos de nascença”, os campineiros Gustavo Murgel e Roberto Godoy, e o cosmopolitano Luís Carlos Rossi, vamos
assistir a quem rodava Campinas a bordo de carrinhos e
carrões iguais aos do detetive
Tin Tin. Cuidado com o Milou — não pise nele.
Lincoln 1925, o primeiro
daquela frota. O dr. Múcio,
Roberto e Oscar Rossi, pais
dos nossos heróis, tiveram essa máquina. O médico radiologista Manuel Dias, com consultório na Barão de Jaguara,
também. Diz o Godoy que
um certo Sr. Lello importou
de uma vez um lote do Rover,
do Tin Tin, “parecido com o
Anglia”, mais alguns Prefect,
iguais aos do Ademir Torquato, do monsenhor Bágio e do
professor Amaury Fratini. (Para viajar no do Ademir, os passageiros tinham de pedalar.)
Aquele trio e o Reinaldo
Leone também rodaram de
Buick, enorme. O Sr. Martinho, marido da nossa Celina
Duarte Martinho, era revendedor Austin. Numa casa vazia, perto do Brinco de Ouro,
em rua paralela à Avenida
dos Esportes, descobriram,
depois de muito tempo, um
Chevrolet 32, como o do Tin
Tin, em cima de um cavalete.
Enquanto ficou na “garagem”, deu tempo de crescer
uma palmeira imperial na
frente do portão. “De quem
seria?”, pergunta o dr. Murgel. “Foi parar no museu do
automóvel de Caçapava”, diz
o Godoy.
O Cadilac 1939 passava
com o prefeito Miguel Cury
ao volante. E a turma gritava:
“Obrigado, Migué!”. Grande
figura! Álvaro Volpe, representante dos Brinquedos Bandeirante, teve o primeiro Ford
com motor V-8, modelo 1936.
E os Vauxhall? Eram do seo
Machado, diretor do Jockey
Club, do dr. Múcio e do Bento Moraes. Um Opel Olímpia,
avô do Opala, era do Schmutzler, representante da Brahma. Aquele Citroën, sempre
preto, largo, centro de gravidade zero e que nunca capotava, teve vários fãs: Oscar
Rossi, o agrônomo Jorge Bierrenbach de Castro, Gustavo
Murgel e a madre-superiora
das irmãs de Jesus Crucificado. Os Ford Zephir eram cativos dos taxistas da Estação da
Paulista. O Ângelo Lepreri, dono do restaurante Armorial,
teve um Lancia — ele corria
em rali na Europa. O pai do
Godoy teve um Morris Six.
A mãe do Gustavo Murgel,
d. Maria Egydio de Sousa Aranha, foi a primeira campineira a dirigir um Jeep Willys pela cidade. E muita gente tirou
carta apreendendo na frota
de “jipes” do Adolfo, da autoescola Campinas. O Cleber
Tosi, pai da Meyre Raquel,
que nasceu no Citroën dele,
também teve um carro incrível, o Panhard 1957.
Agora, um Jaguar daqueles, K-120, roncava nas mãos
do Luís Carlos Prado e do
Luís Rafael Henriques, o Lói,
amigo-irmão muito querido,
que há duas semanas diverte
o Céu.
Pregado no poste: “Passa, Milou!”
II Moacyr Castro, jornalista, escreve nesta
página aos sábados, domingos e
terças-feiras
josé pedro martins
E-mail: [email protected]
20 anos do ECA (final)
Os 20 anos do Estatuto da
Criança e do Adolescente
(ECA) neste mês de julho lançam luzes sobre o pioneirismo de Campinas em várias
ações relacionadas à proteção integral da infância e juventude. Motivo de orgulho,
portanto, mas também de renovação da responsabilidade
para que os desafios ainda
existentes, em termos de efetiva garantia dos direitos das
crianças e dos adolescentes,
sejam superados pela comunidade organizada.
Apenas na história recente, é possível ressaltar o modelo inovador de união de esforços concretizado pela Fundação Feac (Federação das Entidades Assistenciais de Campinas), criada em 1964. Modelo
que potencializa a ação das
organizações sociais direcionadas para a proteção dos direitos de meninos e meninas.
Em 1985, outra inovação,
com a instituição do Crami –
Centro Regional de Atenção
aos Maus-tratos na Infância.
Casa da Criança Paralítica,
Centro Boldrini, Centro Corsini, Sobrapar — são várias outras organizações na vanguarda dos cuidados, em suas respectivas áreas, com a qualidade de vida de crianças e adolescentes.
Duas ações em curso consolidam essa vocação solidária histórica de Campinas.
Uma é o Programa pela Educação em Tempo Integral, iniciativa do Fundo Juntos pela
Educação, constituído por
Instituto Arcor Brasil, Instituto C&A e Vitae. O programa visa apoiar a estruturação de redes locais de aprendizagem,
formadas por escolas públicas, Cras, bibliotecas, ONGs e
outras instituições, de modo
que os jovens em situação de
vulnerabilidade tenham educação o tempo todo. Campinas foi um dos locais escolhidos em todo Brasil, ao lado
de cidades paraibanas (João
Pessoa, Lucena e Santa Rita),
para sediar o programa, que
está em sua terceira edição
em 2010.
A outra ação que ratifica o
vanguardismo de Campinas é
o Projeto Naves-Mãe, a proposta da atual Administração
municipal, do Dr. Hélio de
Oliveira Santos, para erradicar o déficit na educação infantil. Localizadas em bairros
de acentuada vulnerabilidade
social, as naves-mãe estão
contribuindo para mudar o
panorama nas comunidades
onde estão instaladas. E estão
fazendo isso com uma proposta pedagógica nova, a pedagogia dos sentidos, mais
uma contribuição transformadora de Campinas, visando à
dignidade e desenvolvimento
integral das crianças e adolescentes.
Os direitos estipulados no
ECA, sem dúvida, somente serão assegurados em plenitude com um esforço e empenho ainda maiores da sociedade brasileira pela ampliação e
melhoria das oportunidades
educacionais. É justamente
para onde apontam o Programa pela Educação em Tempo
Integral e as naves-mãe, com
sua pedagogia dos sentidos.
I I José Pedro Martins é jornalista e escritor
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