Carta aos Animadores
Que queres ser quando fores grande?
Claretianos. Sacerdotes e Irmãos.
Março de 2015
Queridos amigos:
A clássica pergunta: “Que queres ser quando fores grande?”,
passou à história, sem sabermos porquê. De facto, evoca a imagem
daquelas senhoras idosas que conseguiam fazer que essa pergunta se
parecesse com um interrogatório, de modo que se não se respondesse
com evasivas, poderia deixar qualquer um bem confuso. Mas, desde outro
ponto de vista, as hipotéticas respostas a essa pergunta poderiam ser para
nós muito instrutivas. Pelo que nos dizem as estatísticas, as respostas das
crianças e pré-adolescentes caracterizam-se por uma elevada dose de
pompa e circunstância: “astronauta, ator de cinema, futebolista, piloto…”
Mas, quantos é que o conseguiram realmente sê-lo?
As aspirações dos discípulos quando discutiam, a caminho de
Jerusalém, sobre quem era o mais importante (cf. Mc 9, 33-37) não
parecem ser muito diferentes dos desejos das nossas crianças e préadolescentes que brincam aos super-heróis. Curiosamente a reaçãoresposta de Jesus não lhes exige renunciar a essa aspiração “infantil”; pelo
contrário, parece relançá-la. Jesus, na verdade, não só não põe em causa
que os discípulos que assim pensem possam ser seus discípulos, como
nem sequer discute os seus desejos de grandeza. Efetivamente, no texto
não é dito: “Enquanto fordes assim e penseis assim, não podereis ser meus
discípulos…”; nem se diz: “Enquanto desejardes isso, não podereis ser
meus discípulos…”. Não. A resposta de Jesus é como se disse-se: “Vós sois
meus discípulos, mas se desejais ser verdadeiramente grandes, deveis
reorientar o vosso desejo”.
A chave da resposta parece situar-se na capacidade de orientar
aquele desejo noutra direção, não em eliminá-lo. E mais: com semelhante
desejo de grandeza, até poderão levantar uma criança, brincar com ela e
abraçá-la. Muito distinto, triste e odioso seria o poder que, em lugar de se
colocar ao serviço dos mais pequenos, se situasse contra eles ou os
ignorasse por completo.
O evangelho oferece, assim, aos animadores vocacionais
uma pedagogia preciosa: a de fomentar aquela aspiração a ser
grandes que se transformam em serviço. Seria bom que a
levássemos a peito e a procurássemos concretizar nas catequeses e
no acompanhamento. O facto de que tenha aparecido no grupo dos
Doze deveria ser motivo suficiente para não a eliminarmos nem a
temermos. O que há a temer é a ingénua pretensão de que esse
desejo de grandeza não exista nem deva existir. Não é condenável
ter desejo de grandeza; é-o, sim, deixá-lo à deriva, ou fingir que não
se vê.
Juan Carlos, cmf
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