A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
AS FEIRAS INTERNACIONAIS COMO CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO
NO ESPAÇO: UMA REFLEXÃO A PARTIR DAS FEIRAS E
CONGRESSOS MÉDICOS PARA O COMPLEXO INDUSTRIAL DA SAÚDE
FLÁVIO DE CAMPOS VENDRUSCULO1
Resumo: Neste artigo, nosso objetivo é compreender o papel das feiras e congressos médicos
internacionais nas conexões entre os agentes econômicos do complexo industrial da saúde
(GADELHA, 2003). Com isso em foco, pretendemos apontar que situações de co-presença
temporária, tais como as feiras internacionais e congressos, são pontos de conexão de uma geografia
da produção cada vez mais fragmentada e dispersa, funcionando como círculos de cooperação no
espaço para os circuitos espaciais da produção (SANTOS, 1986) de um dado complexo industrial.
Palavras-chave: co-presença temporária, circuitos espaciais da produção, círculos de cooperação no
espaço, feiras internacionais, complexo industrial da saúde.
Abstract: The objective of this article is to understand the role of trade fairs and medical congresses
in the creation of cooperation between economic agents of the health industrial complex (GADELHA,
2003). With this in mind, we intent to point out that international trade fairs are central nodes of an
ever more fragmented and scattered global political economy, and by bringing together these parts,
trade fairs have the role of cooperation circles in space for the spatial circuits of production (SANTOS,
1986) in a given industrial complex.
Key words: temporary co-presence, spatial circuits of production, circles of cooperation in space,
international trade fairs, health industrial complex.
1. Introdução
Através da constante reorganização das estruturas produtivas, da recriação das
bases técnicas da produção social e da renovação das condições sociais de
produção, lugares, regiões e países são constantemente postos em conexão. Através
desses elementos a história é constantemente perpassada por um arranjo complexo
de autonomia e interdependência entre lugares, através dos quais regiões se
relacionam.
Grosso modo, a expansão do capitalismo produziu uma interdependência
crescente entre diferentes subespaços do mundo através de “uma espécie de
socialização capitalista territorialmente ampliada” (SANTOS, 2008 [1996]: 254). Tal
socialização
resulta
do
movimento
conjunto
de
expansão
geográfica
e
aprofundamento vertical da divisão do trabalho, que abrange cada vez mais lugares e
se concentra através de densidades técnicas inéditas.
Com a paulatina integração territorial do sistema econômico e a superação do
que Harvey (1992) chamou de “fricção da distância” através da incorporação de
inovações técnicas nos transportes e comunicações, passou-se a construir uma rede
1
Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo.
E-mail de contato: [email protected]
4786
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de relações mais intensa e extensa entre as regiões do mundo. A transição de uma
geografia econômica mais dedicada às relações entre agentes restritos à escala
regional para outra que envolve agentes de diversas regiões cooperando entre si,
demarca a passagem dos circuitos regionais da produção para os circuitos espaciais
da produção (CEP) e seus respectivos círculos de cooperação no espaço (CCE)
(SANTOS, 1986).
A geografia da produção resultante desse processo é cada vez mais
fragmentada e dispersa, o que torna mais complexa a distribuição espacial das
atividades econômicas no globo terrestre e aumenta a demanda por coordenação e
coesão entre esses lugares. A incorporação no espaço de inovações técnicas
(transportes) e informacionais (telecomunicações) supre as novas necessidades por
articulação e intensifica a interdependência entre os lugares ao criar novas
possibilidades de interação e também novas formas de cooperação e controle das
ações. Dessa forma, o uso das redes de transporte e de telecomunicação possibilitou
a unificação de setores industriais, a mundialização das relações produtivas e o
acesso a informações sobre mercados distantes, propiciando uma maior circulação de
pessoas, objetos e informações num ritmo cada vez mais acelerado.
Atualmente, a interdependência entre grupos sociais, setores econômicos e
lugares é uma realidade que reestrutura as condições sociais de solidariedade e
demanda uma coesão espacial cuja expressão é a especialização dos lugares
(CASTILLO et al, 1997). A globalização da economia e a mundialização das
relações, possibilitados pela unicidade técnica planetária, são tributários dessa
interdependência entre os lugares numa escala global e os CEP e seus CCE são
orgânicos à integração territorial do sistema econômico, pois são o cimento dessa codependência estrutural entre diferentes lugares do planeta.
Quanto ao papel do CCE na integração territorial do sistema econômico,
Castillo e Frederico (2010) apontam que eles remetem à dinâmica imaterial da
produção no território, reunindo o que foi fragmentado pela divisão territorial do
trabalho. Para esses autores os círculos de cooperação no espaço tratam da
comunicação entre empresas traduzida através da transferência de capitais, ordens
e informações, garantindo a articulação entre lugares e agentes geograficamente
dispersos.
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Nesta perspectiva os CCE dão coesão a atual organização espacial da
produção, tornando-se fundamental reconhecer os principais agentes que formam e
estabelecem os CCE. Ou seja, como os diversos agentes que integram CEP se
relacionam dentro de círculos de cooperação cada vez mais intensos e extensos.
Como aponta Antas Jr (2014: 42), tais círculos encerram peculiaridades
ligadas ao ramo produtivo ou mesmo ao complexo industrial em questão, tornando
fundamental analisar os círculos de acordo com a especificidade do complexo
industrial. Para compreender os CCE de um dado complexo industrial, quais suas
formas e como os agentes envolvidos na sua formação organizam a produção, devese prosseguir às formas de interação entre empresas, entre essas e poderes
públicos (locais, estaduais e federal) e entre empresas, associações industriais e
outras instituições (CASTILLO, FREDERICO, 2010). Portanto, os CCE são
constituídos por uma rede de relações através da qual diversos agentes econômicos
são postos em conexão.
Sob a perspectiva do conceito de complexo industrial da saúde (CIS)
(GADELHA, 2003) podemos ter uma visão estruturalista dessa variedade de
agentes. O CIS encerra um conjunto altamente diversificado de agentes econômicos
num sistema organizado e descentralizado, no qual esses agentes são levados a se
relacionar entre si para atingir objetivos diferentes. Plurais, os CCE podem:
[...] se dar entre empresas e poderes públicos locais, regionais e nacionais;
entre empresas, associações não governamentais e instituições sem fins
lucrativos; por financiamentos oferecidos por instituições bancárias; por
parcerias com universidades, institutos de pesquisa e certificadoras de
qualidade; e com o trabalho de firmas de consultoria jurídica, de mercado e
de publicidade, entre outros modos. [...] Podem diversificar produtos,
agentes, interesses e origem dos capitais, entre outras variáveis-chave
demandadas em cada circuito espacial produtivo. (ANTAS Jr, 2014: 49)
As especificidades dos CCE no CIS são variadas como, por exemplo, as
relações e trocas de informações entre médicos, institutos de pesquisa/universidades
e indústrias. As interdependências entre esses agentes influem diretamente sobre os
setores produtivos do CIS extrapolando o entendimento do conceito de cooperação
como restrito à produção stricto sensu. Assim, “a concentração da formação médica e
do desenvolvimento de pesquisa aplicada [...] são algumas das formas que os círculos
de cooperação no espaço assumem na economia da saúde” (ANTAS Jr, 2014: 46).
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Portanto, mesmo que os agentes econômicos não precisem de uma condição
de contiguidade territorial (co-presença permanente) para a realização do processo
produtivo, sustentamos que as situações de co-presença temporária são
necessárias
para
solucionar
problemas
oriundos
da
própria
globalização
econômica. Nesse sentido, as feiras são instrumentos importantes para a
internacionalização da produção e do comércio e para a difusão de informações
entre diferentes mercados.
2. As feiras internacionais como círculos de cooperação
Em termos gerais, as feiras constituem a concentração temporária de um
contingente considerável e diversificado de empresas num mesmo ponto do território
para deliberar, negociar e cooperar. Dentre as principais funções desempenhadas
pelas feiras internacionais, apontaremos àquela de inserção de agentes, produtos e
racionalidades no mercado global (ALMEIDA, BICUDO, 2010), ligando-as, portanto,
a interesses corporativos globais que se entrelaçam num círculo complexo e
ampliado, onde coexiste cooperação e competição.
Nesta perspectiva, Bathelt et al (2013) e Bathelt e Schuldt (2005) apontam
que as feiras, principalmente, mas arrolamos os congressos nessas considerações,
são espaços relacionais que abrigam formas temporárias de proximidade geográfica,
criando um contexto espacial que aproxima agentes que de outra forma estariam
distantes geográfica e tecnologicamente. Ademais, Bathelt et al (2013: 10) apontam
que essa possibilidade transforma as feiras em situações cruciais através das quais
as redes internacionais da produção podem ser mantidas, promovidas e ampliadas.
As inúmeras possibilidades de interação entre agentes econômicos durante
um curto período de tempo constitui um importante fator de atratividade entre
agentes econômicos de diversos lugares. Através dessas interações, as empresas
de um dado complexo industrial podem romper os círculos de cooperação locais e
regionais aumentando o alcance geográfico de suas ações (vendas, fornecimento de
bens finais e/ou intermediários e etc.).
As oportunidades de interação com produtos, tecnologias e de acesso a
profissionais especializados tornam as feiras situações-chave na promoção de
experiências de aprendizado entre técnicos e profissionais de indústrias marcadas
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pela necessidade de atualização constante de conhecimentos frente ao ritmo de
inovação tecnológica num dado complexo industrial.
Assim, as feiras, tal como os CCE, possuem um aspecto relacional através do
qual agentes econômicos se relacionam ao estabelecer trocas, fluxos de
informações, de insumos e bens intermediários e também de valores. O
estabelecimento dessa rede de relações depende da criação de contextos espaciais
capazes de viabilizar contatos face-a-face (BATHELT, SCHULDT, 2008) com alta
capacidade de difusão de objetos técnicos e conhecimento técnico-científico.
Para Crocco et al (2006: 212) a aglomeração e intensa interação face-a-face
de pessoas para produzir ou emular as vantagens econômicas decorrentes dessa
forma de aglomeração, pois “o conhecimento e os processos de aprendizagem e de
construção de competências a ele relacionadas, [...] são processos essencialmente
interativos e incorporados em pessoas, organizações e relacionamentos”.
Santos, por sua vez, enfatiza a influência da co-presença sobre as condições
de aprendizado e educação: “a co-presença ensina aos homens a diferença. Quanto
maior a cidade,[...], mais vasta e densa a co-presença e também maiores as lições e
o aprendizado” (2008 [1994]: 79). Assim, as exigências de articulação e troca de
informações que caracterizam a atividade econômica nas cidades e indústrias mais
globalizadas, criam necessidades pela criação de novas formas de cooperação e
solidariedade. Dentre essas necessidades, incluímos as situações de co-presença
temporária entre agentes econômicos de um mesmo complexo industrial.
Ademais, conforme apontam Jansson e Power (2008), as feiras e
congressos internacionais não são realizados de forma isolada, mas sim
organizados num circuito global de feiras das mais diversas naturezas e qualidades
que operam uma quantidade significativa de relações entre pessoas, cidades e
instituições públicas e privadas. Assim, diversos agentes ampliam suas redes em
círculos de cooperação cada vez maiores e diversificados, transformando a copresença nas feiras num alargamento constante dos contextos (SANTOS, 2008
[1996]).
Portanto, propomos aqui a visão de que as feiras e congressos são
fundamentais para a realização de cooperação, de trocas e de difusão de
conhecimento técnico-científico. O argumento central é o de que, não apenas, mas
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principalmente no caso da indústria da saúde, as feiras e congressos não devem ser
considerados como instâncias isoladas da produção de valor, e sim como reuniões
temporárias, cíclicas e conectadas entre si que estão inseridos em circuitos globais
segmentados por tipos de indústria, conforme veremos adiante.
3. As feiras internacionais para o complexo industrial da saúde
Nosso objetivo é compreender o modus operandi das conexões entre agentes
econômicos no contexto do CIS (GADELHA, 2003) a partir das feiras e congressos
médicos. Com isso em foco, pretendemos demonstrar que situações de co-presença
temporária, tais como as feiras e congressos, podem viabilizar a cooperação entre
agentes econômicos. Nesse sentido, nosso entendimento dos círculos de
cooperação no espaço passa pelas formas através das quais se dão as interações
entre empresas, pessoas, instituições e agentes de cooperação no CIS (associações
de produtores industriais e de especialidades médicas, por exemplo).
Além dos CCE e dos CEP, o conceito de CIS agrega-se ao referencial
teórico e metodológico, pois privilegia uma abordagem sistêmica e estruturalista da
diversidade de agentes econômicos que compõem a economia da saúde
contemporânea. O emprego desse conceito está alinhado, em primeiro plano, a um
processo histórico de interdependência entre a ascensão de uma indústria da
saúde e a modernização dos serviços de assistência à saúde, uma vez que essa é
a co-dependência estrutural que confere organicidade a todo o complexo.
Em segundo plano, a diversificação da oferta e demanda por produtos e
serviços em saúde, a complexificação dos arranjos entre estado e mercado na
economia da saúde e o aprofundamento da divisão técnica e territorial do
trabalho, mobilizam uma tipologia específica de fixos e fluxos (SANTOS, 1988(
que “supõe a existência de várias empresas postas em comunicação entre si
cooperando mais intensivamente” (ANTAS Jr, 2014: 43).
Conforme a Figura 01, o CIS divide-se em três grupos de modo que o
funcionamento do complexo depende das relações intersetoriais ilustradas. Tais
grupos envolvem: a indústria de base química e biotecnologia, as indústrias de
base mecânica, eletrônica e de materiais e o setor de prestadores de serviços.
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Figura 01 - Complexo Industrial da Saúde - Caracterização Geral.
Fonte: Gadelha (2003: 524)
Essa diversidade de agentes econômicos postos mais intimamente em
cooperação produz uma complexa divisão territorial do trabalho que nos permite,
por sua vez, apontar a existência de determinados circuitos espaciais produtivos
da saúde (ANTAS Jr, 2011). Isso nos permite apontar a existência de CCE no CIS
que podem ocorrer tanto entre os setores industriais como entre estes e o setor
prestador de serviços. Esses dois tipos de círculos são promovidos nas feiras,
pois, além da presença de fabricantes e empresas, pode-se notar a presença de
representantes de hospitais e de associações de especialidades médicas.
Neste ponto, frisamos que as feiras e congressos ilustram empiricamente
os CCE apontados, como se emulassem as interdependências entre os grupos do
CIS. Contudo, a diferença fundamental entre congressos e feiras é a de que as
feiras são eventos voltados para as relações entre empresas e nos congressos as
empresas procuram criar relações com os principais intermediários (os médicos)
entre elas e os consumidores finais.
Nos trabalhos de campo realizados em congressos científicos2 torna-se
2
Foram realizados trabalhos de campo no XVIII Congresso Paulista de Urologia e no XIX Congresso
Paulista de Obstetrícia e Ginecologia.
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evidente um traço marcante do atual entrelaçamento entre ciência, tecnologia e
indústria na economia da saúde, pois a dinâmica de inovação do CIS caracteriza-se
pela necessidade de intensa interação entre os produtores de conhecimento
técnico-científico e as indústrias da saúde. Nos congressos, além do assédio
tecnológico das empresas da saúde em relação aos médicos, há a contrapartida
dos médicos que propõem modificações nos produtos, apontam falhas e
dificuldades no uso das tecnologias, interferindo diretamente na produção.
Portanto, as feiras e congressos médicos ajudam a suprir duas demandas
fundamentais do CIS, que são: a interação entre empresas e a interação entre
medicina e indústria. A partir disso, o propósito das feiras consiste em disseminar
informações produtivas e mercadológicas através da aglomeração temporária dos
agentes do CIS, procurando, com isso, diminuir os riscos e incertezas de um
mercado global intrinsicamente instável e em busca de informações.
De uma pesquisa de 220 feiras internacionais para o CIS, pudemos
destacar algumas principais, que são: a Feira Medica, sediada anualmente em
Düsseldorf, Alemanha; a Feira Hospitalar, sediada anualmente na cidade de São
Paulo; a Arab Health, sediada anualmente em Dubai, emirados Árabes Unidos; a
Fime (Florida International Medical Exhibition), sediada anualmente em Miami,
EUA; a CMEF (China
International
Medical
Equipment
Fair)
e o ICMD
(International Component Manufacturing & Design Show), ambos na China; e,
finalmente, as Feiras Medtec e CPhI.
Embora não poderemos abordar todas, sublinhamos que cada uma dessas
feiras possui uma função para o CIS, cada uma atua numa escala geográfica
diferente (regional, internacional ou global) e num segmento específico do CIS.
Dentre elas, destacamos a Medica e a Arab Health, nessas duas feiras todos os
setores (industriais e prestador de serviços) do CIS estão presentes e elas
representam o encontro entre oferta e demanda global num único ponto do globo.
Mesmo assim, a Feira Medica é a que exprime melhor esta característica e é
considerada a maior feira do mundo para a indústria da saúde.
No ano de 2013 compareceram a Medica 4.682 empresas expositoras, das
quais 3.604 (76%) eram estrangeiras e 1.078 (24%) eram alemãs. Da parte dos
visitantes, do total de 132.226, 56% é representado por estrangeiros e 44% por
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visitantes alemães. Dentre os visitantes estrangeiros, há uma predominância de
visitantes asiáticos (54% do total), os visitantes oriundos da América do Norte
representam 16%, os africanos 15% e os 15% restantes estão divididos entre
América Central e do Sul (13%) e Austrália (2%) (MESSE DÜSSELDORF
ANNUAL REPORT, 2013: 9). Além da Medica, a Messe Düsseldorf, empresa
organizadora dessa feira, promove diversas feiras para o CIS ao redor do mundo,
tais como: a Medical Fair Asia, a Medical Fair India, a Medical Fair Thailand, a
China Med, a Medical World of Americas e a Mediz SPB Fair (na Rússia).
As feiras Medtec e CPhI, ambas organizadas pela UBM (United Business
Media), concentram-se em promover plataformas de conexão e contato entre
produtores de bens intermediários de dois setores industriais do CIS. A Medtec
concentra-se na indústria de base eletrônica e de matérias e a CPhI é
especializada no setor farmacêutico e de biotecnologia. O conteúdo dessas feiras
compreende a co-presença temporária de profissionais especializados detentores
de um conhecimento técnico muito específico.
A Medtec, por sua vez, constitui uma marca com edições regionais e
internacionais, sendo realizada cerca de 30 feiras ao redor do mundo com esse
rótulo. Delas a maior parte está sediada nos EUA3, mas elas estão presentes
também na Europa e Ásia4 e também na América do Sul por meio da MedTec
Brazil.
Essa feira é fundamental para o que temos sustentado ao longo deste
a rt igo, pois ela promove a cooperação exclusivamente entre agentes da esfera
produtiva e o intercâmbio de informações técnicas e regulatórias. Em trabalho de
campo realizado na MedTec Brazil, em São Paulo, foi possível constatar esse
perfil através da realização de um inventário de produtos nela ofertados. Pudemos
encontrar fornecedoras internacionais e nacionais de: componentes eletrônicos,
tecnologias de micro-maquinação, fibras, softwares de design e fabricação,
serviços de esterilização, ligas metálicas especializadas, materiais e tecnologias
3
MD&M East (divisão da costa leste dos EUA), MD&M West (divisão da costa oeste dos EUA),
MD&M Florida, MD&M Minneapolis, MD&M Philadelphia, MD&M Texas, MEDevice San Diego,
Medical Device & Manufacturing (sem cidade-sede fixa), Pharmapack North America.
4
Na Ásia, MEDTEC China, MEDTEC China South, MEDTEC India, MEDTEC Japan, na europa
MEDTEC Europe, MEDTEC France, MEDTEC Ireland, MEDTEC Italy, MEDTEC UK – Reino Unido.
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de empacotamento, arames e molas, tecnologias de processamento de
plásticos, resinas e matérias-primas, bombas, motores e equipamentos para
calibração, dentre outros.
De forma semelhante à Medtec, embora dedicada a expor produtos das
empresas que compõem os CEP da indústria farmacêutica, a CPhI reúne
produtores do circuito de insumos e reagentes químicos, tais como: extratos
naturais,
fórmulas
finalizadas,
excipientes
(conservantes,
emulsificantes,
solubilizantes, corantes, flavorizantes) e princípios ativos. Tal como a MedTec, a
CPhI possui edições nacionais, multinacionais e mundiais: a CPhI South East
Asia, a CPhI Japan, a CPhI Russia, CPhI Istanbul, a CPhI China, a CPhI South
America, a CPhI Korea, a CPhI Worldwide, e a CPhI India. Além disso, diversos
congressos de especialidades médicas acontecem simultaneamente à CPhI.
A Feira Hospitalar, por sua vez, é tida como a segunda maior feira para o
CIS no mundo. Apesar de contar com forte presença de expositores
internacionais, a Hospitalar possui maior participação de empresas nacionais. Em
trabalho de campo realizado na edição de 2014 dessa feira, ela contou com cerca
de 91.000 visitantes, dos quais 4.810 (8,5%) eram internacionais. Desse ponto de
vista, a Hospitalar revela um caráter nacional mais pronunciado, apesar da
considerável presença de empresas e organizações estrangeiras na feira.
Segundo dados divulgados pela organização da feira, 11 estados brasileiros
são responsáveis por cerca de 90% das visitas. Os visitantes estrangeiros estão
distribuídos em 63 países, com destaque para os países da América do Sul, para
o México, Panamá e Porto Rico.
Segundo dados divulgados pela organizadora dessa feira, hospitais,
clínicas e laboratórios são as instituições mais representadas dentre os visitantes,
de modo que 23% estão vinculados a elas, 18% representam distribuidores,
representantes comerciais (importadores e exportadores), 19,5% representam
estudantes e entidades de ensino médico, indústria, engenharia e arquitetura
hospitalar e entidades de classes, 13% são enfermeiros, 6% são médicos, 6%
trabalham em serviços diversos e 8% são outros profissionais da saúde (técnicos,
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auxiliares, etc.)5. Estes dados revelam a atratividade que essa feira possui para
as empresas brasileiras e latino americanas que atuam na indústria da saúde.
Desse modo, as feiras e congressos internacionais para o CIS encerram
diversos níveis de CCE que operam mais ou menos organizadamente um
emaranhado de relações numa trama global, de modo que a complexidade dessas
feiras e congressos está diretamente relacionada à complexidade organizacional e
ao nível de internacionalização desse complexo industrial.
4. Considerações preliminares
Ao longo desse artigo, procuramos definir as feiras e congressos como
fenômenos carregados de significados geográficos, econômicos e históricos cuja
potencialidade é transversal ao sistema econômico e todos os complexos
industriais que o compõe. Sua particularidade reside nas possibilidades de
explorar o potencial comunicacional das situações de co-presença temporária que
a concentração de agentes econômicos num mesmo lugar pode gerar. Portanto, a
aglomeração temporária de pessoas e empresas de diversas partes do mundo
parece ser uma interessante forma de emular as vantagens econômicas
decorrentes das chamadas economias de aglomeração (MARSHALL, 1996).
Conforme apontado, o potencial das feiras supera a função de plataforma
comercial, pois promove a cooperação e coesão de agentes econômicos através
da criação redes de relacionamento, da difusão de informações, conhecimento
técnico-científico, objetos e, portanto, da difusão de uma psicoesfera e uma
tecnoesfera na economia da saúde. Desse modo, as feiras e congressos tornamse pontos de conexão de uma economia política global do CIS ao aglomerar num
único lugar os agentes de diversos CEP de uma geografia da produção
crescentemente fragmentada e dispersa.
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