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17.08.2006
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Francisco Ribeiro da Silva, Fernando de Sousa
Os Ingleses, olharam sempre tão útil estabelecimento, como uma barreira impenetrável à sua desmarcada cobiça
e ambição, e invejosos dos grandes lucros e vantagens que à Nação provinha, eles não se cansaram de apresentar
queixas ao seu Governo, que sempre zeloso pelos interesses de seus súbditos em toda a parte que eles se acham,
não se descuidou de pôr em prática quanto estava da sua parte: assim é que foram enviados a Lisboa, o General
O’Hara, e Lord Tyrawly incumbidos de missões especiais, que afinal nenhum efeito tiveram. Contudo tamanho era o
ódio e a inveja de nossos amigalhões, que não desistiram de suas queixas, principiando pela de 1758 a lord Chatmann,
em 1764 a lord Halifax, em 1812 a lord Castlereag, e em 1824 a mr. Canning, por meio de um memorial; e por último,
sendo sempre infelizes, aproveitaram-se da ocasião mais oportuna para o conseguirem, como conseguiram, no
tempo do Ministério Silva Carvalho, que indiscretamente acabou com tão rico e proveitoso estabelecimento,
satisfazendo assim os desejos de nossos adversários, enquanto que arruinou um dos melhores ramos do nosso
comércio com a desgraça de inumeráveis famílias!!!
(Memória histórica acerca da pérfida e traiçoeira amizade inglesa, dedicada e oferecida ao Ilmo. e Exc.mo Snr. Manuel da Silva Passos, ministro
e secretário de Estado honorário, e digníssimo deputado da Nação Portuguesa. Por F. A. de S. C. Porto: Tipografia de Faria & Silva, 1840)
Fundada em 1756 com o objectivo de reduzir o monopólio de facto da feitoria inglesa do Porto quanto aos vinhos
do Alto Douro, é lógico que os ingleses sempre procuraram limitar, travar e mesmo extinguir a Companhia Geral
da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
Essa guerra – porque de uma autêntica guerra se tratou – alimentou até 1852, mas, sobretudo, até 1834, uma
contínua e sistemática pletora de queixas, representações, exposições e intervenções diplomáticas que deram origem
a uma abundante literatura e a múltiplas fontes que ainda hoje se encontram manuscritas, quer nos arquivos nacionais,
quer nos arquivos ingleses.
Deixando para outro momento um estudo mais aprofundado sobre este aliciante tema, para o qual dispomos já de
numerosas fontes recolhidas e tratadas, dos arquivos nacionais, do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e do Public
Record Office, limitar-nos-emos, agora, a chamar a atenção para alguns dos aspectos mais importantes deste conflito,
que marcou, de forma iniludível, a história da Companhia durante o período em que ela manteve funções públicas
de fiscalização e regulamentação dos vinhos do Alto Douro.
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Francisco Ribeiro da Silva, Fernando de Sousa