“América Latina: um cenário de mais otimismo do que pessimismo”
Por: Daniel Frazão
O escritor peruano e vencedor do prêmio Nobel de literatura, Mario Vargas
Llosa, participou de um debate sobre a nova era de incertezas e os desafios do
século XXI. O evento, promovido pelo IBMEC, em parceria com o Instituto
Millenium, foi realizado em 18 de abril, no cine Odeon, no Centro do Rio.
Tendo como pano de fundo sua trajetória política e intelectual, o escritor
destacou o processo de abertura democrática na América Latina, o seu
desencanto com as experiências socialistas utópicas e o modelo liberal
econômico como o único capaz de permitir liberdades e garantias individuais.
Foto: Lucas Gabriel
Mario Vargas Llosa discursando no Cine Odeon
Segundo Vargas Llosa, o cenário da América Latina na segunda metade do
século XX foi marcado por ditaduras e governos pouco democráticos, com
enormes problemas econômicos e sociais. Essa realidade contribuiu para o
surgimento de movimentos revolucionários principalmente entre jovens e
universitários, inspirados por doutrinas utópicas que buscavam uma autêntica
liberdade, sem injustiças e igualdade de condições.
“Democracia era a máscara da exploração. Queríamos
uma revolução completa.”, enfatiza Llosa.
E nesse compasso ocorreu o processo revolucionário no México e no Peru. O
modelo cubano, entretanto, foi o que acabou por atrair a atenção do escritor.
Segundo ele, Cuba conseguiu criar um impulso libertador sem perder a ternura
de uma revolução com amor e música. E essa foi a razão pela qual o escritor
esteve naquele país por, pelo menos, cinco vezes somente nos anos 1960.
O desencanto começou logo em seguida, quando o modelo socialista
revolucionário mostrou-se puramente utópico e tão autoritário quanto os
regimes anteriores. O governo, instaurado no pós-revolução, desencadeou
perseguições a homossexuais, artistas, dançarinos e músicos e todos que
divergissem de alguma forma dos rumos da revolução cubana.
“Se se elimina a muralha da política, se instala a barbárie sob a
máscara de que os fins justificam os meios.”, complementou o
prêmio Nobel de Literatura.
O autor de clássicos como “A festa do Bode” e “Conversas na Catedral”
destaca ainda uma visita à Rússia comunista como uma das experiências
frustrantes que contribuíram para o seu desencantamento com modelos
socialistas. Segundo ele, não havia uma expectativa de encontrar um modelo
perfeito de igualdade e colaboração social, mas o que se viu foi um verdadeiro
festival de pobreza e falta de liberdade de expressão e ideológica, onde a única
opção era seguir o governo. Llosa descreve a realidade do povo russo como
verdadeiros servos do regime, sem poder decidir aonde ir, o que vestir, sem
poder optar por formas de artes diversas, livros e contradições. “Sem poder sair
do monólogo comunista”, filosofa o escritor.
Nesse contexto, as ideias liberais, antes tidas como uma relação promíscua
entre o capital e o homem, começam a aflorar e ganham novo significado na
América Latina. O que antes era um mundo de milionários e exploradores,
passa a ser visto como fundamento de progresso social e de libertação
intelectual. A experiência liberal traz modelos democráticos menos frágeis e
que comportam opiniões capazes de representar uma alternativa menos
ameaçadora ao modelo socialista experimentado pelo intelectual peruano.
Foto: Lucas Gabriel
E nessa esteira, o prêmio
Nobel de Literatura apresenta
a realidade da América Latina
atual como um cenário de mais
otimismo do que pessimismo.
Apesar
da
venezuelana
experiência
recente
não
passar, segundo o escritor, de
um
verdadeiro
caudilho
socialista pseudo bolivariano e
autoritário, os números das
últimas eleições, ocorridas no
início de 2013, indicam uma
parcela
significativa
crescente
disposta
da
a
e
população
mudar
essa
realidade. Isso, sem contar o
fato
de
haver
desproporção abissal em
Llosa concentrado em sua palestra
uma
termos de propaganda eleitoral para o partido estatal e para o partido de
oposição, o que contribui mais ainda para entendermos a Venezuela como “um
dos últimos suspiros socialistas” do continente americano.
E conclui o escritor, antes um jovem simpatizante dos ideais da revolução
socialista, hoje um homem experimentado pela vida e defensor ferrenho de um
modelo liberal econômico, e sobretudo, um ser humano defensor das
liberdades e garantias individuais. O segredo para um mundo melhor, segundo
Llosa, não encontra outro caminho que não a renúncia às utopias ingênuas.
Esse modelo deve incluir ainda o reconhecimento das diferenças dos homens,
da sua excentricidade e do multiculturalismo, da coexistência, do trabalho e do
reconhecimento pelos nossos esforços. Por fim, um espaço para se sonhar
através da literatura, da música e das artes.
Foto: Lucas Gabriel
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