Resgatando a Confiança
James Copeland Jr (*)
Os recentes casos de empresas que quebraram ou tiveram seu nome abalado
por escândalos fiscais afetaram a economia, motivaram os nossos líderes
políticos e abalaram a confiança que tínhamos na nossa capacidade de poupar e
investir para um futuro mais seguro.
Para resgatar a confiança nos nossos sistemas financeiros, precisamos criar
padrões mais elevados de responsabilidade.
O processo de relatórios financeiros, o sistema de mercado de capitais e a
profissão de contabilista precisam de aperfeiçoamentos.
Devemos nos orgulhar da força dos nossos mercados, mas não podemos dar
como garantida a nossa força econômica, quando seus pilares – crédito,
confiança e integridade – são questionados. Gerentes e auditores dividem a
responsabilidade pela confiabilidade dos relatórios financeiros. O trabalho do
auditor – baseado em critério e competência – deve resistir a qualquer teste de
honestidade e integridade.
Hoje, uma oportunidade de uma reforma abrangente é muito rara. Mas,
resolvendo seguir em frente, precisamos fazer a pergunta: “Quais são as
conseqüências?” Algumas propostas, se implementadas, serão realmente
prejudiciais. Eis dois exemplos. Primeiro, agora as pessoas querem soluções
simples para problemas complexos. Daí a idéia apressada de que vamos acabar
com falhas financeiras se os auditores tiverem suficiente independência de seus
clientes. Essa solução costuma ser defendida por auditores que abrem mão de
sua integridade em favor de contratos de consultoria mais “lucrativos”. Para
fazer frente a essa idéia, muita gente bem-intencionada defende maior limitação
na esfera de ação dos serviços que firmas de auditoria oferecem a seus clientes.
Na verdade, alguns propõem que nenhum outro serviço seja oferecido por elas.
Esta é uma idéia terrível. O aumento das limitações aos serviços que oferecemos
pode fazer o público acreditar que equipes de auditoria seriam mais
independentes – mas, na verdade, só vai fazer com que se tornem menos
competentes.
Para oferecer uma auditoria de qualidade, é preciso formar equipes de
profissionais independentes com competências diversas e especializadas. Não
teríamos como conservar os diversos especialistas técnicos de que precisamos
se pedíssemos a eles que só fizessem trabalho de apoio à auditoria.
Alguns sugerem que busquemos essa competência em empresas independentes.
Imagine que a Deloitte & Touche vendesse sua prática de consultoria em
tecnologia a uma empresa independente. Depois, pediríamos a eles que
“devolvessem” os nossos especialistas para fazerem a mesma auditoria em que
já tinham trabalhado. A equipe, então, seria menos independente do que antes,
porque os especialistas não estariam sujeitos às regras de autonomia do auditor.
Poderiam até possuir ações da empresa auditada.
Assim, a idéia da firma “exclusiva de auditoria” – por mais atraente que possa
ser – resultaria em uma equipe menos competente e menos independente do
que as de hoje.
Outra idéia perigosa é a do rodízio obrigatório de empresas de auditoria. Embora
o rodízio de auditores individuais faça sentido, a exigência de rodízio de
empresas é uma receita para o fracasso, já que resultaria na destruição de
amplo conhecimento de informações institucionais e na certeza de que os
auditores estariam continuamente percorrendo uma acentuada curva
ascendente de aprendizagem; tornaria mais fácil para um gerente menos
cuidadoso levar o auditor recém-chegado, sem saber “onde estavam enterrados
os corpos”, a conclusões equivocadas; permitiria que uma empresa disfarçasse a
compra de opinião ao declarar obrigatória uma mudança de auditores que
interessasse a ela; e exigiria que os auditores passassem mais tempo vendendo
auditorias do que as fazendo.
Mas chega de más idéias. Precisamos mudar todo o sistema financeiro.
Precisamos refletir sobre, e analisar seriamente, a nossa atuação, porque, de
certo modo, todos falhamos na proteção do interesse público.
Proponho a criação de uma organização para investigar as causas de insucessos
financeiros e recomendar mudanças em políticas e procedimentos, ajudando
assim a evitar outros desastres e a resgatar a confiança do público. Essa
organização representaria um verdadeiro passo à frente na recuperação da
confiança em nossos mercados de capitais. A nova entidade, dominada por
indivíduos alheios aos quadros dos contabilistas, supervisionaria a nossa
profissão, faria avaliações de qualidade e disciplinaria auditores e suas empresas
quando necessário.
Existem maneiras de perpetrar, evitar ou descobrir uma fraude. O público não
tolera mais as fraudes ou outras atividades criminosas. Aqueles que fornecerem
informações falsas a um auditor – ou os auditores que fecharem os olhos –
devem ir para a cadeia. Parte da perda de confiança nos auditores vem da
preocupação de que o salário do auditor possa estar vinculado à venda de outros
serviços. Embora os nossos profissionais de auditoria não sejam diretamente
remunerados por contribuírem para o aumento da receita de outras linhas de
serviço, estamos analisando nossa avaliação e nossos sistemas de
compensação, para garantir aos que fazem um trabalho de auditoria da melhor
qualidade uma recompensa adequada.
Essas sugestões têm o poder de ajudar a resgatar a confiança do investidor, e
devem ser encaradas como parte de um pacote total de reformas. Além disso,
quando todos os sistemas, controles, leis e regulamentações estiverem em
vigor, o sucesso ou o fracasso vão se reduzir a um só aspecto: integridade
pessoal – ou a falta dela.
Todas as reformas só podem estimular o profissional honesto a continuar
honesto e fazer a coisa certa. Precisamos ser bons – individualmente. Não
podemos depender de comissões e controles, de programas e processos, de
regras e regulamentos. Temos que depender da honestidade e da integridade de
cada um de nós no cumprimento dos nossos papéis.
Felizmente, existe um padrão universal que transcende fronteiras e culturas.
Não existe nada pior do que um contador sem consciência.
Mesmo as melhores reformas serão vazias sem a honestidade e a integridade de
todos os envolv idos no nosso sistema de mercado de capitais.
AÇÃO: O que você pode fazer para resgatar a confiança do consumidor?
(*) James Copeland, Jr. é CEO da Deloitte & Touche. Este artigo foi adaptado de sua palestra no Economic Club de Detroit e usado com
p e rmissão de Vital Speeches of the Day
Fonte: Revista Executive Excellence - Disponibilizado em 11/03/2004
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