Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
“A FAMOSA HISTÓRIA DA VIDA DO REI HENRIQUE VIII”, DE WILLIAM
SHAKESPEARE, “A IRMÃ DE ANA BOLENA”, DE PHILIPPA GREGORY, E O
FILME “THE OTHER BOLEYN GIRL”: A CONTURBADA VIDA DO REI
HENRIQUE VIII SOB TRÊS PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS DE GÊNEROS
DISTINTOS
Ederson da Paixão
(PG Instituto ESAP – Projeto de Pesquisa “Os Primeiros Dramas Elisabetanos” – GP “A
Arte Teatral: Conceituação, História e Reflexões” – UENP/CLCA –Jac.)
[email protected]
Fernanda de Cássia Miranda
Mônica de Aguiar Moreira Garbelini
(Orientadoras - Projeto de Pesquisa “Os Primeiros Dramas Elisabetanos” – GP “A Arte
Teatral: Conceituação, História e Reflexões” – UENP/CLCA – Jac.)
[email protected]
Ao longo dos tempos, a Inglaterra proporcionou a algumas personalidades a
oportunidade de colaborar para o bem do país (tanto nas questões político – econômicas,
quanto histórico – literárias), e devido a este fato, alcançar o reconhecimento mundial. Tais
figuras de destaque são os reis, rainhas, príncipes e princesas que governaram e viveram na
enevoada ilha britânica.
Em meio a tantas figuras reconhecidas pela sua importância até os dias
atuais, cabe destacar o soberano Henrique VIII, filho do rei Henrique VII e Elizabeth of York,
que tornou – se muito popular depois de tomar algumas atitudes que ficaram guardadas nas
páginas da história.
Henrique (Tudor) VIII ficou muito conhecido por seu casamento com
Catarina de Aragão (viúva de seu irmão, o príncipe Arthur), um relacionamento marcado por
diversas dificuldades, já que o rei necessitava de um filho homem para dar seqüência no
trono, mas a rainha não conseguia gera – lo, devidos aos seus inexplicáveis abortos. O único
fruto deste relacionamento foi uma menina, a princesa Mary.
(...) Henry had been overjoyed on New Year’s Day 1511 when Catherine had
presented him with a son, but the Prince Henry survived for no more than six weeks
to their intense grief. Thereafter there was an unhappy series of miscarriages and
still – births, but in 1516 the Queen gave birth to the Princess Mary, who seemed a
healthy enough infant. (FRASER, 1999, p.176)
Cabe destacar ainda o seu divórcio de Catarina de Aragão e,
consequentemente, o rompimento com Roma (Igreja Católica), e seus demais matrimônios
com mais cinco mulheres (princesas e ladies), onde algumas conseguiram a dissolução do
casamento, outras foram decapitadas, que são as seguintes:
512
Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
1ª Esposa: Catarina de Aragão – Spaniard Princess (Divorciada);
2ª Esposa: Ana Bolena – English Lady (Decapitada);
3ª Esposa: Jane Seymour – English Lady (Decapitada);
4ª Esposa: Ana de Cleves – German Princess (Divorciada);
5ª Esposa: Catarina Howard – English Lady (Decapitada);
6ª Esposa: Catarina Parr – English Lady (Sobreviveu).
É do rompimento com o catolicismo que Henrique VIII irá e implantará o
Anglicanismo como a “Igreja da Inglaterra”, para assim poder casar – se com Ana Bolena e
com as demais esposas que teve.
Este breve estudo pretende mostrar um pouco da conturbada corte dos
Tudor durante o reinado de Henrique VIII, a partir de dados coletados de três obras de
gêneros distintos: drama, romance e filme históricos, e destacar os fatos mais relevantes
apresentados pelos autores.
“A Irmã de Ana Bolena”, de Philippa Gregory, e o filme “The Other Boleyn Girl”:
Semelhanças e diferenças
Em ambas as obras, a família Bolena será o “centro” de toda a história. O
filme apresenta logo no início, o casamento de Maria, irmã de Ana Bolena e George, com
William Carey, e a trama de seu tio juntamente com seu pai, de se aproximar da corte de
Henrique VIII (*note – se, aqui, a preocupação da Família Bolena em ascender socialmente),
mas o romance já começa com eles já servindo ao rei e à rainha na corte.
Catarina de Aragão lutava, há tempos, para conceber um filho homem para
suceder Henrique VIII no trono (de acordo com Fraser (1999, p. 176), “He desperately wanted
a son born in wedlock who could ultimately succeed to his throne unchallenged”), mas sofria
abortos inexplicáveis. Em meio a esse conturbado fato, o rei distancia – se dela e começa a
manter relações com Maria Carey quase todas as noites. Desse relacionamento surge um filho
que, no romance, recebe o nome de Henrique (no filme ela tem um único filho, mas no
romance ela também conceberá uma menina, chamada Ana). (*Note – se, aqui, que a
ascensão social da família Bolena caminha triunfante: Maria tinha um filho do rei.)
Ana Bolena havia se casado às escondidas com Henry Percy, que já era
comprometido. Quando os Bolena ficaram sabendo, mandaram – na para a França (*verifica –
se, aqui, a preocupação com o escândalo que tal ato causaria, já que poderia colocar todo o
plano em risco). Ela retornará para a corte (a pedido de sua família), para substituir Maria
513
Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
Carey (que no romance e na história não passa de “a outra garota Bolena”), e encanta o
soberano com seu poder de sedução (*mais importante que ter uma filha ligada ao rei, era ter
duas).
Henrique VIII estava ansioso para possuir Ana Bolena, mas a jovem, não
querendo tornar – se mais uma das vária amantes do rei (tal como sua própria irmã), pede que
este separe – se de sua esposa, Catarina de Aragão, praticamente esquecida, e a torne a nova
rainha da Inglaterra. Só assim ela se entregaria a ele.
A rainha Catarina recusa – se, visto que a Igreja Católica não permitiria e,
“romper com Roma” e criar a Igreja da Inglaterra, “seria isolar a Inglaterra politicamente”.
Depois de muito esforço, o soberano consegue expulsá – la da corte. Nas cenas do filme,
naquele mesmo dia, Henrique VIII, que era tão dócil e carinhoso com Maria, torna – se
agressivo, violento e sedento de prazer ao ponto de possuir Ana Bolena à força (esta que, mais
tarde, foi coroada como a nova rainha da Inglaterra, mesmo contra a vontade do povo que a
repugnava).
(…) Henry’s (…) marriage with Catherine had been invalid so that he could marry
again. Dissatisfaction with Catherine as a wife preceded his infatuation with Anne
Boleyn, who was not content like her elder sister Mary to be a royal mistress, but
wanted to be a queen consort, while Henry wanted a legitimate heir. (FRASER,
1999, p. 176)
Do relacionamento real, nasce apenas uma filha, Elizabeth (*aqui, a origem
da famosa Elizabeth I, a eterna “rainha virgem”). Insatisfeito, o rei começa a se envolver com
Jane Seymour, dama de companhia da rainha Ana. Maria Carey (que agora estava na corte
depois de passar um tempo fora, no campo), começa a presenciar as constantes discussões do
casal.
Ana engravida novamente. No romance, ela tem um bebê com má
formação. O rei suspeita, então, de traição dela com seu próprio irmão, George (“falso
testemunho” que no filme é levantado pela esposa de George), de incesto e de bruxaria.
Imediatamente, Henrique VIII aprisiona George na Torre de Londres, onde
será decapitado (de acordo com os pensamentos de Hilliam (2004, p. 63), “Henry VIII began
life as a hugely talented, attractive and intelligent man, but he became increasingly cruel,
savagely ruthless, and a bloated monster”.). Mais tarde, a rainha Ana também será condenada
e morta.
Maria Carey, “a outra garota Bolena”, não conseguiu evitar a morte de sua
irmã e, a pedido dela, leva a pequena Elizabeth a seus cuidados.
514
Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
Dentre as últimas frases do filme, uma delas, que segue – se, é marcante e
norteadora, e pode servir de um ponto de reflexão aos professores: “A decisão de Henrique de
romper com a Igreja Católica, mudou a face da Inglaterra para sempre” (Filme “The Other
Boleyn Girl”), pois o soberano
(...) rivalizou – se com a Igreja Católica no intuito de criar o Anglicanismo em seu
país. Essa briga religiosa rendeu guerras durante algum tempo. Assim podemos
presenciar, nessa época, um atraso cultural da Inglaterra visto que, enquanto
preocupou – se com guerras religiosas, o resto da Europa desenvolveu – se muito
culturalmente. (CARVALHO, 2009, p. 21)
Com a criação do Anglicanismo, houve grandes conflitos religiosos. Muitos
mosteiros e igrejas foram destruídos junto com muitas obras de arte, e muitos fiéis foram
perseguidos e forçados a se converter, e abandonar o catolicismo. Foi praticamente uma
tortura aos religiosos que viram uma grande revolução atingir a Inglaterra.
(...) Breaking with the Pope over his divorce with Catherine of Aragon, he delared
himself head of the Church in England. Then, in order to destroy the power of
catolicism in England, and incidentally acquire massive riches for himself, he
“dissolved” all the 823 abbeys and monasteries throughout the kingdom.
(HILLIAM, 2004, p.65 – 66)
“A Famosa História da Vida do Rei Henrique VIII”, de William Shakespeare: Aspectos
Relevantes
No drama histórico de William Shakespeare, muita coisa se repete igual ao
filme e ao romance, no que diz respeito à conturbada vida do rei Henrique VIII, e sua (s)
esposa (s). Há muita trama, muita rivalidade e muitas negociações a respeito de questões
políticas da Inglaterra do período retratado.
O soberano era muito popular e, por este motivo, vivia cercado de
servidores, de pessoas nobres (da alta sociedade), e tinha toda a atenção de sua esposa, a
rainha Catarina de Aragão.
Dentre os diversos traços que marcam o governo de Henrique VIII e o torna
popular, o primeiro que é mencionado na obra e que merece grande destaque, é a questão de
que sua esposa não conseguia lhe conceder um filho homem, para que este pudesse sucedê –
515
Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
lo no trono depois de sua morte. Até mesmo tramavam tomar posse de seu trono quando este
não mais estivesse vivo, como pode ser constatado no fragmento que segue – se:
(...) Primeiramente, como era costume
dêle , todos os dias emprestava
seu discurso dizendo que, no caso
de vir o rei a falecer sem prole,
arranjaria as coisas de maneira
que o cetro a obter viria. Ouvi quando ele
essas mesmas palavras disse ao genro,
Lorde Abergavenny, a quem ele a jura
fez de tomar vingança do cardeal.
(SHAKESPEARE, MCMLXVI, p. 33)
Outra questão que é típica nas três obras e que se reforça no drama de
William Shakespeare é a questão das “mascaradas”, as grandes festas à fantasia que
aconteciam principalmente nos salões do castelo real. Todos se fantasiavam, e os cavalheiros
tiravam uma dama para a dança. Nesta obra, foi assim que o rei Henrique VIII se depara pela
primeira vez com Ana Bolena, sua futura esposa e atual dama de companhia da rainha
Catarina.
(Cada um tira uma dama para dançar; o rei
tira Ana Bolena.)
(...) A mão mais bela que eu jamais toquei.
Ó linda! Até hoje eu não te conhecera!
(Música. Dança.)
(SHAKESPEARE, MCMLXVI, p. 43)
Um outro fato da conturbada história da vida do soberano, trata – se da sua
vontade de se divorciar de sua esposa, a rainha Catarina de Aragão, para se casar com Ana
Bolena. Outra questão que perturbava a vida do rei é o fato da rainha ter sido a esposa de seu
falecido irmão, Arthur.
(...) Confio em vós senhor; vou revelar – vo – lo.
Não ouvistes, acaso, alguns rumores
nestes últimos dias sobre o próximo
divórcio entre o monarca e Catarina?
(SHAKESPEARE, MCMLXVI, p. 54)
(...) O casamento
com a mulher de seu mano, ao que parece,
mui de perto perturba – lhe a consciência.
(...) Não; a consciência dele é que perturba
de perto outra senhora.
(SHAKESPEARE, MCMLXVI, p. 55)
516
Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
(...) On his deathbed his father had advised him to marry Catherine of Aragon, the
widow of his ill – fated elder brother Prince Arthur, to whom he had been betrothed
since his twelfth birthday, to preserve the Spanish alliance.
(FRASER, 1999, p.171)
Henrique VIII casa – se, então, com Ana Bolena, e um fato que é muito
comentado nas obras anteriores e aqui se repete, é a “piedade” que Catarina de Aragão espera
de seu esposo, pois nunca havia cometido nenhum mal contra ele. Outro aspecto é a tão
esperada coroação da nova rainha: a rainha Ana:
(...) Finalmente,
que Lady Ana, com quem muito em segredo
havia muito tempo, o rei casara,
hoje foi vista em público, quando ia
para a capela real, sendo tratada
como rainha. Só se fala agora
em sua coroação.
(SHAKESPEARE, MCMLXVI, p. 105)
De acordo com a visão shakespeariana, o povo aclamou a nova rainha com
muita alegria. Em sua coroação, chegaram a jogar chapéis, mantos e casacos para o ar (bem
diferente da versão apresentada pelo romance e pelo filme). Para este fato, em comemoração,
foram realizados muitos festejos.
In Greenwich “(...) Henry and Anne Boleyn were secretly married on 25
January 1533 and Anne gave birth to Elizabeth on the following 7 September”(HILLIAM,
2004 p. 223).
Outra questão que difere dos dados até aqui coletados, é que Ana fica
grávida e, quando chega o dia de seu parto, como sempre, o soberano estava à espera de um
filho homem, mas nasce uma menina, a Princesa Elisabete.
Henrique VIII fica muito contente, e a obra termina com uma grande festa
para comemorar o batizado da nova herdeira.
(...) Ó céu! Do alto de tua infinita bondade envia
uma vida próspera, longa e sempre feliz para a muito alta
e poderosa Princesa da Inglaterra, Elisabete!
(SHAKESPEARE, MCMLXVI, p. 146)
Considerações finais
517
Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
Como foi observado, as três obras, mesmo pertencendo a gêneros diferentes,
souberam relatar a essência da conturbada vida do soberano Henrique VIII, tal como a sua
necessidade de ter um filho, sua separação de Catarina de Aragão, seu envolvimento com Ana
Bolena (e Maria Carey, talvez a sua amante mais importante), a criação do Anglicanismo, e
seus demais casamentos.
As metodologias estudadas possuem ponto de encontro e de distanciamento.
O filme é baseado no romance de Philippa Gregory, e para a sua produção, muitas coisas
relatadas pela autora se perderam, deixando de ser apresentadas.
Com relação ao drama de William Shakespeare, percebe – se que o autor
suavizou os fatos para apresentar à população da época, visto que eles não são mostrados com
a mesma intensidade que o romance e o filme demonstram.
Buscou – se através deste estudo, relatar aspectos de vital importância, os
quais professores e pesquisadores desta área da história e da literatura inglesa devem ter
conhecimento. Cabe ressaltar que o propósito desta pesquisa não foi o de esmiuçar as
questões aqui apresentadas. O assunto, portanto, não se esgota nesta breve abordagem.
Referências
A OUTRA (“THE OTHER BOLEYN GIRL”). Justin Chadwick. Inglaterra/ EUA: Imagem
Filmes, 2008, 115 min. Dublado. Colorido.
CARVALHO, Marcelo. História do Teatro: Curso Preparatório para o Exame de Capacitação
Profissional
–
SATED
–
MG.
Disponível
em
http://www.funalfa.pjf.mg.gov.br/documentos/ec_apostila.doc. Acesso em 07 de Agosto de
2009.
FRASER, Antonia. The Lives of the Kings & Queens of England. London: Seven Dials,
1999.
GREGORY, Philippa. A Irmã de Ana Bolena. Tradução de Ana Luiza Borges. Rio de Janeiro:
Record, 2006.
HILLIAM, David. Kings, Queens, Bones & Bastards: Who’s Who in the English Monarchy
from Egbert to Elizabeth II. Great Britain: BCA, 2004.
SHAKESPEARE, William. A Famosa História da Vida do Rei Henrique VIII – Drama
Histórico. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Tecnoprint Gráfica,
MCMLXVI.
518
Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
Bibliografia consultada
SHAKESPEARE, William. The Unabridged William Shakespeare: A Complete Library of
His Works. Edited by William Clark and William Aldis Wright. Philadelphia – London:
Running Press, 1989.
Para citar este artigo:
PAIXÃO, Éderson da. “A famosa história da vida do rei Henrique Viii”, de William
Shakespeare, “A irmã de Ana Bolena”, de Philippa Gregory, e o filme “The Other Boleyn
Girl”: a conturbada vida do rei Henrique VIII sob três perspectivas metodológicas de gêneros
distintos. In: VII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos
Linguísticos e Literários. 2010. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná –
Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2010. ISSN – 18089216. p. 512 – 519.
519
Download

Ederson da Paixao