Estudo bibliográfico sobre possível atividade antilitiásica de
Piper Amalago (PIPERACEAE)
Antônio da Silva Novaes – Universidade Federal da Grande Dourados – Faculdade da Saúde/FCS
Jonas da Silva Mota – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Departamento de Química
Márcio Eduardo de Barros – Universidade Federal da Grande Dourados – Faculdade da Saúde/FCS
ABSTRACT
The Piper Amalago, also known as Jaborandi, is
distributed from Mexico to Brazil, is used as
anti-inflammatory to relieve pain . The tea leaves of
Piper Amalago is described in studies, is employed in
burn treatment. The effect of Piper Amalago on
urinary disorders, can cite Piper Methysticum and
Piper solmsianum as antimicrobials, Piper aduncum
as a diuretic. Phyllanthus niruri is a plant that inhibits
the growth of crystals of calcium oxalate in human
urine is also has secondary metabolites, like Piper
Amalago such as terpenes, naphthoquinones,
alkaloids, anthraquinones, lignans and tannins. Based
on this data, it becomes possible to investigate the
effect urolithiasiac Piper Amalago, because it has
properties similar to plants with phytochemicals
properties. The objective of this study was do a
bibliographic survey of Piper Amalago, relating their
possible potential antilithiasiac.
Keywords: Piper Amalago, plants, antilithiasiac.
1
Introdução
Para a OMS (Organização Mundial da Saúde),
plantas medicinais são todas aquelas silvestres
ou cultivadas, utilizadas como recurso para
prevenir, aliviar, curar ou modificar um
processo fisiológico normal ou patológico, ou
utilizado como fonte de fármacos e de seus
precursores, enquanto fitoterápicos são
produtos medicinais acabados e etiquetados,
cujos componentes ativos são formados por
partes aéreas ou subterrâneas de plantas, ou
outro material vegetal, ou combinações destes,
em estado bruto ou em formas de preparações
vegetais (RATES, 2001; WHO, 2003).
Inegavelmente, as plantas medicinais e os
fitoterápicos apresentam papel importante na
terapêutica: cerca de 25% dos medicamentos
prescritos mundialmente são de origem
vegetal (RATES, 2001; WHO, 2003).
Estudos sobre atividade antilitiásica da Piper
Amalago são escassos, por esse motivo o
objetivo desse trabalho foi realizar
levantamento bibliográfico sobre o tema.
2
Revisão de literatura
A urolitíase é uma doença que tortura a
humanidade e apresenta relatos desde 4.800,
A.C, quando foi relatado o primeiro caso
dessa enfermidade na literatura (MENON,
2002). Os calculus urinários são agregados
policristalinos compostos de quantidades
variadas de cristais e de matriz orgânica,
2/4
sendo a doença que causa mais morbidade
dentre as afecções urinárias (STOLLER,
2004).
O tratamento é feito para as cólicas renais,
através
de
antiespasmódicos
e
antiinflamatórios
não
esteroidais,
o
procedimento para eliminação do cálculo é
por meio de litotropsia extracorporeal ou
cirurgia, que propicia riscos e efeitos
indesejados. Na terapêutica da doença
litiásica, é feito o tratamento dietético e o
tratamento farmacológico, no qual são usado
tiazídicos, citratos, alopurinol e outras
medicações, que possuem significantes
efeitos colaterais e não são específicas na
degradação do cálculo renal. Visando
diminuir esses efeitos, é necessário buscar por
novas alternativas, tendo como destaque o uso
de plantas medicinais da família Piperaceae,
em que o uso de suas espécies é abundante no
Brasil e no mundo, para o tratamento das mais
diversas patologias.
A família Piperaceae, encontrada em áreas
tropicais e subtropicais, possui diversas
species de plantas utilizadas na medicina
popular (BERNARD et al. 1995). Essa
família possui 5 gêneros e 1400 espécies. O
gênero Piper é o mais representativo, com
mais de 700 espécies encontradas em todo o
mundo, sendo que 170 são nativas do Brasil
(YUNCKER, 1972).
O uso dessa espécie é comum na população,
com uso em tratamentos em várias
enfermidades. Na China, algumas prescrições
recomendam o uso das folhas de P. futokasura
no tratamento de arritmias cardíacas e da asma.
Na Jamaica, dores estomacais são tratadas
com uma infusão das folhas de P. aduncum e
P. hispidum. No México e no Brasil, usam-se
as folhas de P. amalago para aliviar dores
estomacais e no combate a diversas infecções.
A Piper aduncum L., conhecida popularmente
com “pimenta-de-macaco” tem sido relatado
seu uso: em doenças ginecológicas e
desordens intestinais (VAN DEN BERG,
1993), como diurético, antiblenorrágico,
carminativo, excitante digestivo, para males
do fígado, no combate a erisipela e tratamento
de úlceras crônicas (COIMBRA, 1994).
Em estudo de levantamento etnobotânico
realizado na cidade de Dourados (MS), Foram
identificadas, 28 famílias e 37 espécies,
consideradas medicinais, segundo o uso
popular na região realizado em 2008. Das
famílias identificadas, 10,8% eram de
espécies de Piperaceae, mostrando uma
grande quantidade do gênero na região
(ALVES et al, 2008).
A Piper Amalago, também conhecida como
Jaborandi, é distribuída desde o México até o
Brasil, é usado para aliviar dores, agindo
como antiinflamatorio (PARMAR et al.,
1997). O chá das folhas de Piper Amalago é
descrito em estudos, é empregado no
tratamento de queimaduras (ALVES, et al.
2008 ).
Os resultados de um estudo realizado em ratos,
sugerem que P. amalago agem no sistema
nervoso e são capazes de causar um efeito
ansiogênico em determinadas doses (LOPES,
2010). Metabólitos como amidas Piperina e
sesquiterpenos foram identificados nas raízes
da planta (ACHENBACH et al., 1986;
DOMINGUES et al., 1986). Sendo
relativamente compostos apolares, a sua
presença também no extrato clorofórmico das
folhas e um possível papel na sua atividade
anti-inflamatória.
Em extratos hexânicos das raízes de Piper
Amalago,
foram
identificadas
duas
transcinamoilamidas,
2-metoxi-4,5-metilenodioxi-trans-xinamol
Piperidida e pirolidida (DOMÍNGUEZ, 1986)
Estudo realizado no cerrado de Brasília,
caracterizou diversos compostos da espécie
Piper, no qual no Piper Amalago, foi extraído
o composto α-pinene, um constituinte comum
em oleos essenciais, utilizado em inseticidas,
solventes e bases de perfumes, e também
borneol, usado na indústria de perfumes e
fabricação de insenso (POTZERNHEIM,
2006; WINDHOLZ, 1983). Além desse
compostos identificados, existem relatos de
isolamento
de
amidas
de
ácidos
arilalquenóicos insaturados das raízes de
Piper Amalago var.nigrinodum C. DC
(ACHENBACH et al., 1986; DOMINGUES
et al., 1986). Recentemente, foi isolado e
caracterizado duas amidas Piperidínicas ou
3/4
pirrolidínicas e a atividade antibacteriana de
extratos das folhas de P. amalago (BONFIM,
20008).
Quanto ao efeito em afecções urinárias,
pode-se citar Piper solmsianum e Piper
Methysticum, como antimicrobianos, Piper
aduncum como diurético. (CAMPOS et al.
2005, OLIVEIRA 2007, SILVEIRA 2008).
Phyllantus niruri é uma planta que inibe o
crescimento de cristais de oxalato de cálcio
em urina humana, rica em metabólitos,
semelhantes a Piper Amalago, tais como
terpenos,
naftoquinonas,
alcalóides,
antraquinonas,
lignanas
e
taninos
(NASCIMENTO, 2008, BARROS, 2003).
Como base nesses dados, torna-se possível a
investigação de efeito antilitiásico de Piper
Amalago,
por
possuir
propriedades
fitoquímicas semelhantes a plantas com esse
efeito.
Na região sul do Estado do Mato Grosso do
Sul, estudos que evidenciam a ocorrência de
espécies utilizadas na medicina popular ainda
são escassos, sendo que muitos aspectos da
flora medicinal nessa região ainda
permanecem desconhecidos (Sangalli 2002,
Sangalli 2003).
3
Conclusão
Tendo em vista os resultados encontrados na
literatura revisada, estão escassos estudos da
Piper Amalago frente à urolitíase, então é
necessário realizar estudos experimentais
frente a essa patologia, afim de avaliar os
efeitos dos metabólitos da Piper Amalago, o
que pode contribuir no desenvolvimento de
novos fármacos.
4
Referências bibliográficas
Achenbach et al., (1986). H. Achenbach, W.
Fietz, J. Wörth, R. Waibel and J. Portecop,
Constituents of tropical medicinal plants
IXX. GC/MS-investigations of the
constituents of Piper amalago—30 new
amides of the piperine-type. Planta Medica
52 , pp. 12–18
Achenbach, H.; Fietz, W.; Worth, J.; Waibel,
R.; Potecop, J (1986). Constituents of
tropical
medicinal
plants,
IXX
CG/MS-Investigations of the constituents
of Piper amalago – 30 new of the piperine –
type. Planta Médica v.52, p.12-18.
Alves , Elma Oliveira; Mota, José Hortêncio;
Soares, Thelma Shirlen; Vieira, Maria do
Carmo; Silva, Cristiane Bezerra da (2008).
Levantamento
etnobotânico
e
caracterização de plantas medicinais em
fragmentos florestais de Dourados-MS.
Ciênc. agrotec., Lavras, v. 32, n. 2,
mar./abr. p. 651-658.
Alves Eo, Mota Jh, Soares Ts, Vieria Mc,
Silva
Cb
(2008).
Levantamento
etnobotânico e caracterização de plantas
medicinais em fragmentos florestais de
Dourados-MS. Ciênc agrotec 32:651-658.
Barros, m. E. ; Schor, Sestor ; Boim, Mirian
Aparecida (2003). Effects of an aqueous
extract from Phyllantus niruri on calcium
oxalate crystallization in vitro. Urological
Research, v. 30, n. 6, p. 374-379.
Bernard, C.B.; Krishnamurty, H.G.; Chauret,
D.; Durst, T.; Philogène, B.J.R;
Sánches-Vindas, P.; Hasbu, ,C.; Poveda,
L.; San Román, L.; Arnason, J.T (1995).
“Inseticidal Defenses of Piperaceaefrom
Ne+otropics”. Journal of Chemical
Ecology, 21(6), 801-814.
Bonfim, N.M.; Coelho, R.M.; Mortati,
M.G.G.; Brito, L.P.; Macedo, C.M;
Sarragiotto, M.H (2008). Atividade
antibacteriana e amidas piperidínicas
isoladas das folhas de Piper amalago. In:
XVI ENCONTRO DE QUÍMICA DA
REGIÃO SUL (16-SBQSul), Blumenau,
Anais...Blumenau.
Campos, Marina Pereira de; Filho Valdir
Cechinel; Silva,Rosi Zanoni Da; Yunes
Rosendo Augusto; Zacchino, Susana;
Juarez Sabina, Cruz, Rosana Cé Bella and
Cruz ,Alexandre Bella (2005) Evaluation
of Antifungal Activity of Piper
solmsianum C. DC. var. solmsianum
(Piperaceae)”, Biol. Pharm. Bull., Vol. 28,
1527-1530.
Coimbra R. ( 1994). Manual de fitoterapia, 2
ed. Belém, CEJUP.
Domínguez et al., (1986). X.A. Domínguez,
J.S. Verde, S.S. Sucar and R. Treviño ,
4/4
Two amides from Piper amalago.
Phytochemistry 25, pp. 239–240.
Lopes Jj, Marx C, Ingrassia R, Picada Jn,
Pereira
P,
Ferraz
Ad
(2010).
Neurobehavioral
and
toxicological
activities of two potentially CNS-acting
medicinal plants of Piper genus. Exp
Toxicol Pathol. Jun 23.
Menon M, Resnick MI (2002). Urinary
lithiasis: etiology, diagnosis, and medical
management. In: Walsh PC, Retik AB,
Vaughan Jr ED, Wein AJ, editors.
Campbells
Urology.
8th
ed.
Philadelphia,Pennsylvania. p.3227-293.
Mitchell, Sa And Ahmad, Mh (2006). A
review of medicinal plant research at the
University of the West Indies, Jamaica,
1948-2001. West Indian med. j. [online]. v.
55, n. 4, pp. 243-269.
Nascimento, J.E.; Melo, A.F.M.; Lima e Silva,
T.C.; Veras Filho, J.; Santos, E.M.;
Albuquerque, U.P.; Amorim, E.L.C.
(2008). Estudo fitoquímico e bioensaio
toxicológico frente a larvas de Artemia
salina Leach. de três espécies medicinais
do gênero Phyllanthus (Phyllanthaceae).
Rev. Ciênc. Farm. Básica Apl., v. 29, n.2, p.
143-148
Oliveira, Irenice Gomes de; Cartaxo,
Sarahbelle Leitte; Silva, Maria Arlene
Pessoa da (2007). Plantas Medicinais
Utilizadas na Farmacopéia Popular em
Crato, Juazeiro e Barbalha (Ceará, Brasil).
Revista Brasileira de Biociências, Porto
Alegre, v. 5, supl. 1, p. 189-191, jul.
Rates SMK (2001) Promoção do uso racional
de fitoterápicos:uma abordagem no ensino
de Farmacognosia. Rev Bras Farmacogn
11:57-69.
Sangalli A, Vieira MC (2003). Plantas
medicinais utilizadas por parte da
população de Dourados-MS. Cerrados S
1:17-20,
Sangalli A, VIEIRA MC, ZARATE NAH
(2002) Levantamento e caracterização de
plantas
medicinais
nativas
com
propriedades medicinais em fragmentos
florestais e de cerrado, em Dourados-MS,
numa
visão
etnobotânica.
Acta
Horticulturae 569:173-184.
Silveira, Patrícia Fernandes da; Bandeira,
Mary Anne Medeiros and Arrais, Paulo
Sérgio Dourado (2008). Farmacovigilância
e reações adversas às plantas medicinais e
fitoterápicos: uma realidade. Rev. bras.
farmacogn. [online]., vol.18, n.4 [cited
2010-09-30], pp. 618-626
Stoller ML (2004). Urinary stone disease. In:
Tanagho EA, McAninch JW, Lange
Medical Books/McGraw-Hill, editors.
Smith’s General Urology. 16th ed. San
Francisco. p.197-221.
Van Den Berg Me (1993) Plantas medicinais
na Amazônia: Contribuição ao seu
conhecimento sistemático, 2 ed. Belém,
Museu Paraense Emílio Goeldi.
Who (2003). World Health Organization
guidelines on good agricultural and
collection practices (GACP) for medicinal
plants, in, Geneva.
Windholz, M. (1983) The Merck Index. New
Jersey: Merck & Co.
Yuncker Tg (1972) The Piperaceae of Brazil I.
Piper - Group I, II, III, IV. Hoehnea
2:19-366.
Download

PA017