XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
ARACEAE EM FLORESTA COM E SEM BAMBU NO PARQUE
ZOOBOTÂNICO, RIO BRANCO, ACRE.
Evandro José Linhares Ferreira– INPA-ACRE/Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC. E-mail:
[email protected]
Sanna de Araújo Ferreira Costa – INPA-ACRE/Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC
Denise Freire do Nascimento – INPA-ACRE/Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC
Pedro Raimundo Ferreira Lima – INPA-ACRE/Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC
Maria Francisca Ribeiro de Aguiar Bargas – Universidade Santa Cecília, Santos, São Paulo.
INTRODUÇÃO
Araceae é um grupo com distribuição cosmopolita e muito diversificado em regiões tropicais e subtropicais (Mayo
et al.,1997; Judd et al., 2009). Muitas espécies de Araceae tem amplo aproveitamento econômico, fornecendo
recursos medicinais, alimentícios, fibras e, principalmente, ornamentais e paisagísticos pela beleza de suas
inflorescências e folhas (Croat, 1994; Mayo et al., 1997; Junqueira e Peetz, 2002). Apesar do seu potencial de uso,
florestas na Amazônia e na Mata Atlântica que abrigam grande diversidade de Araceae estão sofrendo um
acelerado processo de destruição que, entre outros efeitos, resultada na fragmentação florestal. A fragmentação
afeta o equilíbrio natural das comunidades vegetais, incluindo as Araceae, e poderá transformar algumas áreas
florestais em ambientes inóspitos para muitas espécies nativas (Paciencia e Prado, 2004).
Mesmo tendo grande importância ecológica e econômica, poucos estudos florísticos e fitossociológicos têm
abordado as Araceae que, na maioria das vezes, são excluídas em função dos critérios de inclusão (DAP≥10 cm),
porte e hábito de crescimento (especialmente as herbáceas e epífitas) que dificultam a coleta e identificação rápida
em campo (Temponi et al., 2005).
Vale destacar ainda a ocorrência, no sudoeste da Amazônia, de extensas áreas florestais com o subosque dominado
pelo bambu (Guadua spp.) (Carvalho et al., 2013). Estas formações florestais, nas quais as Araceae se destacam
como uma das mais diversificadas (Barbosa, 2003), ainda são pouco conhecidas sob o ponto de vista florístico e
fitossociológico, fato que dificulta a tomada de decisões relacionadas com o seu manejo e conservação (Ferreira,
2014).
OBJETIVOS
Avaliação da diversidade e de alguns parâmetros fitossociológicos de Araceae encontradas em áreas com e sem
bambu do fragmento florestal secundário do Parque Zoobotânico (PZ) da Universidade Federal do Acre (UFAC),
em Rio Branco, Acre.
MATERIAIS E MÉTODOS
1
XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
O estudo foi realizado entre 2013 e 2014 no fragmento florestal do PZ, que possui uma área aproximada de 167
hectares adjacentes ao campus da UFAC em Rio Branco, Acre (9°57'26''S; 67°52'25''W) e se constitui em um
mosaico de florestas secundárias em diferentes estádios sucessionais com ou sem bambu (Guadua spp.) no
subosque (Meneses-Filho et al., 1995).
Para o estudo foram implantadas 12 parcelas (2 m x 250 m; área total=6.000 m²), alocadas da seguinte forma: seis
em áreas sem bambu, quatro com bambu moderado e duas com bambu adensado. Em cada parcela todos os
indivíduos de Araceae (plântulas, jovens, preá-adultos e adultos) terrestres, epífitos e hemiepífitos foram
contabilizados e, quando possível, identificados. Amostras de plantas férteis foram depositadas no Herbário do
Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre (UFACPZ). Foi avaliada a composição, diversidade
(Shannon-Wiener) e similaridade florísticas (Jaccard) e a densidade.
RESULTADOS
Em toda a área foram encontrados 461 indivíduos, dos quais 59,8% não foram identificados e provavelmente
representam vários gêneros e espécies. Os demais foram identificados em 6 gêneros e 10 espécies. Na área sem
bambu foram 264 indivíduos (57,2 % do total), dos quais apenas 82 foram identificados em 8 espécies e 6 gêneros,
sendo Monstera subpinnata (41 ind.) a espécie mais abundante . Na área com presença moderada de bambu foram
encontrados 154 indivíduos (33,4%), dos quais 90 identificados em 7 espécies e 5 gêneros, sendo Monstera
subpinnata (62 ind.) a mais abundante. Na área com bambu adensado foram 43 indivíduos (9,33%) dos quais 7
foram identificados como Monstera subpinnata e 6 como Epipremnum pinnatum.
A densidade em toda a área foi de 768,3 ind. ha-1. Na área sem bambu a densidade absoluta foi de 880 ind. ha-1, na
área com presença moderada de bambu 770 ind. ha-1 e na área com bambu adensado 430 ind. ha-1. Em todas as
áreas a espécie Monstera subpinnata apresentou maior densidade e frequência relativas. A diversidade (H’) de toda
a área foi de 1,15 e de 0,99 na área sem bambu, 1,27 com presença moderada de bambu e 0,82 com bambu
adensado. A similaridade foi maior entre as áreas sem bambu e com bambu moderado (56,9%), e menor entre as
áreas com bambu adensado e sem bambu (9,4%).
DISCUSSÃO
A densidade de Araceae encontrada neste estudo, 768,3 ind. ha-1, foi superior aos 551 ind. ha-1 observado por
Cabral et al. (2012) na Estação Ecológica (ESEC) Cuniã, em Rondônia, onde foi registrada a ocorrência de 5
gêneros e 28 espécies de Araceae em uma área de 1,5 ha de floresta primária. Em Pernambuco, em nove
fragmentos de Mata Atlântica, Pontes et al. (2010) identificaram 9 gêneros e 18 espécies de Araceae. A baixa
riqueza e densidade de Araceae na área com alta densidade de bambu no fragmento florestal do Parque
Zoobotânico da UFAC pode ser resultado de dois fatores: a área se encontrar em estádio médio de regeneração
(Negrelle, 2006) ou a presença do bambu, que causa uma diminuição na densidade arbórea (Silveira, 2005), limita
a quantidade de arvores com potencial para hospedar os indivíduos de Araceae. Pontes et al. (2012) afirmam que a
fragmentação causada pela redução do tamanho florestal aumenta o efeito de borda e a temperatura no interior das
florestas, diminuindo a umidade e diversidade de espécies sensíveis a mudanças ambientais, como deve ser o caso
de algumas Araceae.
CONCLUSÃO
A maior riqueza de espécies ocorreu na floresta sem bambu e a menor na área de floresta com bambu adensado. O
mesmo aconteceu com a densidade, que foi maior na área sem bambu. A baixa diversidade observada pode ter sido
2
XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
influenciada pela não identificação da maioria dos indivíduos avaliados e pelas precárias condições ambientais do
fragmento estudado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, C. B. 2003. Diversidade vegetal em florestas do estado do Acre: aplicação de modelos ecológicos
e do conhecimento tradicional. 156f. Tese de Doutorado (Programa de Pós-Graduação em Geografia) –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC.
CABRAL, G. S.; RIBEIRO, M. S.; SAMPAIO, A. F.; PANSINI, S.; MANZATTO, A. G. 2012. Inventário
florístico e distribuição de espécies de Araceae Juss. epífitas e hemiepífitas na ESEC-Cuniã, interflúvio PurusMadeira, Porto Velho, RO, Brasil. In: Congresso Nacional de Botânica, 63., 2012. Anais... Joinville: Sociedade
Brasileira de Botânica-SBB.
CARVALHO, A. L.; NELSON, B. W.; BIANCHINI, M. C.; PLAGNOL, D.; KUPLICH, T. M.; DALY, D. C.
2013. Bamboo-dominated forests of the Southwest Amazon: detection, spatial extent, life cycle length and
flowering waves. Plos One, 8(1): p.e54852.
CROAT, T. B. 1994. The use of the New World Araceae as Drug Plants. Japanese Journal of Botany, 69: 185203.
FERREIRA, E. J. L. 2014. O bambu é um desafio para a conservação e o manejo de florestas no sudoeste da
Amazônia. Ciência e Cultura, 66(3): 46-51.
JUDD, W. S.; CAMPBELL, C. S.; KELLOGG, E. A.; STEVENS, P. F. 2009. Sistemática Vegetal: Um Enfoque
Filogenético. 3° Ed. Porto Alegre: Artmed, 612p.
JUNQUEIRA A. H.; PEETZ, M. S. 2002. Os polos de produção de flores e plantas ornamentais do Brasil: uma
analise do potencial exportador. Rev. Bras. Horticultura Ornamental, 8: 25-47.
MAYO, S. J.; BOGNER, J.; BOYCE, P. C. 1997. The Genera of Araceae. Royal Botanic Gardens, Kew, 370p.
MENESES-FILHO, L. C. L.; FERRAZ, P. A.; PINHA, J. F. M.; FERREIRA, L. A.; BRILHANTE, N. A. 1995.
Comportamento de 24 espécies arbóreas tropicais madeireiras introduzidas no Parque Zoobotânico de Rio
Branco-Acre. vol. 1. Rio Branco, EDUFAC/PZ, 135p.
NEGRELLE, R. R. B. 2006. Composição florística e estrutura vertical de um trecho de Floresta Ombrófila Densa
de Planície Quaternária. Hoehnea, 33(1): 261-289.
PACIENCIA, M. L. B.; PRADO, J. 2004. Efeitos de borda sobre a comunidade de pteridófitas na Mata Atlântica
da região sul da Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Botânica, 27(4): 641-653.
PONTES, T. A.; ALVES, M.; SILVA, A. C. B. L. 2012. Analise da similaridade florística de Araceae em
fragmentos de Floresta Atlântica ao norte de Pernambuco e a influencia da área e dos habitats na riqueza da família.
In: Congresso Nacional De Botânica, 63., 2012. Anais... Joinville: Sociedade Brasileira de Botânica-SBB.
PONTES, T. A.; ANDRADE, I. M.; ALVES, M. 2010. Flora da Usina São José, Igarassú, Pernambuco: Araceae.
Rodriguésia, 61(4): 689-704.
SILVEIRA, M. 2005. A floresta aberta com bambu no sudoeste da Amazônia: padrões e processos em
múltiplas escalas. Rio Branco: Edufac, 127p.
3
XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
TEMPONI, L. G.; GARCIA, L. C. P.; SAKURAGUI, C. M.; CARVALHO-OKANO, R. M. 2005. Diversidade
morfológica e formas de vida das Araceae no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais. Rodriguésia, 56(88): 113.
4
Download

araceae em floresta com e sem bambu no parque zoobotânico, rio