CONHECIMENTO TRADICIONAL: TEORIA E PRÁTICA NO ASSENTAMENTO
RIO BRANCO EM NOVA OLÍMPIA MATO GROSSO
Marinalva Gomes1
Hellen Cristina de Souza2
“Quando penso em minha Terra, penso sobretudo no
sonho possível – mas nada fácil – da invenção
democrática de nossa sociedade.”
Paulo Freire (À Sombra desta Mangueira, 1995.)
INTRODUÇÃO
Com a finalidade de aumentar às discussões que dizem respeito à fronteira agrícola, a
pesquisa desenvolveu-se no Projeto de Assentamento (P. A) Rio Branco, localizado na
mesoregião geográfica Paraguai - Jauru. O acesso se dá pelas rodovias BR – 163, partindo de
Cuiabá com direção à Jangada e pela MT- 246 até Barra do Bugres e a BR – 358 até Nova
Olímpia; daí percorrendo-se a distância de 58 km por estrada municipal chega-se ao Projeto
de Assentamento (P. A) Rio Branco, distribuída por uma área total de 2.312,50 hectares no
município de Nova Olímpia, MT.
Essa investigação fundamentou-se a partir de uma proposta de pesquisa participante,
com o auxílio de uma bolsa de Iniciação Científica, PROBIC/UNEMAT, do projeto de
Pesquisa intitulado: Educação com Pertinência Cultural, ligado ao Núcleo de Estudos de
Educação e Diversidade – NEED, do campus de Tangará da Serra.
Por se tratar de um assunto pertinente à diversidade esta pesquisa visa relacionar eixos
importantes de discussão sobre a questão agrária no Estado de Mato Grosso por meio do
conhecimento de práticas agrícolas aos diferentes saber de uma população do assentamento
Rio Branco e dessa forma reconhecer, dar visibilidade, valorizar e incentivar atividades
agroecológicas a serem desenvolvidas com essas famílias que historicamente vem sendo
excluídas da sociedade atual.
DISCUSSÕES
1
Professora. E.E. Reinaldo Dutra Vilarinho. Graduada em ciências biológicas –UNEMAT e pós graduada em
Literatura Matogrossense – UNEMAT, campus de Tangará da Serra MT. [email protected]
2
Professora. SEDUC/MT. Pesquisadora associada ao NEED/UNEMAT Campus de Tangará da Serra.
Doutoranda em Ciências Sócias PUC/SP. [email protected]
Ao mesmo tempo em que excluir esse conhecimento da universidade, o que fez foi um
meio de excluir também populações do mercado da sustentabilidade econômica e social do
país.
A questão da terra no Estado de Mato Grosso aparece no cenário nacional ligada a
grandes temas como desmatamento, uso inadequado dos recursos naturais, concentração de
terra e distribuição de renda de forma desigual, a mais injusta do país.
O termo assentamento apareceu pela primeira vez no vocabulário jurídico e
sociológico no contexto da Reforma Agrária venezuelana, em 1960, e se difundiu para
inúmeros outros países. Assentamentos rurais podem ser definidos como uma nova criação de
produção agrícola, por meio de políticas governamentais visando o reordenamento do uso da
terra, em benefício de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra (BERGAMASCO e
NORDER, 1996).
O município de Nova Olímpia possui quatro assentamentos rurais: Vale do Sol
(Paloma), Hortêncio Borges (Riozinho), Antônio Conselheiro (Jatobá) e Rio Branco. As
histórias políticas para a agricultura criam obstáculos a sustentabilidade econômica dos
assentamentos rurais. Pouco representativos no mercado financeiro, mas ainda assim
configuram-se como um ponto estratégico na economia do país, gerando produtos de
autoconsumo, e também para a comercialização e, muitas vezes, seus produtos são
submetidos à preços desfavoráveis, sem obter os resultados esperados como são feitas
avaliações pelos próprios assentados.
As histórias políticas para a agricultura criam obstáculos à sustentabilidade econômica
dos assentamentos rurais. Pouco representativos no mercado financeiro, mas ainda assim
configuram-se como um ponto estratégico na economia do país, gerando produtos de
autoconsumo, e também para a comercialização e, muitas vezes, seus produtos são
submetidos à preços desfavoráveis, sem obter os resultados esperados como são feitas
avaliações pelos próprios assentados.
Neste cenário, com elevado crescimento populacional, uso inadequado dos recursos
naturais, assim como a concentração de renda e riqueza, a sua distribuição de forma desigual a
exclusão é a marca do modelo econômico que prevalece. Há uma intensa necessidade de
mudança de paradigmas do próprio sistema para que o modelo ao relacionar processos
permanentes de educação e inserção no mercado garanta índices melhores de qualidade de
vida.
A ausência de políticas públicas de educação adequadas e suficientes para
assentamentos rurais no Brasil, especialmente em regiões que apresentam índices mais
injustos, como é o caso da região Centro-Oeste, revelam a necessidade de aderir à discussão
teórica sobre educação escolar com as histórias reais de homens e mulheres historicamente
excluídos, como condição para que se estabeleçam os marcos iniciais de um modelo de
educação mais democrático e solidário, que se constitua como um espaço para o encontro de
conhecimentos, culturas e saberes.
O conhecimento dos agricultores baseia-se em uma vivência empírica e é gerado em
distintas experiências individuais e coletivas que são expressas através de impressões e
normas práticas. Esse conhecimento é transmitido de geração em geração por populações que
a
cada
dia
sofrem
o
distanciamento
e
a
falta
de
projetos
políticos
de inclusão na universidade pública. O projeto monocultural e racional que caracteriza a
universidade no ocidente não reconhece o conhecimento produzido e socializado fora da
academia.
Recentemente, a legislação brasileira reconheceu e criou normas para proteger e
validar os saberes chamados tradicionais, embora seja um passo inicial, deve ter
desdobramentos na relação da academia com imensos grupos humanos que vivem de uma
relação com a terra baseada em práticas e saberes socializados principalmente a partir da
tradição oral.
DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E CONTEXTO HISTÓRICO DE NOVA OLÍMPIA
A terra pode significar riqueza ou pobreza, vida ou morte, poder político e posição
social ou marginalização. Para cada pessoa ou grupo social ela tem um valor. Possuir uma
terra não significa ser dono dela. Possuir é fazer uso da terra, isto é, morar nela, tirar proveito
dela (GANCHO et al., 1991).
Uma reforma agrária justa para a sociedade brasileira deve oferecer condições
necessárias para que os agricultores produzam e gerem riquezas, (VOGT, 2003).
A questão da propriedade da terra está principalmente entre uma grande massa de
trabalhadores (lavradores) rurais que podem contar apenas com trabalho familiar para o
desenvolvimento das atividades do campo (MARTINS, 1991). Estas atividades são por um
lado, um estabelecimento humano de valorização de um meio natural, em que a população
local utiliza o território para sua subsistência.
A discussão voltada para a distribuição de renda do município revela uma estrutura
fundiária que é altamente concentradora, considerando a área total de 84.949 ha, apenas
quatro propriedades totalizam uma área de 29.423 ha, o que significa 34,6% das terras
municipais. O quadro da distribuição imobiliária também revela que 4,7% dos proprietários
mantém uma elevada concentração, com 79,7% das terras, enquanto 37,5% dos proprietários
possuem 1,4% do total de terras. Portanto, prevalece uma distribuição de forma desigual e
concentradora de terras e riquezas nas mãos de poucos proprietários do município (ABDO,
2004).
DISCURSOS E PRÁTICAS ECOLÓGICAS
As entrevistas, ao lado das observações realizadas no P. A. Rio Branco com os
produtores rurais, os dados obtidos apresentaram em sua totalidade alguma prática
“ecológica” em cada propriedade visitada. Esta prática observada almeja relacionar as falas
dos entrevistados com as experiências vivenciadas por eles no seu dia-dia.
Do total de entrevistados, 69,09 % afirmaram ter alguma prática agro-ecológica em
sua propriedade. Mesmo que 30,91 % dos investigados terem dito não como resposta ao
questionário, percebe-se que pode ter ocorrido, talvez, uma falta de compreensão da pergunta,
ou, até inibição de falar sobre a sua prática de cultivo mais simples, pois, é possível
caracterizar esse conhecimento, quando por exemplo, foram observados em todas as
propriedades o cultivo da mandioca (Manihot esculenta), por se tratar de uma planta rústica ,
na sua maioria quem a produz não utiliza de quaisquer produtos agro-químicos, desde
adubação de solo à utilização de métodos de controle de pragas e doenças, por isso, é
considerado um cultivo de fácil manejo e menos exigente de cuidados (ALBUQUERQUE,
1969).
Os cultivos produzidos sem o uso de agro-químicos, como os produtos de olericultura,
são alface (Lactuca sativa), coentro (Coriadrum sativum), cebolinha (Allium schoenoprasum),
maxixe (Cucumis anguria), abóbora (Cucurbita moschata), pepino (Cucumis sativos), quiabo
(Abelmoschus esculentus), feijão-de-corda (Vigna unguiculata) inhame (Colocasia esculenta),
jiló (Solanum gilo), batata doce (Ipomea batatas), milho-verde (Zea mays L.) e mandioca
(Manihot esculenta).
Esses produtos, em sua maioria são destinados ao consumo da família e a outra parte
é comercializada na feira livre municipal, nos supermercados e mercearias. As frutas mais
citadas foram banana (Musa paradisiaca L.), abacaxi (Ananas comosus), limão (Citrus
aurantifolia), laranja (Citrus sinensis), caju (Anacardium occidentale), mamão dentre outros.
Os grãos cultivados encontrados foram arroz (Oriza sativa) Apêndice I , amendoim (Arachis
hypogaea L).
E, por último, a forragicultura é utilizada na suplementação alimentar de bovinos,
como a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) e o capim napiê (Pennisetum purpureum).
Além disso, os parceleiros ainda atuam na pecuária de leite e corte, criação de galinhas
poedeiras, suínos, patos e perus. A tabela 01 mostra a relação taxonômica da olericultura,
fruticultura, forragicultura e grandes culturas (grãos) mais cultivadas no Assentamento, com
seus nomes populares, científicos e família botânica.
Tabela 01 - Relação de Cultivos sem uso de produtos químicos, no Assentamento
Rio Branco, Nova Olímpia – MT.
Nome Popular
Nome Científico (latim)
Família
Abacaxi
Ananas comosus
Bromeliaceae
Abóbora-rasteira
Cucurbita moschata
Cucurbitácea
Alface
Lactuca sativa
Asterácea
Amendoim
Arachis hypogaea
Fabaceae
Arroz
Oriza sativa
Gramíneas
Banana
Musa paradisiaca
Musaceae
Batata-doce
Ipomea batatas
Convolvulácea
Caju
Anacardium occidentale
Anacardiceae
Cana-de-açúcar
Saccharum officinarum
Gramínea
Capim anapie
Pennisetum purpureum
Gramínea
Cebolinha
Allium schoenoprasum
Aliácea
Coentro
Coriadrum sativum
Apiácea
Feijão-de-corda
Vigna unguiculata
Fabácea
Inhame
Colocasia esculenta
Arácea
Jiló
Solanum gilo
Solanácea
Laranja
Citrus sinensis
Rutáceaeas
Limão
Citrus aurantifolia
Rutaceae
Maxixe
Cucumis anguria
Cucurbitácea
Milho-verde
Zea mays
Poácea
Pepino
Cucumis sativos
Cucurbitácea
Quiabo
Abelmoschus esculentus
Malvácea
Salsa (salsinha)
Petroselinum crispum
Apiácea
Gregolim (1999), assegura a importância que os pequenos agricultores representam
com relação ao que produzem, pois fazem parte significativa dos alimentos que chegam à
mesa dos brasileiros e, historicamente, nunca estiveram expostos em lugares privilegiados na
condição de prioridade das políticas agrícolas e agrárias do país.
De acordo com Silva (2001), a agricultura familiar vem crescendo significadamente,
representando 85,2% dos estabelecimentos agrícolas existentes no país, conforme o Censo
1995/96. Ainda revelam a importância na produção de gêneros alimentícios relevante à
segurança alimentar, como a mandioca (83,9%), o milho (48,6%), feijão (67,2%), aves e ovos
(39,9%), leite (52,1%), e arroz com (30,9%) dos produtos oriundos da agricultura familiar,
embora possuem uma capacidade de resistência, mesmo sofrendo limitações às difíceis
condições do setor agrícola. A tabela 03 relaciona a freqüência dos cultivos sem utilização de
agrotóxicos citados por cada entrevistado.
Tabela 02 - Freqüência dos Cultivos sem Agrotóxicos
Nº de Repetições
Nº de Entrevistados
%
1X
11
28,94
2X
7
18,42
3X
10
26,31
4X
2
5,26
5X
5
13,15
6X
1
2,63
7 ou + de 7
2
5,26
Total
38
100,00
Como citado acima, esses dados representam a freqüência relacionada aos produtos
cultivados sem uso de qualquer produto químico por cada entrevistado. No momento da
entrevista sempre era apontado mais de um cultivo que apresentava nenhuma relação a
utilização de quaisquer produtos de síntese agro-industrial.
A questão perguntada aos agricultores porque deu certo esses cultivos, as respostas
foram variadas, entre eles 13,5%, disseram que a terra é boa, por isso produz bem. Em
contrapartida outros 10,52%, afirmam que não esta dando muito certo.
Segundo Vargas e Hungria (1997), nestes casos, dos tipos de solos que compõem as
áreas de cerrado, são de baixa fertilidade, com elevada acidez sofrendo limitações para
agricultura.
Ao indagar a respeito de como é feito o manuseio relacionado às plantações percebese que na maioria, composta de 73,68 % das respostas dos entrevistados, afirmam que não
utilizam de quaisquer práticas e de produtos de síntese industrial.
Como citado por Primavesi (2002), antigamente trabalhavam com aradinho de boi ou
de burro, essa técnica ainda possível de encontrar nestas pequenas áreas de assentamentos,
onde o manejo do solo é basicamente através do uso de enxada para capinas, a matraca para
plantio de sementes, além de práticas como derrubada de toco e o uso de animais para arar a
terra.
A aptidão agrícola, depende de uma boa harmonia do solo com os recursos
disponíveis na natureza, sem agravantes para os agroecossistemas. Baseado em técnicas
simples, com índice menor de agravantes ao meio ambiente, das quais as práticas fundamentase no trabalho familiar, considera-se um manejo de nível A, embora seja primitivo, ainda se
utilize de tração animal e implementos agrícolas mais simples, como retratam Ramalho Filho
e Beek (1995).
Os agricultores do Assentamento Rio Branco, possuem o conhecimento empírico
sobre solos e sobre rotação de culturas, assim, o cultivam sem a necessidade de que alguém
ensine isso para eles. Neste sentido, a agroecologia se insere como estratégia sustentável de
produção. Pode-se dizer que é a fusão entre a empiria camponesa e a teoria agroecológica, que
vem estabelecer um novo paradigma produtivo de desenvolvimento rural sustentável (LEFF,
2002).
Sevilla-Gusmán (2002), demonstra um modelo de agricultura “tradicional” no Sul,
seja ela camponesa ou mesmo indígena provaram empiricamente e culturalmente que é
possível manter a sua sustentabilidade ao longo das gerações com base no uso sustentável dos
recursos naturais.
Torna-se claro a importância da produção agrícola voltada à agricultura familiar de
subsistência. Neste contexto, cabe uma ressalva relacionada aos produtos disponíveis no
mercado, e sobre a sua avaliação quanto a segurança alimentar.
Existem pessoas que sustentam a idéia de que não se produz sem a utilização de
adubos químicos e agrotóxicos, sistematicamente vêm mostrando que isso é uma falácia.
Existem pesquisas que alimentam a proposta da agricultura orgânica como uma alternativa a
outro modelo seguro para produção de alimentos mais saudáveis, e, ainda apresenta
viabilidade técnica, econômica e também ambiental (SOUZA e RESENDE, 2003).
A agricultura opera tanto no mundo natural como no mundo social, parte do
pressuposto de que os principais determinantes dos sistemas de produção agrícola estão no
mundo natural. Os agricultores tradicionais, ao longo de sua história, constroem seus
modelos, inúmeros e variados como eles próprios os são. A agronomia, de outro modo,
também construiu o seu, pretendendo ser único e universal, com o discurso da fundamentação
em uma base científica e da distância do empirismo pré-lógico dos agricultores (COELHO et
al., 2003).
A ciência agronômica desenvolveu em seu contexto uma visão mecanicista do mundo.
Portanto, não parte do princípio de compreensão e utilização de manejo vital de seus sistemas
de produção. Os agricultores, entretanto, as fazem de modo intuitivo e sem instrumentação
especializada, manifestando se inteiramente, nessa avaliação, o conhecimento na forma de
impressões (COELHO et al., 2003).
Ainda outras questões foram identificadas, estão relacionados ao combate de pragas e
doenças pelos agricultores do Assentamento. A prática utilizada por eles mostram alguns
métodos de controle alternativo em sua produção agrícola. Leff (2002), faz uma referência aos
novos princípios, e que são aplicados através de saberes pessoais e coletivos, de habilidades
individuai e direitos coletivos de conjuntura específicas e culturas particulares. É neste o
momento de mediações entre a teoria e a prática, uma hibridização de ciências, tecnologias,
saberes e práticas. Um verdadeiro intercâmbio de experiências combinado aos elementos das
ciências agrárias, que se validam e desdobram então a agroecologia.
Mesmo que, os agricultores tenham o conhecimento a respeito dos métodos de
controle, nem sempre são aplicados à prática, enquanto outros que conhecem e utilizam o
controle biológico afirmam a eficácia do método alternativo.
As respostas revelam que o conhecimento sobre o método é o produto da transmissão
oral, as experiências familiares acumuladas historicamente, pois trata – se de uma técnica que
parte dela foram desenvolvidas por eles, e outra parte adquiriram através de informações de
amigos, ou até mesmo citado várias vezes, como é o caso dos ouvintes do rádio através do
Programa “Agronomia no Campo”, desenvolvido por professores e acadêmicos da UNEMAT
– Universidade do Estado de Mato Grosso, Tangará da Serra. Alguns métodos citados foram:
urina de vaca, pimenta-do-reino, álcool, cinza, fumo, cebolinha verde, sabão em pó, sabão de
soda (caseiro), santa bárbara, leite, angico e urtiga.
A produção sem uso de insumos de síntese industrial (produção orgânica), cada dia,
passa a ganhar destaque nos discursos de sustentabilidade, pois traz argumentos convincentes
como alimentos de melhor qualidade, redução da poluição, melhor utilização dos recursos e
maior valor monetário dos produtos (D’AGOSTINE e FANTINE, 2002).
Outro fato a ser analisado é com relação aos preços dos produtos como (fertilizantes
químicos e defensivos agrícolas) de custos elevados e sofreram um aumento de até 280 vezes
o seu valor no período de 1973 – 1983, enquanto os produtos agrícolas aumentaram bem
menos que isso (BONILLA, 1992). Os agricultores não dispõem de recursos para compra de
tais produtos, uma vez que existem outras necessidades mais importantes, por isso buscam
meios alternativos para a produção agrícola para que se tornem economicamente viáveis e
ambientalmente saudáveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados sobre a distribuição de renda para o município, em seu contexto histórico,
revelam uma estrutura fundiária que é altamente concentradora, baseada em um modelo
advindo da mão-de-obra barata e do trabalho escravo; repetindo o modelo no restante do país,
os trabalhadores da indústria canavieira representam um papel econômico fundamental de
atividade agrícola no município.
Quanto à área da educação, os índices revelam, a partir dos registros do assentamento,
números significativos da baixa escolaridade, altos índices de analfabetismo e nenhum projeto
de educação voltado à alfabetização de jovens e adultos. A baixa escolaridade está
diretamente associada à situação de pobreza e exclusão social, como no modelo de ocupação
desde o trabalho escravo, sempre contou com a mão de obra barata, pouco especializada e
analfabeta.
Após a modernização da agricultura, ganham visibilidade as preocupações ambientais e a
busca por modelos alternativos relacionando ciência e conhecimento tradicional para a
recuperação do meio ambiente, como também, o saber popular das comunidades existentes e
preservação do mesmo.
A grande diversidade de práticas e cultivos, as alternativas de controle biológico, as
práticas ambientalmente sustentáveis e de baixo custo revelam autonomia na produção que
não está associada a índices melhores de escolarização, no entanto são insuficientes frente as
exigências do mercado. Os métodos de controle biológico mais citados foram urina de vaca,
pimenta-do-reino, álcool, cinza, fumo, cebolinha verde, sabão em pó, sabão de soda (caseiro),
santa bábara, leite, angico e urtiga.
No assentamento, no período das entrevistas pôde-se concluir a existência de alguma
prática ecológica em todas as propriedades, isso afirma ainda mais a suficiência do
conhecimento da tradição oral historicamente acumulados.
O desafio que se coloca para os assentamentos é dar outra alternativa, como abrir
espaço às múltiplas possibilidades para combater a pobreza no campo e gerar trabalho,
emprego e renda, que não se limitam apenas às políticas convencionais de desenvolvimento
agrícola e à reforma agrária tradicional, baseada na simples distribuição de "terra para
plantar", mas também é construção de condições básicas essenciais para que elas aconteçam.
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