SEMINÁRIO NACIONAL: Agricultura Irrigada e Desenvolvimento Sustentável
PAINEL 1 – Agricultura Irrigada e Desenvolvimento Regional no Brasil
1.2. Impactos socioeconômicos da agricultura irrigada
(*) Demetrios Christofidis
1.2.1. A agricultura irrigada no mundo
A superfície agrícola mundial na qual foram plantados e colhidos produtos agrícolas
correspondeu, no início do Século XXI, a uma área de 1,5 bilhão de hectares, dos quais
278 milhões deles atendidos por sistemas de irrigação.
A superfície agrícola produtiva no mundo dependente de chuvas usualmente denominada
como sendo sob sequeiro, da ordem de 1,2 bilhão de hectares, foi responsável por 56%
do total colhido, enquanto a superfície agrícola irrigada, dotada de sistemas de
irrigação, embora correspondendo a apenas 18% da área total sob produção agrícola,
possibilitou a obtenção de cerca de 44% do total colhido na agricultura.
Estima-se que, no ano 2030, metade de todos alimentos produzidos e dois terços de
todos os cereais colhidos sejam oriundos da agricultura irrigada. Segundo a FAO, a
prática da irrigação será responsável por 40% da expansão de área agrícola mundial
no período 1995-2030 e entre 50% e 60% do crescimento de produção de
alimentos.
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(*) Demetrios Christofidis
- Mestrado: Engenharia de Irrigação e Drenagem Agrícola.
- Doutorado: Gestão Ambiental – Desenvolvimento Sustentável.
- Especialista em Infra-Estrutura Sênior: Ministério da Integração Nacional / Secretaria de Infra-Estrutura
Hídrica.
- Professor (tempo parcial): Universidade de Brasília / Centro de Desenvolvimento Sustentável e Departamento
de Engenharia Civil e Ambiental
1.2.2. A agricultura irrigada no Brasil
No Brasil, estima-se que 29,5 milhões de hectares configuram-se como solos aptos
para desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada, dos quais 3,4 milhões
estão em produção com técnicas e sistemas de irrigação. Isso significa que 26,1
milhões de hectares de terras aptas, aproximadamente 88% dos solos, são passíveis
de produção com métodos e sistemas de irrigação e drenagem agrícola.
1.2.3. Impactos socioeconômicos da agricultura irigada no Brasil
Representando cerca de 6% da área plantada do Brasil, os cultivos irrigados,
entretanto, produzem, acima de 16% do volume de alimentos e possibilitam retornos
que correspondem a mais que 35% do valor de produção.
O agronegócio é responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, por
42% das exportações totais e por 37% dos empregos gerados no Brasil.
Em produtividade física observamos que cada hectare irrigado produz o equivalente
a mais que a três hectares de sequeiro ( 3,2 ), e no ganho de peso na pecuária
bovina face ao da criação tradicional ( 3,3 ), indicadores que possibilitam
compreender que, por aumentar a produção agrícola e pecuária sem necessidade de
ocupação de novas áreas, e, portanto, sem gerar pressão sobre os solos e sobre a
vegetação e florestas existentes, a prática da irrigação valoriza e protege a base
hídrica.
Com investimentos relativamente baixos em relação aos benefícios propiciados, a
adoção da prática de agricultura irrigada pode, de formas sustentáveis, mais que
duplicar a produção agropecuária brasileira, nas áreas de solos aptos atualmente
ocupados, proporcionando segurança alimentar ao país e elevando arrecadação de
tributos e a geração de divisas.
O agronegócio associado à prática da agricultura irrigada oferece, entre outros
benefícios, alternativas sustentáveis para aumento da disponibilidade de alimentos e
de redução dos seus custos, possibilita produção agrícola sem os efeitos adversos
da variabilidade climática inadequada, estende a longevidade dos cultivos, antecipa
as colheitas, garante o atendimento ao rigor dos compromissos e contratos de
fornecimento, tanto em quantidade, como em qualidade e oportunidade.
Quanto aos aspectos socioeconômicos, pelos atributos que citei anteriormente,
destaco a agricultura irrigada pela capacidade de geração de empregos estáveis,
pela contribuição para elevação do nível profissional no meio rural e urbano, pela
geração de empregos estáveis e duráveis, tanto na fase anterior, como na fase de
produção e na fase associada aos negócios agrícolas, destaco, ainda, a capacidade
da agricultura irrigada em incentivar maior participação dos membros das famílias
envolvidas com a agropecuária nos negócios, na agregação de valor à produção e de
contribuir para a modernização do meio rural.
Estudo do Banco Mundial, de abril de 2004, intitulado “Impactos e Externalidades
Sociais da Irrigação no Semi-Árido Brasileiro”, comenta que os recursos públicos
investidos na irrigação em 30 anos ( 1970 a 2000 ), foram de dois bilhões de dólares
e alavancaram, somente em um ano, em 2002, investimentos privados no setor de
agricultura irrigada, que alcançaram valores de mesma ordem ( US$ 2 bilhões).
Segundo o já referido estudo do Banco Mundial, os municípios do Semi-Árido
brasileiro, com influência de projetos de irrigação cresceram, sustentavelmente,
cerca de 82%, em média, nos últimos trinta anos, enquanto os de características
similares, porém sem irrigação, cresceram apenas 15% no mesmo período
Nos municípios do Semi-Árido brasileiro onde existe a prática da agricultura
irrigada foi comprovada, não só a redução do êxodo rural, como o atrativo pelos
projetos de irrigação de mão-de-obra e de serviços que elevam cada vez mais o
nível de conhecimento e especialização, que resulta em crescimento sustentável. Há
uma expansão do PIB regional e melhoria da qualidade de vida da população.
Relata, ainda, o Banco Mundial, que os projetos de irrigação no Semi-Árido
Nordestino atraíram cerca de 126 mil habitantes no período estudado (1970 a
2000), resultando em benefícios ( ou redução de perdas ) da ordem de US$
500.000/ano e que, ainda, geraram a criação de cerca de 200 mil empregos no
Setor Primário e outros 500 mil empregos indiretos nos pólos de irrigação na região
Nordeste.
A agricultura irrigada é um dos principais instrumentos para a geração de trabalho,
emprego e renda e para o desenvolvimento regional sustentável e o Ministério da
Integração Nacional, responsável pela Política Nacional de Irrigação estima que a
produção agrícola, em cada 100 mil hectares dotados de sistemas de irrigação,
permite a geração de 100 mil empregos diretos e mais de 800 mil empregos
indiretos.
Outro benefício da irrigação que destaco é o baixo investimento médio por emprego
permanente gerado pela agricultura irrigada. Os levantamentos realizados indicaram
que o investimento médio por emprego permanente gerado na agricultura irrigada é
de apenas US$ 5.500,00, enquanto que, na agricultura tradicional é de US$
37.000,00; no turismo é de US$ 66.000,00; em telecomunicações é de US$
78.000,00; em indústria geral é de US$ 83.000,00; na indústria automobilística é
de US$ 91.000,00; em pecuária é US$ 100.000,00; no setor metalúrgico é de
US$ 145.000,00; e no setor químico & petroquímico é de US$ 220.000,00.
Em produtividade física observamos que cada hectare irrigado equivale a mais que a
três hectares de sequeiro ( 3,2 ), e no ganho de peso na pecuária bovina face ao
da criação tradicional ( 3,3 ), indicadores que possibilitam compreender que, a
prática da irrigação, por aumentar a produção agrícola e pecuária sem necessidade
de ocupação de novas áreas, e, portanto, sem gerar pressão de desmatamento
sobre a vegetação, florestas existentes, por atender às legislações, por respeitar
os condicionantes das diversas políticas, por estruturar-se de forma eficiente e
racional, e, portanto, sem gerar pressão de desmatamento sobre a vegetação,
florestas existentes, valoriza e protege a base hídrica.
Pesquisando as tendências mundiais sobre a produção agropecuária e a agricultura
irrigada e lendo o texto “The next era for irrigation investments”, de Jean-Marc
Faurès ( 2007, 362-364 ), na publicação “Water for Food, Water for Life”, notei
que é apontado que “ocorrerão mudanças nas preferências dos consumidores,
reduzindo a importância de cereais para ampliar o de frutas, vegetais, carnes e
laticíneos”. Tais mudanças levarão a produzir cultivos de maior valor comercial, e
de maior capacidade de geração de empregos, assegurados pela irrigação.
Dentre as atividades geradoras de ocupação de mão-de-obra agrícola no Brasil, as
pesquisas realizadas tanto na Bahia como na Microrregião de Juazeiro ( BA ),
Cerqueira ( 2004 ), indicaram que a EHA “equivalentes-homens-ano” por 100
hectares são mais elevadas nos cultivos que se constituem nas novas preferências
indicadas por Faurès, e as que utilizam a irrigação.
Nas duas regiões, em cada 100 hectares: o tomate de mesa gera 518 equivalenteshomens-ano; o abacaxi 382; a melancia 193 e 199; a uva 137 e 163; o tomate
industrial 169; o melão 128 e 131; a cebola 114; apresentam os mais elevados
EHA, enquanto a soja com 1 EHA por 100 ha; o coco-da-baía com 7 EHA; e a
mamona com 10 EHA por 100 hectares, apresentam as menores gerações de
trabalho.
O carater intensivo de geração de trabalho das olerícolas e frutíferas foi
observado em dois levantamentos realizados, no Estado e São Paulo, pelo “Sensor
Rural SEADE”, que indicou respectivamente, nos anos 1990 e 2000, que os EHAs
“equivalentes-homens-ano” por 100 hectares, das frutíferas foram de 79,3 e 69;
o das olerícolas foram de 104 e 89,8, enquanto os de grãos foram de 5,2 e 2,7
EHA em 100 hectares.
1.2.4. Referências
BANCO MUNDIAL,“Impactos e Externalidades Sociais da Irrigação no Semi-árido
Brasileiro”,(Coord. Luiz Gabriel T. Azevedo e Abel Mejia ), Série Água-Brasil 5,
1ª ed., Brasília, 2004.
CAVALCANTI, J.E.A: “Impactos Sócio-econômicos da irrigação na região mineira
da SUDENE”, Viçosa, 1998.
CERQUEIRA, Patrícia da Silva: “A ocupação da mão-de-obra agrícolano cultivo de
frutas: uma análise da microrregião de Juazeiro-BA na década de 1990”, Bahia
Análise & Dados, v.14, n.3, p. 563-576, Salvador, dez. 2004.
CHRISTOFIDIS, Demetrios. “O futuro da irrigação e a gestão das águas”, MISIH-DDH. Nov.2008,15p., Brasília.
CHRISTOFIDIS, Demetrios. “Água: um desafio para o setor agropecuário”, FNP,
em Agrianual-2007, São Paulo, 2006.
FAURÈS, Jean-Marc, “Reinventing irrigation”, p. 353-394, em Water for Food,
Water for Life, (Org.David Molden), Earthscan-IWMI, UK e USA, 2007.
NAJBERG, Sheila e VIEIRA, Solange P.; “Modelos de Geração de Emprego
Aplicados à Economia Brasileira”: 1985/95.
SAWYER, Donald R. e MONTEIRO, Maurício P. “Impactos socioeconômicos da
irrigação no Nordeste”, em Disponibilidade de água e fruticultura irrigada no
Nordeste, (Org. Donald Sawyer), ISPN-MA-CNPq-FUNAPE-UFG, Brasília, 1999.
NAJBERG, Sheila e VIEIRA, Solange P.; Modelos de geração de Emprego Aplicados
à Economia Brasileira: 1985/95.
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL
SECRETARIA DE INFRA-ESTRUTURA HÍDRICA
Seminário Nacional: Agricultura Irrigada e Desenvolvimento Sustentável
PAINEL 1 – Agricultura Irrigada e Desenvolvimento Regional no Brasil
Série Irrigação e Água: I - 2009
Aspectos Socioeconômicos da Agricultura Irrigada
Demetrios Christofidis (*)
Brasília / Distrito Federal / Brasil
20 de maio de 2009
*Doutor
em Gestão Ambiental/Universidade de Brasília: UnB / Centro de Desenvolvimento Sustentável (2001)
MSc: Engenharia de Irrigação e Drenagem: Universidade de Southampton / Inglaterra (1988)
Especialista em Infra-Estrutura: Ministério da Integração Nacional-Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica.
Professor (Tempo Parcial) UnB. Faculdade de Tecnologia do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental e
do Centro de Desenvolvimento Sustentável.
Endereço: SMPW Quadra 21 Conj. 2 Casa 9 – CEP: 71.745-102 – Brasília, DF;
Tel: (61) –3414.5741 e (61) 9967-3060
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