IN MEMORIAM
C.Ss.R. Vice-Província de Recife
2005
1. Irmão Hubertos Huiskens, CSsR
Falecido em Bom Jesus da Lapa-BA - 21/ 05/ 1962
(42 anos)
Este confrade faleceu repentinamente em Bom Jesus da
Lapa, no interior da Bahia.
Para dizer a verdade, o Irmão era fisicamente incapaz de
suportar o clima tropical. No entanto, foi enviado para o Nordeste do
Brasil. Era uma pessoa muito boa e delicada e possuía uma
disponibilidade total para servir aos seus irmãos. Notava-se, porém,
que sofria muito, porque as suas forças diminuíam cada vez mais.
Jamais chegamos a entender a transferência desse homem, já
doente, para o interior tão longínquo da Bahia, onde havia uma falta
considerável de conforto e de assistência médica.
Naquele tempo, vivíamos dentro da mentalidade do Centurião
do Evangelho: “E digo a um vá, e ele vai; e a outro: venha, e ele
vem; e digo ao meu empregado: faça isso, e ele faz” (Mt 8, 9).
Pessoalmente, vi o Irmão trabalhando duro, naquele
ambiente, fazendo todo o possível e impossível para viver o seu
espírito de serviço, sem se queixar, mas com toda dedicação e
alegria. A língua portuguesa era para ele um obstáculo insuperável,
mas esforçava-se demais para ser mais ou menos entendido.
No entanto, é bem interessante e de admirar que tenha
conquistado a simpatia de muita gente e especialmente dos
pobres... Isto se manifestou claramente após sua morte repentina,
pois uma multidão incalculável o acompanhou até o túmulo.
Em 1976 quando os confrades poloneses, já há (vários) anos,
serviam no Santuário do Bom Jesus da Lapa, O Pe. Estevão, Ir.
Carlos e eu fomos buscar os restos mortais do Ir. Hubertos, para
que pudessem permanecer em nosso meio. Após essa viagem de
Recife para Bom Jesus da Lapa, fiquei com algumas dúvidas. Em
primeiro lugar, encontramos uma velada resistência da parte dos
confrades poloneses. Eles não compreendiam o porquê dessa
transladação, achando nossa argumentação bem fraca. Tive a
impressão de que faziam eco à voz e à vontade do povo que amava
tanto o Irmão. É um fato que, quando chegamos ao cemitério para
assistirmos à exumação ficamos bastante surpresos quando o
empregado do cemitério nos entregou apenas um pedacinho do
caixão, alguns cabelos e umas continhas do rosário redentorista.
Foi-nos dada à explicação: É que a terra daquela região possui
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decomposição calcária; uma atividade extraordinária para efetuar
uma rápida e completa decomposição dos corpos.
Então, voltamos para casa com algumas coisinhas bem
guardadas numa caixinha. Tudo foi colocado no lugar de nossos
falecidos no Convento da Madalena, Recife. Este túmulo, no
entanto, contém apenas uma relíquia bastante exígua do nosso
confrade Ir. Hubertos. Mas, a pessoa do Irmão está naturalmente
para sempre guardado no Amor Eterno de Deus!
Ouvi uma voz do céu que dizia: “Escreve: felizes os mortos
que morrem no Senhor de agora em diante - sim, diz o Espírito para descansarem dos seus trabalhos, pois suas obras os seguem”
(Ap 14, 13).
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2. Pe. Joaquim (Antônio) Van Dongen, CSsR
Falecido em Vitória, ES - 15/ 06/ 1965 (80 anos)
Fundador da Casa de Garanhuns - 1947
O Pe. Joaquim chegou ao Brasil em 1912. Naquele tempo,
tratava-se de uma decisão da parte dos Superiores e era para a vida
toda. O Pe. Joaquim aceitou este sacrifício, mas não de bom grado
e, até o fim da vida, teve problemas com adaptação à cultura
brasileira e aos costumes do povo. Inicialmente, teve muita
dificuldade para aprender o português. Não obstante, desenvolveuse aos poucos e tornou-se um bom missionário em Minas Gerais,
apesar de não irradiar muito otimismo. Na Vice-Província do Rio de
Janeiro teve diversas incumbências: Superior das Missões,
Conselheiro do Vice-Provincial e Reitor. Por volta de 1930 foi
nomeado Reitor da nossa casa em Congonhas-MG, mas aí
encontrou muita dificuldade por causa da interferência do Bispo,
Dom Helvécio. O Pe. Joaquim, na sua conhecida sinceridade, não
tinha a diplomacia necessária para poder agradar e suportar um
Bispo mandão. Quando eu cheguei ao Rio de Janeiro (outubro de
1946), encontrei o Pe. Joaquim na função de Ministro da casa do
Rio. Ele nos recebeu muito cordialmente, mas as suas respostas às
minhas perguntas de Padre moço e inocente de 30 anos, não foram
suficientes para me sentir entusiasmado pelo meu futuro próximo.
No ano seguinte, no entanto, encontrei-me novamente com
ele mas, então, como meu superior na nossa primeira fundação
nordestina, em Garanhuns. Esta comunidade de Garanhuns era
formada pelos padres Joaquim (62 anos); Pe. Miguel (59 anos); Pe.
Inácio (36 anos); e Pe. Adriano (30 anos).
Do superior Vice-Provincial da Vice-Província do Rio de
Janeiro o Pe. Joaquim recebera a incumbência de iniciar uma
fundação em Garanhuns, que consistiria em Convento (Centro
Missionário), seminário menor e igreja não-paroquial. No entanto, a
paróquia foi criada em setembro de 1949, sendo o primeiro vigário o
Pe. Pedro Krúter.
A prioridade para o Pe. Joaquim era procurar um terreno bem
espaçoso para as futuras construções, mas não teve sorte. Só em
1949 foi adquirido um terreno por Pe. Pedro, situado na atual
localidade.
O regime interno do Pe. Joaquim era do estilo redentorista da
época. Apesar da vida primitiva dos primeiros anos no Seminário
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Diocesano, em plena construção, a observância da regra era
mantida com todo o rigor. Alguns exemplos: naquelas primeiras
semanas, após a nossa chegada em Garanhuns tivemos que andar,
todo dia, do Seminário para a casa do Bispo para poder almoçar. No
entanto, no dia do retiro mensal, fomos obrigados por ele a ficar em
silêncio durante esse “passeio”, como também na casa do Bispo,
quando estava ausente. Poucos dias depois da nossa instalação
no Seminário, o Pe. Joaquim chegou no meu quarto (sem forro) e
me entregou uma sineta e, assim, investiu-me na função de dar os
diversos sinais para os atos da comunidade: meditações, as
orações da tarde, leitura espiritual etc. O ato de penitência, nas
noites das quartas e sextas-feiras, era rigorosamente observado.
Mas, ele tinha também, uns momentos, em que mostrava o seu
senso humorístico. Sabia contar, com cores vivas, as anedotas da
vida missionária, em Minas Gerais, e das suas próprias estripulias
nas viagens pelos sertões da Bahia, onde pregava muitas Missões
nas piores condições, mas com toda dedicação e com espírito de
sacrifício.
Jamais esquecerei daquela gargalhada dele, quando chegou
a bagagem do Pe. Miguel e surgiu da mala um pacote bem
amarrado com arame farpado; dentro havia a Santa Regra, os
volumes do Breviário e o célebre e misterioso livro de anotações do
Pe. Miguel...
Pelo resto, passamos os nossos dias, orientados por Pe.
Joaquim, com verdadeiros cartuchos em casa, fazendo as
necessárias preparações para as Santas Missões.
Um dia, o Pe. Joaquim viajou para fazer umas pregações em
Carpina-PE e voltou entusiasmado. Ele descobrira um lugar muito
mais adequado do que Garanhuns para iniciar a nossa ViceProvíncia e o nosso Seminário Menor, como era a intenção dos
nossos Superiores. O Vigário, Pe. Rocha tinha facilidade para
conseguir um terreno apropriado. Carpina teria mais vantagens para
tornar-se um Centro Missionário e também para o Seminário, por
ficar mais perto do Recife. O grupo de “fundadores” fez depois, uma
declaração uníssona perante o Governo Vice-Provincial do Rio de
Janeiro: “É muito melhor abandonar Garanhuns e aceitar Carpina.”
Esse parecer, bem argumentado, foi transmitido pelo Vice-Provincial
ao Pe. Geral, em Roma, a resposta do Pe. Geral foi: “Tenham mais
um pouco de paciência, permaneçam em Garanhuns”.
No mês de abril de 1949 o Pe. Joaquim deixou o Nordeste.
Acompanhei o meu Superior até à estação e a sua palavra de
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despedida foi: “Coragem Adriano, vou voltar para o Rio de Janeiro
para morrer em breve. Um dia nos reencontraremos na eternidade”.
O Pe. Joaquim nasceu no dia vinte de maio de 1885; fez sua
Profissão Religiosa em vinte e nove de setembro de 1906 e foi
ordenado Sacerdote em sete de outubro de 1911. O Pe. Joaquim
faleceu em Vitória, ES, no dia 15 de junho de 1965.
“Andou por toda parte fazendo o bem porque Deus estava
com ele” (At. 10,38).
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3. Pe. Pedro Canísio de Groot, CSsR.
Falecido no Recife-PE - 07/ 05 / 1971 (45 anos)
O Pe. Canísio iniciou a sua vida missionária no Nordeste
brasileiro em 1952. Chegou aqui logo após a fundação do nosso
Seminário Menor, em Garanhuns-PE. Tornou-se um dos primeiros
professores do Seminário.
Em 1956 foi transferido para Bom Jesus da Lapa-BA, para
junto o Pe. Teofânio Stallaert, iniciar a complicada fundação da
Lapa. As suas capacidades práticas e técnicas contribuíram para
além das atividades pastorais, organizar o Santuário que estava
bastante descuidado, instalando os necessários melhoramentos
técnicos. O conhecimento realismo do Pe. Canísio produzia um
efeito calmante no povo do interior baiano, cujo comportamento era,
de vez em quando, um pouco turbulento.
Em 1959 o Pe. Canísio foi transferido para Recife. Por causa
da sua competência, recebeu a incumbência de ecônomo da ViceProvíncia do Recife. Esta tarefa tão árdua ele cumpriria,
cuidadosamente, até 1966. Ele foi, por assim dizer, um homem
muito influente na época da construção do nosso Convento da
Madalena (Recife) e do Convento e Seminário em Campina GrandePB. Como superior de Campina Grande tinha com ele, de vez em
quando, pequenos atritos. Isto foi no tempo em que eu estava
construindo a Escola Santa Rita para os filhos dos operários de
Bodocongó. Às vezes, o irmão Damião e eu conspirávamos para
tirar da areia destinada para a construção do Seminário a fim de ser
aproveitada em benefício dos mais pobres. Mas, quando a nossa
“astúcia” foi descoberta, Pe. Canísio tomou logo as providências
para que isso não acontecesse mais. Ele tinha, de fato, um pouco
daquele jeito “autoritário”, tão próprio a quem guarda e defende os
“tesouros” da casa. Brincando nós chamávamos o nosso PP
(pequeno provincial). Evidentemente, tratava-se de coisinhas
humanas pouco importantes, pois a dedicação do Pe. Canísio ao
bem comum da Vice-Província era extraordinariamente edificante!
Em 1966 foi feito um apelo ao Pe. Canísio par reassumir a
fundação de Salvador, no bairro Ondina e na Igreja de São Lázaro.
O Pe. Canísio, assistido pelo Pe. Paulo Speekenbrink realizou um
trabalho pastoral muito positivo e os dois ganharam a maior simpatia
do povo.
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Entretanto no fim da década de 60/70 surgiu a questão da
nossa concentração, pois algumas das nossas casas ficavam muito
distantes do centro do Recife. As mais distantes eram as casas de
Juazeiro, bom Jesus da Lapa e Salvador. Quando chegou o pedido
para deixar a fundação de Salvador, o Pe. Canísio mostrou logo a
sua disposição para atender ao Governo Vice-Provincial, apesar do
sacrifício de ter que abandonar um ambiente de trabalho que lhe era
tão caro!
Em 1970 ele retornou ao Recife acompanhado do Pe. Paulo.
Novamente foi nomeado ecônomo da Vice-Província. Logo teve que
enfrentar a questão da venda do nosso Convento de Garanhuns-PE
a uma equipe de médicos. Não estávamos precisando mais de um
grande Convento. Ajudado pelo Irmão Adriano Scheffer (de feliz
memória), o Pe. Canísio enfrentou a construção de uma casa mais
adequada para os nossos 04 ou 05 confrades.
De repente, porém, chegou o fim desta vida tão preciosa,
também para nós. Nos anos 70 - 71 o nosso Governo Provincial
entrou em negociações com a Província Polonesa em torno da
transição da fundação da Lapa para os confrades poloneses. Com a
vinda do Provincial Polonês ao Brasil, os Pes. Jaime e Canísio
marcaram com ele um encontro em Salvador, para conversar sobre
o assunto.
O encontro seria nos dias 7 e 8 de maio. No dia 7 saíram os
dois carros com destino a Salvador (800 km). Mas, quando tinham
feito apenas uma hora de viagem, aconteceu, perto de PalmaresPE, um terrível e doloroso acidente, numa curva perigosa. O Pe.
Canísio foi, com toda violência, lançado para fora do veículo, caindo
com a cabeça no asfalto; teve morte instantânea. O Pe. Jaime
sofreu, apenas, um susto horrível, que lhe causou um terrível
choque emocional. Para nós todos foi um acontecimento muito
trágico, que impressionou profundamente. No mesmo dia foi
organizado o enterro, que teve uma concorrência extraordinária.
Contamos com a participação de Dom Helder Câmara, de um
grande número de Superiores Maiores de Ordens, Congregações,
de quase todos os confrades da Vice-Província e também de uma
multidão visivelmente emocionada por causa da morte tão trágica de
um Padre que era muito querido.
O Pe. Canísio foi enterrado no cemitério de Santo Amaro.
Alguns anos depois, os restos mortais foram colocados no pequeno
mausoléu do Convento da Madalena. Com toda sinceridade,
podemos testemunhar desta vida: “Combateu o bom combate,
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terminou a sua corrida, conservou a fé. Agora só lhe resta a coroa
da justiça que o Senhor justo Juiz, lhe entregará naquele dia; e não
somente para ele, mas para todos os que tiverem esperado com
amor a sua manifestação” (Cf 2 TM 4, 7 - 80). Seus restos mortais
estão hoje depositados no Mausoléu Redentorista de Campina
Grande, PB.
“Vigiai, mantende-vos firme na fé, sede homens sede fortes.
Fazei tudo com amor!”
1 Cor 16,13
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4. Pe. Raimundo (Francisco) Bergmans, CSsR
Falecido em Roermond, Holanda - 17/04/1976
(56 anos)
Este missionário viveu e trabalhou entre nós, no Nordeste
brasileiro, de 1949 a 1974. Podemos resumir a sua vida missionária
com as seguintes palavras: Pe. Raimundo possuía um zelo
apostólico ardente, que até se tornava, de vez em quando, um tanto
impetuoso. Mas, tudo fazia em íntima e contínua união com Deus,
rezando incessantemente. No entanto, na convivência do dia-a-dia,
era um homem descontraído, que sabia apreciar as coisas boas da
vida. Ele era muito estimado por causa da sua cordialidade e do
modo simpático como se aproximava das pessoas.
Foi Mestre dos noviços de 1962 a 1963 e em 1965. Temos
alguns testemunhos bastante positivos de ex-noviços que
demonstraram a sua capacidade para dar direção espiritual sadia e
realista, criando um clima de muita confiança. Um ex-noviço me
dizia: “Para mim, o Pe. Raimundo foi um guia espiritual muito seguro
e humano e nunca me esquecerei dele. Serei sempre muito grato
para com ele”.
Na sua atividade missionária, o Pe. Raimundo era um
apóstolo de mão cheia e este espírito se manifestava, também, em
tudo que fazia, na sua função de Vigário de Juazeiro da Bahia,
Arcoverde e Campina Grande-PB. Verdade é que lhe custava muito
aceitar as mudanças na Igreja, na Congregação e no mundo.
Seguia com todo o rigor os princípios da moral aprendidos no
Seminário Maior, especialmente na moral sexual e em relação aos
problemas matrimoniais. Não conseguia enxergar as mudanças da
vida real e humana e, neste ponto, fechava-se dentro de uma
mentalidade estreita.
Para mostrar a profunda seriedade do Pe. Raimundo nas
Missões dou apenas um exemplo relevante: Em 1950, os Pes.
Victor Rodrigues, Raimundo e Adriano pregaram uma missão na
cidade de Barreiros-PE. Uma noite, o Pe. Victor dirigiu-se ao povo,
numa palavra inflamadíssima, chamando a atenção dos homens
casados degenerados, adúlteros e desgraçados, que tinham duas
mulheres e até três. No fim deste sermão vibrante, houve um
aplauso espontâneo e estrondoso das mulheres presentes, e das
esposas legítimas dos censurados. Mas, então Pe. Raimundo subiu
ao Púlpito, com cara muito séria, e dirigiu-se ao povo, dizendo: “A
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Santa Missão é um tempo forte de penitência e não de anarquia e de bater
palmas”. Depois entoou com voz forte: “Perdão, meu Jesus! Perdão, Deus
de amor” e quando chegou a estrofe: “Eis-me aos vossos pés, grande
pecador...Uma nuvem de seriedade cobria a praça toda!...Mas, aqui,
devemos notar também, que o Missionário Raimundo era o mais zeloso de
nós todos, inclusive no confessionário e em seus contatos com o povo
mais simples.
Agora, em relação ao pagamento da espórtula da Missão, era um
pouco exigente, pois quando um ou outro Vigário pagava menos do que
estava determinado, então o colocava simplesmente na “lista negra”. O
adágio dele era: “os nossos, também, têm que viver”.
Como Superior das Comunidades de Juazeiro da Bahia e
Arcoverde-PE, o Pe. Raimundo, apesar da sua rigorosa insistência na
observância da Santa Regra, era uma pessoa de comunicação boa e
agradável e de disponibilidade incrível quando se tratava de ajudar os
confrades. Para ele nada era demais, até o maior sacrifício.
Nas reuniões dos Capítulos, não se sentia à vontade por causa dos
assuntos muito pesados e de certas colocações e atitudes modernas e
atualizadas. De vez em quando, ele me dizia: “Adriano aos nossos deverá
ser dada uma boa cervejinha para acalmar os Ânimos e para que fiquem
quietinhos”. No entanto, apesar do seu agarrar-se a certas coisas do
passado, que para ele eram tão importantes, as suas palavras, gestos e
reações tinha sempre algo de cativante.
Em 1974 o nosso Pe. Raimundo foi acometido de uma doença
gravíssima (um tumor maligno no estômago). Muito contra a vontade,
retornou para a Holanda. Os dois últimos anos da sua vida viveu no nosso
Convento de Roermond, onde o irmão dele, Pe. Afonso era Vigário.
Por sua entrega total a Deus, por sua aceitação positiva de todo
sofrimento e dor, tornou-se para todos os confrades um modelo autêntico
de uma despedida grandiosa desta vida terrestre. Numa atitude simples e
sincera, assim como fora toda a sua vida, o Pe. Raimundo entregou-se ao
Pai Eterno com plena confiança na misericórdia infinita do seu Criador.
Nós todos e também o povo de Arcoverde sentimos muito a morte
deste homem de Deus e, para que o povo de Arcoverde sempre se
lembrasse dele, uma rua do Bairro São Cristóvão foi denominada “Rua
Padre Raimundo”.
“Desempenhou sua função com temor de Deus, dentro da verdade e de
coração íntegro” (2 Cor. 19, 9).
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5. Pe. Pedro (Adriano) Krúter, CSsR
Falecido em Campina Grande -PB - 13-01-1977
(90 anos)
Este grande missionário chegou ao Brasil em 1911. Naqueles
tempos tão remotos, isto significava um sacrifício tremendo e uma
decisão definitiva para a vida toda, pois não se permitia um eventual
retorno para visitar e rever a família. Paulatinamente, porém, foi-se
assumindo uma atitude mais humana de tal modo que, em 1929 o
Pe. Pedro, pela primeira vez, foi passar férias na Holanda. Os pais
dele já tinham falecido.
A vida do Pe. Pedro foi uma vida riquíssima de experiências
missionárias. De 1911 a 1949, na então Vice-Província do Rio de
Janeiro e na Vice-Província do Recife-PE de 1949 a 1977.
1911 a 1949: Durante muitos anos, pregou Santas Missões
em Minas Gerais. Naquele tempo “do arco da velha”, grande parte
das viagens se fazia a cavalo. Assim, este missionário andou léguas
e léguas, sempre animado e bem humorado, como era o estilo dele.
Principalmente, a lindíssima natureza do Brasil era para ele um
encanto delicioso. Felizmente, era um ótimo cavaleiro e muito
elegante, que dava inveja aos companheiros gorduchos e
desajeitados.
As próprias Missões, no entanto, eram pesadíssimas, em
parte por causa das hospedagens às vezes bastante fracas e, em
parte, por causa da influência das multidões de penitentes aos
confessionários. Na opinião dos Santos Missionários, o povo era
muito ignorante, pois não sabia formular as verdades principais da
nossa fé cristã. Por isso, cansavam-se em martelar no
conhecimento dos célebres “quatro pontos”. Que aquele povo
“ignorante” possuísse uma profunda vivência da confiança do nosso
Pai Eterno, não considerando suficiente. Também as confissões de
pessoas completamente desabituadas a essa prática, constituíam
um verdadeiro martírio. Portanto, deve ter sido um trabalho
exaustivo! E este serviço continuava meses e meses sem o mínimo
conforto. O grande escritor mineiro, João Guimarães Rosa, no seu
magistral livro “Grande Sertão, Veredas”, na sua maneira um tanto
irônica, nos dá uma idéia das Missões Redentoristas no sertão de
Curvelo-MG.
Ele escreve: “Finalmente, apareceram dois missionários
estrangeiros, homens robustos, rostos avermelhados, que berravam
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uns sermões ásperos com uma voz firme e sonora e uma fé
inabalável. Desde de manhã até a noite, estavam na igreja
pregando, confessando, orando e aconselhando, apresentando
exemplos que deviam conduzir o povo “linea recta” na direção mais
certa. A fé deles era simples e enérgica e não toleravam qualquer
zombaria pois derivavam o seu poder de Deus”.
Acompanhado dos Padres Emanuel Hemers e Cornélio
Jacob, o missionário Pedro chegou ao Nordeste Brasileiro.
Isto foi na década de trinta. Pregaram Missões em Juazeiro
da Bahia, Arcoverde-PE, Belo Jardim-PE, Recife, etc...Mas, houve
também, uma época em que Pe. Pedro pregava Missões no Estado
do Rio de Janeiro. Aí encontrava um povo muito diferente daquela
gente religiosa de Minas Gerais. Já naqueles anos grassavam as
seitas e o espiritismo, mas também a indiferença e uma poderosa
maçonaria.
O Pe. Pedro, sendo realista, percebeu logo que a Missão
numa tal região deveria ser abordada de uma maneira muito
diferente; e enfrentou esse desafio, tomando as medidas
necessárias para tornar a missão mais atraente para o povo,
organizando procissões festivas, funcionando como chamada para o
povo procurando também a cooperação dos leigos. Logo surgiram
umas críticas por parte dos missionários de Minas Gerais, pois, na
opinião deles, o Superior das Missões no Rio de Janeiro, Pe. Pedro,
não estava seguindo o sistema de Santo Afonso, descuidando-se
das mais sagradas normas da tradição redentorista...
Em 1949 (mês de maio): quando eu tinha ficado sozinho no
Nordeste, morando no Seminário Diocesano, em construção, tive a
grande honra de poder receber o meu novo Superior, Pe. Pedro, em
Garanhuns. Ele me abraçou cordialmente, dizendo: “Adriano, somos
irmãos e companheiros”.
No mesmo ano (1949), foi erguida a nossa paróquia de
Nossa Senhora da Conceição do Arraial. O Pe. Pedro foi o primeiro
Vigário. Com o seu zelo missionário, colocou a base para a criação
de uma comunidade viva e ativa. A catequese era sua prioridade.
Mas, além dos trabalhos pastorais, tinha que providenciar a compra
dos terrenos para o nosso Convento e depois iniciar a construção do
mesmo.
Em 1953, o vigário Pe. Pedro entregou a paróquia a mim e
até o ano 1956 teve a sua residência na nova fundação de Campina
Grande-PB. Já com a idade de 67 anos, ele fez ali o que podia para
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ajudar na Paróquia de Bodocongó e também em Fagundes e
Galante, viajando para estes lugares em qualquer transporte.
Em 1956, foi transferido para o Recife. Tinha então 70 anos.
No Recife, na igreja da Madalena, esforçava-se em pregar aos
domingos e aconselhar muita gente. Todo mundo queria bem ao
velho Pe. Pedro. Foi também conselheiro do Vice-Provincial, Pe.
João Batista van Gassel. A sua maneira de receber os hóspedes na
casa da Madalena, fazia bem a todos os confrades.
Em 1961 foi transferido para Campina Grande-PB aos 75
anos de idade. Continuou a sua disponibilidade extraordinária.
Naquela época das transformações e mudanças na Igreja e
no mundo, o Pe. Pedro soube assimilar, com toda naturalidade,
muitas coisas novas. Isto, indubitavelmente, foi devido ao seu
realismo e à riqueza do seu bom senso.
Entre nós, ele era muito querido e jamais perdeu contato
intenso com os confrades mais jovens, sendo o conselheiro mais
procurado pelos jovens.
De muitas maneiras, o Pe. Pedro demonstrava o seu grande
amor pela natureza. O seu conhecimento da “flora e fauna” do Brasil
era fora do comum.
Deste confrade podemos afirmar que era um homem
integérrimo, religioso esclarecido, muito indulgente e de grande
compreensão. A sua morte em Campina Grande foi suave e
edificante. Através das suas últimas palavras, ele pediu muita
oração e cordiais lembranças para os familiares dele.
No seu nonagésimo aniversário natalício, pediu a Deus um
presente para o povo dos sítios, região seca do Nordeste, a saber:
muita chuva. No momento, do seu enterro choveu torrencialmente...
“Observem como os lírios crescem: eles não fiam , nem tecem.
Porém, eu digo a vocês que nem mesmo o Rei Salomão, em toda a
sua glória, Jamais se vestiu como um deles”. Lc 12, 27
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6. Pe. Godofredo Joosten, CSsR
Falecido em Campina Grande-PB - 25-01-19 77 (71 anos)
Fundador de nossa casa de Arcoverde, PE
O Pe. Godofredo faleceu em Campina Grande-PB, no dia 2501-1977. Chegou ao Brasil em 1931 e tornou-se um missionário de
valor nas regiões de Minas Gerais. Por causa da sua capacidade,
chegou a ser Superior das Missões. Era um homem robusto e a
natureza doou-lhe uma voz forte e sonora, que, na hora do sermão
da noite, enchia a praça toda, não obstante a carência de um
microfone. Pregou muitas Missões em situações duras,
semelhanças àquelas que Pe. Pedro pregou durante tantos anos. O
caráter do Pe. Godofredo era bastante diferente do de Pe. Pedro,
pois o Pe. Godofredo era um pouco introvertido e taciturno.
Em 1953 pediu ao Pe. Provincial da Holanda que o
incorporasse à Vice-Província do Recife. E, em 1954 foi nomeado
fundador da nossa casa e Vigário da Paróquia de Nossa Senhora do
Livramento, de Arcoverde-PE. O Pe. Timóteo Veltman foi o cofundador.
Esta nova fundação da Vice-Província teve, logo no início,
graves dissabores por causa da doença dos dois fundadores, que
foram acometidos de febre tifóide. O caso de Pe. Godofredo teve
uma face gravíssima e perigosa. Felizmente, teve uma assistência
assídua e carinhosa do nosso (ex.) Irmão Camilo e de D. Líbia,
organista da Matriz de Arcoverde. Após o seu restabelecimento, o
novo Vigário, que era nato, iniciou as suas atividades, procurando
revitalizar movimentos religiosos, a catequese e o contínuo
atendimento ao povo de Arcoverde, uma cidade que era chamada
“porta do sertão”. Era, realmente, um trabalho muito difícil e, às
vezes, exaustivo, porque o Vigário Godofredo tinha que estar
sempre pronto para servir ao povo da cidade toda e de um imenso
interior sertanejo.
Na cidade, construiu a Capela de São Cristovão para atender
melhor ao povo daquele bairro (saída para o sertão). A pedido do
Vice-Provincial, Pe. Carlos Maria, Dom Adelmo Machado criou aí a
Paróquia do Santíssimo Redentor. A criação oficial se realizou 2512-1957. O Pe. Godofredo anotou no livro das crônicas da casa de
Arcoverde: “Para evitar um certo antagonismo entre a paróquia dos
seculares e a nossa residência no bairro de São Cristovão, e desejo
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dos Superiores que se aceite alguma paróquia para dar ao
Convento alguma subsistência independente”.
Em 1959 o Pe.Godofredo foi transferido para Juazeiro da
Bahia. Novamente, teve que reger uma paróquia e desta vez, bem
maior do que a de Arcoverde. Teve porém, a ajuda de vários
confrades para dar continuidade aos trabalhos de catequese e de
evangelização dos seus antecessores, no centro da cidade, nos
diversos bairros e no interior.
Em 1964 um ano após a tomada de posse do primeiro Bispo
de Juazeiro, Dom Tomás Guilherme Murphy, CSsR (de feliz
memória), o Pe. Godofredo foi transferido para Campina Grande, a
fim de tomar conta da paróquia de Aroeiras-PB, que estávamos
regendo a pedido do Bispo Diocesano.
Resumindo todas as atividades deste confrade na sua função
de Vigário, podemos afirmar que ele zelava por uma organização
paroquial muito sólida e de uma maneira excelente se dedicava aos
cuidados também materiais da Matriz, das Capelas e das nossas
residências. Com toda fidelidade e conscienciosamente, o Pe.
Godofredo respondia aos múltiplos apelos do povo das suas
paróquias de 20 a 30 mil ou até mais paroquianos.
Evidentemente, isso exigia muito esforço, resistência e
paciência. Em toda parte era conhecido por sua generosa
disponibilidade e, por causa disto, o povo o estimava demais.
Entre nós era muito considerado por causa da sua
convivência bastante fraternal e apesar da sua dificuldade para
abrir-se espontaneamente, tinha sempre momentos de boa
comunicação.
A morte deste confrade foi inesperada e a “causa mortis” não
é do meu conhecimento.
Parece que houve uma violenta deteriorização do sangue,
que foi fatal. Quando faleceu, tinha 71 anos de idade.
O povo de Aroeiras ficou muito abalado e triste. Em grande
número, os paroquianos do Pe. Godofredo chegaram a Campina
Grande para assistir ao enterro do seu querido Vigário. De imediato
o povo Aroeirense se opôs fortemente ao sepultamento do Pe.
Godofredo no cemitério de Campina Grande, mostrando-se disposto
a tomar medidas enérgicas. Pe. Godofredo era do povo de Aroeiras
e devia ser sepultado no meio dos seus paroquianos. Pediram e
receberam das autoridades competentes a devida licença para
conduzir os restos mortais do Pe. Godofredo para Aroeiras. Esta
17
licença chegou no fim da Missa de Exéquias e visivelmente houve
um suspiro de alívio na Igreja de Bodocongó.
O túmulo do Vigário Pe. Godofredo Joosten, CSsR, encontrase ao pé da nova Igreja Matriz de Aroeiras, que foi construída por
ele.
“Fale jovem, se for necessário, mas apenas umas duas vezes,
quando interrogado.
Resuma o que tem a dizer, e diga muito em poucas palavras.
Seja como alguém que sabe, mas se cala”.
Eclo 32, 7-8
18
7. Pe. João Batista van Gassel, CSsR
Falecido em Wittem na Holanda - 22-06-1977
(75 anos)
Vice-Provincial de 1956 a 1967
O Pe. João Batista teve uma morte repentina em Wittem
(Holanda). Descendo no elevador do Convento, teve um infarto que
lhe causou morte instantânea. Morreu no dia em que esteve no
Convento para participar da festa da canonização de nosso
confrade João Nepomuceno Neumann. O Pe. João Batista tinha,
então, 75 anos de idade. Foi Vice-Provincial da Vice-Província do
Recife de 1956 a 1967.
Pe. João Batista chegou ao Brasil em 1951. De 1928 a 1951
exerceu suas atividades redentoristas na Holanda. Foi professor do
nosso Seminário Menor e depois ganhou muita fama como
missionário do povo e pregador de retiros, especialmente para
Religiosas. Os seus anos de glória o Pe. João Batista viveu na
função de Reitor da comunidade e Vigário da Igreja anexa em
Rotterdam. Foi muito elogiado quando, na segunda guerra mundial,
fazia tudo para agasalhar e esconder, em todos os cantos do
Convento e no sótão da Igreja, os homens que estavam fugindo dos
nossos inimigos alemães, que queriam deportá-los para a
Alemanha. Foi também Reitor da comunidade de Bois-le-Duc de
1946 a 1949, quando voltou para Rotterdam, o seu lugar mais
querido, e novamente aceitou o encargo de Reitor e Vigário.
Em 1951 aceitou generosamente a sua nomeação para o
Brasil. Foi para ele um tremendo sacrifício. Já estava com quase 50
anos de idade e, nesta idade não é fácil aprender a língua
portuguesa que é, de fato, uma língua muito difícil e complicada.
Aos poucos, o Pe. João Batista adaptou-se a um estilo de
vida totalmente novo em todos os sentidos. Até o fim da sua
permanência no Brasil, teve problemas quanto a língua portuguesa;
isto foi para ele uma barreira quase insuperável para que houvesse
uma comunicação mais perfeita. E imagine o sofrimento para um
grande pregador tão estimado no seu próprio País. Além disso,
encontrou a sua situação no Nordeste numa fase primitiva ainda, o
que é próprio a todas as novas fundações.
Em 1952, foi encarregado da nossa nova fundação em
Campina Grande-PB. Nesta cidade tão importante do Nordeste, por
causa do seu rápido desenvolvimento, seria construído o nosso
19
Seminário Menor. O Pe. João Batista iniciou essa fundação
redentorista em São José da Mata, porque em Bodocongó não
havia uma casa para ele. O fundador começou em circunstâncias
bastante pobres, mas logo ganhou a simpatia daquele povo de
coração de ouro, especialmente da parte mais pobre. Ainda hoje,
fala-se da dedicação e disponibilidade do Pe. João Batista para
atender a todos. Para aquele povo simples o que valia mais não era
tanto a linguagem correta e castiço, mas o bom coração e a
delicadeza do Padre.
Em 1956, teve que deixar o seu querido povo de Bodocongó
e de São José da Mata, pois foi nomeado Vice-Provincial da ViceProvíncia do Recife. Vale a pena anotar algo sobre a confusão que
houve em torno dessas nomeações. O antecessor do Pe. João
Batista, o Pe. Carlos Maria Donker, com sede em Garanhuns,
recebeu a lista das nomeações, com a qual todos tinham
cooperado, menos o Espírito Santo. O pior foi que o Pe. Carlos
Maria Donker foi nomeado superior de Bom Jesus da Lapa. Ele se
sentia
totalmente
incapacitado
para
assumir
aquela
responsabilidade. Então, me pediu que eu viajasse sem demora a
Campina Grande para tratar desse negócio tão espinhoso com o Pe.
João Batista. Felizmente, o Pe. João Batista atendeu e retornou a
lista para Amsterdã e Roma, explicando detalhadamente os
problemas que surgiram e a impossibilidade de efetuar essas
nomeações. Parece que naquele tempo já havia um vislumbre ainda
fraco de uma democracia nascente, pois Roma concordou. O Pe.
Carlos Maria foi nomeado Superior de Campina Grande e todos os
outros troninhos tinham de ser trocados, menos o meu, em
Garanhuns.
Após a restauração da paz e da tranqüilidade, o Pe. João
Batista tomou posse, demonstrando toda boa vontade para conduzir
a Vice-Província com mão firme. Sob sua direção e orientação,
vamos viver a fase laboriosa, mas também empolgante, das
construções, a saber: o Convento da Madalena no Recife, o
Convento e Seminário Menor em Campina Grande, e a organização
do Noviciado em Garanhuns. Houve também uma procura obstinada
de um grande terreno para o Seminário Maior no Recife, e o cuidado
de uma formação de um “Corpus Doctum”, para que tivéssemos
professores acadêmicos para uma sólida formação dos nossos
estudantes professos.
Para esse Seminário Maior, o Pe. João Batista comprou em
1960, um grande terreno em Aldeia (perto do Recife), após ter
20
visitado e desaprovado muitos outros terrenos. Por causa desta
preocupação constante com terrenos, os confrades mais
“maliciosos” lhe deram o apelido de João Terreno e, quando certos
terrenos foram vendidos por causa de novas circunstâncias, ganhou
o nome de “João sem terra”.
Caracterizando a pessoa e a ação dele em poucas palavras,
podemos afirmar o seguinte: foi uma pessoa profundamente
religiosa, exercendo a sua autoridade de uma maneira atrativa e
desarmada. Tratava todos os confrades com muita delicadeza e
humanidade e, havendo um choque de idéias ou de atitudes que
não lhe agradavam, então, depois de poucos momentos de irritação,
dizia logo: “Pois bem, não vamos mais tocar neste assunto”. Nesta
situação do Nordeste, tinha largado a atitude autoritária e marcial
dos Superiores antigos. Também se preocupava muito com o futuro
da nossa Congregação no Nordeste Brasileiro.
Foi, de fato, um acontecimento muito trágico quando todos os
seus planos, referentes à estruturação de uma nova Província
Brasileira florescente desabaram como se fosse um castelo de
cartas.
Porém, “Toutes ses miséres-lá prouvent sa grandeur”!
(Pascal, Pensées).
Em 1967 houve nomeações de Superiores e Pe. João
Batista, que pedira sua renúncia, por causa da sua saúde muita
abalada, foi nomeado Superior e Vigário da paróquia praiana de São
José da Coroa Grande. O enfraquecimento de sua saúde e alguns
ataques cardíacos foram também devidos a tantos contratempos e
dolorosas desilusões.
Em 1970, retornou definitivamente para a Holanda e ainda
aceitou e realizou aí um trabalho de pastoral dos enfermos, num
Hospital. Durante quase sete anos, pôde atender com muito jeito e
carinho a um grande número de doentes. Faleceu em 1977 e foi
sepultado na cripta de Wittem - Holanda.
Em tempo: Em 1959 a sede do Vice-Provincialato foi mudado
de Garanhuns para Recife.
“O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros assim
como eu amei vocês.
Não existe amor maior do que dar a vida
pelos irmãos”.
(Jo 15, 12-13).
21
8. Pe. Miguel (Hubertus) Radermacher, CSsR
Falecido em Wittem (Holanda) 17-08-1977 (88 anos)
O Pe. Miguel, ordenado sacerdote em 1913 chegou ao Brasil
em 1920. Das suas atividades na Holanda pouco conheço a não ser
a fama das suas idéias renovadoras. A época gloriosa da sua vida
teve início no Brasil.
Durante 50 anos pregou Missões em muitos Estados do
Brasil.
Esforçava-se
muito
para
conseguir
um
profundo
conhecimento da mentalidade do povo e tinha um carisma especial
para fazer da Santa Missão um grandioso acontecimento religioso,
do qual todo povo participava. Trabalhou na então Vice-Província do
Rio de Janeiro de 1920 a 1947 especialmente na nossa casa de
Campos-RJ, que se tornou o centro de sua ação missionária.
Recordo-me da sua grande admiração pelo missionário Pe.
Estevão, da Província de São Paulo.
Em 1947 o Pe. Miguel recebeu a incumbência de ser um dos
fundadores da nossa primeira fundação no Nordeste: Garanhuns.
Não posso deixar de elaborar uma exposição um pouco mais
extensa sobre a vida missionária deste grande missionário porque,
nesta fase de reavivamento das Missões na Vice-Província do
Recife, ele poderia, mutatis mutandis, servir de modelo para a nova
geração de missionários.
Em 1950, numa visita à Cachoeira de Paulo Afonso, BA, que
ainda se encontrava na sua maravilhosa beleza original, o
missionário Miguel anotou no livro de visitantes: “As águas se
agitam e espumam... há um rio cujos braços alegram a Cidade de
Deus”! Sl 46, 4-5.
Aqui já temos algo que revela a sua personalidade complexa:
“Agitar” e “Alegrar a Cidade de Deus”. Isso veremos plenamente na
sua maneira de pregar as Santas Missões e no seu trato
maravilhoso com o povo mais humilde. Por causa dos traços muito
diversificados da sua personalidade, é bastante difícil produzir uma
imagem clara e nítida deste grande missionário.
Muito firme e constante nos moldes dos nossos antigos; era
muito escrupuloso na administração dos sacramentos, mas possuía
também, o precioso dom do humor brilhante e sabia relativizar.
Era um homem de um saber vasto e universal, poliglota e
latinista de primeira qualidade; técnico “sui generis”, as suas
22
invenções no terreno da eletricidade eram tão complicadas e
primitivas que davam choque em todo mundo que se aproximava!
Em todas as Missões pregadas por Pe. Miguel encontramos o
mesmo padrão: os quadros luminosos projetados numa parede da
Igreja através de uma máquina antiquada que só ele sabia
manusear; inúmeras procissões e levantamento de Santos
Cruzeiros. Esses foram os meios por excelência para “alegrar a
cidade de Deus”, que é o povo mais simples.
Nos primeiros anos depois da nossa chegada ao Nordeste, o
Missionário Miguel encontrou certas barreiras.
Chegamos ao Nordeste imbuídos do espírito missionário
próprio da época, rigorosamente marcado pelo mais pobre sistema
Afonsiano trazido da Europa. A Missão teria de criar um clima de
temor e de muito rigor, de sobriedade moldada em regras fixas e
invioláveis. Mas o não-conformista e “agitador" Pe. Miguel já tinha
fugido de certas normas. Isto se deu no Estado do Rio de Janeiro,
território reservado para os missionários de uma imaginação rica,
pois o povo era religiosamente muito frio e não corria para as
Missões como em Minas.
Por isso, durante a fase inicial das Missões no Nordeste, a
partir de 1947, pregadas pelos Padres Inácio, Miguel e Adriano, o
Pe. Miguel tinha que ficar a pulso dentro da chamada linha
“Afonsiana”. Portanto, havia um bloqueio para ele e não havia
espaço para a sua criatividade. Entretanto, ouvi uma vez, naquele
tempo, o riso do povo durante o sermão sobre o inferno. Quando lhe
perguntei como poderia tolerar essa hilaridade, tão contrária à
vontade dos nossos superiores, o Pe. Miguel me respondeu
laconicamente: “São doidos! Eles não compreendem que esse povo
já passa por um verdadeiro inferno de sofrimento neste mundo”.
Nestas palavras revela-se sua intenção: mostrar o rosto
humano de Deus, compassivo, paciente e misericordioso.
Passados alguns anos, devido a certas circunstâncias, este
filho de Santo Afonso conseguiu libertar-se desses padrões rígidos;
vendo as multidões esgotadas, tinha para com elas compaixão
evangélica e genuinamente Afonsiana! Particularmente no interior, a
Santa Missão é para o povo uma festa, um desabafo no meio de
tanto sofrimento.
Plenamente apoiado pelo superior, Pe. Carlos Maria Donker,
o Pe. Miguel começou a concretizar aquilo que tanto desejava: a
conversão do povo, não só pelo temor de Deus, mas também pelo
encanto das belezas externas da Religião, tão caras ao povo, como
23
manifestação do seu grande amor ao Pai, que os sustenta no meio
de tantos sofrimentos. São organizadas, então, as procissões,
apresentadas as projeções luminosas, levantados os Santos
Cruzeiros e outras solenidades com cavaleiros etc., etc. É uma série
infinita de invenções engenhosas que só ele poderia criar.
Existem exemplos de sobejo que nos mostram o Pe. Miguel
como Missionário autêntico do povo, o homem de Deus que agita
mundos e fundos para alegrar a Cidade de Deus.
Certo dia, fomos mandados a pregar Missão em Belo JardimPE. O Pe. Miguel animou tanto o povo que, numa noite,
compareceram 82 procissões minúsculas juntando em frente da
Matriz, 82 andorzinhos com Santos de todo tamanho e qualidade.
Mais de trinta “Nossas Senhoras” diferentes! Para o povo foi uma
festa nunca vista e se via a satisfação estampada nos rostos tão
marcados pela dor e pela dureza da vida.
Mas essa multidão de coros celestiais foi submetida a um
processo de redução do número e, aos poucos, entramos na
gloriosa época dos andores gigantes. O Pe. Miguel, então vai dar
toda a sua atenção a esses andores enormes.
A confecção era bastante simples: ele escolhia uma mesa
sólida, larga e comprida. Nessa mesa eram pregados caibros bem
fortes para o andor poder ser conduzido por um grande número de
homens, fortes e bem dispostos. Em cima da mesa havia um
pedestal que sustentava a Imagem do Santo ou Santa, ricamente
adornada com flores. O espaço livre se preenchia com Anjos de
todas as hierarquias do céu. De noite não faltavam os dois célebres
candeeiros de querosene que ele acendia tão logo anoitecia. Estes
candeeiros eram a “menina dos olhos” do Santo Missionário.
Durante a viagem, no ônibus, não deixava ninguém tocar neste
tesouro e suportava a viagem dura, por caminhos quase
intransitáveis, com os candeeiros no colo como se fossem dois
nenéns!
Na hora da Procissão, o Missionário Pe. Miguel ficava bem
em frente do andor-gigante: numa das mãos o santo terço e na
outra o inseparável guarda-chuva e uma sineta. Desde que numa
procissão um fio elétrico cortou a cabeça de São Cristovão, o
Missionário prestava toda a atenção aos movimentos do andor, pois
todo cuidado era pouco. Quando porém, o canto fervoroso e as
emoções religiosas provocavam um aumento exagerado de
velocidade no andar dos homens do andor, ele parava, tocava com
24
toda força a sineta e gritava: “Parem! Parem! Rezavam-se três AveMarias ao Santo Anjo da Guarda e isso acalmava todo mundo.
O levantamento do Santo Cruzeiro e a procissão que
antecedia tinha o mesmo estilo que impressionava a todos.
Com muita segurança, enfrentava o perigoso trabalho da
implantação, pois já tinha plantado quase 300 cruzeiros, de todo
tamanho, durante a sua vida missionária. De vez em quando
avisava em tom de brincadeira: “Os homens que não se
confessaram na Santa Missão, não toquem no Santo Cruzeiro, pois
vão queimar as suas mãos”!
Quanto à sua maneira de pregar, seguia o pronunciamento
bem claro de São Marcos: “Assim, usando muitas comparações,
Jesus falava ao povo de um modo que eles podiam entender” (Mc 4,
33). O sermão do Pe. Miguel era tão simples na sua linguagem que
um estranho mais instruído poderia pensar que fosse um Padre
muito simplório. Uma noite, o Pe. Miguel reagiu contra essas críticas
fazendo um sermão em estilo clássico, de acordo com as regras
mais finas da oratória dos grandes mestres e citando
abundantemente vários textos das Escrituras em Latim, pois era um
latinista de mão cheia. Tudo foi feito num português castiço de
Camões. Foi uma peça de oratória tão primorosa que deixou
boquiabertos os “intelectuais” do lugar.
E depois, ele me disse na sacristia: “Adriano, esses doidos
não conhecem o povo e nem olham para ele”!
Ficou na história a comemoração do Centenário de Nossa
Senhora de Lourdes (1858 - 1958). O fato se deu na cidadezinha de
São Benedito-PE (Quipapá). O Pe. Miguel queria oferecer a Nossa
Senhora de Lourdes 100 casamentos (legitimações). Todas as
noites repetia várias vezes: “Em honra de Nossa Senhora de
Lourdes quero cem noivos e cem noivas! Digam todos: Cem noivos
e cem noivas”. Assim, foi provocada uma verdadeira avalancha
rápida e violenta que arrastava consigo todos os casais ainda não
legalizados. O número de cem casamentos foi conseguido e foi um
verdadeiro triunfo.
E assim, poderíamos continuar com muitas e muitas estórias,
mas a realidade é como São João dizia: “Se todas elas fossem
escritas, uma por uma, acho que nem no mundo inteiro caberiam os
livros que seriam escritos” (Jo 21, 25).
Não posso, porém, concluir este “In Memoriam” do Pe.
Miguel, sem dizer algo sobre a sua contínua preocupação pela
saúde do povo mais pobre.
25
Antes de tudo, devemos mencionar o seu célebre remédio
Simaruba, cujas raízes e casca têm uma grande força medicinal. O
Pe., Miguel considerava a simaruba uma verdadeira panacéia.
Ele dizia: “A simaruba cura dos males, mas principalmente a
verminose e a mais ferrenha inimiga da saúde do povo: a terrível
ameba”. Foi um enorme benefício para muitos pobres, que não
tinham recursos para procurar a medicina “ortodoxo”.
Muito conhecidas também, são suas campanhas fervorosas,
durante as Santas Missões, para que o povo fizesse privadas com
fossas e tivesse todo o cuidado com a água. Por isso, fazia apelos à
comunidade toda para que ajudasse o pobre a adquirir filtros para
purificar a água. E muitos outros conselhos o povo escutava com
toda atenção para prevenir-se contra as doenças endêmicas. Deste
modo, o Pe. Miguel adquiria a simpatia do povo e todos eram mais
inclinados a aceitar os seus conselhos nos diversos níveis da vida.
Eis aí um retrato fiel, mas também incompleto do nosso
grande missionário Miguel. No dia 22 de dezembro 1947, fez a sua
entrada oficial em Garanhuns e saiu de lá em 1970 por motivos de
saúde e idade avançada. Encontrou, porém, no convento de Wittem
(Holanda) todo o carinho e os melhores cuidados da parte do
Superior, Pe. Marino Krinkels, e da comunidade. Mas até o fim da
sua vida em 17 de agosto de 1977, com 88 anos de idade, sempre
sentia profundas saudades do seu povo nordestino! Foi sepultado
na Cripta do Convento de Wittem.
“Vinde, bendito do meu Pai, para o reino que vos está
preparado desde o começo do mundo” (Mt 25, 34).
“Quem teve a felicidade de participar de uma Santa Missão
pregada pelos Padres Redentoristas, associa-se, de coração à ação
de graças pelo bem derramado pela Providência, em nosso País,
através destes especialistas em contato com a nossa gente!
A ação de graças ainda se torna maior quando encontramos
os Missionários de ontem adaptando-se aos tempos de hoje, a
Missão valia sempre!”
D. Helder Câmara
Arcebispo Emérito de Olinda e Recife-PE.
26
9. Pe. Bernardo (Bonifácio) Winkel, CSsR
Falecido em Wittem, Holanda - 19-04-1981 (60 anos)
O Pe. Bernardo faleceu no dia da Páscoa de 1981. Tinha 60
anos de idade. A “causa mortis” foi um tumor maligno no estômago.
Foi meu colega de turma e fomos ordenados sacerdotes no
dia 24 de abril de 1946. Após a ordenação, o Pe. Bernardo estudou
Inglês e Filosofia durante 5 anos na Universidade Católica de
Nijmegen.
Em 1951 veio para o Brasil para assumir o encargo de
Professor de Filosofia no nosso Seminário Maior, em Floresta-MG,
da Província do Rio de Janeiro. Além disso, fez um trabalho no meio
do povo do campo, pois tinha uma predileção pela área do campo.
Durante vários anos foi ecônomo da Casa de Floresta. Em 1960 foi
nomeado Reitor do nosso Convento de Juiz de Fora e Vigário da
Igreja da Glória. Porém, não se deu bem com a pastoral urbana e
sentia muitas saudades do povo do interior. Depois, teve a sua
atuação também nas Casas de Belo Horizonte, Curvelo e
Congonhas, mas tive informações a respeito da sua ação pastoral
nessas Casas.
Em 1967 no auge da crise na Província do Rio de Janeiro
veio para o nordeste e viveu intensamente o seu grande amor pelos
camponeses em Paratinga, Ibotirama e Bom Jesus da Lapa, no
árduo sertão da Bahia. Nessa região realizou também, muita coisa
prática para os camponeses e por causa disto tornou-se muito
estimado pelo povo. Ele não se poupava a trabalhos e sacrifícios
para atender ao povo, fazendo longas viagens pelo sertão a fora.
Depois desses serviços pastorais na região da Lapa, teve ainda um
campo de trabalho em Arcoverde-PE e Juazeiro da Bahia.
Em 1975 após a supressão da Casa de Juazeiro, aceitou as
paróquias de Angelim e Palmerina-PE. Nessa região do agreste
pernambucano dedicou-se com todo zelo ao bem do povo.
De todas as ocasiões aproveitava para anunciar a Palavra de
Deus e, vendo o homem na sua totalidade, procurava soluções para
sérios problemas sociais da população rural.
O Pe. Bernardo não tolerava qualquer ação que fosse
prejudicial ao povo e, de vez em quando, enfrentava atritos com os
“grandes” daquela terra; assim procurava sempre defender os
direitos do povo.
27
O Pe. Bernardo era o mais inteligente da nossa turma no
Seminário Menor e Maior. Era imbuído da doutrina teológicafilosófica escolástica e, portanto, um fervoroso discípulo de Santo
Tomás de Aquino. Por isso teve muita dificuldade para aceitar a
validade de correntes mais modernas e atualizadas da nova
Teologia e também uma forte aversão à exegese da Escritura
Sagrada mais moderna. Quando foi publicado o “Novo Catecismo
Holandês”, ele me dizia com certo desdém: “Adriano, aquele
catecismo tem só poesia”!
A Vice-Província do Recife deve muito ao Pe. Bernardo, por
causa dos seus trabalhos muito eficientes para os nossos Capítulos
como Moderador. A sua perspicácia era impressionante, como
também a “equidade” com ele julgava as coisas e as situações.
Devido à sua formação acadêmica, sabia fazer exposições claras e
esclarecedoras, e a problemática mais intrincada sabia analisar de
uma maneira excelente, usando uma linguagem bem simples, pois
tinha aversão ao uso de palavras “científicas” da moda e à
sofisticação. Já muito doente, o Pe. Bernardo desempenhou um
papel importante nas sessões orientadas por ele, no Capítulo de
1979.
Em 1978 foi à Holanda para se tratar. Após a descoberta do
tumor maligno no estômago, foi feita a gastrectomia total. Após um
ano de convalescença, teve a incrível coragem de retornar para o
seu trabalho na paróquia de Palmeirina-PE.
Em 1980 a situação piorou tanto que ele repatriou-se
definitivamente, apesar das esperanças que mantinha de um dia
poder voltar a Palmerina. Para se ter idéia da sua vivência nos
últimos dias da sua vida, vamos dar, em resumo, o conteúdo das
últimas cartas. Uma era dirigida ao nosso Vice-Provincial, Padre
Humberto Plummen em 06 de abril de 1981 e a outra a mim, na
véspera da sua morte. As suas palavras revelam uma profunda
confiança em Deus, muita tranqüilidade, nenhum medo ou angústia,
grande interesse pelo outro e pelas coisas deste mundo e isso até o
fim.
Seguem algumas citações para mostrar as suas disposições
no fim da vida:
“Queria ter trabalhado com vocês no Brasil por muito mais
tempo ainda. Deus não o quis. Ele me deu, entretanto, um belíssimo
aniversário natalício no dia 28 de março (fiz 60 anos). Celebrei com
muita alegria este dia no meio dos meus familiares”.
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Depois deste dia tão maravilhoso recomeça a Via-Sacra e as
dores contínuas em diversas partes do corpo vão revelando a
metástase do câncer. Então o Pe. Bernardo pede a Unção dos
Enfermos. Ele escreveu: “Pedi o sacramento da Unção dos
Enfermos e o recebi no meio de uma confortadora “corona fratrum”.
Sempre quis receber esse sacramento com perfeita lucidez para
aproveitar o máximo dos frutos da Unção. Agora, espero pela
vontade de Deus e que este tempo de espera não se prolongue
demais. Não participarei mais dos novos rumos que vocês aí estão
procurando, mas continuo a ter interesse e acompanho vocês com
as minhas orações aqui e, dentro em breve, no outro mundo”.
No dia da festa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Pe. Bernardo entrou na glória do amor eterno de Deus.
Foi sepultado em Roermond, no nosso cemitério, no jardim
do Convento.
“Eu o enchi com o espírito de Deus em Sabedoria, em
entendimento
e conhecimento para toda espécie de trabalho”.
(Ex 31, 3).
29
10. Pe. Antonino Witschge, CSsR
Falecido em Arcoverde-PE - 21-03-1987
Pe. Antonino chegou ao Brasil em 1955 e completou os seus
estudos teológicos no Seminário de Floresta-MG. Aí foi ordenado
sacerdote em 1945 e depois de sua ordenação foi enviado para o
Nordeste e incorporado a diversas equipes missionárias. Teve uma
ação pastoral intensa no Santuário do Bom Jesus da Lapa (19561958), em Garanhuns (1958-1961), em Garanhuns (1958-1963),
mas, na década de sessenta, a vida do missionário seguiu outro
rumo.
Após o ano de 1960 tivemos no Brasil os diversos
movimentos de Pastoral de conjunto e Pe. Antonino engajou-se nos
movimentos de Natal e do Mundo Melhor. Trabalhou vários anos
acompanhando o Pe. José Marins, quando o movimento do Mundo
Melhor estava no seu auge. Fez uma série quase infinita de viagens
aéreas pelo Brasil a fora, acompanhando a equipe de Pe. José
Marins e Frei Tepe, OFM.
Em 1969 foi nomeado Secretário Executivo da CNBB-NE II e
ao mesmo tempo da CRB. Foi a época mais ferrenha da ditadura
militar e das perseguições contra Dom Hélder Câmara, a cujo lado o
Pe. Antonino ficou com toda solidariedade.
A partir de 1975 até o dia da sua morte, dedicou-se como
Superior à coordenação das comunidades de Campina Grande e
Arcoverde, havendo um intervalo em Monteiro-PB, onde fez parte da
Equipe Missionária do Carirí com os Padres Gabriel e Frederico.
Apesar de todas as suas ocupações, ele achava tempo para
ajudar nos Cursilhos de Cristandade, dos quais era fervoroso
adepto.
Recebia muitos convites para pregar retiros para religiosas,
pois as freiras não só gostavam demais das suas conferências bem
preparadas, mas também da sua voz melodiosa que empolgava a
todas. Durante vários anos foi o responsável pela coordenação da
Pastoral das Dioceses de Campina Grande e de Pesqueira.
Finalmente, devemos mencionar uma outra atividade muito
importante: o seu zelo enorme para estimular as nossas vocações
religiosas e sacerdotais. Tinha ele constante preocupação pelas
vocações. Já muito doente encontrava ânimo para reunir os jovens
vocacionados, a fim de estimulá-los para chegarem a uma opção
consciente, firme e generosa. Por isso, com muita justiça a
30
Comunidade Vocacional de Garanhuns, transferida em 1997 para
Campina Grande recebeu o seu nome: Comunidade Vocacional “Pe.
Antonino”.
Em tempo: Na década de sessenta, o Pe. Antonino
desempenhou um papel preponderante na formação de Diáconos
casados na Ilha de Itaparica-BA. Na conhecida revista americana
“TIMES” foi até publicado um artigo sobre os “Married Deacons” do
Pe. Antonino Witschge, CSsR.
A morte repentina do Pe. Antonino comoveu a todos e na
solidariedade do povo de Arcoverde manifestou-se claramente sua
vivência de amigo e irmão de toda gente, por mais pobre e simples
que fosse.
O Pe. Antonino foi sepultado no domingo, 22 de março de
1987 na igreja de N. Sra. do Perpétuo Socorro de Arcoverde.
A missa de Exéquias foi presidida pelo Bispo Dom Manuel
Palmeira da Rocha e concelebrada por 21 Sacerdotes. A multidão
(milhares) de participantes foi tão grande que toda a solenidade foi
realizada ao lado da nossa Igreja-Matriz.
Neste “In Memoriam”, não posso ressaltar melhor esta figura
marcante da nossa Vice-Província do que alegando os testemunhos
de quatro Bispos da Igreja do Nordeste, para que se tenha logo uma
idéia do quanto ele era estimado por estes como também por outros
Bispos do Brasil.
h “Pe. Antonino fez muito pelo Nordeste e a Igreja da Paraíba
foi uma das beneficiárias de seu zelo apostólico. Por isso, também
entre nós, permanece a lembrança da sua presença alegre, fraterna
e dedicada”.
h Dom José Maria Pires
Arcebispo da Paraíba.
h “O Pe. Antonino era o Redentorista, o anunciador da
Palavra de Deus, o catequista, o ministro de Deus; o Vigário que, na
véspera de sua morte, celebrou a Santa Missa e pregou aos
Cristãos na Capela de Placas. Era amigo do povo. Foi por tudo isso
que tantos sentiram e choraram quando se viram privados de sua
presença e de sua palavra”.
h Dom Severino Mariano Aguiar
Bispo Emérito de Pesqueira-PE.
h “Quero salientar aqui os serviços prestados por ele ao
nosso clero diocesano e o incentivo que ele sempre trouxe à nossa
pastoral. O Pe. Antonino é muito lembrado entre nós e seu grande
31
espírito missionário deixou marcas profundas nessa região que
mereceu tê-lo por alguns anos”.
h Dom Gerardo Andrade Ponte
Bispo de Patos-PB.
h “A CNBB - Regional Nordeste II muito deve pelo seu
trabalho e dedicação como secretário executivo, em nossa
Arquidiocese, onde serviu durante algum tempo”.
h Dom Antônio Costa
Bispo Auxiliar de Natal-RN.
Foram esses e muitos outros testemunhos do mesmo teor e
alto apreço que recebemos após a morte do Pe. Antonino.
Devido a sua preocupação com as vocações e os muitos
trabalhos realizados nesta área o seu nome foi dado à casa de
formação que acolhe os aspirantes da Vice-Província em Campina
Grande, PB.
“Ó Deus, eu cantarei para Ti um Cântico novo”.
(Sl 144,9)
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11. Irmão Vito Vermeulen, CSsR
Falecido em Nijmegen, Holanda - 19-04-1988
(81 anos)
Entre nós o Irmão Vito era conhecido e respeitado por todos,
por causa da sua vida religiosa edificante e do seu trabalho
incessante pelo bem dos confrades, apesar da sua deficiência física
no quadril e na perna, provocada por um acidente quando era
menino.
Em 1947 foi transferido para Suriname; passou sete anos no
interior daquele País, colocando os seus conhecimentos e
experiência na agricultura a serviço do sustento da Missão.
Devido à sua grande modéstia, falava bem pouco sobre todas
aquelas atividades no Suriname.
Em 1954 chegou ao Nordeste Brasileiro e recebeu a
incumbência de explorar a nossa fazenda em Campina Grande-PB,
chamada “Sítio Britto”. A idéia fundamental era cultivar aquelas
terras para o sustento do seminário quanto aos gêneros alimentícios
básicos. Para isso, montou também uma vacaria (havia muito pasto)
e uma pocilga. Aos poucos e com muito sacrifício, apesar da falta de
recursos financeiros, a “fazenda” evoluiu.
Foram anos bastante duros e inclementes, com diversas
secas e outros contratempos. Precisava-se de muita energia e de
uma fé persistente para cultivar os terrenos pedregosos e continuar
a criação do gado ameaçada pelas secas que acabavam com os
pastos. Mas, ao seu lado tinha o Irmão Damião, também um homem
cheio de vida e de espírito arrojado.
O Irmão Vito não era homem para fazer grandes negócios
com os poderosos fazendeiros que, apesar de tantos fatores
negativos, são capazes de enriquecer em pouco tempo. A razão é
que o Irmão Vito considerava a dimensão social, a qual era muito
importante para ele. Por isso, pagava aos empregados até mais do
que era justo; a sua maior preocupação era ajudar os pequenos,
arranjando para eles pedaços de terra para cultivar.
Os mais pobres podiam sempre contar com os dois Irmãos:
Vito e Damião.
É difícil imaginar quão grande deve ter sido o sacrifício,
causado pela sua deficiência física, para suportar todos os trabalhos
no campo.
33
Foram feitas várias tentativas para curar esse defeito
incômodo; foram feitas várias operações, mas não houve jeito.
Ele tinha de conviver com esse problema, e seu espírito tenaz
venceu todos os obstáculos.
Irmão Vito deu-nos um exemplo maravilhoso de doação a
Deus e aos seus irmãos. Uma parte da noite era rigorosamente
reservada aos exercícios religiosos e à sua vida intensa de oração.
Ele lia muito e sua cultura universal era conhecida.
As mudanças na Igreja, na Congregação e no mundo não
tiravam a sua tranqüilidade, graças ao seu espírito aberto.
Continuava os seus trabalhos e sua união com Deus do jeito
que aprendera nos moldes do passado. Por causa do seu espírito
elevado e da sua convivência fraterna, não houve um momento
sequer em que censurasse os outros ou tomasse atitude reacionária
de condenação, de conceitos novos, mais adaptados ao nosso
tempo. Isso, certamente, por causa do seu bom senso.
No mês de agosto de 1976 o Irmão Vito voltou para a
Holanda, cansado da luta, mas não se entregou ao “dolce far
niente”. No nosso convento do Nebo retomou as atividades de
jardineiro, no belíssimo jardim da casa até quando a doença invadiu
a sua vida. Edificou a toda nossa comunidade com a sua atitude
calma e tranqüila durante a doença dolorosa e diante da morte.
Faleceu no dia 19 de abril de 1978 e no dia 23 foi sepultado no
cemitério do nosso convento, no meio do seu delicioso jardim.
No fim da vida escreveu uma carta ao Irmão Urbano: “Espero
que você possa presenciar, um dia, o progresso dos camponeses
pobres do Brasil, ajudados pelos métodos e técnicas de plantação e
de cultivo que você procura ensinar-lhes. Que eles, felizes e
satisfeitos, possam cultivar os produtos necessários para o seu
sustento num pedaço da terra que seja inteiramente deles”.
E mais adiante: “A área para as minhas atividades corporais
está ficando cada vez mais limitada, mas o meu espírito goza de
liberdade como um passarinho no céu! Com uma velocidade que,
comparada à luz, não anda mais depressa do que um caramujo,
meu espírito corre pelo Universo e abrange num só momento o céu
e terra, que ficam tão próximos, jamais tão unidos e entrelaçados
para mim como agora, quando, no meu leito, tenho tempo para
refletir sobre isso”.
E no fim: “Que felicidade saber que tudo passa! Ele, que nos
criou, sempre está disposto a ajudar-nos, para que possamos
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superar as nossas fraquezas e todos os problemas da vida. Ele nos
conduz ao nosso destino final, à nossa eterna felicidade junto d’Ele”!
“Vejam como um lavrador espera, com paciência, que a sua terra dê
colheitas preciosas...
Não desanimem, porque a vinda do Senhor está perto”.
(Tg 5,7)
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12. Ir. Suibert (Gilberto) Geritsen, CSsR
Falecido em Nijmegen, Holanda - 26-06-1989
(77 anos)
O nosso Irmão Suibert começou a sua vida missionária no
ano de 1947 no Suriname.
Chegou ao Nordeste brasileiro em
1955 e atuou na nossa Vice-Província do Recife até 1974.
Este irmão não era dotado de grandes qualidades técnicas
como os outros Irmãos da Vice-Província; a área dele era o trabalho
doméstico e nestes afazeres sentia-se realizado. A passagem de
Suriname, onde a língua holandesa é dominante, para um ambiente
de língua portuguesa, foi muito pesada para o Irmão. Mas,
surpreendentemente ele soube vencer essa dificuldade de uma
maneira ou de outra. Portanto, o problema da língua, tão estranha
para ele, não se tornou uma barreira, pois sempre encontrava outras
formas de comunicação, que tinha pleno êxito.
Logo após a sua chegada ao Brasil, o Irmão já não precisava
de companhia nem de intérprete para fazer as compras na feira;
mesmo assim, chegava em casa com tudo de que estávamos
precisando e até conseguia de uma maneira mais econômica do
que os outros confrades, que sabiam expressar-se muito melhor do
que ele.
Irmão Suibert era conhecido por seu espírito de serviço à
Congregação e à Igreja. Era um trabalhador incansável fortemente
apaixonado pela mais perfeita limpeza. Caprichava no asseio da
Igreja e da casa. Isto fazia com que a casa parecesse um convento
de freiras! Todo o trabalho do Irmão era realmente perfeito e sentiase bem quando a gente o elogiava, pelo menos uma vez por dia.
Também era um bom pintor e, muitas vezes era convidado pelas
comunidades para realizar trabalhos de pintura.
Ele trabalhou mais nas casas de Garanhuns, Juazeiro da
Bahia e Arcoverde. Em Arcoverde aconteceu que um dia teve uma
conversa prolongada e animada com a nossa lavadeira. Foi um jogo
de “palavra puxa palavra” e a lavadeira ficou bastante
impressionada. Depois ela nos disse que tivera uma conversa muito
boa e esclarecedora com Irmão Suibert. Quando perguntamos sobre
o assunto, ela respondeu: “Ai não sei, pois eu falava na língua da
gente e ele falava na dele, mas em todo caso me fez bem”.
Outro acontecimento em Arcoverde: Irmão Suibert tinha
pegado um gato muito perturbador do silêncio religioso e mandado
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para o “céu dos gatos”... O nosso vizinho, dono do bichinho, chegou
furioso à nossa casa, reclamando energicamente contra o crime do
Irmão: “O senhor não sabe que matar um bichinho inocente é
pecado mortal?” Então o Irmão procurou recolher todo o seu
conhecimento da língua portuguesa e respondeu: “pekkei mortá;
pekkei mortá ??” Você na zona, “pekkei mortá !...” Não sei qual a
resposta do vizinho enfurecido...
A última vez que tive uma conversa com Irmão Suibert foi nos
jardins do Vaticano, em Roma. Isto se deu em 1982, por ocasião da
Beatificação do Pe. Pedro Donders, CSsR.
O Irmão não gostou da situação desalinhada dos jardins e me
disse: “Se eu estivesse aqui, com minhas ferramentas, faria uma
limpeza geral em poucos dias”. E certamente, conseguiria, pois
dispunha de energia suficiente para limpar toda a Basílica de São
Pedro!
Em 1974 Irmão Suibert retornou para a Holanda e foi
incorporado à Comunidade do Convento do Nebo onde continuou as
suas atividades, principalmente no nosso jardim. Aos poucos, porém
foi sendo acometido de um enfraquecimento da capacidade mental;
chegou a tal ponto que foi preciso interná-lo no Instituto Psiquiátrico
São Joaquim e Santa Ana. Nesta última fase da sua vida em estado
de demência avançada, recebeu um tratamento médico excelente e
todos os cuidados de um serviço de enfermagem muito competente.
O nosso confrade Irmão Suibert foi um religioso muito
piedoso, homem de muita oração; fez todos os seus trabalhos
(também certas atividades pastorais em Arcoverde) com todo amor
e dedicação. Entre nós viveu como um “servo bom e fiel” e, por isso,
certamente “está tomando parte na alegria do Senhor”.
Por tudo que fez por nós e pela Vice-Província do Recife,
devemos ser gratos, reconhecendo os grandes sacrifícios que ele
suportou com tanta simplicidade.
Foi sepultado no cemitério do Convento, no centro do jardim.
Com toda razão, podemos aqui repetir as palavras de Jesus:
“Eu te louvo, Senhor do céu da terra,
porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes,
e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do Teu
agrado”.(Mt 11,15)
13. Pe. João Pedro Peters, CSsR
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Falecido em Roermond, Holanda - 21-10-1989
(66 anos)
O Pe. João Pedro, nosso ex-companheiro no Nordeste. Ele
chegou ao Brasil em 1952 em Garanhuns-PE. Até 1955 fez parte da
célebre equipe missionária: Pes. Miguel, Raimundo e João Pedro.
Nas Santas Missões, o Pe. João Pedro era o Padre da
meninada e tornou-se o catequista por excelência. O jeito dele era
tão atraente que as crianças o adoravam, pois ele sabia inventar
brincadeiras que entusiasmavam a turma.
Já em 1955 teve as suas primeiras experiências de vida
paroquial, na Matriz de Nossa Senhora do Livramento, em
Arcoverde.
Em 1956 foi transferido para Campina Grande para ser
Vigário de Bodocongó. Aí viveu o surgimento quase súbito da “maré
alta” e o “auge” da Novena Perpétua em honra de Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro. Todas as terças-feiras havia uma afluência de
milhares de pessoas e a cidade se movimentava em procura de
Bodocongó para assistir à Novena Perpétua. Havia mais de 12
novenas; desde a manhã cedinho até as nove horas da noite, a
Igreja ficava repleta de fiéis e até a pracinha se enchia por falta de
lugar na Igreja. De fato, é surpreendente que esse movimento,
embora tenha diminuído um pouco, continue até o dia de hoje.
Mas naquele tempo, o moinho das nomeações e das
transferências não parava; em 1959 o Pe. João Pedro foi nomeado
Superior e Vigário de Arcoverde-PE. Naturalmente o povo de
Arcoverde o recebeu de braços abertos. O Pe. João Pedro
permaneceria em Arcoverde até 1969. O povo de Arcoverde, da
cidade e do interior, gostava muito dele, pois ele tinha o dom de
comunicar-se com todo mundo de uma maneira simpática e
delicada e sempre estava à disposição do pequeno e do pobre.
Também possuía o carisma para tratar os doentes de uma maneira
adequada e sua comunicação com as crianças era famosa. O
mesmo se diga quanto à sua maneira de tratar os pobres e o povo
mais simples.
Na roda dos grandes e dos ricos não se sentia à vontade e
deles mantinha sempre distância.
Pessoalmente, tive a felicidade de morar com ele em
Arcoverde em 1966. Naquele tempo eu era um “chefão” destronado
e portanto simples soldado.
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A gente se dava bem um com o outro e o seu dom
humorístico aliviava o peso das duras situações e dos trabalhos
excessivos.
Vivemos uns dias muito tristes quando chegou a notícia do
falecimento da mãe do Pe. João Pedro. Naquele tempo, não havia
possibilidade de visitar a família em casos tão dolorosos, e a gente
tinha que agüentar toda aquela tristeza longe dos familiares. O Pe.
João Pedro não conseguia superar aquela dor, apesar de todas as
cartas confortadoras das suas irmãs.
O clima de desânimo estava fazendo mal a nossa
convivência e às nossas atividades pastorais. Por isso certo dia, fizlhe a proposta de deixarmos Arcoverde por tempo indeterminado.
Ele concordou e então, viajamos juntos, em nosso fusquinha, à
Salvador.
Em Salvador, na praia de Ondina, fomos cordialmente
recebidos pelos nossos confrades Pedro Canísio, Paulo e Roberto
Dera.
O Pe. João Pedro nunca vira as maravilhas daquela
belíssima cidade e gostou demais. Aos poucos, ficou mais animado
e tudo tornou-se mais suportável para ele; pôde então enfrentar a
caminhada para uma aceitação positiva da perda de sua mãe.
Em 1969 o Pe. João Pedro voltou à Holanda por vários
motivos: a insuperável saudade da família e a impossibilidade
psíquica de agüentar o contato diário com tanta miséria de muita
gente da paróquia. Foi incorporado na nossa comunidade de
Roermond e recebeu a incumbência de Vigário Cooperador de uma
paróquia. Permaneceu na Holanda até 1972, quando retornou para
o Brasil. Tentou habituar-se novamente, desta vez em Natal-RN. A
tentativa não teve resultado satisfatório. Assim, em 1973, voltou
definitivamente para a Holanda.
Na Holanda, atuou bem em várias paróquias como
cooperador; mas na década de ‘80, foi nomeado Pároco de uma
paróquia, perto de Roermond, onde está situado o nosso Convento.
Sempre fez questão de manter um contato assíduo com todos os
confrades, passando uns dias no Convento. Nesta paróquia, como
também nas outras, ele gostava de receber os confrades e excompanheiros do Nordeste do Brasil, sendo um anfitrião formidável!
Apesar de uma certa tendência à melancolia, ou talvez devido a ela,
conservara extraordinário seu senso humorístico, pelo qual sabia
mostrar claramente a realidade e relatividade das coisas.
39
A Via-Sacra do Pe. João Pedro começou em 1987. Uma
parte do rosto ficou totalmente carcomida pelo câncer. A doença
atacou a língua e não mais possibilidade de alimentação por via
natural. Teve ainda o conforto da visita do Pe. Geral, Juan Lasso de
la Vega.
O nosso Provincial Pe. Marino Krinkels, colega de turma dele,
antes de viajar ao Brasil, administrou-lhe o Sacramento dos
Enfermos.
A última carta que recebi dele, escrita no dia 2 de agosto de
1989, dizia: “Estou cada vez pior e isto era esperado. Falar e comer
tornam-se cada vez mais difícil. Não é mais uma vida humana,
ainda que a gente procure aproveitar das coisas mais simples. De
vez em quando, sinto um desejo muito forte de que tudo termine,
pela aproximação mais rápida da morte, pois a deformação causada
pela doença é terrível. Que Deus tenha compaixão de mim e de
você”. Faleceu no dia 21 de outubro de 1989 e foi sepultado no
cemitério da sua paróquia.
“O Senhor Deus me deu a capacidade de falar como discípulos,
para que eu saiba
ajudar os desanimados com uma palavra de coragem e pelas
amarguras suportadas,
ele verá a luz e ficará saciado”
(Is 50,4 e 53,11).
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14. Pe. Inácio (Alberto) Fenstra, CSsR
Falecido em Campos-RJ - 31-12-1989
(78 anos)
O Pe. Inácio Fenstra nasceu em 4 de dezembro de 1911; fez
sua Profissão Religiosa em 8 de setembro de 1930 e foi ordenado
Sacerdote no dia, 25 de setembro de 1935. Chegou ao Brasil (ViceProvíncia do Rio de Janeiro) em 1936.
O Pe. Inácio Fenstra trabalhou na Vice-Província do Rio de
Janeiro de 1936 até 1947. Durante dez anos foi professor do
Juvenato em Congonhas-MG. Quando em 1947 chegou no
Nordeste e sempre me dizia que gostara muito de Congonhas e de
ter podido cooperar para a formação dos nossos estudantes.
Pregou Missões no Rio de Janeiro acompanhando o célebre
missionário Pe. Gabriel van Wijk (Tio-padre do nosso Pe. Gabriel
Hofestede). Em fins do ano 1947 acompanhou o Pe. Joaquim na
viagem para o Nordeste a fim de iniciar a fundação de GaranhunsPE. Ele seria o Superior das Missões, sendo os seus súditos nas
Missões os Padres Miguel e Adriano que, naquele tempo, se
encontravam em Salvador.
Sob a direção do Pe. Mestre Inácio foram pregadas sete
Missões no Recife a pedido do Arcebispo Dom Miguel Valverde
(Baiano). O nosso Mestre Inácio era um rigoroso defensor do
sistema de Santo Afonso, assim chamado pelos padres da Província
Holandesa. O lema da Santa Missão era: “Salva a tua alma”. De
acordo com o espírito de penitência e de sobriedade, havia poucas
procissões e toda a atenção concentrada na conversão individual,
sendo a confissão dos pecados o ponto culminante da participação.
O Superior da Santa Missão tinha toda autoridade para agir,
organizar e pedia ao Vigário para não se intrometer nos assuntos e
na organização da Santa Missão.
Em Garanhuns, Pe. Inácio logo teve que enfrentar certos
problemas com Dom Juvêncio de Britto por causa das Visitas
Pastorais que o Bispo chamava de Santas Missões. Logo realizouse um corte na duração da Missão, bem como uma significativa
mudança no estilo da Missão por causa da administração do
Sacramento da Crisma e não se tocava mais o sino dos pecadores,
às nove horas da noite, para a cidade toda cair de joelhos rezando 5
Pai Nosso e 5 Ave Maria pela conversão dos pecadores.
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O Pe. Inácio, porém, fez tudo para salvar o estilo da Missão
Redentorista e mostrava um zelo apostólico extraordinário para
conseguir um grande número de conversões para os seus dois
colegas era muito delicado no seu trato e acessível para o diálogo.
Os trabalhos excessivos, principalmente no agreste
Pernambucano, com suas filas e mais filas de gente para confessar
e também, a desarmonia dentro de casa com o Superior, Pe.
Joaquim acabaram com os nervos de Pe. Inácio. Ele sentia
saudades da boa convivência na Província do Rio de Janeiro.
A certa altura começou a “explodir” nas Missões, sem que
houvesse motivo para isso. As mãos tremiam tanto que não
conseguia mais escrever. Não houve jeito para ele adaptar-se à
situação do Nordeste.
Assim no mês de abril de 1940, voltou definitivamente para o
Rio de Janeiro. Passou uns meses na Holanda para recuperar-se e
depois retornou para o seu querido Juvenato, em Congonhas-MG.
De 1949 até à morte, em 1989, prestou na Província do Rio de
Janeiro muitos serviços: como professor, como Reitor de
comunidades, serviços paroquiais e movimentos religiosos. Era
muito estimado, principalmente em Campos-RJ, no meio dos
confrades e do povo daquela região.
No dia 31 de dezembro de 1989 teve uma morte repentina,
em Campos.
Que Deus o recompense com a vida eterna! Pois:
“bom passar do mundo para Deus, para n’Ele renascer”.
Sto. Inácio de Antioquia
42
15. Ir. Leopoldo (Johannes Antonius)
Goldenwijk, CSsR
Falecido em Nijmegen, Holanda - 18-03-1991 (90 anos)
O Irmão Leopoldo chegou ao Brasil em 1934. Como membro
da então Vice-Província do Rio de Janeiro, trabalhou ali em diversas
casas, em diversas funções: sacristão, porteiro, cozinheiro,
construtor até 1949. Ele construiu uma parte do Convento de
Campos-RJ.
Em 1949 foi transferido para a nossa fundação em
Garanhuns-PE e a partir daí seu maior empenho foi a construção do
nosso primeiro convento nesta região nordestina. Fazia pouco
tempo que o Irmão voltara das férias na Holanda e no
comportamento dele notava-se uma terrível saudade da família com
a qual era muito ligado. Para reprimir violentamente aqueles
sentimentos, o Irmão Leopoldo começou a murar o nosso terreno
em Garanhuns.
Isto foi feito numa marcha tão acelerada e com tanta
explosão de energia que o povo e nós todos ficamos surpreendidos
com os resultados visíveis, pois ele sentava diariamente um milheiro
de tijolos!
Desde aquele tempo o muro do Convento de Garanhuns teve
o nome de “muro da saudade”.
Depois, o Irmão construiu a Matriz provisória que, após a
construção da atual Igreja, poderia eventualmente servir de salão
para reuniões. Irmão Leopoldo era um pedreiro muito competente e
tinha as qualidades de construtor. Foi ele quem fez a planta da
Igreja de São João, perto de Garanhuns. Naqueles primeiros
tempos, construiu também uma casa em Garanhuns, para as duas
moças, Lia e Lila, filhas de D. Mariquinha, que nos ajudavam
regularmente na sacristia. A casa delas desmoronara na época das
chuvas fortes do inverno.
Não tolerava junto ou acima dele um arquiteto. Aconteceu,
em Campos, que o Irmão simplesmente negava as necessárias
indicações do arquiteto, responsável pela obra.
Isto foi um dos motivos da sua transferência para Garanhuns,
pois aqui poderia ter um campo mais livre de ação. Aliás, em
Garanhuns, tínhamos um arquiteto do Recife muito mais benigno e
acessível e que sabia lidar com Irmão Leopoldo. Em todo caso, o
43
Convento foi construído com materiais fortes até o fim do mundo...
O madeiramento foi de sucupira e as paredes bem espessas foram
levantadas com uma dosagem fortíssima de cimento!
Em 1953 o Irmão foi transferido para Campina Grande e ali
teve de dedicar-se à agricultura no nosso terreno (Sítio Britto).
Após a vinda do Irmão Vito, deslocou-se para o longínquo
interior da Bahia e teve uma Permanência prolongada no Santuário
do Bom Jesus da Lapa (1956-1974).
Esta estadia foi interrompida por uma passagem na Província
do Rio de Janeiro, a pedido do Pe. Provincial (1958-1961). Aí
construiu, no seu ritmo aceleradíssimo, o noviciado de Correia de
Almeida.
Em 1961 retornou para a Lapa, a fim de reassumir a
responsabilidade pela nossa fazenda. Na área da fazenda construiu
uma casa de campo e também casas para lavradores.
Tinha algo da vida de eremita, mas de maneira especial, pois
o Irmão dispunha de uma espingarda e, acompanhado por seu cão
de caça, entrava nas matas para caçar. Caçar era a grande paixão
dele!
Quando à construção da nossa casa, na Lapa, havia uma
necessidade urgente de uma casa mais adequada para os
confrades, porque a casa paroquial existente só merecia a
qualificação de “inabitável”. Tínhamos naqueles dias dois
construtores na Lapa: Pe. Arnaldo de Laet e Irmão Leopoldo, cujas
idéias não harmonizavam bem. Quando um dizia: “A casa deverá
ficar naquele lugar” o outro retrucava: “Não, é naquele outro” e
assim, virou uma discussão sem fim. Até o Vice-Provincial Padre
João Batista, querendo, a qualquer preço, resolver o problema, não
conseguiu solução definitiva. Só com a vinda dos Padres Poloneses
em 1973, foi feito o Convento quadrado e espaçoso ao qual o povo
deu nome de “Banco Polonês”.
Na época das romarias (maio até outubro), o nosso Irmão
Leopoldo ajudava na contagem do dinheiro das promessas.
Era outra paixão dele. Especialmente durante a novena do
Bom Jesus, em preparação à festa de 6 de agosto (Transfiguração
do Senhor), as entradas eram vultuosas. Várias vezes por dia, o
Irmão saía da casa paroquial com um saco enorme nas costas à
procura do cofre “Santo” e depois, voltava sorridente com a presa
preciosa. O Irmão encontrava muitos ladrões e batedores de carteira
no seu caminho de volta, mas eles não tinham coragem de
aproximar-se do Irmão com medo da sua força física extraordinária.
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Apesar de uma vida muito ativa e, às vezes sobrecarregada,
o Irmão Leopoldo sempre esforçou-se para conservar um lugar
importante para as práticas da vida religiosa e para a união com
Deus na oração, pois não confundia as coisas secundárias com as
principais para o Religioso.
Em 1974 o Irmão repatriou-se definitivamente. No Convento
do Nebo, distinguiu-se ainda por vários serviços. No Jardim
encontra-se uma obra dele, uma espécie de almoxarifado, que, em
tempo de guerra, poderia servir de casamata.
Quando em setembro de 1990, fui incorporado a esta
comunidade “internacional” do Nebo, encontrei o Irmão Leopoldo já
caducando e demente. Assisti à morte dele no mês de março de
1991 e esta foi suave e de muita paz.
Alcançou a idade de 90 anos. O Irmão Leopoldo foi sepultado
no cemitério do Convento.
“Portanto, quem ouve as minhas palavras e as põe em prática, é
como o homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha.
Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força
contra a casa, mas a casa não caiu, porque fora construída sobre a
rocha”.
(Mt 7, 24-25).
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16. Pe. Arnaldo de Laet, CSsR
Falecido em Nijmegen, Holanda - 28-12-1991
(81 anos)
O Pe. Arnaldo foi ordenado sacerdote em 1935 e em 1936
recebeu a sua nomeação e transferência para a Vice-Província do
Rio de Janeiro, onde iniciou as suas atividades missionárias. Por
volta de 1943 foi transferido para Salvador (Bahia), a fim de fazer
parte da equipe missionária, sob a direção do Pe. Joaquim van
Dongen. Então começaram as suas perambulações e peripécias
missionárias nos sertões da Bahia.
Naquele tempo o transporte utilizado nas viagens não era
como conhecemos nos dia de hoje, quando viajamos com toda
facilidade e velocidade pelas estradas asfaltadas, mas eram viagens
muito cansativas e desconfortáveis, embrenhando-se a cavalo nas
caatingas áridas. As palavras de São Paulo em 2 Cor, 11: “Fiz
muitas viagens. Sofri perigos nos rios...” etc. dão uma idéia das
peripécias da vida missionária e “mutatis mutandis”, podem ser
aplicadas ao nosso missionário, pois ele se viu em perigo de vida,
fez numerosas viagens, sofreu perigos no deserto, fadigas e muitos
trabalhos exaustivos.
Quanto à hospedagem tudo era muito fraco e de pouco conforto.
A Santa Missão era aquela tradicional, com toda a sua carga
de sermões pesados, de instruções catequéticas e de confissões
para muitos, primeira vez na vida, freqüentemente antecedidas por
uma explicação, “eternamente” repetida, das principais verdades
necessárias à salvação eterna. Também havia administração do
sacramento da crisma, feita pelos santos missionários (numa
dessas viagens missionárias, o Pe. Arnaldo crismou o menino
Edelzino de Araújo Pitiá) e de inúmeras legitimações de uniões
ilícitas. Da pregação do Missionário Arnaldo todos afirmam aquilo
que se dizia de Santo Afonso: “Suas Proposições eram claras e
todos podiam compreendê-las. Fazia as suas exposições em frases
curtas, concisas e não em longos períodos. Qualquer pessoa do
povo mais simples que aparecesse, por mais inculta que fosse, não
perdia uma palavra”.
Após uma série de Missões naquelas circunstâncias, o Pe.
Arnaldo adoeceu gravemente. Foi acometido de tifo, de caracteres
violentos e muito perigosos. Só milagre poderia salvá-lo. Deus fez o
milagre através de uma enfermeira, Dona Maria, que permaneceu
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ao seu lado; os cuidados extraordinários desta senhora maravilhosa
e muito dedicada, salvaram a vida do Pe. Arnaldo.
Em 1948 Pe. Arnaldo voltou para o Sul e passou alguns anos
no Convento de Campos-RJ, atuando em várias Missões no Estado
do Rio.
Em 1951 foi transferido definitivamente para o Nordeste e foi
incorporado no grupo CSsR em Garanhuns-PE. Continuou a
pregação de Santas Missões, mas ganhando um pouco mais de
estabilidade nos serviços paroquiais.
Foi a partir de 1953 que Pe. Arnaldo começou desenvolver
também os seus talentos de construtor.
Queremos lembrar as suas contribuições importantes. Em JuazeiroBA construiu o Convento que hoje é a casa paroquial, atrás da Catedral. A
nossa bela igreja de Garanhuns-PE, nunca seria realizada se não fosse a
habilidade, a precisão e a persistência de Pe. Arnaldo. A nossa igreja da
Madalena - Recife-PE é, em grande parte obra dele. Em Bom Jesus da
Lapa-BA, a praça em frente ao Santuário com suas belas imagens de
bronze, foi organizada por ele. Começaram também os trabalhos na gruta da
Soledade, fez a ligação por dentro com a gruta do Senhor Bom Jesus e a
passarela por fora.
Quando caiu do andaime na reforma da igreja de Marabá PaulistaSP percebeu que estava na hora de encerrar essas atividades. Viveu depois
ainda uns anos em Campina Grande-PB, antes de voltar definitivamente
para a Holanda.
Com freqüência assídua eu o visitava no quarto dele. Em reação as
minhas perguntas, ele apenas encolhia os ombros e não dizia nada. Mas, no
fim da visita de uns quinze minutos, apertava a minha mão em sinal de
gratidão e reconhecimento.
A morte do Pe. Arnaldo, na presença do irmão dele e da minha, foi
calma e de pouca agonia. Quando faleceu, tinha 81 anos de idade. Foi
sepultado no cemitério do Convento.
“Eu, como bom arquiteto, lancei os alicerces conforme o dom que Deus me
concedeu: outro constrói por cima do alicerce. Mas cada um veja como
constrói”! (1 Cor 3,10).
47
17. Pe. Fernando Suilen, CSsR.
Falecido em Wittem, Holanda - 21-02-1991 (77 anos)
Pe. Fernando Suilen nasceu no dia 16 de outubro de 1913. Fez a
sua profissão religiosa em 8 de setembro de 1934 e foi ordenado
sacerdote em 9 de agosto de 1939. Depois de uns seis anos de trabalhos
apostólicos na Holanda, o Pe. Fernando chegou ao Brasil em 1946 para
trabalhar na Vice-Província do Rio de Janeiro. De 1946 a 1968 pregou
Missões nas áreas missionárias da Vice-Província do Rio de Janeiro e foi
até Superior das Missões. Em 1968 resolveu pedir a transferência para a
Vice-Província do Recife-PE, e fazer uma nova experiência nesse novo
ambiente. No entanto, logo viu e sentiu que essa experiência não ia dar
certo.
Passou poucos meses em Garanhuns e voltou para o Sul do País.
Convidado por Dom José Gonçalves, CSsR, aceitou uma Paróquia na
diocese de Presidente Prudente-SP. Trabalhou diversos anos na cidade
de Regente Feijó, SP. Das suas atividades paroquiais nada me consta. Só
sei que era da ala muito conservadora e que por causa disto não gostou
muito da Igreja do Nordeste. O seu temperamento bastante introvertido
dificultava a convivência e a vida comunitária. Talvez, por causa disto
escolheu morar sozinho numa pequena cidade do interior. Na diocese de
Presidente Prudente era bastante respeitado pelo clero diocesano e pelo
povo das muitas comunidades por ele atendidas. Dedicava-se
principalmente no atendimento das comunidades rurais.
Para manter a fé e a religiosidade do seu povo, por diversas vezes
convidou a Equipe Missionária da Província de São Paulo para pregar
missões em sua paróquia. Como um outro São Francisco de Assis, o Pe.
Fernando era muito amigo dos animais de toda a espécie. Ele os criava
dentro da Casa Paroquial! Por isso mesmo sua casa era sempre uma
bagunça generalizada.
Em 1987 teve um ataque cerebral e ficando sem condições de
viajar só, chegou ao Recife acompanhado do Pe. João Bosco. Do Recife
para Amsterdã teve como acompanhante o Irmão Adriano (de feliz
memória). No Sul da Holanda (Heerlen) ficou ainda uns 3 anos
hospitalizado, sempre com muitas saudades do Brasil.
O Pe. Fernando Suilen faleceu naquele Hospital no dia 21 de
fevereiro de 1991 e foi sepultado na cripta do Convento de Wittem.
“Ao vencedor darei um prêmio: vai sentar-se comigo no meu trono, como
eu também venci”.(Ap. 3,21a)
48
18. Pe. Francisco Saelman, CSsR
Falecido em Baarn, Holanda - 17-03-1992 (69 anos)
Após alguns anos de atividades pastorais na Holanda, o Pe.
Francisco foi enviado para o Nordeste do Brasil. Chegou à ViceProvíncia do Recife em 1958. Com a vinda deste confrade, chegou
ao nosso meio uma personalidade singular, dotada de dons
artísticos. Fora discípulo fervoroso do nosso teólogo e autor de
vários livros teológicos e pastorais, Pe. Hermano Borgert, CSsR.
Este confrade foi o inspirador de um novo estilo de Missões, a
saber: a Missão ambiental, análoga à atual Missão inserida. As
pregações deviam focalizar mais a pessoa de Cristo e a Igreja a
partir do Evangelho. Deveria ser um autêntico anúncio da Boa Nova
e não apresentar-se na forma de um propugnáculo moralista. O Pe.
Francisco logo após a sua chegada, começou a propagar entre nós
essas idéias positivas e muito válidas. Infelizmente, surgiu para ele
o problema da língua para poder moldar essas idéias, em si tão
valiosas, do seu mestre. Por causa da dificuldade que sempre teve
para aprender bem outras línguas teve que se esforçar muito para
revelar esses novos pensamentos, tão ricos no seu conteúdo.
Pe. Francisco ficou pouco tempo em Garanhuns, pois já em
1959, foi transferido para Arcoverde-PE. Com muito zelo apostólico,
ajudou nos serviços pastorais na cidade e no sertão.
Seu tipo não dava para enfrentar atividades missionárias,
pregando Missões; neste ponto era semelhante ao seu tio-avô, Pe.
Adriano Wiegant, que chegou ao Brasil em 1902 (Vice-Província do
Rio de Janeiro).
Em 1959 encontramos o Pe. Francisco no Recife e durante a
sua permanência nesta casa, obteve a licença para desenvolver
mais os seus talentos artísticos na conhecida “Escola de Belas
Artes” (Benfica). Mas, em 1961 foi novamente transferido, desta vez
para Campina Grande-PB. Foi nomeado o meu cooperador na
Paróquia para tomar conta da Capela de São José da Mata. Isto foi
para mim um auxílio importante, não somente por causa da sua
fidelidade no atendimento ao povo daquela região, mas também por
causa da sua disponibilidade para ajudar em muitas outras coisas e
da sua agradável convivência dentro da nossa pequena
comunidade. Além disso, ajudou-me bastante na solução de uma
questão muito desagradável concernente a um médico holandês,
49
colonizador por natureza, que causou uma série de problemas à
nossa comunidade.
Em benefício da comunidade de São José da Mata, o Pe.
Francisco deu início à construção de um salão Paroquial junto à
Capela.
Em 1964 chegaram as nomeações e Pe. Francisco foi
nomeado Superior e Vigário de Garanhuns. Os nossos caminhos se
separaram, pois fui transferido para Juazeiro da Bahia.
De 1964 a 1967 os nossos contatos foram raros, por causa
da distância. Soube porém, que em Garanhuns fez um trabalho
muito bom com os jovens mas que, para poder realizar esse
trabalho, quebrava às vezes algumas normas da vida conventual.
Por isso, a convivência e a cooperação não eram muito boas.
Certamente as suas idéias, um tanto avançadas quanto à abertura
do nosso Convento, contribuíram para um certo mal-estar.
Em 1967 o Pe. Francisco deixou Garanhuns e encontrou no
Recife o seu lugar preferido dentro de um ambiente de mais
compreensão e também mais propício para as suas tendências e
atividades artísticas.
Como pintor, fazia os seus trabalhos com uma rapidez
incrível e assim produziu uma enorme série de obras (pinturas), por
exemplo: as pinturas artísticas nas paredes da Igreja de “Ponte dos
Carvalhos”, situada perto do Recife; também as suas imagens na
nossa Igreja da Madalena, deram um aspecto maravilhoso ao
templo.
Por volta de 1970 o Pe. Francisco retirou-se para o sótão da
Matriz de São José de onde se tem uma vista belíssima do mar. Aí
encontrou uma abundância de inspiração para dedicar-se à arte e
ao estudo, sem deixar de ajudar o Vigário Pe. Everaldo nas
atividades pastorais. Naquele tempo, houve também uma exposição
das obras do Pe. Francisco no bairro da Boa Vista, que chamou a
atenção de muita gente. Um dos quadros mais expressivos e
impressionantes foi o do Cristo Crucificado nas hastes da cana.
Depois de ter passado catorze anos no Brasil, o Pe.
Francisco repatriou-se em 1973. Por volta de 1980, começou o
famoso período de Vigário de Baarn, no centro da Holanda.
Através do Padre Provincial, soube que ele levava uma vida
bastante sóbria, sendo muito querido em sua paróquia. Até a
princesa Irene, irmã da Rainha, assistia às Missas dele.
O Pe. Francisco ficou afamado como o Padre que possuía o
dom da cura pela oração e pela imposição das mãos. Já no Brasil,
50
ele me dissera que, às vezes suas mãos ardiam por causa da
“irradiação de forças misteriosas”. Os serviços religiosos, mediante
a imposição das mãos, atraíram muita gente para Baarn,
principalmente a partir de uma entrevista na TV.
Na paróquia foi fundada uma equipe para os enfermos e,
regularmente foi publicada a “carta aos enfermos”, que apresentava
um conteúdo muito válido. Visitei-o algumas vezes. Um dia me
explicou que as curas realizavam através de forças preternatural
(paranormais). Em todo caso o Pe. Francisco beneficiou com isso
muita gente.
No dia 17 de março de 1992, o Pe. Francisco faleceu
repentinamente. O povo me convidou para presidir às exéquias.
Durante a Missa, a Igreja muito espaçosa estava repleta de
pessoas de todas as classes e idades.
Ele foi sepultado no Cemitério Geral da cidade.
“Deus falou a Moisés: - Escolhi pessoalmente Beseleel... e o enchi
de dotes
sobre-humanos e a sabedoria, de destreza e habilidade em seu
ofício,
capaz de fazer projetos... e realizar todo o tipo de trabalho”
(Ex 31, 1-5).
51
19. Pe. Edelzino de Araújo Pitiá, CSsR
Falecido no Recife - 09-04-1993 (67 anos)
No dia 9 de abril de 1993, faleceu no Recife o nosso
Confrade brasileiro, Pe. Pitiá. Ele nasceu em Curaça-BA em 18 de
maio de 1926 e foi ordenado sacerdote em Juiz de Fora-MG, no dia
2 de fevereiro de 1955.
No ano de 1952 o Pe. Pitiá foi transferido e tornou-se membro
da Vice-Província do Recife (Missão Garanhuns). Junto com o Pe.
Victor Rodrigues na função de Diretor, ele foi o co-fundador do
nosso Seminário Menor. O Pe., Pitiá foi uma personalidade distinta,
muito inteligente e dotado de uma cultura universal extraordinária.
Também os seus dons musicais, principalmente em relação à
música clássica eram notáveis. Além disso, dispunha de uma cultura
literária de alto grau, que era promovida pela sua leitura assídua dos
grandes escritores clássicos do Brasil.
O Pe. Pitiá falava fluentemente a língua francesa e aprendeu
também a língua holandesa. Evidentemente era um ótimo professor
e sabia cativar os seus alunos. Em nossa Paróquia do Arraial, em
Garanhuns, fundou o “Clube Juvenil de Cultura” (rapazes e moças)
que teve grande florescência durante vários anos.
Além dos seus encargos como professor e sócio do Juvenato
estava à disposição para ajudar na paróquia. Não era o tipo de um
missionário popular; sentia-se mais à vontade no ambiente da
classe média. Mas os seus sermões não eram pomposos como os
de certos oradores sacros, mas lhe era próprio o uso extremamente
correto da linguagem.
Em 1959 o Diretor Pe., Victor Rodrigues foi transferido para
Bom Jesus da Lapa-BA. O Pe. Pitiá então foi nomeado Diretor do
nosso Seminário Menor. As condições do Seminário eram ainda
bastantes precárias. As salas de aula eram situadas na parte
subterrânea do Convento. Por ser pequeno o dormitório alguns
seminaristas tinham que dormir no sótão.
A comida não tinha nem a qualidade e nem quantidade de que os
meninos precisavam na fase do crescimento. Felizmente, o Irmão
Leopoldo construíra para eles um pequeno refeitório e uma sala de
recreio. Assim, pouco a pouco, iam melhorando as condições.
Em 1959 raiou no horizonte a tão desejada libertação; mas a
hora de realizar a mudança definitiva só chegaria em 1962.
52
No mês de março de 1962 chegou finalmente, a hora da “redenção”.
Foi um “êxodo” triunfal em procura da “terra prometida” de Campina
Grande. Inicialmente nem tudo foi como se esperava.
A construção do Seminário encontrava-se numa tal condição
que, de vez em quando, as aulas eram dadas ao ar livre, à sombra
de uma árvore. Eu mesmo posso testemunhar que, durante o dia
havia um barulho infernal dos operários e dos seus aparelhos
ruidosos! Mas o Pe. Pitiá tinha bastante calma e era tão equilibrado
que, mesmo nessas circunstâncias, conseguiu dirigir bem o nosso
Seminário, que aos poucos, foi ficando afamado na cidade de
Campina Grande.
No dia 18 de junho de 1966 houve a inauguração oficial do
nosso Seminário Menor, dedicado aos Santos Anjos.
Evidentemente, foi um dia glorioso para Pe. Pitiá. Foi uma
solenidade impressionante, que contou com a presença de várias
autoridades da Igreja e da Congregação: Dom Manuel Pereira,
Bispo de Campina Grande; Dom José Brandão de Castro, CSsR,
Bispo de Propriá-SE; Dom Estevão Kuijpers, CSsR, de Suriname; e
todos os (V) Provinciais do Brasil.
No entanto, pouco tempo após essa inauguração tão festiva,
o Pe. Pitiá teve que enfrentar inúmeros problemas sérios.
O Seminário entrou numa fase muito crítica e em 1967, já
tinha um aspecto muito diferente: abre-se para receber alunos
externos.
Deste modo, entrou no Seminário uma mentalidade diversa,
pois passou-se de um ambiente bem fechado para mais aberto.
Evidentemente isso causou tensões internas, pois foram aceitos
alunos de outros ambientes que estavam habituados a uma
liberdade bem maior dos que não tinham optado pela vida religiosa.
Esta crise que culminou com o fechamento do nosso
seminário, deve ser vista no contexto da crise geral que toda Igreja
sofreu após o Concílio Vaticano II, principalmente a crise das
vocações sacerdotais. Como o nosso, foram muitos seminários que
fecharam.
O dia 3 de dezembro de 1968 ficou registrado como o triste
momento do fechamento do nosso Seminário Menor. Para o nosso
Pe. Pitiá foram anos muito pesados e de muita preocupação. Mas,
graças à sua abençoada persistência conseguiu fazer funcionar o
Colégio Redentorista com uma finalidade muito significativa, em
benefício do desenvolvimento do Nordeste. Isto haveria de se
realizar pela formação de técnicos de nível médio.
53
Para aumentar mais os seus conhecimentos científicos, o Pe.
Pitiá esteve duas vezes na Europa, seguindo cursos catequéticos
em Paris e Louvaina. E não obstante os seus cuidados diários com
o bom andamento do Colégio, conseguia reservar tempo para
atividades pastorais, por exemplo: a sua participação ativa nos
“Cursilhos de Cristandade” e anualmente, a Páscoa tradicional na
Usina de Frei Caneca-PE.
Mas a realização mais importante de sua vida foi a
dedicação, com todas as suas forças, à educação da juventude. A
sua tenacidade na busca de meios, para que a Escola Eletrônica se
tornasse um Instituto prestigiado era incrível. Pessoalmente posso
testemunhar que ele, nas reuniões do Conselho da Vice-Província,
lutou com uma vontade férrea para salvaguardar o trabalho da sua
vida. Por causa de todos aqueles seus esforços o Colégio alcançou
um nível muito alto de ensino técnico, ficando afamado no Nordeste
e em outras partes do Brasil.
Para dar apenas um exemplo: no ano de 1986 foram
matriculados 367 alunos nos Cursos Técnicos de Eletrônica e
Telecomunicações, a nível de 2º grau. No fim daquele ano letivo foi
realizada a formatura de 43 técnicos em Eletrônica e 35 em
Telecomunicações, dos quais 50% já tinham colocações imediatas.
Muitas empresas vieram à procura de nossos alunos, que perfaziam
naquele tempo um total de 740 técnicos de nível médio, trabalhando
em diversos Estados do Brasil.
A Vice-Província do Recife deve muito ao Pe.Pitiá, não
somente por causa da sua obra, mas também por causa da sua
vivência de Religioso exemplar, sendo um homem de uma fé
profunda e de uma conduta edificante. Infelizmente, teve uns
problemas cardíacos muito sérios e foi chamado por seu Senhor,
que ele tanto amava, no dia 9 de abril de 1993, em plena Semana
Santa.
Nós todos e todo o povo de Campina Grande ficamos
consternados.
Uma multidão imensa de admiradores e amigos, parentes e
confrades acompanharam o seu corpo até o cemitério de Campina
Grande onde foi sepultado na tarde do “Sábado Santo”, véspera da
Ressurreição. Seus restos mortais encontram-se hoje no mausoléu
Redentorista em Campina Grande, PB.
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“A sabedoria deu-lhe sucesso em suas fadigas e multiplicou
os frutos do seu trabalho. Deu-lhe a vitória numa dura luta, para lhe
mostrar que a piedade é mais forte do que tudo”
(Sb 10, 9s).
55
20. Irmão Adriano Scheffer, CSsR
Falecido no Recife - 22-03-1994 (69 anos)
O Irmão Adriano chegou ao Brasil (Nordeste) em 1952.
Na nossa Vice-Província do Recife desempenhou um papel
de muito valor para o desenvolvimento da mesma no nível técnico.
Quando rapazinho sentia a vocação para tornar-se sacerdote e
missionário na nossa Congregação. Para este fim entrou no nosso
Seminário Menor já com uns 20 anos de idade. Foi aceito no
1ºgrau, pois o sistema daquele tempo não permitia um tratamento
especial para as vocações tardias. Para Adriano foi muito difícil
desenvolver-se no meio daquela meninada.
Deve ter sido um verdadeiro tormento para ele; mas a sua
natureza fechada procurava suportar tudo sem fazer reclamações.
Por causa dos estudos, foi obrigado a deixar o Seminário.
Não deixa de ser curioso que a direção do nosso Seminário
Menor não tenha sabido descobrir que Adriano era um moço muito
inteligente e que tinha muita facilidade para o estudo das ciências
exatas (matemática, física, etc.). Mas, custasse o que custasse,
Adriano queria abraçar a vida religiosa. Assim, em 1947, entrou na
nossa Congregação para seguir a vocação de Irmão.
Irmão Adriano era um religioso muito piedoso e minucioso na
observância da Regra. Ele era até um tanto rigoroso demais.
Em 1953, quando passei férias na Holanda, fiz uma visita ao
pai do Irmão Adriano que se encontrava gravemente enfermo.
Naquela ocasião, a mãe do Irmão Adriano me contou como o filho,
quando visitava a família, tinha muitas exigências, pois eram
obrigados a rezar muito e em certas horas deviam observar o
silêncio como no Convento...
No entanto, aquela desistência forçada do seu ideal de ser
um Padre missionário, tornou-se um trauma terrível.
De vez em quando, o Irmão Adriano revelava algo desse
sofrimento, por exemplo: quando era convidado para fazer batizado
ou quando se falava em ordenação diaconal dos Irmãos, ele
empalidecia e reagia com palavras ásperas: “Já fui expulso uma
vez”.
De 1947 a 1952 teve uma boa oportunidade para aperfeiçoarse nos conhecimentos técnicos e participou até de cursos de
aeronavegação e de construções de cimento armado.
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Em 1952 recebeu a sua nomeação para a Vice-Província do
Recife. O então Vice-Provincial Pe. Carlos Maria entregou ao Irmão
Adriano toda a responsabilidade pelos serviços técnicos, que ele
executava com a sua conhecida habilidade, mas também, às vezes,
de uma maneira um tanto complicada.
Naqueles tempos, a Vice-Província (Missão) possuía um
carro de segunda ou terceira mão que andava mais ou menos,
desde que o acompanhasse uma mão cuidadosa para endireitar
peças que sempre se quebravam. Esta tarefa foi entregue aos
cuidados do Irmão Adriano. Às vezes, ele ficava mais tempo
debaixo do veículo do que no banco do motorista.
Mesmo assim Irmão Adriano fazia viagens intermináveis pelo
sertão de Pernambuco e da Bahia, acompanhando o Vice-Provincial
nas suas visitas aos confrades.
Em 1956 o Irmão se deslocou para Bom Jesus da Lapa para
ajudar a nossa fundação incipiente. Encontrou lá uma
superabundância de trabalhos. Por exemplo: o funcionamento do
motor para iluminar a gruta do Bom Jesus e a cidade toda. Existiam
aí muitas falhas técnicas na instalação elétrica que ele consertava
com muita competência.
Em Bom Jesus da Lapa deu-se também um fato muito
interessante. Um avião da linha para Belo Horizonte não pôde
decolar por causa de um defeito no trem de aterragem. Foi
procurado um técnico para fazer o conserto, mas não foi
encontrado. Então, o Irmão Adriano ofereceu os seus serviços e
para grande admiração dos pilotos, ajeitou tudo com perfeição.
Como recompensa recebeu uma passagem grátis para Belo
Horizonte; mas ele já tinha comprado a passagem. Em todo caso,
teve a licença para efetuar a decolagem do avião!
Em 1958 o Irmão Adriano foi transferido para Garanhuns, a
fim de iniciar a construção da nova Igreja. Aí pôde aplicar
plenamente os seus conhecimentos da construção de cimento
armado. Junto com Irmão Urbano fez a primeira parte da igreja, isto
é, até a cúpula.
Mas já em 1959, foi chamado para Campina Grande para
ajudar na Construção do Convento e do Seminário. A permanência
do Irmão Adriano será de 1959 até o dia da sua morte, 22 de março
de 1994. Em Campina Grande, as sua qualidades técnicas foram
novamente aproveitadas. Após o fim da construção, ele funcionou
até à morte como ecônomo da casa. Apesar dos seus modos um
57
pouco ríspidos e inflexíveis, o Irmão tinha um coração de ouro e
mostrava uma grande devoção para com Santíssima Virgem Maria.
Sempre estava à disposição dos confrades, mas também do
povo mais pobre. Os seus excelentes cuidados com os nossos
enfermos eram famosos. Assim, aliviou os últimos anos do velho Pe.
Pedro pelos cuidados constantes. Infelizmente, descuidou-se da sua
Própria saúde. Sempre dizia: “Não preciso de médico”.
Em meados de março de 1994 chegou ao Recife para iniciar
a sua viagem para a Holanda, sendo uma repatriação definitiva. Mas
empreendeu uma viagem bem diferente: a viagem para o Pai
Eterno, a cujo serviço dera sua vida. Irmão Adriano foi sepultado no
cemitério de Campina Grande-PB. Hoje seus restos mortais
encontram-se no mausoléu Redentorista.
Pensando agora na vida deste querido Irmão Adriano, me
vem à mente a seguinte palavra de Jesus:
- O que vocês acham disto? Certo homem tinha dois filhos.
Ele foi ao mais velho e disse: “Filho, vá trabalhar hoje na vinha. O
filho respondeu: “Não quero”. Mas, depois arrependeu-se e foi.
O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Esse
respondeu: “Sim, Senhor, eu vou”. Mas não foi.
Qual dos dois fez a vontade do pai?
Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “O
filho mais velho”
(Mt 21, 28-31).
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21. Pe. Eurico (Henrique) Kea, CSsR
Falecido no Canadá - 21/ 06/ 1994 (65 anos)
O Pe. Eurico nasceu dia 21 de junho de 1929; fez a sua
profissão religiosa em 08 de setembro de 1951 e foi ordenado
sacerdote em 1956. Chegou ao Nordeste do Brasil em 1958 e teve
sua ação missionária na Vice-Província do Recife-PE de 1958 a
1970 (dezembro).
No início dos anos ‘50 a família dele tinha imigrado da
Holanda para o Canadá.
Na vice-Província do Recife, o Pe. Eurico logo se apresentou
como ótimo missionário. Dedicou-se com muito zelo ao estudo da
língua portuguesa, preparando-se bem para pregar em bom
português. Na época, a Vice-Província do Recife estava empenhada
na busca de uma nova modalidade da Missão Redentorista, a qual
foi batizada com o nome de Ação Missionária. A Missão no estilo
antigo era considerada um tanto efêmera. O conteúdo dos sermões
não se encaixava bem nos pensamentos e nas ações daquela
época. Desejava-se uma atualização mais adequada.
A ênfase no “Salva a tua Alma” era julgada muito
individualista. Queriam atingir o povo todo, em todas as suas
dimensões.
Exigia-se portanto uma ação mais profunda, em estreita
colaboração com os responsáveis pela pastoral, para que pudesse
haver uma garantia de continuidade.
O Pe. Eurico, após as suas atividades paroquiais em Juazeiro
da Bahia, de 1959 a 1961, engajou-se plenamente neste novo rumo
das Missões. Muito conhecida ficou a experiência desta nova Ação
Missionária em Afogados da Ingazeira-PE (Bispo: Dom Francisco A.
de Mesquita). Participaram os Missionários Pe. Eurico, Pe. Pio e Pe.
Gabriel. Foi uma Missão bastante prolongada (alguns meses).
O Pe. Eurico foi de fato um missionário de mão-cheia na
época do auge da Ação Missionária (‘60-‘70). Depois surgiu uma
crítica a respeito da Ação Missionária. Seria, em si, um movimento
desenvolvimentista da elite e não a partir do povo. Não se dava
muita atenção aos valores da religiosidade popular.
Em 1970 o Pe. Eurico deixou o Brasil, querendo cuidar
pastoralmente dos imigrantes da língua portuguesa no Canadá. Em
1972 foi inscrito na Província redentorista de Toronto.
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Em 1975 deixou aquela província e, em 1978 (6 de abril),
recebeu o Indulto de exclaustração; no dia 30 de agosto de 1978
incardinou-se na Diocese de London, Ontário - Canadá. Sendo o
Centro de London a base da sua ação pastoral, o Pe. Eurico servia
a cinco comunidades de língua portuguesa que viviam muito
espalhadas.
Poucos dias depois do seu sexagésimo quinto aniversário o
Pe. Eurico Kea teve um enfarte e faleceu. Em 1990 ele nos visitou
no Nordeste. Naquela ocasião manifestou publicamente que sentia
muita vontade de voltar para o Brasil, aceitando uma paróquia no
Nordeste. Com esta vontade voltou para o Canadá, mas depois não
ouvimos mais nada a respeito desse plano.
Que o Pai do céu recompense seus muitos trabalhos em
nossa Vice-Província.
“Deus guarda aqueles que o amam”
(Sl 120)
60
22. Pe. Guilherme Van Keulen, CSsR
Falecido em Bom Jesus da Lapa, BA - 1994 (72 anos)
O Pe. Guilherme nasceu em 08 de outubro de 1922; fez sua
profissão religiosa em 08 de setembro de 1943; sua ordenação
sacerdotal aconteceu no dia 08 de setembro de 1948.
Chegou ao Brasil (Vice-Província do Recife) em 1955 onde
trabalhou até conseguir a Dispensa de seu casamento em 1965.
Após a sua ordenação sacerdotal, Guilherme van Keulen foi
nomeado professor do nosso seminário menor no Nebo. Em 1955
foi nomeado para trabalhar no Brasil. Nos primeiros anos no
Nordeste sentia muitas saudades dos seus anos gloriosos no Nebo.
Sua primeira área de atividades pastorais foi Campina
Grande-PB, onde manifestou uma atividade paternal, com muito
interesse pela vida do povo, cuja maioria consistia em gente muito
simples. O centro das suas atividades era São José da Mata.
Quando chegava em casa, tinha sempre muita coisa para contar e
prendia a atenção de todos nós por causa da sua imaginação.
Partindo de acontecimentos bem simples e inócuos, sabia compor
estórias bastante cativantes. Um ex-estudante nosso foi batizado
por ele na capela de São José da Mata e, por causa da veneração
dos pais dele pelo Vigário, recebeu o nome de Guilherme
(Guilherme Miguel Leão).
Ficou trabalhando em Campina Grande até 1959, quando
recebeu a honrosa incumbência de iniciar uma fundação
redentorista em Souza-PB. O seu companheiro foi Bento Dashorst.
A entrada dele naquela cidade sertaneja foi bastante triunfal, como
se fossem dois estrategos romanos. Nada lhes faltaria e de todos os
lados receberia simpatia e ajuda, principalmente de algumas
senhoras mui piedosas. Iniciaram, com toda energia, um trabalho
pastoral para dar nova vida à Paróquia recém-criada e no interior às
diversas capelas. Pouco tempo depois, a equipe recebeu um grande
reforço com a chegada do Pe. Afonso Sterke.
Este organizou logo a catequese e conseguiu 52 catequistas.
Foi organizada a “jornada silenciosa”. Todas as quintasfeiras, após a Missa das 19:00h, saía uma procissão de homens em
profundo silêncio. Isto se fazia para comemorar um milagre do
Santíssimo Sacramento que houve em Souza, conforme o dizer do
povo.
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Mas em 1962 esta fundação já foi suspensa por causa de
uma nova divisão da área das Missões, em favor dos confrades
Irlandeses recém-chegados a Fortaleza.
No entanto Guilherme ficou nas altas regiões dos
Governantes e era até chamado o “Príncipe Herdeiro” do Pe. João
Batista van Gassel, o então Vice-Provincial.
Em 1962 foi nomeado Vigário da nossa paróquia em
Garanhuns-PE (1962-1964). Aqui, não encontrou aquele entusiasmo
e calor religioso de Souza, mas se esforçou para continuar o
trabalho dos seus antecessores. Após a visita do Provincial da
Holanda Pe. Cristiano Oomen, CSsR, ele foi transferido para Bom
Jesus da Lapa (Bahia) e, em 1965, recebeu a dispensa do Ministério
Sacerdotal, casando-se com D. Minervina, natural da Lapa.
O casal se fixou em Juiz de Fora-MG, onde recebeu todo o apoio
do Pe. Jaime Snoek. Este conseguiu para Guilherme a cátedra de
professor no Colégio dos Padres do Verbo Divino. Após a sua
aposentadoria, prestou muitos serviços ao nosso Convento de Juiz de
Fora. Quando o visitei, em 1992, ele era recepcionista-auxiliar, no
Convento da Glória.
Mas, infelizmente, foi acometido de uma doença fatal (leucemia) e
esta doença se tornava cada vez mais violenta.
Em 1994 apesar da objeção do médico foi, de ônibus à Lapa, para
visitar a família da esposa, D. Minervina, e ver a situação de uma pequena
propriedade que aí possuía. Esta viagem o prejudicou demais; quando
chegou à Lapa teve uma crise muito forte e faleceu.
Após a sua saída da nossa Congregação e do Ministério, o
Guilherme sempre conservou fielmente o seu espírito religioso e a sua
piedade.
“De fato, nós nos tornamos participantes de Cristo, contanto que
mantenhamos firmes
até o fim a confiança que tivemos desde o início”. (Hb 3,14).
62
23. Pe. José Maria Wennekes, CSsR
Falecido em Warmond, Holanda - 29-01-1995
(82 anos)
Após a sua formação num Instituto Pedagógico (formação de
professores para ensino primário), o Pe. José foi enviado, em 1946,
para o Suriname na função de Vigário e Professor de ensino
primário, de 1946 a 1952. No fim desse período pediu a sua
transferência para o Brasil.
Chegou ao Nordeste Brasileiro em 1952. Abandonando o
ensino, o Pe. José dedicou-se então, com toda alma, à sua vocação
de Missionário do povo e no decorrer dos tempos, será Superior das
Missões. Pregou inúmeras Missões em toda parte do Nordeste, até
1964. Teve como bases das suas atividades missionárias:
Garanhuns, Juazeiro da Bahia e Campina Grande. O Pe. José era
muito meticuloso nas suas programações e bastante pontual quanto
ao horário. Os seus talentos didáticos se revelavam, principalmente,
nas suas instruções e também no seu sistema catequético. Era
realmente mestre por excelência na explicação da doutrina para as
crianças.
Os cantos para as crianças, compostos por ele mesmo, eram
logo assimilados pela criançada entusiasmada! O Missionário Pe.
José era chamado o Padre ultramoderno da era atômica, porque
aproveitava da “projeção luminosa” para elucidar mais
concretamente a pregação e para que, através do visual, o conteúdo
da pregação penetrasse mais a mente do povo.
Em 1964 a Vice-Província do Recife aceitou uma nova
fundação a saber, São José da Coroa Grande, situada na região
praiana a 120 km de distância do Recife. É uma cidadezinha de
pescadores e veranistas.
A finalidade desta nova fundação seria propiciar aos
confrades da Vice-Província um lugar adequado para as férias. Pe.
José será um anfitrião muito amável e generoso. Com o seu
inseparável cachimbo na boca e dois na mesa para a próxima
baforada, ele sabia contar muitas histórias referentes às suas
atividades em Suriname e às experiências das Missões, de maneira
especial a respeito das Missões que pregou junto com Pe. Miguel.
A ação pastoral na sua função de Vigário consistia em visitas
domiciliares e tudo isso era realizado dentro de um esquema
extremamente sistemático. Tudo na hora exata!
63
Uma águia não defenderia mais ardentemente os seus
filhotes contra certos ataques do que Pe. José o esquema dos seus
horários. O Pe. José tinha o dom de conduzir os homens a
adotarem atitudes mais religiosas. É, de fato, um fenômeno um
tanto especial que, ao longo do litoral, a classe dos pescadores é
considerada indiferente à religião. Eles passam semanas e semanas
em alto mar para poder ganhar a sua miserável subsistência.
A pesca é vendida por um preço barato aos intermediários e
estes vendiam o peixe por preço bem alto. Portanto, os pescadores
viviam na pobreza e em decorrência disto, entregam-se à cachaça.
Uma vida mais ligada com a Igreja lhes é estranha.
No entanto, o Pe. José conseguiu a participação religiosa de
um grupo de pescadores. Infelizmente os seus sucessores não
tiveram o jeito que ele tinha para continuar essa pastoral dos
pescadores tão necessária.
O Pe. José foi acometido de uma crise estomacal e foi
operado. Foi preciso fazer gastrectomia parcial. Isto fez diminuir as
suas forças físicas. Não obstante foi nomeado Reitor do Convento
de Campina Grande (de 1967 a 1972). Foram para ele anos muito
positivos (Novena Perpétua), mas também de alguns dissabores.
Naquele tempo, vários(as) religiosos(as) começaram a deixar os
conventos a fim de morar no meio do povo pobre. Evidentemente,
foi uma opção muito generosa: viver no meio dos pobres, partilhar
os problemas deles; a inserção total daquele mundo, inspirada pela
Palavra de Deus, Na busca de caminhos que levassem à libertação
da pobreza e da miséria. Por experiência própria e por vários
contatos, constatei que este ideal muito elevado era vivido de
maneira autêntica por várias pequenas comunidades de Religiosas.
Elas viviam essa opção com total liberdade, assumindo todas as
conseqüências.
Mas o grupinho da comunidade do Pe. José não foi muito
feliz na sua experiência no sentido acima mencionado. Foi mais um
rebelar-se contra certas estruturas da vida religiosa nos grandes
Conventos. Na minha opinião, não foi uma opção sadia e os
choques provenientes daquelas posições devem ter magoado muito
o Pe. José.
Após os anos difíceis de Campina Grande, em 1972 o Pe.
José optou por uma paróquia na praia, em Maragogí-AL. Assumiu
uma espécie de vida de eremita, longe das comoções na ViceProvíncia. Naturalmente, gostava de receber hóspedes,
principalmente quando se tratava de confrades.
64
Naquela praia, o Pe. José vivia com um homem piedoso,
visitava o seu “povinho” e gostava de atender a todos.
Em 1984 porém, foi convidado para mudar-se para
Arcoverde, a fim de ajudar os confrades; logo aceitou o convite. Mas
as suas forças físicas estavam diminuindo cada vez mais.
Assim, em 1987, repatriou-se definitivamente e passou o
resto da sua vida em Wormond, onde existe uma casa para
religiosos(as) idosos(as).
Ele passou lá como um verdadeiro Simeão: justo e piedoso,
esperando pela consolação de Deus.
Aí faleceu, cheio de paz e tranqüilidade no dia 29 de janeiro
de 1995.
“Ao contrário, a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura,
pacífica, humilde, compreensiva, cheia de misericórdia e bons
frutos. O fruto da justiça
é semeado na paz para aqueles que trabalham pela paz”
(Tg 3, 17-18).
65
24. Pe. Pascoal (Teofânio) Stallaert, CSsR
Falecido em Nijmegen, Holanda - 29-10-1995
O Pe. Teofânio após a sua ordenação sacerdotal trabalhou
de 1943 a 1949 na Holanda, pregando Missões. Por pouco tempo
foi professor do nosso seminário menor, mas não tinha jeito para
lidar com aquela meninada impossível.
Em 1949 recebeu a feliz notícia de que fora indicado para
trabalhar nas terras brasileiras e, com muita alegria e satisfação,
aceitou essa missão. Após a sua chegada no Rio de Janeiro
permaneceu durante alguns meses no nosso convento de Santo
Afonso para aprender a língua portuguesa e logo habituou-se à
vivência Brasileira.
No mês de fevereiro de 1950 foi transferido para Juazeiro da
Bahia a fim de ajudar ao Pe. Clemente Tresoor na realização da
nossa segunda fundação redentorista no Nordeste.
Desde o início esses dois redentoristas fizeram tudo com um
verdadeiro zelo missionário para despertar o povo da sua
sonolência espiritual. Isto foi através da ação dentro e fora da IgrejaMatriz e nas capelas do Sertão, muito distantes umas das outras.
Para o Pe. Teofânio foi uma verdadeira prova de fogo, pois foi uma
ação missionária muito intensiva e às vezes exaustiva, na cidade e
no imenso interior. Para favorecer a classe operária o Pe. Teofânio
fundou o Círculo Operário, procurando combater também as
injustiças cometidas contra essa classe mais oprimida. Os dois
missionários organizaram também um trabalho de catequese em
todas as escolas da cidade. Fizeram muitas visitas domiciliares
principalmente nos bairros mais pobres. Por causa desse zelo
excepcional houve então uma avalanche de legitimações de uniões
ilegítimas. O Pe. Teofânio permaneceu na casa de Juazeiro da
Bahia de 1950 até 1956, sendo Vigário e Superior de 1953 até 1956.
Em 1956 o Pe. Teofânio recebeu a incumbência de fundar
uma casa redentorista em Bom Jesus da Lapa (Bahia). Para
sentirmos a imensa carga que foi colocada nos seus ombros,
transmito um pouco da pré-história desta nova fundação.
O Pe. Carlos Maria Donker, logo que assumiu o cargo de
Superior da Missão de Garanhuns, dera os primeiros passos para
realizar esse projeto. Para poder dar uma informação mais
pormenorizada ao Revmo. Pe. Geral, ele foi assistir à Novena do
66
Bom Jesus da Lapa (agosto de 1951). Em carta ao Pe. Geral,
datada de 21 de setembro de 1951, expôs a situação e deu um
parecer muito favorável. A paróquia seria dada “ad nutum Santae
Sedis”, para maior segurança, caso a Lapa fosse criada Diocese.
No dia 02 de agosto de 1952 Dom João Muniz, CSsR, Mons
Turíbio (Espanhol e Vigário colado na Lapa) e Pe. Carlos Maria
Donker, CSsR se reuniram na casa paroquial da Lapa. Houve a
comunicação da renúncia voluntária de Mons. Turíbio e parecia que
tudo estava resolvido de uma vez por todas. Mas, em carta de 19 de
dezembro 1952, Dom João Muniz comunicou ao Pe. Carlos Maria
que Mons Turíbio se recusou a deixar o posto, instigado por um
grupo de interessados na permanência dele. Mons. Turíbio apelara
para a Nunciatura no Rio de Janeiro e então iniciou-se um processo
prolongado.
Em meados de 1953, Dom João Muniz comunicou que
perdera o pleito junto à “Sancta Congregatio de Concilio”. Durante
os anos de 1953 e 1954 não houve mais progresso quanto a esse
empreendimento, mas o ano de 1955 foi de atividades mais
esperançosas. Numa reunião em Juazeiro da Bahia, Dom João
Muniz comunicou ao Pe. Carlos Maria que recebeu um pedido dos
Carmelitas Descalços da Holanda para assumir o Santuário do Bom
Jesus da Lapa. O Bispo fez ver, porém, que não podia faltar ao
compromisso assumido com a Congregação Redentorista.
Só no ano de 1956 houve um desfecho dessa situação
intricada. No mês de abril de 1956, os Carmelitas Descalços
exigiram novamente a administração do Santuário. Através do
Núncio Apostólico, a “Sancta Congregatio de Concilio” comunicou
ao Bispo que a entrada dos Redentoristas não era oportuna. A
reposta de Dom João Muniz foi a seguinte:
a) Mons, Turíbio deixou a Lapa no dia 06 de abril de 1956 conforme
prometera.
b) Confia-se que a “Sancta Congregatio de Concilio” permita aos
Redentoristas a entrada na Lapa para tomar conta do Santuário e
da Paróquia.
c) A Diocese se prontificará a dar uma subvenção aos Carmelitas
Descalços, mas não lhes confiará a administração do Santuário do
Bom Jesus.
No dia 24 de abril de 1956 chegou em Garanhuns o
comunicado de Dom João Muniz: “Lapa aceita para os
Redentoristas; os Carmelitas abandonaram a Diocese”. Assim foi
67
em resumo, a penosa pré-história da Fundação Redentorista em
Bom Jesus da Lapa.
No dia 05 de maio de 1956 foi iniciada a fundação
redentorista do Bom Jesus da Lapa nessas circunstâncias
extremamente precárias. Mas Pe. Teofânio, ajudado pelo confrade
Pe. Canísio de Groot enfrentou essa situação com muita fé e
coragem. O Vice-Provincial, Pe. Carlos Maria achou prudente ficar
na Lapa até depois da Novena do Bom Jesus para ajudá-lo e, em
caso de alguma desavença, poder tomar as necessárias
providências. Foi combinado de não se tocar nos graves problemas
do passado, nem em particular nem em público. O objetivo exclusivo
seria o trabalho à serviço dos romeiros. Os romeiros vinham
chegando em grupos sempre maiores. O relatório de 1957 (um ano
depois da chegada dos Redentoristas), já manifesta um mundo de
trabalho: 33.860 confissões; 42.750 comunhões; 1.673 batizados e
229 casamentos.
Em 1959 o Pe. Teofânio foi nomeado Superior da casa de
Garanhuns e Vigário da nossa paróquia. Encontrou a nova matriz
em construção, pois a primeira pedra fora colocada no dia 11 de
fevereiro de 1958. Com aquele zelo apostólico que lhe era tão
próprio, o Pe. Teofânio se dedicou aos serviços paroquiais,
colocando como sua prioridade o cuidado dos pobres. Mas também
teve a incumbência de vigiar mais a observância da Santa Regra e,
neste ponto, era um tanto escrupuloso.
Em 1962 foi liberado desse ônus quase insuportável para ele
e de 1962 em diante, vai encontrar um campo mais livre para pregar
as Santas Missões. Sendo dotado de dons artísticos, o Pe. Teofânio
sabia dar vida às Missões. Suas Inspirações poéticas eram
inesgotáveis. Compôs uma superabundância de dramas e
encenações. Menciono apenas alguns títulos: “O mistério da Cruz”;
“As angústias de São José”; “São Sebastião, o soldado rebelde”;
“São Miguel”; “Natal do jangadeiro”; “Natal da Virgem”; “Nossa
Senhora de Fátima”; “A Imaculada”; “O Coração Divino”; “A préhistória da Igreja”; “Padre Cicero Romão Batista”; “São João Batista,
a grande pergunta”.
Na década de setenta, quando o número de Missões diminuía
cada vez mais, o Pe. Teofânio aceitou o encargo de Vigário de São
Sebastião do Umbuzeiro-PB. Nesta paróquia, além do serviço
paroquial, procurou despertar no povo o interesse pela literatura, a
poesia e pela arte dramática. Para esse fim construiu uma espécie
de teatro.
68
De 1979 a 1984, o Pe. Teofânio foi novamente Vigário de
Garanhuns. Ele já estava cansado da luta e das atividades
pastorais, mas com muita dedicação procurou dar tudo de si para o
bem do povo, especialmente para os pobres e os enfermos nos
diversos Hospitais e nas casas. Mas então já se mostravam os
primeiros sintomas da doença fatal. No entanto, com a sua vontade
de ferro, não quis deixar o trabalho em benefício do povo de Deus.
Em 1984 aceitou uma paróquia bem modesta na cidade de
Caruaru-PE. A presença benéfica do Pe. Teofânio fez bem a muita
gente naquela paróquia.
Em 1992 voltou definitivamente para a Holanda e foi bem
acolhido no nosso Convento Nebo. Com uma dedicação
extraordinária concluiu a sua obra “Salmos e Reflexões” (405 p.).
No entanto, teve também horas amargas, de depressão
profunda, de maneira particular após a certeza da aproximação da
sua morte. Finalmente conseguiu superar aquelas crises e houve
uma plena aceitação e uma completa entrega à vontade de Deus.
Faleceu no dia 29 de outubro de 1995 e no dia 3 de novembro foi
sepultado no cemitério do nosso Convento.
Louvai a Deus no seu templo,
Louvai-o seu poderoso firmamento,
Louvai-o por suas façanhas,
Louvai-o por sua grandeza imensa!
Louvai-o com toque de trombeta,
Louvai-o com cítara e harpa,
Louvai-o com dança e tambor,
Louvai-o com cordas e flautas,
Louvai-o com címbalos sonoros!
Louvai-o com címbalos retumbantes!
Todo ser que respira louve a Deus!
Este é um canto vivo, o canto da vida, a própria vida, o canto
da eternidade. É um canto de uma estrutura totalmente diferente,
pois cantado por todos os seres celestiais. É o canto da pertença
eterna a Deus.
Deus é a música e nós seremos o eco das suas melodias
maravilhosas.
69
25. Ir. José Kluwen, CSsR
Falecido em 1974
O Ir. José Kluwen nasceu em 1934; fez a sua profissão
religiosa em 1954. Chegou ao Nordeste em 1959 onde trabalhou por
dez anos até obter a Dispensa dos votos em 1969 (60 anos).
A sua profissão era carpinteiro. A primeira casa para ele foi
Garanhuns-PE 1959 a 1964 onde trabalhou na cozinha e exercendo
outros serviços domésticos. Nada pôde realizar referente à sua
profissão. Era um Irmão expansivo, alegre, comunicativo e de vez
em quando desmedido na sua linguagem, mas de coração bom e
generoso.
Em 1964 foi transferido para Natal-RN, mas já em 1966 pediu
a dispensa dos votos e casou-se com Gracinha, filha de D. Maria, a
nossa cozinheira. Foi morar no Recife e passou uma época muito
difícil quanto à situação financeira. Depois de alguns anos
conseguiu um bom emprego numa firma holandesa (comércio de
madeira) na Ilha do Amapá. Na década de setenta teve uma época
boa, ganhando bem. Aí nasceu o seu filho.
Mas José fazia também um trabalho de conscientização no
meio operário e isso não agradou aos chefões da firma. Um dia,
ajudando no transporte fluvial da madeira colocada na balsa esta
virou. Todos se salvaram, menos José que era um bom nadador. O
fato ficou sem muitas explicações.
O Bispo daquela região deu a mim, pessoalmente, o seguinte
testemunho: “O José era um ótimo cristão, ativo no setor social,
ajudando os operários a não serem explorados pela firma holandesa
Bruinzeel. Estou convencido de que a morte do José foi
assassinato. Naquela hora do desastre alguém, pago pela firma,
deve ter batido na sua cabeça até ele ficar inconsciente morrendo
afogado”.
Assim o Bispo me garantiu taxativamente. Ainda propus
procurar uma intervenção do Ministro da Justiça, para que a Firma
Bruinzeel fosse processada por crime de morte, mas um processo
desses não poderia ter resultado por falta de testemunhas.
Não me recordo do ano da morte trágica do nosso Exconfrade Irmão José, mas deve ter sido entre 1973 e 1974.
70
Nossa vida é um presente de Deus. Vamos oferecer a Deus
todo o bem que irmão José praticou e louvá-lo pelo tempo que viveu
entre nós. Dai-lhe Senhor, o repouso eterno.
“A morte é como a semente que se abre para a vida, para o sol que
é Deus”.
71
26. Ir. Marcelino Wetzels, CSsR
Falecido na Holanda - Segunda metade dos anos 70
O Ir. Marcelino Wetzels nasceu em 1922; fez a sua profissão
religiosa em 1950 no Rio de Janeiro. Veio para o Nordeste em 1958
onde trabalhou até conseguir a Dispensa dos votos em 1962.
O Irmão Marcelino era alfaiate de profissão e trabalhou na
Província do Rio de Janeiro junto com o Irmão Belarmino. Ele não
se deu bem no ambiente da Província do Rio de Janeiro e pediu a
transferência para a Vice-Província do Recife em 1958. Trabalhou
na casa de Garanhuns de 1958 a 1959; em Campina Grande em
1959 e de novo em Garanhuns de 1959 a 1962. Neste ano retornou
para a Holanda e pediu a dispensa dos votos.
Durante a sua permanência na Vice-Província do recife não
pôde se dedicar à sua Profissão de alfaiate, pois foi incumbido de
trabalhos domésticos (cozinha, portaria, etc).
Em Garanhuns teve umas crises muito fortes do sistema
nervoso. Conhecendo a história da vida do Irmão Marcelino, poderse-á chegar a uma compreensão do sofrimento dele. Na segunda
guerra mundial foi obrigado a se alistar no exército alemão e passou
alguns anos na linha de combate na Rússia. Após a derrota do
exército alemão em Stalingrado e na retirada das tropas alemãs,
Marcelino sofreu misérias incríveis como a fome e o frio, andando a
pé por aquelas terras imensas e cobertas de neve da Rússia. Assim
se compreende porque Marcelino ficou terrivelmente traumatizado e
o porque daquelas crises de nervosismo e de uma angústia
insuportável.
Apesar de todo aquele sofrimento Marcelino era um Irmão
muito delicado no trato e de uma disponibilidade extraordinária para
ajudar os seus confrades.
Em 1962 o Irmão Marcelino foi chamado de volta para a
Holanda e conseguiu a dispensa dos votos. Casou-se e perdeu o
contato com os antigos confrades.
A notícia da sua morte chegou ao Convento de Wittem, mas
ninguém de lá sabe informar sobre a data exata. Deve ter sido na
segunda metade de ‘70.
Acolhei Senhor, este vosso filho que tanto amastes nesta
vida. Que goze para sempre do sorriso do Pai do Céu!
72
27. Pe. Adriano (Gerardus) Backx, CSsR
Falecido no Nebo em Nijmegen - 19-06-1997
(79 anos)
Pe. Adriano nasceu no dia 26 de julho de 1917, em
Steenbergen, Holanda. Fez os seus votos religiosos em
S’Hertogenbosch no dia 8 de setembro de 1940 e foi ordenado
sacerdote no dia 24 de abril de 1946 em Wittem. Faleceu no dia 19
de junho de 1997 no Nebo em Nijmegen onde está sepultado.
Vindo da Vice-Província do Rio de Janeiro chegou a
Garanhuns-PE no dia 22 de dezembro de 1947. O Brasil foi tudo
para ele. Trabalhou aqui mais de 40 anos com dedicação e
fidelidade, de modo especial com os pobres e doentes. A estes
pertencia o seu coração. Morou nas seguintes comunidades:
Garanhuns, Juazeiro da Bahia, Campina Grande, Arcoverde, Natal e
Recife.
Desenvolveu sua ação pastoral no campo das missões, das
atividades paroquiais, na coordenação da Pastoral da Saúde da
Arquidiocese de Olinda e Recife e da CRB NE II, como capelão
hospitalar e escritor.
Falar de Pe. Adriano é falar da Pastoral da Saúde. O trabalho
com os doentes estava na sua alma. Sua preocupação era de
organizar uma pastoral humana de escuta e não simplesmente de
sacramentalização. Procurava a individualidade da pessoa e para
isso, em uma tarde, atendia apenas de 3 a 4 doentes, para poder ter
contato de amizade, afetividade, para tornar-se próximo. Assim, Pe.
Adriano olhava a pessoa inteira, não só a alma.
Para os doentes e idosos escreveu vários trabalhos. De 1977
a 1989 escreveu bimestralmente o folheto “Carta aos Doentes”
animando os doentes e a todos que trabalhavam na Pastoral da
Saúde.
Com o seu dom para escrever, elaborou com o Pe. Geraldo
Pennock, o único material organizado que temos da história da ViceProvíncia: “A Presença dos Missionários Redentoristas no
Nordeste”. Traduziu do holandês para o português, o livro do Pe.
Manders CSsR: O Amor na Espiritualidade de Santo Afonso.
Sem dizer nada Pe. Adriano observava tudo ao seu redor.
Possuía o dom de caracterizar em poucas palavras, com humor
suave, mas certeiro, pessoas e situações. Ainda hoje são lembrados
muitos dos seus ditados, apelidos e comparações.
73
De volta para a Holanda encontrou seu lugar na comunidade
de Nebo. Como já acontecia no Brasil, sua atenção para os doentes
era muito pessoal e benéfica. Este cuidado se tornou tarefa diária,
pelo menos durante o tempo em que isto lhe era possível. E ainda
continuou trabalhando para o Brasil. Entre outras coisas fez a
tradução de centenas de documentos do arquivo para o português.
Como um dos membros da 1ª Comunidade que iniciou a “Missão de
Garanhuns”, era projeto seu escrever a história dos primeiros anos
da comunidade fundadora de 1947. Estava ansioso para ver o In
Memoriam publicado. No dia em que terminamos a digitação do
último texto deste seu livro, recebemos a notícia de seu falecimento.
Sem dúvida, nosso confrade soube duplicar os talentos que
lhe foram confiados. Por isso rezamos, que participe da alegria do
Senhor como um servo bom e fiel.
No ano de 1997 quando celebramos os 50 anos de presença
redentorista no Nordeste ele foi homenageado com o nome de uma
rua no bairro da Liberdade em Garanhuns. Ainda hoje alguns de
seus livros continuam sendo publicados. Em 2003 quando a Igreja
no Brasil celebrou a Campanha da Fraternidade sobre os idosos
outro livro seu ganhou uma nova e bonita edição.
“A saúde é como a vida, portanto não é um bem eterno, mas algo
passageiro. Por isso, a doença não é apenas um prenúncio da
morte, mas também da vida eterna que Deus nos dará.”
Do livro: Uma Mensagem para o Doente: A Esperança não
Decepciona - Pag. 20.
Pe. Adriano Backx.
74
28. Pe Carlos (Aloysius) Maria Donker, CSsR
Falecido em Nijmegen - 01-08-1998 (99 anos)
Vice-Provincial de 1951 a 1956
O Pe. Carlos Donker nasceu no dia 02 de junho de 1899 e
tornou-se membro da Congregação dos Redentoristas em 29 de
setembro de 1918; ordenou-se sacerdote em 03 de outubro de
1923. No dia 01 de agosto de 1998 faleceu em Nijmegen e foi
sepultado no dia 05 do mesmo mês no cemitério convento do Nebo
em Nijmegen.
Por ocasião de seu jubileu de ouro de ordenação sacerdotal
em 1973, escreveu ao seu superior provincial: “Não poucas vezes
tentei realizar e empreender alguma coisa. Embora possa afirmar
que o bem estar da Congregação nisto sempre foi motivo, nem
sempre todas as motivações foram ‘voltadas para o alto’. Muita
coisa devo atribuir ao meu caráter impulsivo de homem ativista que
sou. Daí a pessoa faz a experiência diferente do que imaginara.
Essas decepções caem então na própria cabeça e servem para o
ensinamento e para olhar ‘para cima’, de forma que de novo se
chega na linha ‘vertical’.”
Com isso, Pe. Carlos Donker se caracterizou. Era mais um
homem de atos do que palavras. Um homem ativo, com talento de
governar. Isto se manifestou logo durante o primeiro período no
Brasil, de 1924 a 1935. Seu talento de governar veio à luz mais
claramente no período de 1935 a 1950, quando ocupou as funções
de ecônomo e provincial na Holanda.
Foi neste período em 1947, que ele foi enviado pelo Governo
Geral como visitador Extraordinário para a Província de São Paulo.
De novo no Brasil de 1950 a 1957 mostrou sua visão criativa e
persistência ao fundar a Vice-Província de Recife. Vivendo o ideal
redentorista gostava de enfrentar desafios. Ao organizar a ViceProvíncia nos seus primeiros anos escolheu com sabedoria os
pontos estratégicos. Já havia Garanhuns, um oásis no clima quente
do Nordeste; Arcoverde, a porta do sertão; Campina Grande com
seu clima ameno e ponto central, lugar apropriado para uma casa
de formação. Por fim, teve coragem e ousadia na idade de 58 anos
de dar os primeiros impulsos ao experimento do COLAM (Colégio
Latino Americano). Decepções não lhe foram poupadas. Mas sabia
“administrá-las” e ele era suave e misericordioso no seu juízo. E
75
exatamente nestes momentos deixou transparecer algo de sua fé no
seu Senhor.
A narração dos discípulos de Emaús lhe era muito cara.
Discípulos na incerteza e confusos, que não reconheciam a Jesus,
mas se sentiam encorajados por suas palavras. Era isto para ele
uma experiência em que se reconhecia.
Nos últimos decênios de sua vida sabia, com sua experiência
tranqüila e equilibrada, dar conteúdo a sua existência e participa-la
aos outros.
Somos gratos a ele e acreditamos que seus olhos se abriram
para o reconhecimento do Senhor a cujo serviço vivia.
“Então seus olhos se abriram e o reconheceram” (Lc 24,31)
76
29. Pe. Timóteo Veltman, CSsR
Falecido em Aparecida, SP - 09-04-1998
(81 anos)
Co-fundador da casa de Arcoverde, PE
Na tarde de 09 de abril passado, em nosso Convento da
Basílica, em Aparecida, na idade de 81 anos, Pe. Timóteo Veltman
voltou para o pai. Já há alguns meses, seu estado de saúde estava
decaindo visivelmente: emagreceu e enfraqueceu muito. Os
médicos o acompanhavam, mas parecia não terem descoberto nada
de mais grave.
Pe. Timóteo, que tinha o nome de Tjipke, nasceu na Holanda,
em Workum, no dia 14 de outubro de 1918. Em 1934 terminou seus
estudos secundários. Daí em diante começou a estudar sozinho,
sem escola e professores. Em 1946 prestou exames diante de
bancas do governo e foi aprovado, podendo prestar exames em
todas as Faculdades e Universidades da Holanda.
Em 1946 após os exames, entrou para a CSsR., diretamente
para o Noviciado, em Hertogenbosch, onde fez sua profissão
religiosa em 08 de setembro de 1947. Fez o Seminário Maior em
Witten, onde foi ordenado sacerdote em 17 de setembro de 1952.
Em 1954 veio para o Brasil, como membro da Vice-Província
de Recife. Durante algum tempo foi professor no nosso Seminário
Menor em Garanhuns. Durante anos percorreu todo o Nordeste,
como missionário.
Nunca se sentiu atraído para o trabalho paroquial, sempre foi
um verdadeiro missionário. Quando depois do Concílio Vaticano II
se procurou uma nova forma para as Missões Populares, na assim
chamada “Ação Missionária”, ele também aderiu. Depois ele
elaborou um projeto de missões, para o interior de Alagoas. A
Diocese de Palmeira dos Índios-AL foi durante vários anos campo
de sua atuação missionária.
Atuou lá sozinho por falta de confrades que pudessem ir com
ele, e porque nunca foi homem de trabalhar em equipe. O povo
conta muitas histórias de sua vida missionária. Celebrando a missa
numa noite de Natal foi incomodado pelo barulho de uma casa
vizinha onde a música estava alta de mais. Mandou pedir que
abaixassem o som, mas não foi atendido. Depois da missa foi
amaldiçoar a casa; houve depois fatos desastrosos e hoje ninguém
quer morar naquela casa.
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Pe. Timóteo foi sempre um apaixonado pela Matemática e
Física Teórica. Seus conhecimentos nessas matérias correspondem
ao PHD dos Estados Unidos. Sempre que tinha tempo, lá estava ele
com seus livros de Física, que levava até mesmo nas Missões.
Depois da Missão Geral de Curitiba, começou a pregar
missões junto com os missionários da Província de São Paulo,
morando em Araraquara. Em 1985 pediu e obteve a adscrição
definitiva à Província de São Paulo.
De 1986 a 1993 morou no Jardim Paulistano em São Paulo,
para ter mais facilidade para continuar seus estudos e também
realizar apostolado no meio universitário. Em 1994 foi transferido
para o Convento da Basílica, dedicando-se ao apostolado com os
romeiros, enquanto suas forças o permitiram.
Era membro da “The New York Academy of Sciences” e da
“American Association for the Advancement of Sciences” dos
Estados Unidos.
Pe. Timóteo tinha 4 irmãs: 2 casadas e 2 religiosas: uma Irmã
Redentorista e outra Dominicana. Uma das irmãs casadas, sabendo
da sua doença, veio visitá-lo, chegando a São Paulo no dia 09,
algumas horas depois do seu falecimento. Ela pôde, porém,
participar da missa de corpo presente e enterro, no dia 10.
“Venha, servo bom e fiel, tomar posse da Herança
que está preparada desde toda a eternidade”.
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30. Pe. Humberto (Gerardus) Plummen, CSsR
Falecido no dia 06 de setembro de 2001 em Recife- PE (73 anos)
Vice-Provincial de 1981 a 1987
No dia 05 de setembro de 2001 Pe. Humberto fez sua Páscoa
para a eternidade. Depois de celebrar em sua comunidade e fazer
uma reunião com as lideranças, como um bom amante do futebol,
foi para casa assistir o jogo de Brasil e Argentina. Depois de um dia
de trabalho Deus o chamou...
Pe.Humberto nasceu em MHEER, lugarzinho perto de
Maastricht no Sul da Holanda, no dia 28 de janeiro de 1928. Seu
nome completo era Jan Hubert Gerardus Plummen (João Humberto
Geraldo).
Fez sua Profissão Religiosa como Missionário Redentorista
na Holanda no dia 08 de setembro de 1949. Começou seus estudos
em Wittem (Holanda) e em 1953 veio com outros colegas para o
Brasil terminar seus estudos teológicos em Floresta, perto de Juiz
de Fora (MG). Em 21 de setembro de 1954 foi ordenado sacerdote.
Em 1955 veio para o Nordeste, para a Vice-Província do
Recife. Começou seu trabalho em Campina Grande-PB, ajudando
na Paróquia e tomando conta de Galante de 1955 a 1956.
De 1956 a 1959 ajudou na Paróquia de Arcoverde-PE.
De 1959 a 1961 mudou-se para Garanhuns-PE para ajudar
no Seminário Menor dos Redentoristas como professor e também
dar assistência pastoral.
Em 1962 foi enviado para Louvânia na Bélgica para estudar
Sociologia onde se formou em 1966.
Voltando para o Nordeste foi nomeado prefeito dos
seminaristas maiores da Vice-Província. As aulas eram ministradas
em Camaragibe, na casa dos padres do Sagrado Coração de Jesus
e lá surgiu a idéia da fundação do ITER, Instituto Teológico de
Recife.
O ITER funcionou inicialmente na FAFIRE, e depois mudouse para o Centro Dom Vital na Rua do Giriquiti; em seguida para o
prédio em frente ao Hospital Pedro II. Em 1989 o ITER foi fechado.
Já antes Pe. Humberto com uma equipe tinha fundado a DEPA,
Departamento de Pesquisa e Assessoria, durante vários anos ele foi
Diretor destas entidades.
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Além dos seus trabalhos na formação e como professor, ele
assumiu trabalho pastoral nas paróquias de Santa Isabel (19791983) e da Estância (1983-1985).
Durante todo este tempo Pe. Humberto teve uma presença
marcante na Pastoral da Igreja do Nordeste, principalmente na
Arquidiocese de Olinda e Recife. Dentre estes trabalhos
destacaríamos o Centro de Pastoral dos Pescadores, onde atuava
com dedicação. Esteve muito unido a Dom Helder. Foi Vigário
Episcopal para o mundo de trabalho e assessorou na preparação do
célebre Documento “Ouvi os Clamores do Meu Povo”. Também deu
assessoria em inúmeras reuniões e assembléias, tanto diocesanas
como também a diversas Congregações Religiosas masculinas e
femininas. Foi durante 3 (três) períodos Presidente da CRB,
Conferência dos Religiosos do Brasil-Nordeste II e nas Regionais da
CRB
(Recife-Fortaleza).
Assessorou
inúmeros
encontros,
especialmente na área de formação de religiosos e religiosas.
Na Vice-Província ocupou vários postos: de Conselheiro e de
Vice-Provincial de 25 de fevereiro de 1981 até 18 de fevereiro de
1987.
Em 1986 foi morar no Ibura - UR 5 e depois na UR 6, onde
morreu. O marco do seu trabalho foi sua atenção à justiça social e
aos pobres excluídos. Destacaríamos especialmente o “GRITO DOS
EXCLUÍDOS”. Coincidentemente, Deus o chamou na véspera desse
evento, de que ele foi um grande incentivador e participante.
No Ibura - UR 6 conseguiu, como último trabalho, junto com o
povo, a ampliação da Capela Nossa Sra. de Fátima.
Morreu em sua residência no Ibura no dia 06 de setembro de
2001, aos 73 anos vítima de edema pulmonar.
“Deus lhe deu um coração de discípulo, para aprender com os
aflitos e injustiçados;
Chorou suas dores e tornou-se seu aliado,
Entre os deserdados e desterrados armou sua tenda.
Deus o despertou para ouvir os clamores do povo
E buscar cura para as suas feridas.
E ele sempre respondeu: “aqui estou!”
Foi atacado e não recuou,
Foi amado e correspondeu.
Deu frutos em toda sua vida,
E na velhice entregou o cêntuplo de seus dons.
Na tristeza de sua partida para o mistério infinito,
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Saibamos agradecer seu amor e
O dom de sua vida para todos nós.
Que ele continue sendo
o inspirador
o instigador
o amigo
o educador
De nossas lutas por terra, ternura, pão e liberdade.”
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31. Pe. Antonius (Gerardus) Esselaar, CSsR
Falecido em Warmond, Holanda – 23/10/2001
(87 anos)
O Pe. Antônio Esselaar nasceu em Amsterdã no dia 03 de
fevereiro de 1914. Sua profissão religiosa aconteceu no dia 08 de
setembro de 1947 em Den Bosch, casa de noviciado da Província
Holandesa e ordenou-se sacerdote em Wittem no dia 17 de
setembro de 1952.
Depois de concluir os seus estudos teológicos veio trabalhar
como missionário no Brasil, aqui chegando em 1954. Na ViceProvíncia do Recife trabalhou em diversas comunidades: Garanhuns
(1954), Juazeiro da Bahia (1954-1957), Bom Jesus da Lapa (19571965), novamente Garanhuns (1965-1967), outra vez Juazeiro
(1967-1971), São José da Coroa Grande (1971-1979), Pedro
Avelino (1979-184), Arcoverde (1984) e Natal (1984-1990) quando
retornou à Holanda, passando a residir na casa de repouso para
idosos de Warmond. Pe. Antonio faleceu no dia 23 de outubro de
2001.
As informações colhidas juntos daqueles que com ele
conviveram nos falam que ele era uma pessoa sensível e muito
preocupada com o bem estar material e espiritual de seus
confrades. Mesmo nos últimos anos de sua vida soube manter o
bom humor que lhe era característico. Pe. Antonio era bastante
temperamental, custava a perder a calma, mas quando isto
acontecia...
Sobre a sua vida temos até mesmo alguns episódios
folclóricos. Quando residiu em São José da Coroa Grande ele era
mais procurado para consertar geladeiras e outros utensílios
domésticos, do que para visitar os doentes que dele necessitavam.
Outro episódio: Quando trabalhava em Juazeiro da Bahia Pe.
Antonio perdeu uma de seus olhos, passando a usar uma prótese
de vidro no lugar. Ainda assim sempre conseguiu renovar a sua
carteira de motorista, mesmo tendo um olho só. Certa vez durante o
velório do Pe. Canísio estava do lado de fora da Igreja procurando
alguma coisa pelo chão. O sacristão da Igreja chegou e perguntou o
que procurava ao que ele respondeu: “Estou procurando o meu
olho”. Imaginem a cara de surpresa do sacristão!
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Pe. Antonio era companheiro de turma do Pe. Timóteo e
gostava muito de andar de com ele. Era interessante ver o contraste
entre a altura do Pe. Timóteo e a sua pequena estatura.
Em Juazeiro Pe. Antonio construiu uma escola e uma capela,
característica dele sempre repetida em vários lugares por onde
passou.
“Jesus percorria todas as cidades e aldeias,
e ali ensinava em suas sinagogas, proclamando a
Boa Nova do Reino e curando toda doença e enfermidade”.
Mt. 9,36
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32. Pe. Clemente (Bernardo Maria) Tresoor,
CSsR
Falecido em Wittem, Holanda – 08/03/2004
(94 anos)
O Pe. Clemente nasceu em Amsterdã, na Holanda no dia 14
de abril de 1909. Emitiu os votos religiosos na Congregação
Redentorista em ‘s Hertogenboseh aos 08 de setembro de 1932.
Ordenou-se sacerdote em Wittem aos 22 de setembro de 1937.
Veio para o Brasil em 1938, ligando-se à Vice-Província do
Rio de Janeiro, onde ficou até 1949, quando veio para o Nordeste.
Na Vice-Província do Recife morou nas seguintes
comunidades: Garanhuns (1949-1950), Juazeiro da Bahia, onde foi
o iniciador da comunidade (1950-1953), novamente Garanhuns
(1953-1957), Recife - Madalena (1957-1964), outra vez em
Garanhuns (1964-1967) e por fim em Campina Grande até 1984,
ano em que voltou para a Holanda.
Entre nós ficou conhecido como um grande missionário.
Pregou muitas e muitas missões pelo Nordeste, destacando-se a
coordenação das Missões Gerais do Recife em 1957-1958. Nas
missões era extremamente zeloso, muito trabalhador, simples e
pouco exigente naquilo que dizia a respeito à acomodação,
alimentação e transporte. Pe. Clemente era até certo ponto
preocupado excessivamente com questões morais, como o tamanho
das saias usadas pelas mulheres. Muitas vezes em suas pregações
e conferências tratava deste assunto demoradamente, até mesmo
com certo escrúpulo.
O Pe. Clemente sofreu as influências próprias do seu tempo;
ele era bastante conservador nas suas idéias e na sua postura com
respeito ao modelo de Igreja. Porém, apesar disso sabia valorizar os
movimentos, associações e irmandades próprias do seu tempo.
Na vida comunitária das diversas casas onde morou era
sempre discreto e de poucas palavras, mas era muito cordial e de
fácil convivência. Sabia interessar-se pelo trabalho dos outros e
pelas coisas da Vice-Província.
Como trabalhou muito nas missões ele era um bom pregador,
apesar de não ter uma voz excelente, aliás, nos últimos anos sua
voz estava bastante cansada, pois naquele tempo se pregava muito
nas praças e muitas vezes sem um serviço de som adequado.
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Depois de voltar para a Holanda passou a residir no nosso
convento de Nebo em Wittem, onde empenhou suas forças e
talentos na orientação de todos aqueles que o procuravam. Era um
homem de oração e nela encontrou forças no momento de sua
doença. Veio a falecer no dia 08 de março de 2004, aos 94 anos de
idade. Depois das cerimônias fúnebres foi sepultado no cemitério do
nosso convento no dia 13 de março.
O Pe. Clemente foi agraciado com o título de cavaleiro na
ordem de Oranje Nassau.
Merecidamente Pe. Clemente recebeu uma homenagem da
Vice-Província. O seu nome foi dado ao salão construído anexo ao
Centro Missionário Pe. Miguel em Garanhuns, talvez os dois
maiores missionários populares que tivemos entre nós.
“A caridade de Cristo nos compele”.
2 Cor. 5,14
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33. Pe. Frederico (Frits) Te Líntelo, CSsR
Falecido em Nijmegen – 08/07/2004 (74 anos)
O Pe. Frederico nasceu no dia 09 de junho de 1930 em
Haaksbergen – Holanda. Depois de se preparar, freqüentando o
seminário Redentorista na Holanda fez a sua Profissão religiosa no
dia 08 de setembro de 1953 em S’Hertogenbosch. Ainda como
estudante foi enviado ao Brasil, cursando a Teologia em Floresta –
Juiz de Fora, MG onde ordenou-se Sacerdote no dia 02 de fevereiro
de 1959. No mês de janeiro de 1960 veio para o Recife, passando
este ano em estágio pastoral tomando conta da Paróquia de N. Sra.
Dos Remédios que fica na Estrada dos Remédios. No mês de
outubro viajou para a Holanda onde foi rezar a sua “primeira missa”
e fazer férias.
Voltando ao Brasil em abril de 1961 engajou-se de vez nas
atividades pastorais da Vice-Província. Entre 1961 e 1967 foi
professor no Seminário Menor em Campina Grande.
De 1967 a 1970 foi Pároco na Paróquia da Madalena, onde
entre tantas outras atividades lutou para defender os pobres que
moravam em palafitas na margem do Rio Capibaribe, quando a
prefeitura queria limpar e urbanizar aquela área. Foi ele que
comprou uma pequena casa na Rua Augusto Severo, casa esta que
ainda hoje é usada para as reuniões e atividades do povo da
comunidade Mangueira da Torre.
Entre 1970 e 1976 morou em Natal – RN, trabalhando como
missionário, sobretudo nas paróquias do interior, onde se empenhou
muito na formação das lideranças leigas, sobretudo catequistas.
De 1976 até 1978 foi vigário da Paróquia de Garanhuns,
sendo depois transferido para Campina Grande de onde tomava
conta da Paróquia de São Sebastião do Umbuzeiro – PB.
Em 1983 foi morar em Monteiro – PB integrando, junto com o
Pe. Gabriel e Pe. Antonino o “Projeto Cariri”, ficando e atendendo
toda a região até 1990 quando voltou para Campina Grande, onde
passou a atender a área pastoral do Estreito. Em 1996 voltou para a
Holanda, mas sempre mantinha contato com o Brasil, sobretudo
com pessoas das áreas onde atuou. Depois que voltou à Holanda
esteve algumas vezes visitando os muitos amigos que aqui deixou.
No mês de julho de 2003 sofreu uma espécie de aneurisma
cerebral e suas condições de saúde foram decaindo.
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Pe. Frederico faleceu no dia 08 de julho de 2004, sendo
sepultado no dia 13, após missa de corpo presente. Seu corpo
repousa no cemitério do antigo convento do Nebo, onde aguarda a
feliz ressurreição.
Fica para a história e para a nossa memória o bem que ele
praticou, seu esforço em prol do bem espiritual e material do povo
com quem trabalhou, sobretudo o seu esforço de organizar de forma
cada vez mais eficiente às comunidades onde atuou.
“Os que ele distinguiu de antemão, também os predestinou para
serem conformes a imagem de seu Filho, afim de que este seja o
primogênito entre uma multidão de irmãos”.
Rom. 8,29
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34. Pe. Walter (Alphonsus) Blondeel
Falecido em Nijmegen, Holanda – 13-01-2005.
Ele nasceu em Aardenburg Flandria do Sul – Holanda no dia
13 de fevereiro de 1919, fez a sua profissão religiosa em Bois le
Duque no dia 08 de setembro de 1940, foi ordenado Sacerdote no
dia 24 de abril de 1946.
Depois de ordenado foi nomeado professor de geografia no
Seminário Menor em Glanerbrug e Nijmegen.
Pe. Walter veio para o Brasil em 1949, trabalhando
inicialmente na Província do Rio de Janeiro em Curvelo, Floresta,
Congonhas e Juiz de Fora.
Em 1968 mudou-se para a Vice-Província do Recife morando
unicamente na comunidade de Campina Grande onde trabalhou
como professor no Seminário Menor Santos Anjos de Campina
Grande.
Depois de 06 anos integrando o grupo Redentorista da ViceProvíncia do Recife retornou para a Holanda no ano de 1974 onde
passou a realizar um trabalho pastoral na cidade de Haia, voltado
especialmente para os portugueses. Em seguida fixou residência
em Amsterdam, morando na coumunidade de Roosendal. Desde o
ano 1999 morava no nosso Convento em Nijmegen. Após uma
doença breve, mas sofrida, faleceu na nossa casa de Nebo em
Nijmegen no dia 13 de janeiro e foi sepultado no cemitério dos
confrades Redentoristas da mesma casa. Ele estava para completar
85 anos.
O tempo de permanência do Pe Walter Blondeel na ViceProvíncia foi curto, apenas 06 anos, sendo que ele não exerceu
nenhum cargo ou serviço de maior projeção. No Seminário
trabalhou como professor de geografia. Segundo aqueles que o
conheceram o Pe. Walter era bastante introvertido, calado, mas sem
maiores dificuldades no relacionamento com os confrades. Ainda
assim não deixava de participar dos atos da comunidade.
“Jesus disse: Sigam-me e eu farei de vocês pescadores de homens. Eles
deixaram imediatamente as redes, e seguiram a Jesus”. Mt 4,19-20
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35. Pe. Agostinho (Johannes Jacobus
Josephus Maria)
Vinkenburg, CSsR
Falecido em Nijmegen – Holanda aos 76 anos – 17/02/2005.
Pe. Agostinho nasceu em Hertogenbosch no dia 26 de
fevereiro de 1928. Sua Profissão religiosa aconteceu no dia 08 de
setembro de 1948 e sua Ordenação Sacerdotal se deu no dia 21 de
setembro de 1953. Após sua ordenação sacerdotal tornou-se
professor no Seminário Menor do Nebo em Nijmegen. Um pouco
mais tarde em 1962 partiu para o Peru, onde também trabalhou
como professor no Seminário Redentorista.
Em 1965 Pe. Agostinho veio para o Brasil residindo nas
seguintes comunidades: Bom Jesus da Lapa – BA (1965),
Garanhuns – PE (1966 – 1968), Campina Grande – PB (1969 –
1976) e finalmente Garanhuns (1976).
Depois de 12 anos dedicados ao povo brasileiro, sobretudo
aos mais pobres e abandonados do Nordeste Pe. Agostinho
retornou a Holanda em 1977 onde passou a realizar um trabalho
pastoral em Borne, Almelo e Moergestel. Além disto foi, por muitos
anos, relator dos informativos Inter Nós e Ter Informatie da
Província Holandesa. Foi também secretário, arquivista e cronista
da Província trabalhando em Amsterdam, Roosendaal e desde 1994
em Wittem.
Já há alguns anos manifestou-se nele uma doença grave,
que se tornou cada dia mais uma cruz pesada a ser suportada. Nos
últimos tempos já não foi mais possível um tratamento adequado em
Wittem, por isso mesmo em Janeiro de 2005 transferiu-se para a
casa de Berchmanianum em Nijmegen, onde recebeu uma melhor
assistência.
Pe. Agostinho Vinkenburg faleceu numa quinta-feira, dia 17
de fevereiro de 2005 e após a missa de corpo presente foi sepultado
no dia 23 de fevereiro no cemitério do Convento Redentorista.
Todos aqueles que conviveram com Pe. Agostinho se
recordam de suas atividades pastorais nas paróquias onde
trabalhou e dos trabalhos missionários que realizou. Somos
agradecidos a Deus pela sua vida e doação.
“Penso que os sofrimentos do momento presente não se comparam
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com a glória futura que deverá ser revelada em nós”.
Rm 8,18.
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