O ROMANCE DE TRISTÃO E ISOLDA NA
LITERATURA MEDIEVAL
Bárbara Rivadávia P. Oliveira
O conto medieval de Tristão e Isolda é construído sob o viés
de uma paixão entre ambos, porém proibida, uma vez que Isolda, a Loura
casara-se com Marc, rei das Cornualhas e tio de Tristão. O romance
permite
analisar
o
comportamento
dos
amantes,
principalmente
de
Isolda, que por sua vez não era o padrão da época medieval. Ela era
uma
mulher
dotada
de
astúcia
e
ousadia,
assim
planejava
habilidosamente com sua serva Brangien seus encontros amorosos com
Tristão.
Ao voltar ao início dessa história vê-se que Tristão era um
menino órfão, mas fora cuidado por Rohalt, o Defensor da Fé. Este,
então deixara a educação do menino a cargo do sábio e bom escudeiro
Governal. Assim, Tristão aprendeu as artes que convém aos barões, tais
como manejar a lança, a espada, o escudo, o arco. Tristão também
aprendeu a odiar a mentira, a traição, socorrer os fracos, cumprir com
a palavra dada, tocar harpa e a arte da caça (Bédier, Joseph p. 2).
Tristão veio a esse mundo para sofrer e ser provado, o menino
órfão fora seqüestrado por mercadores da Noruega, então a nau dos
mercadores
passou
oito
dias
e
oito
noites
vagando
em
águas
desconhecidas, estavam perdidos em alto mar. Tal fato fez bater o
sentimento de medo nos mercadores, assim juraram que se encontrassem
terra firme libertariam o menino. Quando avistaram uma costa eriçada
de falésias, aportaram e libertaram Tristão, mas o menino lamentava-se
com saudades de Governal, de Rohalt, seu pai e sua terra.
De acordo com Joseph Bédier (2006 p.3), Tristão encontrava-se
desnorteado,
assim
adentrou
pela
floresta
que
se
estendia
interminavelmente. De repente ele viu um grupo de caçadores com seus
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cães com sua presa nas mãos cortando-a, porém Tristão não se agradou
da forma como o cervo era cortado, e então se ofereceu para fazê-lo.
Os caçadores ficaram surpresos e admirados de como ele tinha tato para
decepar a presa.
Os
caçadores
animados
levaram
Tristão
a
um
castelo,
o
Tintagel e ele lembrou de seus pais biológicos que ali se amaram, a
mãe de Tristão era irmã do rei Marc. Lá o apresentaram ao rei, que já
de início encantou-se por ele. Tristão logo tratou de mostrar suas
grandes habilidades, e então passou a viver na corte e servir o rei.
Ele era o melhor cavaleiro de todo o reino das Cornualhas. Tristão já
era muito amado, principalmente por Dinas de Lidan, vassalo do rei, e
o próprio rei Marc. Mas Tristão ainda sentia falta de Rohalt, o
Defensor da Fé e Governal, e para sua surpresa os dois desembarcaram
nos portos das Cornualhas, e Rohalt ao se apresentar ao rei Marc disse
que Tristão era filho de Blanchefleur, irmã do rei e esposa do rei
Rivalem, ambos já falecidos.
O autor Joseph Bédier ressalta que o reino das Cornualhas
vivia em conflito com o reino da Irlanda, pois os irlandeses podiam
arrecadar, nas Cornualhas, no primeiro ano trezentas libras de cobre,
no segundo ano trezentas libras de prata fina, no terceiro ano
trezentas libras de ouro. Porém, no quarto ano eles levavam trezentos
moços e trezentas moças cornualheses, com idade de quinze anos para
serem seus servos. Mas havia quinze anos que o rei Marc recusava-se
apagar tais tributos, alegava que seus antepassados já os tinham
pagado. Morholt, o cavaleiro gigante e cunhado do rei da Irlanda era o
encarregado para levar a mensagem. Mas ao rei Marc ele fez uma
exceção, e lhe propôs que algum de seus barões o enfrentasse em uma
batalha, para provar que o rei da Irlanda tinha ou não o direito a
esses tributos.
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Tal proposta favorecia a Morholt, pois de acordo com Bédier
jamais Morholt fora vencido em combate. Mas, para surpresa de todos
Tristão se dispôs a lutar, e no dia aprazado navegou sozinho rumo à
ilha de Saint-Samson, que era o local da batalha. Tristão travou a
luta com Morholt, ninguém viu a violenta batalha, todos em Tintagel já
choravam por Tristão. Logo, ao longe vinha uma vela eriçada, era
Tristão. Ele derrotou Morholt, todos o saudavam com alegria. E com
grande pesar os companheiros de Morholt foram embora, ao chegarem ao
porto de Weisefort, foram recebidos pela rainha, irmã de Morholt e sua
sobrinha Isolda, a Loura, a dos cabelos de ouro.
Elas o acolhiam e se ele estivesse ferido, elas o curavam,
uma vez que conheciam as bebidas e bálsamos que reanimavam os feridos.
Mas nada disso adiantava agora, pois ele estava morto e com o
fragmento da espada no crânio, então Isolda tratou de guardá-lo em um
cofre de marfim. Elas lamentavam aquela desgraça, Isolda passou a
odiar o nome de Tristão.
Mas um desastre aconteceu com Tristão, estava ferido com a
lança envenenada de Morholt. E nada daquelas poções dos médicos
poderiam salvá-lo. Tristão já exalava mau cheiro de suas feridas,
esperava somente a morte. Todos fugiam de Tristão, sua companhia era a
de seus amigos Governal, o rei Marc, e Dinas de Lidan, pois o amor que
tinham por ele superava toda dor e mau cheiro. Tal situação só deixara
Tristão magoado, mas ainda corajoso ele suplicou ao rei que o deixasse
vagar sozinho pelo mar em um barco sem remos e sem vela, ele só exigiu
sua harpa ao seu lado.
Tristão vagou sete dias e sete noites, às vezes ele tocava a
harpa, assim seu sofrimento e sua dor diminuíam, por conseguinte ele
se aproximou de uma praia e lá os pescadores ouviram a doce melodia.
Remaram até alcançar a tal barca, perceberam que era um homem doente,
então o recolheram e levaram ao porto de Weisefort, onde jazia morto
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Morholt. De acordo com o autor, para deixá-lo sob os cuidados de uma
dama caridosa que pudesse curá-lo. Tal dama era Isolda, a Loura, ela
tinha habilidade com os filtros que podiam salvar Tristão.
E graças a seus conhecimentos Tristão foi reanimado, mas ele
sabia que corria risco de morte, assim com sua sabedoria disse que era
um trovador, e vinha em um navio mercante, mas fora atacado por
piratas e fugira naquela barca. A sorte, talvez estivesse ao seu lado,
pois nenhum dos companheiros de Morholt o reconheceu, pois ele tinha
os traços deformados. Então, passado quarenta dias, ele já recuperou
um pouco de sua forma e decidiu voltar ao reino das Cornualhas.
Quando Tristão chegou nas Cornualhas foi recebido com
injúrias por parte de alguns barões. Havia quatro homens que tinham
muita inveja dele, por ser querido por todos, eram eles; Andret também
sobrinho do rei Marc, Guenelon, Gondoine e Denoalen. Diziam que
Tristão fazia sortilégio, que era um bruxo. Tentaram envenenar o rei
Marc, os traidores alegavam que muitas maravilhas aconteceram na vida
de Tristão. Pois em tudo que ele se colocava a fazer tinha êxito,
assim as invejas lhes subiram a cabeça, e temiam que quando o rei
morresse deixasse o poder para Tristão.
Assim, os nobres exigiram que o rei Marc se casasse e tivesse
um filho herdeiro, mas ele não queria. Não podendo hesitar, certo dia
duas pombinhas estavam na janela do quarto do rei Marc brigando por um
fio de cabelo, mas tal fio era mais fino que um fio de seda e brilhava
como um raio de sol. Então o rei anunciara que desejava se casar com a
moça dona desse tal fio de cabelo. Marc tentou usar isso como
estratégia para não achar uma companheira para si, mas foi em vão,
pois Tristão como medo de ser julgado mau mais uma vez pelos barões,
que por sua vez sentiram-se envergonhados com tal pedido, assim
Tristão se dispôs a buscar a Bela dos cabelos de ouro. Mesmo sabendo
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que a busca era perigosa ele partiu para a terra de Morholt, que jazia
morto por Tristão.
Quando chegou ao porto de Weisefort, Tristão temia que sua
nau fosse perseguida, com isso ele persuadiu os homens do porto, que
ele e seus companheiros eram mercadores vindo da Inglaterra para
negociar. Então desembarcou na cidade, e descobriu que lá havia um
bicho feroz que nenhum homem foi capaz de matar, e a recompensa para
que o fizesse seria a mão da princesa Isolda, a Loura em casamento.
Era tudo que Tristão precisava para seu tio Marc. Tristão como toda
sua coragem e bravura foi armado para enfrentar tal bicho e lhe cravou
sua espada na garganta da fera e matou, por fim cortou um pedaço da
língua do bicho como prova.
Mas Tristão saiu um pouco ferido da luta e desmaiou perto de
uma poça de água, um vassalo do rei da Irlanda viu o bicho morto e
pensou que o vencedor estava morto. Então decepou a cabeça do bicho e
levou ao rei, então o rei lhe entregaria a mão de Isolda, a Loura por
quem era apaixonado. Mas a princesa não o queria de forma alguma,
assim decidiu ir ao local que o bicho estava e viu lá um cavalo morto,
e o arreio estava colocado de forma diferente dos costumes irlandeses,
e a ferradura do cavalo não era de seu país. A princesa procurou
incansavelmente o homem que matara o bicho e encontrou ainda vivo
Tristão, ela percebeu que se tratava de um cavaleiro estrangeiro.
A mãe de Isolda medicou Tristão enquanto ela preparava-lhe um
banho, ele estava contente com a situação, mas a ironia do destino
tratou de mudar a situação. Isolda pegou a espada de Tristão para
limpar e percebeu que havia uma falha, e rapidamente lembrou-se do
fragmento da espada que ficara no crânio de seu tio Morholt, então
pegou o fragmento e confirmou o fato. Isolda encontrava-se em estado
de ira, Tristão para tentar acalmá-la foi perspicaz e lhe disse que
não matara Morholt traiçoeiramente, pois tinha sido seu tio que lhe
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propusera a batalha. Ela deixou-se levar pelas palavras de Tristão,
então o poupou da morte. Ele disse a ela que duas pombas levaram um
fio de seus cabelos ao castelo de Tintagel, e ele pensou que era um
anúncio de paz e amor.
No dia da assembléia para anunciar a mão da princesa ao
vencedor do bicho feroz, Tristão apareceu e desmentiu o vassalo, e lhe
propôs uma batalha, o senescal por sua vez temente confirmou que
Tristão era o vencedor da fera. Assim, o rei da Irlanda entregou a mão
de sua filha a Tristão, mas Tristão disse que não seria ele que a
desposaria, mas sim seu tio, Marc o rei das Cornualhas, Isolda sentiuse envergonhada, pois Tristão havia conquistado-a e não a tomaria para
si, mas lhe entregaria a outro homem que ela não conhecia.
No dia da partida de Tristão, seus cavaleiros e Isolda, a mãe
da princesa prepara um vinho com ervas, e entregou a Brangien, serva
fiel de Isolda, para que ela não deixasse ninguém provar da bebida.
Pois seu efeito seria; os que a beberem juntos amar-se-iam com todos
os seus sentidos e com todo seu pensamento, para sempre, na vida e na
morte. E somente Isolda e o rei Marc deveriam provar da bebida, mas de
acordo com Joseph Bédier a história tomou outro rumo, pois no meio da
viagem, a sede bateu à porta de todos. Então, foi achado o tal filtro,
e Tristão e Isolda se esbaldaram com ele. De repente um amor
fulminante se desperta no coração de ambos e entregaram-se as loucuras
e prazeres do amor, Joseph Bédier mostra que esse amor resultará na
morte dos amantes, Tristão e Isolda.
Na noite de núpcias que Isolda deveria ter com o rei Marc,
sua serva Brangien deitou-se com ele, que por sua vez não percebeu que
era a serva fiel de sua esposa. Vê-se que Tristão e Isolda continuaram
amando-se às escondidas, mas foi por pouco tempo, até que alguns
barões desconfiaram que os dois fossem amantes. E alertaram o rei,
porém ingênuo ele não acreditava que seu querido sobrinho seria capaz
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de tal ato. Assim tramaram uma armadilha para flagrarem os dois
amantes, mas Tristão e Isolda descobriram tal ato, e fizeram o rei
acreditar que tudo o que os barões diziam eram mentiras, entretanto
para não gerar mais intrigas o rei Marc pediu à seu sobrinho que ele
se afastasse de Tintagel, mas de fato Tristão não consegui manter-se
longe, pois seu coração clamava por Isolda.
Pode-se observar no romance características importantes que
não eram da idade média, o acesso à amante, ao passo que na literatura
medieval a mulher era um ser intocável, inatingível como o amor-cortês
e de praxe tinha um papel secundário, pois
geralmente a literatura
medieval era composta de homens e para homens, como relata Duby (1995,
p. 87). Mas, observa-se nesse romance que o enredo é diferente, pois
Isolda entrega-se de corpo e alma à Tristão, e seu papel tem grande
valorização.
E assim continuaram encontrando-se secretamente, e mais uma
vez os barões fizeram um plano para desmascarar os amantes, só que
desta vez fora bem sucedido, e por fim o rei descobrira o romance
vivido por Tristão e Isolda. Enfurecido resolveu castigar os dois pela
ousadia de manterem um romance. Tristão alegava que nunca amara Isolda
com amor culpável, e disse que poderia sustentar seu direito por uma
batalha, mas seu pedido foi negado. E no dia que seriam queimados na
fogueira, Tristão conseguiu fugir, Isolda não foi queimada, porém fora
entregue aos leprosos como seu castigo.
Mas o destino mais uma vez cruzou os caminhos de Tristão e
Isolda, ela estava caminhando com os leprosos em uma estrada que
Tristão estava, e para sua felicidade ele a livrou daqueles malditos
doentes. E fugiram para a floresta de Morois, viveram por lá dois
anos, vagando de um lado para outro, até que o rei Marc descobrisse
onde eles estavam, assim o rei tratou de fazer uma visita enquanto
Tristão e Isolda dormiam juntos, entretanto a espada extremamente
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afiada de Tristão estava separando os dois, o rei Marc entendeu isso
como garantia de guarda da castidade. Então trocou sua espada com a
espada de Tristão. (O rei achou que havia cometido um grande erro,
pois qualquer movimento de Tristão poderia feri-lo gravemente).
Depois deste fato Tristão achou que seria prudente que Isolda
voltasse para a corte do rei Marc, pois a vida que eles tinham na
floresta era muito ruim. E então Tristão enviou uma carta ao rei Marc
propondo-lhe um acordo, para que Isolda voltasse para o castelo e ele
iria embora, ou voltaria a servi-lo. O rei Marc aceitou a proposta, e
Isolda voltou para a corte, mas os barões questionavam o ato do rei,
pois Isolda não fora julgada em momento algum. Assim, um julgamento
fora colocado em questão, e Tristão deveria ir embora do reino.
No dia do ato Isolda com toda a sua inteligência, já tinha
feito um plano com Tristão, ele estaria lá como um mendigo, e a
colocaria em seus braços para levá-la ao braseiro. Então Isolda jurara
que por todos os santos que estavam no mundo, jamais homem nascido de
mulher lhe tivera nos braços a não ser o rei Marc e o tal mendigo que
a carregou (Joseph Bédier, 2006 p. 92). Por fim colocou a mão no
braseiro e pegou o ferro que lá queimava, e sua carne não queimou em
nada. Então a inocência de Isolda foi provada.
Para não gerar mais suspeitas, Tristão e Isolda fizeram um
pacto antes de ele ir embora. Isolda tinha um anel de jaspe verde e o
deu a Tristão, para que toda vez que ela visse o anel, soubesse, era
ele que lhe mandava um recado, e ela faria o que ele lhe pedisse. Por
conseguinte Tristão partiu para Gales, passou em sua terra Loonnois,
onde foi recebido por seu pai Rohalt, o Defensor da Fé e chegou a
Bretanha.
Na
Bretanha
serviu
o
duque
Höel,
e
logo
tornou-se
um
cavaleiro fiel, criou laços de amizade com o filho do duque Kaherdin,
o Bom cavaleiro. Já havia dois anos que Tristão não recebia notícia
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alguma de Isolda, a Loura, e pensou que ele já tinha o esquecido. Höel
tinha uma filha que se chamava Isolda das Brancas Mãos, pois a moça
tinha extrema habilidade com os bordados, ela olhava para Tristão com
ternura, por lutar pelo reino da Bretanha a Isolda, das Brancas Mãos
foi lhe dada em casamento.
Casaram-se,
porém
Tristão
não
a
desposou,
pois
jamais
esquecera da Isolda, a Loura. Tristão por não cumprir seu papel de
esposo, o fato chegara a conhecimento de Kaherdin, e Tristão contoulhe sua vida, aventuras e o seu amor por Isolda, a Loura. Por
conseguinte os dois resolveram voltar a Tintagel para confirmar se
Isolda, a Loura ainda era fiel a Tristão.
E Dinas de Lidan o ajudou, dando o recado a rainha, mas toda
a corte do rei Marc mudar-se-ia para o castelo da Charneca Branca um
cavaleiro reconheceu Tristão, e o chamou em nome da Isolda, a Loura,
mas Tristão não atendera ao chamado. Ao saber da notícia, ela se
enfureceu e mandou dizer a Tristão que não o receberia. Pois ela
acreditava que Tristão não a respeitava mais.
Tristão com toda loucura por amor se disfarça de louco e vai
ao castelo de Isolda, a Loura, e lhe faz relembrar todas as situações
que os dois passaram, entretanto Isolda, a Loura demorou a reconhecêlo, e mais vez amaram-se. Assim sendo Isolda lhe disse, chamai-me que
irei onde estiveres, pois Tristão já lhe dissera que nunca mais
voltaria, e partiu.
Mal voltara para a Bretanha, em Carhaix, aconteceu que
Tristão, para ajudar seu querido companheiro Kaherdin, guerreou contra
o barão de nome Badalis. Caiu numa emboscada armada por Bedalis e seus
irmãos. Tristão matou sete irmãos. Mas ele próprio foi ferido por uma
lança envenenada. (Joseph Bédier, 2006 p. 121).
Nenhum médico, nenhuma erva era capaz de curar o ferimento de
Tristão, ele já se encontrava a beira da morte, então pediu a Kaherdin
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que fosse ao encontro de Isolda, a Loura, pois ele queria vê-la antes
de morrer, e lhe determinou; se Isolda vier levanta uma vela branca,
mas caso se recuse, suspenda um vela preta. Mas a Isolda, das Brancas
Mãos ouvira a conversa, e aproveitar-se-ia da situação para vingar seu
amor.
Assim partiu Kaherdin para Tintagel e deu o recado a Isolda,
a Loura, e por sua vez não tardou para partir rumo a Bretanha para
rever seu amor. Mas algo em seu coração dizia que não o encontraria
vivo, ela estava angustiada. Quando a nau aproximava-se do porto
Isolda, das Brancas Mãos vira a vela branca estendida, Tristão já
estava nos seus últimos momentos de vida, e perguntara se estava perto
e que cor era a vela. Para o seu fim Isolda, as Brancas Mãos lhe disse
que era preta.
Tristão virou-se para a parede e disse:
- Não posso reter minha vida por mais tempo.
Disse três vezes: “Isolda, amiga”! Na quarta vez, entregou
sua alma a Deus. (Joseph Bédier, 2006 p. 144).
Isolda, a Loura desembarcou, e logo viu as lamentações do
povo. E perguntou quem havia falecido, a resposta foi avassaladora,
Tristão, o Leal, o Valente, morreu. Ela subiu ao palácio onde estava o
corpo do amado para vê-lo.
Junto de Tristão, Isolda, mas Brancas Mãos, enlouquecida pelo
mal que causara, dava grandes gritos sobre o cadáver. A outra Isolda
entrou e disse-lhe:
- Senhora, levantai-vos e deixai que me aproxime. Tenho mais
direito de chorar do que vós, acreditai-me. Amei-o mais.
Ela voltou-se para o oriente e orou a Deus. Em seguida,
descobriu um pouco o corpo, estendeu-se junto dele, em todo o
comprimento do seu amigo, beijou-o na boca e no rosto e o abraçou bem
apertado: corpo contra corpo, boca contra boca, assim ela entregou sua
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alma. Morreu junto dele, de dor por seu amigo. (Joseph Bédier, 2006 p.
144, 145).
O Romance de Tristão e Isolda de Joseph Bédier faz relembrar
alguns traços dos valores medievais, como cavalaria, arte da caça e da
espada que são inerentes aos nobres. Tristão é um grande homem, tomado
de coragem, força e inteligência, e Isolda por sua vez não fica a
mercê, pois ela também tem seus valores, tal como a astúcia, e também
inteligência, é extremamente perspicaz em situações difíceis de sua
vida, como o julgamento que fora exposta, e se saiu muito bem. Outro
ponto de análise é as atitudes de Isolda, pois ela como mulher e
rainha jamais poderia ter um romance com Tristão, mas ela quebra toda
a regra da moralista sociedade, e também confirma todo o julgamento
que a sociedade medieval fazia as mulheres, por fazerem os homens
desviarem seu caminho, e voltarem-se ao pecado carnal.
Outra análise importante é a evolução do individualismo que
se deu por completo na idade moderna, mas está presente nesse romance
medieval, uma vez que Tristão não negou nenhuma oportunidade de
encontrar sua amante, mesmo ela sendo esposa de seu tio. E Tristão que
fora ensinado a odiar a felonia, praticou este ato constantemente não
negando a si os seus desejos e vontades, mas sim os realizando.
Observa-se que os personagens quebraram muitos paradigmas sociais
medievais, por não respeitarem as ordens regentes da época: o clero e
o poder secular, pois se satisfaziam amando-se mesmo que esse amor era
proibido.
Referências Bibliográficas:
BÉDIER, JOSEPH, 1864 – 1938. O romance de Tristão e Isolda /
Joseph Bédier; tradução Luis Cláudio de Castro e Costa; revisão da
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tradução Mônica Stahel. – 3ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2006. –
(Coleção Gandhara) Título original: Le roman de Tristan et Iseut
DE SOUZA, MARIA JULIA ALVES in: Encontro Internacional de
Estudos Medievais (4: 2001: Belo Horizonte).
Anais: IV Encontro Internacional de Estudos Medievais da
AMBREM/
Ângela
Vaz
Leão,
Vanda
de
Oliveira
Bittencourt
(organizadoras). – Belo Horizonte: PUC Minas, 2003. 3. Literatura
Medieval, p. 698
BARROS, MARIA N. ALVIN. Tristão e Isolda: o mito da paixão.
São Paulo: Mercuryo, 1996.
DUBY, GEORGES. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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O Romance de Tristão e Isolda na literatura medieval