S. Miguel
Boletim Religioso e Cultural da Paróquia de S. Miguel de Laúndos  Nº288  Março 2014  Edição Especial
Um Adeus
na Certeza de um Reencontro
O
mês passado ficou marcado na
nossa comunidade pela partida por
vontade do Pai do nosso anterior
pároco. Muito debilitado pela doença de
Parkinson, o Pe. Dinis da Silva Lopes
suspirou no dia 18 de fevereiro de 2014.
Para trás deixou em Laúndos obra feita,
quer material, quer espiritual, e muitas
memórias que cada um de nós guarda no
seu coração.
O
Pe. Dinis Lopes foi um testemunho
vivo do amor de Cristo através da
sua dedicação diária ao sacerdócio e
ao apascento cuidado e permanente das
suas ovelhas. Acompanhou a paróquia nas
suas múltiplas vivências e problemas,
procurando dinamiza-la no campo pastoral e
cultural. Com os seus livros deixou um
importante legado para a terra que o
acolheu durante quase 27 anos. Serviu a
comunidade de corpo e alma, até que as
forças remanescentes do seu sofrimento não
mais o permitiram.
U
m ano depois da sua chegada, em
abril de 1979 lança o primeiro
número do Boletim S. Miguel, um
projeto de informação que, em diferentes
moldes, ainda hoje continua a sua missão.
Durante largos anos, este foi o “jornal da
terra”, onde, para além das notícias da
atividade
pastoral,
os acontecimentos,
anúncios e efemérides mais marcantes de
Laúndos foram registados.
O
atual número do “S. Miguel” é o
primeiro que sucede ao seu
falecimento. Por isso é especial e
inteiramente dedicado ao seu Fundador e
primeiro
Diretor.
Trata-se
de
uma
homenagem merecida e sentida da Paróquia
de S. Miguel de Laúndos ao seu querido
sacerdote.
Biografia
Pe. Dinis da Silva Lopes
01/03/1939 - Nascimento
12/03/1939 - Batizado na Igreja Matriz da
Póvoa de Varzim
03/10/1952 - Ingresso no Seminário Menor
de Braga
24/07/1966 - Ordenação Sacerdotal na
Catedral da Húlia, Angola
06/09/1976 - Pedido de Excardinação da
Diocese de Sá da Bandeira,
Angola
31/12/1976 - Vigário Cooperador da Matriz da
Póvoa de Varzim
31/12/1978 - Pároco de Laúndos, Póvoa de
Varzim e Cofundador do
Agrupamento de Escuteiros de
Laúndos Nº570 do C.N.E.
01/04/1979 - Primeiro número do boletim
“S. Miguel”, do qual era
Diretor
01/05/1985 - Publicação do livro “Monografia
da Freguesia de S. Miguel de
Laúndos”
03/07/1985 - Nomeado Capelão da Igreja da
Misericórdia da Póvoa de
Varzim
01/03/1986 - Obras de beneficiação da Igreja
Matriz
01/07/1987 - Primeira ampliação do
Santuário de N. Senhora da
Saúde
01/10/1988 - Obras de beneficiação da
Residência Paroquial
01/04/1989 - Segunda ampliação do
Santuário de N. Senhora da
Saúde
08/10/1991 - Nomeado Capelão do Quartel
de Bombeiros da Póvoa de
Varzim
01/02/1996 - Obras de beneficiação da
Capela de S. Félix
20/07/1997 - Celebração dos 25 anos de
Sacerdócio
05/09/1998 - Inauguração do Monumento ao
Emigrante e arranjo do
Escadório do Monte de S. Félix
17/08/2002 - Publicação do livro “Capela e
Culto a S. Félix”
04/10/2003 - Publicação do livro “Notas
Minhas”
31/12/2003 - Celebração dos 25 anos de
Pároco de S. Miguel de
Laúndos
01/09/2005 - Publicação do boletim
“S. Miguel” com o número 264
29/09/2005 - Despedida do cargo de abade
de S. Miguel de Laúndos,
aquando da inauguração das
obras de beneficiação da
Residência Paroquial
18/02/2014 - Falecimento
Escuteiro uma vez, Escuteiro para Toda a Vida…
Dinis da Silva Lopes é,
com certeza,
um nome que ficará para sempre ligado ao
povo Lanutense, e de uma forma muito
particular e especial, ao Agrupamento N.º
570 S. Miguel de Laúndos.
Dando continuidade ao projeto iniciado pelo
Pe. Araújo, o Pe. Dinis da Silva Lopes
assumiu a fundação do Agrupamento de
Escuteiros de Laúndos no dia 31 de
Dezembro de 1978, tendo coincidido com a
sua tomada de posse na Paróquia de
Laúndos. Também nesta data se realizaram
as primeiras promessas Escutistas no
Agrupamento.
Quem foi escuteiro dos tempos em que a
sede do Agrupamento se situava na parte
inferior da residência paroquial, lembra-se
certamente das batidas no soalho da sala da
residência (que era também o teto da sede)
quando o volume das vozes aumentava nas
reuniões de Escuteiros, ou quando,
por vezes, nas reuniões de Patrulha, as
palavras usadas não eram as mais
apropriadas.
Também das visitas que o Pe. Dinis fazia à
sede para estar e falar com os Escuteiros,
e quando pedia ajuda para dobrar o jornal
de S. Miguel, que era depois enviado para
os assinantes residentes em outros locais do
país e no estrangeiro.
Sempre fez questão de participar nas
atividades realizadas pelo Agrupamento,
nomeadamente nos Magustos que se
realizavam junto à residência paroquial, e as
inúmeras Eucaristias que celebrou em
campo, quando os Escuteiros acampavam
por perto. Era presença assídua nos fogos
de conselho, onde dava o ar da sua graça e
participava com músicas tão características
como “O meu chapéu tem três bicos” ou
“Fernando Sétimo”, e com a famosa peça
“Diz Filipe”.
Os Escuteiros que o acompanhavam nas
visitas pascais têm com certeza memória do
“batismo” que fazia aos estreantes nessas
andanças, quando, sorrateiramente, pegava
num ovo cozido e o partia na cabeça do
“noviço”…
Tantas e tantas histórias características da
sua
personalidade
poderíamos
aqui
recordar…
Tantos passeios de Agrupamento em que
nos acompanhou, e nos quais fazia questão
de nos referenciar o passado daqueles
locais: a sua história, o significado dos
símbolos, as tradições locais, sempre com
um nível de cultura que nos deixava
completamente envolvidos, pela forma como
falava com amor e dedicação de uma das
suas grandes paixões: a História.
Quem bem o conhecia, sabe que era um
amante de História, e arrisco até a dizer que
era o nosso “José Hermano Saraiva”... Uma
paixão bem visível também no amor que
dedicou a Laúndos, deixando-nos como
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herança a “Monografia da freguesia de S.
Miguel de Laúndos”. Foi um grande
historiador que ajudou a encontrar a
identidade desta freguesia.
Tudo isto são memórias que ficarão para
sempre, juntamente com os ensinamentos
deixados… um legado riquíssimo que nos
ofereceu de forma tão generosa!
Não podemos esquecer nem deixar de referir
o papel fundamental que o Pe. Dinis teve na
continuidade deste Agrupamento no final da
década de 80, início da década de 90.
Nesta altura, o Agrupamento ficou sem
qualquer Dirigente que assumisse a Direção
do mesmo, devido à forte vaga de
emigração provocada pela grave crise
económica vivida pelo país nessa altura.
Sabendo que o Agrupamento cessaria a sua
atividade se não houvesse um Dirigente que
assumisse
o
cargo
de
Chefe
de
Agrupamento, o Pe. Dinis, enquanto
Assistente do Agrupamento e Dirigente,
acumulou também esse cargo, confiando no
trabalho e ajuda de 3 jovens Caminheiros
que, com o seu apoio e orientação,
conseguiram manter as secções em
funcionamento, e deram continuidade à
permanência do Agrupamento de Escuteiros
em Laúndos até que a situação voltasse a
estabilizar.
Quanta ousadia, confiança e persistência…
Mas era mesmo assim o Pe. Dinis.
Sempre demonstrou um carinho especial
pelo Escutismo, tendo também durante
alguns anos assumido a função de
Assistente do Núcleo Cego do Maio. Era, e
continuará a ser, uma referência em todos
os Agrupamentos de Escuteiros do Núcleo
Cego do Maio, em particular dos
Agrupamentos do concelho da Póvoa de
Varzim.
Foi exemplo prático do seguimento das
finalidades educativas do escutismo, no
desenvolvimento das áreas física e afetiva,
e também do carácter, no desenvolvimento
espiritual, intelectual e social. Como sempre
costumava
dizer:
‘meninos,
isto
é
catequese’.
Foi padre, foi historiador, foi amigo, foi
professor.
Dinis da Silva Lopes é, com toda a certeza,
um nome e uma referência que ficará para
sempre na história da história da gente
Lanutense.
E para finalizar, terminamos com a letra de
uma música escutista que ele sempre
gostava de cantar ao encerrar as atividades
Escutistas:
Amigos tão bons vale a pena juntar
Temos um só ideal
À esquerda, à direita poder braço dar
Aspiração igual
Todos unidos, unidos assim
Fortes, mais fortes seremos enfim
Num só querer, até morrer
Na paz de Deus, Senhor
Todos unidos, unidos assim
Fortes, mais fortes seremos enfim
Num só querer, até morrer
Na paz de Deus, Senhor
Canta a fadista Mariza no fado “Chuva”:
Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir
Bem-haja Pe. Dinis e um enorme OBRIGADO
por tudo.
Agrupamento N.º 570, S. Miguel de Laúndos
Março 2014 | Página 3
As Notícias do Pe. Dinis
Talvez por ser devoto do padroeiro
de Laúndos, “S. Miguel” foi o nome
escolhido para o Boletim Paroquial que se
estreou por alturas da Páscoa em abril de
1979.
Ao todo, o Pe. Dinis editou 264 números com sonho de ontem e de hoje, seja uma
notícias que vão desde a Santa Sé e Diocese realidade amanhã…
à vida Paroquial, passando também pela
Junta de Freguesia, Associação Desportiva,
Agrupamento de Escuteiros, e outros
acontecimentos importantes para a terra.
Em todos os boletins havia uma mensagem
evangelizadora, a Palavra do Diretor e
pequenas notícias, tais como efemérides do
mês, novidades dos emigrantes, os serviços
paroquiais realizados e, claro está, um pouco
de história de Laúndos, tal era a sua paixão
pela terra.
Através do Boletim tinha como objetivos fazer
chegar os seus pensamentos como “novo”
Padre
recém-chegado
aos
Lanutenses
(incluindo aos emigrantes), dar a conhecer
todos
os
projetos
da
comunidade,
especialmente das confrarias, comissões e
organizações, e ajudar nas dificuldades do
dia-a-dia da população. Resumidamente, Esfolhando o primeiro número, poder-se-á
pretendia unir os paroquianos em torno de encontrar uma notícia com o título “O que
causas comuns.
pensamos fazer”. Nela lê-se que, após um
O cabeçalho do Boletim foi desenhado pelo ano de atividade, O Pe. Dinis já tinha um
seu primo Nado (Fernando Gonçalves), que projeto em papel para o campo do Passal
fielmente tinha desenhado a Igreja Matriz, destinado a um Centro Cultural de orientação
desenho que, ainda hoje, é usado com cristã. Curiosamente, 35 anos depois
continuamos com o mesmo sonho! Oxalá o
logotipo da nossa paróquia.
Um Escritor de Livros com História e Vida Paroquial
entre
1981 e 1984, vários textos sobre a história de
Laúndos no Boletim Municipal da Póvoa de
Varzim. O sucesso dos seus textos periódicos,
associado ao reduzido número de tiragens na
altura, levou a que em 1985 publicasse o livro
“Monografia da Freguesia de São Miguel de
Laúndos”, o primeiro e talvez único registo
escrito inteiramente dedicado à história da
nossa terra.
detalhada das capelas e dos cultos a S. Félix lhe pelo trabalho de historiador apaixonado
e Nossa Senhora da Saúde. Esta publicação por Laúndos, Lanutus, Lanudos, ou Laudes,
termina com uma descrição da vida social da ou outro nome que ainda se venha a chamar!
comunidade, com as suas festas e romarias,
associações e tradições culturais.
O livro também descreve a geologia e
hidrografia dos lugares, a população ao longo
dos séculos, os lugares da freguesia, os
principais edifícios e monumentos, o relato
do assalto à residência paroquial em 1905,
que resultou na morte do ladrão Matias, a
Paróquia de Laúndos e uma apresentação
tinha pela Mãe do Céu.
O Pe. Dinis Lopes publicou,
Após a monografia, segue-se em 2002 a
publicação do seu segundo livro “Capela e
Culto a S. Félix”. O livro foi lançado quatro
anos depois da inauguração das obras do
Monumento ao Emigrante e da requalificação
Nele fala-se da implantação e dos limites da do Escadório de S. Félix. Novamente, a sua
freguesia no território, através dos marcos aguçada pesquisa histórica é posta em pele.
históricos, da onomástica associada a Em 2003, em jeito de compilação das suas
Laúndos (estudo dos nomes próprios, das principais notas e textos publicados ao longo
suas origens até aos nossos dias), que de 24 anos de edições do Boletim
permitiu descobrir que a nossa terra já se “S. Miguel”, publica o “Notas Minhas”. Neste
chamou e se escreveu: Lanutos em 1033, livro pode-se ler uma introspeção de quem
depois Lanudos, Lanudus, Laudos, Loudos, ele sentia que era, do Pároco que foi, dos
Laúdos, Laudes, Laundos e, nos dias de hoje, seus tempos de lazer, da sua conformidade
Laúndos.
em relação à vontade do Pai e do amor que
As três publicações em forma de livro que o
Pe. Dinis Lopes deixou a Laúndos resultaram
do seu amor pela terra que o acolheu durante
quase 27 anos. Estamos eternamente gratos
pela sua dádiva. As gerações vindouras
saberão, talvez mais do que nós, agradecer-
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