Avaliação de projectos: Avaliação formativa
Caso de estudo do ensino primário
Aprendizagem sobre rãs numa sala de aulas do segundo ano
Os alunos do segundo ano do professor Gaspar vão iniciar uma unidade sobre o ciclo de vida das rãs. Ele
quer que os seus alunos entendam os ciclos da natureza e os habitats animais. Ele também quer que eles
desenvolvam competências de observação científica e colaboração e, como sempre, quer que trabalhem
no sentido de se tornarem aprendizes independentes, capazes de gerir a sua própria aprendizagem.
Durante a unidade os alunos realizam uma pesquisa sobre rãs e criam um projecto no qual partilham o
que aprenderam.
O professor Gaspar tem um grupo diversificado de alunos do segundo ano na sua turma. Existem cinco
alunos identificados como tendo diferentes níveis de dificuldades de aprendizagem, um aluno dotado e
dois alunos que são falantes não nativos. Todos estes alunos passam algum tempo fora da sala de aulas a
trabalhar com professores que lhes prestam assistência especial. O professor Gaspar trabalha em
colaboração com estes professores para saber quais são e conseguir responder às necessidades desses
alunos, bem como às necessidades de todos os outros alunos.
Preparação para a unidade
Para se preparar para esta unidade, o professor Gaspar recolhe primeiro uma variedade de materiais
impressos sobre rãs, para diferentes níveis de leitura. Da experiência que já tem com os seus alunos e
devido a avaliações anteriores, ele sabe que Mara, uma aluna com dificuldades moderadas de
aprendizagem, ainda se encontra num nível de leitura equivalente ao de jardim de infância, ao passo que
Paulo, um aluno dotado, já consegue ler a um nível de quinto ano ou superior, sobretudo se estiver
interessado no tópico. Por isso mesmo, o professor Gaspar sabe que tem de ter livros e revistas de
diferentes níveis para que todos os seus alunos possam participar plenamente no projecto. Ele também
marcou vários sítios na web com diferentes níveis de dificuldade e um website em inglês para os seus
alunos.
O professor Gaspar espera que os seus alunos se preparem para uma nova unidade relembrando os
objectivos de orientação pessoal que estabeleceram no início do ano e raciocinando sobre como estão a
progredir. Por exemplo, a Mara, uma aluna com dificuldades moderadas de aprendizagem, tem mantido
um objectivo consistente de se lembrar sempre de ter os seus materiais prontos quando tem de realizar
um trabalho. Ela também quer trabalhar numa maior elaboração das suas ideias quando escreve. O
Justino, que tem dificuldades ligeiras de aprendizagem, sabe que por vezes se precipita a realizar o
trabalho e é distraído. O seu objectivo a longo prazo é usar o tempo de que dispõe e rever o seu trabalho
antes de o entregar. O professor Gaspar incentiva o Justino a discutir o seu trabalho com um colega antes
de o considerar terminado, uma estratégia que pede que todos os seus alunos utilizem.
Introdução à unidade
Quando o professor Gaspar introduz a unidade, pede aos alunos que o ajudem a preencher um gráfico
Sei-Quero Saber-Aprendi (SQA) para determinar o nível de conhecimentos dos alunos sobre rãs. Durante
a discussão, apercebe-se de que a Mara, juntamente com vários outros alunos, está a confundir os sapos
dos livros de fantasia e desenhos animados com verdadeiras rãs. O professor Gaspar acompanha a
discussão com um diagrama de Venn que mostra as diferenças. Nota também que Carlos, um entusiasta
leitor, tem um profundo interesse por rãs e claramente sabe bastante sobre elas. Ele toma uma nota para
recomendar alguns livros sobre o tópico para o Carlos ler durante o próximo tempo de silêncio para
leitura.
Aprendizagem sobre habitats de rãs
Após a actividade introdutória, os alunos fazem uma viagem até um lago local onde estudam o habitat
que as rãs necessitam para sobreviver. Os alunos testam o nível de pH da água e tiram fotografias para
os ajudarem a criar um habitat para rãs na sua sala de aulas.
Após a viagem ao local, os alunos revêem o gráfico (S-Q-A) e fazem quaisquer alterações com base no
que aprenderam. O professor Gaspar mostra um vídeo sobre rãs e pede aos alunos que escrevam sobre o
que aprenderam nos seus diários. O Zacarias, que tem dificuldades moderadas de aprendizagem,
escreve:
Aprendi que rãs e sapos são diferentes e que as rãs comem insetos e abes. As rãs nascem de
ovos e girinios.
O Xavier, que também tem dificuldades moderadas de aprendizagem, escreve:
As rãs vibem na água e andam aos saltus. Elas coacham e cantam. as rans conseguem voar.
Depois de ler os diários, o professor Gaspar reúne-se individualmente com o Zacarias e o Xavier para lhes
mostrar alguns recursos que explicam o que as rãs comem e como elas se movem. Ele faz-lhes perguntas
até se certificar de que entendem que apenas algumas rãs conseguem voar e que elas não comem aves.
Ele também se apercebe, a partir dos diários, que muitos dos seus alunos estão interessados em rãs
voadoras, por isso ele monta um centro de aprendizagem na sala de aulas equipado com livros, vídeos e
onde se realizam actividades sobre este tipo de rãs.
Na actividade seguinte, grupos de alunos criam murais nos quais são retratados habitats das rãs. Para
preparar esta actividade, o professor Gaspar realiza algumas mini-aulas sobre o comportamento bem
sucedido em grupo. A interacção entre pequenos grupos dá a todos os seus alunos a oportunidade de
colocarem questões sobre os seus colegas e de usarem o novo vocabulário que estão a aprender num
ambiente seguro. Este processo é particularmente útil para os seus alunos que são falantes não nativos.
Para ajudar os seus alunos a aprenderem a organizar o seu tempo, o professor Gaspar dá-lhes um plano
de projecto parcialmente preenchido para os orientar no trabalho. Ele indica-lhes que pensem nos prazos
que conseguem cumprir para cada parte do projecto e que registem essas datas nos seus planos. Os
alunos com dificuldades preenchem o plano o melhor que conseguem e concluem-no com a ajuda dos
seus educadores do ensino especial. Todos os alunos são incentivados a alterar o plano de forma a que
faça sentido para eles.
O professor Gaspar usa uma lista de verificação para acompanhar as competências de colaboração dos
alunos enquanto trabalham nos seus murais. Ele toma várias notas que utiliza quando se reúne
informalmente com os alunos durante o projecto.
Competência
Partilha muitas ideias e
contribui com
informações importantes
Incentiva outros
membros a partilharem
as suas ideias
Ouve e fala de forma
equilibrada
Preocupa-se com os
sentimentos e ideias dos
outros
Mara
Contribui com ideias
apenas quando lhe é
pedido
Não observado
Paulo
Tem muitas ideias boas
Quase só ouve
Fala muito mais do que
ouve
Às vezes
Não observado
Não observado
Amélia
Partilha algumas ideias,
poderia falar com mais
confiança
Boa atitude ao
perguntar à Mara a sua
opinião
Boa
Boa
À medida que os grupos planificam os seus murais, o professor Gaspar circula entre eles, fornecendo
materiais para a correcção de conceitos errados, de forma a que os seus projectos finais espelhem
correctamente os habitats das rãs.
Na fase seguinte do projecto, os alunos criam um habitat de rãs na sala de aulas. Eles observam os
girinos e as rãs e anotam as suas observações nos seus diários de aprendizagem. O professor Gaspar
explica cuidadosamente os tipos de informações que gostaria que os alunos registassem e apresenta um
modelo de uma observação inicial. Ele sabe bem que a Mara tem muitas vezes dificuldade em ser
específica nos seus registos. Por isso, fornece-lhe um formulário de observações mais estruturado no qual
ela tem de preencher os espaços em branco para responder a perguntas específicas sobre o habitat das
rãs. Ele também sabe que o Justino, que tem dificuldades ligeiras de aprendizagem, escreve tantas vezes
de forma tão baralhada que nem mesmo ele consegue ler. Por isso, o professor Gaspar configura um
diário de aprendizagem de computador para o Justino.
Criar um projecto final
Após uma investigação mais aprofundada sobre o ciclo de vida das rãs e o seu habitat, os professores
formam equipas de alunos para criarem projectos nos quais demonstrem o que aprenderam. Para tirar
partido de interesses e capacidades individuais, o professor Gaspar dá aos alunos a possibilidade de
escolherem como querem partilhar a sua aprendizagem. Eles podem criar um livro em papel, um boletim
informativo, uma apresentação multimédia, um website ou uma curta peça. A diversidade de opções
permite que os alunos apliquem os seus interesses à medida que aumentam os seus conhecimentos. Ele
incentiva os alunos a escolherem um projecto que os desafie e os ajude a aprender novas competências,
tais como a utilização de tecnologia, da escrita ou da representação.
Para este projecto, o professor Gaspar baseia-se na experiência que os alunos tiveram com a criação de
um plano de projecto para a elaboração do mural. Ele dá a toda a turma instruções sobre como dividir as
etapas do projecto em tarefas e fornece aos alunos um guia um pouco menos estruturado do que o que
receberam no projecto anterior. Ele circula por entre os alunos, dando-lhes apoio individual consoante
necessário e interrompendo-os para realizar uma mini-aula improvisada se detectar problemas comuns.
A história de um aluno: A reflexão da Mara
Com ajuda, todos os alunos criam as suas próprias listas de verificação focando os objectivos de
orientação pessoal que estabeleceram para o ano e para a unidade. A auto-avaliação da Mara descreve
como ela conseguiu atingir os seus objectivos a cada dia.
Nome Mara
Data 28 de Janeiro
Objectivos:
1. Vou trazer o meu caderno e lápis para as aulas todos os dias.
2. Vou lembrar-me de elogiar os membros do meu grupo quando tiverem boas ideias.
3. Vou colocar questões a mim própria enquanto estiver a estudar sobre rãs e depois irei procurar
respostas.
Objectivo
#1
Saí-me muito bem no meu
objectivo. Fiz exactamente o que
planeei quando escrevi o objectivo.
Objectivo
#2
Saí-me muito bem no meu
objectivo. Fiz exactamente o que
planeei quando escrevi o objectivo.
Objectivo
#3
Saí-me muito bem no meu
objectivo. Fiz exactamente o que
planeei quando escrevi o objectivo.
Por vezes, esqueci-me
do meu objectivo e
precisei de alguma
ajuda para fazer o que
planeei.
Por vezes, esqueci-me
do meu objectivo e
precisei de alguma
ajuda para fazer o que
planeei.
Por vezes, esqueci-me
do meu objectivo e
precisei de alguma
ajuda para fazer o que
planeei.
Não cumpri o meu
objectivo.
Não cumpri o meu
objectivo.
Não cumpri o meu
objectivo.
Os meus planos para amanhã
Vou colocar o meu caderno e lápis no balcão quando for almoçar para que me lembre de os colocar na
minha mochila.
Como o professor Gaspar sabe que a Mara tem muitas vezes dificuldades em pensar em estratégias para
organizar o seu trabalho escolar, ele conversa com ela sobre uma variedade de opções que podem ajudála a lembrar-se dos seus materiais. Ela escolhe uma que acha que será fácil de implementar.
Usar a avaliação dos colegas e a auto-avaliação
Tanto o professor Gaspar como os seus alunos utilizam uma rubrica que descreve as suas expectativas
para o seu projecto final. A turma planeia utilizar a rubrica para acompanhar o desempenho dos alunos. O
professor Gaspar modela a forma como os alunos devem avaliar os seus projectos utilizando a rubrica, e
observa e toma anotações casuais enquanto trabalham. Estas notas fornecem ao professor Gaspar dados
que ele utiliza durante as reuniões, individuais formais e informais, para ajudar os seus alunos a
atingirem os objectivos de conteúdo e processos da unidade.
Depois de os alunos terminam os seus projectos, partilham-nos com outro grupo para obterem reacções.
O professor Gaspar sugere aos alunos algumas ideias sobre as questões que podem colocar aos membros
do outro grupo relativamente às suas apresentações. Depois, dá-lhes tempo para que reflictam dentro
dos próprios grupos sobre outras questões que os possam ajudar a melhorarem as suas apresentações.
Ele também modela a forma como responderem de forma construtiva e honesta às questões de outros.
Enquanto os alunos efectuam a avaliação dos colegas, o professor Gaspar tira notas sobre como os alunos
pedem e apresentam reacções para utilização no ensino futuro.
O professor Gaspar sabe que conceitos errados individuais podem muitas vezes passar despercebidos no
meio de um projecto de grupo. Ele faz um esforço adicional, através de questionários, análise de diários e
registos para determinar a aprendizagem dos alunos individualmente.
Olhar para o passado e olhar para o futuro
O professor Gaspar não vê as unidades que lecciona como colecções de informação distintas e individuais.
Pelo contrário, vê as unidades como parte de uma rede de matérias, conhecimento e competências. Ele
pede aos alunos que reflictam nos vários aspectos da sua aprendizagem no final de cada unidade.
A história de um aluno: Reflexão do Zacarias
Os seguintes registos foram escritos em resposta à pergunta, O que aprendeste nesta unidade?
O Zacarias, que tem dificuldades ligeiras de aprendizagem, escreve:
Aprendi muintas coisas engrasadas sobre rãs. Primeiro são ovos e depois girinos. Depois,
transforman-se em rãs que tem ovos e depois sao girinos outra vez. Isto é um ciclo porqe stá
sempre a contecer. Fiz um melho tarbalho ao ouvir este item. Não tive de pedir ao profesor
Gaspar pra repetir as insturções.
A Mara, uma aluna com dificuldades moderadas de aprendizagem, escreve:
Fui ao lago para ver as rãs. Foi divertido. Brinqei com a minha amiga Bia e comi uma sande de
qeijo ao lanxe. Andamos atras dalgums patos.
Planificação para unidades futuras
O professor Gaspar usa o que aprende com estas reflexões para trabalhar com os alunos individualmente
e para planificar unidades futuras. Ele percebe que o Zacarias utiliza os termos ovos e girinos
correctamente e que demonstra que entendeu o significado de ciclo. O aluno também dá um exemplo
específico de como esteve com mais atenção. O professor Gaspar consegue ver que o Zacarias aprendeu
alguns conteúdos importantes, que está consciente do seu processo de aprendizagem e que consegue
articular claramente as suas ideias. Por outro lado, o registo da Mara fornece poucas informações sobre o
conteúdo da unidade ou sobre o seu progresso para o alcance dos seus objectivos. Ela precisa claramente
de mais instruções sobre como reflectir sobre a sua aprendizagem. O professor Gaspar também precisa
de utilizar outros dados que recolheu para analisar os conhecimentos da Mara sobre o conteúdo. Se os
dados comprovarem que ela não entende conceitos básicos, tais como ciclos na natureza, ele vai ter de
trabalhar com ela ou solicitar um professor de ensino especial para a ajudar a desenvolver o
entendimento essencial requerido.
Uma avaliação cuidada ao longo desta unidade permite ao professor Gaspar planificar e conduzir um
ensino mais eficaz para garantir que os seus alunos atingem o seu pleno potencial. Utilizando uma
variedade de estratégias de avaliação e incentivando a auto-avaliação e a avaliação entre colegas, os
alunos do professor Gaspar aprendem conteúdos a um nível mais elevado e desenvolvem as
competências necessárias para se tornarem aprendizes independentes.
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Caso de estudo do ensino primário