Professor, Liderando e Motivando com Inteligência Emocional
Mara Sueli de Moraes MIGUEL1
Resumo
Este estudo vem ao encontro de estabelecer uma ligação entre os princípios da administração
aplicados à organização educacional. A proposta é buscar semelhanças entre o profissional
motivador de sua equipe de trabalho na área administrativa e o professor em sala de aula, bem
como a importância de conhecer e desenvolver habilidades da Inteligência Emocional (IE)
para melhor administrar. A chave para uma liderança bem sucedida está na integração de
estilos racionais e emocionais.
Palavras-chave: Motivação; Administração; Professor; Inteligência Emocional; Liderança;
Introdução
As organizações educacionais sofrem impactos sociais, políticos e econômicos
influenciados pela conjuntura econômica instável, crise global e novas tecnologias sendo
lançadas a cada dia. Elas são constituídas por pessoas, que também estão inseridas neste
mundo dinâmico e, o professor é o protagonista principal na transmissão de novos
conhecimentos, devendo também sofrer transformações.
A idéia de quem possui o conhecimento, sabe ensinar é enganosa, ultrapassada. O
professor não é alguém que apenas detém o conhecimento e a capacidade de pesquisar, mas
alguém que conhece as técnicas da transmissão do saber e habilidade para estabelecer uma
relação harmoniosa de ensino-aprendizagem com alunos muitas vezes desmotivados.
Quando se assume uma turma tem-se primeiramente, a idéia de “comando e
controle” da situação. Com o passar do tempo, surgem os primeiros problemas: alunos
desmotivados, cansados da longa jornada de trabalho ou em busca apenas de um diploma. Por
outro lado, o professor não consegue conviver com essa situação, tornando-se muitas vezes,
um fardo ter que ministrar aulas em determinada classe. E, caso não seja habilidoso, pode-se
chegar ao extremo de uma situação conflituosa.
Acredita-se que um professor na universidade e um gerente de empresa têm algo em
comum: a ambos compete desenvolver pessoas, motivá-las a aprender e a aceitar, pela
admiração, sua liderança. Ambos são líderes. Esse é o propósito deste estudo, buscar
semelhanças na Administração e aplicá-las na Instituição Educacional.
Não basta refletir sobre as mudanças no ambiente organizacional, mas sim reavaliar a
atuação do profissional da educação na relação educador-educando. A verdadeira liderança é
1
Professor do CEUNSP; Mestre em Filosofia pela PUC, São Paulo/SP.
proveniente de habilidades para motivar o corpo discente a ter um bom rendimento enquanto
ele permanece na instituição.
Portanto, o objetivo deste estudo é estimular o professorado universitário a trabalhar
a liderança, a motivação e, compreender suas emoções de forma inteligente, transmitindo com
competência e eficácia seu conhecimento ao alunado, transformando-o em seres participantes,
colaboradores e profissionais de sucesso. Acredita-se que o equilíbrio das emoções é
importante para que o educador exerça seu papel de líder com habilidade e competência por
meio da tranqüilidade, firmeza e carisma, autoridade e principalmente bom humor, também
requisitados no mundo empresarial.
Motivação
No dia-a-dia fala-se em motivação para estudar, trabalhar, praticar exercícios, até
mesmo para viajar. O dicionário de latim apresenta o termo movere, que significa mover. O
dicionário Houaiss, em seu verbete “motivar” apresenta impulsionar e estimular, duas
palavras behavioristas2. Para Gil (2001) entende-se motivação o estímulo à determinada ação,
a uma atividade qualquer. É a mola propulsora da ação. A motivação de uma pessoa depende
da força ou intensidade de seus motivos ou desejos, ou seja, estar mais motivado para estudar,
pois tem um exame no dia seguinte do que comer, dormir ou ir ao cinema.
Para Gooch e McDowell (1988, p. 51) apud Bergamini (1991, p.38)
a motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e que
pode estar ligada a um desejo. Uma pessoa não pode jamais motivar outra, o
que ela pode fazer é estimular a outra. A probabilidade de que uma pessoa
siga uma orientação de ação desejável está diretamente ligada à força de um
desejo.
Segundo as autoras, as pessoas não agem de acordo com o que lhes pedimos
simplesmente porque não desejam fazê-lo. Sendo assim, a motivação pode representar um
impulso que vem de dentro, tendo origem no interior de cada pessoa. A motivação é uma
força interior que se modifica a cada momento durante toda a sua existência, onde direciona e
intensifica os objetivos de um indivíduo.
Na área administrativa, uma pessoa motivada representa certa disposição para
realizar uma tarefa em qualquer campo. Apesar de existir diversas teorias sobre a motivação e
que nada se pode fazer para conseguir motivação de uma pessoa a não ser que ela mesma
2
Behaviorismo é o método de observação que tem como objetivo o estudo das relações entre os estímulos e
as respostas do sujeito.
esteja envolvida, acredita-se que todo comportamento é motivado ou orientado para a
realização de algum objetivo, embora, nem sempre o objetivo seja conhecido pelo indivíduo.
No entanto, o comportamento humano pode ser perturbado por conflito, frustração ou
ansiedade proveniente do ambiente onde se trabalha. “O comportamento é sempre motivado
por alguma causa interna ao próprio indivíduo ou alguma causa externa, do ambiente” afirma
Maximiano (2006, p. 252).
Segundo Abraham Maslow (1908-1970) apud Maximiano (2006, p. 262-263), autor da
conhecida ‘hierarquia das necessidades humana’, formulada por meio de uma pirâmide, “as
pessoas estão em processo de desenvolvimento contínuo, progredindo ao longo das
necessidades, buscando atender uma após outra, e orientando-se para a auto-realização”.
Maslow identifica cinco tipos distintos de necessidades: fisiológicas (ar, comida, repouso,
abrigo etc.); de segurança (proteção contra perigo); sociais (amizade, amor); de estima
(reputação, reconhecimento, auto-respeito) e de auto-realização (do potencial, utilização dos
talentos individuais). Conforme citado por Wagner III e Hollenbeck (1999) apud Chiavenato
(2003), todas elas são atribuídas aos seres humanos. Quando a necessidade atual for saciada,
seu objetivo passa a ser outro, criando, assim, uma nova necessidade, que exigirá novos
elementos para sua satisfação. Para Paiva (2007) o líder que conhece bem sua equipe saberá
identificar quais são as necessidades de cada um e poderá aplicar os meios de motivação
adequados.
Nesta perspectiva, os gestores não podem motivar seus empregados, mas precisam
dispor de conhecimentos e habilidades suficientes para despertar ou manter sua motivação no
trabalho, seja através de remuneração ou estabilidade no emprego, embora muitas vezes isso
não seja suficiente. Um gestor não é capaz, pelo menos diretamente, de gerar necessidades em
seus empregados, mas é possível que o faça, despertando a motivação que existe em cada um
de seus colaboradores. Vale ressaltar que a motivação pelo trabalho em si atende diversas
necessidades do funcionário e produz satisfações diferentes das que estão associadas ao
ambiente ou às condições de trabalho.
Na realidade, as pessoas só ficam motivadas a fazer o que é de seu interesse. O
objetivo enquanto gestor é fazer com que encontrem pontos de identificação entre o próprio
bem-estar e o da organização onde se trabalha. Quando isso acontece, os colaboradores
demonstram entusiasmo natural para trabalhar com mais afinco porque isso representa a
realização de alguma meta ou desejo pessoal. Será possível aplicar essa idéia no ambiente
acadêmico? Talvez seja um grande desafio a ser discutido a seguir.
Professor motivado
Compreendendo que uma instituição educacional é vista como uma organização,
acredita-se que o professor é aquele que exerce o papel de administrador de pessoas, o
motivador na mesma perspectiva de um gerente empresarial. Motivar pessoas no ambiente de
trabalho ou nesse caso, na sala de aula, constitui tarefa das mais difíceis.
Motivar é investir nas pessoas, é pensar em um futuro melhor para aqueles que ficam
alguns semestres sobre a responsabilidade de um educador. Os desafios não estão no trabalho
em si, mas em como o “professor é o responsável” por criar e manter o seu ambiente de
trabalho juntamente com seus colaboradores.
Um estudante pode se apresentar inteligente, mas ninguém será capaz de fazê-lo
aprender se ele não quiser. Segundo Woolfolk (2000, p. 331) “os alunos não vão à escola
motivados a apreender, sendo necessária uma interferência criativa e dinâmica do professor
que leve a esse estado”. A motivação é um fator importante no aprendizado, mas cabe ao
aluno reconhecer a necessidade de aprender alguma coisa, no caso, o conteúdo ministrado.
Portanto, não se pode afirmar categoricamente que é o professor que motiva seus alunos a
aprender, mas pode favorecer nos estudantes o estímulo necessário para aprender. Gil (2007)
acredita que o professor pode estimular a concentração de seus alunos se for bem-humorado;
entusiasmado ao transmitir seus conteúdos; que seus discursos tenham aplicação prática; que
varie na estratégia de ensino; que utilize de recursos audiovisuais para manter a atenção de
seus alunos; enfim, que a atenção do grupo aumente à medida que sua participação seja
solicitada.
Diversos profissionais empresariais em palestras motivacionais acreditam que
entusiasmo, encorajamento, incentivo, recompensa pode motivar a equipe de trabalho.
Pensando nesta perspectiva, acredita-se que combater a falta de entusiasmo é o início para a
motivação em sala de aula. Os gregos utilizavam a palavra enthousiasmós, com o significado
de “ter um deus dentro de si”, aquele que se sente entusiasmado pela profissão escolhida, que
coloca na sua vida mais entusiasmo. Esse é o papel do educador, demonstrar o
comprometimento com a educação, mas de maneira prazerosa.
O trabalho do educador impacta direta ou indiretamente na autoconfiança dos
educandos, em seus desejos, interesses de longo prazo e sua paixão pela vida acadêmica.
Ainda que se dê apoio, motive e encoraje a sala de aula, é possível enfrentar circunstâncias
que exercerão uma pressão negativa sobre o estado de espírito dos alunos. Basta lembrar que
os fatores desmotivantes são muitos, podendo ser cansaço após uma jornada de trabalho,
problemas familiares, baixo salário ou desmotivação na empresa em que trabalha.
Apesar da dificuldade encontrada por muitos professores, acredita-se que os alunos
devem ser valorizados durante o processo de formação, observando-os principalmente nos
fatores relacionados ao desempenho. Elogios, demonstração de apreço – como sorrisos ou
sinal positivo, mostrar ao aluno senso de vitória, que ele deu contribuição de valor durante as
aulas são imprescindíveis. O professor também pode criar condições favoráveis para que seus
alunos manifestem suas próprias iniciativas. Dividir tarefas, delegar funções, torná-los
responsáveis por determinado projeto, podem promover o aumento da motivação. Finalmente,
envolvê-los na avaliação das situações corriqueiras, possibilitando medir o nível de motivação
da turma. E, caso seja necessário, promover a mudança na estratégia adotada em sala de aula.
Liderança
A liderança é um tema importante e constantemente deve ser relembrado, estudado e
compartilhado. Em geral trata-se de um processo que visa conduzir um grupo de pessoas com
habilidade e motivação. Os liderados são influenciados para que contribuam voluntariamente,
da melhor forma com os objetivos propostos por uma organização.
No âmbito educacional, não bastam experiências anteriores bem-sucedidas. A cada
semestre, os alunos querem professores que tenham a capacidade de motivação, inovação,
criatividade e adaptação aos novos tempos. Nesse sentido, faz-se necessário compreender o
conceito de liderança nas empresas e identificar o que possa ser aplicado na organização
educacional.
No ambiente corporativo, várias são as definições para liderança. Caracteriza-se a
liderança “como a habilidade de exercer a influência interpessoal, junto ao time de
colaboradores, utilizando-se da competência técnica, administrativa, comportamental,
interpessoal e intercultural, percebendo assertivamente as situações, valendo-se da
comunicação, da automotivação e do processo decisório para alcançar as metas e,
consequentemente, os objetivos”, afirma Kanaane (2007, p. 2). Na visão de Maximiano
(2006, p. 277) “é o processo de conduzir as ações ou influenciar o comportamento e a
mentalidade de outras pessoas”. Também pode ser definida como “realização de metas por
meio da direção de colaboradores”. E o líder é aquele que comanda com sucesso seus
colaboradores.
A história mostra que a capacidade de liderar é importante não somente em estadistas,
fundadores de nações, líderes religiosos, mas também em treinadores esportistas,
comandantes militares, administradores e, principalmente professores.
Será possível identificar as mesmas características do líder organizacional na função
de educador? Acredita-se que seja possível. Para Valle (2006, p. 13), “o líder é a pessoa que
faz a ponte entre os objetivos da instituição e os métodos e meios de se atingir esses objetivos.
É a pessoa que com suas habilidades e competências mobiliza os recursos humanos,
financeiros, tecnológicos, o tempo e o que tiver disponível para o melhor desempenho”. Na
mesma linha de pensamento, o professor-líder deve desenvolver sua capacidade de adaptação,
decisão e firmeza para guiar com precisão os alunos na melhor direção, além da capacidade
de influenciar as pessoas, desempenhar bem o seu papel e manter o bom andamento de sua
equipe de trabalho, a sala de aula.
Segundo Krames (2006) ao analisar os princípios de liderança apresentados por Jack
Welch - considerado um dos líderes empresariais mais bem-sucedidos do século passado,
indica características do gestor de pessoas que poderão ser aplicados nas relações
educacionais, sugerindo algumas ações a serem observadas: lidere e não gerencie pessoas;
seja formal; elimine a burocracia; encare a realidade e tome decisões certas; simplifique e
produza mais; veja a mudança como oportunidade; desafie a tradição para ser mais
competitivo; privilegie a inteligência de seus colaboradores; arrisque-se diariamente; coloque
os valores éticos em primeiro lugar; envolva todo mundo no jogo; estabeleça metas
ambiciosas; expresse uma visão; estimule o desempenho de sua equipe de trabalho; tenha
qualidade; promova a mudança e divirta-se trabalhando acrescenta Welch.
Apesar de a bibliografia ser antiga, é importante citar os conselhos de Serra (1982) que
acredita que um líder deve ter bom relacionamento com sua equipe; deve tratar a todos com
imparcialidade, sendo sereno e firme, sem ser grosseiro; deve estimular nas horas certas,
reforçando os valores positivos de seus colaboradores; jamais deve repreender sob a cólera;
não pode confundir firmeza com brutalidade; pode ter bom relacionamento e ser respeitado,
sem deixar a marca de “bonzinho”.
Para se adquirir liderança é preciso que as pessoas que estão ao nosso redor, no caso,
os alunos, parem e prestem atenção no que dizemos ou fazemos. Para conseguir que os alunos
prestem atenção em você, é preciso prestar atenção neles, ter habilidade de compreender
quem são os seus colaboradores, ou seja, enxergar com inteligência emocional.
Inteligência Emocional
As organizações estão investindo consideravelmente na formação das lideranças,
pois acreditam que vale a pena o investimento. As exigências são que o líder em qualquer
nível da organização, seja um mentor, treinador, conselheiro, aliado, amigo, comunicador,
bom ouvinte, negociador, administrador de conflitos, estrategista, ou ainda, que o líder
influencie positivamente o comportamento das pessoas com quem trabalha. Além disso,
espera-se que seja honesto, ético, flexível, comprometido, sensível, humilde e dotado de bom
humor e empatia. Portanto, a Inteligência Emocional (IE) nas organizações é um fator crucial
no sucesso de qualquer líder.
Segundo o dicionário enciclopédico Larousse (2006) considera-se inteligente aquele
que possui aptidão geral, que tem capacidade de governar as demais aptidões, ou seja, um
conjunto de habilidades, competências e técnicas que vão representar a coleção de
conhecimento necessário ao indivíduo para efetivamente estar a altura de lidar com a vida. No
sentido literal, emoção significa qualquer agitação ou perturbação da mente, sentimento,
paixão. “A emoção se refere a um sentimento e seus pensamentos distintos, estados
psicológicos e biológicos, e a uma gama de tendências para agir” afirma Goleman ( 2001, p.
303), dentre elas a ira, tristeza, medo, prazer, amor, surpresa, nojo e vergonha. Cada candidata
composta com outros elementos de suas famílias.
A teoria da inteligência emocional começou a ser debatida no final do século XX com
o psicólogo e jornalista Daniel Goleman, em sua obra intitulada Inteligência Emocional de
1995. É dividida em cinco áreas de habilidades: autoconhecimento emocional; autocontrole
emocional; automotivação; empatia ou reconhecimento das emoções nas pessoas; habilidade
em relacionamentos interpessoais. As três primeiras pertencem à inteligência intrapessoal, que
é a habilidade de compreender a si mesmo; e as duas últimas habilidades pertencem a
inteligência inter-pessoal, habilidade que compreende as outras pessoas.
Para Goleman (2001), a forma com que a pessoa administra suas emoções e as
emoções alheias são mais importantes do que qualquer outro componente mental do indivíduo
para obter sucesso. Ao enfatizar os dois modos de conhecimento diferentes, o racional e o
emocional, diz que uma “mente racional”, é o modo de compreensão, capaz de ponderar e
refletir. No entanto, a “mente emocional”, é um sistema de conhecimento impulsivo. Na
maior parte do tempo, as duas mentes agem em harmonia, mesclando seus modos de
conhecimento, pois são essenciais para o pensamento e vice-versa. Mas quando o sujeito
deixa suas paixões aflorarem, o equilíbrio se desfaz e, é a emoção que assume o comando.
O cientista acredita que a inteligência está ligada à forma como negociamos as nossas
emoções. A inteligência seria a capacidade de autoconsciência, controle de impulsos,
persistência, empatia e habilidade social. Goleman foi o primeiro autor a popularizar o termo,
sendo largamente discutido na mídia e chamando atenção da população.
A idéia de inteligência emocional foi inicialmente aplicada no campo da administração
das organizações, mas diversos estudos posteriores constataram que sua aplicação não se
restringe a nenhum campo em particular, sendo de grande utilidade em diversos aspectos da
sociedade humana. Sua aplicação revela que a Inteligência emocional é a grande responsável
pelo nível de sucesso das pessoas no trabalho, no qual envolve relacionamento humano. “O
sucesso ou fracasso, da escola às profissões, da família às empresas, depende tanto ou mais da
inteligência emocional quanto da inteligência clássica do QI” completa Maximiano. Envolve
diversas habilidades, como motivar a si mesmo, controlar impulsos, persistir mediante
frustrações.
Para os estudiosos da inteligência emocional, essa aptidão pode ser desenvolvida, as
pessoas podem ser emocionalmente alfabetizadas e educadas para lidar com suas emoções e
comportamentos. Trata-se, portanto, de existirem duas mentes: a que raciocina e a que sente.
A inteligência emocional também vem ganhando novos significados desde o trabalho
científico iniciado no final dos anos 80 pelos psicólogos John D. Mayer e Peter Salovey. Para
os autores, a IE
é a capacidade de perceber, avaliar e expressar emoções com precisão; a
capacidade de acessar e/ou gerar sentimentos quando estes facilitam o
pensamento; a capacidade de entender as emoções e o conhecimento
emocional e a capacidade de regular emoções para promover o crescimento
emocional e intelectual (1997, p. 401).
A chave para uma liderança bem sucedida está na integração de estilos racionais e
emocionais.
Habilidades da Inteligência Emocional
Para liderar com inteligência emocional se faz necessário conhecer as competências
emocionais baseadas em habilidades desenvolvidas por Mayer e Salovey (1997), que servirão
de base para posteriormente analisarmos a liderança com inteligência emocional. A IE foi
dividida em quatro grupos de habilidades:
Identificar as emoções – as emoções contêm dados, são indícios de eventos
importantes sejam no mundo interno, mundo social ou meio ambiente natural, portanto ler as
pessoas é fundamental. Trata-se de identificar e expressar emoções percebidas pela fisionomia
ou atitudes corporais, sentimentos e pensamentos. Desde a infância aprendemos a interpretar
as emoções, as expressões faciais dos pais, professores e quanto melhor for essa interpretação,
melhor será o entendimento do indivíduo em relação ao outro ao longo de sua vida;
Utilizar as emoções – o modo como nos sentimos influencia como pensamos e aquilo
sobre o que pensamos. As emoções voltam nossa atenção a eventos importantes. Está
relacionado à assimilação das situações que envolvem emoções no dia-a-dia do indivíduo,
podendo ser percebidas e assimiladas posteriormente e comparadas a outras situações,
lugares, sabores;
Compreender as emoções – as emoções não são obra do acaso. Elas têm causas
subjacentes; mudam de acordo com um conjunto de regras, e podem ser compreendidas. Está
focada no entendimento, na racionalização e na atitude correta a ser tomada após a sensação
das emoções. As emoções relacionadas a esta habilidade podem ser medo, felicidade e raiva.
Administrar as emoções – agir com sentimento, uma vez que as emoções contêm
informações e influenciam o pensamento, precisa incorporá-las de maneira inteligente a nosso
raciocínio, aos processos decisórios, aos julgamentos e atitudes. Aqui envolve a correta
administração tanto das próprias emoções como as emoções dos outros. No ambiente de
trabalho, percebemos quando um colega ou aluno fala algo desagradável e que pode provocar
uma discussão. O indivíduo com maior IE evitará o confronto, pois, racionaliza que é
inadequado esse tipo de reação, mesmo se tratando de uma injustiça, e caso seja necessário,
consegue controlar a ansiedade do outro indivíduo.
Os princípios da IE
O ser humano pode ser formado em Educação, Administração, Direito, Marketing,
mas não é comum fazer cursos sobre estratégias de gestão emocional, habilidades de
identificação emocional ou geração de emoções. A educação emocional começa com seis
princípios básicos da inteligência emocional segundo Caruso e Salovey (2007): as emoções
são informações sobre a pessoa e o mundo em que ela vive, essenciais a sobrevivência
humana; não podemos ignorá-las; podemos ocultar as emoções, mas não somos tão bons
nisso como julgamos - líderes nas organizações são conhecidos por tentar controlar expressão
e demonstração de emoções ou encobrir o que sentem para se protegerem dos outros; as
decisões devem incorporar emoções para serem eficazes, pois querendo ou não, os
sentimentos nos influenciam e também aos outros, ou seja, toda decisão é tomada sob o efeito
da emoção, devendo ser aceita, acolhida, compreendida e bem utilizada; as emoções seguem
padrões lógicos, apesar das emoções surgirem por diversas razões, cada emoção é parte de
uma sequência que pode ir de baixa para alta intensidade; os universais da emoção existem,
mas também existem os particulares – apesar das diferenças comportamentais e culturais de
país para país, a expressão de “felicidade” ou de “surpresa” em uma pessoa será a mesma em
qualquer cultura. Assim, há regras universais para as emoções e sua expressão.
Liderando e administrando com inteligência emocional
O esquema para pensar e sentir deve seguir algumas instruções baseadas na
inteligência emocional por habilidades: ler as pessoas, identificando suas emoções; entrar no
clima, usando as emoções; predigar o futuro emocional, compreendendo as emoções; fazer
com sentimento, administrando as emoções.
Para Caruso e Salovey (2007, p. 25), “identificar como as pessoas se sentem, usar as
emoções como suporte ao pensamento, compreender a causa delas e incluí-las e administrálas na tomada de decisões, para fazer as melhores escolhas na vida” representam as quatro
habilidades em ação, ou seja; identifique, use, compreenda e administre suas emoções para ser
um bom líder. Apesar de cada uma das habilidades serem diferentes, elas também funcionam
juntas. Segundo os autores podem ser aplicadas em diversas áreas da vida, mas a idéia aqui, é
que o método seja aplicado na área educacional, como proposta deste estudo.
O esquema abaixo foi adaptado baseado no pensamento de Caruso e Salovey, para ser
aplicado em sala de aula durante um conflito qualquer.
PASSO
Identificar emoções
META
AÇÃO
Obter dados completos e Ouvir, fazer perguntas para
precisos: análise da classe, esclarecer
a
problemática
do aluno ou do grupo de apresentada pelo aluno ou
trabalho.
classe. Certificar-se de como
se sentem: prestar atenção
em gestos, tons de voz,
sorrisos
forçados
ou
indignação.
Usar as emoções
Fazer
com
sentimentos
orientar
mesmo
seu
em
que
ajudem
os Determinar
esses
a sentimentos influenciam seu
raciocínio, raciocínio
momento
como
e
o
do
de aluno/grupo.
raiva.
Compreender as emoções
Avaliar possíveis situações Examinar as causas reais
emocionais.
desses sentimentos e o que
pode ocorrer em seguida.
Administrar as emoções
Determinar causas originais Juntar
as
informações
ocultas e tomar medidas para racionais
e
resolver o problema.
aos
disponíveis
lógicas
dados
emocionais que acaba de
coletar, para tomar decisões
otimizadas
mas
precipitação,
baseado
sem
no
diálogo e respeito para com
os alunos.
No quadro acima foram descritas uma hierarquia prática das habilidades emocionais.
Elas mostram como é possível mensurar, aprender e desenvolver cada uma delas de maneira
integrada, resolvendo assim, diversos problemas em sala de aula. Por exemplo, diante de uma
situação de desagrado qualquer, o professor pode sintonizar seus sentimentos com o da turma,
envolvendo mais do que prestar atenção na situação, é necessário após perceber os gestos,
tons de voz, sorrisos forçados e irônicos, perceber que o grupo pode estar se sentindo lá
embaixo, desmotivado por algum fator. É um momento de sentir o que a turma sente, e ver e
sentir o mundo pelo olhar dela. Trata-se de perceber que sua turma está esmorecendo, e
muitas vezes perdendo a esperança. Em seguida, analisar profundamente a situação, e
descobrir a origem do sentimento demonstrado. É necessário também prever o futuro, caso a
situação piore, pois muitos alunos se entregam diante de uma situação pessimista, levando-os
a deixar a instituição, caindo no desespero ou sentimento de raiva. O último passo,
emocionalmente inteligente será o mais difícil de todos: abrir-se quanto às emoções negativas,
sem repeli-las, pois ninguém gosta de sentir-se mal, e o modo mais prático é evitá-la. Tratar
diretamente do modo como se sente sua turma com relação à mudança, e não somente com
relação das questões concretas que disfarçam o real problema. Ser um líder emocionalmente
inteligente é entender que há momentos que se deve abrir a emoções tanto positivas quanto
negativas. Os autores deixam claro que não é fácil, mas vale a pena sentir o mundo de outra
maneira. Oferecido as ferramentas iniciais, a cada situação é possível criar um esquema
próprio para assim, solucionar os problemas, isso é questão de hábito, ou seja, de exercício.
Métodos
Para atingir os objetivos propostos foram realizadas pesquisas bibliográficas em
livros, artigos científicos, revistas especializadas, fontes eletrônicas na área da Administração
e Pedagogia. Os métodos abordados foram histórico, comparativo e estatístico. No ano de
2009 através de pesquisa de campo e técnica de coleta de dados por meio de questionário
traçou-se o perfil de um grupo de 25 professores de uma instituição de ensino superior
particular, o CEUNSP - Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio, situado na cidade
de Itu e Salto, no interior paulista. Por meio de pequena amostragem foi selecionado
professores aleatoriamente que lecionavam em cursos de Pedagogia, Direito e Administração.
Em seguida, esses profissionais foram avaliados de acordo com questionário proposto por
Caruso e Salovey (2007) para descobrir como estão compreendendo e trabalhando suas
emoções e quais as reações em situações de conflitos.
Resultados
A segunda parte da pesquisa objetivou refletir sobre o modo como os professores do
CEUNSP, instituição particular de Ensino Superior lida com as emoções. Não se trata de
mensurar, nem de testes psicológicos cientificamente validados, mas simplesmente,
identificar de maneira estruturada as habilidades emocionais de uma pequena amostra de
docentes. As questões nos ajudarão a pensar nas habilidades da inteligência emocional e
ocasionalmente senti-las.
A observação dos resultados se deu em 2009 por meio da técnica de questionário a
partir de vinte e cinco professores participantes da pesquisa e selecionados aleatoriamente nos
cursos de Pedagogia, Direito e Administração nas cidades de Salto e Itu. O quadro docente
avaliado foi composto de dezenove professores do sexo feminino e seis do sexo masculino.
Dentre eles, treze representam idades entre 30 e 40 anos; nove entre 40 e 50 anos; e três
professores acima dos 50 anos.
Quanto à formação acadêmica, quinze são especialistas, nove são mestres, e um
doutor. A atividade remunerada está classificada da seguinte maneira: oito vivem
exclusivamente da docência e dezessete exercem a docência e outra atividade também
remunerada.
A avaliação do estilo emocional dos vinte e cinco professores estudados se deu a partir
de um questionário agrupado em três conjuntos diferentes de perguntas: uma visão geral das
quatro habilidades da IE: identificando as emoções, utilizando as emoções, compreendendo as
emoções e administrando as emoções; uma abordagem geral em relação aos problemas; e um
questionário determinando o filtro de humor, ou seja, como o professor vê diversas situações.
A primeira parte da pesquisa, visão geral das quatro habilidades da IE aborda oito
questões para cada habilidade, onde foram selecionadas respostas A, B ou C.
Ao analisar de maneira quantitativamente e qualitativamente o resultado da primeira
habilidade, “identificar as emoções”, a qual corresponde como o professor se sente com
relação a identificar suas emoções precisamente, se ele dá atenção ou ignora-as ou ainda, se
possui habilidade de interpretar as pessoas acertadamente ou não, constatou-se que: de modo
geral os professores selecionados apresentaram uma pontuação alta, acima de 11 pontos,
sendo que acima de 9 pontos já seria um placar alto determinado pelo teste de Caruso e
Salovey (2007, p. 205-209). Isso significa que o grupo pesquisado consegue identificar bem
como as pessoas se sentem; que conversa sobre sentimentos; demonstra como se sentem;
expressa sentimentos quando estão preocupados; sorri quando felizes ou satisfeitos; sabe ler
as pessoas com precisão. Portanto, os professores avaliados são bons em reconhecer
sentimentos. Vale ressaltar que a mais importante das habilidades é a capacidade de
diferenciar emoções reais de emoções falsas.
A percepção emocional é um componente importantíssimo, pois determina como nos
sentimos, se estamos cansados, tristes ou nervosos. Trata-se aqui de um sistema de sinalização
que contém dados importantes e que indica não somente como expressamos nossas emoções,
mas como lemos expressões faciais e identificamos precisamente como os outros se sentem. É
a habilidade de distinguir entre uma pessoa irritada e uma pessoa calma, por exemplo.
Ao identificar as emoções, os professores poderão tomar decisões e partir para ações
acertadas, fundamental em posição de liderança, embora saber ler nas entrelinhas e selecionar
indícios emocionais de sua turma requer considerável habilidade.
A segunda habilidade é a “utilização das emoções”. O grupo selecionado atingiu uma
pontuação superior a 10, considerada alta. Significa que os professores usam seus sentimentos
para terem uma compreensão maior das outras pessoas e assim, melhorarem o modo como
pensam e decidem. É a habilidade de utilizar as emoções para promover o tipo certo de
raciocínio, ou seja, elas podem melhorar o raciocínio gerando diversos tipos de humores.
Na prática, significa que a forma com que utilizamos nossas emoções pode levar-nos a
experimentar o que nossos alunos sentem, tornando-nos capazes de compreender em nível
cognitivo e emocional como eles são ou estão em determinada situação. Compreender é estar
do lado da pessoa, com sensação de empatia e camaradagem. Por exemplo, se um aluno se
sentir ansioso e o professor conseguir gerar dentro de si a sensação de ansiedade poderá sentir
empatia por ele, levando-o a estabelecer fortes elos com esse aluno.
Na terceira habilidade, “compreendendo as emoções”, na qual avalia o conhecimento
emocional foi constatado que a pontuação média do grupo ficou entorno de 10 pontos. A
pontuação alta significa que o grupo avaliado possui um bom conhecimento emocional. Os
professores conseguem tirar conclusões corretas sobre seus alunos, sabem quais as coisas
certas a dizer, prevêem o que eles sentem, possuem rico vocabulário emocional, entendem
quando estão em situação conflitante e, possuem um conhecimento emocional apurado.
Apesar de ser positiva, essa habilidade foi a mais baixa comparando-a com as outras.
Dentro das quatro habilidades, a capacidade de compreender emoções é aquela que
está mais ligada ao pensamento. Neste caso, o professor deve compreender a causa de
determinada emoção (alegria, medo, surpresa, tristeza, raiva ou expectativa), quais as relações
entre elas, como elas transitam de um estágio para outro e como pode ser expresso em
linguagem. As emoções podem mudar, se desenvolver ou mesmo progredir, pois não são
estáticas.
Compreender as emoções pode proporcionar no professor informações sobre o que
motiva os alunos. Trata-se aqui de ao analisar a situação, conseguir prever o futuro, ou seja,
de identificar como os alunos reagiriam em determinada situação. Sentir-se-iam tristes,
nervosos ou surpresos? A análise emocional “e se...?” proporciona uma ferramenta precisa
para fazer certas previsões emocionais.
A última habilidade é a que mede a capacidade de “administrar as emoções”,
habilidade de incorporar ao pensamento os sentimentos próprios e alheios, ponto fundamental
da inteligência emocional. O grupo apresentou acima de 12 pontos, ou seja, os professores
avaliados demonstraram que as emoções moldam a tomada de decisões e fortalecem o
comportamento adaptativo; conseguem animar, acalmar ou manter o humor conforme a
necessidade; conseguem animar os outros, acalmá-los ou administrar devidamente seus
humores; estão abertos aos sentimentos próprios e alheios; levam uma rica vida emocional e
inspiram outras pessoas. Foi a melhor pontuação, significa que os professores permitem que
seus sentimentos afetem positivamente a tomada de decisão.
Professores com habilidade para administrar emoções podem ser passionais, mas, no
entanto, possuem bom autocontrole emocional, possuem temperamento comedido, pensam
com clareza ao experimentar emoções fortes, tomam decisões baseadas na emoção e na razão.
Apenas 10% dos questionados não possuem essa habilidade, ou seja, demonstraram
dificuldades em administrar suas emoções, pois são frios e lógicos, deixando-se mover pelos
fatos.
O professor-líder com inteligência emocional aproveita dos dados das emoções e a
sabedoria dos sentimentos, reconhecendo que os humores surgem por razões desconhecidas.
As emoções indicam que algo está ocorrendo ou ocorrerá. As emoções possuem a capacidade
de motivar ou inspirar o comportamento do ser humano, podendo ser utilizada como fonte de
idéias e energia.
Para administrar bem as emoções é necessário aceitá-las e estar consciente que elas
existem. Perguntas como: tenho certeza de meus sentimentos? Ele é forte? Ele tem influência
sobre minhas idéias? Sinto com frequência? Ou é raro me sentir assim? Podem ajudar-nos a
administrar o que sentimos, tornando-nos mais perspicazes e hábeis em nossas decisões?
A segunda parte da pesquisa de campo examina os problemas enfrentados e como são
solucionados em sala de aula. Expõe um conjunto composto por onze questões adaptadas à
situação educacional baseadas nas questões apresentadas por Caruso e Salovey (2007, p. 211213) adotando o critério de escolha da resposta A, B ou C.
O corpo docente examinado composto por vinte e cinco professores apresentou as
seguintes respostas ao teste, conforme gráfico abaixo:
Dentro da amostragem, 43% responderam a primeira questão (A) aos problemas
diversos, demonstrando estilo racional demais. A ênfase no pensamento lógico, em
detrimento dos sentimentos, conduz pelo caminho das decisões deficientes e da compreensão
limitada. Esse grupo tenta ser consistentemente lógico e racional no ambiente de trabalho, ou
seja, esses professores pensam e agem de maneira compenetrada. Cumprir bem com o seu
papel em sala de aula não é trabalho para a racionalidade pura. Segundo abordagem de liderar
com inteligência emocional, essa descoberta não foi positiva, pois representa que o corpo
docente analisado, demonstra na solução de problemas, racionalidade em demasia.
Quanto à terceira resposta (C), a representatividade foi 10% da amostragem,
demonstrando possuir estilo emocional demais, excesso de emotividade em situações
diversas. Esse grupo de professores apresenta momentos que são motivados por sentimento
intenso de alegria, tristeza ou medo. Isso não é bom, pois as emoções podem dominar e
sufocar levando-os a atacar furiosamente e sem justificativa um aluno em sala de aula.
Também ao aceitar entusiasmadamente um novo desafio na carreira, o pequeno grupo pode
agir demasiado emocionalmente.
A segunda resposta (B) equivale a 47% do professorado, apresentando estilo
emocionalmente inteligente. Portanto, esse é o foco da pesquisa. As emoções contêm
informações valiosas e a tomada de decisões deve combinar pensamento e sentimentos para
ser eficiente. O professor-líder não pode de maneira alguma ignorar suas emoções e as
emoções alheias. Quando se ignora sinais de alerta e indícios de perigo perde-se a
oportunidade de aprender, desenvolver sua capacidade e explorar o mundo. “O estilo
emocionalmente inteligente integra os elementos racionais e lógicos das situações, bem como
os componentes emotivos subjacentes” acrescenta os psicólogos Caruso e Salovey (2007, p.
214).
O professor-líder emocionalmente inteligente está sempre a serviço das pessoas e usa
sabiamente desses recursos. A tendência é de desenvolver e auxiliar as pessoas, levando-os ao
crescimento e desenvolvimento. O enfoque vai ser de servidor, buscando suas necessidades,
no caso o despertar para o conhecimento.
A terceira parte da pesquisa de campo analisa os “filtros de humor” do professorado
(CARUSO E SALOVEY, p.225-234). O questionário foi composto por sete conjuntos
constituindo cada um por seis questões que foram respondidas entre sim ou não. Cada
conjunto de perguntas analisa um traço de predisposição específico de admitir ou barrar certos
sentimentos, características pessoais de cada professor analisado. Os resultados oferecem
hipóteses sobre a experiência do mundo, e não verdades objetivas.
O primeiro conjunto aborda a ansiedade. Dos 25 professores analisados, 21 obtiveram
pontuação 4, e 4 professores pontuação 3, representando um grau baixo de ansiedade, esse
resultado significa que os analisados estão bloqueando seus sentimentos de preocupação,
expectativa ou medo, ou seja, conseguem barrar preocupações e ameaças. Apesar da
preocupação e a ansiedade serem vistas de maneira negativa, podem desempenhar um papel
positivo na vida do ser humano. Isso significa que estão monitorando o ambiente naquilo que
possa ocorrer. Mas o excesso de preocupação também pode impedir de agir, levando ao
cansaço e esgotamento. A leitura que os outros podem fazer é de um ser nervoso, ansioso ou
irrequieto. Portanto, esse baixo índice pode indicar que não estão sendo vigilante o bastante e
não se preocupam com sinais de alerta.
O segundo conjunto representa a depressão. Dos 25 professores analisados, 23
obtiveram pontuação 4, e 2 pontuação 3, também representando um quadro com baixa
pontuação, isso significa que raramente ficam tristes ou deprimidos. A perda de um parente
ou de um emprego pode representar tristeza. Na depressão não há perda efetiva, pois as coisas
simplesmente não valem o esforço. Muitas pessoas deprimidas nem sempre se mostram
tristes, pois apresentam dias animados e positivos, há a alteração de humor. Quando se torna
séria e perdura, leva a perda da esperança. Reconhecer esses sinais é fundamental para que
não se agrave. Uma baixa pontuação indica que o professor está bloqueando indícios de perda
ou tristeza.
O terceiro conjunto representa a Raiva. Todos os professores analisados obtiveram 4
pontos. Isso significa que possuem boa aceitação dos outros e evitam enxergar injustiças. Ao
ser ignorado ou ferido por outra pessoa, o indivíduo pode se irritar, acreditando que não está
certo ou que não é justo tal situação, e pode ter razão. A raiva decorre de uma sensação de
afronta ou injustiça. Mas talvez a irritação se deva não somente às atitudes alheias, mas
também como se interpreta os fatos. Um professor com pontuação baixa pode resguardar-se
da raiva e de sentimentos similares. Está dando as costas a tais experiências e tentando
ativamente barrá-las. Portanto, segundo os autores a raiva não é uma emoção ruim, sem ela
toleraríamos a injustiça, a desigualdade e os preconceitos.
O quarto conjunto aborda a agradabilidade, tendência de se dar bem com os outros,
de levar em conta os desejos e vontades alheias e de ser em geral afável. Os 23 professores
obtiveram a pontuação 4 e 2 professores a pontuação 3. Isso significa uma pontuação muito
baixa. Esses são competitivos, dispostos a achar falhas, agressivos, possuem forte desejo de
vencer a todo custo. Portanto, não demonstraram agradabilidade, não confiam nos outros e na
bondade alheia.
O quinto conjunto destaca o otimismo, 22 professores obtiveram 3 pontos e 3
obtiveram 4 pontos. No geral a pontuação foi muito baixa, o grupo está aberto a emoções
negativas. Uma pontuação baixa em matéria de otimismo pode ser uma razão para investigar
se está filtrando os acontecimentos por uma lente negativa. Otimismo não é sinônimo de
pensamento positivo, mas acreditar no sucesso, ao passo que o pensamento positivo é na
maioria das vezes a técnica de bloquear idéias negativas, ainda que sejam realistas e bem
fundadas. O otimismo é um fator importante na liderança, pois pode levar-nos a prosseguir
diante do fracasso ou quando confrontamos os inevitáveis obstáculos de uma jornada difícil,
mas compensadora. No entanto, o pensamento confiante pode levar a ignorar sinais de alerta
ou perigo emocional.
O sexto conjunto representa a confiança, onde 22 professores obtiveram 4 pontos, e 3,
3 pontos. A baixa pontuação representa que conseguem ver as faltas e as emoções negativas
em outras pessoas. A falta de confiança pode tornar a pessoa cínica e pode dificultar o cultivo
do relacionamento íntimo. O grupo apresentou baixo poder de confiança. Confiar é dar crédito
às outras pessoas, ou seja, ainda acredita na natureza humana. Mesmo quando decepcionado,
continua acreditando nas pessoas. A confiança é importante em relacionamentos pessoais e no
ambiente de trabalho.
O sétimo conjunto aborda o estresse, 22 professores obtiveram 4 pontos e somente 3
obtiveram pontuação alta, 5 pontos. O resultado significa que a maioria dos professores está
aberta a situações estressantes. Aqui é importante medir a resistência de enfrentar o estresse.
A pontuação baixa, representada pela maioria, significa que os professores possuem fibra, são
durões, podendo absorver um estresse considerável, mas podem levar a minimização das
emoções negativas. A alta pontuação dos 3 casos, significa que esses professores bloqueiam
situações emocionais e se deixam avassalar facilmente e até podem exagerar suas emoções
negativas. Em contraste, o professor invulnerável ao estresse enfrentará tudo com serenidade.
O professor-líder emocionalmente inteligente precisa ser claro quanto às emoções e
avaliar a importância desses sentimentos. Evitar todas as situações emocionais pode levá-lo a
uma vida vazia, perdendo a oportunidade de aprender, crescer e se desenvolver como pessoas.
É fundamental que se permita a certas emoções e determine se deva excluir ou incluir
seletivamente certos sentimentos. O ideal é que se experimente o sentimento em sua mais
plena forma, sem minimizá-lo nem exagerá-lo. A emoção e os dados que ela contém pode ser
uma influência produtiva e efetiva. Os humores sufocam o pensamento e conduzem a falsas
conclusões e quando influenciam exageradamente, podem nos dominar.
É fácil conviver com a felicidade, no entanto, ter dificuldade para se abrir a
sentimentos de raiva, ódio. Também é possível aceitar a tristeza e se afastar de sentimentos de
alegria e felicidade. Faz-se necessário aqui aceitar a filtragem emocional, isso significa aceitar
certas emoções, de permitir ou não que apenas determinados sentimentos aumentem o nível
de aceitação e percepção consciente. Mas, o importante é saber determinar quais filtros
emocionais o indivíduo pode usar em determinada situação.
A última parte da pesquisa se deu a partir de uma questão aberta sobre a capacidade de
motivar e liderar em sala de aula. Dos 25 professores questionados, somente dezenove
responderam a questão, e de maneira vaga, de modo geral, o corpo docente avaliado
demonstrou uma capacidade positiva de liderança e motivação. Talvez pelo fato de
pertencerem aos cursos de Pedagogia, Direito e Administração, onde há a necessidade de
saber tratar com pessoas. Mas isso não esgota o assunto, pois se o corpo docente pertencesse a
cursos na área de Ciências Exatas o resultado talvez fosse diferente, desafio para futuras
pesquisas.
Considerações Finais
Os testes aplicados não tinham como proposta mensurar a inteligência emocional do
corpo docente, mas apenas apresentar um panorama das habilidades emocionais de um
pequeno grupo de professores fundamentando a importância de se ter professores-líderes com
inteligência emocional.
Quanto à análise das quatro habilidades, percebeu-se que a pontuação foi alta e os
professores estão conseguindo identificar as emoções, utilizar as emoções, compreender as
emoções e administrar suas emoções. No entanto, quando examinado como enfrentam os
problemas e os solucionam a avaliação demonstrou que 43% utilizam apenas a razão para
solucionar os problemas e 47% possuem as características de um líder emocionalmente
inteligente, com a integração de estilos racionais e emocionais, conforme observado
anteriormente. Ora, parece contraditório, pois se conseguem identificar e administrar bem
suas emoções, como um grupo significativo (43%) dos racionais demais, quase cinqüenta por
cento, pode resolver problemas de maneira racional?
Provavelmente os professores analisados estão usando a razão como forma de
proteção, pois estão em um ambiente de trabalho, na área da Educação e acreditam que o
correto seria camuflar suas emoções, não as demonstrando perante alunos. Ao estarem diante
de um problema perturbador, muitos suprimem ou ignoram o sentimento e usam recursos
cognitivos para suprimi-los e não conseguem prestar atenção no problema como deveriam.
Com relação a filtro de humores, os sentimentos avaliados foram: ansiedade,
depressão, raiva, agradabilidade, otimismo, confiança e estresse. Os professores obtiveram
pontuação baixa, demonstraram estar bloqueando seus sentimentos, uma predisposição para
ansiedade, mas podendo absorver um estresse considerável, resguardando-se da raiva, baixo
poder de confiança, portanto, falta de agradabilidade.
Conforme observado até aqui tornar-se um professor-líder emocionalmente inteligente
não é uma tarefa fácil. Nem todos conseguem identificar suas habilidades e trabalhá-las em
prol de um crescimento. Nos depoimentos dos professores, muitos acreditam serem líderes
natos, mas quando se trata de conciliar emoção e razão, ainda é um desafio, precisa de treino e
dedicação, dizem os autores citados.
Cabe a cada professor determinar o momento de iniciar esta trajetória. A todo o
momento somos testados, seja nos corredores da faculdade, em reunião de avaliação, quando
tarefas são solicitadas. A cada instante somos convidados a uma auto-avaliação de como
estamos nos sentindo, como tais sensações orientam nossos pensamentos, como nos sentimos
diante de adversidades e como os sentimentos podem mudar dependendo da situação. Cabe a
cada reflexão saber utilizar com devida sabedoria todas as emoções sentidas para melhor
pensar, decidir e finalmente agir corretamente.
O professor emocionalmente inteligente como líder deve interagir emoções e
cognição, sentimento e pensamento, paixão e razão. Portanto, pensamento racional envolve as
emoções e que ambos não podem ser facilmente separados. Ao adquirir inteligência
emocional e a colocá-la em prática, o professor terá a chance de se tornar ainda melhor: um
professor líder de equipes com qualidades positivas e duradouras, que é o que todo professor
busca, fazer a diferença na vida de um acadêmico.
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