Mapas de Parker: as indicações de uso presentes na
I Conferência Nacional de Educação
PORTELA, Mariliza Simonete1
Pontifícia Universidade Católica do Paraná-PUCPR
Os Mapas de Parker, originalmente denominados Cartas de Parker, e as indicações
de uso permeando o ideário de ensino paranaense estão sendo investigados por
configurarem-se objeto de estudo no contexto dos saberes elementares matemáticos do
ensino primário nas primeiras décadas do século XX. Escritas por Francis Wayland Parker,
professor norte americano que, no século XIX, desenvolveu estudos numa perspectiva
progressista as Cartas de Parker circularam por diversos estados brasileiros como
instrumento para o ensino das quantidades, números e cálculos a eles vinculados. O texto
aqui apresentado é um recorte da pesquisa de doutoramento 2 em curso que pretende
verificar a circulação dos Mapas de Parker nas escolas primárias paranaenses. Veiculada
por meio de Programas oficiais de Ensino e Revistas Pedagógica mencionadas em alguns
documentos pelo vocábulo Mapas de Parker foram tema de tese apresentada na I
Conferência Nacional de Educação ocorrida em Curitiba em 1927.
A utilização das Cartas de Parker pode se pensada além de um instrumento para
guiar o trabalho com a Aritmética da escola primária no início do século XX, considerando
que no contexto das disciplinas escolares, estavam os ideais de ensino, assim como na
própria organização da escola.
1
Doutoranda da Pontifícia Universidade Católica do Paraná na Linha de Pesquisa História e Políticas da
Educação sob a orientação da Profa. Dra. Neuza Bertoni Pinto.
2
A pesquisa em questão compõe juntamente com pesquisas em desenvolvimento em outros estados
brasileiros um corpo de investigação que tem como tema central os saberes elementares matemáticos no
ensino primário de 1890 a 1970. Filiada ao Grupo de Pesquisa de História da Educação – GPHDE na PUCPR
e, por conseguinte ao Grupo de Historia da Educação Matemática – GHEMAT tem por objetivo conhecer e
contribuir com a escrita da história da matemática da escola primária paranaense.
XI Seminário Temático
A Constituição dos Saberes Elementares Matemáticos: A Aritmética, a Geometria e o
Desenho no curso primário em perspectiva histórico-comparativa, 1890-1970
Florianópolis – Santa Catarina, 06 à 08 de abril de 2014 – Universidade Federal de Santa Catarina
Nesse sentido, Chervel nos alerta que finalidades diversas são reservadas à escola
sendo que seu conjunto designa sua função educativa. Adverte também que o papel das
escolas não se limita às disciplinas escolares.
[...] a instituição escolar é em cada época tributária de um complexo de objetivos
que se entrelaçam e se combinam numa delicada arquitetura da qual alguns
tentam fazer um modelo [...] e [...] as disciplinas escolares estão no centro desse
dispositivo. Sua função consiste em cada caso em colocar um conteúdo de
instrução a serviço de uma finalidade educativa (CHERVEL, 1990, p.188 ).
Ao que tudo indica, o uso dos Mapas de Parker foi além de um método de ensino,
um orientador passo a passo, foi, no contexto escolar, um aliado aos propósitos para a
instrução primária do período poderia reverberar na formação do aluno.
A investigação produzida em alguns estados brasileiros mostrou que as Cartas
foram traduzidas para o português, recebendo em alguns documentos o nome de Mapas de
Parker, circularam e estiveram presentes nos Programas de Ensino, em Congressos da
Educação, impressas, divulgadas e distribuídas à escolas de Ensino Primário do Estado do
Paraná. As Cartas foram publicadas na Revista O Ensino do Professorado Público do
Estado de São Paulo em 1902, percorreram diversos estados brasileiros e de acordo com
documentos oficiais como o Relatório do Movimento Anual de Grupos Escolares,
apresentado por seus respectivos diretores em 1928, estiveram presentes nas escolas
paranaenses.
Alicerçada em fontes históricas do início do século XX, a pesquisa aqui
apresentada tem permitido conhecer alguns aspectos dos saberes matemáticos decorrentes
dos conteúdos preconizados nos Programas e demais orientações oficiais para o ensino
primário no Estado do Paraná. A busca e reunião de fontes tem sido um dos desafios que
reúne pesquisadores de diversos estados brasileiros e num processo de construção coletiva
tem tecido fio a foi a teia da história da Matemática como matéria ou disciplina do ensino
primário.
Dentre as fontes selecionadas para esta comunicação destacamos a I Conferência
Nacional de Educação (1927) e nela uma das teses apresentadas tratando do ensino
primário paranaense. Esta ação permitiu o dar mais um passo no caminhar com direção à
Anais do Seminário Temático – ISSN 2357-9889
Página 2 de 6
XI Seminário Temático
A Constituição dos Saberes Elementares Matemáticos: A Aritmética, a Geometria e o
Desenho no curso primário em perspectiva histórico-comparativa, 1890-1970
Florianópolis – Santa Catarina, 06 à 08 de abril de 2014 – Universidade Federal de Santa Catarina
construção da história dos saberes matemáticos privilegiados na primeira metade do século
XX. Permitiu não somente encontrar registros dos modelos que serviram de guia como
conhecer nuances da cultura que regeu as escolas primárias paranaenses. Cultura que é
denominada por Julia (2001) como “cultura escolar” e pode ser observada muitas vezes
presente nas entrelinhas dos documentos analisados e ao ser tratada como objeto histórico:
“não pode ser estudada sem a análise precisa das relações conflituosas ou pacíficas que ela
mantém, a cada período da sua história, com o conjunto das culturas que lhe são
contemporâneas: cultura religiosa, cultura política ou cultura popular” (p. 10).
As Conferências Nacionais de Educação (CNE), foram na década de 1920, uma
espaço que reuniu professores e interessados em discutir os rumos do ensino escolar na
educação brasileira. A Associação Brasileira de Educação (AEB) criada em 1924,
propiciou sete Conferências Nacionais realizadas em diferentes estados brasileiros entre
1927 e 1935. Tais Conferências funcionaram, de acordo com Mignot e Xavier (2004),
como um elo entre os governos federais, estaduais e representantes da sociedade civil
sendo um elemento estratégico para difusão de ideias e princípios de organização do
ensino.
O Ministro da Educação e do Desporto Paulo Renato de Souza ao prefaciar a obra
organizada por Costa, Schena e Schmitd e publicada pelo MEC/INEP em 1997, declara
que a década de 1920 foi um marco para a educação brasileira. Afirma também que as
Conferências propiciaram a fertilização do pensamento educacional, mobilizando a
sociedade e educadores e impulsionando a criação do Ministério da Educação e Saúde
Pública em 1930.
Sediada no Teatro Guaíra em Curitiba a Primeira Conferência foi realizada em
1927 e organizada por Lysímaco Ferreira da Costa, Inspetor Geral do Ensino e educador
paranaense. Nela estavam incluídas discussões sobre o atendimento das necessidades
locais e regionais quanto ao ensino primário e normal e contou com a presença de
Delegados de Ensino de dezoito estados. Participaram cerca de 300 pessoas e 112 teses
inscritas das quais 26% foram apresentadas por professores de escolas primárias e normais
do Paraná e 12% pela Associação Brasileira de Educação.
Anais do Seminário Temático – ISSN 2357-9889
Página 3 de 6
XI Seminário Temático
A Constituição dos Saberes Elementares Matemáticos: A Aritmética, a Geometria e o
Desenho no curso primário em perspectiva histórico-comparativa, 1890-1970
Florianópolis – Santa Catarina, 06 à 08 de abril de 2014 – Universidade Federal de Santa Catarina
Dentre os elementos de discurso para o estado paranaense figuravam a adoção de
um programa único de ensino, os mesmos métodos e compêndios pedagógicos bem como a
obrigatoriedade do ensino primário. Tal defesa foi realizada por Segismundo Antunes Neto
de Paranaguá. De acordo com o autor da tese o objetivo do ensino era tornar o aluno um
cooperador do progresso “capaz de produzir no futuro com economia de tempo e força”
tornando-os “fatores de progresso e fontes de riqueza do estado”.
Nesse cenário Joaquim Meneleu de Almeida Torrez, professor e diretor da Escola
NormalPrimária de Ponta Grossa 3, município do Paraná, apresenta a Tese de número 30,
objeto desta escrita, intitulada: “Qual o processo mais eficaz para o ensino da Aritmética
no primeiro ano do curso preliminar?” Embora o Professor Torrez principie a tese
afirmando não discutir a finalidade educativa da Aritmética, dita como devem professor e
aluno agir em sala de aula: ao professor cabendo “despertar as atividades que visem
desenvolver o físico, o intelecto e o moral da criança bem como a faculdade aquisitiva e o
amor ao trabalho” (p.165). Segue seu discurso alegando que cabe ao educador responsável
por determinar “o gênero de atividade a que se deve dedicar o aluno” (p.166). E que para o
ensino da Aritmética “não se visa somente aprimorar o espírito do aluno com o que ela
fornece, mas também aperfeiçoá-lo no modo de bem expressar o seu pensamento” (p.171);
e cabe ao aluno: ser subordinado à orientação que o educador lhe der.
O método de ensino é posto por Torrez como um “caminho mais seguro para o
ensino da disciplina” (p.177) e nesse contexto os Mapas de Parker são citados como um
material indispensável para auxiliar as lições. O método que o autor apresenta e sugere o
nome “intuitivo” por considerar a “intuição um ato pelo qual a inteligência, em presença
das realidades a conhecer se intera conscientemente” (p.168) e para tal fim afirma como
necessário material didático em grande variedade: palitos, taboinhas tornos, esferas,
moedas, frutas diversas, réguas e no aprendizado dos números, também o emprego de
cartões com formas geométricas. O autor lembra que as crianças aprendem por intuição,
ligando à forma, o nome que se lhe dá e esses cartões entram como os demais objetos.
Devendo existir ainda, na sala, réguas graduadas, uma coleção de pesos, uma balança.
3
Escola Normal Primária de Ponta Grossa foi criada pela Lei 2.064 de 31 de março de 1921 e inaugurada
oficialmente em 07 de fevereiro de 1924.
Anais do Seminário Temático – ISSN 2357-9889
Página 4 de 6
XI Seminário Temático
A Constituição dos Saberes Elementares Matemáticos: A Aritmética, a Geometria e o
Desenho no curso primário em perspectiva histórico-comparativa, 1890-1970
Florianópolis – Santa Catarina, 06 à 08 de abril de 2014 – Universidade Federal de Santa Catarina
Sendo indispensável para auxiliar as lições um Mapa de Parker, primeiro com os quadros
ilustrativos, depois com os numéricos (p.168).
Na Tese em questão há detalhamento do método desde a ideia de número até a
habilidade e operar com eles. Na sequencia do texto são apresentados pelo Profo Torrez
exemplos para abordagem do professor. Quanto ao ensino da tabuada há um reforço para
uso do Método intuitivo onde o “educando” ao compor e decompor obtivesse as relações
numéricas da tabuada, podendo os “quadros sistematizados” serem organizados pelos
próprios alunos com o auxílio de objetos.
O aprendizado dos números segundo o autor
está associado à composição e decomposição e a sugestão é que o professor faça uso dos
Mapas de Parker para os quais o conferencista cita exemplos de atividades, orienta o
exame cuidadoso dos exercícios e posterior escrita e como consequência, o cálculo mental.
Observa-se na tese em questão que as orientações dadas para o uso do material Mapa de
Parker são semelhantes a estrutura das atividades apresentadas em Palestras sobre o ensino
de Francis Parker traduzida para o português.
O estudo aqui apresentado tem referencial teórico pertinente à história cultural e
historiadores cujas teorias a ela se relacionam como Dominique Julia, Roger Chartier,
André Chervel e Michael de Certeau. Maiores detalhes serão apresentados na sequência do
processo do evento para o qual esta escrita se destina.
Referências
CHERVEL, André. História das Disciplinas Escolares: Reflexões sobre um campo de
pesquisa. Revista Teoria & Educação. Porto Alegre. n. 2, p. 177-229. 1990.
COSTA, Maria José Franco Ferreira da. SHENA, Denilson Roberto. SCHIMIDT, Maria
Auxiliadora. I CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Brasília: INEP/MEC,
1997.
JULIA. D. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da
Educação. Campinas, SP: SBHE – Editora Autores Associados. Jan/Jun.nº. I, 2001.
MIGNOT, Ana Chystina Venâncio. XAVIER, Libânia Nacif. In SILVA, Arlete Pinheiro
de Oliveira. Org. Homenagem aos 80 anos da Associação Brasileira de Educação –
AEB. Brasília: INEP/MEC, 2004.
PARANÁ. Relatório do Movimento anual de Grupos Escolares e Escolas
Complementares. 1928. Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/99759
Anais do Seminário Temático – ISSN 2357-9889
Página 5 de 6
XI Seminário Temático
A Constituição dos Saberes Elementares Matemáticos: A Aritmética, a Geometria e o
Desenho no curso primário em perspectiva histórico-comparativa, 1890-1970
Florianópolis – Santa Catarina, 06 à 08 de abril de 2014 – Universidade Federal de Santa Catarina
PARKER, Francis. Palestras sobre o ensino. Trad. BARRETO, Arnaldo de Oliveira.
Campinas,
SP:
Typografia
Livro
Azul,
1909.
Disponível
em
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/96571
REVISTA DE ENSINO da Associação Beneficente do Professorado Público de São
Paulo. São Paulo: Tipografia do Diário Oficial, 1902. Disponível em
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/98842
Anais do Seminário Temático – ISSN 2357-9889
Página 6 de 6
Download

RD6_portela_res_DAC - Seminário Temático