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10 de novembro
Química:
nossa vida,
nosso futuro
Brasília, novembro de 2011
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Esclarecimento
A UNESCO mantém, no cerne de suas prioridades, a promoção da igualdade de gênero, em
todas as suas atividades e ações. Devido à especificidade da língua portuguesa, adotam-se
nesta publicação, os termos no gênero masculino, para facilitar a leitura, considerando as
inúmeras menções ao longo do texto. Assim, embora alguns termos sejam grafados no masculino,
eles referem-se igualmente ao gênero feminino. Por exemplo, quando se menciona professor,
subentende-se também estar incluída a ideia de professora.
Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem
como pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem
comprometem a Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo
deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a
respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas
autoridades, tampouco da delimitação de suas fronteiras ou limites.
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10 de novembro
Química:
nossa vida,
nosso futuro
TRABALHOS E DESENHOS PREMIADOS
2011
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Esta publicação é fruto de uma parceria entre a Representação da UNESCO no
Brasil e a Comissão Permanente de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e
Informática (CCT) do Senado Federal
© 2011 UNESCO.
Todos os direitos reservados.
Revisão: Regina Furquim
Revisão Técnica: Setor de Ciências Naturais da Representação da UNESCO no Brasil
Projeto Gráfico e Capa: Unidade de Comunicação Visual da Representação da
UNESCO no Brasil
Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, 10 de novembro:
química; nossa vida, nosso futuro, trabalhos e desenhos premiados 2011. –
Brasília: UNESCO, Senado Federal, 2011.
148 p.
BR/2011/PI/H/11
1. Química 2. Educação Secundária 4. Ensino de Ciências 5. Ciência e
Sociedade 5. Desenvolvimento Sustentável 7. Ciência e Desenvolvimento 8.
Promoção da paz 9. Brasil I. UNESCO II. Brasil. Senado Federal
Representação no Brasil
SAUS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6,
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70070-912 – Brasília - DF - Brasil
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Impresso no Brasil
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SUMÁRIO
Agradecimentos ......................................................................................9
Apresentação.........................................................................................13
Abstract ................................................................................................15
O Ano Internacional da Química..........................................................17
CATEGORIA DESENHO
1º Lugar – Mulheres e química, mistura perfeita de delicadeza e surpresa.......29
Louys Lene Martins da Silva (autora) e
Irany Silva de Souza (professora-orientadora)
2º Lugar – Há mulheres que desistem e outras que persistem ...............30
Maycon Douglas Silva Soares de Araújo (autor) e
Ângela Cristina Schempp Pires (professora-orientadora)
3º Lugar – Química, evolução e transformações ...................................31
Ualesson Miguel de Melo (autor) e
Sólon Almeida Barretto (professor-orientador)
Menção Honrosa
Química: buscando melhoria para nossas vidas e de nosso planeta .........32
Alexandra Silva Braga (autora) e
Cristina Costa Luz (professora-orientadora)
Mulher: um desafio no tempo ...............................................................33
Bianca Melissa Holanda dos Santos (autora) e
Emmanuele Maria Barbosa Andrade (professora-orientadora)
Química: desde os primórdios vitais à tecnologia atual ..........................34
Johnatan Souza da Silva (autor) e
Rodolfo de Oliveira Castro (professor-orientador)
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Da gestação de uma nova química depende a preservação da vida ..........35
Letícia Miranda Ferreira da Silva (autora) e
Aline Pires de Araújo (professora-orientadora)
O homem é responsável pela evolução do universo e
a diminuição da ignorância e das dores da Humanidade ........................36
Mariline Schab (autora) e
Juliane Nadal Dias Swiech (professora-orientadora)
A química da vida .................................................................................37
Pedro Sávio Martins Rosa (autor) e
Luiz Claúdio Pinheiro Rodrigues (professor-orientador)
O futuro do nosso planeta e dos seres vivos que
nele habitam está em nossas mãos..........................................................38
Renan Maia dos Santos Pereira (autor) e
Bárbara da Silva Furtado (professora-orientadora)
CATEGORIA TRABALHO ESCRITO
1º Lugar – O papel da Química no desenvolvimento ...........................41
Bárbara Sakamoto Ligero (autora) e
Maria Celeste de Souza (professora-orientadora)
2º Lugar – Ciência: uma expansão feminina.........................................51
Ana Raquel Ferraz Rameiro (autora) e
Kátia Aparecida da Silva Aquino (professora-orientadora)
3º Lugar – Para que tudo isso?..............................................................59
Matheus Marchiori dos Santos (autor) e
Angela Cristina Schempp Pires (professora-orientadora)
Menção Honrosa
O Despertar da Química.......................................................................69
Ana Carolina Yamaguchi de Andrade (autora) e
Vilma da Silva Verona (professora-orientadora)
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A Química na nossa mesa......................................................................89
Ingryd Rodrigues dos Passos (autora) e
Roberto Fortunato Donato (professor-orientador)
Um dia irei mudar o mundo................................................................101
Juliana da Silva Lavor (autora) e
Vagner Barbosa de Lima (professor-orientador)
Química verde – o caminho para o mundo melhor..............................111
Juliana Wallner Werneck Mendes (autora) e
Maria de Fátima de Jesus Diniz Furriel (professora-orientadora)
As faces da Química: os primeiros passos para
o desenvolvimento sustentável.............................................................121
Lora Danna Pereira Sampaio (autora) e
Lúcia Regina Silva dos Santos (professora-orientadora)
Pequeno, mas grande sonhador ...........................................................129
Maíra Alves Barbosa da Silva (autora) e
Alexandre Barros Oliveira (professor-orientador)
Química verde e seus benefícios na sociedade atual..............................141
Natália Balbinott (autora) e
Roseli de Ré de Oliveira (professora-orientadora)
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AGRADECIMENTOS
A UNESCO agradece o envolvimento e o empenho das instituições participantes e co-organizadoras do Concurso de Trabalhos Escritos e Desenhos e
do evento em comemoração ao Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo
Desenvolvimento (10 de novembro). São elas:
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Academia Brasileira de Ciências (ABC)
Agência Espacial Brasileira (AEB)
Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI)
Ciência em Show
Comissão Permanente de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e
Informática (CCT) do Senado Federal
Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED)
Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de C,T&I
(CONSECTI)
Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF)
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
Instituto Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque
Instituto Sangari
Interlegis
Ministério da Saúde (MS)
Ministério da Educação (MEC)
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM)
Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF)
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SE/GDF)
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC)
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
Sociedade Brasileira de Química (SBQ)
União Europeia
Universidade de Brasília (UnB)
Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional
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A UNESCO agradece, ainda, às duas comissões de especialistas que avaliaram os trabalhos apresentados para as categorias de trabalho escrito e desenho.
Os membros das comissões estão listados a seguir.
Comissão de Avaliação dos Trabalhos Escritos
Airton Lugarinho
Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF)
Amanda Talamonte
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
Ary Mergulhão Filho
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Edvânia Rodrigues
Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED)/Secretaria da Educação
do Estado de Goiás (SEEGO)
Eleni Roberta da Silva
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Fernanda Velloso
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Gerson Mol
Sociedade Brasileira de Química (SBQ)
Juliana Proite
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Leda Cardoso Sampson Pinto
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
Marcelo José Domingos
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF)
Maria Elisabete Ferreira
Instituto Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque
Michele Knop
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Otávio Borges Maia
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
Rafaela Marques
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
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Comissão de Avaliação dos Desenhos
Airton Lugarinho
Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF)
Ary Mergulhão Filho
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Eleni Roberta da Silva
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Fernanda Velloso
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Juliana Proite
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Leonardo Nemer Afonso
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
Marcelo José Domingos
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF)
Michele Knop
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Rafaela Marques
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Ramón Martins Sodoma da Fonseca
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
Tereza Jorge Lasmar
Instituto Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desse
Concurso.
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APRESENTAÇÃO
Imagine-se entrando em sua casa após um dia de atividades. Um bom
banho, roupas confortáveis e uma saborosa refeição, todos responsáveis por
momentos especiais que virão de relaxamento e descanso. Enquanto relaxa
profundamente, pode vir à sua memória a imagem de seu professor de
Química do ensino médio com a seguinte pergunta: onde a Química está
presente na sua vida? Como o seu professor foi muito bom, em vez de aterrorizar-se e entrar em pânico com a pergunta e com a imagem de seu mestre,
você na realidade começa automaticamente a pensar em como a sua vida está
muito melhor devido aos avanços da ciência.
Água purificada, tratamento de esgoto e resíduos, tecidos com tecnologia
aplicada à sua composição e lavagem com tratamento adequado para tornálos macios e confortáveis, enriquecimento de alimentos, medicamentos, tipos
de iluminação adequada ao ambiente e muitas outras tecnologias embarcadas
tornam as nossas vidas mais seguras e funcionais. Nem sempre notamos, mas
a tecnologia está presente no trabalho, em casa e em todos os outros lugares
que frequentamos.
Com o objetivo de evidenciar a importância da Química e do ensino de
Química, a UNESCO e a União Internacional de Química Pura e Aplicada
(IUPAC) estabeleceram 2011 como o Ano Internacional da Química sob o
tema “Química – nossa vida, nosso futuro”. Trata-se de uma celebração mundial
pelas realizações desse campo da ciência e suas contribuições para o bem-estar
da humanidade, envolvendo sociedades científicas e acadêmicas, empresas e
instituições no mundo todo.
Neste ano, homenageia-se também a professora Marie Curie, cientista
polonesa, duas vezes laureada com o Prêmio Nobel (1903 e 1911) por estudos
no campo da radioatividade e pela descoberta de dois elementos químicos:
o rádio e o polônio.
No Brasil, a UNESCO e seus parceiros adotaram o tema do Ano Internacional da Química para o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento. Entre outras atividades, foi realizado um concurso de trabalhos
escritos e desenhos que incentivou alunos do ensino médio a refletirem sobre
a importância da Química em nosso cotidiano.
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Neste livro, encontram-se os dez melhores trabalhos escritos e os dez
melhores desenhos apresentados ao concurso. Este é um reconhecimento a
todos os alunos e seus professores-orientadores que se sensibilizaram com o
tema e a sua importância.
Encontra-se, ainda, um capítulo técnico oferecido pela Sociedade Brasileira de Química – SBQ, escrito pelo professor Dr. Gerson Mol, sobre a
importância da Química na vida das pessoas.
A UNESCO e seus parceiros desejam agradecer o envolvimento de
professores, alunos, cientistas e da sociedade em geral nas comemorações do
Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento e nas atividades
desenvolvidas na programação do Ano Internacional da Química.
Vincent Defourny
Representante da UNESCO no Brasil
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ABSTRACT
UNESCO Brasilia Office Natural Sciences Sector launched on 28 February
2011 an “Essay and Drawing Contest for Students” to celebrate the United
Nations “World Science Day for Peace and Development” on 10 November.
Secondary school students from all over Brazil were asked to write essays,
oriented by teachers, and draw pictures on the theme “Chemistry: our life,
our future”. This book contains the best ten pictures, as well as the best ten
essays. The Contest award ceremony was held on 10 November 2011 in
Brasilia. The Contest and the activities of the “World Science Day for Peace
and Development” were promoted by UNESCO in partnership with the:
Brazilian Sciences Academy (ABC); Brazilian Space Agency (AEB); Brazilian
Association of Technological Research Institutes (ABIPTI); Ciência em Show;
Permanent Commission of Science, Technology, Innovation, Communication
and Information Technology (CCT) of the Senate; National Council of
State Secretaries of Education (CONSED); National Council of State
Secretaries for S,T&I Issues (CONSECTI); Research Support Foundation
of the Federal District (FAP/DF); Brazilian Institute of Information on Science
and Technology (IBICT); Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque Institute;
Sangari Institute; Interlegis; Ministries of Science and Technology (MCT),
Education (MEC) and Health (MS); United Nations Environment Programme
(UNEP); Secretariat of the Interministerial Commission for Sea Resources
(SECIRM); Science and Technology Secretariat of the Federal District
(SECT/DF); Education Secretariat of the Federal District (SE/DF);
Commercial Learning National Service (SENAC); Brazilian Society for
Progress in Science (SBPC); Brazilian Chemical Society (SBQ); European
Union; University of Brasilia (UnB) and Itaipu Binacional.
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INTRODUÇÃO
O ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
Gerson Mol*
O telejornal da manhã anuncia: “Alerta de baixa umidade continua;
tempo seco faz lotar hospitais e mudar até a cor da Lua”. Na reportagem,
um profissional da saúde indica o uso de soro fisiológico para fazer inalação
e hidratar o nariz. Para obter mais informação, a repórter pergunta: “E podese utilizar o soro caseiro simples, só com água, sal e açúcar e sem nenhum
produto químico?”
Infelizmente, essa ainda é uma visão muito comum, reforçada pela mídia:
a química é algo indesejável.
Devemos privilegiar os “materiais naturais” e evitar os que têm “produtos
químicos”. Mas ainda hoje muitas pessoas não sabem que água, sal e açúcar
são produtos químicos. Eles podem ser naturais ou manipulados; depende de
como os encontramos. O açúcar é natural da cana, que lhe confere o sabor
adocicado. Por meio de processos químicos e físicos é separado e podemos
utilizá-lo no dia a dia para preparar nossas guloseimas. O soro fisiológico
caseiro é um produto químico artificial que possui pelo menos três substâncias químicas: água (H2O), sal (NaCl) e açúcar (C12H22O11). Portanto,
não há soro fisiológico “sem nenhum produto químico”.
A baixa umidade indica que a quantidade de água presente no ar é tão
pequena que causa desconforto às pessoas e aos animais. O nível de umidade
do ar, a determinada temperatura, é dado pela razão entre a quantidade de
vapor presente na atmosfera e a quantidade máxima de vapor de água possível
* Bacharel e Licenciado em Química pela Universidade Federal de Viçosa, mestre em Química pela
Universidade Federal de Minas Gerais e doutor em Ensino de Química pela Universidade de
Brasília. Atua na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências – PPGEC –
da Universidade de Brasília. É autor e coordenador do livro Química Cidadã e diretor da Divisão
de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química. Pesquisa na área de inclusão, com foco
no Ensino de Química a Alunos com Deficiência Visual, e no uso de novas tecnologias.
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nessa temperatura. O ambiente fica mais confortável para os seres humanos
quando a umidade do ar está entre 30% e 60%. Níveis de umidade abaixo
de 30% causam desconforto: deixam a pele seca, aumentam a sensação de
sede e podem ocasionar sangramento nas narinas.
A Química está presente em todos os momentos de nossa vida, seja por
meio das substâncias que constituem todos os materiais que nos rodeiam,
seja por meio das transformações desses materiais. Muitas vezes não percebemos ou não nos damos conta de como a Química está presente em nossas
vidas. É um pouco disso que veremos neste texto.
A QUÍMICA E OS PERFUMES
A humanidade faz uso de produtos químicos com o objetivo de realçar a
“beleza” ou mesmo de cuidar da higiene pessoal há milhares de anos.
Arqueólogos já descobriram sinais de uso de pinturas e perfumes com mais
de 5.500 anos. Os gregos antigos utilizavam óleos para banho e outros
cosméticos. Muitos materiais eram utilizados para realçar a beleza de homens
e mulheres na Roma Antiga.
De acordo com a origem grega, a palavra cosméticos significa adornar.
Falar de cosmético é falar de Química, pois são os produtos químicos os
responsáveis por filtrar os raios ultravioletas, pelo brilho e suavidade de
cabelos recém-lavados, pela remoção da gordura e posterior hidratação da
pele e, entre tantas outras atividades, pelo cheiro perfumado de homens e
mulheres.
A quantidade de cosméticos é enorme. Como seria muito difícil falar da
química de tantos cosméticos, vamos nos concentrar em um grupo específico:
os perfumes.
Perfume vem do latim per fumun, que significa “através da fumaça”. As
sociedades antigas da Mesopotâmia faziam uso de incensos por considerar
que a fumaça de resinas e outras matérias orgânicas permitiam o contato dos
humanos com os deuses a quem eram oferecidas.
Os perfumes surgem e se desenvolvem em diferentes sociedades que
tinham alguns aspectos em comum: a falta de hábito de tomar banho, a falta
de sistemas de esgotos e a escassez de produtos de limpeza.
Os aldeídos (substâncias que possuem o grupo funcional – CHO) são os
grandes responsáveis pelo surgimento de fragrâncias artificiais que possibilitam
a criação de novos aromas, mas o que caracteriza um perfume não é só uma
substância cheirosa que se passa no corpo. Cada bom perfume é caracterizado
por três grupos de substâncias denominadas notas.
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As notas de saída, que são as substâncias mais voláteis (evaporam-se mais
facilmente), são percebidas mais rapidamente pelo nosso olfato. Algumas não
apresentam fortes odores e são utilizadas como solventes ou “veículos” de
outras substâncias mais aromáticas. As notas intermediárias são constituídas
por substâncias menos voláteis, o que faz que o aroma permaneça por mais
tempo; elas caracterizam o perfume e lhe dão identidade. Essas substâncias
são de massa molar baixa e suas moléculas apresentam baixa polaridade,
fazendo que se liguem às moléculas de gordura da oleosidade natural da pele.
As notas da base são formadas por substâncias de menor volatilidade, responsáveis pela fixação das demais substâncias, mas que também apresentam
odores, embora menos característicos.
Além de permitir a elaboração de perfumes mais complexos e eficientes,
a Química proporcionou uma revolução nessa indústria. No início, a perfumaria se desenvolveu pela extração de produtos e substâncias aromáticas de
plantas e animais. Essa forma de produção a partir de matéria-prima natural
é limitada a pequenas quantidades das substâncias aromáticas presentes em
matérias-primas específicas.
Um bom exemplo dessa situação limitante é o caso do almíscar natural,
cuja essência é extraída de uma glândula de veado almiscareiro. Como esse
animal corre risco de extinção, o comércio mundial desse óleo foi limitado
a 300 kg por ano.
A perfumaria teve um grande avanço, a partir do século XIX, com o
desenvolvimento da síntese química. Essa Química possibilitou a produção
em laboratórios de substâncias que só são encontradas em pequenas quantidades na natureza. Dessa forma, além de evitar a extinção de espécies, a
produção sintética permitiu baratear a obtenção da matéria-prima e, consequentemente, diminuir o preço dos perfumes. Dois bons exemplos são os
óleos de rosa e o óleo de jasmim. Para se obter um quilograma de óleo de rosa
são necessárias cinco toneladas dessas flores, o que eleva muito seu custo na
produção de perfumes. O óleo de jasmim, por outro lado, pode ser obtido
naturalmente a partir de cerca de oito mil flores, levando o custo à ordem de
cinco mil reais por quilograma. Essa mesma quantidade óleo de jasmim pode
ser obtida em laboratório pela bagatela de cinco reais.
Os químicos identificaram mais de três mil óleos essenciais, sendo que
alguns são separados e utilizados como ingredientes importantes na fabricação
de perfumes. A análise química dos óleos essenciais permite identificar seus
componentes ativos por meio da utilização de diferentes técnicas. Identificados esses componentes de odor agradável, os químicos buscaram formas de
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sintetizá-los e tornar seu custo mais barato, ou sintetizar outras substâncias
de estrutura molecular similar e que apresentem odores parecidos.
Atualmente, essas substâncias caracterizadas por odores agradáveis são
largamente produzidas e utilizadas em diferentes produtos que consumimos
em nosso dia a dia, tais como perfumes, xampus, sabonetes, brinquedos
infantis, alimentos etc.
A QUÍMICA DOS MEDICAMENTOS
Assim como Hipócrates (460-377 a.C.) é considerado o pai da Medicina,
Philipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1541),
conhecido como Paracelso, é considerado o pai dos medicamentos. Na faculdade de mineração, Paracelso iniciou seus estudos da Alquimia, sempre
associando a teoria à pratica. Aos 14 anos de idade, partiu em busca de
conhecimentos. Foi discípulo de Ambroise Paré, considerado o pai da cirurgia moderna. Por volta dos 20 anos, dizia-se doutor em Medicina, mas já
rejeitava os ensinamentos acadêmicos e dizia que “um médico deve sair à
procura de velhas comadres, ciganos, feiticeiros, tribos nômades, velhos
ladrões e proscritos dessa espécie e aprender com eles. Um médico deve ser
viajante (...) Conhecimento é experiência”. Com camponesas aprendeu o
princípio da vacina quando essas colocavam num pequeno corte uma agulha
infectada com varíola para produzir imunidade a essa doença. Desse aprendizado, começou a pregar que “o que adoece um homem também o cura”.
Juntando seus conhecimentos nessas duas áreas, aderiu à iatroquímica (iatro,
em grego, quer dizer medicina) pregando que a Química deveria ser o foco
principal da Medicina. Dessa forma, prescreveu tratamentos que empregam
substâncias que contêm átomos de cobre, zinco, chumbo e arsênico. Alguns
desses tratamentos são utilizados até hoje. Buscando associar substâncias
químicas à cura de doenças, utilizou também substâncias com átomos de
mercúrio, antimônio, bismuto e cobalto.
Para muitos, essa relação entre Tabela Periódica e medicamentos pode
parecer estranha e descontextualizada, no entanto, atualmente muitas substâncias com átomos de elementos diferentes estão presentes em tratamentos
terapêuticos estabelecidos e aprovados pelos órgãos de saúde pública. Como
exemplo, vejamos para que as substâncias de alguns elementos químicos são
utilizadas em tratamentos de diferentes enfermidades:
Lítio – os sais de lítios são amplamente utilizados como antidepressivos,
sendo indicados para pacientes com psicose maníaco-depressiva;
Boro – na forma de ácido bórico, é utilizado como antisséptico em pequenas feridas, pois pode causar intoxicação se ingerido ou inalado;
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Carbono – presente em substâncias orgânicas, está presente na maioria
das substâncias químicas utilizadas como medicamentos, além de fazer parte
de nossa constituição. É o elemento químico da vida e compõe medicamentos
simples, como o acido acetilsalicílico (AAS, presente em medicamentos como
a Aspirina);
Nitrogênio – assim como o carbono, embora em menor escala, está
presente em grande parte das moléculas de nosso organismo; por exemplo,
na hemoglobina;
Oxigênio – a substância oxigênio é fundamental para a vida dos animais
e plantas. Algumas doenças pulmonares dificultam a absorção dessa substância
pelos pulmões, exigindo que o paciente utilize ar artificial que possua uma
concentração maior do que a presente na atmosfera;
Flúor – é adicionado na forma de íon fluoreto à água potável, com o objetivo
de proteger o esmalte dos dentes, por ser imune ao ataque de bactérias;
Poderíamos listar aqui quase todos os elementos da Tabela Periódica,
visto que átomos da grande maioria deles estão presentes em nosso corpo.
No entanto, há que se lembrar que a indústria farmacêutica e a Medicina
podem fazer uso de substâncias que contenham átomos de elementos
químicos que não estão presentes em nossos corpos.
A QUÍMICA NA COZINHA
As transformações químicas estão presentes em praticamente todos os
lugares. No entanto, em nossas casas, nenhum lugar se compara à cozinha,
quando se fala em Química. A cozinha é o laboratório de nossas casas. É lá
que diferentes ingredientes são transformados em apetitosos alimentos.
O cozinheiro não é um químico porque, pela definição, para fazer Química
é preciso ter conhecimento teórico dos materiais e das transformações que são
realizadas, mas os cozinheiros e, principalmente, as cozinheiras são verdadeiros artistas.
A Química está tão presente na cozinha que um considerável número de
cientistas tem se dedicado a estudar e buscar explicações para as transformações
que acontecem nesse cômodo de nossas casas. Em 1794, o cientista americano Benjamin Thompson Rumford já destacava a importância do desenvolvimento científico para o aprimoramento da culinária.
Em 1825, foi publicado o livro que se tornaria a bíblia da gastronomia:
A Fisiologia do Gosto. De autoria do francês Jean Anthelme Brillat-Savarin
(1755-1826), até hoje esse livro é referência para cozinheiros e estudantes da
cozinha.
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Em 1902, o agraciado com o Prêmio Nobel de Química foi Hermann
Emil Fischer (1852-1919), pelos trabalhos sobre a síntese dos açúcares. Seus
trabalhos permitiram estabelecer o forte elo entre a Biologia e a Química, ao
demonstrar que as proteínas são formadas por cadeias de aminoácidos, sob
a ação de enzimas específicas. Além disso, determinou a estrutura molecular
de diferentes substâncias, entre as quais a glicose, a frutose e a cafeína.
A qualidade de um alimento vai ser definida a partir da sensação que ele
desperta em cada um de nós. Para isso, vamos interagir com esse alimento por
meio de todos os nossos sentidos.
A visão nos proporciona a primeira interação, permitindo-nos avaliar
características físicas, como cor, textura, tipo de ingrediente etc. A reação do
tanino, presente na casca da banana, com o oxigênio do ar confere a ela cor
escura, informando-nos que já não está mais em condições de ser ingerida.
O olfato nos dá a segunda avaliação do alimento (em muitos casos, essa
ordem é invertida). Por meio desse sentido, relacionamos substâncias voláteis
a determinados alimentos ou mesmo a características referentes à qualidade.
Às vezes, esse sentido estimula mais o apetite do que a visão. O etanoato de
pentila (CH3COOC5H11) confere odor de banana a alimentos industrializados.
O paladar é decisivo na avaliação de alimentos. Aparência e cheiro bons
podem ser superados pelo sabor. Receptores distribuídos em nossas línguas
identificam os gostos fundamentais: doce, ácido, salgado e amargo. O doce
é conferido por carboidratos como a glicose (C6H12O6). O sabor ácido é
conferido por substâncias como o acido acético (CH3COOH), presente no
vinagre. O salgado é conferido, principalmente, pelo cloreto de sódio (NaCl),
nosso famoso sal de cozinha. O sabor amargo pode ser produzido por diferentes substâncias, como a cafeína (C8H10N4O2), presente em chás e cafés.
O tato da boca e dos lábios é utilizado para avaliar a qualidade de
alimentos e fornecer informações sobre temperatura, forma, peso e consistência, complementando as informações percebidas pela visão, ou mesmo,
suprindo sua ausência.
A audição nos informa sobre a textura dos alimentos; alguns sons caracterizam bem alguns alimentos, gerando expectativa quanto à sua degustação.
Quem não sente a boca salivar ao ouvir o som das pipocas explodindo dentro
de uma panela? Esse estouro acontece porque o grão de milho de pipoca
contém amido e água (cerca de 12%) envoltos por uma película muito
resistente. Ao aquecermos o grão, a água é vaporizada, o que aumenta a pressão
interna até o limite (aproximadamente nove vezes a pressão atmosférica) no
qual o grão explode e o amido expande, conferindo-lhe uma textura macia
e saborosa.
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Entre as inúmeras explicações químicas para transformações que ocorrem
em nossas cozinhas, vejamos algumas:
• a estabilidade da maionese se deve à presença de moléculas de lecitina.
A molécula de lecitina é formada por uma longa cadeia de átomos de
carbonos unidos entre si; em uma das extremidades há um grupo de
átomos que confere acúmulo de carga e, consequentemente, afinidade
com a água, enquanto a outra extremidade tem afinidade com o óleo, o
que permite que esses dois líquidos, normalmente imiscíveis, continuem
misturados;
• há muito tempo, o homem aprendeu que o fogo pode transformar o sabor
e a textura dos alimentos. O churrasco é um alimento presente em todas
as regiões de nosso país, devido ao apreciado sabor de uma carne assada
ao ponto de agrado do consumidor. Em meados do século passado, cientistas descobriram, de forma acidental, que radiação na frequência de
micro-ondas aquece alimentos ricos em água. Isso se deve ao fato de as
moléculas dessa substância, embora neutras, possuírem distribuição de
carga que faz que essa radiação cause rotação e oscilação. Esses movimentos
são convertidos em calor. Para conciliar sabor e economia de tempo e
energia, é comum o uso combinado das duas técnicas na produção de
alimentos;
• a busca por condimentos e especiarias que alterassem o sabor dos alimentos
revolucionou a história da humanidade. No entanto, o uso dessas
substâncias e materiais não está associado só ao sabor dos alimentos. Elas
podem alterar também a cor, o valor nutricional, a textura e, principalmente, a vida útil dos alimentos. Por isso, os condimentos são classificados
em grupos, entre os quais se incluem os aromatizantes (mentol –
C10H20O), os acidulantes (ácido cítrico – C6H8O7) e os picantes (sinigrina
– C10H16KNO9S2, presente na mostarda).
A QUÍMICA EM NOSSO CORPO
Após termos tratado da Química de perfumes, medicamentos e cozinha,
vamos falar um pouco da Química em nosso corpo. Essa Química, por si só,
é tão ampla que corresponde a um ramo da ciência que é uma intercessão
entre a Química e a Biologia, denominada Bioquímica.
Os dados a seguir representam a massa média de átomos de diferentes
elementos em 100g de corpo humano: oxigênio - 65; carbono - 18; hidrogênio - 10; nitrogênio - 3; cálcio - 1.5; fósforo - 1; enxofre - 0.25; potássio 0.2; cloro - 0.15; sódio - 0.15; magnésio - 0.05; ferro - 0.006; flúor - 0.0037;
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zinco - 0.0032; silício - 0.002; zircônio - 0.0006; rubídio - 0.00046;
estrôncio - 0.00046; bromo - 0.00029; chumbo - 0.00017; nióbio - 0.00016;
cobre - 0.0001; alumínio - 0.000087; cádmio - 0.000072; boro - 0.000069;
bário - 0.000031; arsênico - 0.000026; vanádio - 0.000026; escândio 0.000024; mercúrio - 0.000019; selênio - 0.000019; manganês - 0.000017;
iodo - 0.000016; ouro - 0.000014; níquel - 0.000014; molibdênio 0.000013; titânio - 0.000013; telúrio - 0.000012; antimônio - 0.000011;
lítio - 0.0000031; cromo - 0.0000024; césio - 0.0000021; cobalto 0.0000021; prata - 0.000001; urânio - 0.00000013; berílio - 0.000000005.
Essa amplidão nos obriga a restringirmos nosso enfoque; optamos por
falar um pouco da Química ligada às sensações que sentimos diariamente.
Quando discorremos sobre a Química da cozinha, citamos a sensação que
sentimos pelo paladar ao colocarmos alimentos na boca. A sensação de doce,
salgado, amargo ou azedo depende das substâncias presentes nos alimentos.
No entanto, para termos essas diferentes sensações, é necessário que nossas
papilas gustativas interajam de forma diferenciada com as substâncias, ou
seja, é preciso que apresentem diferentes constituições químicas.
Como a boca e os alimentos são naturalmente úmidos, as interações que
provocam sensação de sabor estão associadas a interações com a água. Muitas
substâncias presentes nos alimentos possuem em suas moléculas átomos de
hidrogênio ligados a átomos de oxigênio e a nitrogênio próximos. O primeiro
grupo (–O–H) será um doador de prótons, enquanto o segundo (–N–H),
um receptor de prótons. Nos receptores presentes em nossa boca, há proteínas
que também possuem moléculas com essa característica. Se as moléculas do
alimento apresentam esses grupos conjugados, suas interações com as proteínas
dos receptores nos passam a sensação de doce. No entanto, se as moléculas
do alimento não apresentam essas interações conjugadas, mas, sim, uma delas
em maior quantidade do que a outra, a sensação que percebemos é a de
amargo. Essas interações são do tipo ligação de hidrogênio.
O sabor azedo também é percebido por meio de interações do tipo ligação
de hidrogênio, devido à presença de ácidos orgânicos nos alimentos. Esses
ácidos possuem moléculas que contêm a carbonila (–COOH). Já o sabor
salgado é percebido por meio de papilas que interagem eletrostaticamente
com íons, principalmente o sódio e o potássio.
Quando nosso corpo associa a sensação de sabor à de odor, temos a
sensação de aroma. Várias são as substâncias que nos conferem sensação de
odor. Muitas delas, por causarem sensação agradável de odor, são denominadas
aromas e são utilizadas na fabricação de vários produtos, como os perfumes
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e os alimentos. Para que as substâncias nos causem sensação de odor, é preciso
que suas moléculas apresentem determinadas características que lhes permitam chegar aos receptores olfativos e interagir com o muco, uma solução
aquosa de proteínas e carboidratos.
As moléculas das proteínas que ingerimos em nossos alimentos são
constituídas basicamente por átomos de carbono, oxigênio e hidrogênio, mas
também possuem átomos de nitrogênio e amônia. Bactérias presentes em
nossos intestinos decompõem essas proteínas e produzem amônia e sulfeto
de hidrogênio. São esses os gases responsáveis pelo mau cheiro das flatulências.
Outras sensações de nossos corpos também estão associadas à presença e
à ação de substâncias químicas.
O cortisol, hormônio produzido pela glândula suprarrenal em resposta a
situações de estresse, atua por meio de ações que estimulam a quebra de
proteínas e o metabolismo da glicose no fígado, propiciando energia muscular extra ao indivíduo.
A adrenalina, hormônio também secretado pelas glândulas suprarrenais em
situações de estresse, prepara o corpo para grandes esforços físicos. Lançada
na corrente sanguínea, causa broncodilatação e aceleração dos batimentos
cardíacos, preparando o corpo para reações que exigem rapidez e força, tais
como fuga ou luta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Organização das Nações Unidas, ao considerar 2011 como o Ano
Internacional da Química, tem por objetivo aumentar o reconhecimento da
Química no mundo, incentivando jovens a seguir carreiras nessa ciência.
Além disso, por coincidir com o centenário do aniversário do Prêmio Nobel
concedido a Madame Marie Curie, pela descoberta dos elementos químicos
rádio e polônio, celebra as contribuições das mulheres para a ciência.
Ao percebermos como essa ciência e seu objeto de estudo – as substâncias
e os materiais – estão presentes em nossas vidas, torna-se fácil concluir que
não teríamos uma sociedade tão evoluída tecnologicamente se o conhecimento químico não tivesse avançado tanto. Como outras formas de
conhecimento, temos de ter claro que o que faz que uma ciência, ou mesmo
a tecnologia, seja boa ou má é a forma como a sociedade a aplica.
Quando a umidade do ar estiver muito baixa, use soro caseiro, mas não
se esqueça de que você também é Química. Faça uso consciente de seus
conhecimentos de Química e viva melhor.
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BIBLIOGRAFIA
DÓRIA, C. A. O nascimento da gastronomia molecular. In: THIS, H. A ciência na
cozinha: Hervé This e os fundamentos da gastronomia molecular, v. 1. São Paulo:
Scientific American Brasil, Duetto Editorial, 2010.
MAAR, J. H. Pequena história da química, parte 1: dos primórdios a Lavoisier.
Florianópolis: Ed. Papa-livro, 1999.
REZENDE, C. M. Há algo no ar: a química e os perfumes. Ciência Hoje. São Paulo,
v. 48, p. 27-31, 2011.
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Categoria
DESENHO
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Mulheres e química, mistura perfeita de delicadeza e surpresa
1º Lugar
Louys Lene Martins da Silva, 16 anos
2º ano do ensino médio
Irany Silva de Souza (professora-orientadora)
Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco
João Pessoa, PB
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Há mulheres que desistem e outras que persistem…
2º Lugar
Maycon Douglas Silva Soares de Araújo, 16 anos
2º ano do ensino médio
Ângela Cristina Schempp Pires (professora-orientadora)
Escola Estadual Professor Valério Strang
Mogi Mirim, SP
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Química, evolução e transformações
3º Lugar
Ualesson Miguel de Melo, 16 anos
2º ano do ensino médio
Sólon Almeida Barretto (professor-orientador)
Escola de Educação Básica e Profissional Desembargador Pedro Ribeiro de
Araújo Bittencourt - Fundação Bradesco
Irecê, BA
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Química: buscando melhoria para nossas vidas e de nosso planeta
Menção Honrosa
Alexandra Silva Braga, 15 anos
1º ano do ensino médio
Cristina Costa Luz (professora-orientadora)
Escola Estadual Irmã Sá
Parintins, AM
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Mulher: um desafio no tempo
Menção Honrosa
Bianca Melissa Holanda dos Santos, 15 anos
1º ano do curso técnico em mineração integrado ao ensino médio
Emmanuele Maria Barbosa Andrade (professora-orientadora)
Instituto Federal de Ciências e Tecnologia do Amapá
Macapá, AP
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Química: desde os primórdios vitais à tecnologia atual
Menção Honrosa
Johnatan Souza da Silva, 16 anos
2º ano do ensino médio
Rodolfo de Oliveira Castro (professor-orientador)
Colégio Desafio
Goiânia, GO
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Da gestação de uma nova química depende a preservação da vida
Menção Honrosa
Letícia Miranda Ferreira da Silva, 17 anos
3º ano do ensino médio
Aline Pires de Araújo (professora-orientadora)
Instituto Educacional Santa Terezinha
Bragança Paulista, SP
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O homem é responsável pela evolução do universo e a diminuição
da ignorância e das dores da Humanidade
Menção Honrosa
Mariline Schab, 16 anos
2º ano do ensino médio
Juliane Nadal Dias Swiech (professora-orientadora)
Colégio Marista Pio XII
Ponta Grossa, PR
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A química da vida
Menção Honrosa
Pedro Sávio Martins Rosa, 16 anos
1º ano do ensino médio
Luiz Claúdio Pinheiro Rodrigues (professor-orientador)
Instituto GAYLUSSAC
Niterói, RJ
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O futuro do nosso planeta e dos seres vivos que nele
habitam está em nossas mãos
Menção Honrosa
Renan Maia dos Santos Pereira, 18 anos
4º ano do curso normal (ensino médio)
Bárbara da Silva Furtado (professora-orientadora)
Colégio Estadual Hilka de Araújo Peçanha
Itaboraí, RJ
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Categoria
TRABALHO
ESCRITO
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1º LUGAR
O PAPEL DA QUÍMICA NO
DESENVOLVIMENTO
Estudante: Bárbara Sakamoto Ligero, 14 anos, 1º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Maria Celeste de Souza
Colégio Guilherme Dumont Villares - São Paulo, SP
RESUMO
A ciência está em evidência. Os problemas mais debatidos atualmente são
os ambientais. O estilo de vida das pessoas atualmente também é muito
discutido. A solução para tais conflitos será encontrada por meio de muita
pesquisa.
Desde que deixou de ser considerada heresia, a Química trouxe grandes
melhorias. Ela revolucionou o modo de vida das pessoas, acelerando as
inovações. Foram desenvolvidos medicamentos, combustíveis e tratamentos
de água, mas também foram criadas armas, bombas, e houve aumento na
poluição.
A Química é muito importante para o desenvolvimento econômico,
essencial para a humanidade atualmente. As pessoas consomem principalmente produtos industrializados, não se utilizam produtos completamente
naturais como no passado. O processo industrial é fortemente ligado à Química.
É fundamental investir na pesquisa no setor químico, tendo em vista também a urgente necessidade de se encontrar tecnologia sustentável. A Química
pode não somente trazer inovação, como solucionar problemas já existentes.
Pessoas ilustres como Marie Curie, química, revolucionaram o mundo como
era conhecido. Mudanças são necessárias para que melhorias aconteçam.
Acomodada, a humanidade dificilmente evoluirá.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho traz uma reflexão sobre o papel do conhecimento científico na
sociedade. O saber, embora contraditório, pode trazer benefícios e malefícios.
Em ambos os casos, as consequências dependem de outros conhecimentos,
inclusive da sensibilidade daqueles que usarão os saberes produzidos.
A Química, sendo uma das ciências mais influentes no desenvolvimento
humano e econômico, tem sido julgada como boa e como ruim ao mesmo
tempo.
Para analisar o problema a fundo, o tópico “A Química no decorrer dos
séculos” traz uma retrospectiva com enfoque nas mudanças que a industrialização trouxe. O presente é um reflexo do que foi feito no passado, e o estudo
da história esclarece o estilo de vida contemporâneo. Assim, nesse tópico, é
exposta a origem dos problemas de hoje.
A Química é fundamental para a produção. Ela se tornou essencial na
vida humana. O tópico “A Química no século XXI” traz uma reflexão sobre
a importância da Química e seus impactos na natureza; nessa parte, também
se trata da forma com que a humanidade tem enfrentado conflitos.
A contribuição deste trabalho, porém, associa-se ao fato de que é preciso
investir na busca de conhecimento químico, a fim de ampliar as possibilidades de criação de um novo modelo de industrialização mais sustentável.
O que todos esperam é que a Química venha a ser mais que uma ciência
complexa e de conhecimento restrito, para tornar-se mais presente no cotidiano das pessoas, a fim de que elas possam tomar decisões conscientes sobre
o consumo de produtos industriais, sobre o lixo, o uso da água etc. Enfim,
o que se espera é uma maior consciência de que a Química está em toda a parte.
A QUÍMICA NO DECORRER DOS SÉCULOS
Historicamente, a humanidade passou por grandes mudanças. Em sentido
global, onde tudo está inter-relacionado e é interdependente, uma revolução
específica pode alterar os vários campos sociais, econômicos e políticos. O
domínio do fogo, por exemplo, abriu caminho para mudanças até mesmo
físicas no ser humano. O estilo de vida do século XXI está fortemente ligado
a mudanças ocorridas há quatro séculos.
A colonização unificou o mundo por meio da economia. Os países europeus colonizadores adquiriam muito poder e influência uns sobre os outros,
tornando-se ainda mais competitivos. Em meados do século XVIII, a Inglaterra era considerada a grande potência do planeta, já que controlava a maior
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parte das colônias. Assim, o principal objetivo das grandes nações era ter o
maior número possível de terras.
Nos países colonizadores, a política e a sociedade se adaptavam às novas
condições. Como o comércio internacional estava em alta, havia uma grande
preocupação de se produzir em grande quantidade e em menor tempo. As
terras agrícolas, antes cultivadas pelos camponeses, passaram a ser administradas pela aristocracia. Tais mudanças resultaram em grandes migrações de
camponeses para a cidade, onde havia cargos de manufatura.
A busca pelos melhores produtos trouxe a necessidade de inovação. A agricultura se promovia com o surgimento de novas técnicas, e os trabalhos de
manufatura passaram a contar com o auxílio de máquinas – as mais recentes
invenções. Dessa forma, a produção, além de ser feita com melhor qualidade,
tornou-se mais rápida em relação às formas tradicionais. Surgiu, então, um
novo estilo de produção. Esse período ficou conhecido como Revolução
Industrial.
A população teve de se adaptar às novas condições. A maioria, que antes
era camponesa, mudou-se para a cidade, a fim de trabalhar nas indústrias.
Essas pessoas ficaram conhecidas como proletários ou operários assalariados,
e quem os contratavam eram os empresários capitalistas. O proletariado
perdeu seu valor, já que era encontrado em grande número.
O trabalho nas indústrias era difícil e desvalorizado. Eram aceitos operários mesmo menores de idade, e a jornada de trabalho podia chegar a catorze
horas diárias. Não havia garantias de segurança ou aposentadoria. Com o
passar do tempo, o proletariado lutou pelos seus direitos, constituindo alguns
dos princípios que atualmente estão nos Direitos Humanos. A vida desses
operários e a luta por melhores condições de trabalho são bem descritas no
romance Germinal, de Émile Zola.
Assim como eram produzidos, todos os produtos deveriam chegar ao seu
consumidor rapidamente. O mundo foi unificado pela economia: navios
ligavam continentes, e estradas tornavam países e cidades mais próximos.
Nesta fase, desenvolveram-se formas mais rápidas de locomoção.
A partir do século XIX, a sociedade passou por mudanças marcantes em
seu estilo de vida. Os mais poderosos passaram a ser os burgueses, e as grandes
potências seriam importantes para o comércio mundial. A busca por conhecimentos científicos era reflexo da sede por poder. Teve início uma fase muito
importante para o crescimento da Química, antes considerada como bruxaria.
Nesta fase da humanidade, ocorreram melhorias no estilo de vida das
pessoas. A eletricidade passou a ser utilizada, e novas pesquisas possibilitaram
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o uso do petróleo em automóveis. A saúde da população melhorou devido à
criação de alguns medicamentos, como a aspirina e o antibiótico. A relação
entre populações distantes ficou mais fácil com as ferrovias e os telégrafos.
Esse período ficou conhecido como Belle Époque.
Uma pessoa, nessa época, poderia crescer economicamente, independentemente de suas origens. Desde os primórdios, os ancestrais definiam que
função uma pessoa desempenharia na sociedade: um filho de pescador tendia
a ser pescador, porém a burguesia possibilitava que um pequeno comerciante
evoluísse em seu negócio e crescesse economicamente. As pessoas passaram
a ter um apego ainda maior pelo dinheiro.
A desigualdade social, porém, não deixou de existir. Os operários e camponeses viviam em situação muito inferior aos burgueses, e as mulheres ainda
eram vistas como inferiores aos homens. Além disso, os povos colonizados
tinham suas riquezas levadas por seus colonizadores. Enquanto os países
europeus viviam uma fase de bem-estar, populações dos países da América,
África e Ásia passavam necessidade. Consequentemente, as emigrações tornaram-se comuns; pessoas de regiões pobres saíam para países industrializados
em busca de melhores condições de vida.
O mundo globalizado gerou conflitos entre os países industrializados.
A busca por poder levava-os a competir pelo domínio de terras e aliados
comerciais. Essas nações deram início a conflitos bélicos entre si e, dessa
forma, as armas de guerra tornavam-se cada vez mais desenvolvidas. Todas as
mudanças e o progresso, ao invés de tornarem o mundo melhor, trouxeram
conflitos, como as guerras mundiais.
A Primeira Guerra Mundial aconteceu devido à competição por áreas de
influência e poder sobre outras nações. Havia, inclusive, uma corrida tecnológica. Todo o desenvolvimento tecnológico estava voltado para uso em batalha:
novas estradas estavam sendo construídas, automóveis passaram a ser ainda
mais usados, assim como submarinos, tanques e aviões. Na indústria química,
desenvolveram-se gases, como a iperita, que eram letais aos inimigos. Os
conflitos, portanto, trouxeram desenvolvimento científico.
Após alguns anos, estourou a Segunda Guerra Mundial, trazendo ainda
mais progresso científico. A Europa enfrentava o nazismo, período em que
muitos judeus foram mortos em câmaras de gás quimicamente nocivo ou
eram usados como cobaias para experimentos. Nesse período, foram presenciados os principais ataques altamente destrutivos relacionados à Química –
as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki foram atacadas com bombas
nucleares. A guerra termina em 1945 e, em seguida, a Organização das Nações
Unidas (ONU) é fundada.
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Do século XVIII ao XXI, os países voltam-se principalmente para o
comércio internacional e a qualidade de suas indústrias. Tais fatores os
definem como desenvolvidos ou subdesenvolvidos. A economia, portanto, é
baseada no desenvolvimento tecnológico, o que leva a sociedade a buscar
mais informação. Os principais países são os com mais conhecimento, e aqueles
que não os tem acabam inferiorizados.
Essas mudanças na humanidade originaram o estilo de vida do século XXI.
Observando essa série de acontecimentos, pode-se seguir por dois caminhos
ao imaginar o que o futuro aguarda: ou a humanidade, daqui a mil anos,
será um completo mistério devido a futuras revoluções; ou permanecerá a
mesma, entrando em crise. Cabe às pessoas de hoje definirem o amanhã.
A QUÍMICA NO SÉCULO XXI
O conhecimento da Química é indispensável para a evolução da humanidade. Desde o século XVIII, ela se tornou parte de qualquer processo industrial, trazendo grandes melhorias para a vida humana. A partir daí, muito se
evoluiu, e sem ela pouco poderá ser desenvolvido. O estudo e aplicação dessa
ciência trouxeram, e podem continuar trazendo, revoluções na sociedade.
Recentemente, houve grandes investimentos no setor químico. De acordo
com a Associação Brasileira da Indústria Química, a aplicação de dinheiro no
conhecimento científico se torna representativo quando é comparado com o
lucro obtido pelas indústrias. O investimento na Química trouxe muitos
benefícios. A água e os esgotos passaram a ser tratados. Novos medicamentos
foram desenvolvidos, e a produtividade agrícola melhorou. Além disso, os
meios de locomoção tiveram contribuições químicas para funcionarem.
Porém, por muito tempo, as descobertas eram vistas de forma tão positiva
que não havia a preocupação com suas possíveis consequências.
A Química está envolvida em qualquer processo industrial. Como a
maioria do que consumimos é produzido em indústria, essa ciência está
presente em nosso cotidiano. O processamento de matéria-prima acarreta a
eliminação diária de resíduos. As consequências trazidas pela Química são
grandiosas.
Os resíduos gerados por essas fabricações são excessivos. Esse “lixo”, na
maioria das vezes, vai para o solo, para a água ou para o ar. Tais resíduos químicos poluem e colocam em risco a saúde da população. Raramente eles são
eliminados corretamente.
Muita matéria-prima é necessária para a produção em indústrias. A exploração de recursos esgotáveis é insustentável. Essas empresas acabam por
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agredir a estabilidade do meio ambiente. São poucas as empresas que visam
a reposição do que é por eles extraído da natureza.
O modo de vida e de pensamento dos indivíduos do século XXI tendem
a visar primeiramente o dinheiro no presente do que as consequências
futuras. Como a ciência se tornou fonte de poder, o que se faz com ela passou
a ser ilimitado, e consequentemente nocivo ao futuro do planeta. Isso explica
os danos trazidos pela indústria química.
A Química, porém, não é unicamente nociva. Os conhecimentos científicos estão ligados à evolução humana, já que são fundamentais para a
formação de ideias. Desde os primórdios, o avanço da humanidade ocorre
graças a invenções e mudanças baseadas no que já se sabia; porém, paralelamente às boas criações, devido ao mal uso delas, surgem consequências
negativas.
Os problemas ambientais estão diretamente ligados às ciências. A responsabilidade dos produtos científicos, porém, não pode ser atribuída aos seus
inventores ou descobridores. Os conhecimentos científicos, sendo de direito
público, podem ser nocivos à natureza ou não, dependendo de quem os
utiliza. Qualquer dano à natureza, portanto, surgiu de alguma forma ruim
de uso da ciência.
O impacto individual no planeta é surpreendente. A grande barreira para
que um novo estilo de vida seja implantado são os nossos valores. Esses
valores já fazem parte da mentalidade de uma pessoa desde o berço, e é um
longo caminho até que mudanças realmente ocorram. As ideias de gastos
menos excessivos e de coletividade devem ser implantadas. As marcas que
são deixadas no mundo, mesmo não sendo de pessoas especialmente ilustres,
têm um grande impacto.
Historicamente, tudo o que era novo e moderno deveria ser aplicado. Dessa
forma, a destruição de uma floresta para a construção civil não era vista
negativamente; pelo contrário, era sinônimo de progresso e evolução humana.
A natureza, por não ser criação do homem, acabou sendo desvalorizada.
Destruição não é sinônimo de progresso. É possível que uma nação cresça
economicamente evitando degradar a vida natural. A própria biodiversidade
pode ser usada como fator diferencial no desenvolvimento de um país. O
verdadeiro crescimento só será contínuo caso esteja desligado de destruição.
Toda ação teve uma reação proporcional a ela. Assim, boa parte das medidas humanas futuramente causarão, e causaram, um efeito sobre o meio
ambiente. Tantas consequências são reflexo do que se tem feito a longo prazo:
agora a medida a ser tomada é reparar os danos e impedir que eles aconteçam
novamente.
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Porém, as pessoas tendem a buscar uma situação que, mesmo imperfeita,
seja confortável a elas. Por acreditarem que os danos causados pelo ser
humano na natureza não as afetam, eles não lhes causam preocupação. Ações
individuais não têm valor, e a responsabilidade é passada para o governo. O
conforto inibe a vontade de mudança. Assim surge o comodismo: o preferível
é o mais próximo e fácil. O humano acomodado raramente é inovador.
As pessoas costumam se considerar irrelevantes frente a problemas mundiais. Não se tem a noção de que grandes resoluções surgem de pequenas
ações. O que não atinge diretamente uma pessoa, normalmente não lhe causa
preocupação. O comodismo pode ser o veneno da evolução. Sem o desejo de
mudança dificilmente há inovação. Uma situação aparentemente boa nem
sempre trará boas consequências. A busca por melhoria deve ser constante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisas e descobertas recentes nos mostram que muitas das aplicações
da Química causam efeitos negativos na natureza. Dejetos químicos podem
ser altamente tóxicos para o solo. A fumaça emitida pelos automóveis e outros
gases mostraram-se ofensivos à camada de ozônio. Assim como outros
produtos do conhecimento, os da Química podem ser benéficos ou nocivos,
dependendo da forma como são usados.
O desequilíbrio do meio ambiente afeta todos os seres humanos, mesmo
que indiretamente. A destruição de matas pode estar ligada à extração de
matérias-primas fundamentais à produção de itens disponíveis no mercado.
Assim, as florestas estão ligadas ao cotidiano de todos os seres humanos por
meio de tudo o que é por eles consumido.
O desenvolvimento humano, ao invés de trazer apenas melhorias, acaba
resultando em grandes danos nas áreas de saúde, meio ambiente e relações
sociais. Quanto mais avançamos, mais destruímos. É preciso, primeiramente,
que as pessoas se conscientizem de que não haverá mudança sem a participação delas e, finalmente, que se mobilizem em busca de meios sustentáveis.
É fundamental que as pessoas avaliem o que é necessário e o que é excedente.
Sustentabilidade tem sido um tema constantemente abordado. A humanidade parece ter percebido, finalmente, as consequências que alguns de seus
atos trazem a longo prazo. Sendo impossível mudar o que já foi feito, procuramse novos modos de progredir sem futuros prejuízos. Para isso, deve-se adquirir
uma nova maneira de pensar em relação ao que pode ser usado.
O desenvolvimento humano, muitas vezes, está ligado à destruição da
natureza. Em certo momento da história, países desenvolvidos chegaram a
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concluir que apenas parando o crescimento tecnológico seria possível acabar
com os desmatamentos. Novas ideias, porém, surgiram e iniciou-se a busca por
sustentabilidade. É fundamental a contribuição individual para acontecerem
melhorias ambientais.
É fato que a grande maioria da população que vive em área urbana não
vê a importância das florestas em sua vida. Pior ainda: são poucos os que
realmente fazem algo por ela. O que essas pessoas não têm é o conhecimento
de que a destruição da natureza também os afeta. Dessa forma, não dão
relevância a questões ambientais. As florestas fazem parte do dia a dia de
todos, porque as matérias-primas utilizadas em produtos e alimentos que
consumimos são extraídas delas, independentemente do local onde as pessoas
vivem. Dessa forma, não há como um cidadão urbano não ser afetado pela
destruição da natureza.
As nações não devem e não precisam deixar a Química de lado para
manter a natureza e sua biodiversidade: os conhecimentos científicos podem
ser a chave para a solução dos problemas da humanidade e novos caminhos
de desenvolvimento sustentável. Ela é o meio pelo qual se chega a produtos
biodegradáveis e recicláveis. Também por meio de seus conhecimentos os
ambientes poluídos podem ser recuperados e voltar ao seu estado original.
A resposta, por tanto, está na utilização dos conhecimentos científicos.
O papel da Química passou a ser principalmente a busca de uma forma
por meio da qual as nações continuem progredindo sem degradar os recursos
naturais. Conhecer o assunto, portanto, é a base para entender a fundo o
que deve ser mudado e, em seguida, para que aconteçam reais mudanças.
O desenvolvimento humano está relacionado intimamente com a natureza,
por isso, ele não pode ser imediato: é preciso que haja condições ideais para
acontecer. O progresso contínuo requer produção e preservação, e a Química
é o grande diferencial para se encontrar o equilíbrio entre esses dois fatores.
BIBLIOGRAFIA
AGSOLVE. Tratar resíduos é alternativa para controlar poluição. 31 mai. 2007.
Disponível em: <http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=5>.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA. Site da Associação
Brasileira da Indústria Química. Disponível em: < http://www.abiquim.org.br >.
Acesso em: ago. 2011..
BONIFAZI, E.; DELLAMONICA, U. Descobrindo a história: Idade Moderna e
Contemporânea. São Paulo: Editora Ática, 2002.
48
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HISTÓRIA DO MUNDO. Revolução Industrial: história da Revolução Industrial.
Disponível em: <http://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/revolucaoindustrial.htm>.Acesso em: ago. 2011.
RIJO FURTADO, M. Resíduos industriais. Portal Química. Disponível em:
49
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2º LUGAR
CIÊNCIA: UMA
EXPANSÃO FEMININA
Estudante: Ana Raquel Ferraz Rameiro, 16 anos, 2º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Kátia Aparecida da Silva Aquino
Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco - Recife, PE
INTRODUÇÃO
Neste ano de comemoração do centenário do Prêmio Nobel de Marie
Curie, é natural a reflexão acerca da efetiva participação das mulheres nas
ciências naturais. Afinal, essa participação feminina na descoberta de teorias
e leis científicas foi sempre prestigiada e aceita? Na realidade, a trajetória de
mulheres na conquista da ciência não foi algo tão trivial assim, o ideal de
misoginia era bastante recorrente no passado. Desde a Antiguidade, as
mulheres vêm sofrendo diversos tipos de retaliação no que concerne a suas
tentativas de interpretação do mundo sob a luz da ciência. Hipácia, MarieAnne-Lavoisier, Marie Curie, Irène Juliot-Curie, Dorothy Hodgkin, Ida
Noddack, Lise Meitner e Elisabeth Rona foram algumas das principais
construtoras de uma ciência essencialmente feminina, que atualmente atrai
muitas mulheres para a área das ciências naturais em geral, inclusive no Brasil,
que conta com uma participação crescente delas em suas universidades e
academias científicas.
DESENVOLVIMENTO
Considerando a participação feminina na ciência, Eric Sartori, engenheiro
francês da École Supérieure de Physique et Chimie, tem divulgado recentemente diversos títulos a respeito do tema, um dos quais é História das
Mulheres Cientistas, no qual aponta frases de Charles Darwin e Kant,
considerando seus posicionamentos relativos à inferioridade das mulheres na
realização de trabalhos intelectuais. Somente a título de exemplificação, o
pensamento de Darwin acerca da condição feminina imiscui-se em tendências
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evolucionistas utilizadas por ele para esclarecer aspectos científicos sobre os
seres vivos: “A mulher parece diferir do homem nas disposições mentais,
principalmente em maior ternura e menor egoísmo. Isso se verifica mesmo
entre os selvagens, como mostram uma passagem conhecida das Viagens, de
Mungo Park, e os testemunhos de muitos viajantes. A mulher, graças ao
instinto materno, manifesta em alto grau essas qualidades diante dos filhos
pequenos. É, pois, verossímil que ela frequentemente o estenda até seus semelhantes. O homem é rival dos outros homens; compraz-se na competição, o que
o leva à ambição, que passa facilmente ao egoísmo. Essas qualidades parecem
ser um direito natural e deplorável que ele assume ao nascer” (A Origem do
Homem, capítulo XIX). Há a noção imbuída no fragmento de uma natureza
intrínseca da mulher, responsável por seu papel mental e social diante do
homem, o que não corresponde à realidade, uma vez que a mulher, inserida
em seu contexto sociocultural, não está impedida fisiologicamente de exercer
plenamente a intelectualidade que a ciência requer. Essas ideologias, em voga
nos séculos XVIII e XIX, perduraram por pouco mais de um século e somente
começaram a ser reavaliadas muito recentemente, na década de 1950.
Como se processou, então, o percurso das mulheres inovadoras da ciência
ao longo da história? Uma das primeiras a se destacar foi Hipácia, uma matemática do século V, em Alexandria. Ela era, como muitos outros professores
e filósofos, encarregada de repassar as ideias, a arte, os conhecimentos de
moralistas, pensadores e historiadores para filhos e filhas de cidadãos da
cultura helenista.
Hipácia desenvolveu importantes conhecimentos relativos à astronomia e
estabeleceu as bases para a criação do astrolábio e do planisfério. Note-se que,
sem o planejamento do astrolábio, as Grandes Navegações do século XVI se
tornariam praticamente inviáveis, impossibilitando a descoberta do chamado
Novo Mundo. Talvez o próprio Brasil não tivesse sido descoberto! Devido às
suas qualidades intelectuais e morais, além de sua extraordinária beleza,
Hipácia era muito benquista por todos. Em decorrência disso, incitou ódio
e inveja no bispo Cirilo, ao afirmar ser o universo governado por leis matemáticas. Foi perseguida, arrastada pelas ruas da cidade, morta a pedradas e
esquartejada.
Essa situação elevou Hipácia à condição de primeira mulher mártir da
ciência. Ela edificou outras maneiras de se elaborar o pensamento lógico-racional,
livre dos cânones meritocráticos masculinos.
Já na Idade Média, a Igreja Católica exercia um papel de inibidor da
atividade intelectual em geral, inclusive feminina. Não obstante, trancafiadas
em conventos, algumas mulheres de diferentes classes sociais se lançaram à
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escrita de enciclopédias e manuais, uma das quais foi Hildegard, que prestou
contribuição às ciências farmacológicas, influenciada pela ideia de que o
mecanismo da cura tinha relação com espécies de plantas cultivadas em
hortas domésticas.
Com o passar desses chamados tempos do obscurantismo, nos quais a
mulher teve pouca ou quase nenhuma possibilidade de interferir nas ciências
naturais, renasce, enfim, nos séculos XV e XVI, parte da cultura clássica.
Os ideais humanistas abrem, então, perspectiva ao engajamento feminino
em pesquisas de cunho científico. Nessa época, porém, as mulheres ainda
estavam restritas à observação de experiências em laboratório, realizadas
principalmente por parentes do sexo masculino, fossem estes irmãos ou
maridos. Exemplos coerentes com esse contexto são os de Sophie Brahé, que
observou estrelas no laboratório de seu irmão, Tyco Brahé; e o de MarieAnne-Lavoisier, que tomava notas à medida que assistia às experiências de seu
marido, Antoine Lavoisier, cientista que elucidou as relações de massa entre
reagentes e produtos participantes de reações, conhecidas como leis ponderais. Essas leis possibilitaram a noção de transformação da matéria e da
troca de átomos nas reações químicas. Marie-Anne-Lavoisier traduziu os
exemplares do marido do inglês para o francês, além de ilustrar inúmeras
publicações. Não fosse seu trabalho, talvez muitos dos livros de Antoine
Lavoisier tivessem sido perdidos. Tarefa semelhante exerceu a primeira
mulher de Einstein, já no século XIX, chamada Mileva Maric, que
solucionou cálculos matemáticos para o marido. Por isso, ela é considerada,
por alguns, coautora da Teoria da Relatividade.
Todo o exposto até agora, corrobora, enfim, uma visão importantíssima
da mulher na construção da ciência, direta ou indiretamente. A paixão pelo
conhecimento foi, com certeza, a razão pela qual muitas correram o risco de
enfrentar os preconceitos da época. Resgatar o papel dessas desconhecidas é
fator importante para que possamos revalorizar a capacidade feminina de
realizar atividades intelectuais antes puramente designadas a rapazes. É preciso
reconhecer, depois de tudo isso, que não fossem essas modestas contribuições,
não existiriam hoje muitas das ferramentas a que estamos habituados, cujos
princípios foram pioneiramente elaborados por mulheres, ainda que sem
incentivo, haja vista as adversidades do período, com ousadia e primor.
A partir de 1901, a Real Academia de Ciências da Suécia iniciou a entrega
do Prêmio Nobel – instituído por Alfred Nobel, químico sueco inventor da
dinamite – a pessoas que descobriram técnicas pioneiras ou realizaram contribuições importantes à sociedade, agraciando-as com medalhas, dinheiro e
prestígio. Desde esse período, destacaram-se três importantes cientistas na
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conquista do Nobel. A influência do meio intelectual em que cresceram foi
um fator decisivo, que estimulou essas mulheres em função da busca profissional. Faz-se mister, portanto, conhecer um pouco da vida e da história
dessas três personagens imprescindíveis na carreira científica.
Marie Sklodowska era filha de um professor de gymnasium e de uma
diretora de escola. Nasceu em Varsóvia, Polônia, em 7 de novembro de 1867.
Sua família sofreu diversas perseguições políticas em decorrência de uma
fracassada empreitada contra a Rússia, fato que moldou uma personalidade
empreendedora de Marie. Até esse período, a vida dela não apresentava
possibilidades de grandes mudanças; entretanto, ela aderiu às doutrinas
positivistas na época e ingressou em uma universidade clandestina. Pouco
tempo depois, foi convidada por sua irmã, Bronia, a ir a Paris. Foi onde Marie
conheceu Pierre Curie, seu futuro esposo. A partir daí, a vida de Marie tomou
rumos inovadores; pouco tempo depois, estava recebendo o prêmio Nobel de
Física ao lado de Pierre Curie e Henry Becquerel, em 1903, em razão de seus
importantes trabalhos na área de radioatividade. Em 1911, recebeu o Nobel
de Química pelos serviços prestados ao avanço da Química, em especial, a
descoberta do rádio e do polônio (elemento de nome concebido por ela em
homenagem à pátria natal). Marie Curie se tornou, então, a primeira mulher
a receber dois prêmios Nobel e a lecionar na Universidade de Sorbonne, na
França. Faleceu cega e tuberculosa, devido às altas doses de radioatividade a
que foi submetida durante bastante tempo, em um sanatório francês. A
exemplo de Hipácia, Marie Curie foi outra grande mártir da ciência.
Irène Juliot-Curie (1897-1956), filha mais velha do casal Curie, cresceu
em um ambiente de extrema efervescência intelectual, devido à influência
de seus pais e dos amigos. Irène, ao contrário das demais crianças da época,
não frequentava a escola; recebia aulas de seus próprios pais, juntamente com
os filhos das famílias Perrin e Langevin, eminentes estudiosos da Física
Atômica, ainda pouco desvendada até o período. Marie lecionava Física;
Paul Longevin, Matemática; e Jean Perrin, Química. Mais tarde, ela tornouse estudante de Química na Sorbonne e auxiliou a mãe em unidades móveis
de radiologia no período da Segunda Guerra Mundial.
Irène Juliot-Curie recebeu o prêmio Nobel como reconhecimento pela
descoberta de novos elementos radioativos. Em determinado experimento,
Irène bombardeou o alumínio com partículas alfa e observou que, mesmo
quando interrompida a fonte de partículas e após a emissão de nêutrons, o
alumínio continuava a emitir radiações, as quais foram atribuídas a um isótopo radioativo do elemento fósforo, até então não encontrado na natureza.
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Já em 1938, enquanto bombardeava átomos de urânio com nêutrons, Irène
notou a formação de um elemento radioativo com 3,4 horas de meia vida.
Otto Hahn, eminente químico alemão ganhador do Nobel em 1944, ao
repetir seus experimentos, sugeriu a produção de dois núcleos menores e de
tamanho aproximadamente igual à metade do núcleo de urânio. Estava
praticamente pré-preparado o campo para a descoberta da fissão nuclear. No
entanto, as interpretações corretas de seus experimentos foram elaboradas
depois, por outros, que receberam, portanto, toda a glória da descoberta. Em
vista de seu interesse e destreza na área, Irène foi nomeada Chefe da Comissão
Francesa de Energia Atômica, em 1946; porém dez anos mais tarde faleceu
devido a um quadro de leucemia, adquirida em decorrência dos anos em
contato com material radioativo.
Além das contribuições na área de radioatividade, houve também
descobertas excepcionais na estrutura de moléculas de importância biológica.
Coube, desta vez, a Dorothy Hodgkin a elucidação da estrutura da vitamina
B12 e da penicilina, um tipo de antibiótico, que lhe valeu o Prêmio Nobel
de Química em 1964. Dorothy, desde jovem, apresentava interesse pela
cristalografia dos compostos. Estudou em Oxford, transferindo-se para
Cambridge, onde se doutorou, em 1937, com uma tese sobre cristalografia
dos esteroides. A influência de Dorothy na atração de novas estudiosas para
a área das ciências naturais pode ser evidenciada no relato de G. A. Jeffery,
que visitou seu laboratório:
Seu laboratório em Oxford é muito informal, e todo mundo a chama
apenas de Dorothy, o que é incomum para um professor na Europa. É
um lugar muito agradável para se visitar, uma vez que um terço dos
membros é composto por charmosas e jovens garotas, que desejam
tornar-se também cristalógrafas de destaque [...] (JEFFERY, 1964).
Ida Noddack era geoquímica, não uma física nuclear; no entanto, lançou
as bases mais inovadoras dessa ciência e da radioatividade ao propor o
conceito de fissão nuclear. Ridicularizada pelos químicos de seu tempo, uma
vez que suas ideias divergiam das concepções da época acerca do núcleo
atômico, ela foi mais tarde reconhecida e teve sua proposta confirmada. Ela
é também conhecida como codescobridora do rênio, último elemento natural
a ser descoberto, o que ocorreu quando tinha apenas 28 anos.
Lise Meitner, mais tarde, por meio de seus experimentos, comprovou a
fissão nuclear, no entanto, como muitas outras mulheres, não teve sua participação na descoberta largamente reconhecida. Outros cientistas com os quais
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Lise havia trabalhado receberam toda a glória no período, apesar de, sem ela,
estarem trabalhando completamente à deriva, longe de suas explicações pertinentes para o que até então se desconhecia. Somente a título de mostra, um
depoimento de Fritz Strassman, analista químico alemão, extremamente
tímido, apesar de artista no laboratório, evidencia o fato:
Que diferença faz o fato de Lise Meitner não ter participado diretamente
da descoberta? A iniciativa dela foi o começo do trabalho em associação
com Hahn – 4 anos depois ela fazia parte do nosso time – e estava ligada
a nós intelectualmente, da Suécia, através da correspondência HahnMeitner [...] Ela foi a líder intelectual do nosso grupo e, portanto, ela
fazia parte de nós, mesmo que não estivesse presente para a descoberta da
fissão (STRASSMANN apud SIME, 1997, p. 241).
No percurso de outras novas descobertas femininas, encontra-se Elisabeth
Rona, exímia isoladora de polônio-210 dos minérios radioativos. Inicialmente
trabalhava como química da parte de orgânica, porém, durante a maior parte
de sua vida, exerceu contribuições na área da radioatividade. Em Budapeste,
ela se juntou ao grupo de pesquisa de George Von Havesy, que trabalhava no
campo da radioatividade. Ela estava envolvida nos mais novos estudos acerca
do uso de radioisótopos em reações químicas, o que conferiu a Havesy o
Prêmio Nobel em 1943. Rona estava satisfeita com a prazerosa atmosfera de
pesquisa da equipe:
Não havia nenhuma pressão, e, embora eu não tivesse muita experiência
em radioatividade, Havesy me permitiu usar minha própria imaginação;
havia um livre fluxo de ideias. Além do laboratório, havia a sala de chá
Gerbaud, uma das melhores lojas de pastelaria da cidade. Tínhamos uma
xícara de chá e alguns deliciosos pastéis por lá, pela tarde, ao discutir nossos
experimentos e teorias; ou mesmo conversando sobre coisas normais, o que
agradavelmente aliviava a pressão do trabalho diário (RONA, E. apud
CAHAM-RAYNER,M; CAHAM-RAYNER, G., 1997, p. 210, 212).
Seu trabalho mais importante consistiu no bombardeamento de átomos
de um elemento com partículas alfa e a consequente transmutação desse
elemento. Havia, portanto, necessidade de uma grande quantidade de
emissores de partículas alfa; Rona, então, notou que o polônio-210 era um
recurso ideal para isso. Ela imaginou uma maneira de isolar e concentrar esse
isótopo, em conjunto com Irène Juliot-Curie.
No Brasil, apesar da escassez de publicações sobre o tema, as mulheres
continuam tomando seu lugar à frente das pesquisas científicas. Nos últimos
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cinco anos do século XX, a Academia Brasileira de Ciências elegeu um total
de 22 mulheres para integrar seus quadros. Essa atitude foi um enorme avanço,
uma vez que, na década de 1970, a Academia elegeu apenas oito mulheres,
dentre as quais apenas uma como titular. A diferença quantitativa em relação
aos homens ainda é grande, porém vale reconhecer que o crescimento na
participação das mulheres é expressivo.
Em diversas universidades brasileiras já se tem promovido o fomento à
inclusão de mulheres nos centros de tecnologia, além do reconhecimento
relativo à importância da mulher para a ciência historicamente. Um exemplo
disso foi a “5ª Primavera dos Museus – Mulheres, Museus e Memórias”
promovida pela Universidade Federal de Pernambuco, em setembro deste
ano, com a pauta “Energia Nuclear: uma tecnologia feminina”.
CONCLUSÃO
A ciência contemporânea, enfim, propala a marcante presença de mulheres
em suas diversas áreas de abrangência, o que revela a capacidade delas como
força motora de suas mais variadas descobertas. A radioatividade, por exemplo,
é um campo de pesquisa bastante recente e promissor, no qual as mulheres
encontraram espaço e oportunidade para desenvolver sua habilidade científica. Essa foi apenas uma pequeníssima apresentação acerca da participação
de algumas mulheres nas ciências naturais. Há uma crescente lista de importantes contribuintes, tais como Emmy Noether, Gerty Radnitz Cori, Bárbara
McClintock, Maria Göeppert Mayer, Ellen Gleditsch, May Sybil Leslie,
Catherine Chamié, Rita Levi-Montalcini, Chien-Shiung Wu, Alicia Dorabialska,
Fanny Cook Gates, Ada Hitchins, Marietta Blau, Gertrude B. Elion, Rosalind
Franklin, Sophie Germain, Rosalyn Sussman Yalow, Jocelyn Bell Burnell...
Cada uma delas, com suas descobertas particulares, que permitiram o avanço
nas áreas de diversas ciências, principalmente na Química. A vida futura
depende, então, de uma gama de contribuições a serem prestadas no campo
da ciência e da tecnologia, pois o mundo carece ainda de soluções para muitos
problemas ambientais e humanos. É por isso que as antigas, as presentes e as
futuras cientistas merecem ser lembradas; caso contrário, seremos uma sociedade bastante evoluída tecnologicamente, porém desprovida da essência de
suas próprias criadoras.
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BIBLIOGRAFIA:
CAHAM-RAYNER, M.; CAHAM-RAYNER, G. A devotion to their science: pioneer
women of radioactivity. Philadelphia, PA: Chemical Heritage Foundation, 1997. c.21,
p. 210, 212, 217.
COSTA, M. C. da. Divulgando a visibilidade das mulheres na ciência. Hist. cienc.
saude-Manguinhos, v.15, suppl., p. 290-291, 2008.
DANTAS, M. Ensaio: o massacre de Hipácia. Revista Versus Acadêmica. p. 58, abr, 2011.
FARIAS, R. F. de. Química Nova na Escola, n. 14, nov. 2001.
JOB, I. EFDesportes.com. Revista Digital, n. 158, jul. 2011.
SIME, R. L. Lise Meitner: a life in physics. Los Angeles, CA: University of California
Press, 1997. p. 241.
TABAK, F. O laboratório de Pandora: estudos sobre a ciência no feminino. Rio de
Janeiro: Ed. Garamond Universitária, 2002. p. 209-210.
TORT, P. Darwin e a ciência da evolução. [S.l.]: Ed. Objetiva. p. 143.
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3º LUGAR
PARA QUE TUDO ISSO?
Estudante: Matheus Marchiori dos Santos, 15 anos, 1º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Angela Cristina Schempp Pires
Colégio Objetivo - Mogi Guaçu, SP
RESUMO
Este trabalho foi estruturado de forma a criar um diálogo direto entre um
estudante do ensino médio e a Química. A introdução passa um resumo do
tema que será debatido, e o desenvolvimento, uma carta de um aluno e a
resposta da Química, que tentará, por meio de exemplos do cotidiano, mostrar como ela é importante para entendermos o mundo e o cosmo. Na conclusão,
uma consideração imparcial de um júri convocado para apreciação. Boa
leitura.
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PARA QUE ISSO?
Que a Química está intimamente relacionada com a história do homem,
com a forma como ele lida com o ambiente e com o modo como ele pode
aproveitar o que lhe é oferecido pela natureza quase todo mundo sabe. Vinda
desde antes de Cristo, a Química, no começo, se fundia com vários elementos
que hoje já deixou para trás. Quando os filósofos gregos começaram a buscar
a causa primeira, algo que fosse comum a tudo que existia, deu-se a partida
para a ciência que hoje é parte do nosso dia-a-dia.
A causa primeira foi, por mais de dois séculos, um dos principais combustíveis dos filósofos gregos. A busca por um elemento que fosse comum a todos,
era na verdade um estudo do cosmo, de tudo aquilo que é exterior ao homem.
Em sua evolução, a Química passou por várias fases: uma fase de pensamento, raciocínio, sem sinais de experimentação, ou com muito poucos;
depois, passou por um longo período obscuro, onde ela se confunde com a
Alquimia, com a magia, durante a Idade Média, onde temos, por outro lado,
só experimentação.
Na Idade Moderna, a Química começou a se firmar como um dos meios
que melhor podia ser aproveitado pelo homem para seu desenvolvimento e
para o entendimento de todos os mistérios que o cercavam. Considerado o
pai da Química propriamente dita, Lavoisier, com sua Lei de Conservação
das Massas, lançou bases para muitos dos avanços que viriam. Mais recentemente, Mendeleev organizou, de forma correta e ainda atualizada, a Tabela
Periódica. Linus Pauling, com seu diagrama de elétrons, deu origem aos
grandes e recentes avanços, ainda que teóricos, da Química Quântica.
“Qual a influência de tudo isso sobre nós? Por que temos que nos importar
com isso? Uma matéria que deixa alunos em recuperação, que tem fórmulas,
números e coisas que nem os cientistas sabem com certeza! Como acreditar
numa coisa dessas?! Qual a utilidade disso? Para que isso?” São essas as
perguntas, que milhares de pessoas, jovens e adultos fazem, que eu vou, por
meio de argumentos e contra-argumentos, justificar. Será a Química a vilã ou
a mocinha? Vamos ver a seguir duas cartas, uma de um aluno do primeiro ano
do ensino médio endereçada à Química, e a sua resposta, e depois, uma
conclusão, do júri convidado, que vai tentar esclarecer e mediar a situação.
Boa leitura.
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QUE COMECE O JULGAMENTO:
A ACUSAÇÃO
“Cara Química,
Boa tarde. Como vai a senhora?
Estou lhe escrevendo porque tenho algumas reclamações, apesar de eu particularmente gostar de estudá-la. Estudo no primeiro ano do ensino médio de
uma escola brasileira. Aqui no Brasil, o contato com a Química se aprofunda
no nono ano do ensino Fundamental, e, principalmente, no ensino médio.
Durante o ensino médio, temos uma grade “completa” da senhora. Eu,
por exemplo, tenho três aulas de 50 minutos por semana. Mas, o que eu
gostaria de saber, e de reclamar, é: QUAL É A SUA UTILIDADE? Como a
senhora contribui para o entendimento do mundo e do cosmo? Eu sou obrigado a decorar fórmulas, tabelas, diagramas, macetes e nomes escandalosos
de ácidos, bases, sais e afins para quê? Não está nem nos meus mais remotos
planos fazer qualquer coisa relacionada com a área de Exatas, e sou obrigado
a dedicar horas a estudar a senhora e suas parentes. Se não fizer isso? Recuperação. Dependência. E, convenhamos, não é nada agradável ter que ficar
estudando mais do que o normal no ano seguinte, não é verdade?
Damos o sangue para entendê-la e, quando pensamos que chegamos
numa parte boa da sua matéria, sempre aparece algum cientista que quis dar
uma de espertinho e “simplificar” a nossa vida com algumas regrinhas, que
sempre tem umas duas ou três exceções – que sempre nos pedem nos testes
– e que nunca nos lembramos de estudar. Complicado não acha?
Acho sua carreira interessante, brilhante até mesmo, mas, por que eu
tenho que aprender sobre a senhora, e com a senhora, sobre o mundo que me
cerca? Sobre o Universo! Ele é tão grande, nem os cientistas, que são tão íntimos
seus sabem o que falam direito. Real e sinceramente, é muito complicado. E olha
que eu nem cheguei em Química Quântica! Vou precisar de muita sorte,
pelo que parece, não?
Com meus votos cordiais,
Silvério”
A DEFESA
“Caro Silvério,
Muito obrigada pela carta que me escreveu. Já fico feliz em saber que,
pelo menos, não tem nada contra mim. Isso facilita muito as coisas. Na verdade,
um grande problema que eu e meus ajudantes, seus professores, encontramos,
é o fato de existir certo preconceito sobre mim. Pode ser difícil convencer
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você, mas eu não mordo nem machuco ninguém – tirando alguns alquimistas
da Idade Média, que testavam certas coisas neles mesmos – e nunca foi minha
intenção complicar a vida de ninguém em relação a notas, recuperação, ou
até mesmo num processo – diga-se de passagem, um tanto quanto controverso – chamado vestibular. E, se pensarmos bem, eu não sou tão complicada
assim. Posso até dar trabalho com algumas coisas que tem que ser memorizadas, por exemplo, mas não tanto como a Física, com suas inúmeras fórmulas,
ou como a Biologia, que tem uns nomes estranhos, não é?
Lamento muito a grade brasileira ser formada dessa maneira. Mas está
além das minhas possibilidades influenciar o modo como as grades curriculares são formadas; porém posso te assegurar que eu não sou inútil. Desde
o início do Universo, como você vai ver mais para a frente, eu ajudei o homem
a compreender seu espaço, suas necessidades e sua vida de uma forma geral.
Existe, inadvertidamente, certo preconceito contra mim, especialmente
do senso comum. Não é raro ouvir pessoas, ou ver até mesmo anúncios do tipo
“Compre sem medo, produto sem química”, o que passa a noção de que eu sou
nociva, perigosa para a saúde, a sanidade e para o que mais quiserem dizer.
Gostaria de esclarecer que, na verdade, isso é falta de informação. Até mesmo
na produção do pão, um dos itens mais comuns na mesa da população mundial,
existe Química. A ação dos fermentos, das leveduras, só foi entendida e
explicada junto comigo e, sem eles, estaria se comendo pães em “folha”, finos
(do tipo “sírio”).
Excluídos alguns preconceitos realmente não fundamentados, vou esclarecer algumas dúvidas que você me apresentou em sua carta e tentar dizer por
que eu sou importante no entendimento do mundo e do cosmo por meio de
exemplos de como sou usada à sua volta, quase sempre sem você perceber.
Como uma ciência baseada em um método de observação, eu, infelizmente, tenho também minhas incertezas. É raro e toma muito tempo construir
alguma lei que se aplique a todas as situações e que seja de fato útil a todos,
por isso, às vezes, vocês estudam coisas que podem se alterar de forma significativa até mesmo de um ano para o outro, mas, acredite, isso só contribui
para o desenvolvimento necessário a todos.
Dentre os vários conjuntos de símbolos da Química, um dos mais significativos e importantes é a Tabela Periódica. Nela, representamos os elementos
(átomos), que se arranjam em moléculas e, consequentemente, em substâncias
para criar a matéria como a conhecemos hoje.
Desde 1789, quando Lavoisier publicou uma lista de trinta e três elementos químicos, a tabela passou por diversas alterações; a última, que é aceita
até hoje (embora já haja planos de mudá-la), foi organizada, ou melhor,
trazida a público, em 1869, pelo professor de Química russo Dimitri Mendeleev.
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Mesmo tendo sido lançada junto com outra tabela, de Julius Meyer, a tabela
de Mendeleev ganhou fama por deixar espaços livres para elementos ainda
não descobertos e por trazer sua organização, ainda que por acaso, de acordo
com o numero atômico crescente dos átomos. Este é um dos exemplos de
como e por que meu estudo se altera tanto. Como dependo de pesquisas, e
a cada dia temos uma quantidade maior de recursos para fazê-las, essa
velocidade acaba aumentando. O que antes podia tomar anos para ser
comprovado, hoje pode ser comprovado em segundos. É muito gratificante
saber que, em parte, eu contribuí para esse desenvolvimento.
Não quero ser esnobe, mas meu estudo possibilita o entendimento de
como chegamos até aqui. Estima-se que o Universo surgiu há aproximadamente 13,5 bilhões de anos, a partir de uma única explosão atômica, o
chamado Big Bang (grande explosão, em inglês). A partir daí, existem várias
teorias sobre o surgimento da matéria e, consequentemente, sobre a criação
do cosmo e do mundo como conhecemos hoje. Você já ouviu falar sobre o
LHC? É o Grande Colisor de Hádrons, um equipamento construído no
subterrâneo europeu que custou mais de dez bilhões de dólares e visa contribuir para o entendimento e a reprodução da partícula de Higgs, ou “partícula
de Deus”, que foi o que teria originado o Universo. Nessa área, a Química
se mescla com a Física, na chamada Química Quântica.
A Química, na verdade, não precisa ser estudada isoladamente. Existem
correlações entre mim e outras matérias, nas chamadas Bioquímica e FísicoQuímica. Todas nós queremos ajudar vocês a compreenderem mais sua
própria natureza e ambiente, para viverem melhor, tanto macro quanto
microscopicamente. O desenvolvimento de remédios, agrotóxicos e afins é
relacionado à Bioquímica, enquanto a Físico-Química tem se dedicado a
estudar os mistérios que estão no limite do conhecimento atual, como o
surgimento do cosmo (como definiu o astrônomo Carl Sagan, “Tudo que já
foi, tudo que é e tudo que será”), isto é, do todo, desde o universo organizado
até as partículas subatômicas.
Essa área ainda tem muita discussão relacionada a esses assuntos e é de
difícil entendimento, até porque esbarramos em barreiras tecnológicas. Acho
que, com tudo isso que eu disse, pelo menos a questão da rápida mudança e
às vezes das incertezas lançadas por mim já foi esclarecida, certo?
É interessante dizer também que todo o conhecimento escrito existente
está, mesmo que indiretamente, relacionado a mim. Existem milhares de livros
no mundo dos quais só resta uma cópia. Apenas de Química, mais de
quatrocentos. Esses livros raros precisam de cuidados especiais, como iluminação, umidade e temperaturas adequadas para se manterem, índices que são
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medidos graças ao trabalho dos químicos. Sem os testes de resistência e sem
a devida aparelhagem e conservação, com certeza, teríamos algo com uma
durabilidade muito menor.
Além disso, na riqueza dos trabalhos da Idade Medieval, por exemplo,
onde havia ilustrações e tintas coloridas, criando as famosas Iluminuras, há
intenso uso de Cobre, o que foi descoberto por meio de experimentação. As
obras de arte, tanto da pintura quanto da escultura ou arquitetura, quando
são respeitadas as regras ou dicas instituídas por mim, podem ser muito mais
duráveis. E, como costuma se dizer, uma das melhores maneiras de entender
seu presente, seu mundo, é entender seu passado. E como esse passado pode
ser preservado? Acho que você já sabe a resposta.
Eu acho que você já deve ter ouvido falar nos testes de carbono-14, um
método desenvolvido na Universidade de Chicago em 1949, e que ainda é
usado. Esse método, que data elementos em até 60.000 anos, num processo
delicado e organizado (que não interessa ser descrito aqui agora) por meio do
uso de radioisótopos de carbono-14, isto é, um carbono de massa 14 (6 prótons e 8 nêutrons), que é diferente do carbono 12, presente nas estruturas do
diamante, grafite, aço (matérias inorgânicas), e que está presente em materiais
orgânicos que vai “sumindo” com o passar do tempo (de onde saem as datas
dos fósseis, por exemplo). Graças a mim, o tempo de vida do carbono pode
ser definido e levar às datas dos objetos encontrados.
É certo que você tem objetos metálicos em sua casa. A metalurgia está
intrinsecamente relacionada comigo. Ela é a purificação de qualquer metal,
para adquirir o que se deseja. Os primeiros metais a serem usados foram o
ouro e o cobre, que vêm desde 4.000 e 8.000 a.C. respectivamente, sendo
usados pelos povos em elementos decorativos, armas, moedas de troca e
símbolos de riqueza e poder. Mais recentemente, por volta de 1.280 a.C.,
surge o aço, uma mistura de ferro e carbono, que se provaria mais resistente
que as até então descobertas e é usada até hoje. Depois, em 1824 somente,
outro metal de grande importância foi descoberto, o alumínio, pelo dinamarquês Hans Christian Orested. Esse metal está muito presente hoje,
inclusive nas latas de refrigerante, que vocês adoram tomar (cuidado, alguns
podem ser prejudiciais ao estômago, não se esqueça).
Além de ajudar na fabricação das próprias latas, eu ajudo na produção
dos refrigerantes em si. O que e quanto acrescentar de adoçante, extrato da
fruta (ou, em alguns casos, cola), água... E não ajudo apenas nessas bebidas.
Quando, daqui a alguns, anos você puder tomar bebidas alcoólicas, pode
saber desde já que eu também tenho uma relação estreita na produção do
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vinho, da cerveja, da vodka e do uísque. Atualmente os mestres da produção
dessas bebidas recorrem a métodos químicos para elevar a qualidade e o sabor
de seus produtos. Os métodos vão de controle do solo à qualidade no uso de
frutas ou grãos usados na produção, da medição de pH da própria fruta para
saber a que estilo de vinho se adéqua por exemplo, além é claro, da fermentação, necessária aos vinhos e às cervejas e que deve ser estudada criteriosamente para não prejudicar o produto final.
Viu como eu posso ajudar a simplificar sua vida, e não a criar só empecilhos, como notas, trabalhos e afins, que são considerados tediosos? O meu
estudo pode se mostrar uma inesgotável fonte de conhecimento, se considerar
que eu analiso o passado, o presente e dou diretrizes para o futuro, de forma
embasada.
Outra coisa muito interessante, e que vocês acham extremamente importante (chegando à beira do vício no uso): os computadores. Um computador
(e hoje em dia há a democratização dos notebooks, netbooks e tablets) é
composto por disco rígido, memória RAM, processador e afins. Todos esses
elementos são constituídos por metais ou ligas metálicas, que exigem cada vez
mais refinamento para serem leves, eficientes e portáteis.
Com todas essas comparações, caro Silvério, com certo raciocínio lógico,
podemos analisar minha importância. Tudo isso pode ser resumido abaixo.
É interessante perceber como tudo tem uma certa linearidade. Tudo o que
temos hoje, absolutamente tudo, veio de descobertas e avanços no passado,
avanços esses que estão diretamente relacionados com a Química. Sem a
metalurgia não teríamos nenhuma tecnologia disponível hoje. Haveria a
possibilidade de ainda sermos seminômades. Imagine você um mundo onde
não teríamos computadores, TVs ou celulares. Um mundo sem Revolução
Industrial. Um mundo sem as grandes revoluções, tanto tecnológicas quanto
ideológicas, que marcaram a Idade Moderna. Um mundo sem os grandes
impérios antigos, como Grécia e Roma, que lançaram as bases para todo o
conhecido hoje. Um mundo onde talvez ainda estivéssemos estacionados na
Idade dos Metais, quando surge uma vida urbana mais “tecnologicamente
avançada”, no que seria o nascer, ainda tímido, do Antigo Egito. Só esse
pensamento é capaz de resumir a minha importância para o mundo, para o
cosmo e para a compreensão deste, porque, se estamos onde estamos hoje, foi
porque houve interessados, no passado, em entender os mecanismos que nos
movia sempre para a frente.
Espero que tenha gostado de minha resposta e que tenha tido algumas
dúvidas esclarecidas, e parte da “raiva” (se é que posso chamar assim) amaciada.
Com meus mais sinceros votos de bem-estar e progresso,
Química.”
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CONCLUSÃO
A DECISÃO DO JÚRI
“Devemos falar que foi um prazer poder ler estes dois relatos tão sinceros,
francos. É nítido que há um interesse puro, acadêmico e, ao mesmo tempo,
sincero de ambos os lados se entenderem. Realmente fantástico!
Entre nós, componentes do júri, existem pessoas das mais variadas origens
e formações. É natural, e muito compreensível para nós, ver que há certa
complicação para os alunos no estudo de Química, e não só dela, como de
outras matérias também, mas a maneira com que essa necessidade foi explicada foi encantadora.
É mágico, e ao mesmo tempo aterrorizante, saber como a Química
conseguiu contribuir para nosso desenvolvimento; como ela é necessária para
a manutenção de tudo que temos hoje e para sabermos de onde viemos,
porque estamos como estamos, e para onde vamos.
Vimos desfilar, por algumas páginas, argumentos e exemplos de como nós
devemos ser gratos à Química, e de como ela foi, é, e ainda será, útil para nós,
em todas as esferas. Vimos que ela se preocupa em descobrir tudo o que
acontece, tanto em escalas gigantescas quanto em escalas microscópicas, e
que é isso que nos impulsiona na evolução. Com isso notamos sua importância
para o entendimento do cosmo e do mundo. Tudo se torna claro por meio
dela, até porque, tudo pode ser resumido a substâncias, consequentemente,
a moléculas, e a átomos. Tudo se resume a Química, e agora, só depende de
nós, homens, sabermos aproveitá-la de forma correta, diga-se de passagem,
nossa maior dificuldade.
Atenciosamente,
O júri”
BIBLIOGRAFIA
BRASIL ESCOLA. Carbono 14. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
quimica/carbono-14.htm>. Acesso em: 28 ago. 2011.
CHEMISTRY HERITAGE. Episode 1: communicating Chemistry. Dec 1, 2007.
Disponível em: <http://www.chemheritage.org/community/distillations/001communicating-chemistry.aspx>. Acesso em: 25 ago. 2011.
CHEMISTRY HERITAGE FOUNDATION. Episode 6: the Chemistry of texts.
Jan. 18, 2008. Disponível em: <http://www.chemheritage.org/community/distillations/
006-the-chemistry-of-texts.aspx>. Acesso em: 25 ago. 2011.
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O GLOBO. Acelerador de partículas cria explosão inédita e consegue simular o Big
Bang. 30 mar. 2010. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2010/
03/30/acelerador-de-particulas-cria-explosao-inedita-consegue-simular-big-bang916211149.asp>. Acesso em: 27 ago. 2011.
NATIONAL MINING ASSOCIATION. The History of Gold. Washington, D.C.:
NMA, 2001. Disponível em: <http://www.nma.org/pdf/gold/gold_history.pdf >.
Acesso em: 25 ago. 2011.
RIO GRANDE DO NORTE. Tribunal Regional Eleitoral. Metal. Disponível em:
<http://www.tre-rn.gov.br/nova/inicial/links_especiais/coleta/download/metal.pdf>.
Acesso em: 25 ago. 2011.
SALLES: A. M. Apostila de química: Colégio Objetivo; primeiro ensino médio,
primeiro bimestre. São Paulo: CERED, 2011.
SALLES: A. M. Apostila de química: Colégio Objetivo; primeiro ensino médio,
segundo bimestre. São Paulo: CERED, 2011.
TABELA PERIÓDICA ONLINE. Metais de transição: cobre. Disponível em:
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MENÇÃO HONROSA
O DESPERTAR
DA QUÍMICA
Estudante: Ana Carolina Yamaguchi de Andrade, 16 anos,
estudante do 2º ano do ensino médio
Professora-orientadora:Vilma da Silva Verona
Escola Estadual Professora Julieta Guedes de Mendonça – Dracena, SP
RESUMO
O texto a seguir trata de um adolescente chamado Hélio, que, misteriosamente, encontra um livro sobre Química. A partir de então, passa a se interessar
por essa ciência, despertando sua curiosidade para aprender mais sobre todos
os assuntos relacionados a ela.
Cria um blog em que publica assuntos que vão ao encontro de seus interesses, como: “Os avanços na Química e sua contribuição para o bem-estar
das populações”; “Mulheres na Ciência”; “Pesquisas em Química para
solucionar problemas globais relacionados à alimentação, à água e à saúde”;
“O ensino de Química e a educação básica”; “A prática da Química Verde”;
“Aplicação econômica da Química” e, por fim, “A importância da Química
para o entendimento do mundo e do cosmo”.
A leitura de diversos artigos lhe rendeu bons argumentos e a oportunidade
de compartilhar essas informações com outras pessoas, ressaltando o quanto
a Química é importante e está presente em tudo, desde as transformações
químicas que ocorrem em nosso corpo até a solução dos problemas globais. Basta
olharmos à nossa volta, que saberemos que ela sempre nos acompanhou.
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INTRODUÇÃO
Neste texto, quero destacar a importância da Química em nossa vida.
Inicio ressaltando o assunto da reunião, na Assembleia Geral das Nações
Unidas (AGNU), em que ficou instituído que 2011 seria considerado o
Ano Internacional da Química, com o tema “Química – nossa vida, nosso
futuro”.
O objetivo é levantar questões relacionadas à contribuição da química
para o bem-estar da população, sua importância no nosso dia a dia e como
a sua evolução nos proporciona maior bem-estar, conforto e benefícios nas
áreas da saúde, da alimentação e do desenvolvimento sustentável.
Também destaco o adolescente Hélio, que busca despertar nos jovens e
adolescentes o interesse pela pesquisa e leitura relacionadas à Química.
Comemoramos ainda 100 anos da premiação de Marie Curie com o
Prêmio Nobel em Química, que marcou uma questão muito importante: a
presença das mulheres na ciência.
Portanto, o objetivo do evento é o reconhecimento da Química na vida
do ser humano, na satisfação das necessidades do mundo, o incentivo do
interesse dos jovens pela Química, o que gera entusiasmo para um futuro
criativo.
O CONTO
Era o último dia do ano, 31 de dezembro de 2010. As pessoas se reuniam
com seus familiares para comemorarem o ano-novo. Motivados por novos
desejos e promessas, aguardavam ansiosamente a presença do show pirotécnico.
Hélio, um adolescente muito curioso, de quatorze anos, estava na
contagem regressiva, sabia que o dia seguinte não marcaria apenas o início de
um ano novo, mas também o Ano Internacional da Química, decisão que
resultou de reunião na Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), realizada de 31 de julho a 6 de agosto de 2009, em Glasgow, Escócia, cujo tema
era “Química – nossa vida, nosso futuro”.
A noite estava magnífica, as estrelas pareciam estar mais próximas, pois o
seu brilho era radiante. Logo que o ponteiro se aproximou da meia-noite,
todos estavam à espera, e o céu foi se iluminando com os belos fogos, das
mais variadas cores: amarelo, rosa, roxo, verde, que atraíam cada vez mais
olhares e elogios.
Hélio queria saber como funcionavam, como eram feitos e quais elementos
estavam presentes, quem os inventou e quando surgiram. De repente, viu
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uma luz bem forte se aproximando, não havia ninguém por perto, ele estava
em seu quarto, observando tudo pela janela. Levou um grande susto quando
algo atravessou pela janela, quase o atingiu e caiu no chão. Surpreso, viu que
era um enorme livro com muitas páginas.
A capa era grossa, de um tom avermelhado, com o título: “A história da
Química”. Ainda assustado, pegou o livro, folheou-o e começou a ler. As
páginas estavam amarelas, devia ser bem antigo. Iniciava-se com a seguinte
pergunta: “De que é formada a Terra?”
Ele ficou pensando, não sabia exatamente o que responder, então,
continuou lendo.
A Terra é composta por elementos, corpos simples e seus compostos,
como: hidrogênio, oxigênio, carbono, enxofre, magnésio, ouro, cobre,
zinco, mercúrio, potássio, ácido, hidróxidos, óxidos, sais na forma de
sulfatos, carbonatos e cloretos; nomes que indicam cada elemento e
substâncias, descobertas através da ciência (...).
A mãe de Hélio, Dona Ana, foi até o quarto do filho para desejar feliz
ano-novo, e ao deparar-se com ele lendo aquele enorme e velho livro, à meianoite e meia, achou que o filho não estava muito bem:
— Hélio, que livro é esse?
Ele não sabia como explicar, e decerto, ela não acreditaria na história;
resolveu inventar:
— Eu pedi para professora e ela me deu, fala sobre a história da Química,
como ela surgiu e todo o seu processo.
— Nossa, meu filho! Química? É um assunto muito difícil, por que você
pediu esse livro?
— É, mãe, porque eu queria aprender mais sobre Química, já que ela está
presente em tudo, nós somos feito dela, por meio das ligações entre átomos,
como também a quebra dessa ligação é uma reação que ocorre em nosso corpo.
— Quer dizer, então, que neste exato momento estão ocorrendo inúmeras
reações químicas dentro de mim?
— Sim, mãe, para que o nosso corpo mantenha nossa estrutura corporal,
dependemos da Química. Por exemplo: o crescimento de unhas e cabelos, o
desenvolvimento ósseo, a cicatrização de ferimentos, a reconstrução celular,
enfim, tudo que diz respeito à construção em nosso corpo depende das
reações químicas que absorvem energia.
— Sabe que eu nunca tinha pensado nisso antes, filho? Mas, se tudo é feito
de química, por que a moça que me vendeu o produto para alisar o meu
cabelo disse que não havia química nele?
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— Ela mentiu para você, mãe, porque não existe produto sem química,
ela quis dizer que esse produto contém substâncias químicas menos agressivas
ao cabelo.
O pai de Hélio, Antônio, havia acabado de entrar no quarto.
— Substância menos agressiva...? Sobre o que vocês estão falando?
— Sobre a Química, pai.
— Antônio, olha o livro que o Hélio pediu para a professora!
— Que livro você pediu, filho?
— A história da Química, pai.
— Que interessante! Deixe-me ver?
Hélio entregou o livro para o pai, um pouco receoso.
Ele folheou o livro, olhou com atenção algumas páginas e leu a seguinte
frase:
— “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Antoine
Laurent Lavoisier.” Quando eu estudava, ouvi essa frase e nunca me esqueci
dela; lembro de quando a professora explicou sobre a conservação da massa,
que nunca se cria nem se elimina matéria, apenas é possível transformá-la de
uma forma em outra. Meu pai, seu avô, também admirava esse enunciado
e, sem saber bem o que significava, fez questão de colocar meu nome de
Antônio em homenagem a Antoine Lavoisier.
— Que legal, pai, mas você ainda se lembra da conservação da massa?
— De pouca coisa eu me lembro... Mas, já está tarde, acho melhor você
ir dormir, para amanhã começar o ano com o pé direito, filho.
— Tá bom, boa-noite, pai, boa-noite, mãe.
Ambos responderam:
— Boa-noite, querido.
No dia seguinte, logo que acordou, Hélio estava muito agitado com todas
essas descobertas, queria compartilhar com alguém, pensou e teve uma ideia:
— Já sei! Eu vou criar um blog, aí eu posso contar tudo o que sei sobre
Química, e ainda manter contato com quem sabe mais do que eu.
Correu para o computador, e criou um blog com o nome: A Química
contada por Hélio.
O primeiro artigo a ser publicado seria:
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A história da Química
Desde a Pré-História, o homem utilizava recursos por meio da Química,
como na obtenção do fogo, atritando dois pedaços de madeira.
Na Idade Antiga, a descoberta da forma de obtenção de vidro, tecidos,
metais – como o ouro, o cobre, o chumbo –, de bebidas alcoólicas – como o
vinho e a cerveja –, dos sabões, dos perfumes e de duas ligas metálicas: o
bronze (cobre e estanho) e o aço (ferro e carvão), foram feitas pelos egípcios,
gregos, fenícios e chineses.
No antigo Egito e na Mesopotâmia, a prática da Química já era mais
avançada, com a mumificação, que conservava o cadáver por processo de
embalsamamento. Nesse processo, eram extraídas as vísceras, o que permitiu
aos egípcios descobrirem a anatomia humana. Na Grécia, houve destaque
para a defesa da constituição atômica da matéria.
Na Idade Média, passa a ocorrer a prática da alquimia, que quer dizer
Química, e que tinha por objetivos obter o elixir da longa vida; conseguir a
pedra filosofal, que permitia transformar um metal comum (ferro, cobre,
chumbo etc.) em ouro.
Tentando atingir esses objetivos, os árabes obtiveram muitas substâncias
(álcool, ácido clorídrico, ácido nítrico, ácido sulfúrico, água-régia etc.) e
construíram apetrechos químicos usados até hoje, como o almofariz e o
alambique, por exemplo.
Na Idade Moderna, no século XVII, surgiu a Química médica ou Iatroquímica. Nessa época, os químicos, liderados pelo suíço Paracelso, abandonaram as duas metas alquimistas e passaram a descobrir substâncias (remédios)
que curavam doenças.
A Química tornou-se uma ciência exata no final do século XVII. O químico
Lavoisier descobriu que, durante as transformações químicas e físicas, ocorre
a conservação da matéria, ou seja, na natureza nada se cria e nada se perde,
tudo se transforma. Iniciava-se o método científico, que estuda os porquês,
as causas dos fenômenos.
A Química tecnológica teve início a partir da Primeira Guerra Mundial e
ganhou impulso na Segunda Grande Guerra.
Graças à Química tecnológica puderam ser construídos aparelhos que
permitem a execução das teorias e também a descoberta de centenas de novas
substâncias por dia, muitas das quais são importantes para a humanidade.
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Hélio estava satisfeito com o texto escrito e o recomendou para vários
amigos que estavam online.
Ouviu sua mãe chamando e foi até a cozinha, a televisão estava ligada e
nela se falava sobre a primeira mulher presidente no Brasil.
Dona Ana ainda fez um comentário:
— É, agora ela terá que enfrentar o preconceito por parte dos homens e
tomara que ela faça um bom governo.
Hélio, como sempre curioso, lembrou de mais uma coisa:
— Mãe, e na ciência? Quem foi a primeira cientista?
— Sobre esse assunto eu não sei muito, mas outro dia, eu li um artigo que
falava que a primeira mulher a ganhar o prêmio Nobel de Física, em 1903,
foi Marie Curie.
— Pronto, achei mais um assunto para pesquisar e publicar no meu blog.
— Que blog filho?
— Eu criei hoje, mãe, chama-se A Química contada por Hélio.
— Interessante, depois eu vou dar uma olhada.
— Ok, agora vou continuar lendo aquele livro de Química, mãe. Até mais.
— Até mais, querido.
Hélio teve tanta sorte que, ao pegar o livro, achou justamente a parte em
que falava sobre a contribuição das mulheres na Química; leu toda a matéria,
e foi postar um comentário referente ao assunto no seu blog.
A Química das mulheres
As ciências exatas eram quase exclusivamente praticadas apenas pelos homens,
mas muitas mulheres contribuíram para a formação dessa ciência, como, por
exemplo, Madame Lavoisier, esposa de Antoine Lavoisier, que o auxiliava e
ilustrava as experiências, e que fez traduções de obras científicas extremamente importantes. Logo depois da morte do marido, publicou Memoires
de Chimie (Memórias da Química, 1803), cuja autoria principal era de
Antoine Lavoisier. Desde 1901, apenas três mulheres receberam o prestígio
de ganhar o prêmio Nobel, que foram Marie Curie, sua filha Irène JoliotCurie, e Dorothy Hodgkin, que possuíam vários pontos em comum, como,
por exemplo: tiveram interesse pela ciência desde cedo, cresceram em um
ambiente bem estimulante, devido às atividades exercidas por seus pais e
amigos, o que demonstra a influência da vocação.
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Marie Slodowska Curie recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1903, junto
com seu marido Pierre e Henry Becquerel, em razão de suas pesquisas em
radioatividade (neologismo introduzido pela própria Marie), e o Prêmio
Nobel de Química de 1911 lhe foi concedido pelos serviços prestados ao
avanço da Química, pela descoberta dos elementos rádio e polônio. Marie foi
a primeira mulher a se tornar professora na Sorbonne, e também a primeira
cientista a receber dois prêmios Nobel.
Irène Joliot-Curie recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1935, em
reconhecimento por sua síntese de novos elementos radioativos, feita ao
bombardear alumínio com partículas alfa. Foi nomeada chefe da “section
chimie” (seção química) da Comissão Francesa de Energia Atômica, em
1946.
Dorothy Mary Crowfoot Hodgkin recebeu o Prêmio Nobel de Química em
1964, por seus trabalhos na determinação estrutural de várias moléculas
biológicas, entre elas a vitamina B12 e a penicilina, tendo também determinado a estrutura da insulina (Jeffery, 1964). Envolveu-se ativamente em
campanhas pela paz e pelo desarmamento e foi presidente da Conferência
Pugwash sobre ciência e assuntos mundiais, nos anos 70.
Por mais que suas descobertas auxiliassem nos estudos da Química, elas
tiveram que encarar muitos obstáculos, não apenas para realizar seus estudos,
mas também para divulgá-los.
Ainda com esse assunto em mente, Hélio ficou pensando: “por que será
que existe preconceito contra as mulheres, mesmo sabendo que elas estão
presentes em todas as áreas, principalmente no poder, como no Brasil, onde
é uma mulher que governa o país?”
Hélio começou a sentir dor de cabeça e foi procurar sua mãe:
— Mãe, estou com dor de cabeça, tem algum remédio para eu tomar?
— Tem, sim, filho, pega lá no armário, é o da caixa amarela.
— Obrigado, mãe. Como será que este comprimido faz sarar a dor que
estou sentindo?
— Que tal meu pequeno cientista desvendar esse mistério?
— Ótima ideia, mãe.
Hélio foi ao seu quarto, ligou o computador e pesquisou sobre o assunto,
depois procurou sua mãe para lhe contar.
— Mãe, descobri! Quando nós ingerimos o remédio, ele chega ao nosso
estômago, as enzimas o digerem, sendo absorvidas e, entrando na corrente
sanguínea, vão para o intestino, ocorrendo a absorção da maior parte do
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princípio ativo, quando são levadas até o exato ponto onde elas precisam agir
através das veias.
— Nossa, Hélio, cada dia você me surpreende mais.
— Agora eu vou pesquisar sobre a sua origem.
Hélio publicou mais um artigo em seu blog, falando sobre a evolução da
Química.
A evolução da Química para o bem-estar da população
O conhecimento da química, desenvolvido durante esses cem anos, foi bem
maior do que toda a história anterior.
Todo o conforto que possuímos deve-se à Química, como, por exemplo, os
automóveis, os computadores, as máquinas de lavar louças, os sabonetes
hidratantes, os remédios e os colchões ortopédicos.
Atualmente, podemos notar que estamos cercados por plásticos e eles estão
presentes nos utensílios domésticos, nos automóveis, nas embalagens e até
mesmo nas roupas; não conseguimos mais viver sem ele.
Os plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares chamadas polímeros, que, por sua vez, são formadas por moléculas
menores denominadas monômeros, produzidos por meio da polimerização.
O primeiro polímero sintético foi produzido em 1907.
Alguns polímeros foram realmente importantes no decorrer da história. A
polimerização do N-vinilpirrolidona foi utilizada durante a Segunda Guerra
Mundial, quando os alemães usaram soluções salinas do polímero como um
substituto do plasma sanguíneo nos soldados feridos de suas tropas. O PVP
- poli (vinilpirrolidona) possui um baixo grau de toxicidade e tem sido utilizado
também em cosméticos, adesivos, indústria têxtil, lentes de contato, e numa
variedade de fármacos, incluindo a manufaturação de materiais microencapsulados.
O plástico é responsável por grandes avanços e traz uma série de benefícios
na sociedade moderna, mas não se pode negar os problemas ambientais que
as embalagens plásticas têm trazido ao mundo moderno, nem negar a discussão
ambiental em torno do tema. A maioria dos plásticos é reciclável e a sua
reciclagem representa, além de uma atividade ecologicamente correta, um
incremento na economia.
A Química também foi muito importante na área da medicina: desde tempos
remotos, o homem utilizava o poder de várias plantas para a cura de doenças.
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Hoje, são realizadas pesquisas com substâncias com provável atividade
biológica; o conhecimento da relação entre estrutura química e atividade
biológica é um dos objetos de estudo da área de Química medicinal. Por
meio da Química orgânica foi possível não só criar análogos sintéticos e
derivados, mas também “criar” substâncias totalmente inéditas, que vieram a
se tornar fármacos. A Química está presente em todos os medicamentos; sem
ela, os cientistas não poderiam sintetizar novas moléculas, que curam doenças
e fortalecem a saúde humana. Ela também é importante na produção de
matérias-primas específicas para a medicina, como válvulas cardíacas, próteses
anatômicas, seringas descartáveis, luvas cirúrgicas, recipientes para soro, tubos
flexíveis e atóxicos e embalagens para coleta e armazenamento de sangue.
Esses são apenas alguns dos exemplos dos produtos de origem química que
revolucionaram a Medicina.
As férias de Hélio já estavam acabando. Era o último final de semana de
folga, pois, logo voltaria à rotina, e ele estava ansioso, porque adorava estudar,
queria rever todos os seus amigos, conhecer os professores novos, saber se o
segundo ano do Ensino Médio era realmente difícil como sua mãe falava;
enfim, estava com saudades da escola.
Para aproveitar aquela tarde de sábado, resolveu andar de bicicleta no
parque da cidade. Era um lugar bem agradável, com muitas árvores, flores e
pássaros. Quando se aproximou do local, viu que havia várias pessoas
assistindo a uma palestra, em pleno ar livre. Ele, curioso, encostou a bicicleta
e foi ver o que era. Algumas pessoas estavam em círculo, e no meio, havia um
homem, o palestrante, e em sua camisa, estava escrito Química Verde.
Hélio, logo que viu isso, interessou-se pelo assunto, e teve sorte, porque
a palestra ia começar naquele exato momento. Então, o homem começou:
— Boa-tarde, eu me chamo Carlos, curso Química na Universidade de
Campinas (UNICAMP) e estou aqui para divulgar um projeto que estamos
desenvolvendo, pois ele é importante para o conhecimento de todos. Alguém
imagina do que se trata?
Todos estavam curiosos, ninguém sabia nada exatamente sobre o assunto,
até que uma jovem disse:
— Eu imagino que seja sobre a Química no bem-estar da natureza e das
pessoas, pois na sua camiseta está escrito Química Verde.
— Qual é o seu nome?
— Bia.
— Muito bem, Bia, você acertou. O projeto é sobre a Química Verde,
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também conhecida como Química Sustentável. Eu vou contar um pouco
sobre sua história e influência no mundo. Ela foi criada há cerca de dez anos
nos Estados Unidos pela Environmental Protection Agency (EPA), a agência de
proteção ambiental de lá, em conjunto com a American Chemical Society
(ACS) e o Green Chemistry Institute. Este projeto vem despertando o interesse
de organizações governamentais e não governamentais de vários países. Na
Europa, Japão e Estados Unidos, foram criados, inclusive, prêmios para
incentivar pesquisadores de Indústrias e Universidades a desenvolverem
tecnologias empregando os princípios da Química Verde. Desde 1996, quando
o Presidential Green Chemistry Awards foi criado nos Estados Unidos, mais de
uma dezena de Corporações e Investigadores foram premiados. Na Europa,
a Royal Society of Chemistry (RSC), com o apoio de setores industriais e
governamentais, instituiu, em 2001, o U.K. Green Chemistry Awards, para
premiar empresas e jovens pesquisadores que desenvolveram processos
químicos, produtos e serviços que conservaram um ambiente mais sustentável,
limpo e saudável.
Hélio estava adorando aquela palestra, pois era exatamente o assunto de
que ele gostava: Química.
— Agora que vocês já conheceram um pouco de sua história, sabem me
dizer exatamente quais são os seus princípios?
Antes que alguém respondesse, Hélio levantou o braço.
Carlos olhou para ele e perguntou:
— Qual o seu nome?
— Meu nome é Hélio.
— Então pode responder, Hélio. Você sabe quais são os principais
objetivos da Química Verde?
— Sim, seus principais objetivos são criar produtos que reduzem as substâncias tóxicas, proporcionando um ambiente mais sustentável.
— Parabéns, Hélio, pelo visto você já sabia sobre esse assunto? Ou prestou
atenção na palestra?
— Prestei atenção na palestra.
— Que bom, de fato seu nome combina com você.
— Por quê?
— Porque ambos estão ligados à Química.
Todos que prestavam atenção riram. Então Carlos continuou.
— Mas, voltando ao assunto: a Química Verde pode ser definida como a
utilização de técnicas químicas e metodologias que reduzem ou eliminam o
uso de solventes e reagentes ou a geração de produtos e subprodutos tóxicos,
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que são nocivos à saúde humana ou ao ambiente. Ao longo dos anos, os
princípios da Química Verde têm sido inseridos no meio acadêmico, em
atividades de ensino e pesquisa, ou seja, criando produtos que reduzam as
substâncias tóxicas, proporcionando um ambiente mais sustentável, como
disse o Hélio, estamos desenvolvendo muitas pesquisas para obtermos bons
resultados.
Todos aplaudiram e a palestra havia terminado. Hélio ficou, porque queria
conversar com Carlos.
— Carlos? Você está ocupado?
— Oi, Hélio. Não, pode falar.
— É que eu adoro assuntos sobre Química e gostaria de conversar com
você.
— Claro, o que você quer saber?
— Eu gostaria de saber sobre essas pesquisas que vocês estão realizando na
faculdade.
— Já sei, que tal você ir até lá, aí você conhece a universidade, eu te
apresento todo o setor de química e as pesquisas realizadas.
— Sério? Eu posso?
— Pode, sim. Eu vou deixar um cartão com você, com o número do meu
celular e o meu e-mail, então, quando der para você ir lá conhecer, me liga.
— Nossa, muito obrigado, pode ter certeza de que eu vou, sim.
— Que bom, tem mais alguma pergunta?
— Perguntas eu tenho várias, mas vou deixar para fazer quando eu for lá
conhecer a universidade.
— Então, até mais.
— Até, tchau.
Hélio estava muito feliz, tinha recebido uma grande oportunidade para
conhecer mais sobre a Química. Aproveitando que estava desocupado, foi
dar uma volta no parque todo.
Na segunda-feira, a rotina voltou novamente. Acordou às 6h15, e depois
foi para a escola. Encontrou com todos os seus amigos, tinham vários assuntos
para conversarem, mas o sinal já havia tocado. A terceira aula era de Química,
e como era a primeira aula do ano, a professora aproveitou para conversar
com os alunos:
— Bom-dia, classe, como foram as férias? Meu nome é Maria e eu tenho
ótimas novidades para contar para vocês. Nessa aula, vamos discutir sobre
Química.
— Então, nós só vamos ficar conversando sobre a Química? — perguntou
um aluno que sentava na primeira carteira. A professora Maria respondeu:
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— Sim, durante as férias, eu participei de vários cursos de capacitação de
química, que falavam em como melhorar o ensino dessa disciplina e fazer
com que os alunos despertassem o interesse em pesquisar e descobrir este
assunto, e também de estratégias para que o professor diversificasse suas aulas.
E novamente o aluno da primeira carteira perguntou:
— Como a senhora vai fazer isso?
— Com pesquisas na internet. Como eu não entendia muito bem esse
assunto, tive algumas aulas com minha filha, que me ensinou informática,
mas vou aprender muito mais com vocês, pois de que adianta a escola ter
todos os equipamentos, se nem todos os professores sabem utilizá-los? É
muito importante que todos saibam, pois as tecnologias, desde que utilizadas
de forma adequada, de modo contextualizado, além de enriquecerem o processo de ensino-aprendizagem, despertam o interesse no aluno.
Hélio estava muito animado com a nova proposta da professora e perguntou a ela:
— Professora, a senhora realizará experiências também?
— Claro, Hélio, pois assim como você, há muitos alunos interessados em
vivenciar experiências no laboratório, pois se sentem mais próximos da
Química. Vou realizar também mais aulas práticas, pois ajudam na compreensão de teorias estudadas em sala de aula; e no laboratório vocês conhecerão
os equipamentos e suas utilizações. E vou convidar especialistas na área para
fazer palestras em nossa escola.
Paula, que era uma das melhores alunas da sala, perguntou:
— Mas, professora, por que só agora a senhora vai começar com esse novo
método de ensino? Por que não começou antes? E as outras professoras?
Também irão aderir a esse novo método?
— Olha, Paula, eu tentei convencer todos os professores a aderirem a esse
método, mas muitos preferiram continuar com seu método tradicional de
ensino, pois as mudanças acontecem devagar, não de um dia para o outro.
— Sim, professora, esse é o problema. Nós estudamos em uma escola
pública, onde o ensino é muito precário, faltam recursos para os professores
e, é claro, nem se compara com uma escola particular; sabemos que existem
professores ótimos como a senhora, que têm vontade de ensinar, se esforçam,
querem que nós aprendamos, como também há aqueles que não gostam da
profissão. Como vamos ser motivados a aprender?
Nesse momento, todos ficaram quietos, então a professora continuou:
— É por isso que estou em busca de novas técnicas, para melhorar o
ensino e incentivar todos os professores.
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— Espero que a senhora consiga obter ótimos resultados, concluiu Paula.
Então, a professora se lembrou de mais um assunto:
— Sabiam que este é o Ano Internacional da Química?
Vários alunos perguntaram:
— Ano Internacional de Química?
— Isso mesmo. E eu também quero desenvolver um projeto sobre esse
tema com vocês, que envolva tanto o conhecimento escolar quanto o do dia
a dia e o de outras disciplinas.
Outro aluno falou:
— Nossa, que complicado!
— Quando nós estivermos realizando o projeto, você verá que é simples.
Assim, espero que vocês aprendam todo o conteúdo, e que possam explicar
corretamente a quem se interessar.
Nesse exato momento, o sinal bateu.
— Então, alunos, espero que vocês estejam animados para as próximas
aulas de Química. Qualquer dúvida ou curiosidade sobre a matéria, é só
perguntar. Até mais!
Quando Hélio chegou em casa, seu pai estava na sala lendo um jornal. Ao
ouvir o filho chegar, chamou-o:
— Hélio, faz favor.
— O que foi pai?
— Hoje eu fui à banca e comprei uma revista para você, filho. Está aí no
sofá, achei que você deveria saber sobre o assunto.
Ao pegar a revista, Hélio já se entusiasmou ao ler a capa.
— Pesquisas envolvendo a Química para a solução dos problemas
globais. Muito obrigado, pai! Mais um assunto muito interessante para eu
aprender!
Hélio começou, então, a ler, e uma das primeiras matérias falava sobre a
água.
A água é a substância química mais abundante no planeta, cobre 70% da
superfície da Terra, sendo que 97% são salgadas, e 3% potáveis, dos quais
mais de dois terços fica em geleiras, o que inviabiliza seu uso, ou seja, 0,4%
da água existente na Terra está disponível para atender às nossas necessidades.
É uma porcentagem muito pequena, e, sem a Química, seria impossível
assegurar à população o abastecimento de água, pois é por meio dos
processos químicos que a água fica potável, própria para o consumo.
Mas como será que isso acontece?
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O dióxido de cloro, que é o mais seguro e poderoso oxidante disponível,
é utilizado para oxidar detritos e destruir microrganismos. O cloreto de
ferro e o sulfato de alumínio os absorvem e precipitam a sujeira em
suspensão, eliminando também cor, gosto e odores. O carbono ativo
retém micropoluentes e detergentes. A soda e a cal neutralizam a acidez
da água. É a indústria química que fornece todos esses e outros produtos,
permitindo ao homem continuar a usufruir de uma substância essencial
à vida: água pura e saudável.
A matéria ainda não tinha terminado, mas D. Ana pediu que Hélio fosse
almoçar.
Ele, então, se lembrou da importância da Química nos alimentos:
— Mãe, você já imaginou a quantidade de alimentos para abastecer o
mundo inteiro?
— Meu filho, deve ser uma quantidade muito grande, mas por que você
quer saber?
— É que a revista que o pai comprou fala sobre isso, e eu não havia
pensado nisso antes. Imagine a importância da Química para alimentar as
pessoas...
— E a qual conclusão você chegou, querido?
— Que necessitamos de uma enorme quantidade de alimentos, ou seja,
maior quantidade de plantação, e, com isso, o solo acaba empobrecendo. As
chuvas, ventos, queimadas e constantes colheitas retiram nitrogênio, fósforo,
potássio e cálcio da terra, que são importantes para manter a sua produtividade.
D. Ana, que já sabia um pouco do assunto, complementou:
— Portanto, a Química é importante, porque é por meio dos produtos
químicos que fertilizam a terra, conservando e aumentando o seu potencial
produtivo.
— Isso mesmo, mãe. Sem os fertilizantes químicos, as áreas esgotariam ou
ficariam impróprias para a agricultura, sendo abandonadas, diminuindo a
produção de alimentos. Aí, seria preciso ampliar novas áreas agrícolas, reduzindo as reservas de matas e florestas.
— E os defensivos químicos utilizados pelos agricultores garantem a
qualidade dos alimentos, a produtividade das plantações e evitam a
disseminação de doenças. Na pecuária, os medicamentos veterinários preservam a saúde dos rebanhos, evitam epidemias e aumentam a produtividade.
— Ou seja, a Química é fértil em soluções que possam ajudar o homem
a vencer a escassez dos alimentos — concluiu Hélio, mas Antônio logo veio
com a seguinte pergunta:
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— Mas, meu filho, você não acha, que esses milhares de produtos químicos também podem fazer mal, além de poluir o ar e os rios?
— Isso é verdade, pai, na revista que você comprou para mim tem um
artigo que fala exatamente sobre isso. As indústrias estão investindo em
equipamentos de controle, sistemas gerenciais e processos tecnológicos para
reduzirem os acidentes ecológicos, já que a fabricação de produtos químicos
envolve riscos. Desse modo, as indústrias passam a emitir menos efluentes,
controlam os resíduos e melhoram a qualidade de vida e a segurança no
trabalho.
— Ainda bem que eles se preocupam com isso.
— E tem mais, pai. Sabia que todo o ciclo de um produto químico é
analisado para evitar qualquer risco ao meio ambiente, mesmo quando a
embalagem é descartada pelo consumidor? E os resíduos ainda são tratados
até se tornarem inertes. Isso tudo é realizado por meio de equipamentos
sofisticados de controle ambiental, e muitas empresas contam com equipes
capacitadas para agirem em caso de acidentes com produtos químicos,
evitando riscos ao homem e ao meio ambiente. A Indústria química está
investindo cada vez mais em pesquisas para encontrar meios de evitar emissão
de poluentes na natureza.
— Nossa, Hélio, você está cada vez melhor. Estou vendo que, daqui a
uns anos, terei um ótimo cientista em casa.
— Obrigado, pai.
Assim que terminou de almoçar, Hélio foi até seu quarto, ver seu blog.
Tinha recebido um novo comentário; era de um químico que achou interessante as matérias publicadas e sugeriu que ele pesquisasse sobre o desenvolvimento econômico da Química.
O comentário desse químico deixou-o muito animado. Ele foi pesquisar
sobre o assunto e encontrou um artigo e resolveu publicar.
Aplicação econômica da Química
A Química está na base do desenvolvimento econômico e tecnológico, da
siderurgia à indústria da informática, das artes à construção civil, da agricultura à indústria aeroespacial, não há área ou setor que não utilize em seus
processos ou produtos algum insumo de origem química.
A indústria química possui um alto grau de desenvolvimento científico e
tecnológico, transformando os elementos presentes na natureza em produtos
úteis ao homem, como, por exemplo, na formulação de medicamentos, na
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geração de energia, na produção de alimentos, na purificação da água, na
fabricação de bens, como automóveis e computadores, na construção de
moradias e na produção de uma infinidade de itens, como roupas, utensílios
domésticos e artigos de higiene que estão no dia a dia da vida moderna.
A expectativa é de que, em 2020, ocorra maior crescimento econômico, por
meio do investimento em produtos químicos de uso industrial como nos
demais segmentos químicos (adubos e fertilizantes, defensivos agrícolas,
fibras artificiais e sintéticas, higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, produtos de limpeza, produtos farmacêuticos e tintas, esmaltes e vernizes), impulsionando a demanda de produtos químicos, substituindo as importações e
aumentando as exportações, de modo a reverter o déficit comercial observado
na balança de produtos químicos.
Desenvolvendo uma indústria química de base renovável, investindo na
Química Verde, área em que o Brasil poderá se dar bem, classificando-se
entre um dos maiores do mundo, tornando-se um país superavitário em
produtos químicos e líder neste setor. Mas para que tudo isso ocorra, é necessário bastante inovação, pesquisas e desenvolvimento tanto de novos produtos como de processos avançados, junto com instituições educacionais e de
ciência e tecnologia, gerando-se um conjunto de conhecimento e estruturas
com potencial para contribuir em projetos.
Assim, a indústria química pode propiciar soluções para as mais diversas áreas
econômicas e sociais, do consumo das famílias ao investimento habitacional,
das novas áreas de matérias-primas renováveis às novas fontes de energia.
Hélio estava satisfeito: mais um assunto pesquisado e publicado. Em
seguida, ele ouviu a campainha tocar e foi ver quem era, mas sua mãe já havia
atendido a porta. Era sua vizinha do andar de cima, chamada Maria.
— Filho, venha aqui – disse D. Ana.
— Boa-tarde, D. Maria, tudo bem?
— Boa-tarde, jovem, estou bem, obrigada.
— Filho, a D. Maria disse que perdeu um livro de química de várias
páginas e a capa é vermelha. Será que você pode me explicar direitinho a
respeito daquele livro que você ganhou?
Hélio estava nervoso, não sabia exatamente o que dizer.
— E então, Hélio, você vai me explicar ou não?
— Mãe, eu menti para você, eu não ganhei da professora, mas eu também
não peguei de ninguém, ele simplesmente apareceu na janela do meu quarto,
achei muito estranho.
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— Hélio, fala a verdade.
— Mas eu estou falando a verdade, mãe. Eu tinha inventado aquela
história que havia emprestado da professora porque sabia que, se eu falasse a
verdade, você não iria acreditar.
A vizinha, que estava vendo toda a cena, disse:
— Dona Ana, eu acho que o Hélio está dizendo a verdade, a última vez
que eu vi o livro, ele estava nas mãos do meu neto, que, com certeza, deixou
na sacada; ele caiu e foi parar no quarto do Hélio.
— Nossa que confusão! Hélio, vá lá buscar o livro da D. Maria.
Hélio estava triste, iria perdeu o livro que para ele significava muito, ainda
havia muitos textos que não tinha lido.
— Aqui está o livro, desculpe-me por ter mentido e causado todo esse
constrangimento.
— Não foi nada, querido, eu só estou procurando esse livro, porque meu
neto está precisando. Ele vai apresentar um trabalho de Química na escola,
e queria o livro, porque fala sobre muitos assuntos.
— Tudo bem, D. Maria, eu agradeço muito. Esse livro despertou-me um
grande interesse pela Química. Eu até criei um blog sobre esse assunto.
— Que bom, Hélio, fico muito feliz em saber que o livro te ajudou. Agora
preciso ir, apareça lá em casa, pois eu tenho muitos livros que tratam deste
assunto. Quem sabe você se interesse e acrescente ao seu blog.
— Pode deixar, D. Maria, eu vou lá, sim, obrigado.
Dona Maria se despediu, foi embora com o livro, e Hélio ficou muito
chateado.
Algumas semanas depois, D. Maria aparece novamente na casa de Hélio.
— Olá, Hélio, como você está, querido?
— Bem, obrigado, D. Maria, e a senhora, como está?
— Estou bem. Tenho uma novidade para você.
— Qual?
— Como você disse que se interessa muito pelo estudo de Química, vim
convidar você para a apresentação do trabalho do meu neto. Eles estão
comemorando o Ano Internacional da Química. Haverá várias apresentações,
e eu gostaria de saber se você está interessado em ir.
— Mas é claro que estou, muito obrigado pelo convite, D. Maria.
Eles foram juntos e, ao chegarem lá, a primeira sala que Hélio avistou
estava toda enfeitada com imagens de planetas, estrelas, satélites, cometas e
meteoros, com uma faixa em que estava escrito A Química do Cosmo. Era
a sala em que o neto de Dona Maria, o Matheus, estava. Eles entraram para
ver a apresentação.
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Havia, em cima de uma mesa, a exposição de um objeto semelhante a um
meteoro. Matheus, então, iniciou apresentação:
— Boa-tarde, meu nome é Matheus. Como 2011 foi o ano marcado
como o Ano Internacional da Química, estamos realizando esse trabalho para
mostrar para vocês o quanto ela é importante e aumentar o conhecimento
nessa área, já que muitos a julgam uma matéria muito complexa. Acho que
vocês já perceberam que eu vou falar um pouco sobre a Cosmoquímica, que
é uma ciência que estuda as composições químicas dos astros, como estrelas,
planetas e satélites. O pesquisador norte-americano Donald Clayton a define:
“É a ciência que mede as propriedades da evolução química da galáxia,
mediante o estudo de meteoritos nos laboratórios terrestres.”
Clayton se referiu ao meteorito, porque ele é o produto final de diversos
objetos, que, por sua vez, foram capazes de guardar em suas “memórias”
diferentes momentos da história que levaram à formação do sistema solar,
permanecendo neles as características relativas ao ambiente em que eles se
formaram. Não acham interessante?
Portanto, a Cosmoquímica tem o papel de extrair desses mensageiros do
cosmo a informação para se entender a evolução da galáxia, que envolve
também assuntos relacionados à Astrofísica, Física, Astrobiologia e Geologia.
Sabem como fazemos para determinar os elementos químicos do Sol? Isso
se faz por meio da fotosfera solar, a camada da estrela onde tem origem a
radiação visível, que fornece informações confiáveis. O Sol representa 99,9%
da matéria do sistema solar, portanto, uma boa análise da composição global
do Sol é tudo do que precisamos para determinar uma média da abundância
dos elementos químicos do sistema solar.
E sabem qual é a coincidência entre os meteoritos e o Sol? É o tipo de
meteorito condrito. Ele está entre os meteoritos mais primitivos e possui uma
composição quase idêntica à da fotosfera solar, portanto o estudo dele
permite determinar a composição química do Sol com base na análise de
rochas em laboratórios terrestres.
Hélio estava completamente fascinado pela Química, passou uma maravilhosa tarde na escola assistindo às apresentações.
Quando voltou para casa, Hélio, na expectativa da publicação de novos
assuntos, havia recebido um e-mail do Carlos, convidando-o para participar
do grupo de pesquisas sobre Química, da UNICAMP.
Hélio ficou muito feliz, pois era uma excelente oportunidade para seguir
a carreira que tanto almejava e, quem sabe, seria o mais novo cientista do
século, a descobrir algo que beneficiasse as pessoas, e até o planeta.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É por meio de histórias como essa que passamos a observar e descobrir o
que realmente nos cerca, e que tudo possui uma história e curiosidade a seu
respeito; basta pesquisarmos e saberemos sobre sua evolução; assim, concluímos
que o presente só existe por causa do passado.
As oportunidades que se abrem para a descoberta de novos cientistas são
a esperança de milhares de pessoas que estão em busca de pesquisas para
descobrir a cura de várias doenças, para encontrar uma maneira de evitar a
poluição, solucionar os problemas relacionados ao meio ambiente e proporcionar melhores condições de vida para toda a população.
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MENÇÃO HONROSA
A QUÍMICA NA
NOSSA MESA
Estudante: Ingryd Rodrigues dos Passos, 17 anos,
estudante do 2º ano do ensino médio
Professor-orientador: Roberto Fortunato Donato
Externato Santa Terezinha - Araraquara, SP
RESUMO
É difícil pensar o tempo todo que a Química está em absolutamente tudo
– e não apenas nos laboratórios. É preciso entender que ela nos rodeia e que
pode fazer tanto bem quanto mal para nós, dependendo da forma como é
utilizada. Neste trabalho, constam informações acerca da presença da
Química na alimentação humana, principalmente de quem vive nas cidades
e está acostumado a consumir uma variedade de alimentos que contém
substâncias adicionadas (artificiais ou não), com o fim de melhorá-los nos
aspectos de conservação, sabor, cheiro, forma etc. Logo, será visto que, além
dos enlatados, congelados, embutidos, há manejo químico também em
frutas, legumes, vegetais e carnes. Como já foi mencionado, esse manejo traz
benefícios ao consumidor, como poder estocar comida por um bom tempo
ou ter a praticidade de fazer algo agradável de se comer imediatamente –
benefícios necessários na agitada vida contemporânea; entretanto, também
traz malefícios, como problemas de saúde. Aqui, serão decifrados os significados das palavras enigmáticas mais presentes nos rótulos, como os conservantes, acidulantes, flavorizantes, emulsificantes, estabilizantes, entre outros,
em quais alimentos mais aparecem e algumas possíveis consequências para a
saúde humana. Também abordará o uso de agrotóxicos e o modo como o
excesso destas substâncias pode afetar negativamente o solo, a água, os
animais e os seres humanos.
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INTRODUÇÃO
A Química está presente em vários aspectos da nossa vida e, desde os
primeiros estudos, nós a temos cada vez mais inserida no nosso cotidiano. Ela
está presente no nosso carro, no trabalho, na nossa casa, nas fábricas, nas
lojas, em uma infinidade de composições e reações que o homem soube
adaptar para que contribuíssem, entre outras coisas, para o bem-estar das
populações.
A vida contemporânea fez com que consumíssemos cada vez mais alimentos
industrializados – a rotina agitada, aliada à longa vida útil, facilidade e
praticidade desses alimentos, que já vêm prontos ou semi-prontos para o
consumo, permitiram que estes estivessem mais presentes no nosso cardápio.
Os alimentos processados recebem uma série de aditivos e complementos,
podendo ser naturais, retirados de plantas e animais, ou artificiais, produzidos
em laboratório. Existem hoje mais de 2.500 tipos de aditivos químicos, com
diversas funções, mas tudo começou com um único intuito: conservar os
alimentos por mais tempo. Longe das indústrias, também há o uso da
Química se estendendo às plantações, como pesticidas e fertilizantes, para o
máximo aproveitamento das colheitas.
DESENVOLVIMENTO
“No universo nada é sem vida e tudo o que vive se alimenta.”
Savarin, em 1825
UM POUCO DE CONTEXTO HISTÓRICO
Desde sempre o ser humano teve a necessidade de conservar os alimentos:
havia dias nos quais a caça não era satisfatória, épocas de escassez; além disso,
muito do que conseguiam estocar se perdia e o que restava ainda se estragava
com facilidade.
A descoberta do fogo foi o fator crucial para que surgissem os primeiros
métodos de conservação dos alimentos, cujo princípio era a desidratação: o
homem primitivo percebeu que queimar os alimentos, bem como apenas
deixá-los perto do fogo, fazia-os durar por mais tempo.
Enquanto isso, os povos que viviam nas regiões mais geladas do planeta
notaram que proteger seus alimentos de outros predadores debaixo do gelo
retardava a sua deterioração. Foi uma descoberta e tanto, uma vez que o clima
frio favorecia a escassez de comida.
Conta-se que os fenícios já defumavam alimentos, os egípcios os salgavam,
os indígenas (que viviam no território que hoje corresponde ao Brasil), depois
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de cozinhar as carnes, mergulhavam-nas na própria banha do animal; a
fermentação de frutas e cereais deu origem à produção de vinho e cerveja –
e tudo isso foi descoberto e utilizado com o mesmo propósito: fazer a comida
durar por mais tempo.
Essas técnicas foram aperfeiçoadas com o decorrer do tempo, mas, mesmo
assim, precisava-se de mais. No início do século XIX, o governo francês
ofereceu um prêmio a quem apresentasse um novo modo de conservar a
comida. Foi então que Nicolas Appert levou a melhor. Em 1809, Appert
descobriu que embalar, a vácuo, alimentos já esterilizados fazia com que
ficassem por mais tempo conservados – nasciam os enlatados. Logo depois
vieram os engarrafados, com Peter Durant, em 1810.
OS BASTIDORES DAS PRIMEIRAS TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO
Tudo o que foi dito até aqui foi usado pelos povos, porém sem o conhecimento exato do que ocorria em tais processos, para que conservassem os
alimentos.
Quando aqueles povos perceberam que o gelo fazia a carne durar mais,
não sabiam que isso acontecia porque as bactérias e os microrganismos têm
seu metabolismo reduzido em baixas temperaturas. Do mesmo modo,
também não sabiam que a secagem e a salga1 se mostravam eficientes porque
retiram a água da carne, o que impede a proliferação de microrganismos. Já
a defumação funcionou porque impede o ranço da gordura. E quanto a
mergulhar a carne em banha ou parafina? Ora, estes acabam atuando como
uma barreira contra o ar, de forma que bactérias aeróbias não podem
sobreviver.
Você sabia que os primeiros derivados do leite nasceram da necessidade de
conservá-lo? Como o leite estragava com facilidade, criavam receitas que o
utilizassem, a fim de evitar o seu desperdício. Vieram daí a manteiga, os
iogurtes e os queijos.
Choque térmico: a pasteurização
Louis Pasteur, em 1864, deu origem ao processo de pasteurização, usada principalmente na produção de leite. Consiste em elevá-lo a alta temperatura,
como 60º C, em que bactérias não possam sobreviver, e logo após resfriá-lo,
para o caso de ainda haver microrganismos. Em seguida, o leite é embalado.
1. O sal é um agente higroscópico, ou seja, absorve umidade.
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O CENÁRIO INDUSTRIAL: E QUE VENHAM OS ADITIVOS!
Há alguns fatores que tornaram necessário o uso de aditivos aos alimentos.
A partir do século XIX, enquanto acontecia uma intensa urbanização e
industrialização na Europa e nos Estados Unidos, houve também um surto
demográfico. Era necessário, portanto, que a produção de alimentos tivesse
escala industrial.
Com o desenvolvimento da Química e sua inserção na indústria, já se
podia conservar os alimentos desde a fábrica até o consumidor e, mais do
que isso, guardá-los no armário ou na geladeira, sem a preocupação de que
fossem estragar logo.
Com o aperfeiçoamento da indústria de alimentos, surgiu uma feroz
concorrência sobre qual produto agradava mais o consumidor. A necessidade,
neste momento, já não era mais apenas conservar, mas também deixar os
alimentos mais gostosos e atrativos. É natural que o consumidor associe à
cor ou à textura do alimento sensações de sabor e acabe levando para casa o
que lhe parece mais agradável.
Modificar os alimentos dessa forma foi possível graças ao uso de aditivos
químicos e naturais, hoje largamente utilizados pela indústria alimentícia.
Os tipos de aditivos mais utilizados e suas funções podem ser observados
na tabela 1.
Tabela 1 – Principais aditivos e suas funções
Tipo Aditivo
Função
Exemplos
Onde Encontrar
Acidulante
Dar acidez;
conservar
Ácidos: cítrico,
fosfórico e láctico
Refrigerantes,
doces
Antioxidante
Impedir a ação do Ácido ascórbico,
oxigênio
BHA, BHT, EDTA,
galato de propila
Queijos, margarinas, comidas à
base de peixe, aves
ou carne
Antiumectante
Tirar a umidade
Fermento químico
Aromatizante/
flavorizante
Dar ou
Buterato de etila,
intensificar sabor benzaldeído, acetato
e/ou aroma
de etila
Doces, refrigerantes, biscoitos,
salgadinhos
Conservante
Conservar
Margarinas,
carnes, pães,
farinhas
Carbonato de cálcio
Ácidos: benzoico e
sórbico, dióxido de
enxofre, nitritos,
nitratos
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Tabela 1 – continuação
Tipo Aditivo
Função
Exemplos
Onde Encontrar
Corante
Dar, intensificar
ou suavizar cor
Nitrito de sódio,
caramelo, colorau,
cochonilha
Doces, bebidas,
carnes, salsichas
Edulcorante
Adoçar
Sacarina, ciclamato,
aspartame
Adoçantes,
refrigerantes,
sucos de frutas
Espessante
Dar volume
Carboximetilcelulose, Gelatinas, geleias
goma arábica, musgo
irlandês
Estabilizante
Dar cremosidade Fosfolipídios,
polissorbato 60
Biscoitos, sucos e
polpa de frutas,
margarina, leite
Essa nomenclatura é de difícil compreensão por grande parte da população
e por muito tempo a maioria deles vinha em códigos. Os industriais argumentam que, no final das contas, tanto faz para o consumidor ter o produto
com códigos ou com o nome por extenso, já que ambos são complicados e
a grande maioria não entende os termos técnicos ou científicos.
Entretanto, o Instituto de Defesa do Consumidor (PROCON) defende
que o consumidor tem direito ao máximo possível de informações com
relação ao que consome, o que significa que os rótulos de alimentos devem
informar todos os ingredientes do produto, que devem ser escritos em língua
portuguesa e apresentar os nomes por extenso. Ainda assim, hoje em dia,
encontram-se embalagens apenas com alguns códigos ou mesmo só com o
tipo de aditivo, não constando nelas seu nome ou código.
SAÚDE HUMANA
De acordo com o artigo 2º do decreto n° 55.871, de 24 de abril de 1965:
“Considera-se aditivo para alimento a substância intencionalmente adicionada ao mesmo com a finalidade de conservar, intensificar ou modificar
suas propriedades, desde que não prejudique seu valor nutritivo.”
O decreto citado acima é o que contém as normas impostas, no Brasil, para
que haja controle do uso de aditivos químicos – afinal de contas, o excesso
deles, em vez de contribuir para o bem-estar da população, prejudica a saúde
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humana. É por isso que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estipula
um limite de consumo diário de aditivos, dado em miligrama por quilograma
de peso corpóreo (mg/kg p.c.), baseado em testes feitos com animais.
O órgão que regulamenta essas atividades é a Comissão Nacional de
Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), mas, mesmo assim, o sistema
falha. Um exemplo é o caso do suco de caju: em 1987, descobriu-se que os
teores de dióxido de enxofre, usado no suco de caju como conservante,
estavam até sete vezes superior ao limite permitido. Na mesma época, treze
indústrias foram investigadas e apenas duas estavam dentro do padrão. No
organismo humano, o excesso dessa substância pode causar náuseas, diarreia
e até alergias.
Veja alguns exemplos de problemas de saúde relacionados com certos
aditivos, na tabela 2.
Tabela 2 – Aditivos X saúde
Aditivo
Problemas Relacionados
BHA e BHT
Tóxicos aos rins
Dióxido de enxofre
Redução de vitamina B1; mutações
genéticas
EDTA
Anemia e descalcificação
Fosfolipídios
Colesterol e arteriosclerose
Nitratos e nitritos
Câncer no aparelho digestivo
Sacarina
Câncer
Outro ponto é quanto ao valor nutricional do alimento. Alguns alimentos,
quando ganham certos aditivos, têm seu valor nutricional alterado, pois há
certas substâncias que o organismo não aproveita, como o buterato de etila
(que dá o gosto de manteiga) e o acetato de etila (que dá o sabor de maçã e
menta).
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O vilão: glutamato monossódico
(GMS)
Ciclamatos
Ainda há controvérsias sobre o uso
dos ciclamatos de sódio e de cálcio
nos alimentos. Tudo começou no
final da década de 1960, quando
testes realizados em ratos de laboratórios por pesquisadores norteamericanos apontaram a substância,
que é usada para adoçar alimentos,
como cancerígena – conclusão que
levou à proibição do uso de ciclamato nos Estados Unidos.
Em 1999, o ciclamato foi classificado pela Agência Internacional de
Pesquisa sobre Câncer como pertencente ao grupo 3, isto é, não-cancerígeno
para humanos.
No organismo humano, o perigo do
ciclamato é a sua possível conversão
em cicloexilamina (que é tóxica) pela
flora bacteriana intestinal. Acontece
que a maioria das pessoas têm capacidade inferior à 1% para metabolizar ciclamato à cicloexilamina.
Como a maioria dos aditivos químicos, os ciclamatos possuem um limite
de consumo diário de 11 mg/kg p.c.,
fornecido pela OMS. Como é muito
usado em refrigerantes “zero”, pessoas
que fazem dietas especiais e consomem este tipo de alimento tendem
a ter uma média de consumo de
ciclamatos maior do que o resto da
população.
O glutamato monossódico é um aditivo já usado desde muito tempo atrás
pela indústria, famoso por realçar o
sabor dos alimentos – está presente
nos caldos e temperos prontos, salgadinhos, enlatados, congelados, etc.
Na verdade, o glutamato monossódico é tão aceito porque existe um
5º estado de sabor reconhecido pela
nossa língua, o “unami”, que é o
sabor do glutamato.
Acontece que muitos estudos vêm
sendo feitos, desde a década de 1970,
sobre a possibilidade de o GMS estar
relacionado a distúrbios no organismo humano. Apesar de considerado
pela Food and Drug Administration
(FDA) dos EUA, desde 1959, como
um aditivo seguro, relacionam-se
ao consumo regular do glutamato
problemas como obesidade, danos
na visão, dores de cabeça, fadiga e
depressão.
Além disso, existe o chamado Complexo dos Sintomas do GMS, que
ocorrem com pessoas que ingerem
altas doses do ingrediente. Alguns
desses sintomas são: fraqueza, náuseas,
formigamento, dor no peito, dificuldade respiratória, entre outros.
Atualmente, alguns especialistas chegam a afirmar danos piores causados
pelo glutamato monossódico, como
mal de Alzheimer, mal de Parkinson, déficit de atenção, doença de
Huntington e até câncer, uma vez
que o organismo usa o glutamato
natural, produzido pelo cérebro (um
aminoácido), receptor de impulsos
nervosos.
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PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DE ALGUNS ALIMENTOS
Veja como alguns dos alimentos mais consumidos no cotidiano são
tratados desde o início.
Carnes
Logo após o abate, são adicionados às carnes nitritos e nitratos, que as
conservam vermelhas. Além disso, essas substâncias têm a função de eliminar
a bactéria Clostridium botulinum, causadora do botulismo, cujo principal
sintoma é a paralisia muscular.
Por outro lado, os nitratos e nitritos podem fazer mal à saúde humana. Os
nitratos se transformam em nitritos e estes, por sua vez, junto com o ácido
clorídrico (presente no estômago), formam o ácido nitroso. Esse último, sob
a ação de enzimas do organismo, se transforma em nitrosaminas, que são
altamente cancerígenas.
Não é de hoje a busca pelo aproveitamento de várias partes dos animais
– tome como exemplo a feijoada, que conta com diversas partes do porco.
Mas, alguns frigoríficos exageram: em dezembro de 2008, por exemplo, um
frigorífico foi interditado, em São Paulo, por usar até carnes estragadas na
produção de embutidos.
O mito da salsicha
Talvez a salsicha seja o item número um, entre as carnes, no que diz respeito
à adição de aditivos. Para começo de conversa, a estrela do hot-dog nada
mais é do que uma mistura do que não foi aproveitado do boi, do porco ou
do frango, como os restos e as partes menos apreciadas (bochechas e vísceras
estão inclusas). Estes restos são cortados em pedaços bem pequenos e depois
triturados. Daí, recebem sal, amido de milho, temperos e conservantes
(como o nitrito de sódio) para ficar com aquela cor rosinha que conhecemos.
Neste momento, acredite: a salsicha é 55% carne e 45% de outros ingredientes.
Essas carnes vão encher as tripas (naturais, como intestino de carneiro, ou
artificiais, como plástico), que, logo em seguida, vão passar por um choque
térmico: serão submetidas a uma temperatura de 80ºC e depois a uma ducha
gelada, para matar os microrganismos que tenham sobrevivido ao calor.
A salsicha já está pronta para ser consumida, mas ainda é tingida com urucum
(um corante natural) e depois recebe ácido fosfórico para conservar-lhe a cor.
Agora que já sabe como a salsicha é feita, esqueça o mito de que colocam até
papelão nela!
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Frutas
Devido à fragilidade das frutas, infelizmente, muitas indústrias as substituíram por aditivos produzidos em laboratório.
Para o comércio, as frutas são tratadas com agrotóxicos desde que são
plantadas até depois de serem colhidas. Tomemos a banana como exemplo:
ela é colhida ainda verde e, para amadurecer, é colocada num galpão com
gás etileno. Para que a sua casca não seja decomposta por fungos, é adicionada
nistatina, um antibiótico.
O lado ruim é que, quanto mais nosso organismo absorve antibióticos,
mais há a chance de as bactérias se tornarem imunes a eles, de forma que esses
microrganismos podem trocar entre si seu material genético e, assim, formar
linhagens mais resistentes.
Chocolate
O chocolate, doce de grande aceitação pela população, é outro alimento
que passa por grandes transformações. As sementes do cacau, matéria-prima
do chocolate, são torradas e moídas, mas ainda não tem aquele gostinho
bom. Para isso, são adicionados açúcar, leite em pó, lecitina de soja (um estabilizante), vanilina (um aromatizante) e ainda complementos, como frutas
e castanhas – é daí que vem a variedade de chocolates: ao leite, meio amargo,
crocante...
Agora só falta tratar para ficar macio, cremoso, com brilho e textura
apropriados, enformar, embalar e mandar para os mercados.
ABAIXO ÀS PRAGAS
Para impedir a proliferação de pragas e garantir a fertilidade do solo, os
agricultores usam, em larga escala, agrotóxicos e fertilizantes.
O problema é que essas substâncias acabam se acumulando na casca e nas
folhagens dos alimentos. Quando o homem ingere esses alimentos, consequentemente ingere essas substâncias indesejáveis, que podem causar distúrbios
no organismo humano, tais como hemorragias, disfunção renal e hepática.
Atualmente, há a preocupação em trocar os agrotóxicos utilizados por
outros de menor toxicidade; entretanto, enquanto alguns produtores estão,
de fato, voltados para a uma prática sustentável, outros ainda estão presos ao
uso de defensivos já considerados obsoletos pelos químicos.
Onde o uso de agrotóxicos é feito sem as precauções necessárias, como por
exemplo, pulverizar longe das nascentes de rios e de criações de gado, há
casos de contaminação até no leite materno, que sempre foi considerado “o
alimento mais puro” – e os efeitos tóxicos podem ficar armazenados nas
camadas de gordura do corpo da mãe.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
De fato, hoje não dá para ignorar a importância da Química em diversos
aspectos, inclusive no que comemos. É difícil ir ao mercado e trazer tudo da
seção orgânica, uma vez que estes itens estragam com maior facilidade. Além
disso, a rotina nos obrigou a ter um estoque de comida, coisas fáceis de serem
preparadas ou que sejam de consumo imediato. O trabalho, a família, os
compromissos não permitem que todas as refeições sejam preparadas e
consumidas dispondo-se de muito tempo. Outro fator importante é o
aumento do número de mulheres inseridas no mercado de trabalho, buscando realização profissional e deixando para depois a ideia de montar uma
família. Também diminuiu a quantidade de mulheres que têm como profissão “cuidar da casa” e cozinhar para o marido e os filhos. Esses motivos, entre
alguns outros, mostram que consumir alimentos industrializados tornou-se
indispensável, o que compreende, por consequência, que não há como
grande parte da população mundial comer tudo in natura e sem química.
Um procedimento que está sendo cada vez mais usado em alguns países é
a Química Verde, que consiste na utilização de técnicas químicas e metodologias
que reduzem ou eliminam o uso de solventes e reagentes ou geração de produtos
e subprodutos tóxicos, que são nocivos à saúde humana ou ao ambiente.
A Química Verde pode ser encarada como a associação do desenvolvimento da química à busca da autossustentabilidade.
Entretanto, devemos controlar o que ingerimos, visto a comprovação científica dos danos que os aditivos podem causar ao organismo humano, que
podem ser simples, como náuseas, até muito graves, como câncer.
Também é preciso entender que nem tudo o que é artificial nos prejudica –
tenha como exemplo a vanilina, aromatizante que dá o sabor e aroma de baunilha: esta não causa dano algum à saúde humana, enquanto o aroma natural
de baunilha, retirado da fava tonka, contém cumarina, de alto poder cancerígeno.
A Química nos oferece alternativas para alimentar a população em
constante crescimento. Fertilizantes químicos conservam e aumentam o
potencial produtivo do solo e repõem alguns minerais retirados pela ação de
chuvas, do vento e do próprio ser humano.
Os defensivos agrícolas ajudam a melhorar a produtividade e a qualidade
das plantações evitando a disseminação de pragas. Enfim, a química nos
oferece muita ajuda para que o ser humano, nesse futuro próximo, tenha
munição para combater a fome no planeta.
Em suma, a Química dos alimentos veio, já há algum tempo, para
satisfazer nossas necessidades e até caprichos. O consumidor precisa estar
sempre alerta com relação ao que consome, para que haja um equilíbrio no
qual é possível ser saudável e ingerir alimentos industrializados.
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BIBLIOGRAFIA
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Disponível em: <http://www.abiquim.org.br/estudante/vida_frame.html>. Acesso
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1965. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/decretos/55871_65.htm>.
Acesso em: 25 jul. 2011.
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30 mar. 1992.
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e o meio ambiente. Disponível em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/ noticia/201104-02/especialistas-alertam-para-perigo-dos-agrotoxicos-para-saude-humana-emeio-ambiente>. Acesso em: 15 jul. 2011.
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ufpel.tche.br/iqg/wwverde/html/Qu%EDmica_Verde.htm>. Acesso em: 25 ago. 2011.
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Disponível em: <http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2009/04/21/msgis-this-silent-killer-lurking-in-your-kitchen-cabinets.aspx>. Acesso em: 18 jul. 2011.
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TRAMBAIOLLI NETO, E. Alimentos em pratos limpos. São Paulo: Atual, 1994.
40 p.
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MENÇÃO HONROSA
UM DIA IREI MUDAR O MUNDO
Estudante: Juliana da Silva Lavor, 18 anos,
estudante do 3º ano do ensino médio
Professor-orientador: Vagner Barbosa de Lima
Associação Educacional Professora Noronha – Dom Pedro, MA
RESUMO
O conto tem por objetivo não só salientar as práticas do ensino de Química
no ensino básico, como também mostrar a atuação da mulher dentro do
contexto científico e ainda elucidar a importância da Química tanto dentro
do organismo humano, quanto para a sociedade em geral. Esses temas são
tratados por meio da história de Juliana Silveira, que nasceu em uma cidade
pequena no estado do Maranhão. Ela, ao completar oito meses de idade, fala
pela primeira vez, sendo sua primeira palavra “Química”, deixando espantada
a sua mãe, que sempre dizia que sua filha iria mudar a história do mundo.
A vida escolar de Juliana começa aos sete anos de idade, na Escola da
Professora Noronha. Até a 7ª série do ensino fundamental, o histórico escolar
da aluna é de destaque na escola; entretanto, a partir da 8ª série, essa situação
muda drasticamente. É quando ela se depara com a disciplina de Química e
com o professor Woshigton Bash, um rígido e rigoroso professor, que
utilizava nas aulas uma linguagem e exemplos totalmente desvinculados da
realidade dos educandos. Devido a isso, Juliana e 75% de sua classe acabam
reprovando na 8ª série. Durante as férias, algumas transformações ocorrem
no corpo da garota, entre elas, a menarca. Ao estudar sobre os hormônios
que ocasionam a menstruação, ela descobre que quase tudo que ocorre no
organismo humano é ocasionado pela Química, inclusive a menstruação, o
que faz com que a adolescente acabe se interessando por essa ciência. Outros
fatos que marcaram a história escolar de Juliana foram o afastamento de
Woshigton Bash da escola, por problemas de saúde, e a entrada de um professor substituto, Márcio Roney, que utilizava em sala de aula vários métodos
lúdicos na aprendizagem de Química, entre eles o bingo e as cantigas da
tabela periódica. Com o passar do tempo, ela se torna mulher e seus pensamentos amadurecem, principalmente o desejo de um dia mudar o mundo
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para melhor. Nesse período, ela se encontra no 3º ano do ensino médio na
mesma escola, que passou a chamar-se Associação Educacional Professora
Noronha. Foi nesse local que, no dia 8 de março de 2011, ocorreu um debate
na aula da professora Hildete Noronha, de sociologia, na qual se discutiu a
atuação da mulher nos ramos científicos. Destacou-se a história de Marie
Curie. Debateram muito sobre a protagonista os alunos Marcos Santana,
Juliana Oliveira e Juliana Silveira. No mesmo ano, Juliana Silveira consegue
ser aprovada na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) para medicina;
logo depois disso, ela se integra a uma equipe de jovens formandos que tem
como objetivo básico encontrar a cura para a Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS ou SIDA) e para o câncer.
INTRODUÇÃO
O estudo da Química como ciência no ensino básico sofre com algumas
barreiras, principalmente no que toca à realidade do educando, muitas vezes
ocasionando desinteresse pela matéria, por parte do aluno. Uma das soluções
básicas para isso deve ser a implementação de atividades lúdicas no ensino da
Química, facilitando o entendimento dos envolvidos no processo ensinoaprendizagem.
É sempre importante salientar as relações da Química com o organismo,
assim como os impactos dela na sociedade – relações que vão da produção de
hormônios à teleterapia ou aos combustíveis fósseis. Outro ponto importante
é a figura da mulher no meio científico; muitas passam despercebidas aos
olhos dos estudantes. Entre elas, destacam-se Marie Curie, Irène Curie, Maria
Göeppert-Mayer, Rosalind Franklin, Anna Palmer, Williamina Fleming,
Antonia Maury, Annie Cannon e Henrietta Leavitt. Como ponto-chave temse a descoberta da radioatividade por Marie Curie.
UM DIA IREI MUDAR O MUNDO
Em uma cidade pequena do interior do estado do Maranhão, chamada
Dom Pedro, nasceu uma meninazinha encantadora. Sua mãe, Dona Maria
Silveira, e seu pai, José Silveira, a registraram como Juliana Silveira. Para eles
essa criança um dia iria mudar a história do mundo. Juliana cresceu e, quando
estava lá pelos oito meses de idade, começou a falar, e sua primeira palavra
foi: química.
Dona Maria ficou abobalhada, pois sua filha tinha falado algo que nem
ela mesma sabia ao certo.
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— José, venha cá! — fala ela com espanto ao seu marido. — Juliana acaba
de falar. José, com um pouco de alívio no semblante, diz a ela:
— Mulher isso é normal, a menina já tem quase um ano de idade. Quando
comecei a falar, tinha por volta da idade dela.
Maria fala novamente a José:
— Marido, você não entendeu, ela chamou o nome de uma tal de
Química.
João responde:
— Oh, mulher, deixe de bobagem, Química é uma ciência que estuda as
transformações dos objetos, ela bem ouviu alguém falar essa palavra e agora
está repetindo, isso é normal.
No entanto, Dona Silveira ainda continuava encabulada, pois como uma
criança tão pequena poderia ter falado uma palavra tão complicada?
Os anos se passaram e Juliana já completara sete anos de idade. Já estava
no momento de sua mãe colocá-la na escola. Mas o apego da criança com a
mãe era algo muito profundo, ela não conseguia passar um só instante longe
da sua “mama”, como ela mesma a chamava. Porém aquele era o momento
certo de colocar Juliana na escola, pois como a própria Dona Maria
costumava dizer:
— Para mudar o mundo, tem antes que aprender a ler e escrever; a base
de tudo é a educação.
Quando Dona Silveira falou para o senhor José que iria colocar Juliana
para estudar, ele reagiu com um pouco de estranheza no início, dizendo:
— Mas, mulher, a Juliana é tão pequenina, e além do mais, ela é muito
apegada a você. Jamais vai adaptar-se a um local onde ela não estará próxima
de sua “mama”.
Porém a mãe rebateu, dizendo:
— Mas, José, para que a pequena Juliana venha a aprender, nós temos
que fazer este sacrifício, pois é para o bem dela.
Ele, um pouco desconsolado, falou:
— Você tem razão, mulher, amanhã mesmo pode ir procurar uma escola
para nossa filha, e não se esqueça de escolher uma próxima daqui de casa,
pois, dessa forma, posso visitá-la sempre que sentir saudades.
No dia seguinte, Maria acordou bem cedo, fez o café para seu marido e
acordou Juliana, e contou que iria colocá-la na escola:
— Julinha, acorda querida, hoje vai ser um dia muito especial para você!
Ela, muito alegre, acordou e disse:
— Oba! Vamos viajar “mama”?
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Sua mãe respondeu:
—Não filha.
Ela perguntou novamente:
—Hoje é meu aniversário “mama”?
E sua mãe respondeu:
— Não filha, sabe você já está na idade de estudar, hoje nós iremos
procurar uma escola para você.
A menina disse:
—Mas, mãe, não quero ficar longe da senhora.
Dona Maria disse:
— Filha, eu sempre lhe disse que você um dia vai mudar a história, e para
que isso venha a ocorrer, você tem que ir à escola.
A menina disse, de maneira um pouco chorosa:
— Tudo bem, mamãe, se a senhora diz que é para ser assim.
Dona Maria, ainda com o coração apertado, escolheu uma escola próxima
a sua casa, que era a escola da Professora Noronha, que, anos mais tarde, iria
se chamar Associação Educacional Professora Noronha. É nesse meio escolar
que Juliana cresceu e se desenvolveu, todo dia aprendendo uma coisa nova
e levando para casa os ensinamentos das aulas diárias. Na fila, no pátio, a
formação cívico-religiosa – que era proferida sempre pelo professor David.
As citações desse professor que mais impregnaram a mente da pequena
Juliana foram: “Dessa escola sairão pessoas que um dia irão mudar a história”
e, ainda, “Tudo é possível ao que crê”.
Juliana a cada dia crescia mais. Quando estava com dez anos de idade,
ingressou na 5ª série do ensino fundamental. Foi nesse período que ela passou
a amar as matérias de geografia e português. Todo dia, quando chegava em
casa, a menina corria para sua mãe e contava uma nova descoberta sobre o
planeta Terra:
— Mãe, hoje o professor Vagner nos ensinou a importância da hidrosfera
para os seres vivos, ele nos disse que essa camada da biosfera é formada pelos
rios, mares e oceanos, cobrindo mais de 70% da superfície terrestre.
— Oh! Que bom, minha filha, você todo dia aprende algo novo — disse
dona Maria.
E Juliana continuava aprendendo tudo com facilidade até a 8ª série,
quando ela se depara com a matéria de Química. Nessa época, o professor
dessa matéria era Woshigton Bash, um moço de aproximadamente trinta e
cinco anos, alto, gordo e um pouco calvo. Esse professor era diferente dos
demais; era calado, rígido ao extremo e, até certo ponto, chato.
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No primeiro dia de aula na 8ª série, Juliana ficou apavorada com um
moço sério e carrancudo que adentrou a sala. No mesmo momento, os alunos
começaram a cochichar uns com os outros:
— Eita! Eita! Eita! O professor Bash, ele é ditador.
O senhor Bash repreendeu a todos, dizendo:
—Na minha matéria, aluno bom é aluno calado.
Em menos de um segundo, toda a classe se silenciou. Um terror mórbido assolou todos os alunos, principalmente Juliana, que tinha um medo
enorme de Química, mesmo antes de conhecer a matéria. Agora, ela temia
a matéria e o professor.
Nesse dia o senhor Bash lecionou sobre o que era a matéria, entretanto as
explicações do professor não esclareceram as dúvidas dos alunos, pois as
palavras utilizadas por ele eram altamente formais, totalmente distantes da
realidade dos estudantes. Em certo momento da aula, ele falou sobre as
propriedades organolépticas da matéria, dizendo:
— Prezados alunos, as características organolépticas dos compostos são
processadas pelas partes sensoriais do organismo que as captam.
Boa parte dos alunos ficou passivamente ouvindo o professor falar sem
sequer interpretar uma palavra. A sala continuou calada, sem fazer um
mínimo barulho, todos temendo o “assombrador” senhor Bash. Para Juliana,
aquele foi o horário de quarenta e cinco minutos mais demorado de toda a
sua vida escolar, e para piorar a situação, ela não conseguia assimilar uma só
palavra da temida aula de Química, aumentando ainda mais as suas incertezas
a respeito da matéria.
Os dias foram passando e as aulas de Química foram se sucedendo uma
após a outra, sem que Juliana assimilasse nenhum conteúdo. Até que, algumas semanas depois, o senhor Bash entra na sala, organiza a classe em cinco
filas e distribui algumas folhas a cada aluno, dizendo em um tom assustador:
— A partir de agora, todos vocês têm quarenta e cinco minutos para
responderem essa prova de Química, e não darei nem um minuto a mais.
Toda a sala ficou em estado de pânico. Como é que eles iriam responder
a uma coisa tão difícil como aquela prova, que nem marcada foi?
No mesmo instante, Juliana sentiu um calafrio e disse baixinho: “Eita! É
hoje que vou tirar a minha primeira nota baixa na escola. Estou frita!
Ela lia e relia a prova; entretanto, em um esforço em vão, sem conseguir
processar nenhuma das perguntas na cabeça. E começou a pensar: “Que
prova difícil! Essa matéria está muito distante da minha realidade. O que é
uma reação Química? O que é energia? O que é caloria? O senhor Bash já
falou sobre isso, mas eu não consegui assimilar o conteúdo. Estou “ferrada”.
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Logo em seguida, a secretária da escola, Dona Vera, toca a sineta. Já era a
hora de entregar a prova, e Juliana, assim como toda a sala, não tinha
respondido sequer uma questão.
Quando chegou em casa, Dona Maria depressa percebeu o ar de tristeza
da filha e a indagou:
— O que foi querida? Não foi bem na prova de Química?
Ela respondeu:
— É justamente por causa dela que estou triste mamãe. Sou péssima nessa
matéria e além do mais os conceitos dela são muito distantes da nossa
realidade.
A mãe falou:
— Mas não desanime, filha, até porque a primeira palavra que você falou
logo aos oito meses de vida foi justamente “Química”.
— É, mamãe, só poderia ser uma criança sem mentalidade para falar uma
palavra horrível dessas — disse Juliana tristonha.
O ano passou e Juliana continuou a tirar notas baixas em Química. No
término do ano letivo, ela recebeu uma triste notícia, que a abalou muito:
ficara reprovada, pois sua média final nessa matéria tinha sido abaixo de três.
Ela e mais 75% da classe fariam novamente a 8ª série no ano seguinte.
Entretanto muitas coisas aconteceram ao longo das férias. Uma delas foi o
início de sua menstruação. A outra era relacionada com o professor Bash,
que acabou se afastando do meio escolar por complicações nas pregas vocais.
Com a menstruação, surge um fator crucial para o interesse da garota pela
Química, pois ao estudar a respeito dos hormônios, Juliana entendeu que
boa parte do que ocorre no corpo humano tem a ver com a Química, dentre
elas, a própria menstruação. Isso a ajudou a desfazer a ideia de distância entre
essa ciência e a vida humana. Com o afastamento do professor Bash, surge,
na escola, o professor Márcio Roney.
Nas férias, os meses de janeiro e fevereiro passaram muito rapidamente
para Juliana. Ela não via o momento de conhecer o novo professor de
Química e pedir-lhe explicações mais detalhadas sobre a menarca.
— Mamãe, estou ansiosa para ver como é o Márcio. Alguns amigos meus
disseram que ele é ótimo, explica as coisas direitinho e ainda faz dinâmicas
em sala de aula, para facilitar na aprendizagem. E também quero tirar
algumas dúvidas com ele sobre a menstruação, pois estive estudando e vi que
os hormônios são substâncias químicas — disse Juliana.
A mãe da garota fala, entusiasmada:
— Que bom, filha! Espero que neste ano você aprenda realmente
Química, para você mudar a história do mundo!
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A garota responde, com ar alegre:
— Pode deixar, mamãe, não vou decepcionar você.
Chegando à escola, Juliana se dirigiu à fila e compartilhou com os colegas
as descobertas que fez ao longo das férias, dentre elas, a relação da Química
com o ser humano. A fila terminou e a garota se dirigiu ao encontro da
diretora da escola, que, logo que a viu, disse:
— Olha, você está uma mocinha; desenvolveu-se bastante nesses últimos
dois meses.
Ela, toda feliz, respondeu:
— É, dona Noronha, foi a Química hormonal, fiquei abismada ao
perceber que essa ciência está em tudo ao nosso redor.
Ao chegar à sala de aula, ela encontra um rapaz sorridente, alegre e feliz
com a vida. No seu pescoço, um crachá com o nome “Márcio Roney C. P.
Barreto”.
Com muito espanto, ela diz:
— Professor Márcio, muito prazer! Chamo-me Juliana Silveira e, diga-se
de passagem, sou uma admiradora sua.
Ele responde:
— Já começamos bem! Muito prazer!
Nessa aula, Juliana tirou todas as suas dúvidas sobre Química e os seres
humanos, foi a aula mais divertida que teve; a aula em que ela aprendeu mais
sobre essa ciência.
Nas aulas de Química seguintes, o senhor Roney levou para a classe
experimentos simples; entretanto, de extrema importância, que auxiliava os
alunos no aprendizado da matéria. Toda a turma de Juliana adorou quando
o professor levou à sala o Bingo da tabela periódica e as cantigas da tabela.
Ela, entusiasmada, todos os dias conhecia um novo elemento químico, de
uma maneira divertida e simples. Nas cantigas da tabela periódica, todos os
alunos cantavam em alto e bom som. Tomemos, por exemplo, o 1º grupo da
tabela periódica, bem como o 2º, o 3º e o 4º grupo, que ela aprendeu de
uma maneira muito especial:
Hoje Li Na Kama Robinson Crusoé Francês.
H / Li / Na / K / Rb / Cs /Fr
Bela Margarida Casou com o Senhor Bartolomeu Ramos.
Be / Mg / Ca / Sr / Ba / Ra
OS SeTe Porquinhos
O / S / Se / Te / Po
Foram Clamados Bravos Índios Ateus.
F / Cl / Br / I / At
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A 8ª série foi o período mais produtivo para Juliana, como também para
toda a sua turma.
Os anos se passaram e aquela adolescente de quinze anos agora era uma
mulher e, cada vez mais, a ideia de transformar o mundo crescia em sua mente.
Esse era um ano decisivo na sua vida, em breve prestaria vestibulares e o
ENEM, e o mercado de trabalho estava cada vez mais perto de sua realidade.
No dia oito de março do ano de 2011 um debate ocorrido com a professora Hildete Noronha, aula de sociologia, fez com que a jovem passasse a
pensar mais profundamente na atuação da mulher no campo científico. Nesse
dia, ao iniciar o debate, a professora incentivou os estudantes a pensarem
sobre a importância da mulher nas ciências, salientando principalmente a
Química, pois, naquele ano, comemorava-se o ano internacional da Química.
O debate foi muito produtivo; alguns colegas de Juliana, como Marcos
Santana e Juliana Oliveira, citaram a figura de Marie Curie, dizendo:
— As mulheres tiveram papel crucial nos ramos científicos, como Marie
Curie, Irène Curie, Maria Göeppert-Mayer, Rosalind Franklin, Anna Palmer,
Williamina Fleming, Antonia Maury, Annie Cannon e Henrietta Leavitt,
que implementaram descobertas na sociedade que são utilizadas até hoje —
disse Marcos Santana.
Continuou Juliana:
— Um exemplo básico foi a descoberta, por Marie Curie, da radioatividade, que é utilizada na radioterapia do tratamento do câncer, por meio
de teleterapia ou de braquiterapia. Com isso, deu-se nova esperança de vida
àqueles que foram submetidos a tal tratamento. Na agricultura, para se evitar
o desperdício e a infestação por microorganismos, utiliza-se a radiação para
a conservação dos alimentos. Numa provável situação de racionamento de
energia, em virtude do esgotamento de suas fontes, a utilização da energia
nuclear pode ser de grande utilidade.
Ao final do ano letivo, Juliana Silveira conseguiu ser aprovada pela UFMA
em medicina e, atualmente, integra uma equipe que tem como um dos
objetivos solucionar problemas de saúde ligados a algumas pandemias, como
a AIDS, e a outras doenças que ainda não têm cura conhecida, como o
câncer. E segue, com uma certeza de que ainda irá mudar o mundo para
melhor.
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BIBLIOGRAFIA
GINECO. Menstruação. Disponível em: <http://www.gineco.com.br/menstruacao>.
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WIKIPÉDIA. Hormônios. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hormona>.
Acesso em: 02 set. 2011.
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MENÇÃO HONROSA
QUÍMICA VERDE –
O CAMINHO PARA O MUNDO MELHOR
Estudante: Juliana Wallner Werneck Mendes, 16 anos,
estudante do 2º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Maria de Fátima de Jesus Diniz Furriel
Colégio Doze de Outubro - São Paulo, SP
RESUMO
Em uma sociedade cada vez mais preocupada com o desenvolvimento
econômico, a Química Verde pode ser uma das soluções para vivermos em
harmonia com o meio ambiente. Nesse ramo recente da ciência, estão
surgindo, cada vez mais, novas tecnologias sustentáveis, com o objetivo de
amenizar as catástrofes ambientais.
Pensando nisso, pretende-se, com este trabalho, analisar a funcionalidade
e a viabilidade da Química Verde, com o foco em indústrias, academias e
escolas. Na primeira parte, novas tecnologias serão apresentadas e analisadas;
na segunda, a participação da Química Verde no mundo acadêmico será
discutida; e, na última, formas de implantar essa ciência nas escolas serão
sugeridas.
Dessa forma, talvez esse tema, ainda pouco discutido no Brasil, possa ser
mais bem compreendido e receber mais atenção.
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INTRODUÇÃO
Atualmente, problemas ambientais, como o efeito estufa e a crise energética, têm ganhado grande espaço na mídia e na educação. Isso porque, com
a industrialização e o rápido desenvolvimento pelo qual estamos passando,
nossa sociedade está caminhando para um mundo em que será impossível
sobreviver.
As consequências são inúmeras e já conhecidas pela maior parte das pessoas:
mudanças drásticas na temperatura, aumento do nível do mar, falta de
energia e água, doenças causadas pela poluição, destruição de ecossistemas e
muitas outras.
Com isso em mente, precisamos fazer algo para diminuir os impactos
ambientais. Muitas pessoas relacionam essa meta com a desaceleração do
progresso, mas isso não é necessariamente verdade.
A Química Verde, um conceito criado na década de 1990 nos Estados
Unidos, tem como objetivo fazer com que continuemos crescendo social e
economicamente enquanto nos mantemos em harmonia com o meio ambiente.
Sua proposta é de que sejam criadas inovações tecnológicas que causem
menos prejuízos ao nosso planeta.
Um dos desafios da Química Verde é vencer a relutância em relação a
essas novas tecnologias. O uso de aparelhos que tenham um custo inicial
mais alto não faz parte da nossa cultura econômica; no entanto, se olharmos
a longo prazo, veremos que eles trarão uma gama de benefícios muito maior
que os de custo baixo.
A importância desse ramo recente da Química é indiscutível. A seguir,
serão analisados projetos e ideias sustentáveis, com ênfase nos aspectos
industriais, acadêmicos e escolares.
ASPECTOS INDUSTRIAIS
O ramo industrial foi um dos mais influenciados pela Química nos
últimos anos. A descoberta do petróleo, por exemplo, levou à segunda
revolução industrial e mudou completamente nosso modo de viver. Graças
aos processos químicos desenvolvidos, podemos usá-lo como matéria prima,
combustível, energia etc.
No entanto, o petróleo é uma substância escassa e conflitos pela sua obtenção
já começam a se espalhar pelo mundo. Além disso, sua combustão libera uma
grande quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Esse gás
impede que parte do calor retorne para o espaço, causando o efeito estufa.
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No período pré-industrial, o nível de CO2 no ar era em torno de 280ppm;
atualmente, está acima de 390ppm. Esse número, já perigosamente alto,
cresce a cada ano.
Assim sendo, é essencial que novas fontes de energias viáveis passem a ser
utilizadas no lugar do petróleo e que formas de controlar a poluição sejam
criadas.
FONTES DE ENERGIA RENOVÁVEIS
Em resposta à preocupação mundial com o petróleo, algumas outras fontes
de energia estão se tornando cada vez mais comuns. Entre elas, a hidrelétrica,
a eólica e a solar.
Tanto nas usinas hidrelétricas quanto nas eólicas, um dínamo é usado
para transformar energia mecânica em elétrica. A diferença é que, no primeiro
caso, o movimento é gerado pelo fluxo de um rio e, no segundo, pelo vento.
Ambos os meios de produção de energia são limpos e reutilizáveis, mas
causam alguns impactos ambientais no local onde são instalados; porém,
com um bom planejamento, tornam-se vantajosos.
A viabilidade econômica depende da geografia de cada país; quando estes
dispõem dos recursos naturais necessários, essas usinas se tornam relativamente baratas.
A energia solar é geralmente usada em residências para aquecer a água.
Painéis de células fotovoltaicas são instalados nos telhados e absorvem a
energia solar e a transformam em elétrica.
Ela ainda é pouco utilizada devido ao custo de produção e instalação
desses painéis, além da dificuldade que seu armazenamento apresenta, mas é
uma opção 100% limpa e reutilizável.
ÁRVORES ARTIFICIAIS
Uma das pesquisas, realizada na Columbia University, apresenta possibilidade de árvores artificiais que captem CO2. As árvores transformam esse gás
em biomassa no processo de fotossíntese, mas a quantidade de CO2 que
produzimos é maior do que a que elas podem filtrar.
Esse dispositivo ficaria exposto ao vento e teria superfícies artificiais para
retirar o CO2 do ar, assim como as folhas. No entanto, como não haveria
fotossíntese, ele poderia ficar na sombra.
O projeto ainda não está disponível para uso ou comercialização; porém,
daqui a alguns anos, pode se tornar uma ideia viável.
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FILTROS INDUSTRIAIS
Árvores artificiais não são o único método para captar carbono: alguns
processos permitem que a captação seja feita antes mesmo de ele atingir a
atmosfera.
Esse processo consiste em colocar filtros em usinas de energia, uma das
maiores fontes de poluentes. O carbono pode ser capturado de três maneiras:
pós-combustão, pré-combustão e combustão de oxicombustível.
Quando combustíveis fósseis são queimados, eles produzem um derivado
conhecido como “gases de escape”, que inclui CO2, vapor de água, óxidos de
nitrogênio e dióxidos de enxofre. Na captura pós-combustão, o dióxido de
carbono é separado com o uso de um solvente que o absorve. Depois, o
solvente é aquecido e libera vapor de água, deixando o CO2 concentrado.
Na captura de carbono pré-combustão, carvão, petróleo ou gás natural
são aquecidos em oxigênio puro, resultando em uma mistura de monóxido
de carbono ou hidrogênio. Depois de tratar a mistura com um catalisador,
os gases são colocados em um recipiente, onde eles sobem naturalmente. É
colocada amina no topo, então ela se combina com o CO2 e cai no fundo do
recipiente. O hidrogênio escapa do recipiente, e a mistura é aquecida para
separar o dióxido de carbono da amina.
Para realizar a combustão de oxicombustível, o combustível fóssil é
queimado em oxigênio, resultando em uma mistura de vapor de água e CO2.
Eles são separados por refrigeração e compressão de fluxo gasoso. Os custos
desse método são elevados pelo uso do oxigênio, mas os pesquisadores estão
buscando um modo de diminuir as despesas.
Esses métodos de captura de carbono podem prevenir que 80% a 90% das
emissões de uma usina poluam a atmosfera. No entanto, a captura de carbono
também apresenta desvantagens: a tecnologia necessária exige uma grande
quantidade de energia e altos investimentos – cerca de US$ 1,8 bilhão,
segundo a empresa FutureGreen. Além disso, há a questão dos riscos ambientais: o CO2 é armazenado sob o solo ou sob o oceano, e a possibilidade de
um vazamento é preocupante. Apesar de nunca ter acontecido, um incidente
como esse poderia matar milhares de pessoas e prejudicar o ecossistema em
que se encontra.
Mais pesquisas e investimentos ainda são necessários, mas a ideia da
captura está cada vez mais perto de se tornar realidade.
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TINTA ECOLÓGICA
Com a população mundial crescendo cada vez mais, novos prédios estão
sendo construídos no mundo todo; e, para isso, várias árvores precisam ser
derrubadas. Pensando nisso, a fabricante de alumínio Alcoa está desenvolvendo
uma tinta ecológica que pode ajudar a diminuir os níveis de poluição da
atmosfera.
O produto, batizado de EcoClean, possui uma camada de partículas de
dióxido de titânio, que, sobre uma superfície de alumínio, absorve a luz do
sol. Quando aquecidos, os elétrons da tinta interagem com as moléculas do
ar e liberam radicais livres, que destroem poluentes como o óxido de
nitrogênio.
De acordo com o presidente da divisão de produtos para arquitetura da
Alcoa, “uma superfície de 3 mil metros quadrados pintada com o produto
equivale a 80 árvores limpando o ar”. No momento, a empresa está testando
a tecnologia em um prédio nos Estados Unidos e em outro na Europa.
CARROS NÃO POLUENTES
Um dos grandes fatores poluentes na atualidade é o trânsito – milhões de
carros circulam diariamente, gastando gasolina e liberando dióxido de
carbono na atmosfera. Apesar de o governo brasileiro estar tomando algumas
atitudes a respeito disso – como o rodízio de placas e a inspeção veicular –
não podemos descartar esse problema quando falamos de poluição.
Como solução, algumas empresas estão trabalhando em carros que
funcionam sem nenhum tipo de combustível prejudicial à natureza. Os mais
promissores são os carros elétricos e os movidos a ar.
No primeiro caso, o motor a gasolina do carro é substituído por um elétrico.
Um conjunto de baterias recarregáveis alimenta um regulador, fazendo com
que o veículo possa andar.
A cada 80km rodados, seriam necessários aproximadamente 12 quilowatts/hora para recarregar as baterias. Como o preço da eletricidade é menor
que o da gasolina, o carro elétrico teria um custo 37,5% menor para ser
reabastecido. No entanto, as baterias precisariam ser trocadas a cada três ou
quatro anos, e o custo disso giraria em torno de R$ 4.000,00. Para tornar os
carros elétricos acessíveis, os pesquisadores dependem do desenvolvimento
das células a combustível, uma nova tecnologia para gerar energia.
A célula a combustível converte hidrogênio e oxigênio em água, gerando
eletricidade no processo. Enquanto baterias e pilhas se esgotam com o tempo,
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a célula a combustível pode ser usada indefinidamente, pois os elementos
químicos utilizados fluem constantemente para a célula.
Provavelmente os carros elétricos do futuro implantarão essa tecnologia,
mais ainda é necessário muito tempo de pesquisa para que células a combustíveis sejam seguras e baratas.
Já o carro movido a ar funcionará com um motor de dois cilindros: o ar
é comprimido e armazenado em tanques de plástico a uma pressão de 300
bar. Um injetor alimenta o ar, que flui dentro de uma pequena câmara, que
faz o ar se expandir. O ar empurra os pistões e estes empurram o virabrequim,
gerando a potência necessária para o carro se mover.
Os tanques desse carro podem transportar cerca de 300 litros de ar – o
suficiente para mover o carro por até 200km. Ele poderá ser reabastecido
com uma bomba de ar de alta pressão, processo que levará apenas três
minutos.
Tanto o carro elétrico quanto o movido a ar são criticados por algumas
pessoas, pois a produção de energia elétrica da qual eles precisarão irá gerar
poluentes. No entanto, sua quantidade será menor do que a gerada pelos
carros a gasolina atualmente. Por isso, eles serão substitutos válidos depois de
mais pesquisa e desenvolvimento.
ASPECTOS ACADÊMICOS
A Química Verde ainda é um ramo muito novo da ciência e precisa de
pesquisas e investimentos. Para promovê-la, os governos têm proposto
premiações e outros prestígios acadêmicos para aqueles que fazem avanços
nessa área.
O primeiro desses prêmios, de iniciativa dos Estados Unidos, chamado
The Presidential Green Chemestry Challenge, premia inovações tecnológicas
que possam ser implantadas em indústrias, para a redução de resíduos.
Existem cinco categorias: acadêmico, pequenos negócios, rotas sintéticas
alternativas, condições alternativas de reação e desenho de produtos químicos
mais seguros.
Instituído em 1995, o desafio deu origem a premiações parecidas em
vários países, como Inglaterra, Austrália, Alemanha e Itália. Esse último
também possui um órgão chamado INCA (Consórcio Universitário Química
para o Ambiente), que visa reunir grupos acadêmicos envolvidos com
Química e ambiente. Todo ano, eles realizam a Escola Internacional de Verão
em Química Verde, contando com jovens químicos de 20 países.
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Em 1997, a International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC)
organizou sua primeira conferência internacional sobre Química Verde e,
desde então, vem realizando encontros e workshops sobre o assunto.
No Brasil, essa área ainda não conta com investimentos ou incentivo por
parte do governo. No entanto, algumas instituições de ensino e pesquisa já
têm programas de gerenciamento de resíduos bem estruturados.
Com a atenção crescente para a Química Verde, talvez no futuro o
desenvolvimento dessas tecnologias seja possível em nosso país, já notório
por seus recursos naturais. Assim, eles poderão ser aproveitados com o
mínimo de prejuízo ambiental.
ASPECTOS ESCOLARES
Grande parte do sucesso da Química Verde depende de se conscientizar
as pessoas sobre sua importância nos dias de hoje. Para isso, é preciso que as
escolas encontrem a melhor forma para envolver seus alunos no assunto.
Primeiramente, é importante que o termo “sustentabilidade” seja apresentado
aos alunos o mais cedo possível; assim, eles estarão familiarizados com a ideia
de suprir as necessidades da geração atual sem prejudicar as gerações futuras.
Iniciando-se o estudo da Química, os objetivos da Química Verde podem
ser apresentados de forma básica e direta: aumentar a eficiência da energia,
usar fontes renováveis ou recicláveis e evitar o uso de substâncias bioacumulativas ou tóxicas.
Usando-se uma parcela das aulas para mostrar exemplos e vantagens da
Química Verde, pode-se possibilitar a formação de futuros profissionais que
apliquem essas tecnologias sustentáveis.
A infraestrutura das escolas também não pode ser deixada de lado: é
importante que os alunos possam contribuir dentro do próprio ambiente
escolar e aprendam a fazer isso. A instalação de lixeiras para reciclagem, por
exemplo, é simples, mas muito útil nesse aspecto.
Outra ideia é orientar os estudantes sobre o que fazer com os cadernos
e folhas no final do ano; a quantidade de papel usada em escolas é imensa, e
um projeto de reciclagem, além de fundamental para a preservação do meio
ambiente, poderia ser uma boa experiência educacional.
Com foco em todas essas ideias, as escolas podem preparar uma nova
geração que caminhe rumo a um mundo melhor para todos.
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CONCLUSÃO
A Química Verde não é só uma ciência promissora, como também
fundamental no mundo em que vivemos. Projetos que pensávamos não
serem possíveis até poucos anos atrás estão se tornando realidade graças a ela.
No entanto, ainda é necessário tempo e pesquisa para que ela se torne
presente em nosso dia a dia. Para isso, as universidades precisam de investimentos e incentivos do governo.
Com algumas ideias apresentadas neste trabalho, além da atenção que a
mídia tem dado aos problemas ambientais, talvez a Química Verde ganhe
um papel maior na atualidade. Dessa forma, os danos ao meio ambiente
poderão ser evitados e minimizados, e nosso mundo se tornará um lugar com
melhor qualidade de vida.
BIBLIOGRAFIA
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MENÇÃO HONROSA
AS FACES DA QUÍMICA:
OS PRIMEIROS PASSOS PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Estudante: Lora Danna Pereira Sampaio, 16 anos,
estudante do 1º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Lúcia Regina Silva dos Santos
Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco – Manaus, AM
RESUMO
Uma onda de evolução e desenvolvimento envolve-nos de forma imperceptível. Vivemos em meio a um sistema que visa o lucro, no qual a propriedade
privada, o acúmulo e a livre concorrência são impostos como prioridades.
A presença do comércio, bem como as leis de mercado cada vez mais
se direcionam para exploração de recursos naturais. E essas explorações
exacerbadas proporcionam consequências que nos afetam diretamente.
No decorrer dos anos, mudanças climáticas e também catástrofes ambientais
representam bem essas consequências, porém há uma contradição nesse
fenômeno de ação e reação.
Em meio a esse sistema, também se fazem presentes questões completamente
relacionadas a ideais de conscientização. E é nesse momento que entra a
sustentabilidade, que, basicamente, é explicada por meio de ações e projetos
que visam à garantia de qualidade da água, do solo, do ar, em níveis suficientes para manter a vida animal e vegetação para as gerações futuras.
Após essas afirmações, chegamos à seguinte indagação: qual seria o papel
da química com relação a essas questões? Não é novidade que a química faz
parte de tudo o que é conhecido – como, por exemplo, a produção de iogurte,
quando ocorre a fermentação, ou seja, a química pura – e do que não é
conhecido. Muitas das suas faces ainda não foram descobertas devido à falta
de conhecimento sobre a sua influência e relação com a sustentabilidade.
Em um país no qual as riquezas naturais contribuem extremamente na
caminhada para o desenvolvimento econômico, a química verde e todos seus
processos, lado a lado, com ideais sustentáveis, fariam uma grande distinção
em relação ao quadro atual.
Para a nossa evolução, depende de cada pessoa ter interesse em conhecer
as faces ocultas da química, que nos cercam e influenciam.
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INTRODUÇÃO
O paradoxo com relação à evolução e ao desenvolvimento de tudo o que
envolve o homem quanto à praticidade econômica é notório. Isso é bem
marcado por meio das mais conhecidas discussões acerca dos malefícios e
benefícios trazidos pelo avanço.
Essas discussões representam bastante esse tal paradoxo, já que em determinadas vezes esse desenvolvimento explora nossos recursos naturais; entretanto,
vale ressaltar que ainda há maneiras de se reverter esse quadro, em que, cada
vez mais, nosso meio ambiente é explorado de forma irracional, maneiras
capazes de trazer benefícios à nossa economia com ideais totalmente sustentáveis. Um meio que exemplifica perfeitamente essa representação é a chamada
Química Sustentável.
É interessante fazer uma análise paralela acerca dos avanços e quebras de
paradigmas com relação ao desenvolvimento social, já que a ideia de sustentabilidade, por possuir conotações muito mais abrangentes, avança muito mais
rapidamente do que a ideia de Química Verde. Todavia, em parceria, lado a
lado, a Sustentabilidade e a Química Verde podem fazer mais diferença, causar
melhores impactos.
HERANÇA QUÍMICA
Devido às pesquisas antropológicas e arqueológicas, temos conhecimento
de que antigos povos indígenas que habitavam em nossas terras já tinham
como prática o agroflorestamento, o manejo de plantas e a rotatividade de
culturas e de roças, antes da chegada dos europeus, evidenciando a importância da prática verde, independentemente do povo que a praticasse.
A utilização das propriedades de certas plantas para a produção de
perfumes, medicamentos e outros produtos está presente nos mais recentes
relatos e descobertas em relação às civilizações antigas.
Esse fato pode ser observado em relação a produtos como a mandioca, o
cacau e até mesmo a seringueira, com o adensamento (redução de vazios no
solo) dessas plantas no interior da floresta, por sociedades pré-coloniais.
Logo, com os aprofundamentos em pesquisas e desenvolvimento de novos
processos de substâncias químicas naturais e sintéticas, as indústrias continuam encontrando novos compostos a partir de muitas plantas descritas
há séculos.
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QUÍMICA E ECONOMIA: PARCEIRAS DOS PRIMÓRDIOS
As práticas sustentáveis indígenas sempre tiveram um fundamental papel
quanto à construção da economia e da sociedade da região amazônica, apesar
da importância das chamadas “drogas do sertão”.
A partir da primeira metade do século XVII, iniciou-se um processo de
exploração da região, no qual o extrativismo das chamadas “drogas do sertão”
prevalecia. Porém, para que essas práticas fossem exercidas, se fazia presente
a necessidade do conhecimento indígena ancestral acerca do manejo, da
coleta e da utilização das plantas.
Em determinado momento, antes da chegada dos colonizadores, indígenas americanos descobriram a capacidade de impermeabilização de tecidos
e a produção de alguns objetos, por meio do látex proveniente das seringueiras,
que mais tarde exerceu importante função em um dos ciclos econômicos
mais importantes do Brasil, conhecido como Ciclo da Borracha.
AGRONEGÓCIO: OS COMPONENTES QUE VALEM OURO
Estava tinto de tintura vermelha pelos peitos e costas e pelos quadris,
coxas e pernas até baixo, mas os vazios com a barriga e estômago eram de
sua própria cor. E a tintura era tão vermelha que a água não lhe comia
nem desfazia. Antes quando saia da água era mais vermelho (...) E estavam
cheios de uns grãos vermelhos, pequeninos que, esmagando-se entre os
dedos, se desfaziam na tinta muito vermelha de que andavam tingidos. E
quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam.
Passagens da Carta de Pero Vaz de Caminha
Há tempos, o urucum era apenas um pigmento utilizado pelos índios,
para enfeitar o corpo como parte de sua cultura. Hoje, é possível notar uma
mudança conceitual em torno disso, pois a proibição de corantes artificiais,
sobretudo na Europa, fez com que o urucum se tornasse um componente de
enorme influência para o agronegócio, tanto para o mercado interno quanto
para o externo.
Esses produtos de origem natural com alta contribuição no desenvolvimento econômico da região, apesar da demanda de mercado, ainda não
são produzidos em alta escala, tendo havido certa indiferença quanto ao
objetivo econômico. Essa situação ocorre devido aos preços que não despertam
tanto o interesse dos agricultores.
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O produto pode ser mais comercializado, desde que sejam agregados
valores que possam estimular o produtor na ampliação de seu cultivo. Isto
pode ser obtido, dependendo da organização deles, em, por exemplo,
cooperativas e associações.
Marli Costa Poltronieri, pesquisadora da Embrapa Amazônica Oriental
As relações comerciais que envolvem essa matéria-prima oscilam bastante
em função da lei da oferta e da procura. Na última década, o mercado desses
grãos passou por diversas variações, porém é interessante destacar que o
material genético utilizado é superior ao utilizado no passado, assim,
certamente, haverá maior produtividade e qualidade de grãos, tornando-os
mais competitivos no mercado interno e externo.
É importante lembrar que a demanda do mercado exterior também é
crescente, em função do incremento de alimentos coloridos com corantes
naturais, assim como as indústrias de cosméticos, farmacêutica e têxtil, que
vêm também aumentando, ano após ano, a procura por esse corante.
MEGAPOTENCIALIDADE E RECURSOS PROMISSORES
Nossa Amazônia, além de ser fértil em riquezas e recursos naturais, é
conhecida por ter a maior bacia hidrográfica, a maior floresta tropical, a
maior diversidade do planeta. Já foi marcada pela expressão “pulmão do
mundo”, mas, curiosamente, também foi denominada “inferno verde”. A
grande questão é que representações são apenas algumas formas de reflexo em
relação às nossas riquezas e exuberância.
O fato é que fomos agraciados pela natureza em nossa região. Inúmeras
reservas de água, insumos agrícolas, combustíveis fósseis, minerais, rochas
industriais utilizadas na construção civil, e até mesmo pedras preciosas são
encontradas em nosso “acervo”.
A RELAÇÃO SUSTENTABILIDADE-MINERAÇÃO
O setor mineral, uma das bases da economia brasileira, faz uso intensivo
de recursos naturais não renováveis e historicamente tem provocado impactos
ambientais nos locais onde atua.
Apesar dos incômodos causados ao meio ambiente, a mineração é essencial
para que a humanidade atinja dois valores socioeconômicos importantes:
qualidade de vida e desenvolvimento sustentável. E não há como alcançar
esses valores sem a oferta adequada de bens minerais.
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AS RESERVAS DA AMAZÔNIA
Atualmente o Pará é o estado detentor das maiores jazidas minerais da
Amazônia, e é nele que se encontram os maiores investimentos em projetos
de exploração e produção mineral.
Os processos químicos em relação a essa produção são claros; no entanto,
em conjunto com a sustentabilidade, têm maior poder comercial. A mineração, juntamente com a química, é mais um fator benéfico ao crescimento
econômico da nossa região.
RIO+20, O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A MINERAÇÃO
Duas décadas se passaram desde a realização da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida por Cúpula
da Terra e ECO ou Rio-92, considerada a mais importante conferência
ambiental mundial até hoje. Mesmo depois de tanto tempo, o que se constata
é que há muito a fazer na agenda socioambiental mundial, proposta durante
o encontro.
Em 2012, acontecerá a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (RIO+20). Certamente as questões de extrativismo
mineral estarão diretamente correlacionadas aos objetivos dessa conferência.
Mas o que esperar da RIO+20?
De forma geral, espera-se que as decisões tomadas sejam mais que um
balanço dos últimos 20 anos que a separam da Rio-92, marco na história
socioambiental mundial que resultou em uma série de documentos importantes, como a Agenda 21, e também nas Convenções sobre Clima e
Diversidade Biológica.
A inércia de projetos que não saem do papel nos cerca incessantemente,
mas, à medida em que eles buscam maior desenvolvimento, também se faz
necessária a preocupação com nossos recursos esgotáveis.
AS INOVAÇÕES DA QUÍMICA NA INDÚSTRIA TÊXTIL
Sem a indústria química, o setor têxtil não existiria.
Markus Furrer, vice-presidente da Textile Chemica
Sem o desenvolvimento da indústria química no setor têxtil, não teríamos
roupas suficientes para atender os bilhões de habitantes do nosso planeta.
Elizabeth Haidar, diretora de marketing da Rhodia Fibras
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O setor têxtil, evidentemente, é um dos que mais exploram recursos
químicos durante seu processo de produção. A química está presente em cada
fase dessa produção, da fibra ao tecido. Produtos destinados a acabamentos,
tais como corantes e amaciantes, formam uma grande cadeia química na
indústria têxtil.
Assim, uma série de produtos baseados na nanotecnologia chega ao
mercado com grande força.
Calcula-se que as fibras químicas, artificiais ou sintéticas, representam
40% do volume total de fibras produzidas, isso se deve à grande influência
de tais processos citados anteriormente.
A indústria têxtil é uma das mais dinâmicas, portanto sua integração nas
ondas ecológicas é certa. Os chamados tecidos funcionais estão no mercado,
o que exige determinada adaptação. E também há modificações nos processos
de produção.
Quanto aos investidores desse ramo, existe um consenso de que, com a
evolução dos equipamentos utilizados no beneficiamento dos fios, tecidos e
malhas, e também na estamparia, devem chegar cada vez mais ao mercado
produtos de alto desempenho que utilizam a menor quantidade de água e
energia possível.
É impossível desenvolver produtos químicos sem pensar em termos
ecológicos e sustentáveis hoje em dia.
Jefferson Zomignan, coordenador do Comitê Setorial de Química Têxtil
(CSQT)
NANOTECNOLOGIA: A EVOLUÇÃO PARA A REVOLUÇÃO
Qualquer termo relacionado à nanotecnologia desperta uma espécie de
pensamento envolto em ideais futuros. Porém, se uma profunda análise for
feita, é possível inferir que temos a capacidade e os recursos disponíveis.
Então, o que falta afinal?
Hoje, há dezenas de aplicações de materiais dotados de partículas nanoestruturadas, presentes em produtos dos mais variados segmentos econômicos.
Entre os usuários atuais dos benefícios proporcionados pela nova ciência,
podemos citar as indústrias de plásticos, tintas, borrachas, a eletrônica, a
farmacêutica, a automobilística, a têxtil e a de cosméticos.
A revolução está apenas no início. Os principais cientistas do mundo
garantem que, nos próximos anos, os produtos com a presença de matéria
nanoparticulada crescerá de forma exponencial em itens fabricados pelos
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mais variados segmentos econômicos. Estima-se que, dentro de uma década,
a comercialização de tais produtos deva atingir a casa de US$ 1 trilhão.
A nanotecnologia é o estudo da manipulação da matéria em uma escala
atômica e molecular. Geralmente lida com estruturas com medidas entre 1
a 100 nanômetros em ao menos uma dimensão e inclui o desenvolvimento
de materiais ou componentes, estando associada a diversas áreas (como
medicina, eletrônica, ciência da computação, física, química, biologia) nas
pesquisas de produção na escala atômica.
O princípio básico da nanotecnologia é a construção de estruturas e
novos materiais a partir dos átomos (os tijolos básicos da natureza). É uma
área promissora, mas está dando apenas seus primeiros passos, mostrando,
contudo, resultados surpreendentes (na produção de semicondutores, nanocompósitos, biomateriais, chips, entre outros).
Criada no Japão, a nanotecnologia busca inovar invenções, aprimorandoas e proporcionando melhor vida ao homem.
Um dos instrumentos utilizados para exploração de materiais nessa escala
é o microscópio eletrônico de varredura, o MEV. O objetivo principal não é
chegar a um controle preciso e individual dos átomos, mas elaborar estruturas
estáveis com eles.
Existem muitos debates nas implicações futuras da nanotecnologia, pois
os desafios são semelhantes aos de desenvolvimento de novas tecnologias,
incluindo questões sobre a toxidade e impactos ambientais dos nanomateriais,
os efeitos potenciais na economia global, assim como a especulação sobre
cenários apocalípticos. Essas questões levaram ao debate entre grupos e
governos a respeito de uma regulação sobre nanotecnologia.
CONCLUSÕES
Recursos minerais, processos de produção de tecidos, compostos,
medicamentos, perfumes, agronegócio e sustentabilidade são, evidentemente,
dependentes de processos químicos.
A química tem sido conhecida como um fator importante por ser a
responsável pela composição de toda matéria, porém se faz necessária uma
ampliação de conhecimentos, pelo fato de a química ir muito além disso,
como nos processos econômicos citados acima.
Portanto, melhor do que ser a “base” para todo desenvolvimento é ser
uma “base” que atua corretamente e conscientemente ao lado dos recursos
naturais.
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A química verde vem causando grande impacto positivo em nossa
economia, logo, deve ser incentivada de forma intensiva, para que não
sejamos os únicos afetados por seus benefícios, mas também todas as futuras
gerações.
O crescimento de nossa nação depende exclusivamente de nós mesmos,
e dos valores e ideais que decidimos seguir, como afirma Charles Darwin:
“não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor
se adapta às mudanças”.
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MENÇÃO HONROSA
PEQUENO, MAS
GRANDE SONHADOR
Estudante: Maíra Alves Barbosa da Silva, 16 anos,
estudante do 1º ano do ensino médio
Professor-orientador: Alexandre Barros Oliveira
Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco – Campinas, SP
RESUMO
Este texto, feito em versos, fala sobre a história de um pequeno menino
diferente das outras crianças de sua idade, seguindo o enredo desde seu
nascimento até o grande momento que marcou para sempre sua vida. Isso
porque tinha uma visão diferente do seu mundo: nunca desistiu de seus
sonhos, mesmo que parecessem impossíveis e sempre procurava olhar além
daquilo que estava à frente, lendo as entrelinhas de seu amor pela Química.
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Havia uma vez uma professora que lecionava
nas proximidades
de um bairro muito simples,
para crianças que não podiam pagar uma escola,
e que só tinham uma opção de vida, outrora:
ajudar seus pais na roça.
Descobriu-se na Química,
explorando a natureza,
lecionava com firmeza,
as transformações da matéria.
Ela era jovem, vestia suas roupas singelas
que cobriam as canelas.
Deixava seus cabelos longos
caírem por entre os ombros.
Adorava seu trabalho, também as crianças,
e as levava para ter aula debaixo da árvore das lembranças,
ao lado de uma casa cor carmim.
Completava o cenário pintado por um querubim,
cheio de tranquilidade, onde moravam
os passarinhos a cantarolar. Eles até respeitavam
a professorinha na hora de ensinar, com o canto a parar.
Morava num sítio com seus pais,
que ficava perto demais
de um lago rodeado de
várias espécies de flores,
Onde colhia seus amores
logo pela manhã,
colocando-as na mesa cheia de maçãs
que há gerações estava na família,
e eles não se desfaziam,
jamais.
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Em um dia desses, sábado,
foi tirar leite junto ao gado,
pacientemente,
quando avistou um moço, agricultor muito bonito,
que lhe acenou
disfarçadamente,
envergonhado.
Suas bochechas pegaram fogo,
e suas pernas ficaram bambas como um todo:
estava apaixonada. Aquele moço
simples fisgara seu coração, como na pescaria da festa de São João.
O agricultor era magro,
esguio e alto,
sempre vestia seu macacão para cuidar
daquelas flores que a professorinha iria olhar.
Era um gesto que o fazia lembrar
dela. Também cuidara dos animais,
e de outros bichinhos que por ali moravam.
Vivia com seus pais,
da mãe cuidava,
o pai ajudava
quando era inverno e as vacas,
preguiçosas, não andavam mais.
Tinha que ir tocar os bois,
e observava a professorinha logo depois,
a ensinar sobre cada parte do ambiente.
Aprendia com os olhos que pareciam dois
grandes binóculos.
Na colheita de estação,
o casal apaixonado,
unidos por um único assunto:
a Química. Na primavera,
observavam, atentamente,
cada semente,
e se guiavam pelos seus estudos.
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Ele achava que o campo florido
era como o belo sorriso
da moça, e foi isso que o
encorajou a tomar uma decisão.
Resolveu pedir, em um solstício de verão,
a mão da moça que havia acertado seu coração
com uma flecha de cupido.
Não
havia incertezas, nem impedimento,
casaram-se então.
Saíram do cantinho da tranquilidade
em busca de vida melhor na cidade,
Inebriados pelo monóxido de carbono,
e engajados pelo dinheiro.
Resolveram, por motivos financeiros,
mudar-se para o centro urbano,
onde deixaram seus destinos por outros meios,
e trouxeram seu filho de apenas um ano.
Oportunidades de bons empregos gritavam,
e a chance de estabilizar a família
aparecia.
Felizes de tudo,
foram para uma cidade com ar de futuro,
onde tudo era muito novo,
como construções
com janelas que captavam
a luz que entrava,
e num instante a transformavam.
Tudo surgia com a mesma rapidez
dos aviões,
Mas também o verde ecológico ia perdendo sua vez
ficando limitado às praças, ou a algumas zonas verdes.
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A vida naquele lugar não era tão fácil quanto no campo, lugar
sereno. Ali era difícil respirar e até mesmo andar.
Após um tempo naquela cidade abrigada
pelo cinza e por barulhos estridentes, Pedro
cresceu envolto ao medo.
Fruto de uma sabedoria inigualável
e do poder de entender a natureza,
dos outros garotos começou a se diferenciar
daqueles que só queriam saber
de no computador mexer,
ou sobre jogos conversar.
Ele era sedento do desejo de conhecer
um mundo intocável e invisível,
que não se limitava apenas ao laboratório,
e ao experimento exploratório,
mas todas as coisas conjuntas,
e todas elas, juntas.
Via a Química no seu cotidiano,
ia melhorando ano a ano,
suas experimentações,
suas aspirações.
Não se contentava com qualquer resposta.
Curioso era pouco,
seus anseios por aprender
não caberiam nem em uma pequena pasta.
Seu professor de Química o admirava,
pois foi em um trabalho escrito,
que sobre os átomos falava,
que o menino pode sonhar com o desconhecido.
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Se avistasse um menininho
de cabelos encaracolados, certinho,
dependurando-se sobre uma cadeira
para tentar “olhar” mais de perto
os pequenos átomos,
este menino esperto,
deveria ser Pedro.
Na escola, era um exemplo a ser seguido,
esforçava-se e tirava boas notas, desinibido,
para seus pais ficarem felizes.
Mas
Pedro queria mais e mais
quando começava com suas dúvidas rotineiras,
e suas diretrizes,
ninguém o segurava. Às vezes,
ele guardava para si (dentro de suas veias),
decidira sem dó
buscar respostas por si só.
Foi na adolescência o período decisivo
para a sua vida, também incisivo
para o mundo, que, mais tarde, o conheceria.
E Pedro, de alguma forma, ajudaria,
por meio da Química, o avanço da tecnologia.
Via seus colegas e seus desejos de profissões:
“policial”, “veterinária”,
mas qual profissão escolher?
Zombavam dele por ser tão indeciso
e ao mesmo tempo certo nas coisas
que fazia,
e daquele mundinho que Pedro insistia em
querer saber.
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Voltando da escola
e entrando em sua casa,
avistou uma lupa que sua mãe deixara, sem delongas,
em cima da escrivaninha
ao lado do livro de biomas.
Não pensou duas vezes e foi para o quintal,
repleto de plantinhas, cuidadosamente
colocadas nos vasinhos de cerâmica em um beiral,
um verdadeiro jardim de cores e sabores.
Tornou a pegar uma pequena folha na mão,
a mesma coisa que fazia antigamente,
lembrando-se instantaneamente.
Ficou ali,
sentado no chão por horas observando os secretos visitadores,
ele, a folhinha e a lupa.
Ansiosamente,
Pedro havia descoberto seu rumo,
o caminho que percorria seu destino.
Mesmo com as contraposições externas,
tornou-se um pesquisador de fervor,
um homem de caráter limpo, ainda sonhador,
muitíssimo famoso na mídia por seus feitos.
Voltou-se para a área em que mais queria trabalhar: a Química.
Assim, o lugar onde as fases mais importantes
passou
virou um lugar habitável, longe da suja ganância.
Depois de visitar o mundo todo e procurar
respostas para perguntas,
achou-as bem no lugar
onde nunca pensou um dia voltar.
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Com grande dominância na área,
foi assim a visão ambiental da sua cidade,
que, na maior parte,
era escura, suja e poluída.
Com a ajuda da arte
e dos conceitos químicos,
ajudava na melhoria de vidas,
investindo na ciência Química,
decifrando seus mistérios,
preparando os novos impérios,
da geração mais limpa.
Conseguiu terminar suas pesquisas
sobre novos materiais recicláveis,
e em suas premissas
foi desenvolvendo
um olhar mais sustentável,
mudando, aos poucos,
o olhar de toda a população,
e também da mídia: sites de notícias, televisão,
revistas e jornais.
Após conversar com seus amigos
sobre métodos de salvar o planeta,
e algum tempo depois,
quando lhe restaram só dois caminhos
com seu microscópio,
sozinho,
com a inteligência de Lavoisier,
teve a brilhante ideia a percorrer.
Fundamentou
uma tese sobre reutilização
de pneus de caminhão
e outros veículos,
na transformação
de pavimentação
das ruas de ciclovias da cidade.
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Um asfalto especial,
construído com pneus usados
e muito mais barato,
não era coisa de gente banal,
era resistente
e ecológico.
Projetou também um novo plástico reciclado,
que foi aplicado na fabricação
de quadros de bicicletas.
O polímero que ele mesmo descobriu
deixou ainda mais leves as “magrelas”.
Já estava em certa idade
andando com naturalidade,
observou, em uma televisão,
um anúncio sobre seu nome,
após isso, foi pronunciado seu sobrenome.
Um grande prêmio em seu campo de visão.
Foi com glória
que recebeu
o prêmio mais importante,
o Nobel.
Por sua tese e preocupação,
com seu povo e sua nação.
O prefeito
viu seu feito.
Consciente,
aplicou nas ruas,
largas e vastas,
a inovação Química do pavimento
de Pedro.
Ele não deixou barato,
o simples fato
do pavimento,
mais formulou, mais e mais
teses e conceitos,
do tamanho que sua imaginação
o fez.
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No seu município,
na época de presépio,
o cidadão, com respeito,
conservou o que é seu de direito,
a cidade, seu espaço.
Tomando como exemplo
o grande feito do moço,
deixaram seus carros de lado.
A cidade, recebendo o título “Cidade mais verde do Mundo”,
pode respirar ar puro. Conservando e revertendo
verde em tudo
graças ao pequeno menino
de perguntas inquietantes,
viciantes,
e sua curiosidade inigualável
sobre o mundo aparentemente inalcançável
que a Química oferecia,
mas que após o seu feito,
virou a matéria que mais divertia,
e que era a base das outras,
para um planeta mais verde e sustentável,
gerando muitos outros como ele,
Pedro.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta de fazer um texto sobre uma criança que, por meio de sua
inocência, entrou para o mundo da Química foi estimular as gerações a
buscar o mesmo caminho, não só para o mundo da Química, mas também
para as disciplinas escolares que necessitam de um empenho maior do aluno
e também para mostrar que, por meio da Química, podemos modificar o
meio ambiente onde vivemos, em questões de sustentabilidade e em espaço
físico e social (realizações), e de futuro, procurando vivenciar cada ação do
personagem, utilizando uma linguagem de fácil compreensão e destinada a
todos os leitores.
BIBLIOGRAFIA
FOGAÇA, J. Introdução à química. Brasil Escola. Disponível em: <http://www.
brasilescola.com/quimica/>. Acesso em: 01 set. 2011.
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MENÇÃO HONROSA
QUÍMICA VERDE E SEUS
BENEFÍCIOS NA SOCIEDADE ATUAL
Estudante: Natália Balbinott, 15 anos, estudante do 2º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Roseli de Ré de Oliveira
Colégio Tiradentes da Brigada Militar - Passo Fundo, RS
RESUMO
A sociedade atual tem se preocupado constantemente com o planeta Terra,
tentando remediar as situações criadas por ela mesma. Com o avanço na
tecnologia e o desenvolvimento de indústrias, o planeta sofreu alterações, tais
como o aumento da temperatura e a degradação de recursos naturais.
A Química Verde é uma alternativa utilizada para a preservação do planeta
Terra, e tem por objetivo encontrar maneiras de modificar a situação criada
pelos seres humanos, mantendo ou aumentando o desenvolvimento e a
evolução da sociedade sem ou com pouco prejuízo para o planeta. Por meio
de seus princípios, a Química Verde apresenta alternativas envolvendo
pesquisadores, indústrias e a população em geral, promovendo a diminuição
de poluentes e quaisquer outros materiais tóxicos.
Neste trabalho, estão expostos detalhadamente objetivos e mudanças
propostas pela Química Verde, que têm tido enorme adesão de todas as
nações, com o intuito do desenvolvimento sustentável e a preservação do
ambiente.
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QUÍMICA VERDE E SEUS BENEFÍCIOS PARA A SOCIEDADE ATUAL
O meio ambiente se tornou foco de inúmeras campanhas no século XXI.
Essa preocupação com a natureza vem desde a década de 70, em que havia
“uma busca pela proteção de grandes componentes da natureza e o indivíduo
voltou sua atenção para a água, o ar e a vida selvagem.” (TAKEDA, 2009, p. 1).
A partir de então, a natureza deixou de ser apenas um componente coadjuvante na vida humana para se tornar a principal causa de preocupações
coletivas.
No Brasil, as questões ambientais têm sido abordadas com frequência cada
vez maior. Os acontecimentos cotidianos, como vazamentos de óleo, contaminação da água, tratamento do esgoto, qualidade do ar nas grandes cidades,
efeito estufa e frequentes queimadas em florestas servem para alertar a
população sobre os efeitos da intervenção humana no ambiente.
Em 1988, houve a realização da Conferência de Toronto sobre as Mudanças
na Atmosfera; em 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas para
o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, popularmente
conhecida como ECO-92, que contou “com a participação de 179 chefes de
Estado. Nessa reunião, foi elaborado um documento chamado Agenda 21,
por meio do qual os países se comprometiam a prezar pelo chamado desenvolvimento sustentável” (SILVA; LACERDA; JUNIOR, 2005, p. 103); e, em
1997, houve o estabelecimento do Protocolo de Quioto, com a instituição
de normas referentes à redução da emissão de gases causadores do efeito estufa,
além de metas a serem atingidas por países que já contribuíram para a
poluição do planeta. Essas foram algumas das mobilizações feitas que preveem
a diminuição do número de poluentes presentes no ambiente.
Além dessas, muitas outras mobilizações têm sido feitas ao redor do
mundo para que haja redução, reutilização e reciclagem de materiais sólidos,
uma vez que, quando jogados fora, demoram centenas de anos para se
decomporem. Foram, também, assinados acordos entre as nações, nos quais
elas se comprometiam a adotar programas de preservação do patrimônio
natural e da biodiversidade, além de combater todos os tipos de poluição.
A Química é vista como um dos maiores contribuintes para a poluição do
planeta, já que “a produção química também gera inúmeros inconvenientes,
como a formação de subprodutos tóxicos e a contaminação do ambiente e do
próprio homem” (PRADO, 2003, p. 738). Havendo a necessidade de preservar o ecossistema e promover crescimento sustentável, foi instituído um
ramo no âmbito da Química conhecido por Química Verde.
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A Química Verde é uma nova visão da química, em que se abana a maturidade atingida por este ramo de conhecimento científico ao longo do
século XX e se persegue o seu rejuvenescimento com vista a: eliminar os
efeitos nocivos para o ambiente e a saúde ecológica e humana da preparação e utilização dos numerosos produtos fabricados pela Indústria
Química; e permitir a recuperação da aceitação da química pela
sociedade. (MACHADO, 2004, p. 63).
Para que seja possível cumprir os objetivos da Química Verde já estabelecidos, é necessário reduzir as práticas que contribuem para a poluição do
planeta e tentar substituí-las por outras que preveem o benefício das
populações sem causar danos ao ambiente.
O grande desafio é a continuidade do desenvolvimento, diminuindo os
danos causados ao meio ambiente. Tal fato requer uma nova conduta
química para o aprimoramento dos processos, com o objetivo fundamental
da geração cada vez menor de resíduos e efluentes tóxicos, bem como da
menor produção de gases indesejáveis ao ambiente. Este novo caminho a
ser delineado pela química é denominado como química sustentável ou
química verde: a criação, o desenvolvimento e a aplicação de produtos e
processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias tóxicas. (PRADO, 2003, p. 738).
Além de principal causadora da poluição do planeta através da metalurgia,
siderurgia, mineração e produção de alimentos, por exemplo, a Química é o
principal remediador da poluição ambiental, contribuindo em processos de
despoluição, reciclagem, biodegradação e tratamento da água poluída.
A biodegradação, que consiste na ação de micro-organismos que se
alimentam de material orgânico, transformando-o em moléculas menores,
pode beneficiar-se da química para que os materiais ganhem condições
mais favoráveis a sua decomposição, tornando-se mais úmidos, menos
resistentes à temperatura e mais expostos ao oxigênio. Procedimentos
químicos podem contribuir ainda nos processos de reciclagem, reduzindo
assim a produção de lixo e suas consequências poluidoras ao meio ambiente.
(GOUVEIA, 2011, p. 1).
A solução de algumas questões ambientais pode ser encontrada na
Química Verde, já que ela visa a não utilização de reagentes e produtos
tóxicos nocivos à vida humana e ao próprio planeta, apoiando, assim, o uso
de técnicas sustentáveis de pesquisa e desenvolvimento.
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Através dos anos, foram definidos doze princípios básicos da Química
Verde. Para que uma indústria, instituição de ensino ou pesquisa adira à
Química Verde, é necessário que ela siga doze princípios.
O primeiro dos princípios é a prevenção. Seguindo o ditado popular:
“antes prevenir do que remediar”, para os que seguem a Química Verde,
torna-se melhor e mais barato evitar a formação de resíduos tóxicos no
ambiente do que ter de tratá-los posteriormente. Evitar os resíduos contribuiria de maneira significante para o meio ambiente, já que o custo para o
seu tratamento é alto. Os resíduos geram perda de matéria-prima, gasto de
energia para a sua produção e sua futura reciclagem, sem contar os problemas
ambientais decorrentes do seu excesso presente na natureza.
O segundo princípio diz que “métodos sintéticos devem ser projetados
para maximizar a incorporação de toda a massa dos reagentes no produto.
Essa ideia, introduzida por Trost, é conhecida como ‘Economia Atômica’”
(SILVA; LACERDA; JUNIOR, 2005, p. 104).
Já o terceiro princípio da Química Verde fala sobre a questão da utilização
de produtos menos perigosos: “sempre que forem viáveis, as metodologias
sintéticas devem usar e gerar substâncias o menos tóxicas possível à vida
humana e ao ambiente” (SILVA; LACERDA; JUNIOR, 2005, p. 104). Além
de serem causadores de inúmeros danos, alguns dos produtos químicos
utilizados nas indústrias causam efeitos irreversíveis ao planeta, e apenas a
sua substituição é capaz de resolver tal situação.
O desenvolvimento de produtos mais seguros é o quarto princípio. “Os
produtos químicos devem ser planificados no nível molecular de modo a
cumprir as funções desejadas e a minimizar a sua toxicidade” (MACHADO,
2004, p. 63), tornando-se menos nocivos ao ambiente.
O quinto princípio refere-se principalmente às indústrias e à agricultura.
Segundo ele, o uso de solventes, agentes de separação, entre outras substâncias,
deve ser nulo ou reduzido, utilizando-se materiais inofensivos, se necessário.
O sexto princípio atinge o setor industrial e de pesquisa, já que envolve
uma busca pela eficiência energética. Segundo ele,
Deve-se reconhecer os impactos econômicos e ambientais dos requisitos
energéticos dos processos químicos e minimizá-los; quando possível, os
métodos sintéticos devem ser realizados à temperatura e pressão ambientais ou próximas destas. (MACHADO, 2004, p. 63).
Considerado um dos mais importantes, o sétimo princípio fala sobre a
utilização de fontes de matéria-prima renováveis. Tomando como exemplo o
petróleo, pode-se perceber que, além de ser um combustível fóssil não
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renovável, ele é transformado, em regra, por meio da combustão, em outras
alternativas energéticas. Além de ser possível prever o seu esgotamento, a
combustão do petróleo resulta em gases poluentes. Sendo assim, a utilização
de fontes inesgotáveis reduziria, além do esgotamento dos recursos naturais,
a emissão de poluentes na atmosfera, liberados pelo processo de combustão.
O oitavo princípio da Química Verde prega a redução de derivativos.
A derivatização (uso de reagentes bloqueadores, de proteção ou desproteção, modificadores temporários) deverá ser minimizada ou evitada
quando possível, pois estes passos reacionais requerem reagentes adicionais
e, consequentemente, podem produzir subprodutos indesejáveis. (PRADO,
2003, p. 739).
O nono princípio traz a catálise como solução para os problemas ambientais. Segundo ele, “reagentes catalíticos (tão seletivos quanto possível) são
melhores que reagentes estequiométricos” (LENARDAO, et al., 2003,
p. 1).
O décimo princípio aborda os produtos degradáveis, já que o acúmulo de
resíduos é outro grande problema na sociedade atual. “Os produtos químicos
precisam ser projetados para a biocompatibilidade. Após sua utilização não
devem permanecer no ambiente, degradando-se em produtos inócuos”
(UFPEL, 2002a).
Ao se referir à análise em tempo real para a prevenção da poluição, o
décimo primeiro princípio da Química Verde diz que “as metodologias
analíticas precisam ser desenvolvidas para permitirem o monitoramento do
processo em tempo real, para controlar a formação de compostos tóxicos”
(PRADO, 2003, p. 739).
O décimo segundo e último princípio trata da química segura. “As substâncias e a forma como são usadas no processo químico devem minimizar o
potencial de acidentes” (SILVA; LACERDA; JUNIOR, 2005, p. 104).
Com o passar dos anos, os princípios da Química Verde têm sido inseridos
nas indústrias e nos meios acadêmicos em atividades de ensino e pesquisa,
mas, para que haja a implantação de medidas sustentáveis nas indústrias, se
faz necessária primeiramente a existência de profissionais capacitados que
tenham conhecimento dessas novas técnicas.
A Química Industrial foi, inconscientemente, grande contribuidora para
a poluição do ambiente, porque os químicos não notaram que, conforme
mais conhecimento científico ia sendo adquirido, a Química podia ser
utilizada de outra forma, sem agredir o ambiente. Há pouco tempo, perceberam que podiam empregá-la de modos alternativos que fossem benignos
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para a biosfera. Agora que descobriram a Química Verde, os químicos têm
como papel convencer a sociedade de que essa situação pode ser mudada,
apresentando alternativas para remediá-la.
Embora sociedades norte-americanas, como a American Chemical Society
(ACS) e a Royal Society of Chemistry (RSC), disponibilizem materiais
referentes à Química Sustentável para utilização em cursos superiores e de
grau médio em química – além de muitos artigos referentes a esse tema,
publicados em jornais e revistas da área –, a quantidade disponível desses
artigos em Língua Portuguesa é muito pequena. Porém, com o passar do
tempo, a inserção da Química Verde em instituições de ensino e pesquisa
tem uma aceitação cada vez maior, já que ela contribui de maneira
significativa para a redução de poluentes no ambiente.
A inserção de tópicos de química verde no currículo dos cursos de química
e engenharia química está relacionada diretamente com a formação de
profissionais químicos mais adequados às exigências do setor industrial.
(UFPEL, 2002c).
Com a existência de profissionais químicos qualificados e possuidores de
conhecimento relativo à Química Verde, com seus doze princípios e sua
aplicação na produção industrial, as indústrias seriam capazes de desenvolver
e implementar técnicas de redução da poluição, o que acarretaria uma
consequente queda nos custos de produção.
Muitos cursos trazem a química ambiental como componente curricular,
mas são poucos os que ensinam os princípios da Química Sustentável, tais
como a prevenção da geração de subprodutos tóxicos, ou ainda, a utilização
de produtos provenientes de fontes renováveis. “O interesse em seus materiais
educacionais vem crescendo, sendo que muitos recursos educacionais em
química verde têm sido desenvolvidos ou estão em pleno desenvolvimento”
(PRADO, 2003, p. 743).
No âmbito industrial, a implantação de tecnologias limpas e, ao mesmo
tempo, rentáveis é um grande desafio.
Obviamente a substituição das plantas industriais existentes por novas
instalações requer um investimento muito além das possibilidades das
empresas, mesmo as grandes corporações multinacionais. Porém, vários
químicos trabalham no sentido de desenvolver adaptações em técnicas e
produtos que possam levar a uma redução na utilização de matéria-prima
não renovável e/ou na produção de resíduos tóxicos. (IFEL, 2002b).
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Outra grande preocupação do setor industrial é relacionada às fontes de
energia renováveis. Estima-se que em cinquenta anos o mundo sofrerá dificuldades para manter motores a base de petróleo em funcionamento. Com
a diminuição de combustíveis fósseis, haverá um consequente aumento no
preço para a sua utilização, o que cria a necessidade de mudança de fonte
energética.
As principais alternativas de fontes de energia que não agridam o meio
ambiente são a energia solar, obtida do Sol; a energia eólica, obtida da força
dos ventos; a energia das marés, proveniente das correntes marítimas; a
biomassa, obtida da matéria orgânica; a hidráulica, obtida por meio da força
das águas; entre outras. Esses tipos de fonte de energia são considerados as
melhores alternativas energéticas da atualidade, já que são encontradas em
abundância na natureza e geram menos impactos ambientais.
Atualmente, uma das fontes de energia mais usadas no mundo é a energia
nuclear. Muitas manifestações são feitas contra o seu uso, já que pode haver
a liberação de material radioativo em caso de acidentes em uma usina nuclear,
como já ocorreu na Ucrânia (Chernobyl) e no Japão (Fukushima Daiichi).
Além disso, sua fonte também não é renovável, sendo necessária sua substituição futuramente.
No Brasil, a produção de biocombustíveis com fontes renováveis e que
não liberam gases tóxicos, como, por exemplo, o etanol, a partir da cana-deaçúcar, significa um grande passo para o desenvolvimento do país.
É verdade que falta uma política mais efetiva do governo para o setor de
biocombustíveis, mas ainda assim há avanços importantes já verificados
por pesquisadores da Unicamp (biocombustível a partir do bagaço de
cana), UFPR (biodíesel adicionado ao óleo diesel para movimentar
ônibus urbano em Curitiba), UFRJ (biodiesel a partir de óleo usado em
lanchonete) e dezenas de outras unidades de pesquisa no Brasil, mostrando
a viabilidade de uso da biomassa como fonte alternativa viável de energia.
(UFPEL, 2002b).
O uso do etanol como uma alternativa em prol do meio ambiente, para
a geração de energia, já tem tido resultados positivos. A produção do etanol
no Brasil tem crescido cada vez mais, mas ainda faltam incentivos e políticas
que deem maior competitividade ao etanol com relação aos outros
combustíveis (gasolina, por exemplo), como uma menor tributação, investimentos em infraestrutura e em tecnologia referentes à produção do etanol,
além de incentivos para a substituição dos outros combustíveis.
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As pesquisas feitas em busca de uma alternativa demonstram a magnitude
que a preocupação com o meio ambiente atingiu. Embora haja uma enorme
mobilização dos mais diversos setores sociais, ainda se faz necessária uma
política de maior investimento em alternativas limpas, bem como de “redução
na fonte, tanto no segmento industrial como no acadêmico” (LENARDAO,
et al., 2002, p. 1).
Em suma, o mundo procura alternativas de desenvolvimento sustentáveis
e, com a Química Verde, é possível encontrar meios de fazê-lo. A utilização
dos princípios da Química Sustentável no cotidiano torna-se o grande desafio
da atualidade. Dessa maneira, a própria Química soluciona problemas por ela
criados.
BIBLIOGRAFIA
GOUVEIA, F. Poluição química e química antipoluição. 2011. Disponível em:
<www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br>. Acesso em :10 jul. 2011.
LENARDAO, E. J.o et al. “Green chemistry”: os 12 princípios da química verde e
sua inserção nas atividades de ensino e pesquisa. Química Nova. São Paulo, v. 26, 2003.
MACHADO, A. A. S. C. Química e desenvolvimento sustentável. 2004. Disponível
em: <http://www.spq.pt/>. Acesso em: 01 mai. 2011.
PRADO, A. G. S. Química verde, os desafios da química no novo milênio.
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SILVA, F. M.; LACERDA, P. S. B. de; JUNIOR, J. J. Desenvolvimento sustentável
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TAKEDA, T. de O. A preocupação com o meio ambiente nas últimas décadas. 2009.
Disponível em: <http://www.jurisway.org.br/>. Acesso em: 01 mai. 2011.
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UFPEL. Química verde e educação. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2002c.
Disponível em: <http://www.ufpel.tche.br/iqg/wwverde/>. Acesso em: 01 mai. 2011.
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