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Cidadania
Sete bilhões de seres humanos. E uma humanidade por construir
O mundo atingiu nestes dias
uma população de sete bilhões de
habitantes. A previsão da ONU era de que
esse divisor seria alcançado no dia 31
de outubro, na última segunda feira. A
marca redonda, superlativa, leva água ao
moinho dos apelos neomalthisianos que
tem conquistado adeptos aqui e alhures.
Escudado na justa preocupação com o
equilíbrio
ambiental,
o
neomalthusianismo pega carona num
boa causa para rejuvenescer um velho
truque histórico: atribuir a pobreza ao
excesso
de
pobres.
O planeta vive hoje uma crise
endogâmica, ambiental e econômica. A
superação de uma não se fará sem a
equação da outra. Mas há hierarquia
entre causas e efeitos. Não é a
demografia que explica as conexões
entre miséria, fome e devastação
ecológica. Há uma devastação
precedente sempre omitida nas
manchetes ‘demografóbicas’: a
concentração histórica de poder
econômico e político que acarreta a
exploração devastadora de ‘recursos’
humanos e naturais. Um dado resume
todos os demais: 20% da população
mundial consome 80% dos recursos que
formam as bases da vida na Terra. Ainda
que os demais 80% da demografia
‘excedente’ fossem exterminados, o
padrão de consumo capitalista, e o
desperdício intrínseco a ele, continuaria
a fazer estragos estruturais no planeta.
A desordem exacerbada pelo colapso
neoliberal tende a acentuá-los. Ela
amplifica a miséria numa ponta e justifica
a procrastinação temerária de acordos
e medidas cautelares para refrear a
rapinagem ambiental na outra. A
salvação das finanças ocupa as
atenções e os recursos disponíveis na
agenda do mundo: não há ‘sobras’ para
acudir a fome, tampouco espaço para
investir em reordenação ambiental.
Esse segundo plano ameaça a
relevância da Cúpula da Terra, a Rio
2012. Será necessário uma mobilização
política contundente para romper a
blindagem financista predominante na
agenda da crise e incorporar os reais
interesses da humanidade e do planeta
na reordenação da economia mundial.
Isso não se faz com tergiversações
demográficas que ofuscam em vez de
iluminar a raiz dos problemas.
Cerca de 1,1 bilhão de pessoas
sobrevivem com menos de 1 dólar por dia
e 2,8 bilhões subsistem com menos de 2
dólares/dia nesse momento. A infância da
humanidade, formada por dois bilhões de
crianças, tem a metade de seus
protagonistas aprisionados no redil da
pobreza e da insegurança alimentar.
A
OIT
(Organização
Internacional do Trabalho) explica
como se dá a transmissão geracional
da exclusão: quatro em cada dez
trabalhadores do mundo são pobres e
a natalidade evolui na razão inversa da
curva de renda. O colapso neoliberal
adicionou mais 30 milhões de
desempregados às ruas: hoje são
mais de 200 milhões em todo o
planeta. Entre os que estão
empregados, 1,3 bilhão ganham até
dois dólares por dia; 489,7 milhões
ganham menos de 1 dólar/dia. Dados
da ONU e do Banco Mundial indicam
que 80% da humanidade vive com
menos de dez dólares por dia.
A especulação no mercado de
commodities, que inflaciona os preços
dos alimentos e multiplica a fome,
reúne hoje recursos da ordem de US$
400 bilhões de dólares. Quatrocentas
vezes o orçamento anual da FAO,
principal organismo de cooperação
voltado para o desenvolvimento
agrícola e a segurança alimentar. Nos
anos 80, antes da desregulação
neoliberal, o volume total aplicado em
contratos especulativos era inferior a
US$ 20 bilhões.
Esse é o pano de fundo sobre
o qual será decidida a sorte de sete
bilhões de seres humanos. Não há
solução demográfica para o destino da
humanidade. Seu verdadeiro desafio é
humanizar a sociedade humana.
Carta Maior
Aumenta pressão social contra projeto que altera Código Florestal
A Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (SBPC) e a
Academia Brasileira de Ciências
(ABC)
encaminharam
aos
senadores, em 11 de outubro, um
documento solicitando alterações
no Projeto de Lei da Câmara (PLC)
30/2011, que reforma o Código
Florestal. O texto afirma que “o
Senado Federal tem o importante
papel de corrigir os equívocos
verificados na votação da matéria na
Câmara dos Deputados” e alega
inconstitucionalidades e a falta de
justificativas científicas em algumas
mudanças previstas no projeto atual.
A Associação dos Juízes
para a Democracia (AJD), também
reforçou o coro dos cientistas e
disse, por meio de nota à imprensa,
“não ao PLC 30/2011, por sua
patente inconstitucionalidade
material, à luz dos dados científicos
desvelados”. A AJD pediu ao Senado
que, pelo menos, conceda à ciência
o prazo solicitado, de no mínimo de
dois anos, para a elaboração de
estudos técnicos de impactos
ambientais, antes de qualquer
alteração do Código.
Célebres nomes brasileiros
do cinema, da TV, da academia e
da moda emitiram sua opinião, na
TV e na internet, através de uma
série de depoimentos intitulados
“Mensagem aberta aos senadores
e aos brasileiros”, sob a
coordenação do cineasta Fernando
Meirelles. Estão na lista Gisele
Bündchen, Rodrigo Santoro,
Wagner Moura, Regina Casé,
Denise Fraga, Marcos Palmeira,
Gero Camilo, Fernanda Torres,
Felipe
Camargo,
Ricardo
Abramovay, José Eli da Veiga, entre
outros.
Trechos
destes
depoimentos já estão circulando na
web e na TV, e todos eles já estavam
disponíveis na internet para livre
circulação.
Comitês
Por outro lado, a organização da
sociedade civil está sendo
fomentada pelo Comitê Brasil em
Defesa das Florestas e do
Desenvolvimento Sustentável, que
reúne mais de 200 entidades
estudantis, religiosas, sindicais,
ONGs e movimentos sociais.
“Estamos em fase de expandir o
enraizamento desta articulação”,
afirmou o secretário executivo da
Comissão Brasileira Justiça e Paz,
Pedro Gontijo.
Até agora já foram fundados
os comitês do Distrito Federal,
Curitiba, São Paulo, São Carlos (SP),
Rio de Janeiro, Ceará e Minas
Gerais. Este último foi lançado em
Belo Horizonte no dia 17 de
outubro, com a presença de Marina
Silva, lotando o auditório da PUC
Minas. Bahia, Pernambuco e Rio
Grande do Sul tem o lançamento
de seus comitê previstos para os
dias 24 de outubro, 10 e 21 de
novembro, respectivamente. Mato
Grosso e Piauí também lançarão
seus comitês, mas as datas ainda
não estão estabelecidas.
“O Senado deve perceber
o aumento da pressão social
contra alterações no Código
Florestal. A sociedade está atenta
e se organizando contra os ataques
à legislação ambiental”, pontuou
Gontijo.
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