Najara Aparecida Dalla Barba
São José dos Pinhais: Colônia de imigrantes, dos lusobrasileiros aos eslavos
Monografia apresentada ao curso de Graduação em
História
da
Universidade
Federal
do
Paraná,
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel e Licenciado em História. Sob orientação
da Profª Dr. Roseli Boschilia
CURITIBA 2007
2
Tão longa a jornada! E a gente cai, de
repente, no abismo do nada.
Helena Kolody
3
SUMÁRIO
Introdução....................................................................1
1. Imigração Paranaense............................................3
1.2. Imigração em São José dos Pinhais..................5
1.3. Colônia Santos Andrade e Transferência
para a Colônia Marcelino.............................................9
2. Colonização e Permanência: Os Portugueses
em São José dos Pinhais...........................................14
3. Colônia Marcelino: Instalação e
Encontro Cultural.......................................................26
4. Conclusão.............................................................37
Fontes........................................................................38
Referências Bibliográficas.........................................39
4
INTRODUÇÃO
O objetivo dessa monografia é discutir como se deu à instalação de
imigrantes eslavos no município de São José dos Pinhais no final do século
XIX, em terras já habitadas por luso-brasileiros. Delimitando a pesquisa em
uma colônia particular, a Colônia Marcelino.
O interesse por esse tema ocorreu durante o estudo na disciplina de
História do Paraná, do curso de história. As pesquisas sobre imigrantes no
Paraná abordados pela professora me chamaram muito a atenção, para
futuramente desenvolver um estudo mais aprofundado. O interesse foi
aumentando cada vez que eu tinha contato com uma nova biografia sobre o
assunto, e a escolha definitiva sobre o tema veio junto a uma visita que fiz a
Colônia Marcelino em São José dos Pinhais. Resultando então nessa
monografia.
A questão que orientou a busca pelas fontes e a leituras sobre o
assunto deu-se em função do silêncio presente na historiografia em relação
aos luso-brasileiros, que viviam na região de São José dos Pinhais, antes da
chegada dos imigrantes europeus.
Portanto com essa pesquisa pretendo complementar a história de São
José dos Pinhais, mostrando não só a instalação dos imigrantes no final do
século XIX, mas também investigar a origem populacional dessa região, que
foi apagada pelo discurso historiográfico que privilegiou os imigrantes
europeus.
As leituras sobre o tema foi o primeiro passo percorrido para se
entender o contexto no qual a pesquisa seria incluída, em seguida foi feito
investigação em museus, bibliotecas, no Arquivo Público, igreja de São José
dos Pinhais, convento Irmãs Servas de Maria Imaculada na Colônia
Marcelino, museu da Justiça de Curitiba e Fórum de São José dos Pinhais.
Nessa
busca
foram
encontradas
fontes
que
comprovam
a
permanência de luso-brasileiros na Colônia pesquisada, além de outras
fontes ligadas à temática. Sendo elas, Jornal da Tarde de Curitiba de 1908,
Relatório apresentado ao Governador do Estado José Pereira Santos
Andrade no ano de 1899, Processo de cobrança em nome de Marcelino
5
José Nogueira, 21 registros de terras em Nome de Marcelino José Nogueira
e a lista de votantes de São José dos Pinhais do ano de 1878.
Depois da investigação das fontes o próximo passo foi a leitura do
referencial teórico. Entre as leituras os autores escolhidos, e que
contribuíram para a reflexão teórica – metodológica, foram, Stuart Hall, que
levanta a questão a partir do conceito de “crise de identidade” e de “choque
cultural”, e também foi de grande importância, as discussões sobre
identidade e diferença, abordado por Tomaz Tadeu da Silva.
A monografia está estruturada em três capítulos. No primeiro é
discutido o contexto da economia da erva-mate no Paraná na segunda
metade do século XIX e a imigração paranaense como reflexo dessa
economia. Dentro desse contexto estão separados dois subtítulos, no
primeiro o foco é direcionado para o espaço de São José dos Pinhais e das
Colônias que ali se instalaram, e no segundo, o objetivo é a criação da
Colônia Santos Andrade e a transferência dos imigrantes desse núcleo para
a Colônia particular denominada Marcelino.
No segundo capítulo procurou-se cruzar as fontes levantadas com as
referências bibliografias sobre a colonização no Paraná, sendo discutido
juntamente a memória do antigo morador Marcelino José Nogueira, que foi o
facilitador na venda das terras da região do Marcelino, para os imigrantes
então instalados na Colônia Santos Andrade.
No terceiro capítulo o foco da pesquisa se direciona para a instalação
dos imigrantes poloneses e ucranianos na Colônia Marcelino, sendo
articulado a partir dos depoimentos orais obtidos por Maria Angélica Marochi
e o referencial teórico.
6
1 - IMIGRAÇÃO PARANAENSE
O recorte cronológico estabelecido para esse primeiro capítulo, está
definido a partir da economia do mate que começa por volta de 1820 no
Paraná. Esse período propiciou a emancipação da Província que deixou de
ser comarca de São Paulo em 1853. È importante destacar essa fase da
economia paranaense porque foi, a partir de então, que o Estado necessitou
de imigrantes e passou a incentivar instalações de colônias agrícolas aos
arredores de Curitiba.
Segundo Santos a emancipação da Província estava diretamente
ligada à economia da erva-mate.
Desta maneira, a partir do decênio de 1820, o mate tornou-se o
mais importante produto da exportação paranaense, situação esta
que se manteve durante praticamente todo o século XIX. È preciso
considerar que, após 1840. o Paraná penetra profundamente na
conjuntura de emancipação política de São Paulo, o que vai
acontecer em 1853. Durante essa fase, os desejos de liberdade
política estão diretamente ligados à necessidade de expansão
comercial. Era, portanto, imperativa a emancipação da 5°
Comarca de São Paulo a fim de que ela alcançasse mais rápido e
1
diretamente seu progresso econômico .
O autor continua a expor que essa economia da erva-mate além de
substituir, anulou outras produções. Todo o comércio era destinado à
exportação de mate, tornando deficitários outros setores de produção.
Durante os primeiros decênios do século XIX, a economia
paranaense começou a entrar definitivamente numa fase
comercial. A partir daí, estruturou-se uma economia de exportação
que substituiu quase por completo a produção de subsistência.
Nesse novo contexto histórico-econômico, a produção do mate,
para exportação, monopolizou todas as atividades do litoral e
2
primeiro planalto do Paraná .
Nessa propulsão da economia da erva-mate, o governo da província
deu maior importância a esse mercado, reduzindo o incentivo ao cultivo de
produtos de necessidades básicas, presentes desde meados do século XIX.
1
2
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica. Curitiba: SEED, 2001. p.43
Idem, p. 38-39
7
Essa característica específica do Paraná, é relatada em 1858, pelo
presidente da Província Francisco Liberato de Mattos:
È para lamentar que esta província, cujos terrenos produzem com
abundância, a mandioca, o arroz, o café, a cana, o fumo, o milho,
o centeio, a cevada, o trigo e todos os gêneros alimentícios,
compensando tão prodigiosamente os trabalhos do agricultor,
receba da marinha e por preços tão exagerados a mor parte
daqueles gêneros alimentícios”. E continua, procurando expor, “a
necessidade de promover a emigração de colonos morigerados e
laboriosos, que, conhecedores de processos mais acabados, e
habituados ao uso de instrumentos mais vantajosos ao maneio e
cultura das terras, se empreguem nos vastos campos que possue
3
a província .
Na década de 1870 essa deficiência na economia de subsistência,
levou o então presidente da província Lamenha Lins a incentivar a vinda de
imigrantes para o Paraná. Ele assumiu a presidência da Província entre
1875 e 1877, e suas decisões relativas à imigração tiveram reflexos nos
governos posteriores.
Sua política era a de instalar um “cinturão verde” ao redor de Curitiba,
a fim de abastecer essa região com produtos de subsistência. Segundo
Andreazza, além dos produtos de necessidade básica, esta política levava
em conta outros fatores: “como o Paraná era uma Província que recebera a
sua emancipação política há pouco tempo, via na ocupação territorial uma
forma de garantir seu espaço político, de ativar meios de transporte e
comunicação, como também efetuar obras públicas, além da precariedade
em métodos e insuficiência em quantidade da lavoura de subsistência”.4
O estabelecimento das primeiras colônias se deu nos arredores do
centro urbano de Curitiba. O objetivo do governo provincial era abastecer o
centro consumidor mais rapidamente, e além disso economizar com
construções de pontes e estradas, uma vez que a mão-de-obra imigrante era
utilizada nessa área.
3
PARANÁ. Governador (1857-1859: Mattos). Relatório do presidente da Província do Paraná, Francisco
Liberato de Mattos, na abertura da Assembléia Legislativa Provincial em 7 de janeiro de 1858. Curytiba: Typ.
Paranaense, 1858. p. 21, citado por BELQUIS, R.D. ; GONÇALVES. M. Reconstruindo Memórias: os
poloneses do Santo Inácio. Curitiba: Universidade Tuiuti do Paraná, 2004. p. 26.
4
ANDREAZZA, Maria Luiza. O paraíso das delícias; um estudo da imigração ucraniana 1895-1995. –
Curitiba Aos Quatro Ventos, 1999, p.44
8
Nesse período havia no Brasil a formulação de um discurso em
defesa da política de branqueamento da raça, e a necessidade de uma
nação mais civilizada, onde a presença do negro não era bem vista. Nesse
sentido, o imigrante europeu teve um papel primordial com o componente
racial, contribuindo para a formação do novo perfil da sociedade brasileira
republicana. Segundo o Comendador Ildefonso Pereira Correia, que era
segundo vice-presidente da província em 1888, a imigração foi “como fator
ethnico de primeira ordem, destinada a tonificar o organismo nacional
abastardado por vícios de origem e pelo contacto que teve com a
escravidão5”.
No
período
analisado
o
Paraná
necessitava
socialmente
e
economicamente de novos moradores, aumentando assim o incentivo, por
parte dos presidentes de província para a criação e fixação de colônias. O
“cinturão verde” ofereceu tanto ao imigrante, quanto para os demais
moradores luso-brasileiros, uma nova forma de integração social. Para os
colonos esse sistema representou uma nova forma de socialização com a
terra de adoção, e para os moradores serviu de incentivo para o
estabelecimento de laços sociais e comerciais com outra cultura.
1.2. - IMIGRAÇÃO EM SÃO JOSÉ DOS PINHAIS
A partir desse breve contexto acerca da imigração paranaense, o foco
do trabalho se dirige para o espaço de São José dos Pinhais, que merece
uma análise específica quanto a acomodação dos imigrantes europeus.
São José dos Pinhais é hoje um dos municípios mais desenvolvidos
do Paraná, mas sua expansão demográfica, econômica e social ocorreu de
forma muito lenta, uma vez que todos os passos do crescimento dessa
região foram orientados e dependentes do desenvolvimento econômico de
Curitiba.
5
PARANÁ. Relatório que ao Exm. Sr. Commendador Ildefonso Pereira Correia segundo vice-presidente da
Província apresentou o Exm. Sr. Dr. José Cezário de Miranda Ribeiro por occasião de passar-lhe a administração
da província do Paraná em 30 de junho de 1888. p.26. Curityba : Typ. Da Gazeta
Paranaense,1888.IN:Andreazza, Maria Luiza. Paraíso das delícias; um estudo da imigração ucraniana. –
Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1999, p. 45.
9
A trajetória desse município acompanhou os diferentes momentos
econômicos ocorridos no Paraná, desde a economia do ouro, passando pelo
tropeirismo, a erva-mate, madeira, a economia agrícola vinculada à política
imigratória, e finalmente a chegada da Industrialização na segunda metade
do século XX.
A chegada dos primeiros imigrantes em São José dos Pinhais
coincide com o período da economia ervateira no Paraná, portanto é
importante ressaltar que as decisões tomadas pelos presidentes de
Província, quanto à instalação de imigrantes, afetou diretamente essa
região.
Como desdobramento da política implantada por Lamenha Lins,
mesmo após ele ter deixado a presidência da Província, no ano de 1878,
deu-se continuidade à criação de colônias agrícolas. Dentre elas, quatro se
encontravam em São José dos Pinhais: colônia Santa Maria do Novo Tyrol*,
colônia Murici, Zacarias e Inspetor Carvalho. Essas quatro colônias agrícolas
instaladas próximas ao centro urbano de São José dos Pinhais estavam
localizadas entre 6 e 32 km de distância do centro.
Esses primeiros núcleos foram criados graças à iniciativa do governo
provincial. Eles dispunham de melhor infra-estrutura do que os grupos que
foram instalados posteriormente, na década de 1890 em São José. Esse fato
se destaca na medida em que esses primeiros grupos estavam instalados
mais próximos das áreas de abastecimento, indicando um dos fatores que
facilitaram a prosperidade dos colonos.
O mapa que segue esclarece essa informação quanto à localização
das colônias instaladas na década de 1870 e da colônia Santos Andrade,
criada na década 1890 pelo governo provincial.
1878 – Colônia Murici
1878 – Colônia Inspetor Carvalho
1878 – Colônia Zacarias
1896 – Colônia Santos Andrade
10
11
É importante ressaltar que essas não foram as primeiras colônias em
São José, sendo que em 1876 ocorreu oficialmente à criação da primeira
colônia, a Tomás Coelho*.
Até a chegada dos imigrantes, a maioria da população de São José
dos Pinhais era formada por descendentes de colonizadores portugueses,
indígenas e escravos libertos, que não detinham propriedades.
Como as economias que percorreram São José apenas geravam
riquezas isoladas, não contribuíram para o seu desenvolvimento, que só veio
a ocorrer após a chegada dos grupos de imigrantes. Na obra de Roberto
Simonsen e citado por Maria Cristina Colnaghi aparece um depoimento de
1780 referindo-se às condições precárias da vila de Curitiba e seus
arredores, pertencentes capitania de São Paulo.
Os moradores da vila de Curitiba,que está ao lado da estrada 14
léguas, além de não serem as terras frutíferas, e porque não têm
para quem nem para onde consumir os frutos da sua lavoura, tem
já o costume de plantar somente aquilo que basta para o sustento
de suas famílias; ainda, isto é, aqueles que têm como, uma vez
que a maior parte nem disso cuida, porque muitos sustentam-se
conduzindo congonhas para a vila de Paranaguá, onde as
permutam pelo sal, algodão e farinha, sem saírem desta miséria
desde o princípio de seus avós, e não se pode condenar esse
gênero de vida porque ainda assim têm o sal, farinha e algodão
para vestirem; e a mesma sorte têm os da freguesia de S.José,
6
que é do termo desta vila .
Em São José dos Pinhais essa precariedade perdurou até o século
seguinte, quando chegaram as primeiras levas de imigrantes.
De acordo com Brepohl mesmo com todas as expectativas, “a
chegada dos imigrantes estrangeiros, em que pese sua importante
contribuição, não foi suficiente para impulsionar a economia são-joseense,
no sentido de indicar uma vocação econômica própria para o município, nem
tampouco conseguir romper com as características de vila de sua sede7”.
6
SIMONSEM, Roberto. citado IN: Colnaghi, Maria Cristina. Francisco de Borja Baptista de Magalhães Filho e
Marionilde Dias Brepohl de Magalhães. São José dos Pinhais: a trajetória de uma cidade. – Curitiba: Editora
Prefhacio, 1992. p. 33.
* As colônias Tomás Coelho e Santa Maria do Novo Tyrol deixaram de pertencer ao município de São José dos
Pinhais no ano de 1890, quando houve um desmembramento de terras, hoje elas pertencem ao município de
Piraquara
7
Colnaghi, Maria Cristina. Francisco de Borja Baptista de Magalhães Filho e Marionilde Dias Brepohl de
Magalhães. São José dos Pinhais: a trajetória de uma cidade. – Curitiba: Editora Prefhacio, 1992. P. 117.
12
1.3. - COLÔNIA SANTOS ANDRADE E TRANSFERÊNCIA
PARA A COLÔNIA MARCELINO
Depois de um intervalo de quase duas décadas após a criação das
primeiras colônias em São José dos Pinhais, ocorreu a instalação de
imigrantes na colônia Santos Andrade. Colônia criada oficialmente no ano de
1896 nas divisas de São José dos Pinhais e Guaratuba. O perfil da
instalação desses imigrantes é distinto dos outros grupos que foram
instalados em São José, pois ela é criada alguns anos depois da
proclamação da república.
Com a instabilidade que perdurou no Brasil no final do século XIX, o
governo federal cortou a ajuda financeira destinada à acomodação de novos
grupos em diferentes espaços rurais. O Paraná e as novas colônias que aqui
surgiam foram afetadas diretamente por esse corte financeiro.
No caso específico do núcleo Santos Andrade, a deficiência se deu
devido a infra-estrutura da região. Marochi cita o triste destino quanto a
criação dessa colônia, a identificando como a “mancha negra” na história do
projeto oficial de imigração8. Esse núcleo, da década 1890, foi instalado em
região mais afastada do centro, distinta das primeiras colônias instaladas em
São José dos Pinhais.
O único documento que relata a composição da colônia Santos
Andrade é um relatório de 1907.
Santos Andrade- colônia fundada em 1896 no logar Castelhano,
com localisação de colonos polacos; além dos lotes urbanos foram
demarcados lotes rurais nas linhas Cunhay, Arraial, Ouro Fino e
Castelhanos e construída uma estrada de rodagem para
comunicação da colônia com o logar de Campo Largo, até onde
chegava a estrada que parte de São José dos Pinhais. Em 1899 e
1900 foram ahi demarcados novos lotes, porém por motivos
diversos foram os colonos abandonando as terras e na visita que
ultimamente fiz à colônia, encontrei um único morador; as casas
desaparecidas e as estradas abandonadas. Os seus antigos
habitantes instalaram-se em terrenos de domínio particular, em
8
MAROCHI, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. CuritibaTravessa dos Editores, 2006, p. 138
13
que obtiveram lotes por meio de pagamento realisados em
9
prestações.
A realidade que os imigrantes encontraram ao chegar na Colônia
Santos Andrade, fez com que todas as famílias se transferissem para outra
região. Esse fato não ocorreu apenas com os imigrantes da colônia Santos
Andrade, outras regiões que também eram pertencentes aos descendentes
de colonizadores portugueses se tornaram loteamentos, e a partir dos anos
de 1860, por conseguinte colônias particulares, dando uma nova opção ao
imigrante que não estava satisfeito com o local para onde havia sido
destinado. Segundo o relato de Marochi, fica explícito os motivos que
levaram a transferência das famílias de imigrantes para outras regiões.
Os primeiros grupos que chegaram à Colônia Santos Andrade
nada encontraram, sequer um abrigo descente para recebê-los. O
governo limitou-se apenas a abrir uma picada no meio do mato até
o local. A estrada, que não era das melhores, acabava em Campo
Largo da Roseira. Daí para frente, todos eram obrigados a
caminhar, as pessoas carregavam como podiam os seus poucos
pertences. Era impossível transportar algum tipo de material para
a construção das casas. Com isto, os imigrantes foram obrigados
a construir seus pequenos ranchos com o que extraíram da mata.
(...) Entre os próprios vizinhos dos lotes, de tanto mato, a
comunicação ficava difícil. Após construírem os seus ranchos, as
famílias procuraram dar início às plantações de algum alimento
para o sustento. No entanto, a terra era totalmente inadequada à
produção dos alimentos que eles já conheciam ou estavam
acostumados a comer. Segundo especialistas, a terra do local era
desprovida de qualquer substância favorável à produção agrícola,
10
como sonhavam os primeiros imigrantes .
O relato de um descendente desses primeiros imigrantes que foram
destinados à Colônia Santos Andrade comprova o fato de que o imigrante
esperava melhor infra-estrutura nos núcleos, “meus avós Stefano Nogas e
Eudócia Smolinski Nogas contavam que, quando foram conduzidos até a
Colônia Santos Andrade, na Castelhanos, acreditando encontrar um lugar
9
Relatório elaborado pelo Secretário de Estado dos Negócios de Obras Públicas e Colonização. Curitiba. 1907.
p.4. In: MAROCHI, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. CuritibaTravessa dos Editores, 2006, p. 140.
10
MAROCHI, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. CuritibaTravessa dos Editores, 2006, p. 140.
14
com casas, ferramentas e alguns animais domésticos, encontraram somente
estacas demarcando os terrenos11.
Outra forma dos imigrantes adquirirem terras era a partir da compra,
mas como esse fato pouco ocorreu entre os recém chegados de outros
países, eles eram instalados onde o Governo estabelecia.
No relatório apresentado ao Governador do Estado em 31 de Janeiro
de 1899, fica clara a posição do Governo para imigrantes que não se
habituavam ao local destinado: ”os imigrantes que abandonam o lote que
lhes foi distribuído perde o direito à nova colocação em qualquer colônia do
Estado”12. Sendo assim, restava aos imigrantes a mudança para outra
região, desde que comprassem as terras.
Diante das dificuldades, os moradores da Colônia Santos Andrade
adquiriram as terras da região de Marcelino, situada próxima à estrada geral
de São José dos Pinhais. O grande incentivo a transferência para essa
região além do pagamento facilitado das terras foi a localização. Não
havendo espaço para instalação próximo do centro, a melhor alternativa era
estar ao lado da estrada geral, o que ocorria, com a colônia Marcelino.
Essa transferência dos imigrantes deu-se por incentivo particular, pois
as condições de vida na Colônia Santos Andrade eram inviáveis. Na nova
Colônia eles passaram a desenvolver uma vida econômica e social ativa,
interagindo com a economia do Estado, dando continuidade a seu modo de
vida.
A formação da colônia Marcelino é datada da última década do
século XIX. Segundo Marochi, “por volta do ano de 1897, de acordo com
dados da época, ocorreram as transferências das primeiras famílias da
Colônia Santos Andrade para Marcelinos, ou Colônia Marcelino13”. Além dos
testemunhos o único documento que prova essa data é um cruzeiro
colocado na entrada da colônia em 1899, e que existe até hoje, só que agora
feito em concreto e mármore.
11
NOGAS, Onofre IN: Colônia Marcelino: Nossa raízes, memórias da colonização São –Joseense. Proline
editora e Gráfica, SJP 2001. p.90
12
Relatório apresentado ao Governador do Estado José Pereira Santos Andrade, em 31 de janeiro de 1899.
13
Marochi, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. Curitiba- Travessa
dos Editores, 2006, p. 195.
15
Assim se instalam os primeiros moradores imigrantes na região de
Marcelino. Com muito trabalho e suor, esse grupo cultivava a terra e dela
tirava seu sustento.
Segundo Wachowicz na década de 1870, ou seja, poucas décadas
antes da instalação dos imigrantes na Marcelino, a situação de escassez de
produtos agrícolas no Paraná havia se invertido, pois as colônias já
instaladas supriam essa necessidade. Esse fato não impediu as novas
colônias de participarem desse comércio.
O surgimento de inúmeras colônias de imigrantes europeus em
torno da capital colocou Curitiba na posição única entre as capitais
brasileiras, de receber ainda no século XIX um verdadeiro cinturão
verde, responsável pelo abastecimento de produtos de
subsistência. A partir de meados da década de 1870, não mais se
falou em escassez de gêneros alimentícios na capital
14
paranaense .
Mesmo tendo sido uma colônia particular, distante do centro de
Curitiba e algum tempo depois da economia de subsistência, a colônia
Marcelino ainda assim teve participação nesse comércio. Os imigrantes que
se estabeleceram na região comercializavam seus produtos na Capital do
Estado.
De acordo com Marochi essa forma de comércio avança para o
século XX, citando a Colônia Marcelino como exemplo.
A distância da colônia dificultava as vendas, mas nem por isso
elas deixavam de existir. Assim que os colonos conseguiam obter
algum dinheiro, adquiriam uma carroça para o transporte dos
produtos que pretendiam vender em Curitiba, mas isto já nos anos
trinta. A viagem era longa e, mesmo após vários anos, muitos
chegavam a gastar até mais que dois dias para completar a
15
viagem .
Graças a esse distanciamento a colônia Marcelino é uma das únicas
colônias que ainda não foi absorvida pelo quadro urbano de São José,
mantendo suas tradições até hoje.
14
WACHOWICZ, Ruy Chistovam. Santa Cândida-pioneira da colonização linista .Boletim Informativo n°16 da
fundação Cultural de Curitiba. Curitiba,1975. p.2. Citado por Marochi,, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950:
Os Europeus em São José dos Pinhais. Travessa dos Editores – Curitiba, 2006.
15
Marochi, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. Curitiba- Travessa
dos Editores, 2006, p. 197
16
Como o grupo de imigrantes analisado nessa monografia é de origem
eslava, vale a pena destacar que entre 1880/1900 foi o período de maior
fluxo desses imigrantes para o Paraná, vindos com o apoio do Governo
Central, ou por iniciativas particulares e estaduais.
Quanto à composição dos grupos de imigrantes dessas novas
colônias, embora mantenha-se aquêle caráter de variedade étnica
que é constante nos contingentes imigrados para o Paraná, houve
acentuada predominância de elementos eslavos, principalmente
poloneses e ucranianos, que constituem, aliás, pelo seu número, o
grupo étnico mais significativo das correntes imigratórias dirigidas
16
para êste Estado
O próximo passo para entender como foi à instalação desses grupos
de imigrantes em São José dos Pinhais, é voltar às origens da colonização
paranaense. Dessa forma será possível discutir quem eram os moradores
dessa região de São José, como sobreviviam e como se organizavam antes
da chegada dos imigrantes europeus.
16
BALHANA, Altiva Pilatti; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília Maria. História do
Paraná. Curitiba: Grafipar,1969, volume I p.183
17
2. - COLONIZAÇÃO E PERMANÊNCIA: OS PORTUGUESES EM SÃO
JOSÉ DOS PINHAIS
A exploração de ouro em Paranaguá no início do século XVII trouxe
grandes levas de aventureiros e exploradores para o Paraná, o que
contribuiu para a expansão demográfica por todo o planalto. Assim, até a
criação da vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba em 1693, a
região litorânea, São José dos Pinhais e Curitiba formavam uma mesma
comunidade, com seu centro em Paranaguá.
São José dos Pinhais por se localizar entre a rota Curitiba/Paranaguá
foi povoada primeiramente por esses mineradores que formaram pequenas
povoações. Um comentário de Antunes dá conta da exploração de ouro em
Paranaguá e da fixação desses mineradores nos campos de Curitiba.
Essas perspectivas de descoberta de ouro provocaram
movimentos constantes também na Capitania de Santo Amaro,
sobretudo no litoral de Paranaguá e ainda nos campos de Curitiba.
Como essas regiões ficam afastadas de São Paulo, os faiscadores
de ouro viram-se obrigados a ali fixarem residência. Desse modo,
mesmo antes da fundação das vilas, esses lugares contavam já
com algumas pequenas povoações, que não tinham entretanto
17
nenhuma organização ou representação política .
De início os primeiros aventureiros que chegavam eram de diferentes
níveis sociais. Eles vinham de São Paulo à procura de ouro e na captura de
índios. Num segundo momento era feita à concessão de sesmarias aos
colonizadores com o objetivo de ligar o português à terra, na tentativa de
desenvolver atividades agrícolas e pastoris, ocupar vazios demográficos,
legitimando a colonização da coroa.
Segundo consta a preação de índios levou ao litoral paranaense,
já em 1585, os primeiros aventureiros procedentes das vilas de
Santos e São Vicente, que vinham traficar com os tupiniquins e
prear índios Carijós, os quais requereram terras na região nos
anos seguintes, constituindo-se a concessão destas terras na
18
primeira sesmaria doada no sul do Brasil.
17
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica. Curitiba: SEED, 2001. p.22
FARIAS, Vilson Francisco de. De Portugal ao Sul do Brasil – 500 anos –História, Cultura e Turismo. –
Florianópolis: Ed. do autor, 2001. p.58
18
18
Essa concessão de terra por sesmaria também alterou o perfil da
população, que ao invés de passageira se tornou fixa e diversificada,
somando-se aos índios e tão logo aos africanos que chegariam da África.
A primeira sesmaria entre as oito concedidas na região de São José
dos Pinhais é datada de 1707. Essa forma de concessão de terra em São
José perdurou até 1743 quando foi adquirida a última sesmaria.
A Sesmaria – povoadora a medida que ela se transforma –
contribuiu de forma expressiva para a ocupação efetiva de espaço
geográfico paranaense (...)A Sesmaria foi o alicerce na
organização do povoamento e do espaço do Paraná. Acompanhou
as diversas fases de ocupação e exploração econômica,
motivando a fixação do homem a terra, mesmo por soluções
alheias ao seu processo de concessão de terras, os
19
apossamentos .
Juntamente com esse período de concessão de terra em São José
dos Pinhais, pela corte portuguesa, ocorreu o declínio da exploração de ouro
em Paranaguá. “O ouro paranaense era pouco, basicamente de aluvião,
extraído nos leitos dos rios e córregos, desestimulando esta atividade, que
entrou em franca decadência quando foram encontrados os grandes veios
da região das Gerais20”, observa Farias. A partir de então a população
residente no planalto paranaense passa a destinar a atividade econômica à
lavoura, e principalmente à criação de gado.
Em virtude da escassez da produção aurífera, desde o início, os
campos de Curitiba serviram, do ponto de vista material, a
atividades ligadas à lavoura de subsistência e à pecuária. A área
se prestou à exploração do pastoreio, e esse novo gênero de vida
exigiu, pouco a pouco, a fixação de pequenos núcleos de
habitantes, com seus escravos, em torno dos pousos e currais de
21
gado .
A população de São José no ano de 1797 aponta para um total de
1.502 pessoas, sendo 1.315 livres e 187 escravos22. Esse contingente se
compreende
na
maioria
pelos
descendentes
de
portugueses
que
permanecem na região de São José após a retirada dos exploradores para
19
RITTER, Maria Lourdes. As sesmarias do Paraná no séc XVIII. Curitiba – Instituto Histórico, Geográfico e
Etnográfico Paranaense, 1980. p.207
20
FARIAS, Vilson Francisco de. De Portugal ao Sul do Brasil – 500 anos –História, Cultura e Turismo. –
Florianópolis: Ed. do autor, 2001. p.59
21
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica. Curitiba: SEED, 2001. p.25
22
SBRAVATI, 1980. IN: Colnaghi, Maria Cristina. Francisco de Borja Baptista de Magalhães Filho e
Marionilde Dias Brephol de Magalhães. São José dos Pinhais: a trajetória de uma cidade. – Curitiba: Editora
Prefhacio, 1992. p. 32.
19
Minas Gerais, levando em consideração que São José dos Pinhais era uma
freguesia há 35 anos.
Esses dados são de fundamental importância quanto ao objetivo
central do capítulo, cuja intenção é mostrar que a história de São José dos
Pinhais não deve ser escrita apenas sobre a ótica dos imigrantes. Antes dos
imigrantes outros grupos indígenas e sobre tudo luso-brasileiros deixaram
vestígios de sua presença nessa região.
Esses luso-brasileiros descendentes dos sesmeiros do início do
século XVIII, permanecem nessas terras que foram obtidas por seus
descendentes, “predominando a forma de aquisição através da herança23”.
No ano de 1818 foram recenseadas 205 propriedades na região de
São José dos Pinhais, variando com extensão máxima de 3.000 braças e
mínima de 50 braças, sendo que apenas 5 proprietários não eram
residentes24. Essa informação nos faz compreender, juntamente com uma
lista de votantes da região de Marcelino em São José dos Pinhais, do ano de
1878, onde consta a permanência dos sobrenomes dos que receberam
sesmaria da coroa, comprovando que essas terras foram divididas como
herança para os filhos e netos dos sesmeiros, e assim consecutivamente.
Entre o final do século XVIII e início do XIX a população de São José,
de sua maioria luso-brasileira, desenvolvia outros tipos de economia além da
agricultura e pecuária, “ já no século XVIII, ao lado de uma economia de
Subsistência, aparecem os primeiros alvarás de licença concedidos pela
Câmara de Curitiba, para o estabelecimento em São José, de ofícios de
sapateiro, ferreiro, bem como para lojas de secos e molhados, fazendas e
outros25. Pela época pode-se concluir que os estabelecimentos eram de
luso-brasileiros, sendo que até a chegada dos imigrantes os moradores
dessa região além dos descendentes de portugueses eram negros e
índios,que viviam de trabalho senhoril. Mas é após a instalação das colônias
23
RITTER, Maria Lourdes. As sesmarias do Paraná no séc XVIII. Curitiba – Instituto Histórico, Geográfico e
Etnográfico Paranaense, 1980. p.202
24
Idem. p.206
25
SBRAVATI, 1980. IN: Colnaghi, Maria Cristina. Francisco de Borja Baptista de Magalhães Filho e
Marionilde Dias Brephol de Magalhães. São José dos Pinhais: a trajetória de uma cidade. – Curitiba: Editora
Prefhacio, 1992. p. 34
20
no município, que a região terá destaque quanto a criação de
estabelecimentos comerciais.
No caso específico da região de Marcelino, localizada a 30 km do
centro urbano de São José, a análise da lista de cidadãos comprova que
todos os moradores votantes eram lavradores luso-brasileiros e que se
incluíam naqueles que receberam terras por herança “Os registros de 1893
mostram
que
no
Marcelinos
foram
relacionados mais
de
setenta
proprietários de pequenas e médias extensões, sendo que os seus
sobrenomes eram todos de origem portuguesa26”.Eram pessoas que viviam
de um latifúndio pouco produtivo, e em sua maioria não moravam nas terras,
utilizavam como espaço de trabalho e depósito de erva-mate.
Em meados do século XIX, quando começaram a chegar as primeiras
camadas de imigrantes nessa região de São José dos Pinhais, muitos
desses luso-brasileiros venderam ou trocaram suas terras, procurando outro
lugar para se estabelecer. Esse processo de evasão dos luso-brasileiros
para outras regiões desenvolveu uma outra forma de distribuição de terras
entre os moradores.
O acúmulo de terras nas mãos de poucos proprietários nessa região
tornou-se comum. Como exemplificação desses fazendeiros/comerciantes
que eram donos de muitas braças de terra, destaca-se como representante
nessa pesquisa um comerciante da região, Marcelino José Nogueira,
homem de grande influência em São José dos Pinhais no século XIX.
Entre as formas de comércio dos luso-brasileiros em São José até a
chegada dos imigrantes, se inclui a do comerciante caixeiro viajante, que
vendia seus produtos diretamente nas fazendas. E o comerciante destacado
na pesquisa, desenvolveu esse tipo de comércio na região.
Nascido em São Francisco do Sul, em Santa Catarina, no ano de
1830 Marcelino José Nogueira, filho de Leodovina Nogueira, não tinha pai,
ou não chegou a conhecê-lo, levando somente o sobrenome português da
mãe. Ele se muda para a região de São José dos Pinhais ainda jovem,
26
Marochi, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. Curitiba- Travessa
dos Editores, 2006 p. 194.
21
quando começa a ter destaque na sua vida profissional. Aos 32 anos
Marcelino foi escrivão de São José, se tornando conhecido nessa região.
Alguns cadernos comemorativos feitos no ano de 1995 sobre as colônias em
São José dos Pinhais dão destaque a Marcelino como Coronel da guarda
Imperial, mas em documentos oficiais as profissões que se comprovam era
de escrivão, e latifundiário nas regiões de Campo-Largo, Cotia, Agaraú e
Marcelino, localidade que levava seu nome. Ao que tudo indica as atividades
desenvolvidas por ele lhe deram o destaque na região.
Casado duas vezes, sendo o primeiro casamento com Maria Joaquina
da Conceição Nogueira, teve 3 filhos, dois homens, um professor e o outro
advogado, e uma filha. No segundo matrimônio com Leocádia Alves Pereira,
de família nobre, teve 5 filhos, três homens e duas mulheres, entre elas
Olívia Alves Nogueira que
formou-se professora na escola Americana e falava fluentemente 4 idiomas
além do português, por esse motivo foi homenageada com o nome de uma
escola em São José dos Pinhais.
No que tudo indica a família Alves Pereira tinham grande prestígio na
região, pois o casarão da família estava localizado ao lado da igreja Matriz
de São José, e todos os filhos do casal Marcelino Nogueira e Leocádia Alves
Pereira estudaram e tiveram grande destaque na vida profissional. Além da
professora Olívia, o filho mais velho do 2° casamento se destacou como
promotor público em Ponta Grossa.
Pode-se concluir, então, que associando o destaque de Marcelino
como escrivão, latifundiário e líder político, com o prestígio da família Alves
Pereira, seu status social e econômico aumentou ainda mais, levando-o a
tornar-se um dos proprietários de terra mais conhecidos da região.
Ao longo da vida, Marcelino José Nogueira, se torna proprietário de
grande extensão de terras, variando entre 666 alqueires. Todas as suas
fazendas tinham benfeitorias, plantação e preparo de ervais, culturas
extrativas, aminhos e mananciais.
Apenas uma fazenda, a maior delas, foi adquirida por compra e
possuía casa, depósitos, paiós, quintais, potreiros e estrada. Isso nos leva a
pensar que talvez fosse nessa fazenda que Marcelino residia, sendo que ela
22
se localiza na estrada geral que liga o centro urbano de São José a Tijucas
do Sul. As demais fazendas adquiridas também estão ao lado dessa estrada
geral.
O acúmulo de terras nas mãos desse homem percorreu todas as
formas de aquisição, de herança, compra, doação e por pagamento de
processos. Ao que tudo indica, era comum ele vender mantimentos fiado, e
os pequenos colonos não tendo condições para saldar seus débitos,
pagavam o comerciante, ofertando-lhes suas terras, culminando com a
aquisição de grandes glebas de terras como forma de pagamento.
Pode-se afirmar que esse acordo de pagamento de dívida com terras
nem sempre foi pacífico, pois nos registros de terras todos esses casos
estão como terras adquiridas por adjudicação judicial, ou seja, um processo
que estava ocorrendo e quando perdida a causa, o proprietário das terras e
devedor, passou para ao comerciante alguns alqueires como forma de
quitação da dívida.
Além dos registros pesquisados, outro documento que comprova essa
informação é um processo de 1861 no qual Marcelino José Nogueira entra
em cobrança no fórum de São José contra Bento Alves Ribeiro.
Outra maneira muito comum nos séculos anteriores de adquirir terras,
e foi provavelmente o que levou o Coronel Marcelino a fazer os registros das
terras todos no mesmo dia, era a prática de obter a terra e não fazer o
registro da mesma no ato da compra e sim, quando se iria revendê-las essas
terras. Isso foi provavelmente o que fez Marcelino, já que estava com a
intenção de vender as terras da região de Marcelino para os imigrantes da
Colônia Santos Andrade.
O acúmulo de terras nas mãos de Marcelino José Nogueira foi obtido
através de diferentes modalidades: 8 regiões adquiridas por compra,
somando um total de 383 alqueires mais ou menos, por herança 6 regiões
somando 88 alqueires, por doação em pagamento 2 regiões somando 95
alqueires e por adjudicação judicial 5 regiões, somando 100 alqueires mais
ou menos, num total de terras de 666 alqueires nas regiões próximas da
Marcelino.
23
O mapa a seguir classifica as terras sobre posse de Marcelino José
Nogueira em 1895, antes da venda de algumas terras aos imigrantes.
As áreas adquiridas na região, estão assim distribuídas:
Propriedade: Espigão
adquirido por:
compra
Propriedade: Campestre
adquirido por:
compra
Propriedade: Campo-Largo
adquirido por:
compra
Propriedade: Palmital
adquirido por:
herança
Propriedade: Miringuava-Mirim
adquirido por:
compra
Propriedade: Rocinha
adquirido por:
compra
Propriedade: Barreiro
adquirido por:
compra
Propriedade: Rocinha
adquirido por: adjudicação
judicial
Propriedade: Potreiro
adquirido por: doação em
pagamento
Propriedade: Fulla
pagamento
adquirido por: doação em
24
Propriedade: Fulla, quarteirão do Palermo, adquirido por: adjudicação
judicial
Propriedade: Caratuvas no quarteirão da Fachina, adquirido por:
adjudicação judicial
Propriedade: Avencal
adquirido por: adjudicação
judicial
Propriedade: Queimada
adquirido por:
herança
Propriedade: Potreiro
adquirido por:
herança
Propriedade: Monte-Alegre
adquirido por:
herança
Propriedade: Morro
adquirido por:
compra
Propriedade: Capoeira
adquirido por:
compra
Propriedade: Campinas
adquirido por: adjudicação em
pagamento
Propriedade: Capoeiras do Marcelino
adquirido por:
herança
Propriedade: Queimada
herança27
27
Arquivo Público do Paraná; livro 136, do registro 729 até 749.
adquirido por:
25
•
Adjudicação Judicial – 100 alqueires
•
Doação em pagamento - 95 alqueires
•
Compra – 383 alqueires
•
Herança – 88 alqueires
26
Todos os registros foram feitos no mesmo dia, em 4 de dezembro de
1895 no cartório de São José dos Pinhais. Uma fonte que seria muito
importante para saber as posses do Coronel Marcelino no inicio do século
XX, é um testamento deixado pelo mesmo, mas esse documento está
perdido no fórum de São José.
Provavelmente Marcelino José Nogueira além de possuir terras,
comercializar, ela morava nas regiões próximas de Marcelino, antes da
chegada dos imigrantes, pois a lista de votantes é do ano de1878 e essa
região já existia com o nome de Marcelino. Ao que tudo indica, ele era
conhecido por quase todos os moradores aos arredores da região. “O
comerciante não era apenas um vendedor, mas um homem bem informado,
conhecedor dos costumes e talvez de alguns segredos de seus clientes. Era
também um dos que trazia informações dos grandes centros28”.
Com a venda de produtos em várias regiões de São José, Marcelino
ficou conhecido pelos moradores da região. Com a instalação dos imigrantes
eslavos na Colônia Santos Andrade, ele passou também a comercializar
nessa região, estabelecendo vínculos comerciais e de amizade. Esse
vínculo comercial é o que possibilitou a venda das terras da região de
Marcelino para os imigrantes instalados na Santos Andrade, levando em
conta as dificuldades já mencionadas no 1° capítulo, que fizeram os
imigrantes procurarem outra região para se estabelecer. Segundo
informações dos moradores da colônia Marcelino, ele vendeu parte de suas
terras na região para os imigrantes, facilitando o pagamento, o que tornou
acessível adquirir essas terras.
O Jornal Tribuna de São José em um caderno especial da colônia
Marcelino do ano de 1995 mostra a seguinte informação.
Tão logo os primeiros compradores da nova gleba ali chegaram e
sendo um dos adquirentes chamado Pedro, foi proposto para que
o nome da Vila fosse chamada São Pedro. Assim permanecendo
por apenas dois anos, até que o povo ucraniano achou por bem
homenagear aquele que facilitou para que os imigrantes ali se
28
Colnaghi, Maria Cristina. Francisco de Borja Baptista de Magalhães Filho e Marionilde Dias Brephol de
Magalhães. São José dos Pinhais: a trajetória de uma cidade. – Curitiba: Editora Prefhacio, 1992. p. 83
27
reunissem, imortalizando o coronel, denominando o lugar de
29
Colônia Marcelino e assim, permanece até hoje .
Essa informação é desconhecida quando pesquisada em documentos
oficiais. Como mencionado anteriormente e se apoiando na lista de votantes,
essa região de Marcelino já existia como vila Marcelino algumas décadas
antes da instalação dos imigrantes, por esse motivo se torna menos viável
que realmente se tenha mudado o nome da região por dois anos, sendo que
esse nome já tinha uma tradição entre os moradores por causa do
comerciante e das terras aos redor da região que também eram suas.
A memória de Marcelino José Nogueira e de seus descendentes
mesmo após dois séculos permanece presente no cotidiano dos sãojoseense.
Ao passar pela rua Dr. Marcelino Nogueira Jr, no centro da cidade,
visitar o colégio Olívia Nogueira também localizada no centro de São José,
ou um passeio ao Distrito Administrativo de Marcelino ou Colônia Marcelino,
em todos esses lugares estão expostas as homenagens e gratidão por uma
família que contribuiu para o comércio, educação e política da região, e na
instalação dos imigrantes na colônia Marcelino.
A permanência do nome Marcelino na antiga vila e após a instalação da
colônia, deixa explícito que a ligação era muito mais do que apenas
comercial do Maragato com os luso-brasileiros e depois com os imigrantes.
Há muitas evidências do agradecimento dos colonos pelo comerciante ter
dado às famílias a oportunidade de ficarem próximas. Alguns imigrantes que
foram para a Marcelino vieram de outras colônias, indicando que alguma
famílias foram separadas e estabelecidas em outros núcleos, e viram na
mudança dos imigrantes da Santos Andrade para a Marcelino a
oportunidade de se estabelecerem próximas aos seus conhecidos.
Enquanto colônia de imigrantes europeus, não foi criada
oficialmente pelas autoridades governamentais, mas surgiu em
função da busca de novas terras por parte dos imigrantes,
principalmente ucranianos e poloneses, já instalados na Colônia
santos Andrade, isto durante a última década de 1800. Além
destas famílias, vieram algumas outras de poloneses, que há
29
Jornal Diário Tribuna de São José. De 13 a 17 de abril de 1995, edição N° 2.400.
28
algum tempo viviam na Colônia Tomás Coelho (hoje Araucária) e
30
na Colônia Orleans, situada no município de Curitiba .
Sem dúvida a trajetória de vida de Marcelino José Nogueira
acompanhou um importante período de mudanças na história do município
de São José, a qual marcou definitivamente os costumes e a vida social
dessa população, à chegada dos imigrantes Europeus.
30
Marochi, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. Curitiba- Travessa
dos Editores, 2006. p. 194.
29
3. - COLÔNIA MARCELINO: INSTALAÇÃO E ENCONTRO
CULTURAL
O terceiro capítulo tem como objetivo analisar como se deu a
instalação das famílias de imigrantes ucranianos e poloneses que vieram da
Colônia Santos Andrade para a de Marcelino, e como ocorreu o processo de
manutenção da vida cultural desses grupos nas primeiras décadas de
instalação, discutindo a questão de “choque cultural” identidade e diferença.
A questão do encontro cultural será privilegiada nesse capítulo a partir
da análise da instalação de dois grupos de imigrantes, ucranianos e
poloneses, na colônia Marcelino. Tadeu Silva, ao analisar a questão do
forjamento de identidade, mostra que ela se constrói a partir do outro.
Se as “identidades” só podem ser lidas a contrapelo, isto é, não
como aquilo que fixa o jogo da diferença em um ponto de origem e
estabilidade, mas como aquilo que é construído na différance ou
por meio dela, sendo constantemente desestabilizadas por aquilo
31
que deixam de fora .
Por tratar-se de uma colônia particular a documentação relacionada a
sua criação é praticamente inexistente, (apenas existem documentos
relacionados a casas comerciais), ocasionando uma lacuna que está
presente em todos os espaços que tiveram esse tipo de imigração
espontânea. Ao contrário das colônias governamentais que tem disponível
em órgãos públicos ampla documentação referentes a sua criação, os
núcleos formados espontaneamente contam apenas com informações raras
e esparsas, muitas vezes baseadas na tradição oral.
Nesse sentido, para alicerçar esse capítulo serão utilizadas as fontes
orais obtidas por Marochi, dos descendentes dos imigrantes ucranianos e
poloneses, que ainda vivem na Colônia Marcelino. Na tentativa de avançar
31
SILVA, Tomaz Tadeu. Stuart Hall, Kathryn Woodward. Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos
culturais. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. p.111.
30
na discussão sobre o tema da imigração em São José dos Pinhais, questão
central do livro de Marochi, nosso objetivo será de problematizar a discussão
acerca da identidade cultural.
A vinda dos imigrantes destacada nesse trabalho faz parte de um
processo de grandes mudanças ocorridas no final do século XIX, podendo
também ser chamado de globalização. Esse momento é caracterizado por
transformações urbanas, industriais e culturais.
Esse contexto histórico também teve forte impacto sobre a identidade
cultural, fosse ela de classe, de gênero, etnia, raça ou nacionalidade,
trazendo conseqüências para as estruturas sociais.
Como argumenta Hall sobre as mudanças do mundo contemporâneo:
As velhas identidade, que por tanto tempo estabilizaram o mundo
social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e
fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito
unificado. A assim chamada “crise de identidade” é vista como
parte de um processo mais amplo de mudança, que está
deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades
modernas e abalando os quadros de referência que davam aos
32
indivíduos uma ancoragem estável no mundo social
A questão de “choque cultural” está intrinsecamente ligada a um
processo de deslocamento. Esse fator ocorreu com os imigrantes ucranianos
e poloneses que se instalaram na Colônia Marcelino, e a partir das
diferenças entre os grupos é que vai surgir a criação de uma simbologia para
delimitar suas identidades. Analisado por Silva a identificação opera por
meio da diferença, ela envolve um trabalho discursivo, o fechamento e a
marcação de fronteiras simbólicas33.
A simbologia para a recuperação da identidade desses grupos é
muito presente, e toda essa recriação parte da necessidade de busca da
reprodução da “terra natal”. As identidades estão sempre expostas a
mudanças e como afirma Hall “a identidade plenamente unificada, completa,
segura e coerente é uma fantasia34”.
32
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes
Louro – 10. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 13.
33
SILVA, Tomaz Tadeu. Stuart Hall, Kathryn Woodward. Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos
culturais. – Petrópolis, RJ: Vozes. P. 106.
34
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes
Louro – 10. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 13.
31
O fato desses grupos de ucranianos e poloneses terem se deslocado
de seu país de origem para procurar uma nova vida, sugere que estavam
num processo de crise, o qual para um imigrante está associado a uma
“crise de identidade” acarretada pelo seu deslocamento. No caso dos
imigrantes ucranianos e poloneses, essa desestabilização cultural já estava
ocorrendo dentro da Europa, ao chegar na nova pátria e na localidade
destinada, a necessidade da reformulação da identidade se torna muito
forte, pelo fato de estarem em um grupo menor e pela localização territorial
também ser nova.
A identidade só se torna percebida a medida que está em processo
de
transformação,
quando
se
encontra
numa
situação
até
então
desconhecida. Como observa o crítico cultural Kobena Mercer citado por
Hall em A Identidade Cultural na pós-modernidade “ a identidade somente se
torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como
fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da
incerteza35".
Essa “crise de identidade” discutida por Mercer e citada por Hall é
percebida nos imigrantes pesquisados a partir do momento que eles se
estabelecem na Colônia e dividem esse espaço com outra etnia, que
também procura manter a sua cultura, colocando-se, portanto, numa
situação de alteridade.
Quanto aos luso-brasileiros que eram proprietários de terras aos
arredores da região que passou a ser a colônia Marcelino, ao que tudo
indica não moravam nessas áreas, apenas mantinham um latifúndio pouco
produtivo, usando esses espaços para o plantio e estocagem de erva-mate.
Pelo fato dos luso-brasileiros não residirem na região, mas apenas ter um
contato comercial com os imigrantes, esse grupo não entrará na discussão
do choque cultural, que compreenderá somente o encontro dos grupos
ucranianos e poloneses.
35
MERCER, Kobena. In: HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da
Silva, Guaracira Lopes Louro – 10. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 13.
32
Marochi deixa claro o distanciamento cultural entre os imigrantes
ucranianos e poloneses:
No início do estabelecimento dos imigrantes na colônia, os
mesmos formavam dois grupos distintos e cada um no seu lado.
Não havia uma convivência maior entre eles. A separação
aconteceu por questões de ordem cultural e religiosa. Havia
diferença entre os costumes dos países de origem e, nos
primeiros anos, por parte dos dois grupos não houve uma
preocupação em maiores aproximações. Com isto, a escola e a
igreja, que eram dois locais de encontro da comunidade, por
décadas estiveram separadas. Até os cemitérios foram
construídos em locais diferentes. Um era dos ucranianos e outro
dos poloneses e dos antigos moradores descendentes dos
36
portugueses .
Um fator de primeira ordem na acomodação das famílias na nova
colônia era o estabelecimento próximo a outras famílias que já conheciam,
seja no país de origem ou na antiga Colônia. Essa demarcação de espaço
faz parte de uma simbologia para a recuperação de sua identidade que era
mantida à medida que lhes permitiam as circunstâncias e o novo modo de
vida.
Como em todos os núcleos os primeiros anos de instalação eram de
trabalho árduo. O cultivo das terras era feito por todos, até mesmo pelas
crianças. Os imigrantes tinham que se unir para promover melhorias na
região, que geralmente era localizado em mata fechada. Um depoimento
mostrar que todas as formas de trabalho eram válidas para manter a
sobrevivência das famílias, “logo quando chegaram na Colônia Marcelino,
faziam o que podiam para sobreviver; plantavam, serravam madeiras no
mato e faziam valas grandes para cercar pastos”.37
Alguns relatos sobre construções de casas dos imigrantes poloneses
em outras colônias de Curitiba, o que pode ser relacionado com as casas
dos poloneses da colônia Marcelino, mostra como essas habitações eram
feitas nos primeiros anos de instalação nas colônias. Geralmente
construídas em mutirão, eram casas simples.
(...) para a construção de suas moradias, os colonos utilizavam
cascas de pinheiros, que, bem ajustadas, proporcionava abrigo
36
MAROCHI, Maria Angélica. Imigrantes 1870 – 1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. Curitiba Travessa dos Editores, 2006. p.202.
37
Demétrio Nogas, IN: : Colônia Marcelino: Nossa raízes, memórias da colonização São –Joseense. Proline
editora e Gráfica, SJP 2001. p.90
33
àquela população de pele clara e olhos azuis. Se não eram
confortáveis, pelo menos eram úteis, (...) poucos materiais tinham
em mãos. Logo depois, (...) passaram a fazer suas casas com
38
troncos de pinheiros, até surgirem as primeiras olarias .
As madeiras das paredes eram encaixadas e não utilizavam pregos, o
assoalho era de chão batido, e os poucos móveis que tinham eram simples,
“as camas eram feitas por eles mesmos de madeira bruta. Toda a palha do
trigo colocada na cama era o colchão. Os lençóis eram de sacos bem
grandes e folgados39”.
Os dois grupos de imigrantes da colônia Marcelino dedicaram-se
algumas dezenas de anos ao plantio de trigo, porém esse cultivo foi sendo
abandonado aos poucos devido a certas leis governamentais que fizeram
extinguir os pequenos moinhos coloniais.
Quase todas as propriedades possuíam uma agricultura de
subsistência, com plantações para o consumo, como milho, feijão,
mandioca, aipim, hortaliças e algumas árvores frutíferas.
Para o comércio nas primeiras décadas da Colônia, os colonos
plantavam a batata-inglesa, batata-doce, repolho e a batata-salsa, porém foi
com a plantação de camomila que a Colônia ganhou destaque comercial no
século XX.
Na pecuária criavam suínos, galinhas, bovinos de leite e de corte,
peixes e abelha, mas essa criação foi para a subsistência do núcleo, e que
ainda continua até os dias atuais.
Nos primeiros anos, devido a enorme distância entre a colônia e os
centros urbanos, foi criado no núcleo, uma casa comercial e um moinho de
cereais. O que tudo indica, e por documentos oficiais do século XX,
pesquisado por Marochi, é possível que o dono desses estabelecimentos
tenha sido um imigrante polonês, e provavelmente essa foi a primeira família
a se estabelecer na colônia.
38
CHEVINSKI, Luis. História do bairro Abranszes. In: BUENO, Wilma de Lara. Uma cidade bemamanhecida; vivência e trabalho das mulheres polonesas em Curitiba. – Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1999.
p.49
39
KOWALSKI, Maria Liuza. Idem. p. 49
34
Apenas no ano de 1920 os registros mostram o funcionamento de
uma casa comercial de propriedade da “Sociedade Ruthena”40. Essa
informação nos leva a pensar, que até a década de 1920, os ucranianos
comercializavam e utilizavam o moinho de cereais dos poloneses, assim
concluímos que no ramo comercial as etnias tiveram uma maior
proximidade.
Essa estrutura cultural do imigrante quando deslocada não será
substituída por outra, apenas será restabelecida, ocasionando em perdas e
acréscimos. Entretanto como argumenta Laclau, também citado por Hall
“isso não deveria nos desencorajar: o deslocamento tem características
positivas. Ele desarticula as identidades estáveis do passado, mas também
abre a possibilidade de novas articulações: a criação de novas identidades,
a produção de novos sujeitos41”.
Como comentado, na afirmação de uma identidade está a exclusão
ou negação de outra, quando o imigrante afirma que ele é ucraniano ele
nega que seja polonês e que faz parte desse grupo, ou vice-versa. Essa
exclusão é atribuída de forma negativa as outras identidades, porque a
identidade e a diferença são produzidas socialmente e culturalmente,
portanto elas são passíveis de julgamento, e como esse julgamento é feito
por outro grupo ele tende a ser considerado inferior. O comentário exposto
por Paiva e citado pelos escritores do livro São José dos Pinhais: a trajetória
de uma Cidade, é no sentido de mostrar que esse julgamento e preconceito
por outra cultura não se dá apenas de imigrante para imigrante, mas
também pode ser de um grupo estabelecido para com os imigrantes.
No Brasil, a assimilação dos imigrantes desenvolveu-se dentre
dificuldades consideráveis. Primeiro, o preconceito das elites
brasileiras com relação ao trabalho manual, visto como tarefa de
escravos. Segundo, a inexistência, de início, de escolas públicas
que lhes favorecessem o aprendizado da língua portuguesa.
Terceiro, a campanha de Nacionalização (1937), gestada nos
anos precedentes, e que disseminava junto à sociedade, o
40
MAROCHI, Maria Angélica. Imigrantes 1870 – 1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. Curitiba Travessa dos Editores, 2006. p.198.
41
LACLAU, E. In: In: HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da
Silva, Guaracira Lopes Louro – 10. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 13.
35
preconceito contra o “imigrante”, visto como uma figura
42
potencialmente prejudicial, por não devotar amor a nação .
Portanto, a identidade é formulada a partir do outro, pois é só assim
que se pode delimitar a identidade cultural de um grupo, quando ele se
diferencia e sabe que não faz parte do outro. Segundo Hall “A identidade
surge não tanto da plenitude da identidade que está dentro de nós como
indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é “preenchida” a partir de
nosso exterior, pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos
por outros43”.
Como no mesmo espaço estavam estabelecidas as duas etnias,
ocorre essa formulação de símbolos para demarcar a identidade cultural de
cada grupo. O fortalecimento da simbologia para demarcar a identidade de
um grupo, é uma reação defensiva quando essa etnia se sente ameaçado
pela presença de outra cultura. E como levantado, a questão da identidade
cultural é construída a partir da diferença de um grupo para o outro.
È interessante expor que mesmo com as demarcações identitárias,
em alguns momentos os dois grupos se unem, e em outros se distanciam
agindo isoladamente. Um exemplo disso é o lazer. Na organização para a
festa do trigo, que ocorre todos os anos desde o final do século XIX, as
desigualdades étnicas se tornam neutras.
Um fato muito curioso que ocorre aqui em Marcelino á a
preparação para a festa do trigo. Toda a comunidade trabalha
para este evento, desde as lembrancinhas e tudo o mais com que
lhes for possível colaborar. Acontecem também outras
celebrações, como a festa do Padroeiro da igreja, o Espírito
Santo, em maio ou junho. E quando há necessidade de fazer
outras festas para a promoção da catequese ou renovação da
44
igreja, todos colaboram prontamente .”
Outro ponto importante para o sucesso da Colônia Marcelino foi o
perfil religioso das duas etnias, segundo uma pesquisa feita sobre a colônia
Marcelino pela prefeitura de São José dos Pinhais, “de acordo com a maioria
42
COLNAGHI, Maria Cristina. Francisco de Borja Baptista de Magalhães Filho e Marionilde Dias Brephol de
Magalhães. São José dos Pinhais: a trajetória de uma cidade. – Curitiba: Editora Prefhacio, 1992. p. 102.
43
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes
Louro – 10. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 13.
44
Irmã Ana Marques, diretora da escola Marcelino. IN: Colônia Marcelino: Nossa raízes, memórias da
colonização São –Joseense. Proline editora e Gráfica, SJP 2001. p.69
36
dos colonos, o grande impulso para o desenvolvimento da Marcelino, desde
a chegada dos primeiros imigrantes, é a fé. Muita gente acabou abraçando a
carreira religiosa e isto também contribuiu para criar uma característica
diferenciada deste povo45”
Segundo Maria Joselete, assistente social e escritora que fez uma
pesquisa no âmbito social na colônia para o Jornal tribuna de São José, o
grupo ucraniano tem um diferencial quanto a forma de manutenção de sua
cultura.
O grupo étnico ucraniano distingue-se nitidamente dos demais
grupos étnicos com o qual convive, tendo como principais
elementos diferenciadores a língua e a religião com seu próprio
rito, e há por parte de seus elementos a preocupação de não
serem confundidos como representantes de uma única etnia.
Percebeu-se também, que o espírito de conservação refere-se
apenas a padrões culturais, sem cunho nacionalista radical,
visando uma integração na comunidade maior. O que indica que a
preservação da cultura ucraniana não impediu que seus membros
se integrassem à vida sóciopolítica na Pátria Adotiva, participando
em igualdade de condições com os demais habitantes do país da
46
vida em sociedade .
Esse fato se comprova pelas reuniões religiosas serem separadas na
colônia. Existem duas igrejas católicas na região: uma de rito católico-latino
a de São Pedro e São Paulo que é freqüentada pelos imigrantes poloneses
e a outra Santíssima Trindade de rito Bizantino, freqüentada pelos
ucranianos. As duas se unem em celebrações importantes como a Páscoa e
o Natal, mas no cotidiano cada grupo étnico tem sua igreja.
Existem divergências em relação à união dos dois grupos no âmbito
religioso.
Segundo o jornal Tribuna de São José. “Sempre ucranianos e
poloneses participavam unidos nas cerimônias religiosas. Como era difícil a
presença de padres47”.
Através de uma fonte oral obtida por Marochi, podemos ver uma outra
posição sobre as celebrações religiosas nos primeiros anos na Colônia.
Que entraram em comunidade, juntos, foi mais ou menos dos
anos 40 para cá. Foi dali que eles começaram a se unir. Antes era
cada qual de um lado. Os poloneses, até os Dias Santos não
45
Idem. p. 69.
CONRADO, Maria Joselete. IN: Jornal Tribuna de São José, de 13 à 17 de abril de 1995, edição n° 2.400.
47
Tribuna de São José. De 13 a 17 de Abril de 1995. edição n° 2.400.
46
37
guardavam juntos. Até o dia de Natal era separado. Havia uma
diferença, pois os ucranianos guardavam pelo rito bizantino e os
poloneses, já quando vieram, se associaram aos brasileiros. Isto
geralmente era por tudo. Onde havia uma igreja de brasileiros, os
poloneses já se infiltravam, ficavam juntos. Aí, guardavam os Dias
Santos juntos. Um tempo, até tinha uns padres poloneses que
vieram da Polônia, e não davam valor aos ucranianos e
brasileiros. A missa e a prática, tudo era em polonês. Era assim,
os ucranianos eram proibidos de ir à igreja dos poloneses. Tinha
um padre que dizia que os ucranianos não deviam entrar na igreja
48
dos poloneses. Então, era proibido . (...)
Considero que uma fonte oral mesmo tendo sofrido influências do
tempo, trás alguma recordação de seus antecedentes. Já o jornal por ser
uma entrevista em um caderno comemorativo sobre a colônia Marcelino,
pode estar mascarando essa separação religiosa, que era tão importante
para delimitar a identidade de um grupo de imigrante.
Segundo as fontes orais os cemitérios também eram separados, no
início da colônia o primeiro cemitério construído foi o dos ucranianos, pois os
luso-brasileiros que moravam nas redondezas eram enterrados no cemitério
de Campo Largo da Roseira, e os poloneses na colônia Murici. Quando
chegaram outros grupos de poloneses foi construído o cemitério que passou
a atender tanto estes quanto os luso-brasileiros.
Como na maioria das colônias as crianças e adolescentes filhos de
imigrantes não conseguiam permanecer muito tempo na escola, pois a
família necessitava de seus serviços na lavoura ou nos trabalhos
domésticos, não freqüentavam a escola regularmente. Portanto, outro ponto
que encontramos de distanciamento entre as etnias está na educação dos
filhos dos imigrantes.
Segundo a memória oral dos antigos moradores, mesmo durante a
década de 1930 existiam duas escolas a “Escola das Irmãs”, administrada
pelas
irmãs
ucranianas
vindas
de
Prudentópolis
e
que
atendia
preferencialmente a comunidade ucraniana, e uma outra escola freqüentada
por filhos de poloneses e pelos chamados “brasileiros” ou filhos dos antigos
colonizadores portugueses49.
48
NOGAS, Demétrio. In: Maria Angélica. Imigrantes 1870 – 1950: Os Europeus em São José dos Pinhais.
Curitiba - Travessa dos Editores, 2006. p.202.
49
Idem. p. 201
38
No que diz respeito a separação educacional entre os poloneses e
ucranianos nos primeiros anos da colônia, Marochi complementa que:
Os poloneses criaram a Sociedade São Miguel, que funcionava
como uma espécie de cooperativa ou associação. A primeira
escola polonesa foi mantida por esta Sociedade passando bem
mais tarde para a administração da Prefeitura. Já os ucranianos,
desde o início também se preocupavam com a educação de seus
filhos e, muitos deles pagavam um professor particular para
50
alfabetizar as crianças .
Apenas no ano de 1931 ocorreu a criação de um colégio para todas
as crianças da Colônia sem distinção cultural. Nesse período do Governo
Vargas, os princípios que norteavam a educação no país era: religião, pátria
e família. Assim, a partir da criação dessa instituição na colônia, as
diferenças culturais foram amenizadas aos poucos, e se consolidou a partir
1937 devido ao projeto de Nacionalização do mesmo presidente.
Para criar uma delimitação da identidade, os imigrantes ucranianos
construíram seus símbolos diferenciados dos poloneses, e esses dos
ucranianos. Como já exposto a igreja, o cemitério, as festas, a língua, a
comida, a educação dos filhos, entre outros, afirmando que tem outra
identidade e portanto constitui um grupo em particular.
Essa necessidade de forjar uma identidade se deu pelo desejo de
retorno da unidade que foi desfeita pela mudança, a identificação é um
importante ponto para se formular uma compreensão sobre a própria cultura.
Por meio dos sistemas simbólicos que os imigrantes da Marcelino se
identificaram e reconstruíram suas identidades. Com o passar dos anos, as
tradições de um passado distante, foram cedendo espaço à confraternização
e união deste povo eslavo que se estabeleceu em Marcelino.
A citação que segue mostra como o passar dos anos contribuiu para
uma interação entre as duas etnias.
Aqui os poloneses e ucranianos, acho que era meio a meio, mas
cada qual no seu canto. (...) Não era como hoje, que é tudo uma
coisa só. Eu sou polonês e a minha esposa é ucraniana. Depois
que veio o Colégio, já mudou a situação. Eles já estavam mais
amigos e unidos. A rivalidade entre os poloneses e ucranianos foi
mais no começo. Depois que os velhos, aqueles europeus que
chegaram aqui, foram falecendo, se acabando, a mocidade
50
MAROCHI, Maria Angélica. Imigrantes 1870 – 1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. Curitiba Travessa dos Editores, 2006. p.201.
39
começou a pensar diferente. Eles começaram a crescer, se unir e
se conhecer melhor. No final, todos ficaram unidos como se fosse
51
uma família .
Atualmente a colônia continua desenvolvendo um comércio ativo. Todos os
anos, no mês de fevereiro é realizada a festa da colheita do trigo,na qual a
colônia recebe vários visitantes. Porém, essa festividade é uma tradição dos
primeiros anos da colônia, já que nos dias atuais, essa plantação é escassa
na região, e o comércio que predomina é o de camomila. Os descendentes
de ucranianos e poloneses passaram a dividir os mesmos espaços, na
educação, no comércio e no lazer. Porém, no âmbito religioso as separações
continuam. Frequentemente ocorre o casamento entre os descendentes de
poloneses e ucranianos, unindo ainda mais essas duas etnias, que no
século passado tinham uma forte separação cultural.
51
INCOTE, Paulo. Idem. p.203.
40
CONCLUSÃO
O objeto dessa pesquisa foi analisar uma colônia particular,
chamada Marcelino, localizada em José dos Pinhais. Foram levantadas
questões acerca da instalação de imigrantes nesse espaço, privilegiando
questões de identidade cultural e do encontro cultural das duas etnias,
ucraniana e polonesa, que ali se instalaram.
A questão que nos instigou à pesquisa era analisar porque em
alguns momentos os diferentes grupos de imigrantes se distanciavam e em
outros se aproximavam.
Como considerações finais conclui-se que os imigrantes ucranianos
e poloneses, por ter uma lavoura de subsistência ativa, e a necessidade de
comercializar para poder obter produtos que não plantavam ou produziam,
desenvolveram um comércio regular, em São José dos Pinhais e Curitiba.
Esse comércio atingiu as expectativas do governo sobre a colônia agrícola,
levando ao reconhecimento e destaque da colônia Marcelino. Ao contrário
dos luso-brasileiros, que tinham um latifúndio pouco produtivo. Os imigrantes
se dedicaram ao cultivo de batata-inglesa, batata-doce, repolho, batatasalsa, camomila, milho, feijão, mandioca, aipim, hortaliças e algumas árvores
frutíferas, alterando a paisagem da região, antes desabitada e isolada.
A integração da maioria das famílias dos imigrantes europeus,
principalmente os ucranianos e poloneses, no âmbito cultural veio a ocorrer
a partir do início do século XIX, devido ao forte laço com suas tradições.
Já no comércio, essa integração dos imigrantes foi visível nos
primeiros anos de instalação. O que transformou o perfil socioeconômico e
sociocultural da população São Joseense.
A vinda dos imigrantes europeus para São José dos Pinhais,
certamente marcou como um importante período da história do município.
41
FONTES
JORNAL DIÁRIO TRIBUNA DE SÃO JOSÉ. de 13 a 17 de
abril de 1995 edição N° 2.400.
DEAP. Relatório. Apresentado ao Governador do Estado José
Pereira Santos Andrade em 31 de janeiro de 1899.
DEAP. Registro de Terras em Nome de Marcelino José
Nogueira. São José dos Pinhais, 1893. – Livro 136, registro 729
ao 749.
DEAP. Lista de Cidadãos Votantes de São José dos Pinhais,
1878- 1880. Arquivo Público do Paraná.
DEAP. Processos em nome de Marcelino José Nogueira, 18611862, São José dos Pinhais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
42
ANDREAZZA, Maria Luiza. O Paraíso das Delícias: um estudo da
imigração ucraniana 1895-1995. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1999.
BALHANA, Altiva Pilatti; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN,
Cecília Maria. História do Paraná. Curitiba: Grafipar,1969, volume I p.183.
BOSCHILIA, Roseli (org). Reconstruindo memórias: os poloneses
do Santo Inácio. Curitiba: Universidade Tuiti dos Paraná, 2004.
COLNAGHI, MariaCristina; MAGALHÃES FILHO, Francisco de Borja
Baptista; MAGALHÃES, Marionilde Dias
Brephol de. São José dos
Pinhais: a Trajetória de uma Cidade. Curitiba: prefhacio, 1992.
Colônia Marcelino: Nossa raízes, memórias da colonização São –
Joseense. Proline editora e Gráfica, SJP 2001. p.90
CONRRADO, Maria Joselete. Perfil Sócio-Econômico cultural da
Colônia Ucraniana de Marcelino. Pontifícia Universidade Católica do
Paraná. Curitiba: 1987.
FARIAS, Vilson Francisco de. De Portugal ao Sul do Brasil – 500
anos –História, Cultura e Turismo. –Florianópolis: Ed. do autor, 2001.p.58
RITTER, Maria Lourdes. As sesmarias do Paraná no séc XVIII.
Curitiba – Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, 1980.
p.207.
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica.
Curitiba: SEED, 2001. p.22
SILVA,
Tomaz Tadeu.
HALL,
Stuart. WOODWARD, Kathryn.
Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos Culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução
Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro – 10. ed. – Rio de Janeiro:
DP&A, 2005
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