Ainda há mais
para ser feito
Projeto vai continuar em outros arquivos europeus
ministro da Cultura,
Francisco Weffort, considera o Projeto Resgate de Documentação
Histórica Barão do Rio
Branco uma obra emblemática do
Ministério. Por isso, ele está sob controle direto de seu gabinete, em Brasília. Weffort pretende agora ampliar
a busca e o registro de documentos do
Brasil Colônia para outros lugares.
• Como teve início o Projeto Resgate?
Francisco Weffort
O ministro da Cultura
do Brasil é professor
titular do departamento
de Ciência Política
da Universidade
de São Paulo (USP).
Foi eleito chefe desse
departamento em 1994.
É também presidente
do Conselho Superior
da Facuidade
Latino-Americana
de Ciências Sociais.
Paulista da cidade
de Quatá, no oeste
do Estado, tem
o título de doutor em
Ciência Política pela
USP. Já lecionou
e pesquisou nos Estados
Unidos, Inglaterra, Chile
e Argentina. Tem livros
publicados no Brasil,
Chile e Costa Rica.
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interessavam pelo Projeto. Estabelecemos diversas parcerias, com instituições privadas e públicas, no âmbito dos governos federal, estaduais
e mumC!pats.
• E os resultados?
- Os resultados já estão aí. Os documentos referentes a 18 capitanias,
que correspondem hoje a 22 estados,
já foram microfilmados e digitalizados para sua divulgação em CDROM. Os catálogos com os verbetes-resumo estão sendo publicados.
Já se encontram no Brasil mais de
1.500 rolos, com cerca de 200 mil
documentos. Eles estão à disposição de todos na Biblioteca Nacional
e no Museu Histórico Nacional, instituições vinculadas ao Ministério da
Cultura. Os microfilmes vêm sendo
entregues aos arquivos públicos estaduais, e os CDs, às universidades de
todos os estados. Os institutos históricos e geográficos estaduais e obrasileiro têm sido igualmente contemplados com os CDs, eles que foram
-Tomei conhecimento das tentativas recentes e dos antigos sonhos relativos ao resgate dos documentos
do Período Colonial existentes nos
arquivos europeus, notadamente em
Portugal, logo que assumi o Ministério. A ocasião era propícia para
uma ação conjunta, de caráter nacional, diante da proximidade das
comemorações dos SOO anos do Descobrimento do Brasil. Pedi ao embaixador Wladimir Murtinho que
atuasse para viabilizar o Projeto. Ele,
por sua vez, obteve a colaboração
de uma funcionária
da Fundação Biblioteca Nacional, Esther Caldas Bertoletti, que desde 1975
atuava como consultora na área de
documentação e microfilmagem de documentos em todo
o Brasil, com o Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros.
Então, convocamos
todos os que, direta Vila Nova da Fortaleza de Assunção: Ceará, 1730
ou indiretamente, se
PESQU ISA FAPES P
os pioneiros, no século 19, da copiagem dos documentos no exterior.
• Qual o significado e a importância
disso para o Ministério?
-O significado e a importância do
Projeto Resgate são exatamente o
apoio à preservação da memória nacional e a facilitação do acesso às fontes, um preceito
constitucional que o Ministério da Cultura se empenha
muito em ver cumprido.
• Qual o volume de recursos liberados?
- O próprio Ministério da Cultura
investiu cerca de US$ 1 milhão, em
suas três modalidades, orçamentária, fundo de cultura e lei de incentivo fiscal. Outros ministérios também
contribuíram, como o da Ciência e
Tecnologia, por meio do CNPq, e o
• Quantas pessoas e instituições foram envolvidas?
nômica Federal, o Banco do Nordeste e o BEM-Fundação Clemente
Mariani; de fundações, como a Vitae, a Waldemar Alcântara, a Demócrito Rocha e a Casa da Memória de
Campo Grande; e de empresas,
como a Auvepar, Telems, Microservice, Tap-Air Portugal e Varig.
Houve a participação de algumas
instituições portuguesas,
públicas e privadas, como a
Fundação Calouste Gulbekian e a Comissão Nacional
para as Comemorações dos
Descobrimentos Portugueses, além das luso-brasileiras, como o Real Gabinete
Português de Leitura, a
Fundação Cultural BrasilPortugal e a Federação das
Associações Portuguesas e
Luso-brasileiras. Como se
vê, ocorreu um verdadeiro
mutirão em favor da cultura
e da memória nacional, onde
todos apartaram alguma
coisa e todos saíram gratificados, pelo desdobramento
positivo e pela conclusão,
dia a dia, de diversos projetas, cujos benefícios para o
Brasil, podemos dizer, serão
imensuráveis.
- Enumerar todas as pessoas e instituições que foram e estão envolvidas com
o Projeto Resgate de Documentação Histórica Barão
do Rio Branco não é tarefa
das mais fáceis. Mas posso
dizer, pelos relatórios fornecidos pela coordenação do
Projeto, que mais de cem
pessoas estiveram até agora
diretamente ligadas a ele.
Várias atuaram em Lisboa,
lendo, decifrando os documentos em leituras paleográficas e organizando-os em
-: :
.
. .
• No âmbito das comemoracaixas após tê-los resumido
em verbetes. Outras elaboções dos 500 anos do Desco7~~·.: ·.·.~ ·:.:
brimento, como o Ministério
raram os índices e organizaram a publicação dos catásitua o Projeto Resgate?
Joaquim José da Silva Xavier pede à rainha licença para viajar
logos aqui no Brasil. Várias
- No momento mesmo
empresas, em Lisboa e no
Brasil, nos ajudaram na microfilmada Educação, por intermédio de di- · em que o presidente da República
lançava em Porto Seguro, em 1996, a
gem e na digitalização. A divisão de
versas universidades. Não podemos
agenda das comemorações, já se inmicrofilmagem da Biblioteca Nacioesquecer os governos dos estados,
cluía o Projeto Resgate como um
nal assumiu a tarefa de preservar os
através de suas secretarias de Estado,
microfilmes e duplicá-los para disdos projetos emblemáticos dos SOO
principalmente as da Cultura, e suas
seminação. Quanto às instituições
anos. A essa altura, estava em desenfundações culturais. Tivemos tamvolvimento desde 1994, quando reparticipantes, tivemos seguramente
bém as fundações de amparo à pescebeu os primeiros recursos orçauma média de cinco por estado, o
quisa do Rio de Janeiro, Rio Grande
mentários do Ministério da Cultura
que nos dá, só para os conjuntos já
do Sul, Minas Gerais e São Paulo, e
e os primeiros aportes da Fundação
microfilmados, 11 O instituições. Pomesmo alguns municípios, como o
Vitae e do CNPq. Fomos buscar os
demos somar cerca de 15 para os esde Olinda. Isso trouxe mais US$ 1
professores e pesquisadores que hatados que ainda estão sendo organimilhão. O restante dos recursos,
viam sonhado em recomeçar o trabazados e verbetados em Lisboa, Pará,
mais de US$ 1 milhão, veio da inilho que, por todo o século 19, ocupou
Pernambuco e a segunda parte da
ciativa privada, por meio de bancos,
ilustres pesquisadores e historiadodocumentação do Rio de Janeiro.
como o Banco Santos, a Caixa Eco-
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PESQUISA FAPESP
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res, copiando à mão alguns dos mais
significativos documentos, para a
melhor compreensão da nossa história. Em torno dos trabalhos isolados, fomos formando uma cadeia
nacional. Conseguimos vencer um
desafio: organizar, identificar, ler,
decifrar e elaborar verbetes-resumo, para depois microfilmar, como
forma de preservação
e de transferência da
informação. Seguimos
os moldes preconizados pela Unesco em
suas resoluções sobre
esse tema e em seu
programa Memória do
Mundo.
centram cerca de 80% dos documentos sobre o Brasil existentes no
exterior.
melhor a memória brasileira e como
uma forma de entender melhor o
Brasil atual?
• E agora?
- Como professor universitário e
pesquisador de ciência política, posso dizer da imensa capacidade que
tem o povo brasileiro de encontrar
em si mesmo as forças de sua permanente renovação.
~ Nada explicaria este
g imenso território e es~ ta força sempre renovada se os brasileiros
não tivessem um passado do qual podem
orgulhar-se. É exatamente para relembrar
os momentos do passado, para conhecer e
melhor interpretar o
que somos hoje, que
esses documentos nos
ajudarão, e muito, a
valorizar a memória
brasileira, a valorizar
cada construção, cada
estrada, cada árvore,
cada animal, cada montanha, pois o
ambiente que nos cerca é o cenário
em que se desenrolou a nossa história. Se passamos por momentos
mais difíceis e até incompreensíveis
aos olhos de hoje, podemos sempre
melhorar com a compreensão dos
erros do passado.
-O trabalho do Ministério da Cultura não parou no Arquivo Histórico Ultramarino. No próximo ano,
• As novas tecnologias
ajudaram?
-Sim. Com o avanço
da tecnologia e da informática, pudemos
pensar em duplicar e
Cidade de Salvador, por Manoel Roiz Ferreira, 1786
disseminar o mais possível o conteúdo informacional dos documentos, de forma
avançaremos com a documentação
que ele chegasse a todos os pesquide outros arquivos portugueses,
como o da Torre do Tombo, e a de
sadores, universitários ou não. A
transposição para CD-ROMs permiarquivos espanhóis, franceses, holandeses e italianos. Este ano, estate o acesso onde houver um compumos fazendo um mapeamento nestador com drive de CD. Isso signifises países, para sabermos o que
ca que o estudante do interior da
microfilmar e onde. Até o final de
Paraíba ou do câmpus avançado da
Universidade do Amazonas poderá
2000, estaremos com quatro guias
ler os documentos da mesma forma
publicados. A partir deles, vamos deque o estudante e o interessado em
finir, juntamente com os pesquisahistória do Rio de Janeiro ou de São
dores, o que microfilmar primeiro.
Paulo. Isso significa a verdadeira deCreio que, pela sua importância,
mocratização da informação. E
já podemos pensar na documentamais. Com a ajuda das secretarias de
ção dos arquivos espanhóis de SiCultura dos diversos Estados e de
mancas, Sevilha e Tenerife, referenvárias universidades, através de suas
tes ao período colonial brasileiro,
editoras, pudemos editar os catáe nos documentos da Nunciatura
logos, colocando no papel e ao
em Lisboa no Arquivo Secreto do
alcance de todos as informações
Vaticano. O Projeto Resgate situa-se
resumidas que remeterão aos docuna linha dos projetas especiais do
mentos em verdadeiros fac-símiles,
Ministério da Cultura, diretamente
captados pela microfilmagem e diligado ao meu gabinete em Brasília.
gitalização. Até junho do ano 2001,
É um projeto emblemático.
estarão no Brasil todos os documentos do Arquivo Histórico Ul• Como o senhor situa o Projeto na
tramarino de Lisboa, onde se conimportância de preservar e valorizar
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• E como isso pode influenciar a autoestima brasileira?
· - Conhecer melhor como foi fundada a nação brasileira, antes e depois da Independência, é talvez a
forma de reflexão que levará cada
vez mais o povo brasileiro a ser senhor do seu destino. O Brasil depende de nós. Nós somos o Brasil, como
no passado colonial foram os habitantes destas terras, índios, negros e
brancos amalgamados, que venceram as montanhas, cruzaram os rios
e levaram as fronteiras do Brasil de
hoje aos extremos nunca sonhados
pelos que aqui primeiro chegaram
às nossas praias.
PESQU ISA FA PES P
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Ainda há mais para ser feito Projeto vai