Linhares, C.M.S. e Souza Junior, J.B.F. Alimentos alternativos para ruminantes.
PUBVET, Londrina, V. 2, N. 34, Ago4, 2008
PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.
Alimentos alternativos para ruminantes
Cheyla Magdala de Souza Linhares1 e João Batista Freire de Souza
Junior2
1
Discente do Curso de Agronomia da UFERSA.
2
Discente do Curso de Zootecnia e pertencente ao Núcleo de Estudo e
Pesquisa em Biometeorologia e Bem-Estar Animal da UFERSA.
Resumo
Tendo em vista o alto custo de produção existente na busca de uma
boa alimentação para os ruminantes, têm-se pensado em alternativas
mais econômicas e bastante viáveis para minimizar essa situação.
Sendo assim, os alimentos alternativos representam uma fonte
nutricional
bastante
favorável
à
alimentação
desses
animais,
diminuindo significativamente os custos e promovendo ainda uma
maior produção de carnes, leite e couro. Há a necessidade de mais
estudos para saber quais os melhores alimentos alternativos a serem
utilizados nas diferentes espécies e em diferentes estados fisiológicos
dos animais, com o intuito de fornecer energia, proteína, vitaminas e
minerais
produtivo.
necessários
para
o
seu
desenvolvimento
ponderal
e
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Alternative foods for ruminant
Abstract
Tends in view the high cost of existent production in the search of a
good feeding for the ruminant ones, they have been thinking her in
more economical and quite viable alternatives to minimize that
situation. Being like this, the alternative victuals represent a source
quite favorable nutrition to the feeding of those animals, reducing the
costs significantly and still promoting a larger production of meats,
milk and leather. There is the need of more studies to know which the
best alternative victuals be used her/it in the different species and in
different physiologic states of the animals, with the intention of
supplying energy, protein, vitamins and you mine necessary for your
development ponderal and productive.
Introdução
A utilização de fontes alimentares alternativas na dieta de
ruminantes, como aproveitamento de subprodutos do processamento
de frutas, tem-se mostrado uma ótima alternativa nutritiva para
estes animais, suprindo assim suas necessidades nas épocas de seca,
e conseqüentemente os produtores na alimentação de seus rebanhos,
pois se sabe que o custo da alimentação na atividade pecuária é
bastante elevado. A disponibilidade e a qualidade desses materiais
são bastante variáveis em função do nível de industrialização e de
acordo com as características de cada região. Produzir alimentos
indispensáveis aos animais têm-se tornado um desafio constante a
ser enfrentado por aqueles que residem nos limites do semi-árido.
Portanto, o objetivo dessa revisão é mostrar algumas fontes
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alimentares alternativas que possam promover dietas balanceadas
aos animais e obter economia aos sistemas de produção.
Cana-de-açúcar: opção acessível
A cana-de-açúcar
apresenta uma série
de
características
desejáveis: grande produção por unidade de área (20 a 30 t MS/ha) e
baixo custo por unidade de matéria seca produzida, período de
colheita e disponibilidade constante ao longo do ano, manejo simples
e manutenção do valor nutritivo por até seis meses depois da
maturação (Silva, 1995). A cana é uma planta de características
como: alto potencial de produção, bom perfilhamento, resistência a
pragas e doenças, resistência ao florescimento e alto teor de
sacarose.
Do ponto de vista nutricional, apresenta duas limitações
principais: baixos teores de minerais, principalmente fósforo (0,07%)
e baixo teor de nitrogênio (1,5% a 5%) (Silva, 1995). A fim de
melhorar a qualidade e valor nutritivo da cana, sem, com isso,
acarretar maiores custos, faz-se uso de uréia ou sulfato de amônio.
Normalmente, a mistura uréia: sulfato de amônio (9:1) é utilizada na
proporção de 0,5% a 1% em relação ao peso da cana picada.
No ano de 2001, o Nordeste produziu 60,25 milhões de
toneladas de cana-de-açúcar (Anuário Estatístico do Brasil, 2003).
Esta
produção
foi
utilizada
na
fabricação
de
açúcar,
álcool,
aguardente, rapadura entre outros, produzindo vários subprodutos
com potencial de uso na alimentação animal. Da lavoura, vem a
ponta de cana, da indústria açucareira: o bagaço, a torta de filtro e o
melaço e da indústria alcoólica (Santana & Sousa, 1984). Destes, o
bagaço-de-cana é o mais disponível.
O bagaço é o produto resultante do esmagamento da cana-deaçúcar na extração do caldo. Anualmente, são gerados mais de 75
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milhões de toneladas no país inteiro. Devido ao seu alto teor de fibra
(45%) e baixa proteína (2,5%), sua digestibilidade é baixa. Por outro
lado.
A utilização do bagaço de cana-de-açúcar na alimentação de
ruminantes pode ser feita em sua forma in natura. Todavia seu alto
teor de fibra, baixo teor de proteína, associado a outros fatores como
baixa densidade, restringem seu uso na dieta desses animais.
Segundo Teixeira (1992), o bagaço de cana in natura apresenta baixo
valor nutritivo, digestibilidade menor que 35% e uma densidade que
não ultrapassa 150 kg/m3, o que limita drasticamente o consumo,
limitando sua utilização para níveis inferiores a 30% da ração total.
Tabela1. Composição do bagaço de Cana in natura (BIN)
% na MS
Alimento
CHOT3
BIN
92,25
MS
58,06
PB
1,6
FDN
FDA
DIGMS1
EE2
72,76
57,96
44,66
2,59
1:Digestibilidade da matéria seca. 2:Extrato etéreo. 3:Carboidratos totais
Fonte: Adaptado de Capelle e Valadares Filho (1999).
Para que a cana possa ser fornecida como alimentação aos
animais, com melhor aproveitamento, é necessário submetê-la ao
processo de hidrólise, que consiste em alterar a composição química
da matéria, o que favorece a digestão e o consumo. (CHAGAS)
Os tratamentos químicos e físicos utilizados para melhorar a
qualidade do bagaço de cana-de-açúcar, visam eliminar ou diminuir
os efeitos prejudiciais da lignina sobre a degradação de compostos
celulósicos pelos microrganismos do rúmen, promovendo a ruptura
das complexas ligações químicas daquele componente com a celulose
e hemicelulose, disponibilizando o material, teoricamente, para
adesão da população microbiana e ataque enzimático fibrolítica (VAN
SOEST, 1994).
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A amonização promove o aumento nos teores de nitrogênio
não-protéico e atuando na fração fibrosa do alimento, causando
solubilização de parte da hemicelulose, aumentando, assim, a
digestibilidade e o consumo de volumosos de baixa qualidade
(GARCIA,
1992).
A
amonização
tem
apresentado
resultados
promissores, pois promove, entre outros efeitos, redução no teor de
fibra do material (BUETTNER et al., 1982), tornando-o mais digestível
pelas bactérias do rúmen (SAENGER et al. 1983).
Uma alternativa interessante é a uréia, por ser considerada
produto de alta disponibilidade, menos perigosa à intoxicação
humana e, muitas vezes, menos onerosa, tornando-se, portanto,
viável como fonte de amônia. É um sólido cristalino produzido
tecnicamente a partir da amônia e do dióxido de carbono, contém em
média 45% de nitrogênio e aproximadamente 280% de equivalente
protéico e apresenta a propriedade de se dissolver facilmente em
água formando na presença de urease a amônia. O tratamento
químico com uréia é uma das melhores formas factíveis para
melhorar o valor nutritivo de materiais fibrosos. (SARMENTO et al.,
1999).
Segundo Burgi (1995), o tratamento com vapor sob pressão é o
que apresenta resultado mais efetivo em termos de aumento do valor
nutritivo. Este tratamento é realizado no recinto da própria indústria
devido à disponibilidade do vapor a menor custo. As indústrias o têm
preferido e adotado em larga escala e o resíduo assim tratado é
chamado de bagaço de cana auto-hidrolisado (BAH).
Então, o excedente do bagaço de cana-de-açúcar pode ser
utilizado pelos ruminantes desde que bem tratados. Dos tratamentos
que são utilizados, o que mais apresenta resultados efetivos com
relação
ao
valor
nutritivo
é
o
físico,
o
qual
também
é
economicamente viável. A utilização do (BAH) revela um enorme
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potencial
de
utilização
desse
subproduto
na
alimentação
de
ruminantes, além de ser um destino sustentável ao resíduo.
Subprodutos da agroindústria: aproveitamento de resíduos
O uso da irrigação tem proporcionado o desenvolvimento da
fruticultura em diversas áreas da Região Nordeste nos últimos anos,
produzindo desde a fruta de mesa até industrializados como: polpa,
sucos, doces, entre outros (Vasconcelos, 2002). Em todos os estados
dessa região, há produção de algum resíduo agroindustrial com
potencial para uso como alimento para os animais. Na Bahia e em
Sergipe, destaca-se a produção de resíduo da cultura de citrus, no
Maranhão, a casca do arroz, no Ceará, o bagaço de caju e no Rio
Grande do Norte, o aproveitamento dos resíduos da fruticultura
irrigada (melão, principalmente). E, desta maneira, aproveitam-se as
potencialidades do local, objetivando fornecer alimento e nutrientes
para os animais durante todo o ano.
O processo produtivo, a depender do tipo de fruta, pode render
subproduto de até 70%, constituindo-se em interessante opção para
uso
na
alimentação
animal,
principalmente
em
sistemas
de
confinamento durante a época seca (Vasconcelos, 2002). Isto porque
o
aproveitamento
dos
subprodutos,
provenientes
da
indústria,
assume papel de significativo valor econômico, face ao volume dos
resíduos e sua disponibilidade (Marques Neto & Ferreira, 1984).
Outro importante fator relacionado ao uso dos subprodutos é o
valor nutritivo. Estes podem ser consumidos na sua forma in natura,
bem como desidratados na forma de feno e, também, sob a forma de
silagem. Na inclusão de subprodutos na dieta dos rebanhos, deve-se
atentar para a composição química e balanço dos nutrientes. Por
exemplo, o feno do resíduo de Abacaxi possui teor adequado de
cálcio, mas é pobre em fósforo. Este desbalanço precisa ser ajustado
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para melhorar o aproveitamento desse resíduo na alimentação
animal. Um fator muito importante e determinante para o uso de
subprodutos na alimentação animal é determinar os níveis de adição
dos mesmos às rações. A polpa cítrica pode ser adicionada em até
30% na silagem para caprinos e ovinos. O resíduo da indústria de
suco de goiaba, pode ser adicionado em até 15% também na
silagem.
O caju é alimento que não deve ser consumido puro em
nenhuma das opções de utilização. Embora apresente baixo teor de
tanino (0,43%), é deficiente em cálcio (0,059%), fósforo (0,037%) e
cobre (0,87 ppm) e apresenta baixos teores de cobalto. Para bovinos,
têm-se usado quantidades superiores a 50%, obtendo-se rações
concentradas com teor protéico da ordem de 18%, com custo total
variando de R$ 0,20 a R$ 0,22/kg. Vale a ressalva de que, se o
produtor estiver em região de alta disponibilidade e fizer uso de
programas de ração com mínimo custo, os custos de produção
certamente irão declinar.
A produção do suco de caju, mediante prensagem dos
pedúnculos,
descartado
gera
ou
como
utilizado
subproduto
para
o
bagaço,
elaboração
de
normalmente
ração
animal.
(RODRIGUEZ-AMAYA, 1984). O farelo de castanha de caju possui um
valor nutricional bastante satisfatório, e pode ser incluído também
nas dietas dos ruminantes. NEIVA et al.,(2002) relata valores para
este subproduto de 91,0% MS; 22,1% PB; 35,8% EE; 18,76% FDN e
6,9% de Cinza.
A casca desidratada de maracujá em dietas para ruminantes,
especialmente animais leiteiros, deve ser incluída até um nível de
22% na composição de rações. Outra forma de uso do maracujá é a
silagem. Siqueira et al. (1998) avaliaram o uso da silagem de
maracujá sobre o desempenho de bovinos em confinamento. O ganho
médio diário de 1,4 kg/animal x dia e o consumo de 2% do peso vivo
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indicaram que o resíduo do maracujá ensilado, representa boa fonte
de nutrientes para ruminantes.
O beneficiamento do maracujá produz uma quantidade de
resíduos que corresponde, aproximadamente, de 65 a 70% do total
da fruta (Neiva Jr., 2007). A sua composição química-bromatológica
sofre
variações
de
acordo
com
as
variedades
nos
seguintes
parâmetros: (11,21 a 17,57% para MS); (7,53 a 0,82%para PB);
(37,47 a 44,16% para FDN); (31,11 a 37,73%para FDA); (0,28 a
0,35% para Ca); (0,08 a 0,13% para P). Dependendo desses níveis o
resíduo de maracujá pode ser utilizado como uma boa fonte de
nutrientes para ruminantes (Vieira et al., 1999).
Maniçoba: alternativa para o período de escassez de alimento
A maniçoba (Manihot sp.) é uma planta nativa da caatinga que
possui grande tolerância à seca. Assim como a mandioca, possui um
sistema de raízes tuberculosas, bastante desenvolvido onde acumula
suas reservas. As maniçobas são espécies nativas da família
Euphorbiaceae,
bastante
difundidas
no
Nordeste,
aparecendo
também nas regiões Centro Oeste, até o Mato Grosso do Sul.
Crescem em áreas abertas e desenvolvem-se na maioria dos solos,
tanto calcários e bem drenados, como também naqueles pouco
profundos e pedregosos das elevações e das chapadas (Soares,
1995).
Tendo em vista diversas características apresentadas pela
maniçoba,
e
sendo
esta
considerada
uma
forrageira
de
boa
qualidade, têm-se intensificado seu cultivo como parte dos sistemas
de produção animal, principalmente na região semi-àrida brasileira.
Estudos realizados na Embrapa Semi-árido demonstram que a
maniçoba pode ser considerada recurso forrageiro de boa qualidade,
podendo ser cultivada para esta finalidade. Esse cultivo possui alta
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palatabilidade, 21% de proteína bruta, 8% de estrato etéreo, 7% de
cinzas, carboidratos totais perto de 65% e digestibilidade in vitro de
62%. As plantas de maniçoba são, normalmente, utilizadas como
forragem verde pelos animais que pastejam livremente na caatinga.
Entretanto, deve haver restrições a seu uso sob esta forma quando
em pastejo exclusivo, devido à possibilidade de provocar intoxicação
(Soares, 1995).
A maniçoba, como as demais plantas do gênero Manihot,
apresenta em sua composição quantidades variáveis de glicosídeos
cianogênicos (linamarinae lotaustralina), que ao hidrolisarem-se
mediante a ação da enzima linamarase, dão origem ao ácido
cianídrico (HCN) (Soares, 1995) que é tóxico e pode levar os animais
à morte, dependendo da quantidade consumida.
O ácido cianídrico, entretanto, volatiliza-se facilmente. Tewe
(1991) e Ravindran (1991) salientam que quando a planta é
triturada, espalhada e revirada, e submetida à murchamento ou
secagem ao sol reduz o nível de HCN. Nestas condições, o material
desidratado pode ser utilizado na alimentação animal (Soares, 1995).
Araújo & Cavalcanti (2002) citam que a planta verde apresenta teor
médio de HCN próximo a 1.000 mg/ Kg de matéria seca e quando
fenada este valor cai para menos de 300 mg/Kg.
O processo fermentativo da ensilagem também reduz a
concentração de HNC (Tewe, 1991; e Ravindran, 1991). Preston et
al. (1998) observaram que a concentração de HCN em folhas de
mandioca (M. esculenta Crantz) reduziu de 336 para 96 mg/ kg MS
da primeira para a oitava semana de ensilagem.
A fenação após trituração é o meio mais recomendado para o
seu uso. A suplementação usando o feno de maniçoba elevou o
desempenho de animais que eram alimentados apenas com feno de
capim-búffel, durante a fase de crescimento (Salviano & Nunes,
1991).
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Em
virtude
de
a
maniçoba
apresentar
mecanismos
que
garantam produção de maneira eficiente na caatinga, ela possui um
grande potencial de exploração no semi-árido do Nordeste e
apresenta compostos que se assemelham com plantas que são
tradicionalmente utilizadas na nutrição de ruminantes. E com relação
ao seu consumo, deve ser utilizada na forma de fenação ou
ensilagem.
Palma Forrageira: riqueza na Caatinga
As secas e as incertezas climáticas recorrentes na região semiárida do Nordeste do Brasil constituem os fatores mais limitantes à
produção animal. Além da escassez de forragens o valor nutritivo se
apresenta em níveis bastante baixos o que acarreta queda de
produtividade e compromete a produção de leite e carne (Lima et al.,
2004). Devido às suas características morfofisiológicas, as cactáceas
representam fonte de água e alternativa alimentar para as regiões
subúmida e semi-árida.
As espécies de palma forrageira mais utilizadas na alimentação
animal no Nordeste são Opuntia ficus Mill e Nopalea cochenillifera
Salm-Dyck (Oliveira, 1996). A palma constitui alimento volumoso
suculento de grande importância para os rebanhos, notadamente nos
períodos de secas prolongadas, pois, além de fornecer alimento
verde, contribui no atendimento de grande parte das necessidades de
água dos animais (Lira et al., 1990).
A palma é uma cultura de elevado potencial de produção e,
para expressar esse potencial necessita de adubação, controle de
plantas daninhas e densidade de plantio adequados, podendo a
produção de matéria seca variar de 12 a 47 toneladas a cada dois
anos (Nascimento et al., 2002).
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A produtividade média da palma pode ser estimada em torno de
80 toneladas de matéria verde/ha x corte, com valores superiores a
200 t/ha x corte quando do uso de adubações pesadas. O uso do
esterco deve ser feito a cada dois anos, na dose de cerca de 2 t/ha,
enquanto que, em termos de adubação mineral, é recomendada a
fórmula 90-60 kg/ha de N-P O (Albuquerque, 2000).
A composição química da palma forrageira é variável com a
espécie, idade dos artículos e época do ano e independente do gênero
ela apresenta baixos teores de matéria seca (11,69 ± 2,56%),
proteína bruta (4,81 ± 1,16%), fibra em detergente neutro (26,79
±5,07%), fibra em detergente ácido (18,85 ± 3,17%) e teores
consideráveis de matéria mineral (12,04 ± 4,7%) (FERREIRA et al.,
2006).
A palma apresenta baixa proteína digestível e valor equivalente
à silagem de milho em extratos não nitrogenados, além de elevado
índice de digestibilidade da matéria seca (75%). Um fator limitante
para a nutrição dos animais com uso da palma é a baixa quantidade
de matéria seca consumida, visto que esse cultivo apresenta alta
quantidade de água (90%).
A palma não pode ser fornecida aos animais exclusivamente,
pois apresenta limitações quanto ao valor protéico e de fibra, não
conseguindo assim atender as necessidades nutricionais do rebanho.
Então, torna-se necessário o uso de alimentos volumosos e fontes
protéicas. Segundo Albuquerque et al. (2002), animais alimentados
com quantidades elevadas de palma, comumente, apresentam
distúrbios digestivos (diarréia), o que, provavelmente, está associado
à baixa quantidade de fibra dessa forrageira. Daí a importância de
complementá-la com volumosos ricos em fibra, a exemplo de
silagens, fenos e capins secos.
A palma forrageira apresenta baixo conteúdo de matéria seca,
quando
comparada
à
maioria
das
forrageiras.
Este
aspecto
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compromete o atendimento das necessidades de matéria seca dos
animais que recebem exclusivamente palma e, provavelmente, a
elevada umidade limita o consumo pelo controle físico, por meio do
enchimento do rúmen. Portanto, vale ressaltar que a elevada
umidade observada na palma forrageira, independente da cultivar, é
uma característica importante, tratando-se de região semi-árida, pois
atende
grande
parte
da
necessidade
de
água
dos
animais,
principalmente no período seco do ano (Santos et al., 2001).
Logo, tendo em vista essa situação climática presente nessa
região, a palma apresenta-se como uma alternativa eficaz para
minimizar os prejuízos ocasionados pela precariedade das chuvas. É
uma forrageira muito eficiente utilizada na nutrição dos animais, a
qual é bastante rica em carboidratos, constituindo assim a principal
fonte de energia para os ruminantes. Entretanto, deve-se ressaltar
que a palma necessita de se associar com outros alimentos de baixo
custo para realmente ser considerado um alimento viável.
Mandioca: aproveitamento total da planta
Entre os cultivos produtores de alimentos energéticos, com
tolerância às condições de semi-aridez, destaca-se a mandioca, que é
tradicionalmente cultivada nas áreas com solos de textura leve e boa
profundidade. No Nordeste, onde está concentrada 50% da produção
do país, o cultivo é utilizado, basicamente, para a produção de
farinha. Segundo o Anuário Estatístico do Brasil (2003) 95 t/ha de
mandioca foram produzidas no Nordeste Brasileiro em 2001.
Na alimentação animal, são utilizados os subprodutos (raspas,
cascas, crueiras e etc) da produção da farinha de mesa e raízes
frescas, ou picadas e mais recentemente, raízes picadas e secas,
conhecidas como
raspas ou aparas (EMBRAPA, sd), Além do
aproveitamento da parte aérea. CAVALCANTI (2002) afirma que as
raízes da mandioca possuem valor energético semelhante ao milho.
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MARQUES et al.(2000) vê a mandioca e seus resíduos como fontes
alternativas de energia, uma vez que os grãos são largamente
utilizados na alimentação humana e de animais monogástricos.
Raspas de mandioca são raízes picadas em máquinas simples e
secadas ao sol, preferencialmente em terrenos cimentados. É
alimento rico em energia e pobre em proteína. Por essa razão deve
ser fornecido aos animais junto com alimentos ricos em proteína
como o feno de leguminosas (leucena e guandu), farelos (soja,
algodão) ou com substâncias nitrogenadas como a uréia de uso
exclusivo para ruminantes (Cavalcanti, 1994).
A viabilidade técnica da utilização da raspa de mandioca em
substituição parcial a cereais na alimentação animal é bem aceita e
seu uso pela Comunidade Econômica Européia mostra que a referida
substituição é também econômica para as condições locais. A
economicidade do uso da raspa de mandioca depende da relação de
preço entre a raspa e o cereal mais utilizado como ração, que é o
milho. O valor de mercado da raspa de boa qualidade é 80% do valor
do milho e 85% do valor do sorgo. Portanto, seu uso é recomendado
quando seu preço de aquisição ou seu custo de produção for inferior
a 80% do valor do milho.
Uma forma de melhorar o valor nutritivo da raspa seria através
da adição de uréia. O uso mais tradicional da uréia é realmente em
confinamento, na mistura com melaço, porém, tal produto é de
disponibilidade e preço inacessíveis em regiões não produtoras, como
o Nordeste. A raspa de mandioca é tão eficiente na utilização da uréia
pelos ruminantes quanto o melaço (Cavalcanti & Guimarães Filho,
1997).
A parte aérea da mandioca corresponde a toda porção da planta
acima do solo, apesar de alguns autores considerarem como
aproveitável para alimentação animal ou humana, apenas o terço
superior, mais enfolhado e, conseqüentemente, mais rico do ponto de
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vista nutricional (Carvalho & Kato, 1987). Além da alta produtividade,
a parte aérea da mandioca, bem como suas folhas, apresentam
elevados teores protéicos e com teores de fibra inferiores aos de
várias forrageiras tropicais.
A raiz da mandioca, sendo um produto basicamente energético
e de baixo custo, tem sido utilizada como o principal ingrediente
energético do concentrado em lugar do milho, conforme vários
estudos (RAMOS et al., 2000). Outro resíduo da mandioca que
merece destaque é o chamado bagaço da mandioca que é um
subproduto da fabricação do polvilho, podendo conter até 60% de
amido,
sendo
assim,
uma
fonte
de
carboidratos
de
rápida
fermentação (BUTRIAGO, 1990). De acordo com ZEOULA et al.
(2002), a atividade dos microrganismos ruminais dá aos ruminantes
a capacidade de utilizarem carboidratos estruturais (amido, celulose,
hemicelulose e outras) como fonte de energia e nitrogênio nãoprotéico como fonte protéica.
Portanto, os resíduos de mandioca podem ser utilizados como
substitutos dos alimentos energéticos tradicionalmente utilizados na
alimentação de ruminantes com desempenho similar e redução nos
custos de produção. Presente em diversas regiões do país, estes
resíduos representam uma alternativa biológica e economicamente
viável.
Considerações Finais
Com base nesta revisão, pôde-se concluir que a utilização
destas
formas
alternativas
de
alimentos
na
alimentação
dos
ruminantes é viável economicamente, visto que a alimentação ocupa
de 70% a 80% dos custos de produção. Portanto, há a necessidade
de mais estudos para saber quais os melhores alimentos alternativos
a serem utilizados nas diferentes espécies e em diferentes estados
Linhares, C.M.S. e Souza Junior, J.B.F. Alimentos alternativos para ruminantes.
PUBVET, Londrina, V. 2, N. 34, Ago4, 2008
fisiológicos dos animais, com o intuito de fornecer energia, proteína,
vitaminas e minerais necessários para o seu desenvolvimento
ponderal e produtivo.
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Suplemento.
Linhares, C.M.S. e Souza Junior, J.B.F. Alimentos alternativos para ruminantes.
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Figura 1. Mandioca
Figura 2. Cana-de-açúcar
Figura 3. Palma Forrageira
Figura 4. Maniçoba
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