A VISÃO DE UM CIDADÃO COMUM XXVII
( Não me Lixem… )
Nuno Melo
Mais uma semana que se inicia sem que se veja
quaisquer avanços na chamada Crise da Zona
Euro. Digo chamada crise da zona euro porque
trata-se na verdade de uma crise muito mais
abrangente que a moeda única, muito mais que
as economias (isoladas ou em conjunto) do
Eurogrupo ou até de um modelo económico e
social...é tudo isso somado a uma inversão de
valores morais, cívicos e de educação, educação
essa que tende cada vez mais, a ser confundida
com formação académica.
Para muitos estes meus textos semanais serão um eco do seu
descontentamento e das suas apreensões, mas para a maioria serão apenas
um desabafo de quem não se adapta a uma nova realidade (que se foi
instalando silenciosamente como é comum nas neoplasias mais letais), um
velho do Restelo de 40 anos...talvez estes últimos tenham a sua razão. Não me
adapto (nem quero adaptar-me) a uma sociedade de consumo imediato e
efémero em que o ser foi substituído pelo ter e que para ter aquilo que
actualmente é valorizado tenha de abdicar de tudo em que acredito: Liberdade
- Democracia – Pátria – Família – Honra – Camaradagem – Lealdade –
Frontalidade, valores que actualmente são vistos como anacrónicos ou defeitos
de caracter.
E foi por possuir estes defeitos anacrónicos que o discurso do sr. Primeiroministro da semana passada me pareceu ofensivo não pelas palavras usadas como qualquer pessoa da minha idade conheço um sem número de palavras
bem mais vernáculas – mas pela verdadeira mensagem que encerram.
Ao afirmar “...que se lixem as eleições” Pedro Passos Coelho, numa postura
arrogante que tão bem o carateriza, colocou-se acima do escrutínio do Povo
Português, assume uma postura entre o pai tirano e um messias que encerra
em si a salvação da Nação Lusa... O que à primeira vista pode parecer um
mero exercício de retorica populista esconde algo bem mais sinistro e perigoso:
um individuo que fará tudo para cumprir uma agenda desconhecida da maioria
do povo Português. Esse santo gral que PPC pretende atingir não é mais que a
destruição do Estado Social, a alienação gradual dos sectores estratégicos do
país, o desmantelamento progressivo do que resta do aparelho produtivo
nacional e a consequente miséria que transformará 2/3 da população numa
versão moderna de servos da gleba. Conseguido isto PPC terá concluído a
função para o qual tem vindo a ser preparado e financiado desde dos tempos
em que ainda militava nos jotinhas...não existem almoços de borla e está a
pagá-los a custa de todos os Portugueses- actuais e futuros!
Não tenhamos dúvidas que a actual crise que assola a Europa, foi provocada
pelos chamados “mercados” e está em marcha há pelo menos três décadas
desde que as políticas liberais começaram a varrer o globo sobre o manto da
globalização.
Agora à falta de novos povos (mercados) para explorar, com a escalada do
custo nos factores de produção nos países emergentes, com o aumento
exponencial do poder de compra e qualidade de vida que os seus habitantes
vivenciaram e que constituiria um verdadeiro risco de despoletar um novo
conflito bélico à escala mundial caso se pusesse um travão brusco aos
mesmos a única coisa que resta aos “mercados” para manterem os seus lucros
astronómicos imorais é a destruição dos modelos sociais existentes no mundo
ocidental.
Estamos à beira de entrar numa nova idade média, ou das trevas como muitos
a chamaram, é um dever cívico, patriota e até enquanto humanos de o
combatermos com todos os meios disponíveis pois o liberalismo proposto é
insustentável: quer seja ao nível dos escassos recursos naturais existentes
quer seja pela falta de humanismo que lhe está subjacente.
É chegada a hora de agir em conformidade e de dizer bem alto: NÃO ME
LIXEM!!!
Nuno Melo
31 de Julho de 2012.
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