A fobia se
caracteriza
pelo medo
acentuado,
persistente
e excessivo
quando a
pessoa
vai viajar
Sem medo
de voar
Saiba quais são os principais sintomas da fobia
e o que fazer para ter uma viagem tranquila
n
D
por Samantha Cerquetani
ificuldade para respirar, transpiração em excesso, tonturas e
palpitações. A analista de redes
sociais Jacqueline do Prado
conhece bem esses sintomas. Por causa da
profissão, ela viaja semanalmente de avião
e sofre todas as vezes com a ansiedade e o
medo de voar. O problema é mais comum
do que se imagina. Por mais que as pesquisas confirmem que as viagens aéreas são
mais seguras do que viajar de ônibus ou
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n
ilustração MARCELO de andrade
carro, para milhares de pessoas embarcar
em um avião é uma situação desconfortável e causa pavor só de pensar.
“Sempre tenho tonturas, minhas mãos
transpiram muito, entro em pânico na decolagem, imagino que vou morrer. Às vezes,
eu tento conversar com outros passageiros
para me distrair, mas acabo passando por
situações embaraçosas, deixando-os nervosos e assustados com a minha insegurança”,
relata a analista. Já a engenheira Tatiana de
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Lima confessa que passou por muitas situações difíceis por causa do medo. “Choro,
tremo, suo muito e meu coração fica acelerado durante os voos. Já passei uma viagem
inteira dentro do banheiro com desarranjo
intestinal e segurei nas mãos de algumas
pessoas desconhecidas”, confessa.
De acordo com a psicóloga especialista
em fobias aéreas e autora do livro Voar sem
medo, Cristina Albuquerque, viajar de avião
provoca, na maioria dos viajantes, uma excitação e nervosismo natural. Mas é importante diferenciar a ansiedade normal do medo
irracional (ou fóbico). A fobia caracteriza-se
em um medo acentuado, persistente e excessivo quando a pessoa vai viajar ou se depara
com a perspectiva da viagem. Quando ela
ocorre, há um sofrimento incontrolável e é
necessária a intervenção de um profissional.
Em alguns casos, pode até mesmo causar um
ataque de pânico. Normalmente, é acompanhada de sintomas físicos e psicológicos, que
podem aparecer semanas antes do voo (ansiedade antecipatória). “Esse medo tão intenso provoca uma sensação de aflição desmedida que faz com que a pessoa evite a todo
custo viajar de avião”, afirma Cristina.
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Álcool e calmantes
Quando não há outra maneira de evitar as
temidas viagens, o indivíduo sempre busca
alternativas para poder lidar com o medo. A
principal delas é abusar do álcool. Essas pessoas acreditam que elas se acalmarão, serão
capazes de dormir, e até mesmo esquecer.
Causas principais que levam à fobia
Confira quais são os motivos que podem desencadear o problema:
Claustrofobia - é o medo de lugares apertados e fechados. O medo
é que eventos possam ocorrer, sem que haja via de escape.
O medo de alturas - esses passageiros não podem olhar para fora
da janela e sofrem muito com a perspectiva que têm de cima.
Estresse pós-traumático - uma experiência ruim anterior faz
com que a pessoa reviva todas as emoções a cada nova viagem.
Excesso de exposição - acidentes na mídia podem levar à fobia.
Pessoas controladoras - têm medo de estarem fora do
“comando” das eventuais situações de estresse.
Influência da família - o indivíduo acredita na convicção alheia
de que voar não é um transporte mais seguro do que dirigir um carro.
Medo do desconhecido - é comum que o medo apareça entre
aquelas pessoas que viajam pela primeira vez.
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Sem medo de voar
Julio Peres, “o álcool deve ser evitado porque
deprime a censura e o controle cognitivo sobre a situação, favorecendo a manifestação
potencializada do medo associado à violência e ao desespero, ao invés de acalmar o indivíduo”. É importante lembrar que a altitude
potencializa seu efeito em duas a três vezes
mais que o normal. Além disso, o álcool desidrata e pode causar desconfortos físicos..
Calmantes também devem ser evitados.
que tentará diagnosticar os motivos da fobia
ou outros problemas psicológicos envolvidos.
“Essa abordagem é muito difundida no tratamento das perturbações da ansiedade em geral e é considerada a eficaz no tratamento de
fobia”, explica Cristina. O medo é enfrentado
de forma mais produtiva e a pessoa se torna
mais confiante. De acordo com Moacir Oliveira, presidente do Instituto Qualilife (SP),
com a realidade virtual, o passageiro revive os
momentos de pavor gradualmente. “É aconselhável mesclar a psicoterapia com a exposição
à realidade virtual. Em seis meses, a melhora
é notória”, diz. A analista procurou ajuda recentemente e está fazendo terapia focada no
problema: “Reflito para identificar as raízes
desse medo, já tomei calmantes, e isso me prejudica muito profissionalmente. Estou investindo bastante na terapia e espero um dia me
controlar”, afirma Jacqueline. As companhias
áreas já disponibilizam cursos para tratar a fobia de voar. Neles, os passageiros vão se acostumando com a ideia de voar aos poucos para
conseguir enfrentar seu grande medo.
Fobia
Desconforto no ouvido:
a diferença de pressão atmosférica com a
altura em que o avião se encontra afeta a
comunicação do ouvido com a orofaringe
(parte intermediária da faringe), e pode
causar dor. Ao sentir algum desconforto
nos ouvidos na decolagem, movimente
os maxilares e engula a saliva.
Síndrome da classe econômica:
ficar muito tempo sentado na mesma
posição, além de causar desconforto,
pode agravar problemas circulatórios.
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Conhecida popularmente como a síndrome
da classe econômica, a trombose venosa
profunda (TVP) ocorre quando o indivíduo
tem diminuída a velocidade do sangue
que retorna das pernas para o coração.
O resultado é um coágulo em algum vaso
sanguíneo, o que causa a obstrução venosa
total ou parcial. Para prevenir, o melhor a
fazer é consultar um médico antes de fazer
uma viagem longa e usar meias elásticas.
Jet lag: corresponde à síndrome da alteração
do fuso horário e são as mudanças que ocorrem
no nosso “relógio biológico” causadas por
longas viagens. O passageiro tem dificuldades
para iniciar ou manter o sono ou possui
sonolência excessiva. Maior a diferença de fuso,
pior a adaptação. A cada hora de diferença, é
necessário, em média, um dia para a adaptação.
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(unifesp) / rubens reimão, neurologista e professor da faculdade de medicina de são paulo (usp)
Desidratação: o ar dentro do
avião mais seco que o normal, e o arcondicionado pode levar à desidratação
em voos longos, se a pessoa não
consumir nenhum líquido.
Recomendações
para lidar com fobia
Antes de voar
•
•
•
•
Cuide de sua saúde: durma bem e
faça exercícios com regularidade.
Organize-se para não ficar ansioso
com os preparativos da viagem.
Escolha roupas confortáveis para viajar.
Passeie pelo aeroporto, sente-se,
relaxe, observe os demais passageiros.
Na hora de embarcar
Desconfortos a bordo
consultoria: jair franklin oliveira, psiquiatra e professor da universidade federal de são paulo
O medo de
voar afeta
muito a rotina
das pessoas
que não têm
escolha e
precisam viajar
de avião
Porém as bebidas alcoólicas, apesar de
causarem um alívio imediato, nas alturas
seus os efeitos do álcool aumentam substancialmente e em pouco tempo o passageiro pode perder o controle do seu comportamento e ficar ainda mais ansioso.
Segundo o psicólogo do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP),
O medo de voar afeta muito a rotina das
pessoas que não têm escolha e precisam viajar
de avião. Se a fobia interferir no bem-estar e
na qualidade de vida, é recomendável buscar
ajuda especializada. Os tratamentos mais recomendados são: psicoterapia (realizada por
psicólogos/psicanalistas), hipnoterapia (hipnose) ou simulação de voo. Em alguns casos,
são indicados alguns remédios para diminuir
a ansiedade, como os antidepressivos.
Com a terapia, o especialista desenvolverá
um plano de tratamento individualizado em
“Minimize o problema adaptando-se
dias antes do embarque. Mude a sua
rotina conforme o horário do local que
viajará”, afirma o neurologista Shigue
Yonekura, do Instituto de Medicina e Sono
de Campinas. Outra dica é programar a
viagem para desembarcar durante o dia
— a luz natural do sol facilita a adaptação.
Irritação nas vias aéreas
(ou ocular) e doentes crônicos:
se o passageiro tiver algum problema,
é recomendado consultar um
especialista antes do voo. Se for
apenas um desconforto, hidratação é
a melhor defesa. Leve sempre colírio
ou inaladores nasais. Doentes crônicos
também devem falar com seu médico
antes de fazer viagens longas.
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• Avise um tripulante que tem
problemas de crise de ansiedade ao voar.
•Nãoseesqueçadeobjetospessoaispara se
distrair, como revistas e músicas prediletas.
• Na hora da decolagem, tente
Se o passageiro
tiver algum
problema
crônico, é
recomendado
consultar um
especialista
antes do voo
descontrair o corpo e relaxe.
Durante o voo
• Faça algumas técnicas de relaxamento
e respiração para se acalmar.
•Saia do lugar e caminhe pelo avião.
• Concentre-se nos acontecimentos à
sua volta; tente se distrair.
• Não se esqueça de consumir líquidos
para manter-se hidratado.
• Se houver turbulência, lembre-se:
os profissionais estão preparados para
essas emergências. Mantenha a calma.
Na aterrissagem, pense que seu
destino está próximo e desaperte os
cintos. Não saia com pressa do avião.
•
na internet
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