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Qual o estado atual das reabilitações de
maxilas atróficas com osseointegração?
Hugo Nary Filho responde
O tratamento do edentulismo maxilar, com a utiliza-
do tratamento evolui sem intercorrências e se logra êxito
ção de implantes osseointegráveis, vem experimentando
com a possibilidade de colocação das fixações, existe a
um grande desenvolvimento, com incorporação de novas
dúvida quanto à estabilidade dos resultados obtidos. Es-
técnicas, materiais e conceitos. Pode-se dividi-lo em dois
tabilidade tanto em relação à manutenção das estruturas
grandes grupos: o que utiliza técnicas de reconstrução,
ósseas quanto dos tecidos moles.
prévia ou simultaneamente com o emprego das fixações,
e o que emprega somente técnicas de ancoragem.
O desenvolvimento de técnicas de ancoragem possibilitou o manejo destes casos, com uma diminuição da
As técnicas de reconstrução maxilar envolvem um au-
morbidade, maior rapidez de execução, maior simplifica-
mento da estrutura óssea, visando a aplicação de fixações
ção de tratamento, menor custo econômico e biológico,
convencionais em locais onde não existe estrutura alveo-
além da possibilidade de aplicação de carga imediata.
lar em altura e espessura. Proporcionam a utilização de
Neste conceito de ancoragem, concentram-se todas as
implantes em maior quantidade, melhor posicionamento
possibilidades de instalação de fixações na condição ós-
e, conseqüentemente, melhor distribuição biomecânica.
sea que o paciente dispõe, sem a realização de enxertos.
Para estes aumentos, são empregados materiais de en-
Geralmente, a região da pré-maxila proporciona área para
xerto autógenos, homógenos, xenógenos e aloplásticos
instalação de fixações, exigindo abordagens palatinas, de-
de diferentes propriedades biológicas. As reconstruções
pendendo do grau de atresia. Na região posterior, onde
se fazem sobre a estrutura alveolar (onlay) ou no interior
existe o inconveniente da extensão alveolar do seio maxi-
de cavidades, principalmente a sinusal (inlay). Apresen-
lar, pode-se realizar ancoragens no tuber e processo pte-
tam, inevitavelmente, algum componente de risco, uma
rigóide do osso esfenóide, além da fixação zigomática.
vez que demandam boa técnica cirúrgica, boa qualidade
O desenvolvimento desta última, representou uma ex-
do leito ósseo receptor e dos tecidos moles que recobrem
celente alternativa para ponto de ancoragem posterior,
o enxerto, grande cooperação por parte do paciente, as-
onde sempre existiu um pior prognóstico de sobrevida de
sim como situação geral de saúde que favoreça o repa-
implantes, qualquer que seja a técnica empregada. Inicial-
ro. Infelizmente, nem sempre estes aspectos convergem
mente, foi idealizada para o tratamento de pacientes ví-
num mesmo paciente, de tal forma que as complicações
timas de traumas ou cirurgias ressectivas tumorais, onde
podem se manifestar. Mesmo nos casos onde o curso
existe grande perda das estruturas maxilares. Muitos dos
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pacientes maxilectomizados apresentam regiões
provação científica de resultados. Numa épo-
de ancoragem apenas na região de corpo de zi-
ca onde se discute a otimização de índices de
goma ou mesmo no processo frontal do osso
sucesso de implantes, cabe também a preocu-
zigomático. Pelo local de ancoragem e pelo seu
pação com estudos de longo prazo, que visam
desenho diferenciado, quanto ao comprimento,
demonstrar a necessidade de cuidados para
diâmetro e angulação, recebeu a denominação
que a osseointegração obtida inicialmente seja
de Fixação Zigomática. Desde 1989 vem sendo
preservada. Quando se foca uma fixação espe-
aplicada em alguns centros de pesquisa.
cífica, como a zigomática, estes cuidados são
Branemark et al. realizaram, num estudo pre-
particularmente interessantes, uma vez que sua
liminar, o tratamento de 81 pacientes, instalando
abordagem envolve áreas mais nobres e com
132 fixações zigomáticas, obtendo um índice de
possibilidade de complicações mais sérias. As-
sucesso de 97%. Este índice aproxima-se dos
sim, preferimos, quando o tratamento é indicado
obtidos pelos implantes convencionais nas mais
em pessoas jovens e de boa condição sistêmi-
diferentes regiões alveolares. Tais resultados,
ca, submeter o paciente a técnicas reconstruti-
levando em consideração as dificuldades de re-
vas, principalmente os procedimentos de Sinus
abilitação deste tipo de paciente, conferiram à
Lift. São procedimentos bem previsíveis e que
permitem a futura instalação de fixações convencionais, cujo manejo e controle é de domínio
geral. Deixamos as Fixações Zigomáticas para
casos extremos, onde esta pode representar a
única opção terapêutica na busca da obtenção
de uma prótese implantossuportada maxilar.
Apesar das novas tendências, assumimos,
em clínica particular e nos cursos de formação,
uma abordagem baseada em evidências científicas, onde a cautela e o bom senso representam
a chave do correto diagnóstico. O cirurgião-dentista já possui, no seu arsenal terapêutico, informações e materiais suficientes para a resolução da maioria de seus casos. A indicação de
técnicas já consagradas garante a obtenção de
bons resultados, cuja previsibilidade é bastante
conhecida. Deixamos para o âmbito acadêmico,
a responsabilidade no desenvolvimento e comprovação de novos procedimentos e materiais.
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técnica uma condição de previsibilidade bastante
grande.
Num segundo momento do desenvolvimento
desta tecnologia, implantes zigomáticos foram
aplicados em pacientes que apresentavam atrofia
maxilar severa em condições diferentes daquelas
verificadas nas seqüelas de ressecções tumorais.
Nestes casos a técnica poderia significar uma
simplificação do próprio tratamento, evitando as
reconstruções, com o mesmo prognóstico de sucesso das fixações convencionais. Os resultados
obtidos e relatados com estes pacientes vêm encorajando seu emprego clínico, contudo, estudos
de longo prazo ainda são limitados em comparação com os já demonstrados, quando são empregadas algumas técnicas de reconstrução.
Da mesma forma, o emprego de sistemas
de carga imediata para reabilitações maxilares
constitui alternativa recente e sem grande com-
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Figura 1A, B, C, D, E - Caso clínico de reabilitação maxilar empregando fixações zigomáticas, realizado pelos Drs. Hugo Nary Filho e
Paulo Nary, Bauru/SP.
Referência
1. BRANEMARK, P. I. et al. Zygoma fixture in the management of
advanced atrophy of the maxilla: technique and long-term Results. Scand J Plast Reconstr Surg Hand Surg, Göteborg,
v. 38, n. 2, p. 70-85, 2004.
Hugo Nary Filho
• Professor responsável pelas Disciplinas de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais da Universidade do Sagrado Coração de Bauru - USC (Bauru/SP).
• Mestre e Doutor em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais - UNESP (Araçatuba/SP).
• Coordenador do Curso de Especialização em Cirurgia e
Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais da USC (Bauru/SP).
• Coordenador da Área de Concentração de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais do Programa de Mestrado
em Odontologia da USC (Bauru/SP).
Endereço para correspondência
Hugo Nary Filho
Rua Henrique Savi 5-63 - Vila Nova Cidade Universitária,
Bauru - SP, CEP: 17.012-205
E-mail: [email protected]
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