Saúde Coletiva
ISSN: 1806-3365
[email protected]
Editorial Bolina
Brasil
Rodrigues Padula Coiado, Cristina; Ferraz do Amaral, Anderson; Rocha dos Santos, Rodrigo
Incidência de quedas na população idosa no âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193
Saúde Coletiva, vol. 6, núm. 27, enero-febrero, 2009, pp. 19-23
Editorial Bolina
São Paulo, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212434005
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epidemiologia e saúde
Coiado CRP, Amaral AF, Santos RR. Incidência de quedas na população idosa no âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193
Incidência de quedas na população idosa no
âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193
Este estudo teve como objetivo analisar as ocorrências envolvendo a população idosa atendida pelo sistema 193, sobre a incidência de quedas. Pesquisa retrospectiva, descritiva de análise documental realizada no 1º semestre de 2006 a partir de dados
disponibilizados pelo Centro de Operações de Bombeiros (COBOM) do município de São Paulo. Foram analisadas 47 fichas de
atendimento envolvendo idosos vitimas de queda. Dentre os principais resultados destacamos: 35 (74,46%) dos idosos sofreram
queda do mesmo nível, sendo que 36 (76,60%) no momento do acidente encontravam-se sozinhos na sua residência, 41 (97,87%)
dos idosos apresentaram alguma dificuldade motora e 33 (70,22%) referiram algum tipo de antecedentes mórbidos. Portanto, o
profissional de enfermagem que presta assistência a esta população deve conhecer os fatores de risco envolvidos na queda para
atuar preventivamente, evitando os prejuízos e agravos relacionados a este evento, haja visto o grande número de idosos que sofrem ou estão em risco de sofrerem quedas.
Descritores: Incidência, Queda, Idoso.
This study aims to analyze the occurrences involving the senior population assisted by the system 193, about the incidence of falls. It
is a retrospective research, descriptive of documental analysis on the 1st semester of 2006 accomplished, based on data given by the
Center of Firemen Operations (COBOM) of the municipal district of São Paulo, Brazil. A total of 47 attendance records were analyzed
involving seniors victims of fall. Among the principal results we highlighted: 35 (74,46%) of the seniors suffered the same level of fall,
and 36 (76,6%) on the moment of the accident were alone inside their residences, 41 (97,87%) of the seniors presented some motion
difficulty and 33 (70,22%) referred some type of morbid antecedent. Therefore, the Nursing professional that renders attendance to
this population should know the risk factors involved on the fall to render and prevent the act, because it avoids the damages related
to this event, specially concerning the great number of seniors that suffer or that are in risk of suffering falls.
Descriptors: Incidence, Fall, Senior.
Este estudio tuve como objetivo analizar las ocurrencias que involucran la personas mayores asistidas por el sistema 193 a cerca
de la incidencia de caídas. Investigación retrospectiva, descriptiva y documental hecha em el primer semester de 2006 com datos
del Cientro de Actividades de los Bomberos (COBOM) en el distrito municipal de São Paulo, Brasil. Se analizaron 47 archivos
de asistencia involucrando personas mayores con historia de caída. Entre los resultados principales se tuve: 35 (74,46%) de las
personas mayores sufrieron caída del mismo nivel, y 36(76,6%) en el momento del accidente estaban solos en sus residencias,
41(97,87%) presentaron alguna dificultad motora y 33 (70,22%) refirieron algún tipo de antecedente de morbidad. Asi, el profesional de enfermería que da asistencia el esta población debe conocer los factores de riesgo envuelto en la situación de caída para
actuar en la prevención, evitando perjuicios y ofensas relacionadas a este evento, ha visto, el gran número de personas mayores
que sufren o, están en riesgo de sufrieren caídas.
Descriptores: Incidencia, Caídas, Senior.
Cristina Rodrigues Padula Coiado: Enfermeira.
Mestre em Ciências da Saúde. Docente da Universidade
Anhembi Morumbi e Universidade Paulista.
[email protected]
Anderson Ferraz do Amaral: Enfermeiro do Hospital
da Polícia Militar. Especialista em Cardiologia.
Rodrigo Rocha dos santos: Enfermeiro do Hospital
Santa Paula e Hemocentro. Especialista em Transplante
de Medula Óssea.
Recebido: 24/08/2007
Aprovado: 20/05/2008
InTRoDuÇão
população idosa vem crescendo nos últimos anos. Isto se
relaciona dentre outros aspectos, ao avanço das tecnologias
que influenciam diretamente no aumento da expectativa de
vida desta população.
Em 1950, o Brasil era o 16º país com maior população
idosa do mundo, estima-se que atinja a 6º colocação no ano
de 2025, chegando a cifras de 32 milhões de indivíduos com
60 anos ou mais. Nesse período, enquanto a população idosa
crescerá 107%, o grupo de 0 a 14 anos crescerá apenas 14%1,2.
Essa transformação demográfica é acompanhada por uma transição epidemiológica, gerando demandas específicas de cuidados à faixa etária de idosos incluindo, nestas demandas, o
aumento do número de acidentes2,3.
O envelhecimento é um processo biológico natural, produzindo alterações em todo o corpo. O declínio funcional
A
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que ocorre ao longo da vida, particularmente após os 30-40
anos, é influenciado por vários fatores sejam físicos e/ou orgânicos, pela constituição genética individual, hábitos de vida,
ambiente, condições educacionais e socioecômicas e também
pelas relações familiares4.
Essas alterações repercutem na mobilidade e nas atividades
diária de vida. Com a descalcificação os ossos ficam mais frágeis e mais predispostos a fraturas. Ocorre perda de elasticidade do cristalino e por consequência a capacidade de acomodação. Produz-se uma redução na focagem dos objetos próximos,
diminuição do tamanho da pupila, que adquire forma irregular,
com diminuição na velocidade de resposta à luz. Com a idade
o ouvido interno e o nervo auditivo sofrem processo de degeneração, com perda da capacidade para altas frequências2,5.
Assim, vários sistemas se modificam, sendo comum à de-
20
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terioração dos mecanismos de equilíbrio, diminuição da sensibilidade vibratória e propriocepção, diminuição da força
muscular, declínio da função vestibular, alteração postural e na
pressão sanguínea, entre outros fatores que são desencadeados
pelo declínio funcional, estes tornam o idoso mais suscetível a
determinados tipos de traumas6,7.
O mais comum dos fatores traumáticos é a queda, sendo a
principal causa de morte para população idosa, que normalmente ocorre em mais de 30% dos casos no domicílio, sendo
implicado aproximadamente a um terço de todas as quedas ou
lesões ocasionadas por quedas entre idosos. A queda é definida
como um evento não esperado, no qual a pessoa cai ao chão
de um mesmo nível ou de nível superior podendo ser de uma
escada ou mobília7,8.
Os fatores relacionados às quedas do idoso são múltiplos e
complexos e se devem aos fatores intrínsecos que constituem
alterações ocasionadas pelo envelhecimento e os extrínsecos
que constituem fatores relacionados ao ambiente7.
Como fatores intrínsecos, os idosos apresentam dificuldade da regulação das respostas que requerem velocidade e
precisão. A base de sustentação tende a alargar-se, os passos
são curtos e lentos, o tronco tende a fletir-se para proporcionar elasticidade. No entanto, isso pode inibir as reações
automáticas de equilíbrio, restringir as atividades ou mesmo provocar imobilidade. Há limitação da amplitude do
movimento para dorsoflexão do tornozelo, o que aumenta
a chance de tropeços. Diante das perturbações posturais há
ativação da musculatura proximal dos membros inferiores
antes da distal, não se conseguindo o retorno do centro da
gravidade à sua posição normal, com consequente perda de
equilíbrio; há também contração simultânea das musculaturas agonistas e antagonistas, resultando em enrijecimento ao
invés de movimento compensatório6,7.
A diminuição de receptores de tato e pressão, na planta do
pé, informa menos sobre a base de sustentação. A diminuição
da propriocepção altera a percepção da posição do corpo,
tanto estática quanto dinâmica. Doenças que comprometem
a capacidade sensória tais como diabetes mellitus e outras patologias causadoras de neuropatia periférica, poderão acentuar
essas perdas. A deficiência visual altera a adaptação ao escuro,
ocorrendo embaralhamento da visão periférica e diminuição
do tempo de resposta visual6,7.
Há progressivo declínio na sensibilidade de baroreflexos
para ambos os estímulos hipertensivos e hipotensivos, e conseqüentemente são menos capazes de aumentar a frequência
cardíaca, regular a pressão arterial e o fluxo cerebral. Há também diminuição progressiva dos níveis basais de renina e aldosterona, com prejuízo da conservação renal de sódio e da
manutenção do volume intravascular. Os idosos mais freqüêntemente tornam-se desidratados com consequente hipotensão
em resposta a diurético, doença febril aguda ou situação onde
o acesso à água e ao sal é limitado. Além disso, os idosos têm
menos sede, o que pode levar a rápida depleção de volume,
hipotensão ortostática e queda6,7.
Doenças neurológicas como o acidente vascular encefálico
pode cursar hemiplegias ou hemiparesias que podem levar à
transferência do peso corporal e provocar espastiscidades com
alteração do padrão normal postural e de movimento, levando
à diminuição das reações de equilíbrio e sensoriais, principalmente tato e percepção7.
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Doenças osteomoleculares como a artrite inflamatória ou
de 2006 à junho de 2006. A partir deste levantamento fodegenerativa, a osteoporose e os problemas podiátricos (calosiram avaliadas as fichas de atendimento que relatam queda
dades, joanetes, deformidades dos pés e sapatos mal adaptados
nos idosos e os dados foram inseridos em planilha eletrônica
ou solados escorregadios) causam dor, imobilidade, diminuição
utilizando-se o programa Excel 2000. Os dados levantados
do equilíbrio, instabilidade articular e fraqueza muscular que
foram tratados por frequência simples e relativa.
predispõem as quedas, assim formam um ciclo vicioso6,7.
REsulTADos
Pessoas com demência ou deprimidos caem mais que indiNeste estudo foram analisadas 47 fichas de atendimento a idovíduos sem esses distúrbios, possivelmente devido à diminuisos vítimas de queda sistema 193 no período de janeiro 2006
ção da atenção, do julgamento, da percepção visuespacial, da
a junho 2006. A idade média foi de 65,29 anos e desvio paorientação espacial, e da concentração, inerentes ao próprio
drão de 6,74 variando de 56 a 83 anos. Constatou-se que 28
quadro ou relacionados ao tratamento instituído, ou seja, ao
(59,57%) indivíduos eram do sexo masculino 19 (40,42%) do
uso de sedativos, hipnóticos ou psicotrópicos.
sexo feminino. Estudos epidemiológicos mostram que mulheres
Como fatores extrínsecos, as exposições perigosas potenciais
apresentam taxa mais elevadas de queda que homens11, difepodem ser divididas em persistentes como armários, pisos irregulares ou escorregadios, ausência de barras no banheiro para
rente do aqui encontrado.
se segurar, perigo de tropeços, tapetes soltos, roupões longo e
Quanto ao período em que ocorreram as quedas, 19
escadas e objetos ou móveis que obrigam o desvio de trajeto: e
(40,42%) foram no período noturno, 16 (34,05%) no períovariáveis como a baixa luminosidade7. Podo de tarde e 12 (25,53%) no período da
manhã. As quedas noturnas podem estar
rém um estudo mostrou que a maioria dos
associadas a vários distúrbios do sono le“caidores” apresenta fatores intrínsecos jus"A POPULAÇÃO IDOSA VEM
vando o idoso à sonolência diurna e petificando-se as quedas, principalmente nos
rambulação noturna. Pode-se relacionar
muito idosos9.
CRESCENDO NOS ÚLTIMOS
ainda, ao declínio funcional com déficit
Segundo Estatuto do Idoso, através da
ANOS. ISTO SE RELACIONA
de algumas funções fisiológicas que aulei 10.741 de 1º de outubro de 2003, o
mentam ainda mais o índice de queda
envelhecimento é um direito personalíssiDENTRE OUTROS ASPECTOS,
noturna. Outros estudos mostram que a
mo e a sua proteção um direito social, nos
AO AVANÇO DAS TECNOLOGIAS
maior parte das quedas ocorrem em petermos desta lei e da legislação vigente.
ríodo diurno devido aos idosos estarem
O idoso goza de todos os direitos fundaQUE INFLUENCIAM
em intensa atividade12. Neste estudo verimentais inerentes à pessoa humana, sem
DIRETAMENTE NO AUMENTO
prejuízo da proteção integral de que trata
ficou-se uma maior ocorrência de quedas
DA EXPECTATIVA DE VIDA
esta lei, assegurando-lhe, por lei ou por
no período noturno 40,42%.
outros meios, todas as oportunidades e faPode-se observar na tabela 1, que 14
DESTA POPULAÇÃO"
cilidades, para preservação de sua saúde
(29,78%) dos idosos não relatam nenhum
física e mental e seu aperfeiçoamento motipo de antecedente pessoal. Em contraral, intelectual, espiritual e social, em conpartida ao se agregar os demais indivíduos
dições de liberdade e dignidade, sendo obrigação do Estado,
se verificam que grande parte mencionou um ou mais tipos de
garantir à pessoa idosa a proteção à vida e a saúde, mediante
antecedente, totalizando em 33 (70,22%). As doenças crônicas
efetivação de políticas sociais públicas que permitam um enpodem indicar maior risco de queda ou uma tendência à imovelhecimento saudável e em condições de dignidade10.
bilidade, pois são patologias que provocam neuropatias dificultando a circulação e podendo levar o idoso à queda. Dentre as
Sabe-se que as quedas na população idosa representam um
doenças associadas ao aumento de risco de queda incluem-se
problema de saúde pública, assim nos questionamos: Qual ino diabetes, que neste estudo ocorreu em 13 (27,68%).
cidência de queda na população idosa? Quais as situações enO uso de álcool e o risco de quedas podem aumentar possivolvidas na queda?
velmente por efeitos no controle postural. Neste estudo, segunAssim, o objetivo deste estudo foi analisar situações envoldo tabela 1, o uso excessivo de álcool foi citado como antecevendo a população idosa, atendida pelo sistema 193, acerca da
dente mórbido em 12 idosos (25,52%).
incidência de queda.
A maioria dos idosos deste estudo (tabela 2) refere alguma alteração motora. Estas podem estar relacionadas às limiMEToDoloGIA
tações funcionais que ocorrem nesta faixa etária, sendo que
Trata-se de uma pesquisa retrospectiva, descritiva de análise
38 (80,86%) dos idosos referem dificuldade de caminhar. A
documental, realizada no COBOM (Controle de Operações
simples observação da marcha fornece várias informações
de Bombeiros – Sistema 193) do município de São Paulo. Fodiagnósticas importantes. A população idosa desenvolve
ram analisadas as ocorrências envolvendo idosos, que sofreuma marcha lenta, deslizante, na qual os pés parecem estar
ram quedas, atendidos no sistema 193 no período de janeiaderidos ao solo.O paciente caminha com passos irregulares
ro de 2006 à junho de 2006. Para se coletar as informações
dificultando a passagem de obstáculos em sua frente aumendestas ocorrências foi utilizada um instrumento de coletas
tando assim o risco para quedas11,12.
de dados (Anexo 1).
O projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética e PesquiVerificou-se que 36 (76,6%) dos idosos estavam sozinho
sa da Universidade Anhembi Morumbi, que após aprovação,
no momento do acidente, tendo então, que executar suas
foi solicitado levantamento das ocorrências atendidas no
atividades, aumentando o grau de dificuldade de tarefas físistema 193 que envolveram idosos no período de janeiro
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Tabela 1. Antecedentes mórbidos de idosos vítimas de
queda atendidos pelo sistema 193. São Paulo, 2006.
Antecedentes Pessoais
Hipertensão
Diabetes
Alcoolismo
Diabetes + Hipertensão
Hipertensão+ Alcoolismo
Diabetes + Hipertensão + Alcoolismo
Nenhum
Total
N°
10
8
8
3
2
2
14
47
%
21,3
17,02
17,02
6,38
4,25
4,25
29,78
100,0
Tabela 2. Alteração motora de idosos vítimas de queda
atendidas pelo sistema 193. São Paulo, 2006.
Alteração Motora
Dificuldade de Caminhar
Hemiplegia
Paraplegia
Nenhum
Total
Nº
38
2
1
6
47
%
80,86
12,76
4,25
2,13
100,0
Tabela 3. Tipo de Lesão sofrida após queda em idosos
atendidos pelo sistema 193, São Paulo, 2006.
Lesão
MMII + Crânio
MMSS
MMII
Crânio
Tórax
Face
MMSS + MMII
Crânio + Face
MMSS + Crânio
MMII + Face
MMSS + Face
Não Houve
Total
Nº
1
6
4
5
1
2
2
2
1
1
1
21
47
%
2,12
12,79
8,55
10,63
2,12
4,25
4,25
4,25
2,12
2,12
2,12
44,68
100
Tabela 4. Local onde ocorre a queda sofrida por idosos,
atendidos pelo sistema 193, São Paulo, 2006.
Local da Queda
Banheiro
Quarto
Escada
Cozinha
Sala
Quintal
Laje
Garagem
Total
22
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Nº
15
9
5
7
4
4
2
1
47
%
31,95
19,14
10,63
14,89
8,51
8,51
4,25
2,12
100
sicas associadas à instabilidade funcional, e podendo gerar
situações de quedas. Vale lembrar que, os idosos, com maior
frequência moram sozinhos; além disto, muitos se encontravam na situação de viúvos, desquitados e solteiros. Neste estudo, 18 (38,30%), dos idosos que acionaram o serviço
de emergência estavam sós, e destes, oito (17,02%) tiveram
acionamento por vizinhos, 13 (27,66%) por outros, e somente oito (17,02%) pelos familiares.
Neste estudo a maioria dos idosos sofreu quedas do mesmo
nível, 35 (74,46%) podendo ser correlacionada este fato com
as alterações fisiológicas que ocorrem no processo de envelhecimento, como diminuição da acuidade visual, diminuição da
força motora, dificuldade de locomoção e ainda fatores relacionados ao ambiente, tais como: piso escorregadio, problemas
com degraus, trombar em outras pessoas, subir em objetos para
alcançar algo, atrapalhar-se com objeto no chão, quedas de
cama, entre outros13.
Analisando a tabela 3, a maioria 26 (55,32%) dos idosos obteve lesão proveniente da queda. Em 21 (44,68%) não
houve lesão.
A queda pode ser dividida de acordo com a presença ou
não de lesões. As quedas com lesões graves são consideradas
aquelas cuja consequência é uma fratura, trauma ou luxação. As fraturas podem estar relacionadas à existência maior
de osteoporose entre os idosos, já que existe forte relação
entre estas. Abrasões, cortes, escoriações e hematomas são
considerados lesões leves13,14,15. Dos 26 (55,32%) idosos que
sofrerão lesão, o local de maior incidência foi em MMSS,
podendo ser correlacionado ao fato que no ato da queda, o
idoso tende a se apoiar deixando o peso corporal todo concentrado neste local, podendo explicar o porque da fratura
dos membros em questão.
Não há relato sobre qual local do corpo existe uma maior
probabilidade de fratura, apenas encontramos que a fratura
de quadril é a mais temida entre idosos e profissionais que
acolhem esta população, pois normalmente uma fratura neste local esta associada a osteoporose, possuem graus variados de complexidade o que torna a recuperação do idoso
muito prolongada e por ser uma local de sustentação do
organismo podendo até mesmo levar idoso a morte. Outras
lesões graves resultantes de uma queda incluem os traumas
cranioencefálico ocasionando a perda de consciência, lacerações severas, hematomas, luxações, traumas articulares e
outras lesões do tecido mole, já os traumas torácicos podem
ocasionar complicações significativas como pneumotórax,
hemotórax, dificuldade respiratória, fraturas de arcos costais
ou esterno podendo ocasionar hipoventilação e como consequência formação de atelectasia11,14.
O local de maior ocorrência de queda segundo tabela 4
foi no banheiro com 15 (31,95%), seguido do quarto nove
(19,14%), e cozinha sete (14,89%), podemos notar que são
cômodos de maior permanência dos idosos, onde se concentra o maior índice de atividades. O banheiro é o local propício para queda devido tipo de piso (azulejo), que em contato
com água tende a tornar-se escorregadio e sendo um cômodo
onde o idoso tende a estar diariamente devido a execução de
suas atividades rotineiras como o banho, atividades fisiológicas, entre outras atividades que favorecem a queda. No quarto, os idosos concentram muita parte do seu tempo exercendo
atividades do tipo leitura, assistir TV, descansar, entre outras
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atividades. Na cozinha podemos destacar atividades rotineiras como limpeza dos materiais, preparo de alimentação, local para execução de suas refeições, sendo assim, uma grande
parte do tempo pode estar ligada a esta parte da residência,
podendo explicar o porque do alto índice de queda. Estudos
apontam que as quedas domiciliares internas ocorrem nos
cômodos mais utilizados (quartos, cozinha, banheiro, sala de
jantar), pois nestes locais os idosos tendem a concentrar suas
atividades diárias. Com isso podemos aferir que os fatores de
risco mais preocupantes estão dentro do domicílio, sendo que
apenas oito (17,02%) dos acidentes ocorrem fora do âmbito
interno, o que coincide com estes estudos que mostram que
maioria dos idosos cai dentro de casa (ambiente interno) e
poucas nos jardins de suas residências (ambiente externo)12.
Portanto, o profissional de enfermagem que presta assistência a esta população, deve conhecer os fatores de risco envolvidos na queda para estar preparado e atuar preventivamente
através da avaliação funcional. A prevenção é uma estratégia
útil pois evita os prejuízos e agravos relacionados a este evento, sendo este um tema importante para Saúde Pública, haja
vista, o grande número de idosos que sofrem ou estão em risco de sofrerem quedas.
Conclusão
Foram analisadas 47 fichas de atendimento à vítima de queda
na população idosa no âmbito domiciliar, atendimento 193, no
perío­do de janeiro de 2006 a junho de 2006. A idade média dos
idosos foi de 65,29 anos, sendo 28 (59,57%) do sexo masculino
e 19 (40,42%) do sexo feminino, a maioria das ocorrências foram vítimas de queda da própria altura 39(82,97%) e ocorrida em
âmbito domiciliar interno 39 (82,97%), com maior incidência no
banheiro 15 (31,95%). Dentre estes eventos, 26 (55,32%) dos idosos sofreram algum tipo de lesão, sendo a maior prevalência em
MMSS 10 (21,28%). Constatamos que 36 (76,60%) dos idosos no
momento da ocorrência encontravam-se sozinhos e 41 (97,87%)
dos idosos apresentaram algum tipo de alteração motora.
Vale ressaltar que a importância de algumas doenças crônicas também influenciam no evento da queda, pois 33 (70,22%)
apresentaram algum tipo de antecedente pessoal.
O conhecimento dos fatores de risco envolvidos na queda é
amplo, sendo este conhecimento necessário para o enfermeiro
realizar a avaliação funcional no idoso e atuar preventivamente, visando a promoção da saúde, minimizando os gastos e as
incapacidades geradas pela queda, contribuindo assim, para
um envelhecimento saudável.
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Anexo 1
A - Nº. do Instrumento____
B - Idade ____ anos
C - Sexo: (1) Feminino (2) Masculino
D - Horário da ocorrência (1) Manhã (2) Tarde
(3) Noite
E - Antecedentes Pessoais: (1) AVC (2) Diabetes (3) HAS (4) Nenhum (5) Outros: Qual?__________
F - Alteração Motora: ( ) Não ( ) Sim
G - No momento do acidente estava sozinho: ( ) Não ( )Sim
H - Quem acionou o serviço: (1) Família (2) Vizinho (3) Transeuntes (4) Própria Vítima (5) Outros
I - Tipo de ocorrência: (1) Queda do mesmo nível (2) Queda de um nível a outro
J - Houve Lesão: ( ) Não ( ) Sim. K - Local da Lesão: (1) MMSS (2) MMII (3) Crânio (4) Tórax
(5) Outros ___________
L - Local da queda residencial: (1) Âmbito Interno
(2) Âmbito Externo
M - Detalhamento do local da queda: (1)Cozinha (2) Quarto (3) Banheiro (4) Sala (5) Outros___________
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Saúde Coletiva 2009;06 (27):19-23
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