Revista da Fapese, v.4, n. 2, p. 83-98, jul./dez. 2008
83
Abordagem Perceptiva das Mudanças Climáticas
Globais*
Clêane Oliveira dos Santos**
R e s u m o
Marcos Aurélio Santos da Silva***
O
comportamento da atmosfera tem despertado o interesse de
todos, já que a dinâmica atmosférica interfere nos eventos
naturais e antrópicos. Nesse sentido, o aquecimento global
tem direcionado pesquisas acerca da possível ocorrência de mudanças climáticas em nosso planeta. Para estudar os agroecossiste-
mas a partir das questões climáticas é necessário realizar um estudo
da percepção dos agentes envolvidos sobre a temática. Diante des-
ta perspectiva, objetivou-se analisar, através de pesquisa bibliográfica, as razões do intenso debate sobre o aquecimento global e suas
conseqüências no mundo vivo, e identificar através de questionários aplicados junto a pesquisadores da área, o grau de percepção do
fator clima e seus reflexos no funcionamento dos sistemas agrícolas. A partir da avaliação dos questionários foi possível perceber a
existência de diversas opiniões sobre as causas do aumento da temperatura da terra, no entanto destacam-se duas vias principais e
divergentes sobre as causas de tal fato: o aquecimento proporcio-
nado pelos sistemas naturais (ênfase às grandes oscilações térmicas
com longos intervalos de tempo) e o aquecimento antropogênico
(ênfase ao uso de combustíveis fósseis e outros processos em nível
industrial, que levam à acumulação na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE)).
PALAVRAS CHAVE: Clima. Agroecossistemas. Aquecimento global.
Percepção.
1
2
3
O presente artigo é fruto do relatório final de estágio desenvolvido na Embrapa
Tabuleiros Costeiros do Estado de Sergipe.
Clêane Oliveira dos Santos. Graduada, bacharelanda e mestranda em
Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. [email protected]
Marcos Aurélio Santos da Silva. Pesquisador da Embrapa Tabuleiros
Costeiros. [email protected]
84
Clêane Oliveira dos Santos; Marcos Aurélio Santos da Silva
1 Introdução
O comportamento da atmosfera tem despertado o
interesse de todos, já que a dinâmica atmosférica interfere nos processos geomorfológicos, hidrológicos e
no mundo vivo. Sendo um importante recurso natural, constitui preocupação prioritária da economia, tendo reflexo imediato no comportamento da sociedade,
no seu mais amplo sentido.
O estudo da atmosfera, não no sentido meteorológico, que se expressa por suas características momentâneas e transitórias, mas no climatológico, que pressupõe padrões e modelos variando desde a escala local até a global, é atribuição indiscutível dos geógrafos
e demais profissionais envolvidos com esta área do
conhecimento. Nesse sentido, o aquecimento global
tem direcionado pesquisas acerca da possível ocorrência de mudanças climáticas em nosso planeta.
Sabe-se que o estudo das mudanças climáticas é
importante para esclarecer as vantagens integradoras
de um Geossistema, pois a dinâmica climática não
poderia ser desvinculada – principalmente quando se
fala em mudanças antropogênicas – das demais esferas componentes do meio ambiente.
O tratamento geossistêmico pode ser usado como
instrumento para estabelecer planos de pesquisa no contexto do ambiente social para, desse modo, ir além da
perspectiva de um ambiente representativo exclusivamente de terra, água, ar e outros aspectos, não humanos.
Dessa forma, qualquer sistema agrícola é um ecossistema constituído pelo homem que depende do clima para funcionar. Nesse agroecossistema temos como
principais elementos climáticos que afetam a produção agrícola: radiação solar, temperatura e umidade.
Estes aspectos naturais determinam em ampla escala a
distribuição global dos cultivos e da pecuária, assim
como a produção agrícola e a produtividade dos rebanhos dentro de uma zona climática.
No entanto, para estudar os agroecossistemas a partir
das questões climáticas é necessário, primeiramente, o
estudo da percepção dos agentes envolvidos sobre a
temática. O estudo da percepção é relevante, uma vez que
envolve a vida social e, considera a maneira como cada
indivíduo interpreta, valora e avalia o espaço no qual está
inserido. O estudo da percepção visa identificar o valor
semântico que cada indivíduo pesquisado atribui às questões relacionadas ao clima e aos sistemas agrícolas.
Diante desta perspectiva, este trabalho visa analisar, através de pesquisa bibliográfica, as razões do intenso debate sobre o aquecimento global e suas conseqüências no mundo vivo, assim como identificar, através de questionários aplicados junto a pesquisadores
da área, o grau de utilização e percepção do indicador
clima e seus reflexos no funcionamento dos sistemas
agrícolas tendo o tema mudanças climáticas como
balizador do debate.
2. Percepção
De acordo com o Dicionário Aurélio perceber significa adquirir conhecimentos de, pelos sentidos, ao passo
em que o termo percepção remete-se ao ato, efeito ou faculdade de perceber. A percepção não é um ato dependente apenas do ambiente em si, pois o que o individuo
percebe nem sempre é o que o ambiente é, mas o que os
seus sentidos apreendem a partir de seu filtro cultural.
Nesse sentido, o modo mais comum de interação
entre o ser humano e o mundo provém das sensações
e percepções, assim é estabelecido o conhecimento
sensível sobre tudo que está à sua volta.
A percepção é analisada a partir de mecanismos
perceptivos (sentidos) e cognitivos consistentes no
processo mental de interação do individuo com o
ambiente. Este fato é estudado na geografia desde suas
origens. Contudo, foi entre as décadas de 1960 e 70,
que as percepções, representações e valores dos homens foram reunidos na “Geografia Humanista”, que
tem como precursor Yi-Fu Tuan.
Para os humanistas a paisagem é tudo aquilo que
pode ser visível pelo olho humano, ao mesmo tempo,
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98, jul./dez. 2008
Abordagem Perceptiva das Mudanças Climáticas Globais
que é o produto da materialização das ações humanas
no espaço. Essa categoria é percebida a partir das relações dos indivíduos com os lugares e suas manifestações culturais.
Desta forma, a geografia da percepção conta com a
contribuição da psicologia social, e considera a maneira como cada indivíduo interpreta e avalia seu espaço, isto é, se baseia nos comportamentos individuais e espaciais como modeladores do espaço. Assim,
a percepção é determinada pelas aspirações, desejos,
decisões e ações que os homens desenvolvem em relação ao ambiente em que vivem deliberadas pela análise das atitudes, preferências, estimas e percepções as
quais a mente humana tem capacidade de criar.
Através da percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir
significado ao seu espaço geográfico. A percepção é,
pois, observada através de representações coletivas a
nível cultural e social, como também, por características individuais, quando da representação de objetos,
que é dada a partir de uma percepção comportamental.
Tuan (1980) elucida que a:
Percepção é tanto a resposta dos sentidos aos
estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados. Muito do que percebemos
tem valor para nós, para a sobrevivência
biológica, e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na cultura (p. 4).
Cabe destacar, também, que todo ser humano vive
em um mundo pessoal e sua percepção desse mundo
também é pessoal. Porém, diferentes culturas apresentam estereótipos compartilhados, que na maioria
das vezes refletem na linguagem ao tentar construir
ambientes adaptados a tais estereótipos. Logo,
A superfície da terra é modelada, para cada
pessoa, pela refração através de lentes culturais e pessoais de costumes e fantasia Todos somos artistas e arquitetos da paisagem,
85
criando ordem e organizando o espaço, o
tempo e a causalidade de acordo com nossas interpretações e predileções (JOHNSTON,
1986, p. 198 apud LOWENTHAL, 1961,
p.260).
O estudo da percepção adquiriu expressividade nas
duas ultimas decadas, especialmente, em meio às ciências acadêmicas quando da utilização de seu sentido nas temáticas referentes à qualidade ambiental; as
paisagens valorizadas; os riscos ambientais; as representações do mundo; a história das paisagens; a relação entre as artes, as paisagens e os lugares e etc.
Oliveira (2008, p. 07) enfatiza que
os valores éticos da preservação do ambiente e da justiça social são requalificados enquanto valores humanistas, que só fazem
sentido de ser na medida em que estão sintonizados com uma visão holística e
abrangente do homem e do mundo.
Logo, considerando os altos graus de incerteza sobre as questões climáticas globais percebe-se a importância da análise da natureza da percepção de atores
importantes no processo de construção coletiva de um
consenso nacional sobre o tema. Antes de agir é necessário estabelecer o diálogo aberto a fim de que as decisões acerca das mudanças climáticas, geralmente de grande impacto social, estejam suficientemente qualificadas.
3. Mudanças climáticas
Antes de qualquer indagação acerca das mudanças
climáticas, vale salientar que existe diferença entre os
termos mudanças e variabilidades climáticas, os quais
muitas vezes são tratados como sinônimos. As mudanças se constituem em todas as formas de
inconstâncias da atmosfera, independentemente de sua
natureza estatística ou causas físicas, já a variabilidade climática segundo Ayoade (1986) é muito rápida e
não pode ser considerada uma mudança climática, que
ocorreria numa escala temporal de 100-150 anos.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98 jul./dez. 2008
86
Clêane Oliveira dos Santos; Marcos Aurélio Santos da Silva
É indispensável, também, estabelecer que existem
diversas opiniões sobre as causas do aumento da temperatura da terra, no entanto destaca-se duas vias principais e divergentes sobre as causas de tal fato: o aquecimento proporcionado somente pelos sistemas naturais e o aquecimento eminentemente antropogênico.
As mudanças climáticas tiveram início na formação do planeta, e a ciência acompanha essas alterações
há muitos anos. No entanto, o processo de aquecimento se intensificou de 1995 para cá – dos 12 anos
mais quentes registrados a partir de 1850, onze ocorreram depois de 95. O nível do mar subiu 18 centímetros neste século, e a concentração de dióxido de carbono (CO2) passou em 1750 de 277 partes por milhão
(ppm) para 380ppm atualmente. Esses fatos colocam
em evidência a ampla complexidade da dinâmica planetária e principalmente da dinâmica atmosférica.
Segundo Alvarenga e Carmo (2006):
A mudança no clima é um dos mais graves
problemas ambientais enfrentados nos últimos anos, podendo ser considerada uma das
maiores ameaças à sustentabilidade do meio
ambiente, à saúde e ao bem-estar e à economia global (p. 2).
As políticas internacionais sobre as mudanças climáticas tiveram início em 1988, quando a Assembléia
Geral das Nações Unidas alegou ser a mudança do
clima uma inquietação comum à humanidade. Nesse
ano a ONU criou um comitê científico para investigar
o aquecimento global, o Comitê Intergovernamenntal
sobre a Mudança Climática reúne mais de 3000 cientistas, representantes de organismos internacionais,
governos e organizações não-governamentais e é o principal corpo consultivo para as Nações Unidas sobre
as Mudanças do clima.
Em função da percepção da obrigação de se desenvolver políticas e instrumentos legais internacionais
sobre a questão da mudança do clima, foi adotada a
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, tendo como objetivo primordial o alcan-
ce da estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera. Em dezembro de 1997, em
Quioto, Japão, durante a terceira Conferência das partes, foi adotado um Protocolo à Convenção sobre Mudança do Clima, o qual ficou conhecido como Protocolo de Quioto. Este estabelece compromissos para
países desenvolvidos de redução de pelo menos 5%
em relação aos níveis de 1990 das emissões antrópicas
combinadas de gases de efeito estufa para os períodos
de 2008 a 2012.
Miguez (2001) ressalta que:
A grande inovação do Protocolo consiste na
possibilidade de utilização de mecanismos
de flexibilidade para que os países desenvolvidos possam atingir os objetivos de redução de gases de efeito estufa, de maneira mais
eficiente do ponto de vista de custos de cada
país, sem, no entanto, comprometer a mete
ambiental em questão (p. 17).
O aquecimento global é o aumento da temperatura
terrestre e tem preocupado a comunidade científica
cada vez mais. Cientistas adeptos à tese do aquecimento antropogênico acreditam que as causas da ocorrência de tal fenômeno sejam devido ao uso de combustíveis fósseis e outros processos em nível industrial, que levam à acumulação na atmosfera de GEE,
tais como o Dióxido de Carbono, o Metano, o Óxido
de Azoto e os CFCs.
O Efeito Estufa consiste, basicamente, na ação do
dióxido de carbono e outros gases sobre os raios
infravermelhos refletidos pela superfície da terra,
reenviando-os para ela, mantendo assim uma temperatura estável no planeta. Ao irradiarem a Terra, parte
dos raios luminosos oriundos do Sol são absorvidos
e transformados em calor, outros são refletidos para o
espaço, mas só parte destes chega a deixar a Terra, em
conseqüência da ação refletora que os GEE têm sobre
tal radiação reenviando-a para a superfície terrestre na
forma de raios infravermelhos.
Alvarenga e Carmo (2006) ressaltam que:
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98, jul./dez. 2008
Abordagem Perceptiva das Mudanças Climáticas Globais
(...) o efeito estufa é um fenômeno natural
que faz com que a temperatura média da
superfície terrestre mantenha-se em torno de
15°C.(...). Entretanto, a concentração excessiva desses gases na atmosfera vem causando aquecimento em um nível que afeta o
clima global significativamente (p.3).
Desde que surgiu a polêmica sobre o efeito estufa
vários foram os estudos desenvolvidos para que os
cientistas tentassem compreendê-lo. Para parte da comunidade científica, não há mais dúvidas de que os
riscos são reais e que as predições do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que assessora a ONU nesse tema, são sólidas. A seriedade
dos relatórios do IPCC, escritos com o “consenso” de
vários cientistas de diversas partes dos países do
mundo e lançados a cada cinco anos é ressaltada por
diversos pesquisadores e questionada por outros.
Em 1990, o primeiro relatório do IPCC sobre mudanças climáticas advertia que, embora existissem
muitas incertezas, a atividade do homem estava levando a elevação das concentrações de CO2 e às temperaturas ascendentes.
O IPCC publicou, em julho de 2001, três volumes
de relatórios sobre as mudanças climáticas. O primeiro volume Mudança do Clima 2001: a base científica
aponta que a concentração do CO2 na atmosfera está
em seu nível mais elevado em 400 mil anos.
O segundo volume do relatório do IPCC (Mudança
do Clima 2001: impactos, adaptação e vulnerabilidade)
avalia como os sistemas naturais e humanos são sensíveis à mudança do clima. Algumas conseqüências
das mudanças climáticas são ressaltadas no relatório,
tais como freqüência de seca ou de inundação em algumas áreas; desaparecimento de algumas espécies de
animais e aumento no nível do mar. Ainda de acordo
com o relatório, a saúde humana poderá também ser
posta em risco. É previsível um aumento de doenças
como malária e cólera. Sociedades mais pobres e menos desenvolvidas seriam as mais vulneráveis a tais
problemas, sendo que a habilidade das pessoas em
87
adaptar-se às mudanças climáticas depende de fatores
como riqueza, tecnologia, infra-estrutura e acesso aos
recursos naturais.
A divulgação do quarto relatório do IPCC (Painel
Itergovernamental sobre Mudanças Climáticas) causou
grande movimentação nos meios de comunicação de
massa pois demonstrou que as atividades humanas
contribuíam significativamente para as variações climáticas.
Cientistas da vertente que questionam a forma com
que os trabalhos científicos são divulgados pelo IPCC
afirmam que o sumário executivo do referido relatório
induz o leitor a ter uma percepção catastrofista da realidade. Impedindo-o, portanto, de estabelecer parâmetros de valoração corretos do problema. As razões
para a construção de relatórios alarmistas estão além
do escopo deste trabalho, mas certamente têm relação
com questões geopolíticas uma vez que o tema transcende o discurso puramente científico.
Por outro lado há cientistas que acreditam na veracidade dos fatos e nas conseqüências devastadoras
da elevação da temperatura da terra. Segundo Nobre,
cientista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
a superfície da terra está cerca de 0,6 °C mais
quente hoje do que há 100 anos. É muito
provável que a maior parte desse aquecimento seja decorrente da emissão, por atividades humanas (queima de combustíveis
fosseis, desmatamentos e outras), de gases
que retêm radiação térmica - o chamado
efeito estufa. Se não houver um gigantesco
esforço para reduzir essa emissão, é quase
certo que o clima do planeta venha a se alterar (...) (2004, p.38).
Hoje, as análises a partir de modelos matemáticocomputacionais do IPCC sugerem que o aquecimento
global observado nos últimos 50 anos é explicado especialmente pelas emissões humanas de GEE e de aerossóis
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98 jul./dez. 2008
88
Clêane Oliveira dos Santos; Marcos Aurélio Santos da Silva
e não por eventual variabilidade natural do clima, Todavia, enfatiza que há tecnologia e recursos para limitar o
aquecimento global, desde que a ação seja imediata.
4. Mudanças Climáticas e os Sistemas Agrícolas
Vale salientar que para o entendimento das mudanças climáticas é imprescindível estudar o clima
integrado aos demais componentes do sistema. Este
se define como um conjunto de unidades que estabelecem relações entre si e que possuem propriedades
comuns. Desse modo, o todo se encontra organizado
em função das inter-relações entre as unidades, quando então o seu grau de organização permite que assuma o papel de um todo maior que a soma de suas
partes. Logo
(...) o sistema funciona para executar determinada tarefa, procurando atingir um objetivo ou finalidade. Neste caso, os sistemas
são organizados para realizar determinada
finalidade no conjunto da natureza
(CHRISTOFOLETTI, 1979, p.3).
O geossistema é imaginado por Monteiro (2000)
como algo vinculado à geografia, tivesse o nome de
geossistema, paisagem, unidade espacial; algo correspondente a melhor maneira de relacionar os fenômenos atmosféricos, aos geomorfológicos, biogeográficos
e, sobretudo a atividade humana.
pecialmente as temperaturas do ar e do solo, e a duração do dia. A temperatura do ar e do solo afeta todas
as fases de crescimento das plantas, uma vez que todos os cultivos possuem limites térmicos mínimos,
ótimos e máximos para cada um de seus passos de
evolução.
Em geral as altas temperaturas não são muito
destrutivas para as plantas quanto às baixas temperaturas, desde que o abastecimento de umidade seja
suficiente para evitar o murchamento e que a planta
esteja adaptada à referida região climática. Por isso, a
umidade do solo é a fonte de água significativa para a
lavoura, à proporção que a água propicia o meio pelo
qual os agentes químicos e os nutrientes são carregados através da planta, desempenhado papel fundamental no crescimento dos vegetais e na produção de
todos os cultivos. Assim, nem temperaturas extremamente altas ou baixas, nem água insuficiente ou em
excesso, representam condições benéficas para o pleno desenvolvimento da agricultura.
Pelo exposto pode-se constatar que as condições climáticas não somente influenciam o
crescimento e o desenvolvimento dos vegetais, mas também determinam amplamente
a produtividade da cultura. Portanto, onde
predominam condições climáticas ótimas e
onde o solo é bom a produtividade será elevada. Ao mesmo tempo, condições climáticas extremas constituem graves riscos pra a
agricultura e têm que ser controladas
(AYOADE, 1991, p. 269).
Neste contexto, qualquer sistema agrícola é um ecossistema constituído pelo homem o qual depende do
clima para funcionar, onde os principais elementos
climáticos que afetam a produção agrícola são: radiação solar, temperatura e umidade. Estes aspectos naturais determinam em ampla escala a distribuição global dos cultivos e da pecuária, assim como a produção agrícola e a produtividade dos rebanhos dentro de
uma zona climática.
É importante ter conhecimento de que as variáveis climáticas estão intimamente inter-relacionadas
diante da influência que exercem sobre as lavouras,
do mesmo modo que as variações diárias, sazonais ou
anuais nos valores dos elementos climáticos são de
grande importância na determinação da eficiência do
crescimento dos cultivos.
Desse modo, considera-se muito estreita a relação
entre a radiação solar e a produção agrícola, pois aquela
determina as características térmicas do ambiente, es-
Além disso, é de vital relevância considerar o estado do ambiente climático, ou seja, o microclima
nos quais as lavouras se desenvolvem, já que as conRevista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98, jul./dez. 2008
Abordagem Perceptiva das Mudanças Climáticas Globais
dições do clima ambiente predominantes no interior
dos solos e nas proximidades do terreno em que os
cultivos crescem, pode estar bastante diferente daquelas reinantes no ar logo acima dos mesmos. Por isso,
Ayoade (1991, p. 261) afirma que “apesar dos recentes
avanços tecnológicos e científicos, o clima é ainda a
variável mais importante na produção agrícola”.
Ayoade (1991, p. 261) ainda enfatiza que:
O fator climático afeta a agricultura e determina a adequação dos suprimentos alimentícios de dois modos principais. Um é
através dos azares (imprevistos) climáticos
para as lavouras e o outro é através do controle exercido pelo clima sobre o tipo de agricultura praticável ou viável numa determinada área. Os parâmetros climáticos exercem influencia sobre todos os estágios da
cadeia de produção agrícola, incluindo a
preparação da terra, semeadura, crescimento
dos cultivos, colheita, armazenamento, transporte e comercialização.
Nessa perspectiva, Ghini (2005) salienta que “a
agricultura é uma atividade econômica que depende
diretamente dos fatores climáticos. Qualquer mudança no clima pode afetar o zoneamento agrícola, a produtividade das diversas culturas e as técnicas de manejo”
(p. 12). Depreende-se, então, que os parâmetros climáticos exercem influência sobre todas as etapas da cadeia de produção agrícola, fato que interfere no cotidiano dos habitantes e na economia de uma dada região.
5. O Brasil no Contexto das Mudanças Climáticas
Globais
Sabe-se que os países em desenvolvimento, historicamente, são os mais vulneráveis as futuras alterações no clima, dessa forma “o Brasil, sem dúvida, pode
ser duramente atingido, já que sua economia é fortemente dependente de recursos naturais ligados diretamente ao clima, como a agricultura e na geração de
energia hidrelétrica” (NOBRE, 2004, p. 39).
89
O Brasil enquanto signatário da Convenção Quadro de Mudanças do Clima, tem realizado inventários
de emissões de gases geradas por suas atividades agrícolas, industriais e urbanas, onde as estimativas das
emissões de gases como metano, monóxido de carbono, óxido nitroso e óxidos de nitrogênio provenientes
de atividades agrícolas no país, incluindo cultura de
arroz sob regime de inundação, queima de resíduos
agrícolas (cana-de-açúcar), fermentação entérica, manejo de resíduos de pecuária e os solos agrícolas têm
sido alvos de eficientes estudos.
A questão do aquecimento global, difícil de ser
compreendida por sua complexidade científica e a
existência de poucos especialistas neste tema no Brasil, geralmente envolvidos com projetos considerados
mais prioritários, tornaram a elaboração do inventário
brasileiro de emissões de gases de efeito estufa um
esforço complexo e pioneiro.
Em comparação com os países desenvolvidos, o
Brasil não é um grande emissor no setor energético.
Isso se deve ao fato de ser o Brasil um país tropical,
com invernos moderados e por mais de 60% de sua
matriz energética ser suprida por fontes renováveis.
Mais de 95% da eletricidade brasileira é gerada por
usinas hidrelétricas e há uma ampla utilização de
biomassa (utilização de álcool nos veículos, uso do
bagaço da cana-de-açúcar para a geração de vapor, uso
de carvão vegetal na indústria siderúrgica, etc).
A Convenção sobre Mudança do Clima estabelece
para os países o princípio da responsabilidade comum,
porém diferenciada. Por este princípio, os países desenvolvidos são os maiores responsáveis pelo aquecimento global devido às suas emissões históricas desde a revolução industrial e se comprometem a tomar a
liderança no estabelecimento de políticas e medidas
de mitigação das mudanças climáticas e no estabelecimento de metas e cronograma de redução ou limitação
de emissões antrópicas de gases de efeito estufa.
O Brasil, país em desenvolvimento, não tem essas
metas, mas compromissos gerais, que são comuns a
todos os países, como por exemplo, o compromisso
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98 jul./dez. 2008
90
Clêane Oliveira dos Santos; Marcos Aurélio Santos da Silva
inicial de apresentar um relatório nacional à Convenção, denominado “Comunicação Nacional”, que apresenta o Inventário e as providências tomadas ou previstas no país para implementar a Convenção. Assim,
o país não tem que adotar medidas ou políticas de
mitigação, mas tem compromissos gerais, como, por
exemplo, incluir o tema de mudança de clima no planejamento de longo prazo.
A avaliação de emissões decorrentes do uso veemente de biomassa no Brasil também não encontra
apoio na metodologia adotada pelo IPCC, muito embora tais emissões, dado o caráter renovável da
biomassa, não sejam contabilizadas nos totais nacionais. A aplicação da metodologia do IPCC pelos países em desenvolvimento impõe a esses países um ajuste
a um sistema para cuja elaboração pouco contribuiu.
Análises pioneiras foram realizadas em relação às
emissões de gases de efeito estufa pela conversão de
florestas em terras para uso agrícola, pelos reservatórios de hidrelétricas e por queimadas prescritas do cerrado.
Sabe-se que o padrão de emissão de gases pelas
atividades humanas no Brasil é completamente diferente da situação global. Aproximadamente 75% do
CO2 que o Brasil emite para a atmosfera são derivados
de práticas agrícolas e do desmatamento. Apenas 25%
são derivados da queima de combustíveis fosseis. O
Brasil está situado em 17º lugar na classificação mundial dos países emissores de GEE, se não levarmos em
consideração o desmatamento.
Um outro tipo de emissão de relevância no Brasil é
aquela proveniente da ação dos ruminantes. O país é
detentor do maior rebanho bovino comercial do mundo. Essa questão chega a preocupar pesquisadores e
essa emissão está sendo mensurada e computada no
inventário e em outros documentos que apontam os
principais causadores do aumento dos gases de efeito
estufa.
O gás eliminado para a atmosfera na atividade de
bovinos, búfalos, cabras e ovelhas é o metano, que
resulta da digestão do alimento pelas bactérias presentes no interior do rúmen, que estão no estômago
dos animais.
Segundo o Primeiro Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa (2006)
desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária em relação às emissões de metano da
pecuária, as emissões totais de metano provenientes da fermentação entérica de animais ruminantes
e falso-ruminantes no Brasil foram estimadas em
8.805,72 Gg em 1990 (média de 8.829,66 ± 232,05
Gg no período de 1989 a 1991), correspondendo a
96% do total de metano emitido pela pecuária. O
gado de corte foi responsável por 81,7% das emissões de metano por essa fonte em 1990, contribuindo com 7.190,86 Gg, o gado leiteiro, por 13,6% e as
outras categorias de animais, por 4,7%. Em 1994,
as estimativas de emissões de metano provenientes
da fermentação entérica de ruminantes foram de
9.377,67 Gg (média 9.381,56 ± 168,33 Gg no período de 1993 a 1995), sendo que 82,2% foram atribuídas ao gado de corte, 13,4% ao gado de leite e 4,4%
às outras categorias de animais.
De acordo com Gonzalez Miguez (2001) as emissões
brasileiras são relativamente pequenas comparadas ao território, a população e tamanho da economia no Brasil.
Dentre as emissões antrópicas de gases de efeito estufa no
país, as principais emissões de gás carbônico são provenientes do desmatamento e do setor energético e as principais emissões de gás metano são provenientes da pecuária (fermentação entérica de gado ruminante).
6 Material e métodos
A realização da pesquisa foi efetivada com uma
coleta de dados a partir de aplicação de questionários
(vide apêndice) tanto com o corpo docente do departamento de Geografia da UFS (Universidade Federal
de Sergipe) quanto com pesquisadores da Embrapa
Tabuleiros Costeiros do Estado de Sergipe. Foram
aplicados 20 questionários no período de 04/02/2008
a 25/02/2008.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98, jul./dez. 2008
Abordagem Perceptiva das Mudanças Climáticas Globais
Por fim realizou-se um estudo e análise dos dados
a partir de métodos de estatística descritiva para construção de gráficos, e materialização da análise.
91
les afirmarem o uso de tais variáveis na realização de
suas atividades. Dessa forma, percebe-se que existe
uma contradição no estabelecimento de importância e
estudo efetivo direcionado às variáveis climáticas.
7 Resultados e discussão
7.1 A PERCEPÇÃO DE PESQUISADORES EM RELAÇÃO A MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
No trabalho de campo efetivou-se a aplicação de
vinte questionários (vide apêndice) dentre pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros e Professores/
pesquisadores do departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe.
No questionário aplicado junto aos pesquisadores
e professores que utilizam as variáveis climáticas em
seus estudos, fora analisados temas de diversas amplitudes no sentido de elucidar a percepção das mudanças climáticas globais. Dessa forma elaboraram-se
questões referentes aos aspectos gerais do clima, ao
conteúdo dos relatórios do IPCC, às relações internacionais e às relações entre clima e agricultura.
Dentre o total do pessoal entrevistado, 55% têm
mais de 50 anos de idade e 45% possuem de 31 a 50
anos de idade, há um destaque para 45% que têm área
de formação em Agronomia, 20 % em Geografia e os
restantes 35% distribui-se em biologia, geologia, engenharia, como pode ser observado na figura 01.
Figura 02. Como o entrevistado acompanha o clima.
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Verificou-se que o clima das regiões onde são realizadas as pesquisas se comporta de modo diferenciado
formando aquilo que conhecemos como microclimas,
ou seja, condições do clima ambiente divergente daquele predominante em uma região. Assim, de acordo
com a análise dos dados verificou-se que 65% dos
pesquisados percebem a variação climática e, apenas
355 não verificam tal variação nos locais de realização
de suas atividades.
Quanto aos conteúdos do relatório do IPCC, observou-se que o acesso se dá em 45% dos casos a partir de
noticiários televisivos e internet, sendo que 30% afirmam acessam o conteúdo através do portal do IPCC.
No entanto, o grau de compreensão do conteúdo do
mesmo relatório mostrou-se irrisório, como pode ser
percebido na figura 03 onde 75% dos entrevistados apresentam uma baixa compreensão do conteúdo.
Figura 01. Área de formação dos entrevistados.
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Constatou-se que 95% dos pesquisadores usam o
fator clima como um dado importante nas pesquisas,
no entanto 75% acompanha os fenômenos climáticos
por noticiário televisivo (fig. 01), apesar de, 75% de-
Figura 03. Grau de compreensão do conteúdo do IPCC.
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98 jul./dez. 2008
92
Clêane Oliveira dos Santos; Marcos Aurélio Santos da Silva
No tocante ao objeto de estudo da climatologia e
meteorologia, observou-se que 80% dos pesquisados
asseguraram que existe diferença entre o que se estuda nestes ramos da ciência. Porém foi constatado que
ainda há dúvidas entre os entrevistados sobre
climatologia e meteorologia, sendo que apenas 45%
deles responderam de forma correta sobre a diferença
entre os objetos de estudo, 40% afirmaram que existe
diferença, mas não justificaram, e 15% apresentaram
afirmações bastante contraditórias.
O mesmo fato ocorreu quando questionados pela
diferença entre os termos clima e tempo. Houve 40%
de acertos ainda que de forma incompleta, 20% de
definições absurdas, seja pela troca de sentido entre
os termos ou pelo simples fato de não conhecer a diferença entre os termos, infelizmente um fato comum
tanto no meio científico quanto na mídia.
Vale salientar que quando avaliados acerca do conhecimento sobre a climatologia e meteorologia, 45%
e 50%, respectivamente, classificaram-se numa escala
intermediária de conhecimento, considerando uma
escala de 1 a 5 em nível de conhecimento crescente,
como pode ser verificado na figura 04.
técnico dos relatórios do IPCC não são criteriosamente
analisados pelos entrevistados.
No questionário havia, também, uma questão que
dizia respeito a possível participação do metano
entérico como agente condicionador do aquecimento
global, notou-se a existência de falta de conhecimento
concreto sobre o assunto, pois na escala de 1 a 5 de
crescimento da vulnerabilidade do aquecimento em
relação ao metano observa-se na figura 05 uma distribuição similar dos níveis das respostas.
Figura 05. Percepção da relação existente entre a emissão
de metano entérico e o aquecimento global.
A figura 06 mostra que 85% dos entrevistados apontaram que a melhor alternativa para lidar com as mudanças climáticas seria a mitigação da emissão de CO2, e
25% afirmaram que a saída seria a adaptação ao clima.
Figura 04. Nível de conhecimento sobre climatologia e
meteorologia.
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Quanto ao aquecimento global fora perguntado se
o pesquisador concorda que o CO2 emitido por ações
antrópicas seria a causa principal - 90% dos entrevistados afirmaram positivamente. Todavia as justificativas se sustentaram em argumentos midiáticos e não
científicos, pois, como já foi constatado, o conteúdo
Figura 06. Percepção das alternativas diante das mudanças
climáticas.
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
No intuito de avaliar a percepção das principais
dificuldades para o alcance do monitoramento climático local e regional, observou-se que 70% do pesRevista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98, jul./dez. 2008
Abordagem Perceptiva das Mudanças Climáticas Globais
soal envolvido na pesquisa apontaram para a ausência de centros de metereologia distribuídos na região;
60% afirmaram que a falta de estações metererológicas
seria a causa principal da dificuldade; 35% apontaram, também, para a falta de pessoal qualificado na
área de meteorologia; 30% referiu-se a falta de pessoal qualificado na área de climatologia; observações
que nos mostra a percepção por parte dos pesquisadores da existência de empecilhos para alcançar um
monitoramento, pode-se inferi que talvez esses problemas podem estar sendo usados como desculpa
para o descaso ou descompromisso de alguns profissionais em relação a confecção e disponibilidade de
dados climáticos.
Sabe-se que a questão das mudanças climáticas têm
envolvido amplas discussões no âmbito da ONU, assim verificou-se que 60% acreditam que a criação de
organismos supranacionais seriam viáveis para gerir
conflitos de interesse entre as nações sobre as questões climáticas. Sendo relevante ressaltar que se deu
ênfase ao fato do predomínio das preocupações de
93
órgãos internacionais com aspectos econômicos em
detrimento das questões da natureza.
No sentido de verificar a percepção dos reflexos do
indicador clima diante do funcionamento dos sistemas
agrícolas, assinalaram-se algumas estratégias para o ajustamento às variações climáticas, merece destaque a opção, que foi indicada em 85% dos questionários, relativa à mudança da fonte energética de combustíveis fósseis para energia renovável; o investimento em pesquisas de seqüestro de CO2 através de atividades agrícolas
e industriais e o desenvolvimento de novas culturas
adaptadas ao novo clima, opções apontadas por 75%
dos entrevistados; e a capacitação dos produtores rurais que fora destacada em 65% dos questionários.
No tocante ao impacto das mudanças climáticas na
agricultura, no solo, na vegetação, na pecuária, verificou-se que o total dos pesquisadores apontaram para
um nível de impacto significativo ou crescente das
mudanças climáticas em todas estas categorias, como
pode ser visualizado na figura 07.
Figura 07. Percepção do grau de impactos das mudanças climáticas na agricultura, na pecuária, no solo e na vegetação.
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98 jul./dez. 2008
94
Clêane Oliveira dos Santos; Marcos Aurélio Santos da Silva
Quanto à categoria de produtor rural que acompanha de forma mais adequada às mudanças no clima,
70% diagnosticaram que seria o empresário agrícola
que está mais apto aos riscos provenientes de tais
mudanças; 16% apontaram para os pequenos produtores; e 10% destacaram os agricultores familiares.
Sabe-se que os pesquisadores estão conscientes da
vulnerabilidade das atividades agrícolas em função das
mudanças no clima, como pode ser visualizado na
figura 8 que diagnosticou até que ponto o pesquisador
considera que as atividades agrícolas são vulneráveis
às mudanças climáticas.
Sobre o nível de conhecimento sobre protocolo de
Quioto, Protocolo de Montreal e Conferencia das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento,
Figura 08. Percepção do nível de vulnerabilidade das
atividades agrícolas diante das mudanças climáticas.
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
temas a que todos se referem, prevaleceu o nível médio à baixo de conhecimento acerca desses temas, a
exceção ocorreu no item relativo à Agenda 21 onde
observa-se uma categoria compreendida entre nível
médio a alto de conheciento (Figura 9).
Figura 09. Grau de conhecimento sobre Protocolo de Quioto, Protocolo de Montreal, Conferência das Nações Unidas sobre
meio ambiente e desenvolvimento, e Agenda 21.
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98, jul./dez. 2008
Abordagem Perceptiva das Mudanças Climáticas Globais
4 Considerações finais
De forma geral o tema mudanças climáticas ainda é
uma área de pesquisa não muito bem definida e estudada, até mesmo por grupos sociais que deveriam
possuir um grau mais sofisticado de conhecimento,
por envolverem com freqüência as variáveis do clima
em seus estudos.
A partir da avaliação dos questionários e análise
bibliográfica foi possível perceber a existência de diversas opiniões sobre as causas do aumento da temperatura da terra, no entanto destacam-se duas vias
principais e divergentes sobre as causas de tal fato: o
aquecimento proporcionado pelos sistemas naturais
95
(ênfase as grandes oscilações térmicas com longos intervalos de tempo) e o aquecimento antropogênico (ênfase ao uso de combustíveis fósseis e outros processos em nível industrial, que levam à acumulação na
atmosfera de gases propícios ao Efeito Estufa).
Portanto, observa-se que há uma significativa carência de conhecimento organizado sobre todos os fatores que relacionados com as mudanças climáticas
globais e suas conseqüências nas diversas atividades
produtivas, com destaque para a agricultura. A análise dos resultados dos questionários nos mostra a necessidade de maiores investimentos em estudos científicos sistemáticos e de ações de comunicação científica qualificada na área.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98 jul./dez. 2008
96
Clêane Oliveira dos Santos; Marcos Aurélio Santos da Silva
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVARENGA, A. de P. & CARMO, C. A. F de. S. do.
Seqüestro de carbono: Quantificação em seringais de
cultivo e na vegetação natural. Minas Gerais:
EMBRAPA, EPAMING, UFMG, 2006.
AYOADE, J.O. Introdução à climatologia para os trópicos. 3º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.
CABRAL, O. M . R; LIMA M. A. de; MIGUEZ, J. D. G.
Mudanças climáticas globais e a agropecuária brasileira. São Paulo: EMBRAPA (Meio Ambiente), 2001.
CHRISTOFOLETTI, Antônio. Análise de sistemas em
Geografia. São Paulo: Hucitec. Ed. da Universidade
de São Paulo, 1979.
GHINI, Raquel. Mudanças climáticas globais e doenças de plantas. São Paulo: EMBRAPA (Meio Ambiente), 2005.
JOHNSTON, R. J. Geografia e Geógrafos: A Geografia
Humana Anglo-Americana desde 1945. São Paulo:
DIFEL, 1986.
OLIVEIRA, Lívia de. Humanismo na geografia: A contribuição brasileira. In: I Colóquio Brasileiro de Historia
do pensamento geográfico. Universidade Federal de
Uberlândia-MG (UFU), 2008. Disponível em < http://
w w w. i g . u f u . b r / c o l o q u i o / t e x t o s /
H U M A N I S M O % 2 0 N A %
20GEOGRAFIA%20Contribuicao %20Brasileira.pdf>
Acesso em 01 de julho de 2008.
MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo.
Geossistemas: A história de uma procura. São Paulo:
Contexto, 2000.
SALGADO-LABOURIAU, M. L. História Ecológica da
Terra. Ed. Edgard Blücher LTDA. São Paulo, SP - Brasil, 1994, p. 255-290.
TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.
________. Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel,
1980.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 83-98, jul./dez. 2008
Download

vol 4 - Fapese