2º
EM
TEXTOS
TEXTOS PARA O TRABALHO DE HISTÓRIA - 14/05/15
Texto 1
O índio Peri (José de Alencar, O Guarani, 1851)
Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de árvores, encostado a um velho
tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, a
que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates,
caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um
junco selvagem. Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor do cobre, brilhava com
reflexos dourados; os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os
cantos exteriores erguidos para a fronte; a pupila negra, móbil, cintilante; a boca forte mas bem
modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto pouco oval a beleza inculta da graça,
da força e da inteligência.Tinha a cabeça cingida por uma fita de couro, à qual se prendiam do
lado esquerdo duas plumas matizadas, que descrevendo uma longa espiral, vinham rogar com
as pontas negras o pescoço flexível. Era de alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil
e nervosa, ornada com uma axorca (argola) de frutos amarelos, apoiava-se sobre um pé
pequeno, mas firme no andar e veloz na corrida. Segurava o arco e as flechas com a mão
direita calda, e com a esquerda mantinha verticalmente diante de si um longo forcado de pau
enegrecido pelo fogo.
Texto 2
I-Juca-Pirama (Gonçalves Dias, 1851)
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
Texto 3
Escreveu Varnhagen:
(...) Nos selvagens não existe o sublime desvelo, que chamamos patriotismo, que não é tanto
o apego a um pedaço de terra ou bairrismo, nem sequer eles como nômades tinham bairro
seu, como um sentimento elevado que nos impele a sacrificar o bem-estar e até a existência
pelos compatriotas, ou pela glória da pátria. (...) Essas gentes vagabundas que, guerreando
sempre, povoaram o terreno que hoje é do Brasil, eram pela maior parte verdadeiras
emanações de uma só raça ou grande nação; isto é, procediam de uma origem comum, e
falavam dialetos da mesma língua, que os primeiros colonos do Brasil chamaram geral, era a
mais espalhada das principais de todo este continente. Divididos, pois, os tupis em cabildas
insignificantes que umas às outras se evitavam, quando não se guerreavam, apenas podiam
acudir aos interesses ditados pelo instinto vital; e , numa tão grande extensão de território,
não aparecia um só chefe que estabelecesse um centro poderoso, como havia no Peru, cuja
aristocracia, livre de cuidar só em resguardar-se das intempéries e em adquirir diariamente o
necessário alimento, pudesse pensar no bem dos seus semelhantes, apaziguando as suas
contendas, e civilizando-os com o exemplo, e servindo-lhes de estímulo, para se distinguirem
e procurarem elevar-se. Assim tais rixas perpetuariam neste abençoado solo a anarquia
selvagem, ou viriam a deixá-lo sem população, se a Providência Divina não tivesse acudido a
dispor que o cristianismo viesse ter mão a tão triste e degradante estado!
Texto 4
(Carl Von Martius, Como se deve escrever a História do Brasil, 1843)
Qualquer que se encarregar de escrever a História do Brasil, país que tanto promete, jamais
deverá perder de vista quais os elementos que aí concorrerão para o desenvolvimento do
homem.
São, porém estes elementos de natureza muito diversa, tendo para a formação do homem
convergido de um modo particular três raças, a saber: a cor, de cobre ou americana, a branca
ou caucasiana, e enfim a preta ou etiópica. Do encontro, da mescla, das relações mútuas e
mudanças dessas três raças, formou-se a atual população cuja história por isso mesmo tem
um cunho muito particular.(...) Cada uma das particularidades físicas e morais, que
distinguem as diversas raças, oferece (...) um motor especial; e tanto maior será a sua
influência para o desenvolvimento comum, quanto maior for a energia, número e dignidade da
sociedade de cada uma dessas raças. Disso necessariamente se segue que o português,
que, como descobridor, conquistador e senhor, poderosamente influiu naquele
desenvolvimento; o português, que deu condições e garantias morais e físicas para um reino
independente; o português se apresenta como o mais poderoso e essencial motor. Mas (...)
tanto os indígenas,como os negros, reagiram sobre a raça predominante. Sei muito bem que
brancos haverá, que a uma tal ou qual concorrência dessas raças inferiores tachem de
menoscabo à sua prosápia (...).Os espíritos mais esclarecidos e mais profundos pelo
contrário acharão na investigação da parte que tiveram, e ainda têm as raças índia e etiópica
no desenvolvimento histórico do povo brasileiro, um novo estímulo para o historiador humano
e profundo.
Download

TEXTOS PARA O TRABALHO DE HISTÓRIA