AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A PERCEPÇÃO HUMANA
João Paulo Assis Gobo¹ e Eduardo Samuel Riffel²
¹Geógrafo e Mestrando em Geografia Física da Universidade de São Paulo –
[email protected]
²Geógrafo e Mestrando em Geografia da UFRGS – [email protected]
Resumo: Os meios de comunicação noticiam com freqüência que o homem é o principal
responsável pelas mudanças climáticas. No entanto, não noticiam a dinâmica natural pelo qual o
planeta passa que é a principal causa dos impactos ambientais. Diante disso, essa pesquisa busca
demonstrar o enfoque da mídia em relação às mudanças climáticas, bem como as diferentes
opiniões de pesquisadores sobre a crise de percepção que vivemos. A partir do resgate histórico
realizado nessa pesquisa, percebe-se que o principal enfoque da mídia está na relação das mudanças
globais com a temperatura, e também nos eventos extremos, como enchentes e furacões. A mídia,
ao destorcer estes fatos, explica erroneamente que o clima está em mudança ligando o processo de
percepção visual do homem moderno. Assim, este trabalho deve ser considerado como uma
pesquisa secundária sobre as mudanças climáticas globais e suas repercussões na percepção
ambiental do homem contemporâneo, mas que devem continuar sendo constantemente investigadas.
Palavras-Chave: Mudanças Climáticas, Percepção, Mídia.
Abstract: The news media often that the man is the main contributor to climate change. However,
do not notice the dynamic nature by which the planet passes, which is the main cause of
environmental impacts. Therefore, this research seeks to demonstrate the focus of the media in
relation to climate change, as well as the different opinions of researchers on the crisis of perception
which we live. From the historical review conducted this research, it is clear that the main focus of
the media is on the list of global changes with temperature, and also in extreme events such as
floods and hurricanes. The media, they distort the facts, wrongly says that climate change is in the
process of linking visual perception of modern man. This work should be considered as a secondary
research on global climate change and its impact on environmental perception of contemporary
man, but must remain constantly investigated.
Key-Words: Media, Climate Change, Perception.
INTRODUÇÃO
Dos sistemas naturais que caracterizam o espaço geográfico, o clima é o que mais afeta os seres
humanos de um modo geral.
As transformações climáticas no planeta têm ocorrido, basicamente, pela ação do homem, em
contrapartida a sociedade e alguns órgãos ambientalistas têm se organizando na tentativa de
minimizar esses impactos ambientais.
Nesse sentido, esquece-se que o homem contemporâneo vive em ambientes artificiais e que, em
função disso, perdeu seu contato direto com a Primeira Natureza. Atribui-se, assim, à vida moderna
e ao terrorismo da mídia (in loco e em tempo real) o fato de o homem não compreender a dinâmica
natural do planeta, levando, ao caos que a humanidade vive no mundo contemporâneo, o que alguns
autores chamam de crise de percepção ambiental.
OBJETIVO
O objetivo geral desta pesquisa foi de resgatar teoricamente o enfoque que a mídia tem feito sobre
as mudanças climáticas globais, bem como as diferentes opiniões de pesquisadores sobre a “crise de
percepção” na qual vivemos.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O clima, como sistema natural de maior repercussão na vida do homem, é entendido por Max Sorre
na década de 1950 como a sucessão habitual dos tipos de tempo sobre uma determinada região e
seu estudo por um tempo de 30 a 35 anos.
Cada tipo de tempo tem uma característica intrínseca que provoca diferentes reações de regozijo nos
seres humanos, seja de horror, como furacões, ou de euforia, como uma brisa em um dia abafado.
Nesse sentido, entender essa secessão dos tipos de tempo, bem como entender o meio ambiente
através da percepção sob o qual vive o ser humano tem sido uma tarefa inerente e automática a ele
desde os tempos pré-históricos.
Os seres humanos inseridos num espaço geográfico regido tanto por sistemas naturais quanto por
sistemas artificiais e sociais, recebem, ou são bombardeados, constantemente, por informações, que
são captadas através dos órgãos do sentido. Dessa forma, através dos filtros de percepção ambiental,
o homem pode olhar, refletir e entender o funcionamento do mundo em que vive, em especial o
natural, e a partir disso, julga tal funcionamento numa escala de valores, cujo critério de
importância são “os níveis de satisfação que obtemos, do meio ambiente, ao comparar... com as
sensações captadas do entorno...”, (OLIVEIRA, op. cit.: 2).
A percepção é única e intransferível ao ser, pois ela depende do grau de cultura, e ainda, é temporal
e vivenciada, ou seja, quanto maior o convívio com determinadas informações ou espaços, maior o
processo cognitivo, que é o processo de aprendizagem com as percepções do meio circundante ao
ser (TUAN, 1983).
Cada ser humano vê o mundo de forma diferente, e cada ser humano percebe o mundo diferente e
formula leis cognitivas diferentes.
A temporalidade, ou seja, o tempo que a pessoa consegue lembrar uma ação sofrida, realizada ou,
essencialmente,
vista
é
outro
fator
que
contribui
no
processo
de
percepção ambiental. No geral, o ser humano assimila melhor as experiências negativas sofridas,
ligadas ao processo do instinto humano, (SANTOS; MACHADO, 1998).
O grau de escolaridade, por fim, é outro fator que contribui para o processo perceptivo do homem.
Quanto maior o grau de escolaridade que o homem tiver, mais este questiona o mundo percebido
(OLIVEIRA, op. cit.). Segundo Santos; Machado (op. cit.), a percepção da população, no mundo
moderno, tem passado por transformações no que é perceber e entender o meio em que vive, pois o
homem, que já perdeu sua raiz natural, ou seja, sua interação direta com a natureza primária, já não
percebe e compreende diretamente o meio natural, mas sim indiretamente.
É com essa linha mestre de pensamento sobre os efeitos da vida moderna no processo perceptocognitivo do ser humano que Santos; Machado (op. cit.: 81) afirmam que:
“Indubitavelmente a sociedade atual caracteriza-se pela avanço
técnico-científico e informacional que lhe confere peculiaridades
nunca antes imaginadas. É predominantemente urbana, de
comunicação instantânea, das distâncias reduzidas, da robótica e da
cibernética. Em contrapartida, é a sociedade do ter em detrimento
do ser, da rapidez frenética, da competição acirrada, e, porque não
dizer, marcada por profundas crises.... que vivenciamos atualmente,
é a crise da sociedade no ambiente; é uma crise de valores, de
percepção”.
Nesse sentido, Sartori (2005) ressalta a influência da mídia na percepção humana e no processo de
cognição ambiental. A referida autora afirma que a mídia atualmente é a “principal fonte de lazer e
cultura” e, também, a principal fonte de “informação da sociedade”.
RESULTADOS
A mídia possuindo essa função, as informações por ela repassadas, principalmente, as que tratam do
meio ambiente, são informadas como se ocorressem inerentes ao processo de transformação do
espaço geográfico pelo trabalho do homem, ou seja, como se a natureza não tivesse uma dinâmica
própria, acusando as mudanças globais ambientais como conseqüência de tais fatos, e como as
notícias são repetitivas, os filtros psicológicos do processo de percepção ambiental assimilam que
tais eventos naturais são repetitivos e, também, que são causas do processo de transformação global
do meio ambiente pelo trabalho do homem, anulando a dinâmica natural do planeta Terra.
O principal enfoque da mídia é:
-que as mudanças ambientais globais ocorrem em função do aumento das temperaturas;
-das enchentes e dos furacões;
-transformações ocorrentes nos elementos climáticos de maior repercussão no cotidiano da
população.
Dessa forma, a população leiga no assunto, conclui que, de fato, as mudanças globais,
principalmente as climáticas, estão ocorrendo, transformando, por fim, uma percepção individual do
ser humano em uma percepção massificada do meio ambiente em função da mídia, especialmente a
televisiva (Sartori, 2005). Nesse sentido, assistir pela televisão ou pela Internet cenas de horror
como furacões e “tsunamis”, em tempo real, o que não ocorria há vinte anos com o
incremento da tecnologia informacional, e que, porventura, acaba interferindo no processo
cognitivo (de aprendizagem) da população. Essa população infere que as calamidades mundiais
naturais realmente estão acontecendo, concluindo que as mudanças ambientais globais há alguns
anos não existiam.
Assim, vê-se o processo de percepção/cognição ambiental, tanto natural (Primeira Natureza) quanto
artificial e social (Segunda Natureza), atrelada à mídia do mundo contemporâneo, afastando o ser
humano, diariamente, do seu convívio direto com a natureza, tornando-o ignorante em relação aos
fenômenos geográficos naturais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças climáticas a nível global, segundo a visão geográfica de clima, não podem ser
concluídas de fato. Ao se estudar o clima através da ótica geográfica, deve-se estar atentamente
ligado à escala de análise, que pode ser microclimática (escala local), topoclimática (clima urbano),
mesoclimática (escala regional) e macroclimática (escala global).
A mídia, ao destorcer estes fatos, explica erroneamente que o clima está em mudança ligando o
processo de percepção visual do homem moderno. Assim, este trabalho deve ser considerado como
uma pesquisa secundária sobre as mudanças climáticas globais e suas repercussões na percepção
ambiental do homem contemporâneo, salvo os trabalhos de Sartori (2005), e motiva novas
investigações, ficando a literatura nesta área praticamente inexistente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, L de; DEL RIO, V. (Org.). Percepção ambiental – a experiência brasileira. São
Paulo: Studio Nobel; São Carlos: Ed. da UFSCAR, 1996.
OLIVEIRA, L. Percepção e representação do espaço geográfico, In percepção ambiental: a
experiência brasileira. São Paulo: Studio Nobel; Florianópolis: Ed. da UFSC, 1998. 188p.
SANTOS, V. L. dos; MACHADO, L. M. C. P. A crise ambiental na sociedade atual: uma crise de
percepção. Estudos Geográficos, Rio Claro, v. 2, n. 2, p. 81-86, 2004.
SARTORI, M. G. B. Society perception and global climate change. In: CONFERÊNCIA
REGIONAL SOBRE MUDANÇAS GLOBAIS. 2., São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 2005 A. 1
CD-ROM.
TUAN, Y-F. Espaço e lugar. Tradução prefácio e notas: Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL,
[1983].
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