Homilia do dia 17/02/2012 – Padre Mateus Buss, scj
Missionário na República Democrática do Congo
Para mim é uma alegria, uma emoção profunda estar celebrando essa Eucaristia com vocês isso porque particularmente
estou concelebrando com o padre Napoleão, que também foi noviço do Padre Aloísio, e, eu que também fui noviço do
Padre Aloísio no ano 1971. Vocês escutaram o Evangelho, e o Evangelho diz o seguinte: “Quem quiser ser meu discípulo
pegue a sua cruz e siga-me”. Outro versículo: “De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder sua
alma? Se perder a sua vida?” Então a partir desse pensamento, do apelo, do convite a renuncia, assumir a cruz, segui-lo,
escolher na vida o verdadeiro caminho, nós queremos estabelecer nossa reflexão.
Inicialmente eu gostaria de dizer para vocês alguns tópicos que para minha vida foram importantes conhecendo o Padre
Aloísio. 1970 eu fazia o científico, em Rio Negrinho, e o Padre Aloísio fazia o caminho de Rio Cerro a Rio Negrinho uma
vez dois meses para acompanhar os postulantes e um dia eu dizia para o Padre Aloísio o seguinte: ”Padre Aloísio, você
está aqui preparando os postulantes para serem postulantes e depois noviços eu acredito, eu estou pensando que esta
vida não é para mim, eu já estou dizendo no ano que vem eu penso não ir para o noviciado, eu estava pensando
naquela ocasião de reorientar a vida e o Padre Aloísio, com toda calma, ele olha, compenetrado, como sempre, ele diz:
“Mateus não é isso que eu estou sentindo”.
Eu sempre fui meio brigão no noviciado, mesmo no seminário preparatório, desde criança um garnezinho de briga e,
convivendo com o padre Aloísio durante todo um ano eu sentia que dia após dia ele trabalhou a matéria humana e fez
um grande milagre acontecer. Eu vivia com ele e a palavra do Padre Aloísio tocava tão profundamente meu coração que
eu tinha o costume depois da missa eu corria rapidamente no quarto e a idéia principal eu escrevia no meu caderno de
resumos. Infelizmente aquele caderno se perdeu, mas a mensagem do Padre Aloísio ficou gravada para sempre em
minha vida. Para mostrar o quanto Padre Aloísio era calmo: Um dia nós estávamos - éramos um grande numero de
noviços a Ir. Neide e a Ir. Zenaide conhecem - nós estávamos cavando um valo do segundo tanque para o terceiro
tanque de peixes porque a tubulação tinha sido quebrada, estava entupido, e o terceiro tanque não recebia água como
convinha e um seminarista, talvez até alguém conheça, se chama Paulo Floriani, ele é de Jaraguá ele estava cavando a
trincheira e os outros jogando terra daqui a pouco aquele valo que nós cavamos, ele se fechou e ficou só o narizinho do
Paulo Floriani fora e quando nós colegas de Floriani vimos que era morte, para nós era morte, daí eles disseram assim: “
Mateus! Corre e chama o Padre Aloísio” e corri, nesse tempo os outros colegas tirando a terra mas caiu um caminhão de
terra em cima dele daí o Padre Aloísio, ele diz assim com toda calma: “Nossa Senhora de Fátima!” Daí ele assim:
“Mateus, o Paulo não vai morrer!”
Uma outra ocasião onde eu vi assim, um modelo de vida, foi quando, ele tinha o costume de visitar as irmãs de
Laurentino, as irmãs de Rodeio, e daí ele foi num domingo ele disse (rezou) a missa de manhã, na capela, lá do Rio Cerro
convocou todos os casais para uma tarde de reflexão. Eu gostava de escutar o Padre Aloísio, enquanto ele dizia as
conferencias para os leigos do Rio Cerro eu, do lado de fora, debaixo da janela, escutando e querendo que essa
mensagem também marcasse a minha vida. Ele terminou as conferencia, descemos para a Barra do Rio Cerro, para a
Capela, porque ele ficou sabendo que o CAEP tinha organizado uma tarde dançante e, talvez não tivesse tido tanta
gente como ele esperasse, lá eu percebi o ardor de Padre Aloísio e também o seu amor. Ele dizia: “CAEP! Porque que
vocês fazem numa tarde que nós consagramos para uma reflexão muito mais importante do que essa tarde dançante?”
Seguindo viagem para Rodeio nós celebramos a Missa e ele depois da Missa ele diz: “Eu estou me sentindo mal e é por
causa do vinho (ele disse) que eu trouxe num frasco de alumínio”. Mas isso não foi verdade, eu refletindo, eu percebi o
que estava colocando, certa, ansiedade no coração dele era a paixão pelo Reino. Ele estava profundamente sintonizado
com os paroquianos dele, durante o caminho a gente rezava pela Capela, rezava pelo CAEP, ele queria a conversão de
todos. Então para mim esse ano, 1971, foi um ano significativo consegui trilhar os meus caminhos, me ordenei em 1978
e nunca mais eu consegui, também não vou esquecer a experiência espiritual que pode colocar uma intimidade de vida
com Jesus Cristo. Aquilo foi certeza, foi uma evidencia, foi algo fundamental, foi algo que marcou minha vida e se eu um
dia renunciar, se eu um dia escorregar, se eu um dia não corresponder um escolha feita eu tenho que dizer para mim
mesmo: “Mateus, você é covarde! Você não corresponde! Você viu, você sentiu, você experimentou e você não
concretiza!”
Trabalhei cinco anos no Brasil como sacerdote, quatro anos no Rio de Janeiro numa linda Paróquia do Méier e um ano
aqui na vizinha cidade de São bento do Sul. Naqueles tempos se falava muito de participar do Projeto Missionário do
Congo – Republica Democrática do Congo - e quando foi proposta a escolha para descobrir alguns candidatos eu fui o
primeiro a levantar a mão “se precisar de gente, estou disponível!” e, fomos em quatro sacerdotes em 1984 e, essa
experiência no Congo, como hoje nós estamos falando de Missões, o tema do evangelho nos orienta para esse tema,
para mim foi muito importante! Nós fomos para o Congo. Chegando lá descobrimos um país que precisava de ajuda, São
Países jovens! A primeira Missa celebrada em todo alto Congo foi celebrada em 1897. São 100 anos (110/120 anos) de
contato com a cultura ocidental. Então, quando nós falamos “África” – Missões na África – nós temos imediatamente
visões de miséria, pobreza, dificuldades, tristeza e eu gostaria de dizer para vocês que não é bem isso. Chegamos lá
ainda não tinha nenhum sacerdote. A colaboração da Província dos Padres do Sagrado Coração de Jesus no Congo foi
muito positiva porque nós ajudamos a construir seminários, construímos escolas, construímos Igrejas, construímos
seminários, ordenamos sacerdotes, já tem trinta e cinco sacerdotes ordenados, os seminários cheios de seminaristas,
uma Igreja muita bonita, que está acontecendo, que está lá. Estão esse trabalho missionário no Congo dá muita
satisfação. Satisfação porque, porque a gente viver simples, às vezes come uma vez por dia, principalmente se você está
nos interiores visitando Capelas você entra em contato com pessoas bem simples, mas, tem muitos valores nessa
experiência africana, nessa experiência missionária.
Primeira alegria: é um povo satisfeito, é um povo que dança, é um povo que canta, é um povo que não tem depressão.
Aqui no Brasil todo mundo está tomando calmante, antidepressivo, porque na vida a gente perde aos poucos alguns
valores que são muito importantes. O africano não precisa tomar antidepressivo.
É bom porque, porque você vive num contexto, mesmo se a gente escuta: “Há muita guerra na África”. Muitas vezes são
guerras que os outros produzem, mas o povo africano, o povo simples, é muito bom. Quando a gente visitava as Capelas
do interior o que marca se a família tem uma só galinha o padre vem, eles matam essa galinha para receber o sacerdote.
É lógico: eu sempre escolhia o menor de todos os pedacinhos porque eu tinha impressão de que eles nunca comem
carne, a única carne que eles tinham para comer, eles ainda sacrificam, e dão para o sacerdote. Então esse espírito de
acolhida, muito marcante.
O Congo. O que é o Congo, para a gente ter uma pequena idéia e a gente, vocês que estão se reunindo cada mês, nós
vamos rezar uns pelos outros. O congo é um país de cem milhões de habitantes. É um quarto do Brasil em extensão
geográfica. A maioria do povo católica. O povo inteiro freqüenta e se relaciona com Deus. Não é que todos sejam
católicos, mas mesmo esses que não são católicos, eles também rezam, também participam. Então é um povo, nós
podemos dizer profundamente religioso. Se você ver a sociedade hoje, ameaça droga, quanto problema a partir disso
que a gente diz ‘pedofilia’, homossexualismo, lesbianismo, desvirtuamento sexual, quanta confusão na sociedade hoje,
lá não tem disso. Então é uma sociedade ainda bem mais moralmente, bem mais preservada. Eu gostaria que o
Continente Africano se desenvolvesse um pouco mais, mas eu nunca gostaria que adotasse a mesma perspectiva
ganância de possuir, de conquistar, de ter cada vez mais que caracteriza a sociedade ocidental e também a nossa aqui
no Brasil.
O Evangelho diz bem claro: “Para que conquistar o mundo inteiro se vice vem a perder a sua vida?”
Então essa experiência missionária é gratificante nesse sentido você está em contato com o povo, é simples, uma
realidade muito simples porque eu moro numa cidade de um milhão de habitantes. Hoje não tem ainda nenhum palmo
de asfalto. Um milhão de habitantes não tem luz elétrica. Um milhão de habitantes e não tem um esgoto organizado,
não tem água encanada e tudo é um Brasil de 1600. Tudo está acontecer. Um país de muita promessa. Riquíssimo.
Terras férteis. Água em abundancia. Então é um país, eu posso dizer um país de futuro, um país que promete. Uma
Igreja abençoada. Uma Igreja já estruturada. Então nesse sentido é interessante ser missionário porque você participa
da vida que se desenvolve. Estou muito contente de estar lá. Se de noite ás vezes o corpo está muito cansado, mas o
espírito, a cabeça da gente, a gente vai dormir tranqüilo e sossegado. E são valores que essa realidade do Congo coloca.
Eu gostaria de fazer (uma) outra perspectiva nessa realidade da análise do nosso Evangelho. Tem missionários que vão
lá fora, eu sou um deles, estou lá vinte e nove anos, dei a minha vida momento após momento, esqueci o Brasil com
tudo aquilo que ele apresenta de bom e de bonito. A gente negligencia amizades que a gente deveria ter cultivado por
causa de um trabalho que você se comprometeu se “colocou a mão no arado não olha para trás”, você constrói (uma)
outra vida lá. Então tem essa gente que abandona que vai que faz as coisas acontecerem, participa de um projeto de
vida, de Igreja, mas a vocação missionária é para nós todos. Vamos fazer uma pequena análise da nossa realidade aqui,
Joinville, Jaraguá, São Bento do Sul, eu conheço porque vivi aqui, trabalhei aqui, os parentes da gente moram por aqui e
o que é que nós constatamos quando você escuta os noticiários, quando você lê algo sobre Jaraguá, Joinville, São Bento
a gente lê o seguinte: cidades de maior desenvolvimento econômico do país. Jaraguá: cidade onde não tem
desemprego, cidade onde tudo se organiza. Então nesse sentido nós estamos fazendo uma caminhada muito bonita.
Nós conquistamos a vida, fazemos as coisas acontecerem, mas se nós analisamos (uma) outra estatística São Bento,
Jaraguá, Joinville se nós consideramos os números de separações de casamentos – número um do Brasil – o maior
número de divórcios, de separações que acontecem no Brasil (se), acontecem aqui onde nós moramos. Eu pergunto
para mim e pergunto para vocês: “o que não está dando certo? Porque esse desenvolvimento econômico tão
maravilhoso? Porque ele impede que o espírito do ser humano possa estar tranqüilo? Porque isso acontece? Então essa
realidade merece de nossa parte uma reflexão.
Quem de nós não tem na família alguém que se separou? Ou alguém que está se separando? Então, eu estou dizendo
essa coisa (isso) para a gente começar a compreender que nós vamos ser missionários, somos chamados a sermos
missionários ali aonde nós vivemos e o nosso campo de missionário é nossa família. Vamos reconsiderar muita coisa. A
família é uma pequena célula. A família é uma pequena Igreja domestica. A família faz a vida acontecer. E lá onde tem
separação, tem morte, tem tristeza, coloca no coração dos filhos o sentimento de amargura, coloca no coração
daqueles que se separam um sentimento de derrota, de fracasso. Então vamos rezar pelas nossas famílias. É o nosso
campo missionário. Carregar a cruz quando n[os trabalhamos, economicamente, nós arrumamos dinheiro, compramos
bens e daqui a pouco o que acontece? Vem o danado do orgulho e diz: “você está bem, você está rico, você pode
comprar o que você quiser; você tem o carro do ano, você pode comprar eletrodomésticos, você pode viajar; você pode
passear; você fica grande. Quando o orgulho se coloca, a realidade se complica. “De que adianta ganhar o mundo inteiro
se você vier perder sua alma?” O que é que falta? O que é que falta, por exemplo, um casal jovem? O carro do ano,
excelente salário, os filhos nas melhores escolas, você pode se permitir férias todos os anos, mas o que é que acontece
que tão grande número de casais, que está chegando a trinta por cento em nossa sociedade, o que acontece que um
dado momento a coisa não funciona mais? O que acontece que um dado momento eu precise de calmante? De
tranqüilizantes para tentar afugentar uma depressão, uma angustia que tire o brilho de nossas vidas? Lá é nosso campo
missionário.
Queridos amigos vamos salvar a nossa família! Vamos nos comprometer com Padre Aloísio que abençoava as família,
que orientava as famílias, que dizia palavras de encorajamento para as famílias, vamos construir um mundo novo. Esse
mundo materialista, que preconiza autonomia, que dá tanto bem estar, que coloca humanamente tantos atrativos é um
mundo falso, um mundo que não satisfaz o coração do ser humano. Nós precisaríamos, é lógico uma educação, uma
percepção de que podemos ter bens, eu devo ter um carro bom; eu devo ter um bom emprego; eu devo me
comprometer com um bem estar material; mas o que fez Deus quando criou o ser humano? Ele criou o ser humano, é
uma parábola, ele criou o homem a sua imagem e semelhança; ele fez um boneco e, diz o texto Sagrado, Deus insuflou
nesse ser humano um espírito; É essa realidade, caríssimos amigos, que nós queremos infundir em nossa vida, hoje. Um
espírito. O espírito de Deus. O Espírito do evangelho. O Espírito da Cruz. O Espírito da Renuncia. O texto disse
claramente para nós: “Se você quer ser discípulo meu tome sua cruz, renuncie a si mesmo, não olhe para trás.” Se nós
entramos no matrimonio como sacerdote eu sou aquele que faz ponte, que apresenta Deus à vida de uma comunidade
de um povo que apresenta os homens a Deus e dentro de uma pequena Igreja você mãe, você pai qual é o seu
trabalho? Pegar a sua esposa, seus filhos e colocá-los nos braços de Deus. Seu trabalho de mãe; pegue sua família
coloque essa realidade dessa pequena Igreja doméstica num terreno que seja de segurança, de paz, de alegria. Nunca
pensemos que nossa família não esteja ameaçada. Ela está ameaçada. Nós vivemos num contexto e facilmente nós
começamos a pensar como o contexto pensa. Você liga a televisão, a semente que o “ecrã”, o vídeo coloca para o seu
subconsciente é uma mensagem que vai semear dúvidas, incerteza, que vai colocar sementinha da cizânia.
Nós precisamos todos os dias de uma pequena purificação. Nós precisamos todos os dias centralizar coisa. Remanejar
coisa. Perceber a coisa de outra forma. Nós somos missionários. Cada qual lá no seu contexto no seu mundo onde nós
vivemos. Então seja religioso, seja consagrado, nós todos somos convidados. Esse convite de Jesus de assumir a cruz, de
comprometer com a realidade nova, com o novo mundo, com o novo céu ele está em suas mãos em nossas mãos.
Se hoje nós estamos rezando com o Padre Aloísio, se nós rezamos por ele, se nós sonhamos com um processo de
beatificação nós temos que compreender que o primeiro, o primeiríssimo trabalho, é nosso testemunho de vida. Vamos
cultivar aquilo que ele cultivou; e aqueles que estão bem próximos, e que estiveram próximos do padre Aloísio, aquilo
me comove ao extremo porque eu percebo nessas pessoas a serenidade, a alegria, o serviço, doação, partilha e sem
duvida o maior argumento aquele que grita mais forte é esse testemunho de vida. Não deixemos por nada nesse mundo
que essa convicção, que hoje nos caracteriza, possa nos empurrar cada vez mais para frente. Estimados amigos é com
alegria que eu partilhei esse pensamento. O Evangelho efetivamente nos convida a sermos apóstolos, sermos
mensageiros cada qual lá onde ele vive. Acolhamos a verdade, deixemos que a verdade reoriente nossa vida. Vamos
lutar pelas nossas famílias; vamos ser uma pequena semente lá onde nós vivemos nosso trabalho, nosso lar. Se existem
dificuldades – quem não tem? – Jesus não tirou a cruz – quem não tem a sua cruz? – Jesus disse: “carregue a sua cruz” e
Jesus ainda foi tão bom para a gente; ele diz: “se a cruz pesa muito dê ela para mim; coloque sua cruz sobre meus
ombros, eu vou fazer ela leve, vou carregá-la”. Então nesse sentido caríssimos amigos, carreguemos nossas cruzes,
acreditando num amanhã diferente, colocando entre as mãos de Deus nossa vida e a vida de todos aqueles que Deus
colocou em nossas mãos. Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amem!
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Homilia do dia 17/02/2012 – Padre Mateus Buss, scj