Erika Osakabe
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Grupo de Pesquisa 12 – Mercado de Trabalho Agrícola
Forma de Apresentação: Apresentação em Sessão com Debatedor
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CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHO FEMININO NO RURAL
BRASILEIRO
Erika Osakabe1
Resumo
Este trabalho tem por objetivo traçar o perfil da mulher rural brasileira, assim como analisar sua ocupação e a
influência de seu trabalho remunerado no nível de renda de suas famílias, com ênfase na heterogeneidade regional do Brasil. A
pesquisa está divida em duas etapas que consistem em uma ampla revisão bibliográfica sobre a participação feminina na
produção agrícola e na tabulação de dados da PNAD 2003 que caracterizem a ocupação e a renda da mulher rural. Mostra-se
que as transformações ocorridas no campo, em virtude do incremento do processo tecnológico, além de levar a mulher a vender
sua força de trabalho individualmente, proporcionou a ela o surgimento de uma nova identidade. Mostra-se, também, que são as
atividades de caráter não-agrícola as que têm proporcionado maior aumento na renda familiar e que o emprego doméstico
remunerado tem sido o maior responsável pela absorção da força de trabalho feminina com residência no campo.
Palavras Chaves: Mulher Rural. Ocupação. Renda
Introdução
Ao longo das últimas décadas, a agricultura brasileira passou por um intenso processo de transformação que
promoveu forte impacto econômico e social no setor. Esse fenômeno iniciou-se a partir dos anos sessenta, período em
que o Brasil incrementou mais efetivamente o processo de modernização no campo. Neste momento, foi possível se
observar a elevação e o incremento da produtividade agrícola, um grande crescimento da população do campo, bem
como a intensificação do processo de êxodo rural-urbano (Nascimento, 2002).
Nos anos setenta, verificou-se uma crescente integração da agricultura com a indústria, provocando
profundas alterações na forma de produzir deste setor, fundamentalmente através da mecanização das lavouras, do
melhoramento genético conseguido com o uso de sementes selecionadas, do uso de fertilizantes e do preparo, plantio
e colheita da terra (Graziano da Silva, 1999). Notadamente, os efeitos da modernização continuaram a se externalizar
nos aumentos de produção e produtividade para uma determinada parcela da população ocupada nas atividades
agrícolas, o que não garantiu, por outro lado, a melhora nas condições de vida e de trabalho para a parcela da
população mais pobre. Este contingente continuou a residir no campo e a apresentar um forte crescimento vegetativo,
fato esse responsável pelos constantes deslocamentos desta população para as cidades e para as fronteiras de expansão
da agricultura.
Nos oitenta, nota-se que a intensidade do processo de modernização foi menos acentuada, em virtude do
processo recessivo pelo qual o país enfrentava com a estagnação da produção urbana, aumento da inflação,
especulação financeira e paralisação do Estado. Como conseqüência, a sociedade enfrentou o problema do
desemprego, dos baixos salários, do aumento das desigualdades e da intensificação da pobreza. No campo, observou-
1
Doutoranda em Economia Aplicada do Instituto de Economia da Unicamp. Professora do Instituto Superior de
Ciências Aplicadas – ISCA Faculdades de Limeira.
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se uma maior concentração das terras, a continuidade do êxodo rural-urbano e o aumento da desigualdade social
(Graziano da Silva, 1999).
Pode-se dizer que, nos anos noventa, o processo de modernização da agricultura continuou ocorrendo com a
utilização de tecnologias cada vez mais sofisticadas. Contudo, a utilização dessas tecnologias ocasionou dois impactos
diferentes sobre a agricultura. Por um lado, reduziu a demanda por mão-de-obra agrícola e, por outro, exigiu do
trabalhador do campo novas habilidades para participarem de processos produtivos cada vez mais sofisticados
(Balsadi, 2000). À medida que o processo de modernização foi se incrementando, um grande contingente de
trabalhadores foi sendo liberado para executar outros tipos de atividades. Essas novas modalidades de trabalho que
antes envolviam todos os membros da família passaram a ser executadas pelo chefe (figura masculina), fazendo com
que os outros integrantes passassem a buscar novas alternativas, inclusive ocupações de caráter não-agrícola.
Estudos recentes sobre o novo rural brasileiro de Graziano da Silva (1999), Del Grossi (1999), Balsadi
(2000) e Nascimento (2002) mostram que o surgimento dessas novas atividades não-agrícolas no campo tem
compensado, em parte, a redução da ocupação agrícola, evitando a evasão da população do campo para as cidades.
Das atividades não-agrícolas que mais se desenvolveram, chamam a atenção para o surgimento de novas
agroindústrias, ampliação de serviços públicos e o surgimento de novas atividades ligadas ao lazer e ao turismo.
É consenso desses autores que o desenvolvimento das atividades não-agrícolas no campo está possibilitando
alternativas de renda para as famílias rurais que tinham somente na agricultura a sua base de sustento. Isto tem
permitido que os membros da família possam ser pluriativos, isto é, podem combinar atividades de caráter agrícola
com atividades não-agrícolas (Kageyama, 1998). Neste contexto, destaca-se a participação das mulheres que tem
encontrado nas atividades não-agrícolas uma importante alternativa de inserção remunerada. Nascimento (2002),
destaca que estas mulheres vêm se ocupando basicamente em atividades como o emprego doméstico remunerado
que tem garantindo a ela uma renda média das mais baixas entre a população ativa rural, porém, segundo argumento
do autor, esta atividade se constitui em uma fonte de renda melhor do que a proporcionada pelas atividades
exclusivamente agrícolas.
De acordo com Leone (2000:2003), um outro aspecto importante a ser incorporado nesta discussão se refere
à crescente urbanização do meio rural que vêm contribuindo para assemelhar as exigências de estilo e qualidade das
famílias rurais com às das famílias urbanas. A autora enfatiza que as famílias rurais passaram a desejar um número
crescente de bens e serviços e que para serem adquiridos necessitam de uma renda cada vez maior. Essa necessidade
de complementação de renda familiar atinge a maioria das famílias e, conseqüentemente, a conformação do mercado
de trabalho, definindo as oportunidades aos indivíduos de forma diferenciada em função do sexo, idade, escolaridade e
hierarquia familiar.
Ao se observar às transformações ocorridas no campo, percebe-se que o papel da mulher na composição da
renda familiar tem se tornado fundamental na estratégia de sobrevivência destas famílias. A recente inserção feminina
em atividades não-agrícolas no meio rural vem contribuindo para ampliar o número de famílias que passam a
depender do seu trabalho para conservar ou para elevar o nível de renda. Em momentos de desemprego do chefe da
família (homem), a responsabilidade de garantia do sustento passa a ser da cônjuge.
Nesta discussão, insere-se o propósito deste trabalho que consiste em traçar o perfil da mulher rural brasileira,
destacando sua ocupação e a influência de seu trabalho remunerado na defesa da renda de suas famílias. Considerando
as baixas remunerações auferidas nas zonas rurais brasileiras, a contribuição feminina pode estar se constituindo em
uma importante estratégia de sobrevivência de grande parcela da população rural.
Este estudo está divido em duas etapas. Inicialmente é feita uma consistente revisão bibliográfica que permite
contextualizar a importância do trabalho feminino na agricultura brasileira. Para isso, resgata-se a participação da
mulher no regime do colonato, período em que contribuía nos cafezais e na cultura de subsistência. Com o
fortalecimento do capitalismo no campo, mostra-se que houve um processo de individualização do trabalho da
mulher que passou a vender sua força de trabalho desvinculada dos laços de família e, em função destas
transformações, encontrou uma nova identidade. A segunda parte do trabalho consiste em analisar as famílias com
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domicílio rural, com destaque para as que têm mulheres ocupadas, com base na PNAD de 2003 e na heterogeneidade
regional do Brasil. A classificação das famílias é feita segundo a atividade principal de seus membros, ou seja, as
famílias são caracterizadas em agrícolas, pluriativas e não-agrícolas. O perfil dos rendimentos das famílias rurais é
analisado com base no valor mediano da renda familiar per capita. A fim de avaliar a contribuição do trabalho da
mulher na renda familiar, comparam-se os valores medianos dos rendimentos per capita incluindo a renda da mulher,
com valores medianos dos rendimentos per capita na hipótese de não incluir na renda familiar total, a renda
proveniente do trabalho da mulher.
1 Revisão da Literatura
As primeiras referências que se têm em relação ao trabalho da mulher na agricultura brasileira datam da
época do colonato quando as famílias de imigrantes ocupavam as terras dos fazendeiros como colonos para cuidar das
plantações de café. Neste período, a família constituía uma unidade produtiva e todos os membros trabalhavam
cooperativamente para a garantia de seu sustento. A figura mais importante era o homem (chefe da família), dado que
estabelecia o contrato com a fazenda, que administrava os ganhos e os controlava, enfim, que agia como seu
representante. As mulheres e crianças trabalhavam para auxiliar. As crianças cuidavam dos pequenos animais e as
mulheres cultivavam e colhiam nas terras que recebiam para a cultura de subsistência. Além destes trabalhos, à mulher
também eram atribuídas as atividades domésticas. Alier (1979), estudando as trabalhadoras rurais do interior do estado
de São Paulo enfatiza que, neste período, o trabalho feminino estava bastante vinculado às atividades da família
porque, essencialmente, “... as mulheres não trabalhavam a não ser para ajudar seus maridos e pais a cultivar e a colher
terras tomadas em parceria nos lotes em que recebiam para culturas de subsistência” (Alier, 1979, p.86).
Neste período, o trabalho familiar nas colônias atendia exatamente às necessidades da reprodução do capital,
isto é, as famílias eram numerosas, o que facilitava a não remuneração de muitos de seus membros. Além disso, os
proprietários de terra se beneficiavam de ter trabalhadores colonos porque muitos deles eram imigrantes, os tornando
menos propensos a abandonar as propriedades. Os homens trabalhavam nos cafezais produzindo valor de troca e a
participação das mulheres se restringia à produção dos valores de uso nas culturas alimentares e no trabalho doméstico.
Estes elementos eram de fundamental importância para a reprodução do colono enquanto trabalhador familiar.
Morais (1987), analisando o trabalho das mulheres nos cafezais paulistas salienta que
“O regime de colonato foi, sobretudo, mascarador do trabalho das mulheres e das crianças. Este trabalho aparece
embutido no trabalho do homem adulto. O trabalho da mulher é um pressuposto do trabalho do homem nos
cafeeiros, durante o tempo que for necessário o capital. O trabalho da mulher na roça de subsistência e na indústria
doméstica libera o homem para o capital. O trabalho do colono aparece individualizado na figura do homem, do
chefe de família que faz o contrato de trabalho com o proprietário das terras” (Morais, 1987, p.161).
Observando mais atentamente as relações sociais no mundo rural no período do colonato, percebe-se que a
questão da inferioridade feminina já era bastante visível, ou seja, tratava-se de uma modalidade de trabalho baseada
em relações evidente de conteúdo sexista em virtude da submissão da mulher às decisões do homem. Tal discussão é
abordada por Rossini (1988) quando verifica que era o chefe de família quem mobilizava, alocava e coordenava a
força de trabalho e isso levava a uma divisão sexual do trabalho e a um comportamento reprodutivo característicos.
Em seu estudo, a autora ainda enfatiza que o espaço do homem era bastante distinto do da mulher. Em suas palavras,
O “espaço de dentro” regula a posição da mulher e do trabalho da família brasileira. O cuidar das crianças, da casa,
das compras, da escola são reservado à mulher, pois neste espaço se incluem não somente a casa, mas sua
extensão econômica, isto é o espaço da economia doméstica. O mundo do trabalho propriamente dito, do lazer,
do futebol, das festas era reservado ao homem no chamado “espaço de fora” (Rossini, 1988, p.163).
Com a intensificação do capitalismo no campo, grandes mudanças se processaram na base técnica da
agricultura devido à introdução de máquinas e insumos químicos em seu cultivo. Segundo Graziano da Silva (1996),
essa entrada de capital incrementou mais efetivamente o processo de modernização no campo, sendo ele o principal
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responsável pelas alterações das relações de trabalho entre patrão e trabalhador. Como assalariados, cada membro da
família passou a vender sua força de trabalho individualmente. Osakabe (1998), analisando os efeitos da
modernização da agricultura na região de Ribeirão Preto afirma que,
“... o colono começou a ser expulso das terras em que morava com a família, deixando de plantar gêneros para a
sua sobrevivência, gêneros que produzia diretamente para a reprodução de sua força de trabalho. A partir desse
momento, criou-se um proletariado rural constituído de trabalhadores livres que iriam vender sua força de trabalho
ao empresário agrícola, mas agora vinculados apenas pelos laços de venda da força de trabalho que passaram a
comandar as novas relações de trabalho” (Osakabe, 1998, p. 46).
Essa passagem ilustra a transformação dos antigos colonos em trabalhadores assalariados, chamados mais
comumente de volantes ou bóias-frias, que passaram a ser contratados individualmente e sazonalmente,
principalmente para o período da safra de determinado produto, sendo a maioria demitida no período posterior (entresafra). O único vínculo que os trabalhadores passaram a ter com a propriedade rural foi a venda de sua força de
trabalho para o detentor do capital. Dessa maneira, formou-se uma massa de trabalhadores rurais desprovidos de terra
para o cultivo de sua subsistência que passaram a residir nas periferias das cidades próximas, dependendo da venda de
sua força de trabalho quando as atividades agrícolas exigissem.
A discussão sobre as novas relações de trabalho que se estabeleceram na agricultura com o fim do colonato e
a diferenciação do trabalho baseada no sexo também são objetos de estudo de outras pesquisadoras. Melo (1999),
analisando o trabalho feminino nas áreas rurais brasileiras, enfatiza que o processo de modernização da agricultura
tornou a estrutura produtiva do campo muito mais complexa porque redefiniu, essencialmente, o papel dos agentes
sociais, emergindo o questionamento do papel feminino. Na mesma linha argumentativa, Morais (1987) verifica que
com o fim do regime de colonato houve uma diferenciação interna do trabalho que passou a ser baseada no sexo, ou
seja, a mulher do colono passou a ter liberdade para negociar a venda de sua força de trabalho. Ainda segundo a
autora, o trabalho familiar sob o regime do colonato ofuscava a diferenciação existente entre os membros da família
(sexo, idade) e minimizava, ao mesmo tempo, através do caráter coletivo e cooperativo do trabalho, as diferenciações
internas e a participação diferenciada no trabalho por parte de seus membros. Complementando esta idéia Vicente
(1997) comenta que,
“... em termos de divisão sexual do trabalho, na medida em que as famílias dos assalariados perdiam a função
como unidades produtivas, a reprodução destas só seria assegurada quando seus membros conseguissem vender
sua força de trabalho. Desapareceu a divisão expontânea do trabalho entre os membros da família e a venda da
força de trabalho se fez obrigatória, encobrindo as diferenças de sexo e idade na busca do emprego assalariado”
(Vicente, 1997, p.5).
É consenso de alguns autores que o assalariamento levou a uma organização específica da família, pois nesta
nova estrutura os membros passaram a receber um salário individual. A família deixou de ser extensa e passou a ser
nuclear. Dessa forma, homens e mulheres continuaram a se reproduzir como trabalhadores e trabalhadoras dentro de
famílias com atitudes e comportamentos previamente definidos. Mudou-se, em parte, a questão da autoridade, pois,
agora não é mais o chefe de família quem determina a atividade a ser desenvolvida pelos componentes da unidade
familiar. Cada membro se organiza em termos de oportunidades individuais.
A mulher do meio rural sempre esteve historicamente ligada ao trabalho doméstico e ao trabalho de
subsistência. O processo de assalariamento implicou em um processo de aprendizagem, principalmente quanto às
novas relações de trabalho. Ela precisou aprender a levantar mais cedo para da conta das atividades domésticas,
precisou aprender a negociar seu trabalho, precisou aprender a se educar para novos espaços, tempo e ritmos e ainda a
obedecer à hierarquia. Juntamente a esse processo, passou a defender os direitos de sua família na busca por melhores
condições de vida para os filhos. Diante dessas novas funções externas e internas à família, a mulher rural passou a
criar uma nova identidade e os papéis no núcleo familiar passaram a ser redefinidos (Rossini, 1988).
No âmbito das relações externas, ou seja, fora do núcleo familiar, o que pôde se observar foi que a mulher
não conseguiu se inserir com facilidade em outras atividades que não fossem as de caráter agrícola. Como seu nível
educacional sempre foi baixo e como ela não pôde contar sempre com a oferta de serviços públicos como creches e
escolas para seus filhos, ficou bastante comprometida a superação de sua condição de trabalhadora assalariada
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desqualificada. Em virtude disto, quando as mulheres não encontravam oportunidades de emprego no campo, se
deslocavam para as cidades em busca de emprego como empregadas domésticas que se configura em uma atividade
que não necessita de muitos requisitos.
A literatura que discute a nova configuração do rural brasileiro mostra que os anos noventa apontam para
dois processos diferenciados que afetaram os residentes e trabalhadores do mundo rural. Os autores observaram que a
modernização da agricultura causou a perda de vários postos de trabalho por parte do trabalhador rural. Contudo, o
efeito esperado de migração desta população de desempregados para as cidades não ocorreu com tanta intensidade
porque, concomitantemente a esse processo, verificou-se o surgimento de novas atividades desenvolvidas no campo
que estão absorvendo, em parte, a mão-de-obra desempregada. Trata-se de atividades que, apesar de estarem se
desenvolvendo no campo, não se encontram necessariamente ligadas à agricultura. São as chamadas atividades nãoagrícolas que, segundo Graziano da Silva et al (1996), devem ser incluídas como novas funções do meio rural
brasileiro. Segundo os autores, é preciso incluir outras variáveis como as atividades agrícolas decorrentes da crescente
urbanização do meio rural tais como moradias de alto padrão, turismo rural, lazer e outros serviços e também as
atividades de preservação do meio ambiente, além de um conjunto de atividades agropecuárias intensivas que buscam
nichos de mercado específicos para sua inserção econômica.
Na avaliação de alguns autores, nota-se que o meio rural deixou de ser sinônimo de agrícola e passou a ser o
local de atividades que antes eram tipicamente urbanas. Segundo Baptista (apud Balsadi, 2000), a procura por esses
usos tende a aumentar e, o que deve ser pensado, é quem se encarregará da oferta desses novos serviços no interior das
sociedades rurais. Graziano da Silva (1999), Del Grossi (1999), Balsadi (2000) e Nascimento (2002) salientam que,
no rural brasileiro, basicamente tem sido as famílias rurais e os assalariados do campo que tem se beneficiado do
surgimento dessas novas atividades. Leone (2001), investigando o trabalho das mulheres residentes rurais no estado de
São Paulo, no contexto do novo rural brasileiro, concorda com a colocação dos autores e observa que,
“... a nova configuração do rural seria formada, de um lado, por atividades agropecuárias altamente capitalizadas e,
de outro, por ocupações não agrícolas desvinculadas da produção agropecuária, porém envolvendo a população
de residência rural” (Leone, 2001, p.7).
Outro importante debate que deve considerado neste contexto se refere à significativa participação das
mulheres nestes tipos de atividades não-agrícolas, encontrando possibilidades de inserção remunerada regular. O
estudo de Nascimento (2002) sobre as famílias rurais brasileiras nota que, para o contingente de trabalhadoras
femininas, predomina o trabalho nos serviços domésticos que tem se constituído em porta de acesso e provavelmente
permanência na atividade econômica de mulheres de famílias que passaram a combinar atividades agrícolas com
atividades não-agrícolas e também daquelas que, permanecendo no rural, já não exercem qualquer atividade
agropecuária.
Ao se observar com maior cuidado as transformações que ocorreram com a população residente no campo
no âmbito familiar, percebe-se que a contribuição da mulher na composição da renda tem se tornado fundamental
como estratégia de sobrevivência destas famílias. Poucos são os estudos realizados sobre a recente inserção feminina
em atividades não-agrícolas no meio rural, porém já foi possível captar que essa mulher vem contribuindo para
conservar e/ou elevar o nível de renda destas famílias. Infelizmente, a qualidade do trabalho que elas exercem, em
função da sua baixa qualificação profissional e estudo ainda é baixa e se concentram, segundo Leone (2003) e
Nascimento (2002) em atividades como o emprego doméstico remunerado e atividades sociais. Mesmo assim, essas
mulheres sabem que seu trabalho é fundamental para a reprodução familiar e muitas delas já entendem que trabalhar
fora traz a oportunidade de liberdade de escolha para investimentos futuros como educação e qualificação profissional.
6
2 Aspectos Metodológicos
A presente pesquisa tem como universo de análise as famílias com domicílio rural, com destaque para
aquelas com mulher ocupada entre seus componentes2 . A fonte de dados utilizada foram os microdados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, obtidos em CD ROM para o ano de 2003. Para a análise do
efeito regional sobre as variáveis selecionadas, optou-se por uma regionalização obtida em trabalho recente (Convênio
NEAD/UNICAMP, 2000), que conduziu à agregação dos estados brasileiros em sete classes, excluindo-se a região
Norte, por ter sua área rural fora da amostra da PNAD. Essa regionalização não somente incorporou variáveis
agrícolas, como também um grande número de variáveis gerais da economia e desenvolvimento rural e urbano,
sendo adequada para o presente estudo. Foram obtidos os seguintes agrupamentos no trabalho citado:
Nordeste I (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia)
Nordeste II (Maranhão e Piauí)
Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul)
Central I (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins)
Central II (Minas Gerais, Espírito Santo e Goiás)
Rio de Janeiro e Distrito Federal
São Paulo
Outra classificação importante que contribuiu para o entendimento deste estudo consistiu na delimitação dos
domicílios urbanos e rurais A fim de desagregar os domicílios pesquisados, adotou-se o corte utilizado pelo IBGE a
partir do Censo Demográfico de 1991 que introduziu novas aberturas para os domicílios, de forma a captar mais
detalhadamente as áreas do continuum rural-urbano, mantendo a situação legal, porém distinguindo níveis diferentes
de densidade demográfica e acesso a serviços. Nascimento (2002), estudando as famílias rurais no Brasil adotou a
seguinte classificação para a localização dos domicílios pesquisados:
1. Áreas Urbanas: áreas efetivamente urbanizadas dentro dos limites do perímetro urbano dos municípios.
São classificadas em: i) as áreas com construções, arruamentos e intensa ocupação humana; ii) as áreas afetadas por
transformações decorrentes do desenvolvimento urbano tais como áreas de lazer, aterros etc: iii) as áreas reservadas à
expansão urbana e adjacentes às anteriores;
2. Áreas Urbanas não Urbanizadas: áreas localizadas dentro do perímetro urbano que não apresentam
efetiva urbanização e ocupadas com atividades agropecuárias ou ociosas;
3. Áreas Urbanas Isoladas: vilas e distritos considerados legalmente como áreas urbanas, mas não
contíguas ao núcleo ou município;
Segundo o autor, para os aglomerados rurais, dois critérios foram considerados: o tamanho e a densidade dos
mesmos. A partir desses critérios classificou-se:
4. Áreas Rurais – Extensão Urbanas: áreas urbanizadas adjacentes ao perímetro urbano dos municípios
(com distância inferior a um quilômetro), resultado do crescimento horizontal das cidades, e que ainda não foram
incorporadas legalmente ao perímetro urbano do município;
5. Áreas Rurais – Povoados: aglomerações no espaço rural que se caracterizam por não estarem vinculadas
a um único proprietário e possuírem um conjunto de edificações permanentes e adjacentes, formando área
continuamente construída, com arruamentos reconhecíveis ou disposto ao longo de uma via de comunicação e com
serviços para atender seus moradores da seguinte forma: pelo menos um estabelecimento comercial vendendo bens
de consumo e pelo menos dois dos três serviços seguintes: estabelecimento de ensino de segundo grau, posto de
saúde, templo religioso de qualquer credo;
2
Não foram considerados na família os pensionistas, empregados domésticos e parentes de empregados
domésticos.
7
6. Áreas Rurais – Núcleo: aglomerado rural isolado com mais de dez e menos de cinqüenta e um
domicílios, cujo solo pertence a um único proprietário (empresa agrícola, indústria, usina etc) e que dispõem ou não de
serviços ou equipamentos definidores de povoados;
7. Áreas Rurais – Outros: são aglomerados que não dispõem dos serviços definidores de povoado e não
estão vinculadas á um único proprietário;
8. Áreas Rurais – Exclusive: áreas que não atendem a nenhum critério de aglomeração, existência de
serviços ou densidade populacional, caracterizando-se como áreas rurais propriamente dita.
Para o propósito deste trabalho nos concentramos nas categorias que envolvem as áreas rurais brasileiras, ou
seja, utilizou-se com mais ênfase as áreas quatro, cinco, seis, sete e oito da classificação feita pelo IBGE e melhor
definida por Nascimento (Nascimento, 2002, p.121, 122).
Com o intuito de captar a diversidade ocupacional e posteriormente a inserção ocupacional das mulheres
dessas famílias no mercado de trabalho rural, as famílias foram classificadas de acordo com a atividade principal
realizada pelos seus membros ocupados. Distinguiram-se, então, as famílias agrícolas (todos os membros se dedicam
às atividades agrícolas), as famílias pluriativas (seus membros combinam atividades agrícolas com atividades nãoagrícolas) e as famílias não-agrícolas (todos os membros se dedicam às atividades não-agrícolas).
O perfil dos rendimentos das famílias rurais, como classificadas, foi analisado com base no valor mediano da
renda familiar per capita. A fim de avaliar a contribuição do trabalho da mulher na renda familiar, compararam-se os
valores medianos dos rendimentos per capita incluindo a renda da mulher, com os valores medianos dos rendimentos
per capita na hipótese de não incluir, na renda familiar total, a renda proveniente do trabalho da mulher. A inserção na
atividade econômica das mulheres dessas famílias foi analisada com base nas variáveis, setor de atividade e
rendimento na ocupação principal.
3. Famílias com Domicílio Rural, Ocupadas nas Atividades Agrícolas e não-Agrícolas nas Áreas Rurais do
Brasil
Como visto, o incremento do avanço tecnológico, a partir da década de sessenta, nas áreas rurais brasileiras,
foi o principal responsável pela diminuição do número de famílias que residiam no campo, dado que promoveu uma
migração acentuada desta população para as periferias das cidades. Contudo, esse processo não se deu de forma
homogênea e, em algumas regiões do Brasil, ainda se é possível observar a presença significativa de famílias com
residência no rural basicamente porque dependem da agricultura para garantia de seu sustento. Pode-se dizer,
igualmente, que a expansão das atividades não-agrícolas no campo, observada com maior ênfase na década de
noventa, também se deu de forma desigual em termos de crescimento e vem provocando alterações diversas nas
regiões do país. A esse respeito, Laurenti e Del Grossi (1997) verificam que:
“... a razão fundamental para isso é que a modernização da nossa agricultura foi um processo profundamente
desigual, seja do ponto de vista das regiões e produtos atingido, seja dos produtores que dela se beneficiaram, seja
ainda dos novos vínculos intersetoriais que se geraram. O resultado disso foi a emergência de padrões muito
distintos das relações campo-cidade tanto entre as distintas regiões do país, como dentro dessas mesmas regiões,
uma vez que, na maioria das vezes, há uma grande região metropolitana que determina o sentido dos fluxos de
produtos e pessoas. Assim, não devemos estranhar se encontramos padrões completamente distintos de geração
das ocupações rurais não agrícolas mesmo em regiões de agricultura moderna” (Laurenti, Del Grossi, 1997,
p.37).
Vários são os esforços de autores no sentido de elucidar o crescimento do emprego rural não-agrícola tais
como Laurenti e Del Grossi (apud Campanhola e Graziano da Silva, 2000). A esse respeito os autores comentam que
o crescimento do emprego rural não-agrícola está relacionado a alguns agrupamentos de atividades econômicas que
têm alavancado o emprego rural não agrícola tais como: a) atividades econômicas diretamente derivadas da produção
de bens e serviços agropecuários ou de sua comercialização, transformação e transporte, assim como o consumo de
insumos não agrícolas utilizados nesses últimos processos, b) atividades derivadas do consumo final da população
rural que incluem a produção de bens e serviços não-agropecuários localizados na zona rural ou na urbana e os
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serviços auxiliares a eles relacionados como transporte, comércio varejista, entre outros, c) atividades relacionadas ao
excedente de mão-obra disponível no setor que os autores denominam de refúgio. Estão incluídos nestas atividades o
trabalho realizado no recinto do estabelecimento agrícola, assim como o trabalho complementar, assalariado dos
membros familiares tais como ocupações remuneradas localizadas fora das unidades produtivas, podendo ser elas
agrícolas ou não-agrícolas, d) atividades vinculadas à demanda final não-agrícola da população urbana envolvendo o
artesanato, o turismo rural e e) serviços públicos nas zonas rurais.
A fim de melhor caracterizar as famílias rurais nas diferentes regiões brasileiras, utilizamos os dados da
PNAD 2003. A tabela 3.1 mostra que, para o total do Brasil, as famílias que residem no campo totalizam 14,18%,
enquanto que as que se encontram nas áreas urbanas correspondem a 85,82%. A tabela também permite verificar que
a concentração maior das famílias que moram no rural se dá mais notadamente na situação censitária número oito, ou
seja, nas zonas rurais propriamente dita, sugerindo que a agricultura, seja ela de subsistência, seja ela familiar
provavelmente tenha um peso significativo na estratégia de sobrevivência destas famílias.
Tabela 3.1 – Distribuição das Famílias, segundo Região e Situação Censitária em 2003
Situação
Censitária
NordesteI
Pessoas
Famílias
NordesteII
Pessoas
Famílias
Sul
Pessoas
CentralI
Famílias
Pessoas
Famílias
CentralII
Pessoas
Famílias
RJ +DF
Pessoas
Famílias
SãoPaulo
Pessoas
Famílias
Brasil
Pessoas
Famílias
Total Urbano
71,86
74,74
65,71
67,48
82,09
82,90
78,69
79,51
84,78
85,69
96,55
96,80
94,37
94,81
84,28
85,82
1
70,70
73,57
65,71
67,48
80,10
80,94
77,66
78,42
83,73
84,67
95,78
96,10
92,72
93,34
83,00
84,58
2
0,63
0,65
1,64
1,60
1,03
1,09
0,14
0,14
0,67
0,61
0,69
0,57
0,73
0,70
3
0,52
0,52
0,35
0,37
0,91
0,88
0,10
0,09
0,97
0,90
0,54
0,53
Total Rural
28,14
25,26
34,29
32,52
17,91
17,10
15,22
14,31
3,45
3,20
5,63
5,19
15,72
14,18
4
0,41
0,40
0,49
0,44
0,08
0,07
0,58
0,49
1,28
1,08
0,48
0,42
5
3,74
3,61
3,66
3,82
0,24
0,24
0,51
0,47
0,14
0,10
1,39
1,28
0,12
0,09
0,03
0,03
0,05
0,04
0,03
0,03
0,04
0,04
21,31
1,95
20,49
1,71
0,95
0,95
6
7
8
23,87
21,16
30,13
28,26
17,57
16,76
19,36
18,79
14,26
13,36
2,31
2,20
4,18
3,99
13,81
12,45
TOTAL
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Fonte: Tabulações Especiais PNAD 2003
Ao se observarem os dados para a região Nordeste I, verifica-se que 25,26% das famílias se encontram no
meio rural, sendo esse valor superior à média nacional (14,18%). O motivo de haver muitas famílias com residência
no campo, principalmente na região rural propriamente dita (situação censitária oito) é justificado pelo fato de as
atividades agrícolas de caráter de subsistência se constituírem em estratégia de sobrevivência para a maior parte delas.
Os dados da tabela 3.2 confirmam as afirmações, mostrando que 61,45% das famílias da região Nordeste I são
essencialmente agrícolas e essa média é superior à média do Brasil (59,40%). Já no que tange as atividades nãoagrícolas, verifica-se que o peso para essa região (13,70%) é inferior à média nacional (18,43%) e significativamente
inferior às médias do Rio de Janeiro, Distrito Federal (56,11%) e São Paulo (51,51%). Quando se observam os dados
para as famílias pluriativas (14,21%), observa-se que está bastante próxima à média nacional (13,68%), sendo a
terceira na classificação geral.
9
Tabela 3.2 – Distribuição das Famílias Rurais Segundo Tipo de Família nas Diferentes Regiões do País em
2003
Tipo defamília
NordesteI
NordesteII
Sul
CentralI
CentralII
RJ +DF
SãoPaulo
Brasil
59,40
Agrícolas
61,45
70,98
62,18
66,20
63,19
23,74
28,94
Não-agrícolas
13,70
12,68
18,72
14,50
11,24
56,11
51,51
18,43
Pluriativas
14,21
10,99
13,93
14,39
17,57
8,98
7,50
13,68
Inativas
10,64
5,36
5,18
4,91
8,00
11,18
12,05
8,49
TOTAL
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Fonte: Tabulações Especiais PNAD 2003
A região Nordeste II contempla os estados considerados mais pobres do país (Maranhão e Piauí). Os dados
para esta região apontam 35,52% das famílias com residência no rural, média esta superior à média nacional (14,18%)
e também apontam uma concentração maior das famílias na situação censitária oito, sugerindo que a agricultura de
subsistência é altamente importante como estratégia de sobrevivência das famílias. Essas afirmações são confirmadas
pelos dados da tabela 3.1 que mostra 70,98% das famílias da região essencialmente agrícolas. Ao se comparar esse
valor com a média nacional (59,40%) e com as médias para os outros estados, percebe-se que a região Nordeste II
possui a maior média para este indicador. Pode-se dizer, então, com base nestes dados que a pobreza da região
Nordeste II está profundamente relacionada ao tipo de atividade a qual se dedica a maior parte das famílias, ou seja, a
agricultura. As médias para as famílias não-agrícolas (12,68%) e para as pluriativas (10,99%) ficam abaixo da média
nacional, totalizando 18,43% e 13,68%, respectivamente.
Em relação à região Sul, verifica-se na tabela 3.1 que 17,10% das famílias residem no campo, sendo esta
média pouco superior à média do Brasil (14,18%). Novamente observa-se que a concentração das famílias está na
situação censitária oito, ou seja, nas áreas rurais propriamente dita. O peso das atividades agrícolas ainda é alto para
essa população, como observado na tabela 3.2 (62,18%), em virtude da importância da agricultura familiar como
estratégia de sobrevivência das famílias, fato esse que tem contribuído para que as pessoas com residência no campo
não se desloquem para as cidades em busca de oportunidades de emprego. Outro fato relevante observado nesta
região consiste no percentual de famílias que praticam atividades não-agrícolas. Como se pode verificar, a região Sul
apresenta o terceiro maior percentual das regiões, aproximando-se da média nacional (18,43%), perdendo somente
para os estados do Rio de Janeiro, Distrito Federal (56,11%) e São Paulo (51,51%). O fator responsável pelo
crescimento de atividades não-agrícolas para os residentes do campo desta região foi o processo de industrialização da
agricultura que absorveu grande parte da mão-de-obra com residência rural, além do processo de urbanização do meio
rural, isto é, a extensão para as áreas rurais de uma rede de serviços de infra-estrutura e de outras comodidades das
sociedades modernas, antes exclusivas das áreas urbanas.
A região Central I apresenta 20,49% das famílias no meio rural e essa média também fica acima da média
nacional (14,18%). A concentração das famílias rurais se dá na situação censitária oito, ou seja, nas áreas rurais
propriamente dita. Nesta região, o peso das atividades agrícolas é ainda bastante significativo (66,20%), mostrando a
importância da agricultura de caráter empresarial. Quando se verificam os dados para as atividades não-agrícolas
(14,39%) e para as pluriativas (14,50%), percebe-se que ficam próximas à média nacional, isto é, 18,43% e 13,68%
respectivamente. Observando-se os dados para a região Central II, verifica-se que 14,31% das famílias têm residência
rural, ficando abaixo da média para o Brasil. Nesta região também se observa a presença significativa das famílias
rurais na situação censitária oito. O peso das atividades agrícolas representa 63,19%, salientando a importância da
agricultura de caráter empresarial, característica desta região. No que tange as atividades não-agrícolas, pode-se dizer
que seu peso é inferior ao da média nacional (11,24%) e as pluriativas também se encontram com peso menor quando
comparado à média nacional, ficando no patamar de 17,57%. Os dados referentes aos tipos de famílias características
das regiões Central I e Central II mostram que ambas as regiões ainda são essencialmente agrícolas.
10
Os dados referentes ao Rio de Janeiro e Distrito Federal apontam para uma redução drástica no número de
famílias que mantém residência no campo (3,2%), quando comparada com a média nacional (14,18%). Somente
23,74% das famílias desta região ainda se dedicam às atividades agrícolas enquanto que 56,11% se dedicam às
atividades de caráter não-agrícola, média esta muito superior à média nacional (18,43%). Deve-se dizer que nesta
região, a rede de serviços e infra-estrutura antes pertencentes somente ao espaço urbano foi estendida ao espaço rural,
de forma a absorver grande parte do contingente de mão-de-obra.
Finalizando a análise, verifica-se que o estado de São Paulo apresenta um índice de 5,19% de famílias com
residência no campo, sendo que a maior parte delas se encontra na situação censitária oito. Este estado apresenta
28,94% das famílias com atividades essencialmente agrícolas e essas atividades são de cunho empresarial,
característica da região. Observa-se, também que esta região e é a segunda a apresentar o maior número de famílias
com atividades não-agrícolas (51,51%), e o fato que explica este crescimento é a extensão das áreas urbanas para as
áreas rurais, ampliando as oportunidades de trabalho para a população com residência no campo. A pluriatividade das
famílias representa 7,50%, ficando abaixo da média nacional.
Do acima exposto alguns pontos importantes devem ser salientados. Deve-se observar que, apesar do
crescimento da pluriatividade no campo na última década, seu peso ainda é pequeno para as famílias que têm
residência no campo, quando comparada com as famílias agrícolas. Esta situação pode ser mais bem visualizada no
gráfico 1que segue abaixo. Outro ponto que deve se observar é a grande presença de famílias não-agrícolas nos
estados do Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo.
Gráfico 1 – Distribuição das Famílias Rurais Segundo Tipo de Família nas Diferentes Regiões do País em
2003
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Nordeste I
Nordeste II
Sul
Agrícolas
Central I
Não-agrícolas
Central II
Pluriativas
RJ + DF
São Paulo
Brasil
Inativas
Fonte: Tabulações Especiais PNAD 2003
4. Presença das Mulheres Ocupadas nas Famílias com Domicílio Rural
Depois de apresentada a análise e caracterização das famílias com domicílio rural nas regiões do Brasil,
focamos a discussão mais precisamente no objeto de estudo desta pesquisa, ou seja, na mulher rural. Continuamos a
tratar das famílias rurais, porém, procurou-se destacar as famílias que apresentavam pelo menos uma mulher ocupada
na atividade econômica entre seus componentes.
Analisando a tabela 4.1, percebe-se que o total para o Brasil apresenta 16,28% das famílias do rural que
possuem pelo menos um membro feminino ocupado, enquanto que nas áreas urbanas esse valor é equivalente a
83,72%. Quando se observa a quantidade de famílias sem mulher ocupada no meio rural, o valor atinge 11,83% e nas
11
áreas urbanas o valor se eleva para 88,17%. Portanto, analisando as áreas rurais para o Brasil, pode-se dizer que
existem mais mulheres ocupadas (16,28%), enquanto que as sem ocupação totalizam 11,83%
Quando se observam os dados para a quantidade de famílias que têm mulheres ocupadas entre seus
membros, percebe-se que a região Nordeste II, Nordeste I, Central I, Sul e Central II são as que apresentam valores
próximos ou superiores ao da média nacional (16,28%). Novamente, deve-se chamar a atenção para o fato de que
estas regiões são as que apresentam uma quantidade maior de famílias com residência rural, como pôde ser verificado
na tabela 3.1. As regiões que possuem maior quantidade de famílias com mulher ocupada entre seus membros em
ordem decrescente são respectivamente: região Nordeste II (40,17%), região Nordeste I (28,46%), região Central I
(21,25%), região Sul (20,76%) e Central II (15,91%) respectivamente. Ao se considerarem esses valores, nota-se que
nas regiões Nordeste II e Nordeste I, a grande presença de mulheres ocupadas nas famílias se dá basicamente em
virtude da agricultura de subsistência altamente praticada nestas regiões, situação esta que demanda a presença de
mulheres e crianças. Já a região Sul apresenta um número superior à média nacional dado que o trabalho da mulher é
altamente utilizado na agricultura familiar, característica marcante da região. O valor inferior para as mulheres
ocupadas nas regiões Central I e Central II, comparativamente às regiões Nordeste I e Nordeste II, pode ser justificado
pelo predomínio de uma agricultura mais empresarial ou do o tipo de cultura envolvida nas atividades agrícolas. Nesta
região, houve expansão de áreas cultivadas com o algodão, cana-de-açúcar e café, além de uma participação dos grãos
como a soja, milho e arroz.
Ao se observarem os valores para as mulheres ocupadas na região do Rio de Janeiro e Distrito Federal
(2,98%) e para o estado de São Paulo (4,27%), percebe-se que estes se reduzem consideravelmente quando
comparados à média do Brasil (16,28%). Nestas regiões há o predomínio de uma agricultura empresarial que
emprega uma mão-de-obra que possui mais atributos no quesito esforço físico, ou seja, o homem. Sendo assim,
libera-se a mulher para praticar outras atividades, provavelmente de caráter não-agrícola.
Tabela 4.1 – Distribuição das Famílias Rurais com Mulheres Ocupadas Segundo Região e Situação
Censitária em 2003
Situação
Censitária
NordesteI
NordesteII
Sul
CentralI
CentralII
RJ +DF
SãoPaulo
Brasil
c/moc
s/moc
c/moc
s/moc
c/moc
s/moc
c/moc
s/moc
c/moc
s/moc
c/moc
s/moc
c/moc
s/moc
c/moc
s/moc
Total Urbano
71,54
78,00
59,83
79,14
79,24 88,34
78,75
80,34
84,09
87,65
97,02
96,60
95,63
93,95
83,72
88,17
59,83
79,14
1
70,49
76,71
77,36 86,26
77,82
79,08
83,15
86,52
96,21
96,01
93,98
92,66
82,48
86,95
2
0,56
0,74
1,57
1,64
0,93
1,26
0,15
0,13
0,71
0,52
0,64
0,50
0,72
0,69
3
0,49
0,55
0,31
0,44
0,79
1,00
0,10
0,07
1,00
0,80
0,52
0,54
Total Rural
28,46
22,00
40,17
20,86
20,76 11,66
11,83
4
0,33
0,47
0,51
0,35
0,05
0,09
5
3,11
4,12
3,67
4,05
0,26
0,21
0,02
0,04
20,42 11,32
21,25
19,66
15,91
12,35
2,98
3,40
4,37
6,05
16,28
0,54
0,44
0,99
1,16
0,38
0,47
1,50
1,93
0,85
1,06
0,37
0,55
0,09
0,11
1,13
1,45
19,75
17,73
6
7
0,06
0,13
0,04
0,05
0,03
0,03
0,03
0,05
8
24,96
17,27
35,99
16,47
15,06
11,29
2,03
2,35
3,26
4,74
14,75
9,86
TOTAL
100,00
100,00
100,00
100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Fonte: Tabulações Especiais da PNAD 2003
12
Gráfico 2 – Proporção de Famílias Rurais com Mulheres Ocupadas segundo Região em 2003
45,00
40,00
35,00
30,00
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
c/moc
s/moc
Nordeste I
c/moc
s/moc
Nordeste II
c/moc
s/moc
Sul
c/moc
s/moc
Central I
c/moc
s/moc
Central II
c/moc
s/moc
RJ + DF
c/moc
s/moc
São Paulo
c/moc
s/moc
Brasil
Fonte: Tabulações Especiais PNAD 2003
Observando os dados da tabela 4.2, nota-se que, no total para o Brasil, 93,23% das famílias com mulheres
ocupadas são pluriativas, isto é, combinam atividades de caráter agrícola com atividades não-agrícolas. As famílias
com mulheres ocupadas entre seus membros que praticam atividades de caráter estritamente agrícola se encontram
em segunda posição (63,80%) e, em terceiro lugar, tem-se as famílias com mulheres ocupadas praticando atividades
não-agrícolas (54,58%). Pode-se notar, também que, em todas as regiões, nas famílias pluriativas a participação da
mulher parece ser mais significativa, sugerindo que a pluriatividade entre os membros da família se deve ao trabalho
provavelmente não-agrícola das mulheres. No entanto, deve-se atentar ao fato de que as famílias pluriativas não pesam
muito no total de famílias rurais, como dito anteriormente (gráfico 1).
Tabela 4.2 – Proporção de Famílias Rurais com Mulher Ocupada, Segundo Tipo de Família e Região em
2003
Tipo defamília
NordesteI
NordesteII
Sul
CentralI
CentralII
RJ +DF
SãoPaulo
Brasil
Agrícolas
59,29
80,01
77,05
51,27
61,56
23,59
31,95
63,80
Não-agrícolas
53,84
56,29
60,33
48,30
51,43
55,04
52,46
54,58
Pluriativas
92,44
97,22
95,65
92,95
93,14
76,98
89,28
93,23
0,49
2,19
1,11
0,37
61,09
43,64
43,10
60,74
Inativas
TOTAL
0,76
56,95
74,61
72,56
54,32
Fonte: Tabulações Especiais da PNAD 2003
As proporções de famílias agrícolas com mulher ocupada se mostrou muito mais significativa para as
regiões Nordeste II (80,01%) e Nordeste I (59,29%), onde as atividades de agricultura de subsistência são importantes
como estratégia de sobrevivência das famílias rurais, envolvendo as mulheres e as crianças nas tarefas. Na região Sul,
77,05% das famílias agrícolas têm mulher ocupada entre seus membros essencialmente em função do peso da
agricultura familiar que demanda o trabalho da mulher na exploração agrícola. Nas regiões, Central II (61,56%) e
Central I (51,27%), em que predominam atividades agrícolas de cunho empresarial, ainda há uma considerável
utilização da mão-de-obra feminina. Continuando a análise regional, percebe-se que São Paulo, Rio de Janeiro e
Distrito Federal são os estados que possuem menor parcela de famílias agrícolas e somente uma pequena proporção
13
dessas famílias têm mulher ocupada., isto é, 31,95% e 23,59% respectivamente, ficando bem abaixo da média
nacional (63,80%).
Em relação às famílias não-agrícolas que possuem pelo menos uma mulher ocupada entre seus membros,
deve-se atentar ao seguinte fato. A média para o Brasil é a terceira menor, ficando atrás das famílias pluriativas e
agrícolas que possuem pelo menos uma mulher ocupada na atividade econômica. Para efeito de comparação
regional, percebe-se que com exceção da região Sul com 60,33%, todas as outras regiões tem uma média muito
próxima à média nacional (54,58%). Pode-se dizer, então, que na região Sul, as atividades não-agrícolas têm
absorvido parte da mão- de-obra feminina.
Da discussão realizada, conclui-se que uma parcela não desprezível de famílias rurais, em todas as regiões do
país, já não depende exclusivamente de atividades agrícolas, ainda que uma parte significativa continue vinculada e
este tipo de atividade. Em contrapartida, uma parcela cada vez maior depende das atividades não-agrícolas ofertadas
pelo rural. Porém, a maior proporção de famílias com mulher envolvida na atividade econômica está entre as
pluriativas, como observada no gráfico 3. Novamente deve-se chamar a atenção para o fato do peso destas famílias
não ser significativo na análise das regiões.
No entanto, verificaram-se diferenças regionais importantes. Na região Nordeste II e Sul, deve-se observar a
alta proporção de famílias que utilizam o trabalho da mulher em atividades agrícolas. Nestas regiões, a participação
feminina nas atividades agrícolas se deve ao tipo de trabalho realizado em explorações agrícolas do tipo familiar.
Gráfico 3 – Proporção de Famílias Rurais com Mulher Ocupada, Segundo Tipo de Família e Região em
2003
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Nordeste I
Nordeste II
Sul
Agrícolas
Central I
Não-agrícolas
Central II
Pluriativas
RJ + DF
São Paulo
Brasil
Inativas
Fonte: Tabulações Especiais PNAD 2003
5. Rendimento das Famílias Rurais com Mulher na Atividade Econômica
A fim de se analisar o perfil das rendas das famílias rurais com mulher na atividade econômica, foram
utilizados os valores medianos da renda familiar per capita. A tabela 5.1 mostra que, para o total do Brasil, os valores
medianos dos rendimentos familiares per capita referentes às famílias agrícolas são inferiores aos das famílias
pluriativas que, por sua vez, são menores que os das famílias não-agrícolas.
14
Tabela 5.1 – Valores Medianos do Rendimento Familiar per capita das Famílias Rurais com Mulher na
Atividade Econômica, Segundo tipo de Família e Região em 2003
Tipo defamília
NordesteI
NordesteII
Sul
CentralI
CentralII
RJ +DF
Agrícolas
0,29
0,24
0,88
0,44
0,52
0,56
0,75
0,42
Não-agrícolas
0,48
0,60
1,20
0,80
0,56
0,88
1,04
0,78
Pluriativas
0,39
0,43
1,09
0,75
0,67
0,71
0,91
0,57
1,00
3,32
2,00
2,00
0,33
0,29
0,56
0,82
1,00
0,50
Inativas
TOTAL
2,54
1,00
0,54
SãoPaulo
Brasil
Fonte: Tabulações Especiais PNAD 2003
Sobre o enfoque regional, percebe-se que os valores medianos das rendas das famílias agrícolas são
significativamente superiores na região Sul e no estado de São Paulo com 0,88 e 0,75, respectivamente. Deve-se
considerar, no entanto, que somente a região Sul se caracteriza pela presença significativa de famílias agrícolas, fato
esse que não é observado no estado de São Paulo (gráfico 1).
Entre as famílias não-agrícolas, a renda mediana se apresenta mais alta na região Sul e no estado de São
Paulo (1,20 e 1,04) e um pouco menos intensa no Rio de Janeiro e Distrito Federal (0,88). Considerando-se a
importância das atividades não-agrícolas para as famílias rurais destas regiões, nota-se que esta é de grande relevância
para o Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo porque estes estados concentram uma maior quantidade de
famílias envolvidas em atividades não-agrícolas como observado no gráfico 1. Nas regiões Nordeste I e Nordeste II e
Central I, as rendas das famílias não-agrícolas são bastante baixas, contudo, este tipo de atividade não tem peso
significativo na composição das rendas das famílias, dado que estas se encontram em menor quantidade.
Em relação às famílias pluriativas, nota-se que novamente as regiões Sul e o estado de São Paulo
apresentaram rendas mais altas , acompanhadas pelo Rio de Janeiro e Distrito Federal. Nas regiões Nordeste I e
Nordeste II, as rendas auferidas da pluriatividade são baixas quando comparadas com as demais regiões e com a
média nacional (0,57).
Aproveitamos os dados sobre os rendimentos medianos das famílias para uma comparação entre as famílias
pluriativas e não-agrícolas vis-à-vis as agrícolas de forma que se pode avaliar o impacto das atividades não-agrícolas
como alternativa de renda para as famílias com domicilio rural que tem mulher na atividade econômica (gráfico 4).
Observando os dados do gráfico 1 e do gráfico 4, podemos considerar que, apesar de ter havido um
crescimento de atividades não-agrícolas no meio rural na década de noventa e destas atividades estarem se
constituindo em importante fonte de renda para as famílias do Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo, não se deve
descartar completamente a tese de que a agricultura ainda se constitui em fonte de renda importante para manter a
família agrícola rural, principalmente se considerarmos as regiões Nordeste I, Nordeste II, Sul, Central I e Central II em
que o peso das famílias agrícolas ainda parece ser bastante significativo.
15
Gráfico 4 – Relação dos Rendimentos Medianos das Famílias Agrícolas, Não-agrícolas e Pluriativas no ano
de 2003 com Mulher na Atividade Econômica em 2003
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
Nordeste I
Nordeste II
Sul
Agrícolas
Central I
Central II
Não-agrícolas
RJ + DF
São Paulo
Brasil
Pluriativas
5.1 Efeito do Trabalho da Mulher na Renda Familiar
A fim de avaliar a contribuição do trabalho da mulher na renda das famílias rurais, compararam-se, para o
ano de 2003, os valores medianos dos rendimentos medianos per capita com os que seriam os valores medianos
desses rendimentos caso não fosse considerada na renda familiar total a renda proveniente do trabalho da mulher.
Na tabela 5.2, para o total nacional, pode-se observar a contribuição da renda da mulher na renda familiar
total, seja ela oriunda de famílias agrícolas, pluriativas ou não-agrícolas. Contudo, essa contribuição se mostra mais
significativa entre as famílias não-agrícolas em primeiro lugar, e entre as pluriativas em segunda posição.
Do ponto de vista regional, nota-se que entre as famílias agrícolas, a renda da mulher contribuiu muito pouco
para a renda familiar. Somente no estado de São Paulo esta ajudou a elevar os rendimentos familiares medianos. Entre
as famílias pluriativas a contribuição das mulheres para a renda familiar foi maior do que nas agrícolas em todas as
regiões, mais notadamente no estado de São Paulo. Entre as famílias não-agrícolas, a renda da mulher contribuiu
significativamente nas regiões Sul e São Paulo, respectivamente.
Sintetizando, pode-se dizer que entre as famílias agrícolas, o trabalho da mulher apenas s ajudou a manter a
renda familiar enquanto que entre as pluriativas, a contribuição da mulher se mostrou mais significativa. No que tange
as famílias não-agrícolas, a renda da mulher se mostrou muito expressiva em todas as regiões do Brasil.
16
Tabela 5.2 – Valores Medianos do Rendimento Familiar per capita das Famílias Rurais com Mulher
Ocupada (excluindo e incluindo o rendimento da mulher), Segundo Tipo de Família e Região em 2003
Tipo defamília
NordesteI
NordesteII
Sul
CentralI
CentralII
RJ +DF
SãoPaulo
Brasil
Excl.
Incl.
Excl.
Incl.
Excl.
Incl.
Excl.
Incl.
Excl.
Incl.
Excl.
Incl.
Excl.
Incl.
Excl.
Incl.
Agrícolas
0,27
0,29
0,22
0,24
0,81
0,88
0,42
0,44
0,50
0,52
0,50
0,56
0,56
0,75
0,38
0,42
Não-agrícolas
0,28
0,48
0,33
0,60
0,73
1,20
0,42
0,80
0,33
0,56
0,50
0,88
0,64
1,04
0,47
0,78
Pluriativas
0,29
0,39
0,26
0,43
0,83
1,09
0,53
0,75
0,52
0,67
0,48
0,71
0,61
0,91
0,42
0,57
2,54
2,54
1,00
1,00
3,32
3,32
2,00
2,00
2,00
2,00
0,81
1,00
0,50
0,56
0,50
0,82
0,63
1,00
0,50
0,50
Inativas
TOTAL
0,28
0,33
0,23
0,29
0,47
0,54
Fonte: Tabulações Especiais PNAD 2003
6. Inserção Ocupacional das Mulheres de Famílias Rurais nos Setores de Atividades
A análise dos dados referentes às famílias rurais que possuem pelo menos uma mulher ocupada na atividade
econômica mostrou que, para o total do Brasil, as famílias pluriativas detém um percentual de 93,23%, as agrícola
63,.80% e as não-agrícolas 54,58%. Provavelmente, foram os rendimentos das mulheres, provenientes das atividades
não-agrícolas, os principais responsáveis pela contribuição na renda familiar. Sendo assim, interessa analisar algumas
características da inserção no mercado de trabalho dessas mulheres pertencentes às famílias pluriativas e não-agrícolas.
Observando-se os dados da tabela 6 para as famílias pluriativas, nota-se que três setores da atividade
concentraram 74,81% das mulheres ocupadas. Eram eles, o setor agrícola (39,72%), as atividades sociais (17,79%) e a
atividade de empregada doméstica (17,30%). Do ponto de vista regional, chama-se à atenção para a elevada
proporção de mulheres empregadas nas atividades agrícolas na região Sul (53,54%), Central II (38,12%), São Paulo
(37,69%), Nordeste I (36,87%) e Nordeste II (35,67%). As atividades sociais tem forte presença nas regiões Nordeste
II (23,48%), Nordeste I ( 20,19%) e Central II (19,73%). Em relação ao emprego doméstico, nota-se um elevado
peso no Rio de Janeiro e Distrito Federal (41,59%), na região Central I (34,52%) e em São Paulo
(29,52%). Portando, as mulheres de famílias pluriativas que não participavam de atividades agrícolas,
estavam inseridas basicamente nas atividades sociais e no serviço doméstico.
Continuando a análise da tabela 6 para as mulheres das famílias não-agrícolas , pode-se dizer que estas
estavam concentradas em quatro setores de atividade. O primeiro na classificação foi o emprego
doméstico.(28,41%), o segundo foram as atividades sociais (22,39%), o terceiro foi a indústria (20,34%) e o quarto o
setor de comércio (14,15%). Estes setores em conjunto absorviam 85,29% das mulheres das famílias não-agrícolas.
Sob o enfoque regional, destaca-se a elevada quantidade de mulheres ocupadas na indústria na região Sul ( 28,13%),
no comércio na região Nordeste II (20,97%), no serviço doméstico no Distrito Federal e Rio de Janeiro
(45,62), região Central II (44,41%) e São Paulo ( 31,33%). As atividades sociais tiveram maior peso nas
regiões Nordeste I (27,12%), Nordeste I I ( 26,31%%).
17
Tabela 6 –Distribuição das Mulheres Ocupadas de Famílias Rurais Pluriativas e Não-Agrícolas, Segundo
Setor de Atividade em 2003
Setor deatividade
NordesteI
NordesteII
Sul
CentralI
CentralII
RJ +DF
SãoPaulo
Brasil
FamíliasPluriativas
Agrícola
36,87
35,67
53,54
25,44
38,12
18,84
37,69
39,72
Empregadadoméstica
12,95
11,86
14,97
34,52
23,22
41,59
29,52
17,30
Atividades Sociais
20,19
23,48
10,21
19,73
18,60
19,09
13,12
17,79
Sub-total
Outrasnão-agrícolas
70,01
29,99
71,01
28,99
78,72
21,28
79,69
20,31
79,94
20,06
79,52
20,48
80,33
19,67
74,81
25,19
TotalPluriativas
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Indústria
23,85
11,59
28,13
11,88
18,57
13,38
15,67
20,34
Comércio
16,60
20,97
12,73
14,91
4,56
9,88
15,21
14,15
Empregadadoméstica
20,01
23,87
25,97
25,76
44,41
45,62
31,33
28,41
FamíliasNão-agrícolas
Atividades Sociais
27,12
26,31
18,13
27,02
20,10
17,79
20,74
22,39
Sub-total
87,58
82,74
84,96
79,57
87,64
86,67
82,95
85,29
Outrasnão-agrícolas
12,43
17,26
15,04
20,43
12,36
13,33
17,05
14,71
Total Não-agrícolas
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Fonte: Tabulações Especiais PNAD 2003
Considerações Finais
A pesquisa realizada procurou resgatar, em um primeiro momento, a participação das mulheres
nas atividades agrícolas no rural brasileiro, desde o período do colonato até o momento em que ela
passou a vender sua força de trabalho individualmente, em virtude do processo acentuado de
modernização do campo. A fundamentação teórica nos permitiu verificar que a presença do trabalho
feminino, seja ele no âmbito doméstico, seja ele no âmbito das relações externas, foram de fundamental
importância para a sobrevivência da família rural.
No período do colonato, o trabalho da mulher era bastante definido e se concentrava
essencialmente nas atividades do ambiente doméstico como o cuidar das crianças, das tarefas da casa
(lavar, passar, cozinhar), além do cuidar dos animais e dos alimentos que cultivava para a subsistência da
família. A questão da inferioridade feminina era bastante visível, dada a submissão da mulher às
decisões do homem (chefe de família). Era ele quem mobilizava, alocava e coordenava a força de
trabalho. Com a intensificação do capitalismo no campo, mudou-se a forma de se produzir e,
conseqüentemente as relações de trabalho. Neste tipo de sistema, homens e mulheres passaram a vender
seu trabalho individualmente e, com isso, o papel feminino passou a ter uma maior importância. Ao se
ver liberta para tomar suas próprias decisões, as mulheres começaram a entender que o trabalho
remunerado traz a elas não somente a oportunidade de contribuir para o orçamento familiar, mas
também a independência financeira e emocional que podem garantir um futuro mais promissor.
A década de noventa mostrou um cenário bastante diferente para a população residente do meio
rural. Apesar de as atividades de caráter agrícola terem perdido força ao longo das décadas anteriores e
terem absorvido uma quantidade menor de mão-de-obra, surgiram novas oportunidades de emprego
não-agrícola que deram conta de uma parte do contingente desempregado do campo. Sendo assim,
algumas famílias estão encontrando oportunidades de trabalho não-agrícola em atividades no campo.
18
O trabalho buscou analisar a ampliação das famílias com domicilio rural que foram classificadas
segundo a atividade na ocupação principal de seus membros, sendo estas classificadas como agrícolas,
pluriativas e não-agrícolas. Com isso, mostrou-se que grande parte das famílias com residência no rural
ainda dependem de atividades agrícolas, contudo, já há uma presença mais acentuada de famílias nãoagrícolas.
A fim de verificar se o novo espaço aberto pelas ocupações não-agrícolas no meio rural
possibilitou ampliar a participação da mulher na atividade econômica remunerada, procurou-se observar
sua inserção ocupacional e a contribuição de seu rendimento na renda familiar. Para o total do Brasil,
verificou-se que a quantidade de famílias com mulher ocupada supera a quantidade de famílias com
mulheres sem ocupação.Tal fato sinaliza a importância do trabalho feminino como estratégia de
sobrevivência das famílias rurais. Em relação à remuneração das mulheres, notou-se que as rendas das
famílias que possuem mulheres empregadas entre seus membros, são mais altas para as atividades nãoagrícolas quando comparadas com as pluriativas e com as agrícolas, significando que as novas atividades
de caráter não-agrícola, praticadas no meio rural estão ajudando a elevar o nível de renda destas famílias.
Quando se observam os setores da economia que mais absorvem a mão-de-obra feminina,
percebeu-se que para as famílias pluriativas estes se concentraram basicamente em três setores de
atividade, sendo eles o agrícola, as atividades sociais e o emprego doméstico. Já as mulheres de famílias
não-agrícolas encontravam oportunidade de emprego principalmente em quatro setores da economia:
serviço doméstico, atividade social, indústria e comércio.
Nota-se que, apesar de existirem atividades no meio rural que demandam a mão-de-obra
feminina, a qualificação exigida é muito baixa e justamente por isso as mulheres aí se inserem. O
emprego doméstico remunerado tem se configurado em uma das melhores oportunidades de trabalho
para a mulher com residência no campo. No entanto, não exige elevado nível de estudo nem tampouco
qualificação profissional.
Estudos precisam verificar quais políticas podem contribuir para modificar a difícil condição
desta mulher trabalhadora a fim de lhe proporcionar melhores condições de educação e qualificação que
conseqüentemente refletirão em suas rendas futuras.
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20
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caracterização do trabalho feminino no rural brasileiro