Pedro Mizutani acredita que setor sucroenergético deve sentir
uma recuperação mais acelerada da crise
A crise econômica afeta o setor sucroenergético principalmente, dificultando e
encarecendo o crédito para as empresas, mas a tendência é de que, após as
complicações enfrentadas nos últimos anos, o mercado de açúcar e álcool tenha
tempos bastante promissores daqui para a frente.
Para o vice-presidente da Raízen, Pedro Isamu Mizutani, o setor deve sentir uma
recuperação mais acelerada a partir do ano que vem, graças à melhora do preço
do açúcar internacionalmente devido à queda dos estoques e ao aumento da
competitividade brasileira, beneficiada pela valorização do dólar frente ao real, o
que trará melhor remuneração.
Mizutani integra a série de entrevistas especiais do Jornal de Piracicaba com
profissionais e autoridades a respeito da crise e seus reflexos na cidade.
Como o setor sucroenergético tem sido impactado pela crise econômica nacional?
Basicamente, no nosso setor, que é o sucroenergético, dependemos muito de
recursos de BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social)
para plantio e trato de cana e essa parte de crédito foi onde a crise mais afetou.
Ela fez com que o crédito fosse reduzido em montante, fazendo, com isso, que
fossemos tomar crédito no mercado privado. Muitas empresas não tem acesso ao
mercado, não é nosso caso, mas os juros ficam caros e há falta de recursos
também. A Raízen não sofre com isso, mas o setor sucroenergético sofre muito. A
taxa de juros hoje gira em torno de 14% a Selic, essa é a base, mas no mercado
elas custam a Selic mais 2% ou 3%, o que daria 17% ao ano. As taxas, quando
são subsidiadas, custam em torno de 8% ou 8,5%. Elas continuam nesse nível,
porém, o volume de recursos é mais baixo e como a disponibilidade é menor, tem
que buscar o restante no mercado. Esse é um dos maiores problemas provocados
pela crise. Outro problema que afetou, ao longo do tempo, todo nosso setor, foi o
preço da gasolina congelado por causa da preocupação do governo com relação à
inflação, o que fez com que os preços do etanol ficassem parados, mas nossos
custos foram crescendo. Isso não é de agora, já vem ao longo dos quatro últimos
anos. Estamos sofrendo com isso, ora porque se tira a Cide (Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico) que é um imposto diferencial da gasolina com
relação ao etanol, ora porque se congela o preço da gasolina.
O retorno parcial da Cide em janeiro trouxe benefícios para o setor...
Trouxe sim. Você teve uma parte da Cide, uma parte do PIS/Cofins e um reajuste
do preço da gasolina, isso nos deu um pouco mais de competitividade. Agora,
depois de todas voltas desses tributos, o que mais tem nos afetado recentemente
é o tempo, que não nos deixa moer a cana. Por um lado (devido às chuvas) você
tem a produtividade agrícola maior, mas esse tempo mais chuvoso faz com que a
gente tenha menos tempo para processar essa cana, o que atrasa o término da
safra e ao mesmo tempo faz com que você deixe mais cana no campo.
E quanto à alta recente do dólar, ela ajudou ou prejudicou o setor sucroenergético?
A desvalorização do real prejudica o setor em termos de custo, mas em termos de
receita, nos dá competitividade, porque o Brasil é um grande produtor de açúcar,
exporta dois terços da produção (do produto), então o real desvalorizado dá
competitividade em relação aos outros países. Ela é muito mais positiva que
negativa para a gente.
Como o setor tem reagido à atual crise?
Empresas menos preparadas estão fechando, elas não conseguem sobreviver a
isso. Empresas mais preparadas têm enfrentado a crise, como é o caso da Raízen.
Nós fizemos a lição de casa, cortamos custos, melhoramos nossa eficiência,
estamos preparados para a crise. E as empresas menos preparadas fecharam,
demitiram funcionários, enfrentam muitas dificuldades. Por outro lado, você vê que
esses progressivos aumentos de preços com relação ao etanol e ao açúcar, por
causa da competitividade do real-dólar, têm feito com que muitas empresas não
fossem para expansão, mas pelo menos eles dão uma sobrevivência.
A crise econômica afeta o setor sucroenergético principalmente, dificultando e
encarecendo o crédito para as empresas, mas a tendência é de que, após as
complicações enfrentadas nos últimos anos, o mercado de açúcar e álcool tenha
tempos bastante promissores daqui para a frente.
Para o vice-presidente da Raízen, Pedro Isamu Mizutani, o setor deve sentir uma
recuperação mais acelerada a partir do ano que vem, graças à melhora do preço
do açúcar internacionalmente devido à queda dos estoques e ao aumento da
competitividade brasileira, beneficiada pela valorização do dólar frente ao real, o
que trará melhor remuneração.
Mizutani integra a série de entrevistas especiais do Jornal de Piracicaba com
profissionais e autoridades a respeito da crise e seus reflexos na cidade.
Como o setor sucroenergético tem sido impactado pela crise econômica nacional?
Basicamente, no nosso setor, que é o sucroenergético, dependemos muito de
recursos de BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social)
para plantio e trato de cana e essa parte de crédito foi onde a crise mais afetou.
Ela fez com que o crédito fosse reduzido em montante, fazendo, com isso, que
fossemos tomar crédito no mercado privado. Muitas empresas não tem acesso ao
mercado, não é nosso caso, mas os juros ficam caros e há falta de recursos
também. A Raízen não sofre com isso, mas o setor sucroenergético sofre muito. A
taxa de juros hoje gira em torno de 14% a Selic, essa é a base, mas no mercado
elas custam a Selic mais 2% ou 3%, o que daria 17% ao ano. As taxas, quando
são subsidiadas, custam em torno de 8% ou 8,5%. Elas continuam nesse nível,
porém, o volume de recursos é mais baixo e como a disponibilidade é menor, tem
que buscar o restante no mercado. Esse é um dos maiores problemas provocados
pela crise. Outro problema que afetou, ao longo do tempo, todo nosso setor, foi o
preço da gasolina congelado por causa da preocupação do governo com relação à
inflação, o que fez com que os preços do etanol ficassem parados, mas nossos
custos foram crescendo. Isso não é de agora, já vem ao longo dos quatro últimos
anos. Estamos sofrendo com isso, ora porque se tira a Cide (Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico) que é um imposto diferencial da gasolina com
relação ao etanol, ora porque se congela o preço da gasolina.
O retorno parcial da Cide em janeiro trouxe benefícios para o setor...
Trouxe sim. Você teve uma parte da Cide, uma parte do PIS/Cofins e um reajuste
do preço da gasolina, isso nos deu um pouco mais de competitividade. Agora,
depois de todas voltas desses tributos, o que mais tem nos afetado recentemente
é o tempo, que não nos deixa moer a cana. Por um lado (devido às chuvas) você
tem a produtividade agrícola maior, mas esse tempo mais chuvoso faz com que a
gente tenha menos tempo para processar essa cana, o que atrasa o término da
safra e ao mesmo tempo faz com que você deixe mais cana no campo.
E quanto à alta recente do dólar, ela ajudou ou prejudicou o setor sucroenergético?
A desvalorização do real prejudica o setor em termos de custo, mas em termos de
receita, nos dá competitividade, porque o Brasil é um grande produtor de açúcar,
exporta dois terços da produção (do produto), então o real desvalorizado dá
competitividade em relação aos outros países. Ela é muito mais positiva que
negativa para a gente.
Como o setor tem reagido à atual crise?
Empresas menos preparadas estão fechando, elas não conseguem sobreviver a
isso. Empresas mais preparadas têm enfrentado a crise, como é o caso da Raízen.
Nós fizemos a lição de casa, cortamos custos, melhoramos nossa eficiência,
estamos preparados para a crise. E as empresas menos preparadas fecharam,
demitiram funcionários, enfrentam muitas dificuldades. Por outro lado, você vê que
esses progressivos aumentos de preços com relação ao etanol e ao açúcar, por
causa da competitividade do real-dólar, têm feito com que muitas empresas não
fossem para expansão, mas pelo menos eles dão uma sobrevivência.
E a maioria das empresas está sobrevivendo ou fechando as portas?
Já fecharam em torno de 60 usinas no Centro-Sul, tem mais de 200, então se você
pensar, a maioria está sobrevivendo à crise. As empresas que estão sobrevivendo
estão mais fortes. Reduziu-se o número de usinas, mas a quantidade de cana
disponível é a mesma, então as usinas complementaram sua capacidade ociosa
fazendo com que elas tenham mais competitividade. Então, quando a situação
começar a melhorar, a partir do ano que vem, essas usinas vão estar beneficiadas.
E essa melhora esperada parte de quê exatamente?
Parte dos preços. Essa desvalorização cambial faz com que a gente tenha maior
competitividade no mercado internacional, então melhora o preço do açúcar, não
em dólar, mas em reais, dando maior competitividade para as exportações. Em
relação ao clima, o El Niño provoca secas em alguns lugares produtores de cana,
então se eles produzem menos açúcar, é menos competição. Nós viemos de um
ciclo muito longo só de superávit (de produção), em que criou-se um estoque. E
neste ano, por exemplo, vamos ter déficit, isso faz com que os preços do açúcar
subam. Por outro lado, temos também um déficit de combustíveis como um todo,
então isso faz com que haja mais procura do etanol, faz com que tenhamos
melhores preços.
Então essa melhora está mais ligado à dinâmica do setor do que a mudanças
políticas...
Nós vivemos no livre mercado, nosso único problema é que nosso preço (do
etanol) é dependente ao preço da gasolina, que é controlado.
E como a crise política atual prejudica?
A gente vê que a crise de fundo político faz com que não tenhamos uma política de
investimentos de longo prazo. Você vê capital estrangeiro não vindo mais para cá.
No passado você via muito capital vindo por causa da confiança no país. O Brasil é
uma terra, a médio e longo prazos, muito promissora, mas precisa realmente ter
uma estabilidade política. Essa instabilidade cria uma aversão a recursos virem
para o país. Os ativos do Brasil, com a desvalorização cambial, ficaram baratos,
então só falta essa estabilidade política para atrair o capital estrangeiro.
Quanto às políticas voltadas ao etanol, na semana passada, o BNDES apresentou
em Piracicaba um estudo para venda de etanol hidratado em contratos de longo
prazo. Isso ajudaria o setor?
Depende muito de como for desenhado. Toda vez que a gente tenta fazer uma
fórmula para um livre mercado, é complicado. Já existe um contrato de álcool
anidro, existe uma legislação que obriga você a fazer uma parte em contrato tanto
para a distribuidora quanto para o produtor. No caso do hidratado, não existe
contrato. Eu não acho que o contrato vá fazer com que exista uma melhora no
mercado. O que faz realmente uma melhora no mercado é uma transparência nos
preços da gasolina, porque o hidratado, o competidor dele é a gasolina — ou você
coloca o etanol hidratado ou coloca a gasolina. O anidro não, é uma mistura, um
blend, não depende tanto do preço da gasolina, mas o hidratado depende 100%. E
quanto mais você tiver uma política clara de como vão ser os preços, melhor.
E esse aumento recente no consumo de etanol hidratado vai motivar as empresas
a investirem mesmo com a crise?
O aumento do etanol faz com que se tenha mais competitividade. Hoje o etanol
está quase 70% do preço da gasolina, faz com que o consumidor consuma etanol,
está em um patamar realmente bom em termos de comparação com a gasolina,
mas ainda não remunera suficientemente o setor para voltar a investir. Esse
patamar de preço nos dá sobrevivência para remunerar o capital já investido e não
para fazer novos capitais.
Qual seria uma remuneração justa hoje?
Hoje o etanol teria de ter aumento basicamente de quase 30% ou ter um
diferencial ambiental de 30% em relação à gasolina. Fala-se muito em uma Cide
de R$ 0,60 e, se você considerar o etanol em termos de R$ 2 por litro, os R$ 0,60
centavos significam 30%. Esse nível daria uma competitividade melhor para o
etanol e os empresários começariam a pensar como investir. Porque o fato do
etanol ser um combustível limpo, renovável, ele tem que ter uma figura de prêmio
em relação à gasolina. Ou a gasolina ser mais cara em função dela ser mais
poluente que o etanol. É isso que a gente espera que o governo faça, não só o
governo, mas as entidades que estão ligadas a meio ambiente, aquecimento
global, façam com que exista esse entendimento com relação a este aspecto do
etanol.
Mas está um pouco difícil ter um indicador por parte do governo a respeito disso...
Vamos ter a Cop 21 (Conferência do Clima) na França, onde o governo brasileiro
terá uma meta de redução de CO2 (Dióxido de Carbono), o mundo vai ter uma
meta de redução de C02, e tudo passa pelo combustível, passa pelo
desmatamento zero na Amazônia, passa por fazer consumo de mais etanol em
relação à gasolina. Para se ter uma ideia, São Paulo há 20 anos ou 30 anos, era
tudo escuro, hoje você já vê o sol, o céu limpo, hoje é totalmente diferente, porque
tem o carro a etanol. Então tudo isso contribui para o meio ambiente, mas se você
não tiver um reconhecimento dessa externalidade positiva, dificilmente o etanol
sobrevive, principalmente hoje que o petróleo não está US$ 100 por barril, está
metade disso.
Mas não há indicação por parte do Governo de que alíquota da Cide volte
integralmente agora...
O próprio governo brasileiro anunciou que, em 2030, teremos 50 bilhões de litros
de etanol. Para se ter essa quantidade ele precisa incentivar a indústria do etanol a
fazer novos investimentos, novas fronteiras, aí que eu acredito que haverá um
incentivo, ou através de uma Cide, de uma Cide ambiental, ou de um
reconhecimento da externalidade positiva do etanol.
As duas visitas da presidente Dilma Rousseff (PT) a Piracicaba trouxeram
esperança para o setor?
Sim, porque a gente quis mostrar para a presidente o quanto o setor está evoluído,
o quanto a gente está investindo em tecnologia. Quando a trouxemos para a
Raízen para ver a tecnologia de segunda geração, muito mais ver a tecnologia
industrial, o quanto ela está evoluindo, ela ficou muito contente porque, no etanol
de segunda geração você tem menores emissões de C02 que o próprio etanol de
primeira geração (cerca de 17 vezes menos), a gente consegue vender isso
melhor do que o de primeira geração. E no CTC (Centro de Tecnologia
Canavieira), a gente quis mostrar a evolução da tecnologia agrícola. Tivemos
muito retorno positivo dela, porque se vê como estamos evoluindo no plantio de
cana, nas novas variedades, até transgências, isso dá uma esperança para o
Brasil. Somos uma terra muito rica em agricultura, o Brasil tem competitividade na
agricultura, e isso que deu esperança para ela.
E como foi a reação da presidente nas visitas?
Ela ficou muito emocionada. Ela faz muita pergunta técnica com relação a todas
essas evoluções que o setor tem feito e ficou muito entusiasmada com isso,
principalmente em um período que antecede a COP 21 na França.
E como está atualmente a produção do etanol de segunda geração?
Nós instalamos a primeira planta comercial de etanol de segunda geração na
(usina) Costa Pinto, está na primeira fase ainda, que é a produção de etanol no
C6, que são seis carbonos. Agora é a produção através do C5, isso deve ser
finalizado em 2017. Estamos na fase de aprendizado e quando essa planta estiver
totalmente pronta ela produzirá 40 milhões de litros (por safra). Esse ano temos
expectativa de produção de 3 a 4 milhões de litros.
De forma geral, como Piracicaba tem sentido essa crise econômica?
Basicamente, Piracicaba, com a vinda da Hyundai e de outras empresas no auge
do setor da cana, a cidade cresceu muito. Claro que nesta crise houve uma
estabilizada e ela sofre também. Todas as empresas ligadas ao setor sofrem, você
tem menos empresas e geração de renda com a crise. Por outro lado, há
empresas que tem uma competitividade maior de exportação e vão ser
beneficiadas com a desvalorização cambial.
As perspectivas para o futuro da cidade são boas...
Acredito que Piracicaba sofra, hoje, menos que as demais cidades, mas ela vai
acompanhar a evolução do país também. A reação não depende só de Piracicaba
e das empresas daqui. Vendemos nosso produto para o Brasil como um todo e
vendemos para fora do país, então essa reação vai depender muito do país
melhorar e da situação de mundo melhorar também. As perspectivas para a cidade
são boas. As expectativas para o Brasil são boas a médio e longo prazos, o
importante é você se adaptar neste curto prazo e fazer a lição de casa.
Quando o país sairá da crise em sua opinião?
Levará uns dois anos. Acredito que 2016 será um ano muito difícil também e, em
2017, a gente comece a se recuperar. Os setores de exportação vão alavancar
(essa recuperação), porque houve uma correção do câmbio como um todo. Agora
as empresas que têm dívidas em dólar estão com uma situação muito difícil, muito
delicada financeiramente.
E quanto ao setor sucroenergético especificamente?
Nosso setor vive de momentos. É um setor que tem açúcar como commodity e o
etanol que depende do preço da gasolina. O setor de commodities é de altos e
baixos. Vivemos um período muito ruim durante os ultimos cinco anos e a acredito
que viveremos um período bom daqui para a frente, começa-se um ciclo bom de
três a cinco anos onde teremos uma falta de produto no mundo e nós somos
capazes de produzir. E a Raízen é uma empresa bem preparada, bem estruturada,
que fez a lição de casa e deve se destacar em um sistema como um todo. Os
investimentos necessários sempre foram mantidos pela empresa, mesmo com a
crise. Fizemos a lição de casa, terminamos todos os projetos de geração de
energia e estamos terminando dois projetos de expansão de usinas, uma em
Paraguaçu Paulista (SP) e outra em Caarapó, no Mato Grosso do Sul.
Já fecharam em torno de 60 usinas no Centro-Sul, tem mais de 200, então se você
pensar, a maioria está sobrevivendo à crise. As empresas que estão sobrevivendo
estão mais fortes. Reduziu-se o número de usinas, mas a quantidade de cana
disponível é a mesma, então as usinas complementaram sua capacidade ociosa
fazendo com que elas tenham mais competitividade. Então, quando a situação
começar a melhorar, a partir do ano que vem, essas usinas vão estar beneficiadas.
E essa melhora esperada parte de quê exatamente?
Parte dos preços. Essa desvalorização cambial faz com que a gente tenha maior
competitividade no mercado internacional, então melhora o preço do açúcar, não
em dólar, mas em reais, dando maior competitividade para as exportações. Em
relação ao clima, o El Niño provoca secas em alguns lugares produtores de cana,
então se eles produzem menos açúcar, é menos competição. Nós viemos de um
ciclo muito longo só de superávit (de produção), em que criou-se um estoque. E
neste ano, por exemplo, vamos ter déficit, isso faz com que os preços do açúcar
subam. Por outro lado, temos também um déficit de combustíveis como um todo,
então isso faz com que haja mais procura do etanol, faz com que tenhamos
melhores preços.
Então essa melhora está mais ligado à dinâmica do setor do que a mudanças
políticas...
Nós vivemos no livre mercado, nosso único problema é que nosso preço (do
etanol) é dependente ao preço da gasolina, que é controlado.
E como a crise política atual prejudica?
A gente vê que a crise de fundo político faz com que não tenhamos uma política de
investimentos de longo prazo. Você vê capital estrangeiro não vindo mais para cá.
No passado você via muito capital vindo por causa da confiança no país. O Brasil é
uma terra, a médio e longo prazos, muito promissora, mas precisa realmente ter
uma estabilidade política. Essa instabilidade cria uma aversão a recursos virem
para o país. Os ativos do Brasil, com a desvalorização cambial, ficaram baratos,
então só falta essa estabilidade política para atrair o capital estrangeiro.
Quanto às políticas voltadas ao etanol, na semana passada, o BNDES apresentou
em Piracicaba um estudo para venda de etanol hidratado em contratos de longo
prazo. Isso ajudaria o setor?
Depende muito de como for desenhado. Toda vez que a gente tenta fazer uma
fórmula para um livre mercado, é complicado. Já existe um contrato de álcool
anidro, existe uma legislação que obriga você a fazer uma parte em contrato tanto
para a distribuidora quanto para o produtor. No caso do hidratado, não existe
contrato. Eu não acho que o contrato vá fazer com que exista uma melhora no
mercado. O que faz realmente uma melhora no mercado é uma transparência nos
preços da gasolina, porque o hidratado, o competidor dele é a gasolina — ou você
coloca o etanol hidratado ou coloca a gasolina. O anidro não, é uma mistura, um
blend, não depende tanto do preço da gasolina, mas o hidratado depende 100%. E
quanto mais você tiver uma política clara de como vão ser os preços, melhor.
E esse aumento recente no consumo de etanol hidratado vai motivar as empresas
a investirem mesmo com a crise?
O aumento do etanol faz com que se tenha mais competitividade. Hoje o etanol
está quase 70% do preço da gasolina, faz com que o consumidor consuma etanol,
está em um patamar realmente bom em termos de comparação com a gasolina,
mas ainda não remunera suficientemente o setor para voltar a investir. Esse
patamar de preço nos dá sobrevivência para remunerar o capital já investido e não
para fazer novos capitais.
Qual seria uma remuneração justa hoje?
Hoje o etanol teria de ter aumento basicamente de quase 30% ou ter um
diferencial ambiental de 30% em relação à gasolina. Fala-se muito em uma Cide
de R$ 0,60 e, se você considerar o etanol em termos de R$ 2 por litro, os R$ 0,60
centavos significam 30%. Esse nível daria uma competitividade melhor para o
etanol e os empresários começariam a pensar como investir. Porque o fato do
etanol ser um combustível limpo, renovável, ele tem que ter uma figura de prêmio
em relação à gasolina. Ou a gasolina ser mais cara em função dela ser mais
poluente que o etanol. É isso que a gente espera que o governo faça, não só o
governo, mas as entidades que estão ligadas a meio ambiente, aquecimento
global, façam com que exista esse entendimento com relação a este aspecto do
etanol.
Mas está um pouco difícil ter um indicador por parte do governo a respeito disso...
Vamos ter a Cop 21 (Conferência do Clima) na França, onde o governo brasileiro
terá uma meta de redução de CO2 (Dióxido de Carbono), o mundo vai ter uma
meta de redução de C02, e tudo passa pelo combustível, passa pelo
desmatamento zero na Amazônia, passa por fazer consumo de mais etanol em
relação à gasolina. Para se ter uma ideia, São Paulo há 20 anos ou 30 anos, era
tudo escuro, hoje você já vê o sol, o céu limpo, hoje é totalmente diferente, porque
tem o carro a etanol. Então tudo isso contribui para o meio ambiente, mas se você
não tiver um reconhecimento dessa externalidade positiva, dificilmente o etanol
sobrevive, principalmente hoje que o petróleo não está US$ 100 por barril, está
metade disso.
Mas não há indicação por parte do Governo de que alíquota da Cide volte
integralmente agora...
O próprio governo brasileiro anunciou que, em 2030, teremos 50 bilhões de litros
de etanol. Para se ter essa quantidade ele precisa incentivar a indústria do etanol a
fazer novos investimentos, novas fronteiras, aí que eu acredito que haverá um
incentivo, ou através de uma Cide, de uma Cide ambiental, ou de um
reconhecimento da externalidade positiva do etanol.
As duas visitas da presidente Dilma Rousseff (PT) a Piracicaba trouxeram
esperança para o setor?
Sim, porque a gente quis mostrar para a presidente o quanto o setor está evoluído,
o quanto a gente está investindo em tecnologia. Quando a trouxemos para a
Raízen para ver a tecnologia de segunda geração, muito mais ver a tecnologia
industrial, o quanto ela está evoluindo, ela ficou muito contente porque, no etanol
de segunda geração você tem menores emissões de C02 que o próprio etanol de
primeira geração (cerca de 17 vezes menos), a gente consegue vender isso
melhor do que o de primeira geração. E no CTC (Centro de Tecnologia
Canavieira), a gente quis mostrar a evolução da tecnologia agrícola. Tivemos
muito retorno positivo dela, porque se vê como estamos evoluindo no plantio de
cana, nas novas variedades, até transgências, isso dá uma esperança para o
Brasil. Somos uma terra muito rica em agricultura, o Brasil tem competitividade na
agricultura, e isso que deu esperança para ela.
E como foi a reação da presidente nas visitas?
Ela ficou muito emocionada. Ela faz muita pergunta técnica com relação a todas
essas evoluções que o setor tem feito e ficou muito entusiasmada com isso,
principalmente em um período que antecede a COP 21 na França.
E como está atualmente a produção do etanol de segunda geração?
Nós instalamos a primeira planta comercial de etanol de segunda geração na
(usina) Costa Pinto, está na primeira fase ainda, que é a produção de etanol no
C6, que são seis carbonos. Agora é a produção através do C5, isso deve ser
finalizado em 2017. Estamos na fase de aprendizado e quando essa planta estiver
totalmente pronta ela produzirá 40 milhões de litros (por safra). Esse ano temos
expectativa de produção de 3 a 4 milhões de litros.
De forma geral, como Piracicaba tem sentido essa crise econômica?
Basicamente, Piracicaba, com a vinda da Hyundai e de outras empresas no auge
do setor da cana, a cidade cresceu muito. Claro que nesta crise houve uma
estabilizada e ela sofre também. Todas as empresas ligadas ao setor sofrem, você
tem menos empresas e geração de renda com a crise. Por outro lado, há
empresas que tem uma competitividade maior de exportação e vão ser
beneficiadas com a desvalorização cambial.
As perspectivas para o futuro da cidade são boas...
Acredito que Piracicaba sofra, hoje, menos que as demais cidades, mas ela vai
acompanhar a evolução do país também. A reação não depende só de Piracicaba
e das empresas daqui. Vendemos nosso produto para o Brasil como um todo e
vendemos para fora do país, então essa reação vai depender muito do país
melhorar e da situação de mundo melhorar também. As perspectivas para a cidade
são boas. As expectativas para o Brasil são boas a médio e longo prazos, o
importante é você se adaptar neste curto prazo e fazer a lição de casa.
Quando o país sairá da crise em sua opinião?
Levará uns dois anos. Acredito que 2016 será um ano muito difícil também e, em
2017, a gente comece a se recuperar. Os setores de exportação vão alavancar
(essa recuperação), porque houve uma correção do câmbio como um todo. Agora
as empresas que têm dívidas em dólar estão com uma situação muito difícil, muito
delicada financeiramente.
E quanto ao setor sucroenergético especificamente?
Nosso setor vive de momentos. É um setor que tem açúcar como commodity e o
etanol que depende do preço da gasolina. O setor de commodities é de altos e
baixos. Vivemos um período muito ruim durante os ultimos cinco anos e a acredito
que viveremos um período bom daqui para a frente, começa-se um ciclo bom de
três a cinco anos onde teremos uma falta de produto no mundo e nós somos
capazes de produzir. E a Raízen é uma empresa bem preparada, bem estruturada,
que fez a lição de casa e deve se destacar em um sistema como um todo. Os
investimentos necessários sempre foram mantidos pela empresa, mesmo com a
crise. Fizemos a lição de casa, terminamos todos os projetos de geração de
energia e estamos terminando dois projetos de expansão de usinas, uma em
Paraguaçu Paulista (SP) e outra em Caarapó, no Mato Grosso do Sul.
Fonte: Jornal de Piracicaba - 05/11/2015
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Pedro Mizutani acredita que setor sucroenergético deve