Informativo
Técnico
Características dos corretivos de acidez
Dr. Fabio Vale –Adubai Consultoria
A acidez do solo ocorre devido a presença de íons
+
H livres em solução, gerados por reações como a
decomposição de materiais orgânicos e a solubilização
de fertilizantes nitrogenados, por exemplo. A correção
consiste em neutralizar esses íons, através da aplicação
de produtos capazes de gerar ânions OH-, conhecidos
como corretivos de acidez ou calcários
de íons OH- que o produto poderá fornecer para reagir
com os íons H+. O seu valor é um índice relativo à
capacidade neutralizante de seus constituintes em
relação ao padrão carbonato de cálcio puro (CaCO3),
que tem o PN igual a 100%. Isso justifica porque o PN
de certos corretivos é superior a 100%. Produtos mais
ricos em magnésio tendem a ter PN superiores.
De acordo com a Legislação Brasileira, corretivos
da acidez dos solos devem ser capazes de fornecer os
ânions neutralizantes, assim como conter em sua
constituição pelo menos um dos nutrientes cálcio e
magnésio. Incluem nessa classificação os produtos à
base de carbonatos, óxidos, hidróxidos, além dos
silicatos. Os produtos à base de carbonatos e silicatos
tem correção mais lenta da acidez, devido a
necessidade de transformações químicas no solo do
carbonato em OH- após a aplicação. Já os óxidos e
hidróxidos são mais rápidos, porque já sofreram ações
industriais, como a calcinação, que modificaram
quimicamente o produto e já possuem OH- disponível.
Já o RE indica a velocidade de ação dos produtos
na correção do solo, em função da granulometria.
Partículas menores que 0,3 mm de diâmetro reagirão
completamente num período até três meses após a
aplicação. As partículas maiores que 0,3 e menores
0,84 terão 60% de seu peso reagindo nesse mesmo
período, e o restante após. As maiores que 0,84 e
menores que 2 mm terão 20% de reatividade,
enquanto que as partículas maiores que 2 mm não
reagirão durante curto e médio prazo. A reatividade, a
rigor, indica quanto do PN vai agir nos primeiros três
meses devido às diferenças granulométricas do
produto. O valor máximo do RE é 100%, que significa
que todas as suas partículas são menores que 0,3 mm
de diâmetro.
Após a identificação da necessidade de aplicação
de corretivos de acidez, a escolha do produto mais
adequado a cada situação trará, com certeza, os
maiores retornos em termos de produtividade e
rentabilidade. E esse é o grande desafio dos
agricultores, para a escolha do corretivo que lhe trará
os maiores benefícios
Em geral, a avaliação da qualidade de corretivos é
feita com base no PRNT (poder relativo de
neutralização total), que é o índice que aglutina duas
características do produto, o poder de neutralização
(PN) e pela Reatividade (RE). O PRNT é calculado pela
seguinte expressão:
PRNT =
PN x RE
100
O PN indica a capacidade potencial do corretivo
em neutralizar a acidez dos solos, isto é, a quantidade
Portanto, somente o valor do PRNT não é um
indicativo único da eficiência dos corretivos; a rigor ele
serve para definir a dose do corretivo a ser utilizada.
Para se caracterizar a eficiência, outros fatores devem
ser levados em conta na seleção de produtos: a forma
química do corretivo que está presente no produto, o
PN e o RE, e também as concentrações de cálcio e
magnésio. Desse modo, o agricultor terá capacidade de
ajustar a época de aplicação do produto em função das
características do corretivo e da cultura a ser plantada,
definir como aplicar de forma mais eficiente em termos
operacionais o produto, além de prever o efeito
residual do corretivo.
Efeito residual é o tempo de duração da correção
da acidez, e depende de vários fatores: dosagem de
corretivo usada, tipo de solo, adubações, intensidade
do cultivo, dentre outros. Porém um fator importante
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no efeito residual é a reatividade, isto é, quanto mais
rápida a ação do corretivo, menor é a duração da
calagem e vice-versa. Portanto, reatividade e efeito
residual são duas características antagônicas.
Um mito existente sobre a utilização de corretivos
de acidez do solo refere-se à definição de que, quanto
maior o PRNT, maior a velocidade de reação,
atribuindo-se a possibilidade de aplicações dos
corretivos mais próximos do plantio para produtos com
PRNT mais elevado. Se os produtos forem compostos
de mesma base química, por exemplo, carbonatos, a
velocidade de correção é a mesma, pois para ambos
existirá a necessidade das transformações no solo para
forma ânions OH-. A simples correção das doses em
função do PRNT igualará a eficiência dos produtos.
A velocidade de reação somente será maior se for
feita a comparação entre bases químicas diferentes,
isto é, produtos à base de óxidos e hidróxidos por já
trazerem os ânions OH- e sua constituição, terão
correção mais rápida, e podem realmente ser aplicados
mais próximos do plantio. Porém deve-se atentar que
normalmente poderão ter maior custo, além de maior
dificuldade operacional na aplicação. Tudo isso deve
ser levado em consideração na escolha dos corretivos.
Outra tendência que normalmente se considera
nas discussões sobre eficiência dos corretivos de acidez
do solo é que, quanto maior o PRNT, menor o efeito
residual do calcário. Esse conceito não é correto pois,
como já discutido anteriormente, o PRNT é um valor
relativo a dois parâmetros, o poder de neutralização do
material, e a granulometria do produto. O residual do
produto somente poderá ser avaliado ao se considerar
a forma química presente no corretivo e o seu grau de
moagem. Normalmente terão maior residual os
produtos à base de carbonatos e silicatos, e que
apresentem valores de RE mais baixos.
A importância do RE, ou seja, do grau de moagem
do corretivo, será primordial para se definir a
durabilidade do efeito do corretivo de acidez. Essa
característica dos produtos também terá relação direta
com a aplicabilidade do produto. Quanto maior o RE do
calcário, a tendência será de maior dificuldade na
aplicação, isto é, apresentar maior deriva das partículas
para fora da área que se está corrigindo. É comum
alguns técnicos e consultores corrigirem a dose do
produto para cima, para evitar que as perdas com a
deriva influenciem na qualidade da correção. Além
disso, a utilização de produtos com alto RE também
exigirá regulagens mais adequadas dos equipamentos,
evitando trabalhar com faixas de aplicação mais largas,
o que pode reduzir o rendimento operacional. Existem
metodologias para se reconhecer como é a faixa de
distribuição no solo de cada produto, em função de seu
PRNT. Na dúvida, elas devem ser aplicadas na prática,
para posteriormente se considerar os resultados
também nos cálculos para a escolha do corretivo mais
adequado para a situação.
Incluir ainda, no processo de seleção do produto,
qual o objetivo da correção a acidez, isto é, para que
cultura está se manejando a área. Para as culturas de
ciclo mais longo, como cana-de-açúcar, café, citros e
outras frutas, nas quais a incorporação em
profundidade dos corretivos de acidez somente poderá
ser realizada apenas na operação de plantio, a
utilização de calcários com maior efeito residual
poderá favorecer a longevidade da cultura em uma
mesma área. Isso deve ser também considerado na
escolha do corretivo mais adequado.
E por último, lembrar ainda das concentrações de
cálcio e magnésio presentes nos produtos antes da
definição do corretivo que trará maior resposta
agronômica e econômica. As culturas apresentam
necessidades específicas em relação a esses dois
nutrientes. Ambos terão importância direta na
produtividade e qualidade das culturas. E na grande
maioria dos manejos adotados, a adição de cálcio e
magnésio se restringe apenas ao teor contido nos
corretivos de acidez. No caso do cálcio essa
preocupação é ainda maior em áreas aonde não se
aplicará gesso agrícola e na qual serão utilizados de
formulações NPK de alta concentração. E para o
magnésio, o caso é ainda mais preocupante, pois para
a grande maioria das culturas não existem fontes
alternativas para a aplicação desse nutriente. Por isso,
na dúvida, utilize produtos mais ricos em magnésio.
Tomando todos esses cuidados, com certeza a
operação de correção de acidez do solo terá o máximo
retorno em rentabilidade para a agricultura.
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