HISTÓRIAS CRUZADAS BRASIL – CABO VERDE
Liliane Maria Santana
Maria dos Reis M. Tavares
Milena Capalbo Sapede
Thais Peluzo Soares
Resumo: O Projeto consiste em ações de cooperação educativa e formativa entre a Delegação do
Ministério da Educação da cidade da Praia, a escola Polo II e o Colégio Emilie de Villeneuve em
São Paulo, iniciado no mês de maio de 2011. Foram contempladas três ações fundamentais:
Intercâmbio de cartas entre alunos, arrecadação de livros para inauguração de bibliotecas
escolares cabo-verdianas e formação de professores. O intercâmbio de cartas manuscritas
realizou-se entre alunos do 5º ano dos dois países, envolvendo aproximadamente 200 estudantes
e teve como foco o relato de aspectos culturais e históricos. Para a inauguração da biblioteca
escolar foram arrecadados por volta de 1000 livros a partir de campanhas protagonizadas pelos
alunos do colégio Emilie. Com o intuito de cuidar do recebimento e uso adequado do material,
docentes do colégio Emilie de Villeneuve ministraram a palestra “Leitura e contação de histórias
no cotidiano escolar” para 600 professores da Ilha de Santiago. No Brasil, o Simpósio promovido
pela Rede Azul de Educação contou com a participação, como ouvinte, de três gestoras da cidade
da Praia. O projeto permanece em desenvolvimento.
Summary: The Project consists of educational and training cooperation actions between the Office
of the Ministry of Education of the city of Praia, the Polo II elementary school and the Emilie de
Villeneuve elementary schoool in Sao Paulo, started on May, 2011. We covered three key
components: Exchange of letters between students, collecting books for school libraries
inauguration of Cape Verde and teacher training. The exchange of handwritten letters took place
between the 4th grade students of both countries, involving a number close to 200 students and
focused on the statement of cultural and historical aspects. For the inauguration of the school
library were collected about 1000 books on campaigns by organized by the students of college
Emilie. In order to receive the care and proper use of the material, teachers of the college Emilie
de Villeneuve ministered a lecture on "Reading and storytelling in everyday school" for 600
teachers from Santiago Island. In Brazil, the Symposyum sponsored by the Blue Network of
Education with the participation as a listener of three managers of Praia. The project remains
under development and expansion of participants in the above mentioned.
O “Projeto Histórias Cruzadas: Brasil - Cabo-Verde” foi concebido pela Professora
M., doutoranda no Programa Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
e a professora T. do 5° ano - Ensino Fundamental do colégio Emilie de Villeneuve,
mestranda no Programa Psicologia da Educação também na mesma universidade.
Durante encontro das duas educadoras, M. comentou que sua nacionalidade é
cabo-verdiana e partilhou aspectos da educação básica deste país. Dentre os temas
abordados, a carência de bibliotecas escolares e, consequentemente, a dificuldade dos
docentes incentivarem o hábito de leitura em seus alunos, despertaram o desejo em
ambas de buscar alternativas para minimizar a problemática enfrentada pela sociedade
cabo-verdiana.
Neste sentido, germinou a ideia de buscarem formas de arrecadação de livros no
Colégio Emilie de Villeneuve por meio de doações da comunidade escolar, a serem
encaminhadas para escolas cabo-verdianas afim de implementar bibliotecas escolares a
serviço das comunidades aprendentes.
Com isso, o projeto foi desenvolvido contemplando três ações fundamentais, que
articularam-se ao longo da realização do mesmo: Intercâmbio de cartas entre alunos,
arrecadação de livros para inauguração de bibliotecas escolares cabo-verdianas e
formação de professores.
A realização de intercâmbio de cartas entre estudantes brasileiros e caboverdianos propiciou a ampliação do universo cultural dos mesmos, por meio da partilha de
experiências de vida e de informações sobre Cabo Verde e Brasil, e mobilizou-os a
refletirem sobre diferentes realidades e soluções possíveis para os desafios enfrentados
por ambos os países e estabelecerem vínculo entre os pares correspondentes. Esta etapa
precedeu e promoveu a campanha de arrecadação e de recebimento do material
enriquecido de significado emocional, uma vez que os livros doados tornaram-se uma
representação física de uma nova amizade.
No total foram quatro momentos de troca de cartas manuscritas e enviadas via
correio, o que possibilitou aos estudantes brasileiros envolvidos no projeto experienciar
uma resignificação do processo de comunicação no século XXI. Para alunos da camada
social brasileira mais favorecida, que compõe o perfil dos estudantes brasileiros
participantes, a tecnologia e o imediatismo desta ferramenta fazem parte do seu cotidiano.
Entrar em contato com a comunicação manuscrita trouxe aos alunos a possibilidade de
redimensionar o tempo de contato humano. Foi necessário aprender a esperar o
momento da chegada da carta, a refletir sobre as informações recebidas, a planejar e
organizar a informação do conteúdo que seria transmitido por meio da carta.
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Existem duas línguas oficiais no país: o crioulo e o português, ambos heranças
culturais da colonização portuguesa. O crioulo é a língua materna e no momento em que
a criança ingressa no processo de escolarização a língua portuguesa passa a ser o meio
de comunicação legitimado no espaço educativo. Neste sentido, essa experiência
contribuiu para que alunos cabo-verdianos resignificassem e ampliassem o uso da língua
portuguesa para além do aspecto acadêmico, atribuindo-a o caráter comunicativo. A
competência escrita como valor comunicativo social foi valorizada por todos os envolvidos
e as habilidades necessárias para se atingir essa competência foram trabalhadas no
decorrer do projeto.
Após seis meses de trocas de cartas e, portanto, tendo o vínculo estabelecido
entre os pares correspondentes, iníciou-se, no colégio Emilie Villeneuve, a campanha de
arrecadação de livros protagonizada pelos alunos do 5° ano para a implantação da
primeira biblioteca escolar do projeto, na escola cabo-verdina, Polo II. Esta etapa resultou
na arrecadação de aproximadamente mil livros durante o mês em que foi realizada e
justificou-se pelas poucas bibliotecas escolares presentes na Praia.
A utilização do português como idioma oficial também contribuiu para o efetivo uso
do material, apesar dos embates culturais diante do exclusivo uso do português nas
escolas. A opção por trabalhar com a constituição de bibliotecas escolares também se
justifica pelo status de espaço privilegiados do saber, nos quais o patrimônio, a memória
coletiva e a herança cultural (Silveira, 2010) dos homens encontram solo para suas
bases, edificando e valorizando seus vínculos identitários.
O Manifesto da UNESCO referente a biblioteca pública (UNESCO, 1994) aponta
para a necessidade de acesso à informação, fundamentando a existência de bibliotecas
públicas na memória e disseminação do seu acervo, o que exige um processo social
inclusivo de acesso, uso e democratização da informação (científica, cultural...).
As bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido o meio mais importante de
conservar nosso saber coletivo. Foram e são ainda uma espécie de “cérebro universal
onde podemos reaver o que esquecemos e o que ainda não sabemos” (Eco, 2003, p.2. In:
Rosa e Odone, 2006). E o livro é o meio principal e insubstituível da difusão da cultura e
transmissão do conhecimento, do fomento à pesquisa social e científica, da conservação
do patrimônio nacional, da transformação e aperfeiçoamento social (Lei do Livro de 30 de
outubro de 2003). Entretanto, não basta ter acesso, é fundamental que o indivíduo seja
estimulado à prática de leitura. Caso contrário, o livro não cumpre a sua função (Rosa e
Oddone, 2006) . O livro não existe sem um leitor. Só existe como objeto, mas sem o leitor
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o texto do qual ele é portador é virtual (Chartier, 1998, p. 154). O indivíduo que
desenvolve habilidades leitoras faz um melhor uso do conhecimento do qual tem acesso.
O cotidiano escolar se configura como toda produção que se constrói dentro da
escola, na relação com seus sujeitos, produzindo uma cultura específica, que materializa
valores expressos daquele contexto. A escola é um espaço de produção cultural e é
privilegiado para iniciar a construção de uma sociedade leitora, além de outras ações na
sociedade.
Atualmente o principal fator para estabelecer a leitura como formação cultural é a
integração entre a biblioteca e a comunidade com suas respectivas necessidades
(Scheffer, Moro e Morigi, 2007). Para que a biblioteca se torne um espaço de referência é
preciso estabelecer um vínculo significativo com a comunidade, oferecendo o que esta
almeja, qual seja, o conteúdo informacional.
Com o intuito de cuidar do recebimento e uso adequado do material arrecadado,
docentes do colégio Emilie ministraram a palestra “Leitura e contação de histórias no
cotidiano escolar” para 600 professores convidados da Ilha de Santiago. Foram
abordados três temas centrais: a contação de histórias na sala de aula, a importância do
hábito de leitura e o uso das bibliotecas escolares.
O Simpósio promovidos pela Rede Azul de Educação contou com a participação
como ouvinte de três gestoras da cidade da Praia dando inicio à uma parceria de
formação pedagógica.
O projeto permanece em desenvolvimento e ampliação de participantes nos
aspectos acima citados. Atualmente o principal desafio é a busca de parceiros no envio
dos livros arrecadados, dada a intenção de implementar bibliotecas escolares em mais
escolas necessitadas deste espaço educativo.
Referências Bibliográficas:
CHARTIER, Roger. As aventuras do livro: do leitor ao navegador. São
Paulo: UNESP, 1998.
ROSA, Flávia Goulart Mota Garcia. e ODONE Nanci. Políticas públicas para o livro, leitura e
biblioteca. Revista Ciência da Informação. Dez. 2006.
SCHEFFER, Eliane Maria Kronhardt. MORO, Eliane L. da Silva. MORIGI, Valdir José.
Fortalecendo elos, transformando cidadãos: as relações entre a biblioteca escolar e a comunidade.
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Um estudo na biblioteca Lourenço Filho em Porto Alegre-RS. Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, 2007.
SILVEIRA, Fabrício José Nascimento da. Biblioteca, memória e identidade social. In: Perspectivas
em Ciência da Informação, v.15, n.3, p.67-86, set./dez 2010.
UNESCO. Manifesto da Unesco para bibliotecas públicas (1994). Disponível
em:<http://www.sdum.uminho.pt> Acesso em 20 jun. 2012.
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