PROJETO VERDESINOS
Restauração da mata nas margens do Rio dos Sinos, parcerias que deram certo.
Encabeçado pelo Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos
(Comitesinos) e pela Fundação Universitária para o Desenvolvimento do Ensino e da
Pesquisa (Fundepe), o Projeto VerdeSinos tem patrocínio da Petrobras, através do
Programa Petrobras Socioambiental e apoio da Unisinos. A iniciativa surgiu em 2009,
oriunda do Projeto Piloto de Recomposição da Mata Ciliar da Bacia do Rio dos Sinos,
que em 2008 já desenhava uma parceria entre o Comitesinos, produtores rurais,
Ministério Público Estadual (MP), Emater, Irga, sindicatos rurais, prefeituras e outras
entidades da região.
O objetivo inicial era uma ação permanente para reverter a degradação ou ausência
da vegetação ribeirinha, detectadas pelo Projeto Monalisa (também realizado com
apoio da Unisinos e que, entre 2004 e 2006, mapeou quase 3 mil quilômetros de
córregos, arroios e rios da região). Na primeira fase, o VerdeSinos superou a marca de
330 hectares de mata ciliar preservados ou em processo de recuperação, com mais de
52 mil mudas plantadas, 114 mil metros de arame e 6 mil mourões. Tudo isso
mobilizando mais de 6 mil pessoas, em 21 municípios da região.
Banhados, encostas, nascentes e unidades de conservação
Segundo a coordenadora geral do VerdeSinos, professora doutora Luciana Paulo
Gomes, a Bacia do Rio dos Sinos não é crítica em disponibilidade hídrica. São 4 mil
quilômetros de malha hídrica distribuída em 3.696 quilômetros quadrados de área. A
precipitação média anual é de 1.483 milímetros, com eventuais chuvas concentradas
em dois ou três meses, provocando grandes inundações. A alternância entre escassez
de água e abundância em curtos períodos é recorrente, comprovando oferta de água e
reafirmando a ineficácia da política de recursos hídricos, incapaz de propiciar a
conservação das águas nos limites da bacia.
Por isso, a partir de 2014 o VerdeSinos entrou em um novo patamar, ampliando suas
ações também para a identificação, preservação e recuperação de áreas úmidas
(banhados), nascentes e encostas, além da criação de Unidades de Conservação.
Para tanto, o Comitesinos está contando com toda a força dos voluntários que
participaram da primeira etapa (e que deve ser ampliada) e novamente vai casar as
ações em campo com o trabalho em educação ambiental (não só em sala de aula,
mas também junto às comunidades).
Sem falar no apoio da pesquisa científica, que também já esteve na primeira etapa e
agora foi fortalecida, com a entrada também da Universidade Feevale, da UFRGS e da
União Protetora do Ambiente Natural (UPAN). As três instituições, mais a Unisinos,
estão trabalhando em 13 linhas de pesquisa, abrangendo desde a destinação de
resíduos até a identificação e caracterização de banhados e a identificação dos
serviços ambientais prestados pelas áreas úmidas.
A receita é simples: os pesquisadores estão indo a campo para realizar estudos sobre
a vida aquática e terrestre, além da situação dos ecossistemas e a melhor maneira de
preservá-los ou recuperá-los. O conhecimento gerado por eles é imediatamente
compartilhado, sendo tanto colocado em prática nas ações dos voluntários e
instituições, como traduzido nas aulas de Educação Ambiental pela região. Além de
embasar as articulações pela conservação e recuperação de áreas estratégicas para
manutenção dos recursos hídricos da região.
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Conhecimento para informar e esclarecer
A metodologia do VerdeSinos se sustenta na produção de conhecimento e informação
de cunho científico, apresentados em ferramentas de comunicação e trabalhados com
o público alvo através de estratégias de mobilização e participação social, incluindo
Educação Ambiental. Neste sentido, de um lado, é prevista a participação do meio
acadêmico e do setor técnico agrícola para a produção de conhecimento e
informações. De outro, educadores, lideranças comunitárias e profissionais com
habilitação em mobilização social, para envolver e comprometer as comunidades
direta e indiretamente envolvidas no raio das intervenções pretendidas.
“Com a execução do projeto pretende-se preservar, pelo menos, 10,4% das áreas
úmidas remanescentes, de um total de 4.698 hectares e estabelecer uma rede de
conservação de 20 hectares de propriedades rurais em encostas de morros e
nascentes”, ressalta a coordenadora Luciana Gomes.
A capacidade de áreas úmidas reterem e oxidarem cargas de origem doméstica e
industrial e armazenarem água na época de cheias as torna estratégicas para o
gerenciamento desse recurso. De acordo com Luciana, o VerdeSinos está
inventariando áreas as úmidas remanescentes, avaliando suas contribuições no
aumento da disponibilidade e melhoria da qualidade das águas, por modelagem
hidrológica e valoração; avaliando a conservação por indicadores biológicos e
químicos e estabelecendo critérios para priorizar a manutenção e a restauração de
áreas úmidas.
“Os resultados serão trabalhados com o Ministério Público Estadual para impedir
novas ocupações e drenagens, e ainda recuperar aquelas passíveis de intervenção”,
acrescenta Luciana.
Considerações similares são observadas nas áreas de reservas florestais. Fragmentos
restantes são fortemente alterados. Afora dois parques urbanos - apesar da Bacia do
Rio dos Sinos estar inserida na região mais populosa do Rio Grande do Sul, (12,6% da
população e 1,4% da área), não há outras unidades de conservação registradas no
Sistema Nacional de Unidades de Conservação. A efetivação de UCs faz parte do
projeto, propiciando infiltração de água e recarga, além de espaços de Educação
Ambiental. Nascentes e encostas de morros também são afetados. Neste sentido,
Luciana destaca que “há descuido no cumprimento da legislação, desconhecimento
dos serviços ambientais prestados e necessidades econômicas”.
Práticas históricas e equivocadas de plantio, ausência de alternativas mais
conservacionistas e forte pressão imobiliária resultam na ocupação destes espaços
estratégicos que irão abastecer a malha hídrica. Experimentos serão testados em
áreas rurais para corrigir tais rumos.
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