ECONOMIA SOLIDÁRIA: O CASO DO PROGRAMA “PROJETO
ESPERANÇA/COOESPERANÇA”, SANTA MARIA,RS
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Apresentação Oral-Políticas Sociais para o Campo
LEARA DAMBRÓSIO ------; RITA INÊS PAETZHOLD PAULI.
UFSM, SANTA MARIA - RS - BRASIL.
ECONOMIA SOLIDÁRIA: O CASO DO PROGRAMA “PROJETO
ESPERANÇA/COOESPERANÇA”, SANTA MARIA,RS
Grupo de Pesquisa: Políticas Sociais para o Campo
Resumo
O presente artigo tem como objeto de estudo, fazer a diferenciação entre economia popular e
economia popular solidária, mostrar alguns aspectos acerca da formação e o desenvolvimento
da economia solidária no Brasil a partir dos anos de 1980, e caracterização histórica do
desenvolvimento do programa “Projeto Esperança/Cooesperança” em Santa Maria, RS. A
partir de informações da Secretaria Nacional de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho
e Emprego, realiza-se o Mapeamento de Economia Solidária no Brasil, mostrando a
distribuição dos empreendimentos em todo o território nacional. O Programa “Projeto
Esperança/Cooesperança”, Santa Maria, RS, inicia a partir de 1980, através da iniciativa de
lideranças e pesquisadores da Diocese de Santa Maria, UFSM, EMATER e outras
organizações, e é fundamentado no Livro “A Pobreza, Riqueza dos Povos”, obra de Albert
Tévoédjré. Foi realizada uma pesquisa de campo junto às pessoas e famílias que compõem os
grupos do Programa, sendo que os resultados e análises contribuíram para um conhecimento
maior da situação sócio-econômica dos integrantes.
Palavras-chaves:Economia Solidária; Renda; Inclusão Social; Programa “Projeto
Esperança/Cooesperança.
Abstract
The proposal of the work is to distinguish the popular economy and the solidary popular
economy, and some consideration. It also shows the formation and the development of the
solidary economy in Brasil since the years 1980, and the historic characterization of the
development of the program “Project Esperança/Cooesperança” in Santa Maria – R.S. The
mapping of the Solidary Economy in Brasil is done through the National Secretary of Solidary
Economy and the Ministery of Job, showing the distribution of the enterprises in all the
national territory. The program “Project Esperança/Cooesperança”, Santa Maria – R.S, begins
from 1980 on, through the Diocese of Santa Maria, UFSM, Emater and other organizatoions,
and it is base on the book “A Pobreza, Riqueza dos Povos”, from Albert Tévoédjré. A search
with the families and people who are part the groups of the Program was done and its results
and analysis contributed to a larger knowledge of the socio-economic situation of the
participants.
Key Words :Solidary
Esperança/Cooesperança.
Economy;
revenue;
Social
Inclusion;
Program
“Project
1. INTRODUÇÃO
É sabido que o capitalismo atual, que tem como afirmação o pensamento neoliberal, que
consiste na reestruturação dos meios e os modos de produção, adotadas nos últimos 15 anos,
levou a uma forte redução sistemática do emprego/trabalho. Poderiam ser citadas algumas
destas modificações no modo de produção capitalista, como o forte investimento em novas
tecnologias de ponta: informática, micro eletrônica, micro mecânica, robótica, biotecnologia,
etc., novas formas de gestão: qualidade total, círculos de controle de qualidade, reengenharia,
etc. que na sua grande maioria, foram importadas do modelo japonês – o Toyotismo, a
flexibilização financeira e das relações de trabalho, que na sua grande maioria financiadas e
idealizadas pelo Banco Mundial, FMI, BIRD, etc, e as políticas econômicas adotadas tendo
como objetivo a estabilização dos preços, levaram, consequentemente, a criação de um exército
de reserva tanto industrial quanto terciário.
Diante da crise estrutural do desemprego e das urgências por ele provocadas, surge um
cenário que tem levado os setores populares a desenvolverem as mais variadas formas e
atividades como alternativas de geração de renda e trabalho. A economia popular cresce,
representando uma alternativa de sobrevivência a milhões de pessoas que se encontram
excluídas do mercado de trabalho. O principio da solidariedade surge como uma saída para um
sistema individualista competitivo que caracteriza a sociedade capitalista. As iniciativas de
geração de trabalho e renda que tem como base a forma solidária e associativa tem se
multiplicado em todo o território nacional e em outros países, chamando atenção dos poderes
públicos, entidades de classe, ONG´s e Igrejas.
A economia solidária utiliza-se dos instrumentos como desenvolvimento endógeno e
sustentável, com iniciativas da autogestão, confiança mútua, cooperação, democracia, autosustentação, desenvolvimento humano e a responsabilidade social. Princípios fundamentais
utilizados por organizações urbanas ou rurais, de produtores, de consumidores e de crédito. A
economia solidária vem se transformando em um mecanismo gerador de trabalho e renda, pois
as pessoas que participam destes empreendimentos são predominantemente trabalhadores de
segmentos sociais de baixa renda, desempregados, ou em via de desemprego, trabalhadores do
mercado informal ou subempregados e pelos empobrecidos.
Na primeira subseção apresentam-se a diferenciação entre economia popular e economia
popular solidária, pois a tendência a generalização destes conceitos pode levar-nos a equívocos
de análise de determinadas iniciativas econômicas, principalmente na elaboração de políticas
públicas para este setor, o da economia popular e solidária, pois como afirma Razeto ( 1993, p.
45) “ ...nem toda economia popular é economia solidária e nem toda a economia solidária é
parte da economia popular.”
Na segunda subseção é tratado a temática comercialização direta e a importância que
assumem as feiras para a economia solidária no Brasil e RS, culminando com um traçado do
perfil que apresenta a Economia Solidária no Brasil.
Na terceira subseção é efetuada uma caracterização histórica do desenvolvimento do
programa “Projeto Esperança/Cooesperança” em Santa Maria.-RS, deste a sua constituição até
a atualidade, analisando à situação sócio-econômicas dos cooperados, após terem ingressado
no programa.
2. CONCEITOS
SOLIDÁRIA
E
CONSIDERAÇÕES
SOBRE
A
ECONOMIA
POPULAR
1.1
Economia Popular
Economia popular é o conjunto de atividades econômicas e práticas sociais desenvolvidas
pelos setores populares no sentido de garantir, com a utilização de sua própria força de trabalho
e dos recursos disponíveis, a satisfação de necessidades básicas.
A economia popular é composta por um determinado público, que abrange desde
desempregados qualificados ou não, aos totalmente excluídos dos processos de
desenvolvimento de tecnologias, dos programas sociais oficiais (saúde, habitação, educação,
aposentadoria, etc), da distribuição de renda e do sistema econômico oficial. Trata-se de um
setor autônomo, que muitas vezes passa por dificuldades, não apenas por serem pouco
numerosos, mas em função de seu isolamento. A economia popular é fortemente heterogênea,
podendo-se afirmar, segundo Tiriba apud Corrêa (1997) que são cinco os principais segmentos
econômicos em que se encontram representados:
1) Soluções assistenciais e filantrópicas (mendicância, Programas Oficiais de assistência, etc);
2) Atividades ilegais e pequenos delitos (venda de drogas, prostituição, pequenos furtos,etc);
3) Iniciativas individuais não estabelecidas e informais (vendedores em geral, camelôs, etc);
4) Microempresas e pequenas oficinas e negócios de caráter familiar, individual ou de dois ou
três sócios (as mais diversas formas de associativismo) ;
5) Organizações econômicas coletivas, populares e solidárias, como as Cooperativas.
Segundo Razeto (1993), a economia popular é uma estratégia de sobrevivência à escolha
de cada individuo que opta por uma ou mais das atividades acima citadas, sendo esta atividade
geralmente encarada de forma transitória. Alguns não têm intenção de realizá-la para o resto
de sua vida, é apenas uma “estratégia de sobrevivência”, que irá suprir suas necessidades
básicas e imediatas. Observa-se de forma cada vez mais presente, sobretudo em grandes
centros urbanos, uma grande parcela de jovens, crianças e adultos, que “inventam” qualquer
atividade para sobreviver, como exemplos tem-se desde os malabarismos nos sinais de trânsito,
homem-estátua nas praças, catadores de materiais recicláveis, vendedores de lanches, doces,
salgados, etc. Essas pessoas, de forma individual ou associativa, contam somente com sua
própria força de trabalho.
1.2 Economia Solidária
A economia solidária é uma estratégia de luta dos excluídos, contra o desemprego,
distribuição de renda e a exclusão social, em que seu processo “...aproveita a mudança nas
relações de produção provocadas pelo grande capital para lançar os alicerces de novas formas
de organização da produção, à base de uma lógica oposta àquela que rege o mercado
capitalista, Tudo leva a acreditar que a economia solidária permitirá dar a muitos, que esperam
em vão um novo emprego, a oportunidade de se reintegrar à produção por conta própria, ou
coletivamente [...] ( FARID, 2002, p.23. apud SINGER, 1998).
A economia solidária busca uma melhora na qualidade de vida, isto é, que essas pessoas
através de seu conhecimento e trabalho tenham o básico necessário para a sua sobrevivência,
desenvolvendo-se em valores éticos, de solidariedade, onde o capital, deixa de ser o agente que
determina as relações sociais.
O trabalho está fundamentado na solidariedade, na organização popular, na tecnologia das
universidades e construção de políticas públicas, a caminho do desenvolvimento sustentável.
As ações sociais são transformadoras, onde a teoria e a prática devem estar interligadas, sendo
que mulheres e homens constroem um projeto novo de sociedade.
A intenção dos projetos de economia solidária é a construção de uma sociedade justa,
economicamente viável, ambientalmente sadia, organizada de forma cooperativa e
politicamente democrática.
Há que se pressupor uma compreensão mais ampla dos movimentos de economia solidária,
que devem ser vistos como formas de resistência pois nem sempre vem acompanhados de
apoio financeiro.
Arruda, afirma que a economia almejada está começando a ser construída em muitos
espaços no Brasil. É a economia em que o valor central não é mais o capital, mas sim o ser
humano, a sua capacidade criativa, o seu conhecimento, o seu trabalho [...] ( ARRUDA, 2000,
p.11 )
Singer, afirma que a economia solidária pode ser realmente uma alternativa e é uma
estratégia de luta do movimento popular e operário contra o desemprego e a exclusão social.
Para o autor:”... ela aproveita a mudança nas relações de produção provocada pelo grande
capital para lançar os alicerces de novas formas de organização da produção, à base de uma
lógica oposta àquela que rege o mercado capitalista. Tudo leva a acreditar que a economia
solidária permitirá, ao cabo de alguns anos, dar a muitos, que esperam em vão um novo
emprego, a oportunidade de se reintegrar à produção por conta própria individual ou
coletivamente...”(SINGER, 2000 p. 138).
Singer mostra que unidades básicas que compõem as economias solidárias são geralmente
associações e cooperativas de produção, consumo, comercialização e crédito: economia
solidária são formas de organização da produção, do consumo e do crédito feitas de forma
democrática. Ou seja, as unidades são de posse coletiva e gerida por seus trabalhadores onde os
direitos de decisão sobre a unidade ou sobre a empresa são idênticos. É a inclinação ao
igualitarismo, onde o trabalho é claramente prioritário. ( SINGER, 1999, p. 01 )
1.3 Economia Popular Solidária
O conceito de Economia popular solidária aparece no inicio de 1990, Razeto define da
seguinte maneira:
[...] no campo da produção, comércio, financiamento de serviços etc. – que compartilham
alguns traços constitutivos essenciais de solidariedade, mutualismo, cooperação e autogestão
comunitária, que definem uma racionalidade especial, diferente das outras realidades
econômicas ( RAZETO, 1993, p. 40 )
Economia Popular Solidária é a soma dos valores populares e solidários, centrada no
desenvolvimento humano e voltada para o atendimento das necessidades coletivas, onde a
pratica da autogestão e cooperação é fator em permanente construção, Gaiger (2000) descreve
as seguintes características da economia popular solidária: a)compreende as alternativas
econômicas para as quais acorrem indivíduos que vivem ordinariamente da venda da sua força
de trabalho e nas quais encontram guarida as categorias sociais postas à margem dos sistemas
convencionais de geração e distribuição da riqueza, ausentes no mercado e no Estado. b) essas
práticas expressam uma reapropriação da experiência operária do trabalho, reconvertida por
princípios de socialização e autogestão; majoritariamente, estão ancoradas na economia
familiar dos setores populares, da qual são um prolongamento e onde encontram primariamente
seu substrato e sua funcionalidade. [...] c) essas práticas econômicas populares inserem-se no
fenômeno mais amplo da economia solidária ou alternativa, a qual abrange uma multitude de
segmentos sociais, agentes e instituições. A economia solidária alinha-se como um movimento
de crítica global ao sistema capitalista, porém de acentuada tendência a encetar iniciativas
concretas, direcionadas ao desenvolvimento humano integral, isto é, individual, social e
ecológico. (GAIGER, 2000. p. 5 )
A Economia Popular Solidária busca consolidar-se dentro de uma nova concepção de
desenvolvimento baseado na integralidade e na sustentabilidade, na produção de bens úteis
para a vida ou que atendam às necessidades básicas. É uma alternativa popular e democrática,
contrapondo-se à lógica capitalista que incentiva a competição e o lucro desenfreado. Não é um
empreendimento baseado na caridade e na filantropia, mas sim, em empreendimentos onde
prevaleça uma nova prática nas relações de trabalho, centrada no desenvolvimento humano e
voltada para o atendimento das necessidades coletivas, onde a pratica da autogestão e
cooperação é o fator em permanente construção. A economia popular solidaria ultrapassa o
econômico, promovendo o desenvolvimento de redes de solidariedade, que exerçam o preço
justo, repartindo os benefícios entre todos de maneira eqüitativa.
Atualmente a economia popular solidária expande-se de diferentes formas, como clubes
de troca. Pois todo o negócio para o seu investimento precisa de um capital de giro, mas as
condições de crédito oferecido pela rede bancária são com altas taxas de juros e um conjunto
de exigências impostas, impossíveis de serem satisfeitas por um pequeno empreendedor. Outro
motivo que impede o crescimento do empreendedorismo a restrição da oferta de moeda, a fim
de evitar a inflação. A característica desses clubes de troca a emissão de moeda própria. A
moeda adotada passa a assumir nomes e regras próprias.
Mas, o que tem direcionado a organização e gestão do trabalho nos empreendimentos
populares e solidários é a Autogestão. Autogerir não é uma tentativa de democratizar a
economia capitalista ou a forma de gestão dos empreendimentos capitalistas, mas mudar seus
fundamentos. A autogestão pressupõe a participação de todos os envolvidos no
empreendimento, a discutirem e realizarem todos os processos que envolvem a organização e
produção do trabalho (seja prestação de serviços ou produção de bens), conduzindo a um outro
patamar não se trata de apenas empregados ou trabalhadores assalariados, mas gestores de
empreendimentos. É necessário recuperar o saber acumulado dos trabalhadores, resignificando
os processos de trabalho que até então estavam nas mãos dos gerentes e, agora, sob outra ótica:
a do trabalho coletivo, cooperado e solidário. Neste sentido a autogestão pode vir a ser um
elemento fundamental para uma nova forma de organizar os processos de trabalho, podendo
ser rompida com:
a) alienação do processo de trabalho (com a autogestão todos os envolvidos no
empreendimento devem e podem participar das discussões e decisões a virem ser tomadas);
b) fetiche do conhecimento (com a participação de todos, num processo de educação
continuada, o conhecimento poderá ser reconstruído com a participação de todos, não sendo
um privilégio de apenas alguns);
c) a estrutura hierarquizada e vertical (com a autogestão não temos distribuição de poder,
mas sim de responsabilidades, onde todas possuem sua devida importância nas várias
interfaces que se entrelaçam).
A autogestão tem o difícil papel de tornar os empreendimentos solidários em centros de
integração democrática e igualitária, além de economicamente produtiva.
2. COMERCIALIZAÇÃO DIRETA E A IMPORTÂNCIA DAS FEIRAS PARA A
ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
As Feiras são grande espaço de formação, articulação, integração, organização e
fortalecimento da proposta da Economia Solidária, entre grupos, entidades, organizações e
políticas públicas. Reforça a integração do produtor e do consumidor e dos grupos organizados
entre si, fortalecendo a rede das organizações solidárias, na perspectiva da construção de
um novo modelo de cooperativismo e desenvolvimento sustentável, alternativo e
autogestionário.
É importante salientar, também, que as feiras podem fortalecer a inclusão no trabalho, a
agricultura familiar, a agroecologia, a cooperação, a cultura da solidariedade, a
agroindústria familiar, a cidadania, e a geração de trabalho e renda, as políticas públicas
contribuindo na construção de um novo modelo de desenvolvimento sustentável, formando
os trabalhadores rurais e urbanos como integrantes no verdadeiro exercício da cidadania e
inclusão social, com gestão participativa.
Há que se ressaltar outro aspecto não menos importante que diz respeito ao resgate da
auto-estima do trabalhador Urbano e Rural, que dialoga diretamente com o consumidor, e
se torna sujeito desta forma de gestão e comercialização direta.
Decorre desse processo a viabilização da formação de redes de comercialização direta e
de redes do consumo justo, ético e solidário, onde produtores e Consumidores constroem
sintonia e integração entre si. Cria uma nova consciência e novas relações nas questões
de gênero e a integração do Urbano e Rural. A Eliminação do vício do consumismo, do
consumo dos produtos de “marcas” e fortalece a consciência do consumo dos produtos
locais e regionais, produzidos pela Economia Popular Solidária. Estabelece uma nova
consciência sobre os cuidados com a saúde, do meio ambiente, da agroecologia e
cidadania. É um amplo processo participativo em construção. Integra a Sociedade Civil
e o Poder Público. Busca sintonia no projeto de transformação e integração do meio
urbano e rural, segundo informações obtidas em entrevista com a Coordenadora do Programa
“Projeto Esperança/Cooesperança.
No Brasil existem inúmeras feiras de economia solidária, e no Estado do Rio Grande do
Sul são o principal movimento de articulação da economia solidária . A história das feiras de
economia solidária no RS, são mobilizadas pelos fóruns para a comercialização dos seus
produtos, que iniciaram em 1998, e foi neste ano que também deu-se inicio em torná-las locais,
dividindo-se em quatro pólos: Santa Maria, Porto Alegre, Passo fundo e Pelotas. No presente
trabalho, será apresentado as feiras realizadas pelo Programa “Projeto Esperança/Cooesperança
em Santa Maria-RS.
2.1 Mapeamento da Economia Solidária no Brasil
A economia popular solidária tem sido uma importante resposta a grande parcela da
população, em situação de exclusão social, em relação às transformações ocorridas no mundo
do trabalho. São milhares de organizações coletivas, organizadas sob forma de autogestão que
realizam atividades de produção de bens, serviços, consumo, crédito e finanças solidárias.
Sabe-se que o Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria Nacional de
Economia Solidária (SENAES) desenvolve um conjunto de ações para o fortalecimento da
economia solidária. Neste sentido a SENAES, em 2004, inicia o desenvolvimento e a
divulgação da economia solidária, através do Programa Economia Solidária em
Desenvolvimento, ( Plano Plurianual 2004 – 2007, do Governo Federal ), onde prevê um
mapeamento da economia solidária no Brasil. Todos esses dados irão constituir o Sistema
Nacional de Informações da Economia Solidária (SIES), um banco de dados eletrônico, com
acesso facilitado ao público.
São considerados empreendimentos econômicos solidários, pelo SENAES, para fins do
mapeamento as organizações:
a) coletivas-organizações suprafamilires, singulares e complexas, tais como: associações,
cooperativas, empresas autogestionárias, grupos de produção, clubes de trocas, redes e centrais,
etc.
b) participantes ou sócios são trabalhadores dos meios urbano e rural que exercem
coletivamente a gestão das atividades, assim como a alocação dos resultados;
c) permanentes, incluindo os empreendimentos que estão em funcionamento e aqueles que
estão em processo de implantação, com o grupo de participantes constituído e as atividades
econômicas definidas;
d) que realizam atividades econômicas de produção e de bens, de prestação de serviços, de
fundos de crédito , de comercialização e de consumo solidário.
O Atlas da Economia Solidária no Brasil (2006), que é a primeira apresentação mais geral
das informações colhidas no mapeamento, fortalece este segmento econômico, dando-lhe mais
reconhecimento e tornando visível seu perfil, abrangência e potencialidades.
2.2 O Perfil da Economia Solidária no Brasil
Foram identificados até o ano de 2006, 14.954 Empreendimentos Econômicos Solidários
(EES) em 2. 274 municípios do Brasil, sendo que 44% dos EES estão concentrados na região
Nordeste e 56 % distribuídos nas demais regiões.
O quadro abaixo mostra a distribuição dos EES no Brasil:
Tabela 1: Quantidade de EES no Brasil por UF/Região – Atlas da Economia
Solidária no Brasil – Fonte: SENAIS
UF
RO
AC
AM
RR
PA
AP
TO
NORTE
MA
PI
CE
RN
PB
PE
AL
SE
BA
NORDESTE
MG
ES
RJ
SP
SUDESTE
PR
SC
RS
SUL
MS
MT
GO
DF
CENTRO-OESTE
Nº de EES
240
403
304
73
361
103
400
1.864
567
1006
1249
549
446
1004
205
367
1096
6.549
521
259
723
641
2.114
527
431
1634
2592
234
543
667
341
1785
Nº de Municípios
40
20
32
14
51
13
84
254
73
83
134
77
101
129
48
63
153
861
101
59
82
147
389
109
133
270
512
25
91
127
15
258
TOTAL
14954
2274
Observando a tabela 1, verifica-se que o Rio Grande do Sul tem o maior numero de
empreendimentos econômicos solidários e o maior número de cidades com empreendimentos
econômicos solidários. A distribuição desses 1634 empreendimentos mapeados no Rio Grande
do Sul, 614 (38%) se encontram na área rural, 664 (41%)na área urbana e 334(21%) na área
rural e urbana.
Gráfico 1: Área de atuação dos empreendimentos no RS – Fonte: Atlas da Economia Solidária
no Brasil, Ministério do Trabalho e Emprego
rural
Urbana
Rural e Urbana
Na forma de organização da economia solidária o Rio Grande do Sul se distingue
nitidamente do perfil nacional, no qual a maior parte dos empreendimentos está organizada sob
forma de associações ( 54%), depois vêm os grupos informais (33%) e as organizações
cooperativas (11%).
3. PROGRAMA “PROJETO ESPERANÇA/COOESPERANÇA”
3.1 Fundamentos Teóricos do Programa “Projeto Esperança/Cooesperança”
Os principais fundamentos teóricos do Programa “Projeto Esperança/Cooesperança” são
apresentados na obra de Albert Tévoédjré, escreve no livro “A Pobreza, Riqueza dos Povos”, a
reinvenção de uma nova economia, onde ele afirma:
Trata-se de retomar os próprios fundamentos da ciência econômica para mudar alguns
pressupostos implícitos como o da prioridade da luta egoística pela vida. O saber econômico
não deve se estabelecer sobre as premissas da vontade de poder e da busca do lucro, mas sobre
os precipícios da boa organização da vida dos grupos humanos, segundo a própria etimologia
do termo “economia” (TÉVOÉDJRÉ, 2002, p. 70 )
Para Tévoédjré, reinventar a economia significa retornar à fonte do conceito de
economia, privilegiar as necessidades sociais e não a produtividade em função do lucro dos
monopólios. O escritor dá ênfase às pequenas empresas, pequenas profissões, que fazem parte
da vida cotidiana na cidade, como artesões, vendedores ambulantes e o setor rural, onde
merecem serem protegidos a fim de que se organize e se integre na economia, tornando-se
setores essenciais e dinâmicos para o desenvolvimento social. Mas isto tudo exige um
planejamento para ser eficaz, um planejamento de recursos naturais, de produção e dos
recursos humanos. Tévoédjré afirma que:
Os meios de desenvolvimento são certamente de ordem técnica: fala-se de planejamento
dos recursos naturais, de planejamento da produção. Mas somente o homem é o promotor do
desenvolvimento; só ele é o seu objeto e a sua razão de ser; só ele tem capacidade de fazer
com que as riquezas produzam frutos. São os homens que inventam, criam, organizam,
constroem. Portanto, é necessário dar prioridade ao planejamento dos recursos humanos. (
TÉVOÉDJRÉ, 2002, p. 117 )
O espírito cooperativo é o que emerge e prevalece neste planejamento, com relações
diretas de responsabilidade em relação aos outros, solidariedade assumida no trabalho e na
organização do trabalho.
Tévoédjré afirma que: “Quando me perguntam como imagino concretamente tal
sociedade, tomo a liberdade de indicar a minha preferência por um verdadeiro projeto
cooperativo”, [...] ( TÉVOÉDJRÉ, 2002, p. 135 )
Dessa forma, o autor explora aspectos relacionados a um projeto de sociedade
alternativa, na qual a solidariedade e o “espírito de iniciativa” são capazes de fazer emergir
conjuntamente a comunidade e permitir a união dos pobres em função de um enriquecimento
coletivo. Também enfatiza o potencial de mudança social que a população pobre pode ter a
partir de práticas de ajuda mútua, já enfatizava naquela oportunidade a busca do equilíbrio
ambiental, via produção ecológica sustentável.
Ao se reportar à importância dos Sindicatos, afirma que entre os parceiros de
solidariedade, em uma perspectiva de desenvolvimento social, é fundamental privilegiar todos
aqueles agrupamentos que podem ajudar a perceber melhor as preocupações, os interesses, as
necessidades dos mais humildes. Entre estes grupos,incluem-se as organizações sindicais e
profissionais – desde que não sejam o refúgio de privilégios egoístas contrapostos a uma
maioria miserável. ( TÉVOÉDJRÉ, 2002, p. 156 )
O aumento do desemprego é conseqüência da situação das empresas mergulhadas na
globalização, sendo que não é conjuntural, temporário e transitório, Singer (1998) defende que
para resolver o problema do desemprego, é necessário oferecer aos excluídos uma
oportunidade real para reinserir na economia por sua própria iniciativa. A maneira de
reinserção produtiva é fundar cooperativas de produção e consumo, para que ofereça a estes
uma chance real de trabalhar com autonomia e de ganhar rendimentos suficientes para ter um
padrão de vida digno. As unidades são de posse coletiva e gerida pelos trabalhadores onde os
direitos de decisão sobre a unidade ou sobre a empresa são idênticos, sendo trabalho a
prioridade. Singer argumenta a favor da economia solidária:
A construção da economia solidária é uma destas alternativas. Ela aproveita a mudança
nas relações de produção provocadas pelo grande capital para lançar os alicerces de novas
formas de organização da produção, à partir de uma lógica oposta àquela que rege o mercado
capitalista. Isto remete a crença de que a economia solidária permitirá, ao cabo de alguns anos,
dar a muitos, que esperam em vão um novo emprego, a oportunidade de se reintegrar à
produção por conta própria individual ou coletivamente (SINGER, 1998, p. 138 ).
O “Projeto Esperança” surgiu do estudo do Livro “A POBREZA RIQUEZA DOS
POVOS” do autor Africano Albert Tévoèdjeré, cujos estudos e Seminários iniciaram em
1982, e no 3º Congresso da Cáritas - RS em 1984. Na oportunidade, Dom José Ivo Lorscheiter,
Bispo Diocesano de Santa Maria, com base no estudo “A POBREZA, RIQUEZA DOS
POVOS”, “A TRANSFORMAÇÃO PELA SOLIDARIEDADE”, que valoriza as “pequenas
coisas” e que tem como fundamento a solidariedade. Dom Ivo desafiava a Cáritas - RS a criar
e desenvolver os PACs (Projetos Alternativos Comunitários), como um novo jeito de construir
o desenvolvimento e encontrar soluções para os grandes problemas sociais, entre eles o
desemprego, o êxodo rural, a fome, a miséria e a exclusão social.
Foi a partir desta reflexão que se fortaleceu e se difundiu o modelo da caridade
organizada, através dos PACs ( Projetos Alternativos Comunitários), da Economia Popular
Solidária e a “Reivenção da Economia”, que coloca como pano de fundo, a solidariedade,
geração de trabalho e renda e as diferentes formas de organização Associativa, Cooperativada
e de Autogestão.
Nesta perspectiva, e de forma especifica para o caso do programa tem-se que a missão
do “Projeto Esperança/Cooesperança” é promover, incentivar, desencadear e construir o
desenvolvimento urbano, rural e regional sustentável, com base nos princípios da
solidariedade, cooperativismo alternativo, autogestão, para gerar trabalho e renda, mediante
processos educativos, participativos e transformadores, com o fortalecimento da agricultura
familiar, agroindústria familiar, comercialização direta, o consumo justo, ético e solidário, no
trabalho de parcerias e políticas públicas, com incentivo a melhoria da qualidade de vida,
geração de trabalho e renda, na construção de uma sociedade socialmente justa,
economicamente viável, ambientalmente sadia, organizadamente cooperativada, politicamente
democrática. O programa tem como objetivo a valorização do trabalho acima do capital.
3.2 Histórico do Programa “Projeto Esperança/ Cooesperança - ( 1980-2007)
A partir de 1980, a Diocese de Santa Maria, a UFSM ( Universidade Federal de Santa
Maria), a EMATER Regional – RS e outras organizações iniciaram o estudo do livro,
promoveram Seminários e Jornada de Estudos na região Centro – RS, no qual se juntaram
professores da área de cooperativismo e das ciências sociais da UFSM, militantes da igreja e
técnicos da EMATER, cuja articulação regional deu a origem aos PACs (Projetos
Alternativos Comunitários) junto com a Cáritas Regional – RS. Em 1984 foram surgindo as
primeiras experiências de Grupos Comunitários e Associações. Em 1987, foi criado o
PROJETO ESPERANÇA e o início do seu funcionamento a partir dos grupos organizados que
se integraram desde o início, neste Programa.
Em 1986 a Diocese de Santa Maria iniciou o diálogo com a MISEREOR e a
KATHOLISCHE ZENTRALSTELLE FÜR ENTWICKLUNGSHILEFE e.v. – Alemanha,
que garantiu o apoio inicial para o Projeto Esperança. Apoiou muitos grupos, no contexto do
Fundo de Crédito. A MISEREOR, financiou o primeiro
prédio do Terminal de
Comercialização Direta e já renovou 7 (sete) Convênios Consecutivos com a Diocese de
Santa Maria, para o Programa do Projeto Esperança.
Em 15 de agosto de 1987, é fundado o “Projeto Esperança”, com a função de congregar
todos os pequenos projetos econômicos comunitários em um grande projeto. A primeira ação
do projeto, foi o da fábrica de cuias, onde envolveram-se professores de economia, engenharia
civil, mecânica e artes.
Com os recursos da MISEREOR/KZE, pode-se criar um fundo de financiamento de novos
PACS em Santa Maria e pôde ser construído um terminal de comercialização direta na cidade,
inaugurado em 5 de junho de 1989. Neste terminal de comercialização a idéia era dar ênfase à
venda direta pelo produtor, através de feiras de comercialização direta. A UFSM passa a atuar
como importante parceira no Projeto “Esperança”, através da participação de jovens
profissionais, e professores economistas, engenheiros agrônomos, colaboradores do núcleo de
agroecologia,. A equipe do curso de Tecnólogo em Cooperativismo da UFSM, foi contratada
para assessorar a gestão de empreendimento trouxe vários funcionários que tinham trabalhado
na Cooperativa de consumo da Universidade. Essa aproximação que deu-se na década de 80,
no qual juntavam professores da área de cooperativismo e das Ciências sociais da UFSM,
militantes da igreja e técnicos da EMATER, era para realizar uma reflexão conjunta na busca
de alternativas ao modelo de desenvolvimento.
Surge a proposta de construir uma cooperativa de comercialização, o que de fato
aconteceu em 29 de setembro de 1989, data de fundação da Cooperativa Mista de Pequenos
produtores Rurais e Urbanos vinculados ao Projeto Esperança, com o nome de
COOESPERANÇA.
A COOESPERANÇA é uma Central, que juntamente com o Projeto Esperança, congrega
e articula os grupos organizados e viabiliza a comercialização direta dos produtos produzidos
pelos empreendimentos solidários no campo e na cidade e que fortalecem juntos, com
todos os grupos um novo modelo de cooperativismo, na proposta alternativa, solidária,
transformadora e autogestionária e do desenvolvimento sustentável. A COOSPERANÇA,
trabalha, junto com o Projeto Esperança de forma integrada, proposta da economia
solidária em vista de um desenvolvimento sustentável, fortalecendo a cultura da
solidariedade.
No inicio optou-se pela estratégia da comercialização onde buscava-se os produtos nas
propriedades rurais dos cooperados, pagando 70 % no ato da entrega e os outros 30 % depois,
mas não deu certo, visto a reduzida dimensão do capital de giro. Surgiram crises de caráter
político-administrativo, questionava-se a forma como a cooperativa estaria sendo administrada.
Os três primeiros anos do Programa, foram pautados por crises e grandes dificuldades. O
centro de comercialização foi fechado e reaberto por quatro vezes, com quatro diretorias
diferentes. Vários grupos deixaram de participar do Programa, visto a incredubilidade na
viabilidade da proposta. A equipe de professores e técnicos da UFSM foram se afastando, e o
Programa “Projeto Esperança/Coopesperança, passa a ser dirigida pela Irmã Lourdes Dill e
técnicos da EMATER. Mas durante todas estas dificuldades a equipe do Projeto
Esperança/Cooesperança trabalhava na formação e estimulo dos grupos., mantendo a linha
original de desenvolvimento dos PACs.
A partir do ano de 1992, houve uma reativação da comercialização direta e realização das
primeiras Feiras do Cooperativismo, assumindo assim a bandeira da economia popular
solidária. Em 1994, inicia-se o Feirão Ecológico e é realizada a primeira feira do
Cooperativismo. A partir de 1999 com o apoio governamental, o Programa atinge novos
patamares, como a criação da Teia Esperança.
A Teia Esperança, é uma rede dos Empreendimentos solidários, associados ao Programa
“Projeto Esperança/Cooesperança, que foi criada no dia 14 de janeiro de 2003, com o objetivo
principal de articular os empreendimentos solidários, para um maior escoamento da produção,
qualidade dos pontos de comercialização direta em vários municípios da região centro e a
articulação dos empreendimentos entre si. São vários espaços fixos de comercialização direta,
onde é uma forma eficaz e muito eficiente de fortalecer os grupos, consolidar a articulação e
construir políticas públicas articulado em rede solidárias. A teia também permitiu uma maior
aproximação com o consumidor.
A coordenadora da Feira Mensal da Praça Saldanha Marinho, Ivonete Tonato ( Abr 2006,
p. 81) , declara: “ As vendas melhoraram com o fato de deixar nossos produtos nos pontos
fixos. Há um complemento entre a feira e o ponto fixo, que é vantajoso para o produtor.
Pagamos 20% de comissão, o que acho justo.”
Atualmente, o programa, tem o apoio, participação e parceria de várias entidades como:
Misereor e a Katlolische Zentralstelle für Entwicklungshilefe e.v., da Alemanha, Cáritas
Brasileira, Cáritas Regional/RS, Emater Regional e municipal, Governo do Estado/RS,
Saa/RS-Dacc-Departamento de Agroinsdustria Familiar, Sedai-Depsol/EPS, SENAES,
SEBRAE, UNIFRA, UNISINOS, Governo Federal, Prefeitura Municipal de Santa Maria,
UFSM, Movimentos populares e sociais, as pastorais sociais e os veículos de comunicação.
O Programa “Projeto Esperança/Cooesperança tem aumentado o número de participantes em
torno de 10% a 16 %, ano após ano, conforme mostra a tabela abaixo:
Tabela 2: Número de participantes de 2001 a 2007 – Fonte: Banco da Esperança
2001
2003
2006
Grupos Formalmente
Urbanos
76
96
130
Associados
Rurais
69
80
90
Total
145
176
220
Famílias beneficiadas diretamente
3000
350
4000
Beneficiados indiretos
13.000
15.000
18.000
3.2.1
2007
136
94
230
4500
20.000
As Feiras realizadas no Programa “Projeto Esperança/Cooesperança
O Feirão Colonial Ecológico foi criado em 1º de abril de 1992 com a participação
efetiva dos
Produtores Rurais
e urbanos, associados
ao
Programa “Projeto
Esperança/Cooesperança e dos consumidores. O funcionamento do FEIRÃO COLONIAL
se realiza no Terminal de Comercialização, espaço destinado para esta atividade.
Funciona todos os sábados das 7.15 hs. às 12 hs. e nos outros dias em horário
comercial. Comercializa-se produtos ecológicos, bem como os chamados “coloniais”,
artesanatos, lanches, floricultura e produtos de extrativismo vegetal.
A Gestão do Feirão Colonial é feita de forma Colegiada entre a Equipe de
Coordenação Geral e os representantes dos grupos associados. Cada grupo contribui
com uma porcentagem sobre as vendas, para a manutenção do trabalho e a melhoria
dos Feirões Coloniais, bem como da Formação dos Grupos Associados.
A Feira da Praça Saldanha Marinho, também tem grande importância. Organizada
mensalmente no centro da cidade, onde fica instalada durante uma semana inteira, sendo um
importante ponto de divulgação do Programa, dos trabalhos e dos produtos dos grupos para a
população santamariense.
A FEICOOP – Feira Estadual do Cooperativismo, espaço de divulgação de visibilidade do
Programa e da economia solidária, ocorre anualmente no segundo final de semana de julho, no
Terminal de Comercialização Direta. Esta feira de articula a nível de Mercosul. Registrando
uma trajetória crescente. Conforme declarou ao Jornal da FEICOP-2005, Paul Singer, está
certo de que as Feiras da Economia Solidária do Programa “Projeto Esperança/Cooesperança
são muito valiosas, não só para viabilizar a comercialização dos produtos da economia popular,
hoje dos países do Mercosul, mas para estabelecer novos laços de cooperação entre os
empreendimentos, o que os fortalece economicamente e eleva a visibilidade da economia
solidária.
Os dados abaixo referem-se a FEICOOP realizada no ano de 2007, no período de 06 a 08
de julho de 2007:
- Representantes de 3 continentes e 18 Países:
1- ÁSIA:Tailândia, Myanmar, Philipinas, Malasya, Vietnan e Indonésia
2 - EUROPA: Itália e Alemanha
3 - Todos os países do MERCOSUL e alguns da AMÉRICA LATINA como: Uruguai,
Argentina, Bolívia, Paraguai, Perú, Chile, Brasil, Colômbia Equador e México
- Total de países representados: 18 Países
- Total de Estados representados: +/- 21 Estados
- Total de Municípios representados: +/- 372 Municípios
- Total de empreendimentos e expositores: +/- 730 Stands e Empreendimentos Solidários das
Feiras em Rede.
- Total de empreendimentos
solidários representados
da economia solidária do
Brasil e América Latina em redes de economia solidária : 1.500 Empreendimentos em
Redes Latino Americanas, através das 25 redes de Economia Solidária da América
Latina.
- Total de redes continentais e intercontinentais da economia solidária do
Brasil, da América Latina: 25 Redes da América Latina em Articulação
Internacional com os Continentes.
- Total de comissões na organização e realização de 2007: 50 Comissões de
Trabalho de Organização da Feira, que realizaram mais de 250 reuniões das
diversas Comissões preparatórias aos Eventos do MERCOSUL e da América Latina.
- Público visitante da feira : +/- 102.000 mil pessoas visitantes (durante os 3 dias) e os
Encontros e Seminários que antecederam a Feira em Santa Maria.
3.3 Resultados Obtidos na Realização de Pesquisa de Campo Junto aos Grupos que fazem parte
do Programa “Esperança/Cooesperança
Nesta parte da monografia aborda-se, primeiramente, os aspectos metodológicos que
norteiam o estudo e num segundo momento são apresentados os resultados da pesquisa.
3.3.1 Aspectos Metodológicos
O estudo compreende a aplicação de questionários a pessoas, que fazem parte dos Grupos
do Programa.
A escolha da amostra foi definida da seguinte maneira: sabe-se que o número de grupos
são de 230. Teve-se o cuidado de aplicar 60 questionário a um componente ou família de cada
grupo, escolhido de forma que sejam residentes na cidade e nos distritos de Santa Maria,
objetivando com esse procedimento alguma representatividade, sendo que obtivemos o retorno
de 34 questionários respondidos.
Além disso, efetuou-se entrevistas com as pessoas-chave vinculadas ao Programa, como
a Coordenadora do Programa “Projeto Esperança/Cooesperança”, Irmã Lourdes Dill,
Coordenadora da Feira da Praça Saldanha Marino, Ivonete Tonato e a Secretária Carmem
Possebon.
3.3..2 Análise dos Resultados Obtidos na Pesquisa de Campo
Das 34 pessoas entrevistadas, 47% são do sexo masculino e 53% do sexo feminino,
sendo que a idade média dos entrevistados fica em torno dos 45 anos, onde 68% são casados,
18% solteiros, e 14% outras situações.
Do levantamento efetuado sobre a localização, se rural ou urbana, e as condições de
moradia, se são imóveis próprios, alugados ou cedidos, das pessoas entrevistadas, foi
constatado:
Tabela 3 Localização e condições de moradia dos entrevistados
Rural
Urbana
Moradia Própria
Moradia Alugada
Moradia Cedida
32 %
68 %
49 %
39 %
12 %
Verificou-se que as pessoas que moram na área rural, todos responderam que possuem
casa própria, isto é, 32 % das 49 % moradias própria.
Em média as residências possuem 6 cômodos, onde residem em média 4 pessoas, onde todas as
residências possuem energia elétrica e água encanada, e 52 % possuem fossa séptica.
Todos os entrevistados sabem ler e escrever, sendo que 33% dos entrevistados possuem o
ensino médio completo ( antigo 2º Grau ), 23 % o antigo ginásio ( 1ª a 4ª série ), 18 % o
ginásio ( 5ª a 8ª Serie ) e 15 % possuem ensino superior. Concluindo que este nível de
escolaridade das pessoas, permite que tenham mais condições de acesso aos níveis de
informação, gerando maior participação econômica, cultural e política.
Dos entrevistados, 59 % responderam que não tem pessoas inativas, isto é, menor que 10 anos
e mais de 60 anos, morando junto com a família.
Do total dos entrevistados, 65% têm na família pessoas que não recebem benefícios da
Previdência Social ( INSS), 32% um recebe benefícios da Previdência Social, portando, mais
de 1/3 do total das famílias podem contar com um incremento na renda da família em função
do recebimento da aposentadoria.
O Programa “Esperança/Cooesperança” existe a mais de 20 anos, mas os entrevistados,
participam do programa em média a 5 anos.
Do total de entrevistados, 59 % responderam que antes de ingressar no Programa tinham
uma renda certa no mês com o que produziam e/ou comercializavam, 41% não tinham esta
renda. O fato de que mais da metade dos entrevistados possuíam uma renda regular antes de
ingressar no Programa, quer dizer que muitas vezes a participação, vendo do ponto de vista da
renda, buscam um Programa que lhes dêem segurança para a comercialização de seus produtos
e a garantia da produção e um aumento na renda. Confirma esta teoria, o fato de que 53%
responderam que se não fosse o Programa “Esperança/Cooesperança” não conseguiriam
manter-se produzindo ou comercializando e 88 % conseguiram aumentar a produção e a
comercialização. O fato de serem pequenos proprietários, e se não estivessem organizados
desta forma, estariam fora do mercado, devido à escala de produção ser baixa.
Muitos respostas obtidas nos questionários, informaram que um componente da família,
como marido, esposa, filhos, tem outras atividades fora do programa, como trabalho em
mecânica, participação em outras atividades econômicas, salários de outros empregos, e 88%
responderam que não comercializam seus produtos somente nas feiras e teias do Programa,
pois 65 % dos entrevistados responderam que com o que produzem e / ou comercializam não
atendem as suas necessidades básicas. A renda que eles obtém no Programa auxilia na
manutenção/ reprodução familiar.
Apesar de 65 % dos entrevistados responderem que com o que produzem e/ou
comercializam não atendem as sua necessidades básicas, 97 % responderam que vêem o
Programa “Projeto Esperança/Cooesperança como algo permanente em suas vidas, que ira não
só suprir as necessidades básicas, mas proporcionar melhores condições de vida e de inserção
econômica e social.
Em relação a renda recebida mensalmente da produção e comercialização, dos 34
entrevistados, 25 responderam, sendo que em média a renda mensal das pessoas que
comercializam sua produção no Programa e de R$612,00. Os rendimentos médios são,
portanto inferiores aos rendimentos médios mensais nominais das pessoas residentes em Santa
Maria que é R$801,27 (www.ibge.gov.br-IBGE-cidades@ - População e domicílios – Censo
2000 com divisão territorial 2001) .
A renda mensal que recebem da produção e/ou comercialização, em termos de salário
mínimo nacional, das pessoas que integram o Programa e responderam o questionário, assim
distribuído:
Tabela 4 Distribuição da Renda em Termos do Salário Mínimo Nacional – R$380,00
Menos de um Salário Mínimo
32 %
Entre 1 a 2 Salários Mínimos
44 %
Entre 3 a 4 Salários Mínimos
12 %
Acima de 4 Salários Mínimos
12 %
4. CONCLUSÃO
O estudo realizado procurou mostrar a importância da economia solidária como
alternativa de emprego e renda para milhares de pessoas e famílias que encontram-se
desempregados e acabam migrando para o setor informal, e famílias que procuram um
aumento da renda familiar para terem melhores condições de vida.
Esta alternativa econômica tem tido um crescimento numérico expressivo, como
demonstram os dados coletados no “Atlas da Economia Solidária do Brasil (2006), em que há
um total de 14.954 empreendimentos, em 2.274 municípios do Brasil, correspondendo a 41%
dos municípios brasileiros, sendo que o Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de
empreendimentos solidários e tem a maior participação de municípios.
Os empreendimentos da economia solidária compreendem uma grande diversidade de
práticas econômicas e sociais, podendo ser organizados através de empresas autogestionárias,
cooperativas populares, incubadoras, clubes de troca, redes, em que são produzidos e
comercializados diversos produtos da agropecuária, extrativismo, alimentos, bebidas, produtos
artesanais, e outros diversos produtos.
Com relação ao estudo realizado junto ao Programa “Projeto Esperança/Cooesperança,
em Santa Maria-RS, pode-se observar que o Programa passou por 3 fases distintas. Período de
1082 à 1987, em que surgiu as primeiras idéias e as primeiras experiências, inspiradas no livro
A Pobreza, Riqueza dos Povos, de Albert Tévoédjrè. De 1987 à 1992, ocorre a fundação do
Projeto Esperança e a criação do Cooesperança. Neste período ocorrem as crises, em que a
cooperativa fecha e reabre quatro vezes o terminal de comercialização, com várias mudanças
na diretoria. A partir de 1992, o terminal de comercialização é reaberto e inicia o processo de
recuperação e crescimento, vinculando-se à proposta da economia solidária. Este período pode
ser considerado como o da consolidação do Programa, no qual ocorre uma sistematicidade de
ações tais como: Feirão Ecológico, FEICOOP e criação da Teia Esperança.
Os resultados obtidos com a realização de pesquisa de campo junto a 34 cooperados,
mostrou que mais de 2/3 dos entrevistados moram na área urbana, no qual o nível de emprego
é menor, e o emprego informal é a saída para a obtenção de uma renda. Os cooperados que
moram na área rural, todos tem imóveis próprios, como casas, terras, mas são pequenas
propriedades, com uma produção de pequena escala.
Em torno de 59% dos entrevistados, responderam que possuíam uma renda regular no
mês com o que produziam ou comercializam, mas 53% responderam que se não fosse o
programa não teriam condições de permanecer no mercado, pois a produção é pequena, sendo
que 88% dos entrevistados responderam que aumentaram a produção e a comercialização de
seus produtos. Depreende-se disso, que o fato de poderem contar com um local de
comercialização adequado é, sem dúvidas, um elemento de fundamental importância na
viabilização da produção desses pequenos empreendimentos urbanos e rurais.
Em relação à renda obtida pelos cooperados (percapita) com a comercialização da
produção, em média R$612,00 mensais, 65 % responderam que com o que produzem ou
comercializam não atendem suas necessidades básicas, sendo necessário o complemento da
renda através de outras atividades econômicas. Estas atividades econômicas são o salário do
esposo, da esposa, filhos, beneficio previdenciário, pois 1/3 dos que responderam podem
contar com um incremento na renda em função de recebimento da aposentadoria. Mas mesmo
assim 97 % dos entrevistados vêem o programa como algo permanente em suas vidas, e que irá
proporcionar melhores condições de vida econômica e social.
Em relação às políticas públicas, verifica-se que a maioria tem acesso ao Sistema Único
de Saúde (SUS), sistema previdenciário, saneamento básico, educação, mas não tem os
beneficios que os trabalhadores que encontram-se na formalidade possuem, como auxiliasaúde, seguro-desemprego.
Enfim, as pessoas vinculadas ao Programa, não buscam somente condições de vida
semelhantes àquelas vinculadas ao mercado formal, no que tange aos aspectos quantitativos de
ganhos monetários para o consumo das mercadorias que necessitam para a sobrevivência e
bem-estar, mas, também, em relação à qualidade de vida. Neste sentido, o conhecimento acerca
de produção e consumo de produtos sem agrotóxicos e a ênfase ao estímulo de formas
coletivas de gestão na forma cooperativada são de crucial importância.
A participação no Programa “Projeto Esperança/Cooesperança, permite aos cooperados
um resgate da auto-estima, aumento da renda familiar, implicações do ponto de vista da
ampliação da possibilidade de permanência dos produtores agropecuários no meio rural,
diminuindo o êxodo rural, melhora o conhecimento em relação à autogestão dos seus
empreendimentos, aumentando a escala de produção, acesso aos financiamentos diferenciados
e adaptados às características dos seus empreendimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Contexto da Cidadania Ativa. Perspectiva Econômica. São Leopoldo: Unisinos, 2000.
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TÉVOÉDJRÉ, Albert. A Pobreza, Riqueza dos Povos – A transformação pela
solidariedade. Petrópolis: Vozes, 2002.
ANEXOS
ANEXO 1: Apresentação das distribuição das incubadoras no Brasil e as incubadoras
vinculadas a universidades no Rio Grande do Sul: fonte: ANPROTEC.
a) UNILASALLE, Incubadora: CECAN/UNILASALLE - Canoas
b) UNISINOS, Incubadora: TECNOSOCIAIS – São Leopoldo
c) FURG, Incubadora: ITCP-FURG – Rio Grande
d) UCPEL, Incubadora: ITCP-UCPEL – Pelotas
e) UFRGS, Incubadora: NEA/INCOOP – Porto Alegre
f) UNIJUÍ, Incubadora: INES – Ijuí
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ECONOMIA SOLIDÁRIA: O CASO DO PROGRAMA