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PERCEPÇÕES SOBRE A
REGULAMENTAÇÃO DO LOBBY
NO BRASIL: CONVERGÊNCIAS E
DIVERGÊNCIAS
Manoel Leonardo Santos
Lucas Cunha
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TEXTO PARA DISCUSSÃO
Brasília, outubro de 2015
PERCEPÇÕES SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DO LOBBY NO BRASIL:
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS1
Manoel Leonardo Santos2
Lucas Cunha3
1. Relatório final de pesquisa desenvolvido no âmbito do Programa de Mobilização da Competência Nacional para Estudos
sobre o Desenvolvimento (Promob), em seu Subprograma de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD), eixo temático
3, Fortalecimento do Estado, das Instituições e da Democracia, linha de pesquisa sobre governabilidade e representação.
Agradecemos os valiosos comentários críticos dos colegas pesquisadores do projeto Governabilidade e Representação.
2. Professor adjunto do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (DCP/UFMG) e vice-diretor
do Centro de Estudos Legislativos (CEL/DCP/UFMG).
3. Doutorando em ciência política da UFMG.
Governo Federal
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
Ministro Nelson Barbosa
Instituto de Pesquisa
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Fundação pública vinculada ao Ministério do
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suporte técnico e institucional às ações governamentais
– possibilitando a formulação de inúmeras políticas
públicas e programas de desenvolvimento brasileiro –
e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos
realizados por seus técnicos.
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Texto para
Discussão
Publicação cujo objetivo é divulgar resultados de estudos
direta ou indiretamente desenvolvidos pelo Ipea, os quais,
por sua relevância, levam informações para profissionais
especializados e estabelecem um espaço para sugestões.
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ipea 2015
Texto para discussão / Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada.- Brasília : Rio de Janeiro : Ipea , 1990ISSN 1415-4765
1.Brasil. 2.Aspectos Econômicos. 3.Aspectos Sociais.
I. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
CDD 330.908
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JEL: D72.
SUMÁRIO
SINOPSE
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................7
2 A DISPUTA POLÍTICA................................................................................................9
3 O DEBATE TEÓRICO...............................................................................................12
4 METODOLOGIA......................................................................................................17
5 SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DA REGULAMENTAÇÃO DO LOBBY:
CONTROVÉRSIAS E CONVERGÊNCIAS....................................................................27
6 PROPOSTAS DE REGULAMENTAÇÃO DO LOBBY:
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS.......................................................................34
7 POR QUE O LOBBY AINDA NÃO FOI REGULAMENTADO NO BRASIL?.....................45
8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.......................................................................47
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................48
ANEXO.....................................................................................................................51
SINOPSE
Este trabalho procura verificar empiricamente em que medida as controvérsias sobre a
regulamentação do lobby se manifestam nas opiniões dos atores políticos diretamente
envolvidos na atividade no Congresso Nacional, quais sejam, representantes de grupos
de interesse e assessores parlamentares de órgãos públicos. Para tanto, apresentam-se
resultados de entrevistas originais, do tipo survey e em profundidade. Os resultados
apontam para convergências sobre a necessidade de regulamentar a atividade e sobre as
consequências positivas esperadas com a regulamentação. Convergências também podem
ser verificadas quando se submete ao crivo dos respondentes boa parte das proposições
legislativas apresentadas no Congresso. Contudo, divergências aparecem quando os temas
mais polêmicos são abordados, especialmente aquelas propostas relativas à prestação de
contas e à declaração de interesses por parte dos grupos de pressão. Conclui-se que a
opinião política entre os atores que exercem a representação de interesses no âmbito do
Congresso é favorável à regulamentação, mas alguns pontos devem ser levados ao debate
mais aprofundado. Recomenda-se que esse debate não deve, sob nenhuma hipótese,
ignorar que a atividade de lobby é um importante mecanismo de participação política
e que dela depende, em grande parte, o acesso de diferentes grupos sociais ao poder
constituído e seus representantes.
Palavras-chave: lobbying; regulamentação; grupos de interesse; Congresso Nacional.
ABSTRACT
This paper aims to empirically verify to what extent the controversies on lobbying regulation
are manifested by the opinions of political actors directly involved in the activities of the
National Congress, which are interest groups’ representatives and legislative advisors of
governmental agencies. To this end, we present results of original survey and in-depth
interviews. The results point to convergence on the need to regulate lobbying activity and
about the positive effects expected to come with regulation. We also find convergence
with most regulatory initiatives presented in the Congress. However, differences appear
when the most controversial themes are addressed, especially those on accountability and
declaration of interest on the part of pressure groups. It thus concludes that the political
opinion amongst actors engaged in the representation of interests within the Congress
is supportive of the regulations, but some points should be taken to further debate.
It is recommended that this debate must not ignore that lobbying is an important
mechanism of political participation and that it depends, largely, on the access of different
social groups to the constituted power and its representatives.
Keywords: lobbying; regulation; interest groups; Congresso Nacional.
Texto para
Discussão
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
1 INTRODUÇÃO1
As opiniões correntes no senso comum sobre a regulamentação do lobby são controversas,
e essa controvérsia, claro, também se manifesta na elite política envolvida com a
atividade no Brasil. A primeira iniciativa de regulamentação foi empreendida pelo então
senador Marco Maciel, ainda em 1984.2 Desde lá, somam-se nada menos que dezessete
proposições legislativas com o mesmo objetivo. Este número mostra que a preocupação
com a regulamentação da atividade não é nova e que tem ocupado parte considerável da
atenção dos parlamentares, há pelo menos trinta anos. A impossibilidade de um acordo
político sobre a regulamentação, por outro lado, mostra quão polêmica é a decisão.
A controvérsia sobre a regulação do lobby, contudo, não se verifica apenas nos
debates do dia a dia e no âmbito das elites políticas. Ela também se verifica na literatura
especializada, na qual não há consenso sobre se regulamentar a atividade tem realmente
efeito positivo. O debate se divide em opiniões favoráveis e contrárias baseadas em
diferentes motivos. O primeiro conjunto de argumentos, favoráveis, encontra fundamento
na necessidade de construir uma institucionalidade política que promova mais deliberação,
mais transparência e mais accountability. Nesse sentido, regulamentar a atividade de
lobby é visto como essencial para tornar o processo decisório, os interesses dos grupos
privados e dos agentes públicos mais transparentes, permitindo assim maior participação
e accountability. O segundo conjunto de argumentos, contrários, advoga que a regulamentação é prejudicial porque cria barreiras à entrada dos menos poderosos e atrapalha
as relações entre representantes de interesses e parlamentares. Além disto, seus defensores
argumentam que as relações políticas precisam de algum grau de confidencialidade e
discricionariedade para que as negociações sejam viabilizadas. Por fim, defendem os
contrários à regulação que a relação custo-benefício da regulamentação não justifica o
esforço por parte do Estado (Chari, Hogan e Murphy, 2010).
Este estudo procura ampliar esse debate, verificando empiricamente como essa
controvérsia presente tanto na legislação proposta quanto na teoria se manifesta nas
opiniões dos atores diretamente envolvidos com a atividade. A saber: os representantes
1. Os autores agradecem enfaticamente a Luiz Alberto dos Santos pela leitura prévia do manuscrito. Suas contribuições foram
altamente relevantes e estão estampadas ao longo do texto. Com base em seus comentários, várias lacunas foram sanadas e
muitos dos achados reinterpretados. As possíveis omissões e erros, assumimos como de nossa inteira responsabilidade.
2. Projeto de Lei (PL) no 25/1984 do então senador Marco Maciel.
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dos grupos de interesse e os assessores parlamentares dos órgãos públicos. Para tanto,
apresentam-se resultados de entrevistas originais, do tipo survey e em profundidade,
sobre os seguintes aspectos: i) por que regulamentar o lobby?; ii) quais as consequências
da regulamentação; e iii) o que pensam os atores sobre as propostas de regulamentação
que tramitaram e ainda tramitam no Parlamento.
A importância de conhecer as opiniões desses atores sobre o tema é justificada
por pelo menos dois motivos, um de natureza acadêmica outro de natureza aplicada.
A relevância acadêmica da pesquisa se justifica pela sua originalidade. Trata-se de um
dos poucos estudos3 no Brasil e, portanto, com potencial para qualificar o debate no
âmbito da ciência política que tem praticamente ignorado o assunto nos últimos anos.
Já a justificativa aplicada, encontra fundamento na expertise e na relevância política
dos entrevistados. Na qualidade de atores diretamente envolvidos no processo, eles
certamente terão papel fundamental na discussão sobre a regulamentação da atividade.
Ou seja, caso o tema assuma maior relevância na agenda política, tem-se uma antecipação
das opiniões e dos pontos de convergência e divergência, o que pode ser muito útil no
aprimoramento das proposições legislativas e na construção de um acordo politicamente
viável sobre a regulamentação do lobby no Brasil.
Os resultados apontam para uma convergência sobre as consequências positivas
que a regulamentação pode gerar para a democracia, para um apoio generalizado à
necessidade de regular a atividade no Brasil, e sugerem apoio a um conjunto razoável
de propostas contidas nas proposições legislativas apresentadas no Congresso Nacional.
Contudo, quando escrutinadas de forma cuidadosa, as respostas evidenciam que há pouca
concordância sobre como regulamentar a atividade. Entre as principais divergências podem
ser relacionadas pelo menos três como mais relevantes: i) os grupos de interesse refutam
fortemente o controle e acompanhamento financeiro de suas atividades; ii) rejeitam
propostas que obriguem a declaração pública de seus interesses, de seus interlocutores
e de suas estratégias; e iii) refutam, ainda que de forma moderada, que sejam criados
mais mecanismos regimentais de incorporação de interesses no processo decisório no
interior do Parlamento.
3. Registre-se dois estudos correlatos. O primeiro, de autoria de Luiz Alberto dos Santos, que realizou survey intitulado
Percepções dos Políticos e Burocratas sobre o lobby e sua regulamentação no Brasil. Embora inédito, Santos tem reiteradamente
divulgado seus resultados publicamente em vários eventos nos últimos seis anos. O segundo é o estudo de Pablo Silva
Cesário, também inédito, que vem pesquisando sobre o tema e catalogou os principais grupos de interesses e suas atuações
no âmbito do Congresso Nacional em 2011 e 2012.
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Texto para
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
O texto está organizado da seguinte forma, além desta introdução. A seção 2
discute resumidamente o contexto do debate político sobre a regulamentação do lobby
no Brasil. A seção 3 traz um breve resumo do debate encontrado na teoria. A seção 4
apresenta a metodologia empregada na pesquisa de survey e nas entrevistas qualitativas
realizadas. A seção 5 discute os resultados relativos às consequências esperadas com a
regulamentação do lobby. A seção 6 mostra os resultados relativos às opiniões sobre
as propostas de regulamentação do lobby que tramitam ou tramitaram no Congresso
Nacional. A seção 7 explora hipóteses sobre por que o lobby ainda não foi regulamentado
no Brasil. A seção 8 sumariza os resultados e apresenta sugestões.
2 A DISPUTA POLÍTICA
O debate político sobre a regulamentação do lobby no Brasil não é recente. Como já
mencionado, pelo menos desde 19844 ele está presente no Congresso Nacional e um
longo caminho foi percorrido até hoje. Além do debate no âmbito do Poder Legislativo,
pode-se também, embora mais recentemente, identificar muitas iniciativas por parte
do Poder Executivo em direção à regulamentação da atividade. Este debate, contudo,
ainda não se converteu em nenhuma ação reguladora mais ampla. Embora o tema
tenha estado presente na agenda política, não foi possível ainda chegar a uma forma de
regulamentação da atividade no Brasil.
No âmbito do Congresso Nacional, pelo menos dezessete proposições legislativas
podem ser identificadas ao longo do tempo. Algumas com tramitação concluída, sem
sucesso, e outras ainda em apreciação. Dessas dezessete proposições,5 pelo menos doze
são substancialmente diferentes. A apreciação dessas proposições legislativas sugere
diferenças significativas em pelo menos três aspectos: i) o escopo da regulamentação;
ii) o alcance da regulamentação; e iii) o instrumento legislativo utilizado pelos seus
autores para tentar viabilizar a ideia.
4. O projeto pioneiro no Brasil sobre a regulamentação do lobby foi de autoria do então senador Marco Maciel (PFL/PE).
Trata-se do PL no 25/1984, cuja ementa é a seguinte: “Dispõe sobre o registro de pessoas físicas ou jurídicas junto as Casas
do Congresso Nacional, para fins que especifica e dá outras providências (Brasil, 1984). Mas é importante registrar que o
debate é ainda mais antigo pois “desde o final da década de 1970, já se discutia o assunto na Câmara dos Deputados”
(Meyer-Pflug, Serrazes e Oliveira, 2008, p. 593).
5. Todas as proposições legislativas desde 1984 estão disponíveis no quadro 1 do anexo.
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Sobre o escopo da regulamentação, as variações dizem respeito ao grau de
exigência a ser cumprido pelos grupos de interesses e lobistas no exercício da atividade.
Enquanto algumas propostas se limitam a propor o simples cadastramento das entidades
e dos lobistas, outras preveem uma regulamentação mais ampla, sugerindo o controle
de gastos, a declaração dos interesses e o acompanhamento das entidades e dos lobistas
envolvidos na atividade. Algumas propostas, inclusive, chegam a prever mecanismos de
quarentena, dispositivo que visa proibir por um determinado período que ex-agentes
públicos exerçam a atividade depois de deixar seus cargos públicos.
Quanto ao segundo aspecto que distingue as proposições, o alcance da regulamentação,
algumas têm ambição maior, visando regulamentar a atividade de lobby não apenas
no âmbito do Legislativo, mas também em todos os órgãos da administração pública.
Outras, ainda, se propõem a regular a atividade nos três níveis federativos de governo.
E esta variação, claro, dificulta o acordo político em torno das propostas.
Quanto ao terceiro ponto, o instrumento legislativo utilizado pelos autores, nota-se que
estes são muito distintos. Alguns parlamentares sugerem a regulamentação via projeto
de lei (PL), outros via projetos de resolução. É possível, ainda, encontrar propostas na
forma apenas de mudanças no regimento interno – que nesse caso assumem também
a forma de projeto de resolução, mas circunscrito especificamente da Casa em foco.
Nota-se que esta variação está intimamente ligada aos dois primeiros aspectos, visto
que, a depender do escopo e do alcance da proposta, os instrumentos legislativos de
fato precisam ser diferentes.
Toda essa variação pode ser entendida como um indicador da heterogeneidade
que se percebe entre as iniciativas legislativas. Assim, longe de um consenso ou de um
acordo capaz de gerar uma decisão efetiva por parte do Parlamento, tudo que se viu
ao longo dos anos foi um processo legislativo marcado por divergências, expressas nos
sucessivos arquivamentos, desarquivamentos, frequente emendamento de proposições,
posições divergentes entre comissões parlamentares e, no limite, um processo marcado
por idas e vindas que refletem a falta de um acordo mínimo capaz de superar o status quo.6
Por outro lado, tudo indica que além da falta de um acordo mínimo, falta também
que o tema tenha a saliência necessária. Ou seja, que se converta de fato em uma
pauta relevante para o Congresso, pois o assunto só tem sido lembrado, em regra, em
6. Para uma discussão mais aprofundada sobre as diferentes propostas de regulamentação do lobby no Brasil, ver Santos e Cunha (2015).
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Texto para
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
situações de graves escândalos envolvendo lobistas. Sendo assim, passada a crise, o tema
arrefece e fica à espera de novo momento. Falta, no limite, o empenho de lideranças ou
empreendedores políticos que invistam capital político durante períodos mais longos para
impedir o arrefecimento do debate.
No âmbito do Poder Executivo é possível também encontrar uma preocupação
com a regulamentação da atividade de lobby. Como exemplo é possível citar as ações da
Controladoria-Geral da União (CGU), que em 2008 realizou um evento cujo título fala
por si: Seminário Internacional sobre Intermediação de Interesses: a regulamentação do
lobby no Brasil. Na oportunidade, participaram do debate importantes setores do governo,
do Judiciário e do Legislativo. Esse evento, de fato, foi importante para comprometer
parte do governo com a demanda da regulamentação.
Outra iniciativa relevante foi a do Ministério da Justiça (MJ), que apoiou a
publicação de um amplo estudo sobre a regulamentação do lobby. O caderno integra
o conjunto de publicações da Série Projeto Pensando o Direito e apresenta a versão
resumida da pesquisa denominada de Grupos de Interesse (Lobby): a possibilidade de regulação
jurídica no Brasil, conduzida pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub). Segundo
a publicação, “percebe-se um esforço do Poder Executivo em avançar na regulamentação
das atividades de representantes de interesses particulares” (Brasil, 2009, p. 44).
Esta publicação traz, inclusive, uma proposta objetiva de regulamentação do lobby.
A referida proposta é bastante ampla e prevê a regulamentação da atividade nos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e tem um escopo amplo de regulamentação.
Mas, até onde se sabe, ela nunca foi encaminhada ao Legislativo. Não obstante que a minuta
apresentada no relatório da pesquisa não tenha sido assumida por nenhum órgão como
proposta do governo, ela influenciou as tentativas de elaboração de um substitutivo para
o PL do deputado Zarattini, resultantes de discussões entre Casa Civil, Ministério da
Justiça, Advocacia-Geral da União e Controladoria-Geral da União.
Ainda no âmbito do Executivo, muitas outras iniciativas podem ser destacadas
no sentido de regular a atividade. O Código de Conduta da Alta Administração Federal
de 2000; a Portaria da Casa Civil no 34/2001, que regula as audiências públicas e a
conduta dos funcionários dos órgãos da Presidência e Vice-Presidência da República; os
Decretos nos 4.081/2002 e 4.232/2002, posteriormente revogados parcialmente tendo
normas editadas pelo Decreto no 4.334/2002. Por fim, destacamos a Lei de Conflito de
Interesses. Esta lei, de iniciativa do Executivo, prevê várias normas que limitam a atuação
de agentes públicos como lobistas, e exige (em seu Art. 11) que os agentes públicos
mencionados nos incisos I a IV do Art. 2o divulguem, diariamente, por meio da rede
mundial de computadores (internet) sua agenda de compromissos públicos.
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Todos estes diplomas legais, embora não se encaixem exatamente naquilo que
está definido no âmbito deste trabalho como regulação do lobby, podem ser vistos como
iniciativas correlatas importantes.
Todo esse esforço retrata a preocupação tanto do Legislativo quanto do Executivo
com o problema, o que pode ser lido como evidência que sugere um ambiente favorável
à regulamentação em diversos setores do poder público. Contudo, a falta de consenso
não permitiu ainda uma efetiva ação nesta direção.
Todo esse impasse, no entanto, não deve ser visto como um problema apenas
de articulação política. Essa falta de consenso também se verifica na discussão teórica,
como descrito na seção 3.
3 O DEBATE TEÓRICO
As discussões teóricas sobre a regulamentação do lobby se desenvolveram, segundo Thomas
(2004), em torno de duas grandes questões: i) as vantagens injustas que o lobby profissional
leva no processo político em relação àqueles que não tem recursos para profissionalizar
suas atividades; e ii) a percepção generalizada sobre as condutas antiéticas dos lobistas e
dos agentes públicos quando em interação política. Mas o desenvolvimento de pesquisas
mais recentes mostra que o debate supera essas questões e se encontra ampliado em dois
conjuntos de argumentos que resumem bem a ideia. De um lado os que defendem a
regulamentação e, de outro, os que rejeitam a ideia.
Segundo Chari, Hogan e Murphy (2010),7 o debate pode ser assim resumido.
O primeiro conjunto de argumentos, favoráveis, encontra fundamento na necessidade
de construir uma institucionalidade política que promova mais transparência, mais
deliberação e mais accountability. Nesse sentido, regulamentar a atividade de lobby é visto
7. Não são muitos os estudos comparativos em larga escala sobre a regulamentação do lobby à disposição. O leitor
observará que boa parte da análise aqui empreendida está fundamentada no trabalho realizado pelos autores Chari, Hogan
e Murphy (2010), no recente livro intitulado Regulating lobbying: a global comparison. Para uma consulta sobre o amplo
programa de pesquisa dos autores, ver: <http://www.regulatelobbying.com/>. Outra referência igualmente importante é o
estudo Lobbyists, government and public trust: building a legislative framework for enhancing transparency and accountability
in lobbying (OECD, 2009). Em 2015, a Transparência Internacional publicou o estudo comparativo Lobbying in Europe:
hidden influence, privileged access (OECD, 2015). Por fim, em 2014, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) publicou ainda Lobbyists, governments and public trust: implementing the OECD principles for transparency
and integrity in Lobbying (OECD, 2014).
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
como essencial para tornar o processo decisório, os interesses dos grupos privados e dos
agentes públicos mais transparentes, permitindo assim maior participação e accountability
por parte da sociedade. O segundo conjunto de argumentos, contrários, advoga que
a regulamentação é prejudicial porque cria barreiras à entrada dos menos poderosos e
atrapalha as relações entre representantes de interesses e parlamentares. A ideia é que
as relações políticas precisam de algum grau de confidencialidade e discricionariedade
para que as negociações políticas sejam viabilizadas. Por fim, defendem os contrários
à regulação que a relação custo-benefício da regulamentação não justifica o esforço por
parte do Estado.
De forma bastante sucinta, pode-se resumir o debate elencando as consequências
que tanto os defensores quanto os contrários à regulamentação esperam, caso ela
aconteça. Entre as consequências esperadas pelos defensores da regulação, pelo menos
três podem ser consideradas as mais relevantes. A primeira é que os defensores da ideia
acreditam que com a regulamentação do lobby é possível permitir maior transparência
do processo decisório e das relações políticas entre interesses organizados e tomadores
de decisão. Transparência, claro, é um valor democrático que se justifica per se, mas no
caso específico da regulamentação do lobby, seus defensores esperam que o incremento
da transparência permita que o processo decisório seja aperfeiçoado em pelo menos
duas dimensões importantes, mais deliberação e mais accountability. No que diz respeito
à deliberação, seu incremento dotaria o sistema político de valores democráticos mais
plurais e legítimos. Deliberação aqui é entendida como o processo de argumentação em
torno de políticas e resultados, por meio do qual parlamentares, grupos de interesses e
representantes do governo possam formar e transformar suas próprias preferências e a
dos demais, em um processo de diálogo público e progressivo.
No que diz respeito à accountability, entendem os defensores que a regulamentação
do lobby pode contribuir para que as decisões públicas sejam tomadas sob o escrutínio
da sociedade, tanto no que diz respeito aos interesses atendidos pela decisão, quanto no
que diz respeito à necessidade de que essas mesmas decisões sejam tomadas dentro do
marco da legalidade e da constitucionalidade. Dessa forma, quando o lobby deixa de ficar
confinado às antessalas, acreditam os defensores da regulamentação que o sistema político
estaria mais capacitado a criar as condições objetivas para que um número maior de grupos
de interesses, de eleitores e da sociedade em geral, agora mais bem informados, aumente
suas chances participação política, minimizando a força dos grupos mais poderosos, em
detrimento dos setores sociais com menos recursos de participação e evitando que
segmentos sejam sistematicamente ignorados pelo processo político.
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De outro lado, os argumentos contrários se baseiam na ideia de que a regulamentação do lobby pode gerar efeitos negativos sobre o sistema político. O primeiro
argumento é que a regulamentação poderia gerar a percepção de que somente grupos
institucionalizados ou formalmente constituídos estariam aptos a participar do processo
decisório. Nesse sentido, a regulamentação da atividade teria o potencial efeito de gerar
barreiras à entrada de alguns grupos, prejudicando principalmente aqueles menos
organizados e institucionalizados. Nesse sentido, o efeito sobre o processo decisório seria
negativo, transformando o Parlamento em um balcão de negócios, distorcendo ainda
mais a representação política. O segundo argumento desfavorável está fundamentado
na ideia de que a regulamentação extrema pode atrapalhar as relações entre os interesses
organizados e os políticos, engessando, por assim dizer, as relações entre os grupos de
interesses e os tomadores de decisão. Segundo esta perspectiva, “para a formulação de
boas políticas, a confidencialidade é muitas vezes necessária” (Chari, Hogan e Murphy,
2010, p. 17). Assim, a eficiência na produção de acordos políticos seria comprometida
caso não fosse dada aos tomadores de decisão a possibilidade de negociar de forma
minimamente reservada e discricionária. Por fim, argumentam os contrários à ideia que
a relação custo-benefício não compensa, pois a regulamentação do lobby geraria altos
custos com fiscalização, ao mesmo tempo em que o controle geraria pouco resultado
efetivo sobre a qualidade do processo decisório e sobre a transparência. Por seu turno,
simplesmente regulamentar não geraria necessariamente mais poder aos grupos menos
poderosos, visto que suas vantagens na disputa política estariam mais relacionadas aos
recursos de que dispõem para a ação política que propriamente ao acesso à informação.
Os resultados encontrados por Chari, Hogan e Murphy (2010) em relação à percepção
dos atores políticos envolvidos com a atividade de lobby e representação de interesses são,
majoritariamente, favoráveis aos efeitos positivos gerados pela regulamentação. As percepções
dos atores apontam sobretudo a respeito dos efeitos sobre o incremento da transparência e
accountability. Ainda em favor de sua tese, os pesquisadores afirmam que os atores políticos
submetidos a contextos com alta regulamentação percebem mais estes seus efeitos positivos
que os atores em jurisdições nas quais a regulamentação é baixa ou média.8 Contudo, estes
resultados dizem respeito a jurisdições nas quais o lobby já foi regulamentado. Ou seja, é
preciso cautela ao avaliar a percepção dos atores de forma generalizada, sem considerar
se existe ou não regulamentação efetiva nessas jurisdições. Poucos estudos a respeito das
percepções sobre o efeito da regulamentação foram realizados em contextos em que não
8. Chari, Hogan e Murphy (2010) classificam as jurisdições por eles pesquisadas baseados em uma escala denominada CPI
Score, que mede o grau de regulamentação das atividades de lobby em diferentes contextos. A escala foi desenvolvida pelo
The Center for Public Integrity (USA). Para ter acesso à metodologia de cálculo do CPI Score, ver: <http://goo.gl/XJq4x8>.
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
existe tal regulação. Que é o caso do Brasil. Mas alguns resultados apresentados por Chari,
Hogan e Murphy (2010) sugerem uma tendência semelhante. Segundo os autores: “a maioria
dos entrevistados e respondentes afirma que transparência, accountability e efetividade de
políticas públicas podem ser incrementados se uma legislação regulamentando o lobby for
introduzida” (op. cit., p. 21).9
No Brasil, como já afirmado, são poucos os estudos acadêmicos ancorados em
abordagens quantitativas sobre as opiniões dos principais atores políticos envolvidos
no processo e suas percepções sobre as consequências da regulamentação do lobby.10
A literatura nacional é bastante limitada nesse campo, e pode ser resumida a um pequeno
conjunto de opiniões que, embora muito bem informadas, limitam-se a defender a
regulamentação justificando seus efeitos positivos, mas sem ancorar seus argumentos
em fundamentos empíricos mais sólidos. Farhat (2007, p. 61), por exemplo, afirma que
“mais cedo ou mais tarde, o Congresso baixará leis com regras restritas para identificar
e tornar públicos os interesses defendidos por lobistas em atuação na sua esfera”, mas a
crença do autor está ancorada mais em sua experiência profissional e na análise de alguns
discursos e propostas em tramitação no Legislativo que propriamente em pesquisas
empíricas mais aprofundadas.
Luiz Alberto dos Santos (2007), outro especialista brasileiro, não menos importante,
realizou pesquisa relevante sobre o tema e aponta para a parcial confirmação da hipótese de que:
A partir do exame da experiência dos Estados Unidos e do Brasil (…) constata-se que a existência
de leis de lobby é condição necessária, mas não suficiente, para aumentar a transparência do
acesso dos grupos de interesse aos responsáveis pelas decisões no âmbito das políticas públicas e dos
meios e objetivos que buscam atingir por meio de sua influência no processo de políticas públicas
(Santos, 2007).
O autor afirma, ainda, que “a existência dessa legislação não é condição necessária
nem suficiente para assegurar a isonomia de acesso dos grupos de interesse aos responsáveis
pelas decisões no âmbito das políticas públicas, sendo necessárias outras medidas de
9. Importante registar que as jurisdições não regulamentadas que foram pesquisadas são poucas. Resumem-se a um Estado
norte americano, cinco províncias canadenses e dois países-membro da União Europeia. Nesses casos, é preciso considerar
que no nível nacional – ou no caso dos países europeus – e no supranacional existe sim regulamentação do lobby, o que,
claro, matiza fortemente os resultados. Por sua vez, os próprios autores ressaltam que os resultados não podem ser generalizados,
dada a baixa taxa de respondentes do survey.
10. Ver nota de rodapé 6.
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caráter legal e institucional para tanto” (Santos, 2007). O autor realiza um trabalho
comparativo de fôlego, mas sua abordagem sobre o Brasil não contém dados empíricos
quantitativos que apontem se esta percepção é compartilhada pelos atores políticos
diretamente envolvidos no processo.11
Por sua vez, Mancuso (2005) sugere que a regulamentação seria importante tanto para
a accountability quanto para o acesso a grupos menos poderosos. Segundo ele é necessário
O esforço de formular mecanismos que tornem a prática do lobby cada vez mais compatível com
valores democráticos. Por exemplo, a transparência do lobby na produção legislativa seria muito
favorecida se esta ação política fosse regida, no Brasil, por uma lei equivalente ao Lobbying
Disclosure Act, aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos da América em 1946 e reformado
em 1995 (Mancuso, 2005. p. 3).
Com relação ao acesso, Mancuso sugere que
Outro desafio é viabilizar a organização, a mobilização e o exercício de pressão política por parte
de segmentos sociais numerosos que, no entanto, apresentam um déficit histórico notável de ação
coletiva – tais como os pequenos consumidores, os pequenos contribuintes, os desempregados
e as vítimas de exclusão socioeconômica. Quanto maior se tornar a capacidade destes atores de
defender seus interesses na arena política, tanto menor será o desequilíbrio em favor dos interesses
economicamente ou politicamente privilegiados (Mancuso, 2005, p. 3).
Embora essas afirmativas sejam compatíveis com os resultados encontrados em
pesquisas comparativas, como já citado, da mesma forma que os demais analistas
brasileiros, Mancuso (2005) também não faz maiores incursões empíricas sobre a opinião
dos atores políticos em relação a estas proposições.
Gozetto (2004) afirma que “apesar de polêmica, a regulamentação do lobbying é
defendida por lobistas e autoridades públicas, uma vez que, pautado por regras claras,
o lobbying poderia contribuir para a transparência do processo de tomada de decisões
11. Como já citado na nota 6, Santos realizou pesquisa empírica em 2007 com agentes públicos e políticos. Contudo, os
resultados não foram incluídos em sua tese de doutorado. Em comunicação prévia a esse manuscrito, o autor informa que
“a partir dos dados então obtidos, foi possível confirmar as hipóteses sobre a validade de uma lei de lobby no Brasil a partir
das perspectivas dos atores que são objeto do lobby”.
16
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
e a noção errônea de clandestinidade também chegaria ao fim” (op. cit.). A autora
fundamenta empiricamente sua afirmação em entrevistas em profundidade realizadas
com lobistas. Muito embora entrevistas em profundidade constituam uma base empírica
legítima, e não menos relevante que as abordagens quantitativas, elas não permitem a
generalização dos resultados para o grande número de atores políticos envolvidos direta
e indiretamente no processo político no Brasil.
Em recente trabalho, Mancuso, Angélico e Gozetto (2014) refletem sobre o
impacto que a Lei no 12.527/2011, a Lei de Acesso a Informações Públicas (LAI), pode
exercer no debate sobre regulamentação do lobby. A interdependência entre os dois
tipos de legislação, segundo os autores, aponta para o seu caráter complementar. Muito
embora as duas formas de promoção de transparência não se excluam mutuamente.
De acordo com os autores,
As medidas têm sinergia, pois a regulamentação do lobby pode produzir informações relevantes,
a serem divulgadas por meio da LAIP, e a LAIP pode favorecer o avanço da regulamentação do
lobby. Mas a aprovação da LAIP não dispensa a discussão sobre regulamentação do lobby, pois
esta envolve elementos que não são cobertos pela primeira e, embora importantes, a LAIP e a
regulamentação do lobby possuem limites que devem ser compreendidos, enfrentados e superados
(Mancuso, Angélico e Gozetto, 2014, p. 2).
A pesquisa aqui realizada visa exatamente superar esses limites apresentados pela
maioria dos estudos sobre o lobby no Brasil, contribuindo com o debate, tentando
verificar em que medida é possível generalizar as percepções dos atores políticos sobre a
regulamentação da atividade. Fortemente baseada na pesquisa global empreendida por
Chari, Hogan e Murphy (2010), este estudo procura respostas sobre estas percepções.
4 METODOLOGIA
A pesquisa empírica empreendida, que dá suporte às análises constantes nas seções posteriores,
combina duas técnicas de investigação. Uma pesquisa de survey, com questionários
aplicados para os representantes dos grupos de interesse e os assessores parlamentares
dos órgãos públicos, e um conjunto de entrevistas qualitativas realizadas com deputados
federais. Os aspectos mais relevantes da metodologia empregada são os a seguir.
17
Brasília, outubro de 2015
4.1 Survey com os grupos de interesses e assessores parlamentares
4.1.1 Registros incompletos e fontes limitadas
A primeira dificuldade enfrentada por pesquisadores na área de estudos sobre a ação
dos interesses organizados12 e do lobby no Brasil é a inexistência de um levantamento
seguro e completo sobre a grande quantidade de organizações e profissionais dedicados
às atividades de influenciar os tomadores de decisão. Não existe nenhum trabalho
acadêmico que ofereça sequer uma estimativa desta população no Brasil, e muito menos
sobre suas características. Em suma, pouco se sabe sobre a comunidade de lobby que
atua no sistema político brasileiro.
Dada essa limitação, optou-se pela única fonte disponível e sistemática, que é o
cadastro da Primeira Secretaria da Câmara dos Deputados.13 Embora reconhecidamente
incompleta, esta fonte, segundo o ponto de vista aqui adotado, oferece uma boa
oportunidade de pesquisa. Note-se que essa não é uma iniciativa original, o primeiro a
usar o cadastro dos grupos de interesse no Legislativo como fonte de pesquisa foi
Aragão (1994). Mas é importante registrar que, em seu trabalho, o autor usou os dados
da Primeira Secretaria da Assembleia Nacional Constituinte (ANC) (1987-1988),
órgão próprio daquele poder constituinte. Este cadastro, claro, é diferente do cadastro
na Primeira Secretaria da Câmara dos Deputados, pois está circunscrito a um momento
político específico.14
12. Neste trabalho utilizam-se os termos interesses organizados, grupos de pressão e grupos de interesse como sinônimos.
Esta variação terminológica deve ser vista, portanto, apenas como recurso de estilo, com a função de evitar repetições sucessivas
dos termos. Reconhece-se, contudo, que a literatura faz distinções sobre os termos, ver Thomas (2004).
13. O art. 259. do Regimento Interno da Câmara dos Deputados prevê que:
Além dos ministérios e entidades da administração federal indireta, poderão as entidades de classe de grau superior, de
empregados e empregadores, autarquias profissionais e outras instituições de âmbito nacional da sociedade civil credenciar
junto à Mesa representantes que possam, eventualmente, prestar esclarecimentos específicos à Câmara, através de suas
comissões, às lideranças e aos deputados em geral e ao órgão de assessoramento institucional. § 1o Cada ministério
ou entidade poderá indicar apenas um representante, que será responsável perante a Casa por todas as informações
que prestar ou opiniões que emitir quando solicitadas pela Mesa, por comissão ou deputado. § 2o Esses representantes
fornecerão aos relatores, aos membros das comissões, às lideranças e aos demais deputados interessados e ao órgão de
assessoramento legislativo exclusivamente subsídios de caráter técnico, documental, informativo e instrutivo. § 3o Caberá
ao primeiro-secretário expedir credenciais a fim de que os representantes indicados possam ter acesso às dependências da
Câmara, excluídas as privativas dos deputados (Brasil, 1989).
14. De fato, exatamente nos anos da Constituinte, o cadastro da Primeira Secretaria da Câmara dos Deputados está bem
abaixo dos anos anteriores e posteriores, apresentando apenas 22 registros. Por outro lado, os grupos registrados na Primeira
Secretaria da Assembleia Nacional Constituinte (ANC) e capturados por outras fontes chegou, segundo Aragão (1994), a
383 registros. Entende-se, portanto, que o deslocamento dos grupos de interesse para o cadastro da ANC inibiu o cadastro
da Primeira Secretaria da Câmara dos Deputados. Para uma análise da série histórica do cadastramento, ver Santos (2014).
18
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
Posteriormente, Santos (2007) também recorre aos dados da Primeira Secretaria
da Câmara dos Deputados e, da mesma forma que Aragão (1994), alerta para os limites
do cadastro. Segundo o autor,
A exiguidade dos registros decorre de sua nula influência sobre as condições para o exercício da
atividade, e o baixo número de entidades registradas, tanto na Câmara quanto no Senado,
mascara a existência da comunidade de interesses, cuja dimensão não pode ser mensurada a partir
desses dados (Santos, 2007, p. 418, grifos nossos).
Mas, embora seja razoável aceitar as limitações do cadastro como fonte, é difícil
compartilhar, pelo menos por completo, do argumento de Santos (2007) que aponta a
absoluta nulidade da influência do cadastramento sobre as condições para o exercício da
atividade de lobby no Parlamento. Há motivos para discordar desta afirmação, aqui vista
como excessivamente determinística. O motivo é que, ainda que o cadastramento não
seja compulsório e não impeça o exercício da atividade, ele oferece alguns incentivos,
sem maiores custos, aos representantes dos grupos de interesse. O primeiro, e talvez o
mais relevante, é que, ao se cadastrar, esse representante recebe uma identificação (crachá)
que o credencia a se apresentar como interlocutor legítimo dos interesses que representa.
Portanto, há motivos para acreditar que esta identificação ajuda em sua interação com
os parlamentares, dando credibilidade ao representante do grupo de interesse, de um
lado, e uma segurança relativa ao parlamentar, de outro. Se se considera que a atividade
de lobby é cercada de desconfiança e tem, em geral, uma percepção negativa tanto da
sociedade quanto por parte dos agentes políticos, acredita-se que este não é um incentivo
desprezível. Por outro lado, nem todos os grupos de interesse tem intenção de se manter
no anonimato. Ou seja, pelo mesmo motivo do preconceito amplamente compartilhado
sobre a atividade, aqueles que atuam de forma legal e legítima têm incentivos para se
diferenciar de práticas menos aceitáveis. Por fim, o cadastramento permite ao representante
acesso a espaços reservados no Parlamento (à exceção do Plenário), assim como permite
acesso facilitado ao edifício da Câmara dos Deputados.
Estes argumentos relativos aos incentivos ao cadastro encontram alguma sustentação
quando se verificam as opiniões dos respondentes e que o número de entidades cadastradas
na Primeira Secretaria tem aumentado consideravelmente ao longo dos anos.15
15. O survey aqui realizado aponta que “embora o cadastro não seja obrigatório, assessores parlamentares e lobistas
afirmam que há vantagens em se cadastrar. Os dados mostram que 89,7% dos respondentes afirmam haver vantagens
significativas em se cadastrar” (Santos, 2014, p. 14). No mesmo trabalho, constam os dados sobre a evolução do cadastro
da Primeira Secretaria, que é incremental desde 1983, até 2012.
19
Brasília, outubro de 2015
Mas é importante registrar que os incentivos aqui considerados, embora atenuem,
não são suficientes para mitigar a subestimação do cadastro com relação à magnitude
da comunidade de lobby que atua no Parlamento. Contudo, em que pese esse limite,
optou-se por recorrer ao cadastro no âmbito dessa pesquisa por se tratar da única fonte
a que se tem acesso.
Por outro lado, o sub-registro não é uma característica apenas do caso brasileiro,
este fenômeno se verifica em outros contextos, inclusive em alguns países que já regulamentaram a atividade e que preveem o cadastramento como condição para a atuação.
Chari, Hogan e Murphy (2010) afirmam que, mesmo depois da regulamentação, falhas
na legislação na Austrália e na Polônia, por exemplo, geraram sub-registro. No caso da
Austrália, lei de 1983, o problema estava na definição de lobista, que deixava de fora
grande parte da atividade daqueles que representavam grandes interesses se não fossem,
pelo menos oficialmente, pagos para tal. O resultado foi o sub-registro da atividade e o
descontentamento dos lobistas profissionais, que se viam obrigados a atuar declarando
suas atividades, sem que os demais precisassem fazer o mesmo. O problema só foi
minimizado posteriormente, quando em 2008 a legislação foi revista e, desta vez, tanto
o registro dos lobistas quanto as exigências de prestação de informações foram alvo de
regulação ampla. Mas, segundo os autores, “ainda assim os especialistas afirmam que
muito da atividade de lobby e influência continua fora do radar da legislação e da agência
de controle e fiscalização” (Chari, Hogan e Murphy, 2010, p. 94).
No caso da Polônia, a lei prevê que um resumo das proposições legislativas seja
publicado pelo Conselho de Ministros em um boletim especialmente dedicado a isto,
a cada seis meses. Assim, uma vez alertados sobre as matérias a serem apreciadas pelo
Parlamento, lobistas, grupos interessados e cidadãos podem se registrar e se habilitar a
participar. Contudo, segundo Chari, Hogan e Murphy (2010, p. 80), a lei é frequentemente
ignorada, o que gera um baixo registro da participação dos interesses envolvidos no
processo decisório daquele país.
O sub-registro, portanto, não é um problema exclusivo do caso brasileiro, nem
muito menos do cadastro da Primeira Secretaria. Este parece ser um fenômeno intrínseco
à atividade de lobby, que encerra muito do seu conteúdo às antessalas e ao anonimato,
o que se converte em um obstáculo nada trivial para a realização de pesquisa no campo.
20
Texto para
Discussão
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
Entende-se, dessa forma, que embora não seja uma fonte realmente segura, os dados
da Primeira Secretaria, gerados por provisão regimental, oferecem uma oportunidade
de pesquisa não desprezível. E a opção metodológica aqui adotada se justifica porque,
embora parcial e incompleto, além de única fonte, o cadastro oferece fácil acesso a uma
lista dos interesses organizados que atuam no Parlamento, inclusive com os endereços
e contatos dos cadastrados, criando assim as condições objetivas para a realização do
survey de opinião desenvolvido no contexto deste estudo.
Em suma, por força das evidências, é importante registrar que a descrição e as
inferências realizadas a partir desses dados certamente são limitadas e subestimam o
tamanho da comunidade de lobby e representação de interesses que atua no Parlamento.
Mas abrir mão desta fonte significa confinar o tema e submetê-lo ao esquecimento.
Como, aliás, em regra tem acontecido no Brasil.
4.1.2 Comunidade de lobby, população e amostra
O número de cadastros da Primeira Secretaria no biênio 2011-2012 é de 179. A inspeção
da tabela 1 mostra que estão cadastrados predominantemente os sindicatos, as associações
de caráter nacional, os órgãos de representação profissional, as grandes corporações,
entre outros. Além destes grupos, nota-se que boa parte do cadastramento diz respeito
também à representação de órgãos de Estado, como os ministérios, as secretarias com
status de ministério, os órgãos de controle, as agências reguladoras e os tribunais. Sabe-se,
contudo, que a participação de grupos de interesse no Parlamento é muito mais ampla
que esse pequeno universo. Qualquer observador mais atento poderá constatar que a
participação no âmbito das comissões parlamentares, por exemplo (em especial nas
audiências públicas), mostra um universo de lobby e influência bem mais amplo que o que
aqui está retratado.16 Portanto, a população aqui considerada, deve ser vista como parte
do universo de grupos de interesses que atuam no Parlamento, o que gera possibilidade
de pelo menos três vieses em relação à ampla constelação de grupos de interesses que
gravita em torno do Parlamento. Esses vieses são: i) o grau de institucionalização;
ii) a natureza dos interesses representados; e iii) a profissionalização da atividade.
16. No âmbito desta mesma pesquisa estão sendo levantados os dados da participação dos grupos de interesse nas comissões
parlamentares. Os resultados devem ser divulgados em breve.
21
Brasília, outubro de 2015
TABELA 1
Características da população e da amostra do survey
Órgãos e entidades
Órgãos de Estado
Sociedade civil
Outros
Total
Instituições financeiras
Agências reguladoras
Ministérios
Tribunais
Órgãos de controle
Conselhos
Secretarias ministeriais
Fundações e institutos
Departamentos
Procuradorias
Outros
Total Estado
Representação sindical
Associações livres
Representação profissional
ONGs
Centrais sindicais
Outros
Total sociedade civil
Instituições financeiras
Grandes corporações
Fundações e institutos
Outros
Total outros
População
População (%)
Amostra
Amostra (%)
1
7
26
5
5
1
5
5
2
1
8
66
43
43
5
1
2
5
99
3
8
1
2
14
179
0,6
3,9
14,5
2,8
2,8
0,6
2,8
2,8
1,1
0,6
4,5
36,9
24,0
24,0
2,8
0,6
1,1
2,8
55,3
1,7
4,5
0,6
1,1
7,8
100
1
5
3
2
4
0
1
2
0
1
4
23
14
18
3
0
0
2
37
0
5
0
0
5
65
1,5
7,7
4,6
3,1
6,2
0,0
1,5
3,1
0,0
1,5
6,2
35,4
21,5
27,7
4,6
0,0
0,0
3,1
56,9
0,0
7,7
0,0
0,0
7,7
100
Fonte: Primeira Secretaria da Câmara dos Deputados (2012).
Obs.: Os dados foram fornecidos pela Câmara dos Deputados, sob demanda dos autores via Lei de Acesso à Informação, e estão disponíveis sob consulta aos autores.
O primeiro viés diz respeito ao grau de institucionalização das entidades representadas.
Note-se que, juntamente com a representação dos órgãos de Estado, as categorias
predominantemente representadas são formadas por grupos formalmente constituídos
e melhor caracterizados como grupos de pressão. Esses grupos, em geral, são identificados
na maioria dos países como a parte mais institucionalizada e tradicionalmente representada
do sistema político. Os dados do cadastro, portanto, não captam as formas menos
institucionalizadas de representação de interesses.
O segundo viés diz respeito aos tipos de interesses representados, que são predominantemente interesses especiais, relacionados a segmentos específicos e/ou interesses
particulares. Este viés mostra que as associações da sociedade civil, como as organizações
não governamentais (ONGs) e outros movimentos representativos de segmentos sociais,
estão subestimadas. Provavelmente, esta omissão do cadastro está relacionada ao fato de
que os interesses defendidos por esses grupos são, predominantemente, interesses difusos,
o que implica tanto em recursos escassos quanto em estratégias de atuação diferenciadas.
22
Texto para
Discussão
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
Parte-se da premissa de que, dada a natureza do interesse representado e a
disponibilidade de recursos por parte desses grupos, suas estratégias de atuação e sua
penetração no sistema político são afetadas. De fato, constam na literatura especializada
diferenciações conceituais entre grupos de interesse e movimento sociais. Segundo
Thomas (2004, p. 7), grupos de interesses “são grupos organizados em torno de uma
issue, ou um conjunto delas, visando interesses particulares ou para a sociedade como
um todo, mas que não tem interesse em chegar ao poder a ponto de assumir o controle
da máquina governamental”. Já os movimentos socais “tentam emplacar visões mais
amplas e gerar mudanças sociais mais profundas (usualmente em favor de grandes
segmentos desfavorecidos da população) e/ou, defendem questões específicas (como o
movimento negro, os ambientalistas e as feministas)” (Thomas, 2004, p. 395). Outhwaite
e Bottomore (1996) também apresentam distinção relevante, sugerindo diferenças
significativas entre os termos grupos de interesse econômico – que teriam como característica
representar os interesses econômicos de seus membros ou de causas particulares, por
exemplo, sindicatos e organizações setoriais – e grupos de interesses promocionais –
considerados como engajados na defesa desprendida de uma causa promovida no interesse
de todos, por exemplo, grupos ambientais. O que se percebe com a análise do cadastro
é que os movimentos sociais, ou se preferir, os grupos de interesses promocionais, pela sua
natureza e pelos recursos que dispõem, provavelmente estão subestimados no cadastro.
Acredita-se que isto ocorra porque sabe-se que os movimentos sociais, por serem menos
institucionalizados e em geral por disporem de menos recursos, encontram muito mais
dificuldade de atuar sistematicamente, pois a atividade sistemática de lobby envolve
problemas de ação coletiva e requer empreendedores políticos capazes de arcar com os
custos da participação. Este problema, claro, está diretamente ligado à quantidade de
recursos disponíveis para esses grupos para fazer frente a esse desafio.
Por seu turno, o próprio repertório de ações desses grupos se diferencia dos
demais. Regra geral, movimentos sociais são mais afetos a mobilizações, ações de protestos
e posicionamento público sobre seus interesses políticos, que propriamente à atividade
de lobby. Aquilo que a literatura denomina de advocacy, o lobby dos movimentos sociais
em defesa de interesses difusos, portanto, encerra práticas diferenciadas. Nesse sentido,
imagina-se que os incentivos ao cadastramento sejam diferenciados, o que certamente
gera um viés que deve ser considerado na análise.
O terceiro viés do cadastro está relacionado à ausência – ou à presença obscurecida –
de lobistas profissionais, prática que é reconhecida e amplamente desenvolvida no
país, mas que por falta de regulamentação continua à margem dos registros. É possível
que muitas das entidades e empresas cadastradas realizem suas atividades de lobby e
23
Brasília, outubro de 2015
representação de interesses pela via da contratação de um profissional de lobby, de um
escritório de relações governamentais, de relações públicas ou mesmo de escritórios de
advocacia. Mas o cadastro da Primeira Secretaria, por falta de previsão legal, não permite
esta diferenciação.
Como a pesquisa de survey foi realizada com base no cadastro da Primeira Secretaria,
os dados aqui mobilizados devem ser analisados à luz dessas limitações.
4.1.3 Estratégias de coleta de dados
Foi realizado o levantamento de uma série histórica do cadastro da Primeira Secretaria, que
abrange o período 1983-2012, sendo selecionados para o survey apenas os representantes
dos grupos e assessores cadastrados no biênio 2011-2012. Esta escolha se justifica porque
o objetivo aqui é oferecer a visão mais atualizada possível.
Entre julho de 2011 e dezembro de 2012 foi realizado o procedimento de coleta de
dados. Várias foram as estratégias. Em primeiro lugar, foram enviadas cartas-convite pelo
correio convencional, acompanhadas do questionário impresso e de um envelope de resposta
previamente selado. Paralelamente, foram enviadas as mesmas cartas-convite via correio
eletrônico, contendo um login e senha para o preenchimento do questionário que também
foi disponibilizado de forma on-line. A dupla estratégia visava oferecer ao respondente a
oportunidade de escolher qual das duas formas de resposta lhe parecia mais conveniente.
Posteriormente, foram enviados mais três e-mails, visando lembrar aos que ainda
não haviam respondido, e estes e-mails foram enviados com intervalos de dois meses
entre cada retomada de contato. Por fim, entre outubro e novembro de 2012, foram
feitos contatos telefônicos visando estimular a resposta.
Como forma de garantir o anonimato, a segurança e a livre participação dos
respondentes, foram tomadas três providências. A primeira foi abrigar o questionário on-line
no domínio do servidor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O software
utilizado foi o Lime survey, um software aberto que permite incluir rotinas de proteção
dos dados, evitando portanto as ferramentas mais comuns oferecidas por provedores e
empresas que atuam na web. Além disto, a pesquisa foi registrada no Conselho de Ética e
Pesquisa (COEP) da UFMG que, ao aprovar a metodologia, emitiu parecer atestando que
a pesquisa estava dentro das diretrizes éticas daquele conselho. Cópias do parecer foram
enviadas a todos os respondentes, tanto impressas como de forma eletrônica. Por fim, todos
os respondentes também receberam um termo de consentimento livre e informado, que
garantia ao respondente tanto o sigilo dos dados como sua inteira liberdade de participar
24
Texto para
Discussão
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
ou não da pesquisa. O termo de consentimento livre e informado foi elaborado segundo
normas do COEP, e foi previamente aprovado pelo mesmo conselho.
Do total de 179 representantes cadastrados no biênio 2011-2012, 65 responderam
ao questionário.17 O que significa que 36,3% da população, que como já afirmado, é
aqui entendida apenas como os grupos de interesse cadastrados na Primeira Secretaria.
Foram enviados convites para todos os 179 grupos cadastrados, portanto, a
pesquisa não selecionou previamente uma amostra aleatória de respondentes. A opção
por não selecionar uma amostra está relacionada à baixa taxa de resposta em pesquisas
dessa natureza. Este problema atinge mesmo os estudos mais relevantes sobre o tema.
Chari, Hogan e Murphy (2010), responsáveis pela pesquisa mais relevante da atualidade
sobre regulamentação do lobby em perspectiva comparada, reportam que a taxa de
resposta dos seus questionários é de cerca de 10%. Nas palavras dos próprios autores,
“nós estamos francamente decepcionados com a baixa taxa de resposta, mas, se pensarmos
detidamente, isso talvez reflita o quão sensível esta questão pode ser”.18 A taxa de resposta
da pesquisa dos autores varia de acordo com o tipo de respondente. Políticos respondem
8,3%, administradores e burocratas 18,3% e lobistas e grupos de interesses apenas 5,3%.
Esta é, portanto, a razão que justifica não realizar surveys com amostras probabilísticas.
Optou-se por seguir este rumo e, considerando que o estudo aqui empreendido conseguiu
36,3% de respondentes entre os grupos de interesses e assessores parlamentares, o resultado
da coleta parece, dentro do possível, satisfatório.
Ainda em defesa da amostra aqui considerada, veja-se a tabela 1. Esta tabela mostra
que existe uma correspondência muito significativa entre a distribuição da população e
a distribuição da amostra. Note-se que nos percentuais das organizações da sociedade
civil19 a correspondência entre população e amostra é bastante satisfatória, 55,3% para a
população e 56,3% da amostra. O mesmo acontece com a categoria residual denominada
outros.20 Nesse caso, tem-se 7,8% e 7,7%, respectivamente. Por fim, para a representação
17. A maioria dos respondentes, 61 deles, optou pelo questionário on-line.
18. “We were quite frankly disappointed with the overall (low) response rate, but, in hindsight, it may reflect how sensitive
this issue can be” (Chari, Hogan e Murphy, 2010, p. 117).
19. Esta categoria denominada sociedade civil inclui grupos de interesses e entidades de representação sindical (patronal e
trabalhista), associações livres (extra corporativas), órgãos de representação profissional, ONGs e centrais sindicais.
Os 37 respondentes desta categoria são os representantes das entidades cadastrados na Primeira Secretaria da Câmara dos Deputados.
20. A categoria residual denominada outros engloba cinco grandes corporações.
25
Brasília, outubro de 2015
dos órgãos de Estado,21 a categoria representa 36,9% do total de cadastros, e na amostra o
percentual de respondentes é de 35,4%. Neste último caso, embora os percentuais gerais
sejam compatíveis, é importante registrar que há um número significativamente menor
entre os ministérios cadastrados e os respondentes. O que sugere cautela nas respostas
relativas a esta categoria. Mas, no geral, se controlada pelas categorias aqui consideradas, a
amostra guarda forte semelhança com a distribuição da população, o que inspira relativa
confiança. Assim, muito embora a aleatoriedade não esteja garantida, o risco de viés entre
a amostra e a população está significativamente atenuado, pois nas três categorias não
há muitas discrepâncias entre população e amostra. Mas nunca é demais lembrar que
se está tomando como população apenas os grupos cadastrados, o que impede pensar
nesta amostra como uma amostra representativa de toda comunidade de lobby que atua
no Parlamento. Como, aliás, já foi discutido na seção anterior.
Quanto ao erro aleatório, amostra de tamanho 65 para uma população finita de
179 corresponde a uma margem de erro de 0,08, para mais ou para menos, com intervalo
de confiança de 90%.22 Ou seja, tem-se 90% de confiança que a proporção verdadeira
de uma característica na população está contida no intervalo definido pela proporção
estimada acrescida da margem de erro de 0,08 (para mais e para menos). Acredita-se que
este é um resultado bastante satisfatório, pois o campo de investigação envolve problemas
sérios com a aquisição de respostas pelos entrevistados, como já visto. Ademais, por se
tratar de um estudo pioneiro, é natural que se tenha limitações um pouco maiores do
que em geral os campos de investigação mais amadurecidos apresentam.
4.2 Entrevistas em profundidade
Em caráter complementar, foram realizadas também onze entrevistas em profundidade
com deputados federais, sendo sete deles presidentes de comissões permanentes e quatro
relatores assíduos de comissões parlamentares. A coleta de dados foi realizada entre 2012
e 2013. Os dados destas entrevistas foram muito importantes para contextualizar e
lançar luz sobre a prática do lobby e a natureza da atuação desses grupos no Parlamento.
Ademais, esses dados serviram como forma de complementar as interpretações dos dados
21. Na categoria órgãos de Estado estão incluídas instituições financeiras públicas, agências reguladoras, ministérios,
tribunais e outros órgãos da justiça, órgãos de controle, conselhos de políticas secretarias ministeriais, fundações e institutos
públicos, departamentos de governo e procuradorias. Os 23 respondentes destas categorias são os assessores parlamentares
cadastrados na primeira secretaria da Câmara dos Deputados.
22. O erro foi calculado de acordo com a seguinte fórmula do tamanho de amostra (n) necessário para se estimar a proporção
de uma pequena população de tamanho N, com 90% de confiança (z = 1,65): n = m/(1 + (m - 1)/N), onde m = z2p(1 - p)/
e2 e p = 0,5.
26
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
quantitativos. Boa parte desse conteúdo empírico, portanto, está consubstanciado na
interpretação dos resultados e refletido nas conclusões substantivas deste estudo.
Em suma, as generalizações dos resultados a seguir devem levar em conta as
limitações anteriormente relacionadas. Sabe-se que as dificuldades de obtenção de
dados nesse campo são sintomáticas. Infelizmente, as atividades de lobby sempre estão
fortemente associadas a práticas indesejadas e obscuras e que o termo recebe em geral
uma carga pejorativa que induz resistência dos atores políticos envolvidos na atividade
em revelar informação. Espera-se que futuros estudos superem esses limites. Mas dados
os problemas inerentes a este campo, é razoável depositar confiança na relevância do
esforço aqui realizado.
Feitas as ressalvas metodológicas necessárias, passa-se, na seção 5, à análise dos resultados.
5 SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DA REGULAMENTAÇÃO DO
LOBBY: CONTROVÉRSIAS E CONVERGÊNCIAS
Os resultados da pesquisa apontam para uma posição majoritariamente a favor da
regulamentação. Quando perguntados sobre o quanto o(a) Sr.(a) concorda ou discorda
com a afirmação de que a atividade de lobby precisa ser regulamentada no Brasil?, 58,5%
dos respondentes afirmam que concordam plenamente e 21,5% concordam mais que
discordam. Assim, mesmo considerada a margem de erro de 8%, nota-se claramente o
apoio generalizado à regulamentação, pois as duas categorias juntas representam 80%
dos respondentes, ficando 7,7% dos respondentes indiferentes e apenas 6,2% contrários,
afirmando que discordam ou discordam totalmente; 6,1% dos respondentes preferiram
não responder à questão.
Como a amostra inclui diferentes atores envolvidos no processo decisório, atuando
em defesa de interesses e com estratégias distintas, faz-se necessária uma comparação entre
as opiniões dos respondentes por grupo. Para tanto, a amostra foi dividida basicamente
entre três grupos: os representantes dos grupos de interesses da sociedade civil, os
assessores parlamentares dos órgãos de Estado que atuam no Parlamento e uma categoria
residual denominada outros.23 A comparação desagregada do apoio à regulamentação do
lobby entre os grupos, contudo, não revela diferenças relevantes. Enquanto 78,3% dos
23. Para conhecimento dos grupos que compõem as três categorias, ver notas 19, 20 e 21.
27
Brasília, outubro de 2015
assessores parlamentares apoiam a regulamentação (concordam parcial ou plenamente),
81,1% dos representantes dos grupos de interesses da sociedade civil também apoiam.
Na categoria outros, 80% se alinham aos demais.
Mas, concordar com a necessidade de regular não significa necessariamente
concordar sobre as consequências esperadas com a regulamentação. Sobre esse aspecto, as
próximas seções discutem a visão dos entrevistados sobre os aspectos positivos e negativos
esperados com a regulamentação do lobby. A estratégia analítica empregada doravante
é a mesma. Primeiro são analisados os resultados agregados, depois comparam-se as
respostas entre diferentes grupos.
5.1 Sobre as consequências da regulamentação
Com relação às percepções sobre as consequências que as regulamentações do lobby
acarretariam, as opiniões também são convergentes, embora variem em intensidade.
A tabela 2 descreve os pontos de consenso sobre as consequências (positivas e negativas),
capturadas pelo survey realizado com os representantes das entidades e os assessores
parlamentares. Para tanto, foram formuladas oito questões, baseadas nos argumentos
contrários e favoráveis constantes na literatura supracitada.
TABELA 2
Opiniões sobre as consequências esperadas com a regulamentação do lobby
Efeitos esperados
Discordam Indiferente
Concordam
Não sabe/
Total Polarização
Não respondeu
Efeitos positivos da regulamentação do lobby
1. Ao tornar as ações dos grupos de interesses e dos políticos mais
claras, permitirá maior transparência do processo decisório.
7,7
6,2
75,4
10,7
100
0,17
2. P ode deixar o eleitor e a sociedade mais bem informados sobre os interesses
envolvidos nas decisões políticas permitindo maior accountability.
9,2
9,2
72,3
9,3
100
0,20
3. Vai diminuir o risco das ações de lobby assumirem a forma degenerada de
corrupção e tráfico de influência.
15,4
9,2
64,6
10,8
100
0,35
4. Aumenta a informação para todos os grupos, evitando o domínio de
interesses específicos e setores mais poderosos.
16,9
9,2
63,1
10,8
100
0,38
5. G
era a percepção de que só é possível participar por meio de grupos
formalmente constituídos, criando barreiras à entrada para os grupos
menos organizados.
56,9
10,8
23,1
9,2
100
0,51
6. A regulamentação fortalece os grupos mais poderosos, transformando o
Parlamento em um balcão de negócios, distorcendo ainda mais a representação
55,4
20
15,4
9,2
100
0,34
7. A atividade deve ser autorregulamentada, pois a regulação por lei
fere a liberdade de expressão e de associação.
58,4
13,8
15,4
12,4
100
0,35
8. O
custo-benefício para o Estado não compensa: altos custos com
fiscalização e pouco resultado em termos políticos.
67,7
9,2
12,4
10,7
100
0,28
Efeitos negativos da regulamentação do lobby
Fonte: UFMG/Ipea
Obs.: Dados primários coletados em pesquisa de survey. Disponíveis sob consulta aos autores.
28
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
5.2 Sobre as consequências positivas
A maioria dos respondentes revelou uma ampla aceitação sobre as consequências positivas
relacionadas à regulamentação do lobby. Com relação ao aumento da transparência, 75,4%
dos entrevistados afirmaram que concordam, parcial ou plenamente, com a afirmação.
Com relação à possibilidade de diminuir o risco de corrupção e o tráfico de influência, o
apoio é de 64,6%. Com relação ao aumento da accountability eleitoral, 72,3% acreditam
neste resultado. Por fim, no que diz respeito à diminuição da assimetria informacional
entre os grupos e suas consequências positivas para os setores menos poderosos, 63,1%
dos entrevistados afirmou que este deve ser um efeito esperado.
Como se vê claramente, as percepções dos envolvidos na atividade são bastante
otimistas. Regra geral, o apoio à regulamentação, que como já dito é de 80,0%, se
confirma quando são explorados seus potenciais efeitos positivos. Os grupos de interesse
acreditam fortemente nos efeitos positivos da regulamentação, inclusive sobre o controle
da corrupção, embora esta afirmação não encontre apoio na literatura especializada.
O que se vê na literatura é que grande parte dos autores sustenta que o papel da regulamentação é garantir accountability (Thomas, 2004; Graziano 1994; 1997; Gray e Lowery,
1998), mas não se encontram argumentos fortes que sustentem que a regulamentação
diminui a corrupção. Como sugerem Chari, Hogan e Murphy (2010, p. 6), regulamentar
a atividade “não significa dizer que a regulamentação do lobby visa proibir o suborno –
muitas democracias liberais já desenvolveram legislação específica que lidam com a
corrupção.”24 Ou seja, em vez de visar o combate à corrupção, boa parte dos autores
defendem que o papel da regulação do lobby é sensibilizar a sociedade para os interesses
por trás das decisões, trazendo a política para o escrutínio público (Gray e Lowery, 1998)
e aumentando o conhecimento de como funcionam os sistemas políticos e de quais são
os atores e interesses que nele atuam.
24. Dada a associação, ao nosso ver incorreta, entre lobby e corrupção, alguns diplomas legais são geralmente apontados
como normas que também regulam a atividade de lobby. Assim, dispositivos como a Lei de Colarinho Branco (no 7.492/1986),
a recentemente aprovada Lei Anticorrupção (no 12.846/2013), ou mesmo os artigos do Código Penal que tipificam tráfico de
influência e suborno como crime, em geral são citadas. É importante deixar claro que essas normas não devem ser vistas como
regulamentação do lobby. Exemplos mais apropriados seriam os atos normativos que visam regulamentar a atividade, pelo
menos indiretamente, são eles: a Resolução no 47/2013 (Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados);
a Resolução no 20/1993 (que institui o Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado); o Decreto no 1.171/1994 (Código
de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal); o Decreto no 4.334/2002 (Regulamentação de
audiências concedidas a particulares por agentes públicos), entre outros.
29
Brasília, outubro de 2015
Poder-se-ia, pelo menos teoricamente, defender que quanto mais accountability,
menos corrupção. Mas o debate sobre a “esperada” relação inversa entre accountability
e corrupção é dúbio. Com relação ao que fazer para o exercício efetivo do controle dos
eleitos e da burocracia na prestação de serviços ao cidadão, Przeworski (2002), por exemplo, é
bastante cético. Como o principal problema de accountability, o autor aponta a debilidade dos
mecanismos eleitorais de controle popular – tanto os retrospectivos quanto os prospectivos.
Por outro lado, o autor constata que mecanismos de controle direto por parte de
cidadãos sobre as burocracias públicas têm existido apenas em poucas democracias, além
de não funcionarem assim tão bem. Sobre o que fazer, responde: “só resta a alternativa de
protestar publicamente, que funciona de vez em quando, ou esperar que os mecanismos
de accountability horizontal comecem a funcionar” (Przeworski, 2002, p. 74).
5.3 Sobre as consequências negativas
De forma bastante coerente com o apoio dado à regulamentação do lobby e com a visão
generalizada dos seus efeitos positivos, os respondentes mostraram discordância forte sobre
os efeitos negativos associados à regulação. Voltando à tabela 2, nota-se que 56,9% dos
respondentes discordam, parcial ou plenamente, com as possíveis restrições à participação
dos grupos menos poderosos que poderiam ser geradas pela regulamentação. No mesmo
sentido, quando questionados sobre se a regulamentação do lobby aumentará o poder
dos interesses mais organizados e poderosos em detrimento dos interesses coletivos da
sociedade, transformando o Parlamento em um balcão de negócios e distorcendo ainda
mais a representação política, 55,4% dos respondentes rejeitam este efeito negativo
apontado por parte da literatura.
Quando inquiridos sobre se o lobby deve ser uma atividade autorregulamentada, 58,4%
respondem negativamente. Por fim, com relação ao custo-benefício da regulamentação, a
tendência se confirma, 67,7% dos entrevistados contestam a ideia de que não vale a pena
regulamentar a atividade porque a relação custo-benefício não justifica a iniciativa.
Resumidamente, pode-se afirmar que os respondentes concordam com os efeitos
positivos e refutam os efeitos negativos que a literatura sugere que podem ser gerados
com a regulamentação do lobby. Mas é preciso considerar que há diferenças em termo
do grau de consenso das questões aqui mobilizadas. Ainda na tabela 2, é possível aferir
30
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
que o grau de polarização25 das repostas varia (última coluna). Note-se que a polarização
varia entre 0,17 e 0,51, sendo os valores menores atribuídos à menor polarização e
vice-versa. Com base nesse indicador, a questão com opiniões menos polarizadas é
a primeira, e a mais polarizada é a quinta questão. Esta variação, contudo, não chega a
refutar o consenso, apenas a matiza-lo. Contudo, a comparação entre os grupos sugere
que existem algumas diferenças importantes entre as respostas das diferentes categorias
de entrevistados.
5.4 Diferenças entre as opiniões dos agentes do Estado e da sociedade civil
A tabela 3 traz os resultados das repostas considerando os diferentes tipos de respondentes.26
No que diz respeito às consequências positivas esperadas com a regulamentação, em
pelo menos três delas os padrões de resposta são bastantes consistentes. A saber: mais
transparência, accountability e diminuição dos riscos de corrupção. A nota principal a
ser observada aqui é que a crença dos agentes do Estado a estas consequências positivas
é ligeiramente superior.
Porém, uma diferença que parece merecer reflexão diz respeito à percepção sobre
as consequências que a regulação do lobby exerceria sobre a diminuição da assimetria
de informações entre os grupos, gerando efeitos positivos sobre o incremento do poder de
influência dos menos poderosos. Note-se que a diferença entre respondentes dos representantes dos órgãos de Estado e da sociedade civil é bastante acentuada. Enquanto no
primeiro grupo apenas 52,2% concordam parcial ou plenamente, no segundo, 67,6%
assume esta posição. Uma interpretação possível para esta diferença encontra fundamento
no fato de que são os grupos de interesse da sociedade civil os mais afetados por estas
assimetrias. Por força de sua atividade, os representantes dos ministérios e dos órgãos de
Estado têm, em geral, mais informação que a maioria dos grupos de interesses, dado que
o Executivo é o principal proponente de proposições legislativas e que o governo é, em
geral, o principal formulador de políticas. Esta diferença, portanto, é aqui interpretada
pelos diferentes papéis desempenhados por sociedade civil e governo quando envolvidos
na atividade de representação de interesses e de lobby.
25. A polarização é calculada da seguinte forma:
, onde: I = indiferentes; C = Concordam; D = Discordam;
e N = Não sabe e Não respondeu. Agradecemos a Acir Almeida (Ipea) pela sugestão de considerar a polarização das opiniões,
sugerindo inclusive a forma de cálculo.
26. Com relação às respostas da categoria outros, considera-se que o N baixo (apenas cinco respondentes) distorce sobremaneira
a análise comparativa em termos percentuais. Portanto, este grupo não será analisado. Advoga-se que, por se tratar de uma
categoria residual, o prejuízo à análise está minimizado e não gera consequências sobre a validade dos resultados.
31
Brasília, outubro de 2015
TABELA 3
Opiniões sobre as consequências positivas sobre a regulamentação do lobby, agentes do
Estado e sociedade civil
(Em %)
Agentes do Estado
Sociedade civil
GoodmanNão sabe/não
Não sabe/não -Kruskal
Discorda Indiferente Concorda
Discorda Indiferente Concorda
respondeu
respondeu
Questão
1. Ao tornar as ações dos grupos de interesses
e dos políticos mais claras, permitirá maior
transparência do processo decisório.
4,3
0,0
73,9
21,7
10,8
10,8
73,1
5,4
0,035
2. P ode deixar o eleitor e a sociedade mais bem
informados sobre os interesses envolvidos
nas decisões políticas permitindo maior
accountability.
4,3
8,7
69,6
17,4
13,5
8,1
73,0
5,4
0,009
3. Vai diminuir o risco das ações de lobby assumirem
a forma degenerada de corrupção e tráfico de
influência.
13,0
4,3
60,9
21,7
18,9
13,5
62,3
5,4
0,011
4. Aumenta a informação para todos os grupos,
evitando o domínio de interesses específicos e
setores mais poderosos.
21,7
8,7
52,2
17,4
13,5
10,8
67,6
8,1
0,012
Fonte: UFMG/Ipea (2013).
Obs.: Dados primários coletados em pesquisa de survey. Disponíveis sob consulta aos autores.
Mas para saber em que medida essas diferenças encontradas na amostra podem ser
consideradas significativas para a população, foram realizados testes de associação entre os
diferentes grupos de respondentes. O teste de associação aqui utilizado foi o Goodman
e Kruskal. A estatística reportada é o Tau de Goodman e Kruskal27 e os valores estão
dispostos na última coluna da tabela. Os resultados mostram associações muito fracas
e, ainda, que nenhuma delas apresentou significância estatística que permitisse rejeitar
a hipótese nula. Substantivamente, isto significa que não é possível afirmar, com certa
confiança, que estas diferenças de fato existem na população.
Assim, em que pese esse resultado, a análise comparativa entre os grupos sobre as
consequências esperadas pela regulação não altera as conclusões gerais até agora sugeridas.
Note-se que, em todas as questões avaliadas, o padrão é o mesmo, o que caracteriza uma
percepção altamente favorável às consequências positivas da regulamentação da atividade.
Já no que diz respeito às questões relacionadas aos efeitos negativos da regulamentação
27. As estatísticas de Goodman-Kruskal são medidas de associação entre variáveis categóricas. O Tau de Goodman-Kruskal é
uma medida de associação por tabulação cruzada de variáveis nominais. A estatística baseia-se na atribuição aleatória da
categoria e mede a porcentagem com a melhor previsibilidade da variável dependente (variável de coluna ou linha) dado o
valor de outras variáveis (variáveis de linha ou coluna). O Tau de Goodman-Kruskal é o mesmo que o Lambda de Goodman-Kruskal,
exceto pelo fato de que os cálculos da estatística são baseados em probabilidades de atribuição especificadas por proporções
marginais ou condicionais. Fonte: Minitab Support (tradução nossa). Disponível em: <http://goo.gl/WyqeUg>.
32
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
do lobby, sumarizadas na tabela 4, a comparação mostra pelo menos três diferenças relevantes.
A primeira é com relação às barreiras à entrada que a regulamentação pode gerar.
Enquanto a maioria dos representantes dos grupos de interesse da sociedade civil não dá
suporte a esta ideia (62,2% discordam parcial ou plenamente), o mesmo não acontece
com os assessores parlamentares. Para este grupo, a discordância é de 43,5%. O que se
vê neste caso é que essa última categoria discorda com muita intensidade da ideia de que
a regulamentação do lobby pode gerar a percepção de que só é possível participar por
meio de grupos formalmente constituídos, inibindo assim a ação de novos interesses.
TABELA 4
Opiniões a respeito das consequências negativas sobre a regulamentação do lobby,
agentes do Estado e sociedade civil
(Em %)
Agentes do Estado
Questão
Sociedade civil
GoodmanNão sabe/não
Não sabe/não -Kruskal
Discorda Indiferente Concorda
Discorda Indiferente Concorda
respondeu
respondeu
4. G
era a percepção de que só é possível
participar através de grupos formalmente
constituídos, criando barreiras à entrada para
os grupos menos organizados.
43,5
8,7
30,4
17,4
62,2
13,5
18,9
5,4
0,020
5. A regulamentação fortalece os grupos mais
poderosos, transformando o Parlamento em
um balcão de negócios, distorcendo ainda
mais a representação.
43,5
26,1
13,0
17,4
64,9
18,9
10,8
5,4
0,018
6. A atividade deve ser autorregulamentada,
pois a regulação por lei fere a liberdade de
expressão e de associação.
65,3
8,7
4,3
21,7
48,7
18,9
24,3
8,1
0,062*
7. O custo-benefício para o Estado não compensa:
altos custos com fiscalização e pouco resultado
em termos políticos.
65,3
8,7
4,3
21,7
64,9
10,8
18,9
5,4
0,023
Fonte: UFMG/Ipea (2013).
Nota: * Pvalor ≤ 0,05.
Obs.: Dados primários coletados em pesquisa de survey. Disponíveis sob consulta aos autores
A segunda diferença diz respeito à negativa dos respondentes acerca da pergunta
que sugere que a regulamentação do lobby pode transformar o Legislativo em um balcão
de negócios, distorcendo ainda mais a representação política no Parlamento. Nesse caso,
os grupos de entrevistados apresentam diferenças relevantes, sendo os representantes da
sociedade civil bem mais refratários à proposição (64,9%) do que os agentes do Estado
(43,5%). O resultado parece relativamente fácil de explicar, já que os grupos de interesse
advogam para si o papel de representação política dos interesses de seus membros e que,
por outro lado, não veem o lobby como um balcão de negócios. Aliás, são eles os mais
interessados em separar a ideia de lobby como atividade legítima da percepção equivocada
que associa atividade a negociata ou troca de favores e favorecimento mútuo, percepções
bastante compartilhadas em função da carga pejorativa que o termo carrega.
33
Brasília, outubro de 2015
Mas é a terceira diferença (a de número 6 na tabela) que merece mais atenção.
Trata-se da forte divergência sobre a autorregulamentação. Nota-se na diferença entre
os dois tipos de respondentes que os agentes do Estado discordam fortemente que se
a atividade não for autorregulamentada ela fere a liberdade de expressão e associação
(65,3%). Do outro lado, os representantes da sociedade civil, embora estejam muito
próximos de formar uma maioria contrária ao efeito negativo da regulação, divergem de
maneira muito mais amena (48,7%). Note-se que esta diferença apresenta resultado de
associação bem mais forte que as demais e que o resultado é estatisticamente significativo
para o teste de Goodman e Kruskal. O que permite afirmar que a diferença encontrada
na amostra pode ser generalizada para a população, com grau de confiança de 95%.
Por fim, a última questão é a que menos apresenta divergências entre grupos.
Note-se que os percentuais em torno de 65% são praticamente compatíveis, o que mostra
a discordância na mesma intensidade entre os dois grupos no que diz respeito ao baixo
custo-benefício por parte do Estado com a regulação da atividade.
Em suma, em que pesem as pequenas diferenças, existe uma convergência entre os
operadores do lobby quanto à necessidade e aos efeitos positivos que se deve esperar com
a regulamentação da atividade. Da mesma forma, regra geral os respondentes refutam
seus efeitos negativos. Pode-se afirmar, portanto, que as diferenças são muito mais de
grau que propriamente divergências severas e polêmicas.
Mas essa convergência não significa, claro, que todos concordem em como regulamentar.
Sobre este aspecto, a análise dos resultados de outra bateria de questões a seguir mostra
que o consenso não é assim tão evidente.
6 PROPOSTAS DE REGULAMENTAÇÃO DO LOBBY:
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS
Nas iniciativas legislativas apresentadas no Congresso Nacional para a regulamentação
do lobby28 constam, claro, diferentes propostas. Como dito anteriormente, são nada
menos que dezessete proposições que tramitaram ou tramitam no Congresso Nacional
desde 1984. Dada esta significativa atividade parlamentar sobre o tema, outro aspecto
importante que a pesquisa procurou investigar foram as opiniões dos representantes dos
28. Existem discussões sobre as previsões constitucionais que podem ser vistas como fundamentos para a atividade de lobby e
representação de interesses. Mas essa discussão não será aqui mobilizada. Para uma excelente contribuição, ver Santos (2007).
34
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
grupos de interesses e dos assessores parlamentares sobre os aspectos mais relevantes e
polêmicos dessas propostas. Para tanto, foram selecionadas e submetidas aos entrevistados
treze propostas contidas nos dezessete projetos analisados.
A tabela 5 sumariza as opiniões sobre as propostas de regulamentação elencadas.
Nesta se pode ver, já de saída, que a convergência não impera. Na tabela 5, um bloco de
apenas seis das treze propostas selecionadas pode ser, segundo os critérios aqui definidos,
considerada como de ampla concordância entre os respondentes. Cumpre informar que,
para efeito da análise aqui empreendida, entende-se como uma proposta com ampla
concordância a que tenha recebido mais de 50% das opiniões favoráveis e, ao mesmo
tempo, que tenha um grau de polarização menor que 0,5. As proposições que não
cumpriram estes dois requisitos foram consideradas como proposições que dividem as
opiniões dos respondentes.
TABELA 5
Opiniões sobre as propostas da regulamentação do lobby em tramitação
Proposta
Discordam Indiferentes Concordam
Não sabem/não
Total Polarização
responderam
Propostas com ampla concordância
1. As doações de campanha realizadas pelos grupos de pressão devem ser
declaradas e tornadas públicas.
6,1
1,5
78,5
13,9
100
0,14
2. Exige procuração da entidade/órgão para que seus representantes possam
exercer suas atividades a fim de que possam atuar regularmente em seu nome.
10,8
4,6
73,9
10,7
100
0,24
3. O
briga o registro dos representantes de grupos de interesses para o
acesso ao Congresso Nacional e o exercício de suas atividades.
15,4
1,5
73,8
9,3
100
0,34
4. O
s parlamentares e ministros devem disponibilizar suas agendas de
compromissos oficiais, contendo eventos, interlocutores e temas.
15,4
6,2
67,6
10,8
100
0,35
5. Veda a concessão de qualquer tipo de remuneração ou vantagem a
parlamentares e servidores, incluindo presentes, viagens, refeições etc.
16,9
9,2
61,5
12,4
100
0,39
20
10,8
58,5
10,7
100
0,45
7. O
ferece aos grupos a possibilidade de apresentar formalmente e em seu
nome emendas legislativas no âmbito das comissões parlamentares.
24,6
12,3
52,3
10,8
100
0,55
8. L imita o credenciamento apenas para as entidades que cumpram regras
democráticas de gestão e mantenham atividades de lobby regular e
comprovadamente
29,2
4,6
50,8
15,4
100
0,69
9. E stabelece instrumentos de amplo acompanhamento da vida financeira
das entidades e pessoas envolvidas com a atividade de lobby.
32,3
6,2
49,3
12,2
100
0,74
10. P ermite que se firmem convênios e acordos de cooperação com as
entidades credenciadas, inclusive financeiros.
24,6
15,5
47,7
12,2
100
0,56
11. E xige relatórios periódicos de atividades e prestação de contas dos
gastos das entidades com ações de lobby no Congresso Nacional.
35,4
4,6
46,2
13,8
100
0,82
12. O
briga o agente de lobby a apresentar declarações com informações
contendo seus interesses, as proposições e os servidores e autoridades
públicas com quais deseja tratar.
38,5
6,2
44,6
10,7
100
0,86
13. D
etermina que os grupos de pressão devem ser necessariamente ouvidos nas comissões que avaliem proposições de seu interesse.
46,2
6,2
38,5
9,1
100
0,85
6. Permite a entidades credenciadas protocolar pareceres, estudos, pesquisas e
inclusive sugestões legislativas, com encaminhamento obrigatório pela Mesa.
Propostas que dividem opiniões
Fonte: UFMG/Ipea (2013).
Obs.: Dados primários coletados em pesquisa de survey. Disponíveis sob consulta aos autores.
35
Brasília, outubro de 2015
6.1 Convergências sobre como regular o lobby
As propostas com apoio mais significativo são a declaração obrigatória do financiamento
de campanha por parte dos grupos, a exigência de procuração legal para o exercício da
representação e a obrigação do registro de lobistas e representantes das entidades. Como
se vê, todas estas tiveram o apoio de mais de 70% dos respondentes, que afirmaram que
concordam parcial ou plenamente com elas. Quando questionados sobre se as doações de
campanha realizadas pelos grupos de pressão, tanto aos partidos quanto aos candidatos,
deveriam ser declaradas e tornadas públicas, 78,5% apoiaram a ideia. Com relação à
exigência da procuração legal da entidade ou do órgão público para que os lobistas/
representantes possam exercer suas atividades regularmente em seu nome, 73,9% apoiaram
a proposta. Percentual similar de 73,8%, concordam com a obrigatoriedade do registro.
Duas outras propostas também receberam um apoio significativo, embora menos
intenso pois apresentam valores agregados (concordam parcial ou plenamente) situados
entre 60% e 70%. Quando questionados sobre se os parlamentares e ministros devem
disponibilizar suas agendas de compromissos oficiais, constando os eventos, os interlocutores e os temas a serem tratados nos referidos eventos oficiais, 67,6% apoiaram a ideia.
Já quando questionados sobre a proposição legislativa que prevê a vedação total
de pagamento, por parte da organização, de qualquer remuneração, prêmio, presente,
viagens e refeições a parlamentares ou servidores públicos, 61,5% apoiaram a ideia total
ou parcialmente.
Por fim, mais uma proposta sondada recebeu apoio também, embora com valor
ligeiramente menor. Quando instados a se posicionar, 58,5% dos respondentes foram
a favor da intenção de permitir a todas as entidades credenciadas a possibilidade de
protocolar na Mesa Diretora do Legislativo pareceres, estudos, pesquisas ou quaisquer
documentos que julguem relevantes – inclusive sugestões de iniciativa legislativa.
A proposta prevê, ainda, que a Mesa deve obrigatoriamente encaminhar para as comissões
os referidos documentos.
Em suma, embora com diferentes intensidades de apoio, essas são as proposições
que encontram maior aceitação entre todos os respondentes. Note-se que o grau de
polarização entre os grupos é bastante discreto, variando de 0,14 a 0,45. Posteriormente,
serão analisados os resultados desagregados por grupo. Por ora, passa-se à análise das
opiniões controversas de forma agregada.
36
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
6.2 Controvérsias sobre como regular o lobby
Voltando à tabela 5, é possível ver que sete das treze propostas submetidas ao processo
legislativo receberam opiniões controversas entre os respondentes.
O primeiro bloco que merece consideração contém duas propostas que receberam
percentuais ligeiramente acima de 50% de concordância, mas que apresentaram um grau
de polarização relativamente alto (acima de 0,5). A primeira é a proposta que garante
aos grupos a possibilidade de apresentar formalmente – e em seu nome – emendas
legislativas no âmbito das comissões parlamentares, sobre a qual o percentual é de 52,3%
de concordância. A segunda é a que determina a restrição do credenciamento apenas
para as entidades que cumpram regras democráticas de gestão e que mantenham
atividades de lobby regular e comprovadamente, 50,8% dos respondentes foi parcial ou
plenamente favorável. Dados os percentuais e a polarização, não é possível considerar
que essas propostas sejam amplamente aceitas pelos respondentes.
Um segundo bloco, formado pelas propostas de 9 a 12, pode ser pensado como o
conjunto de propostas que trata de questões de natureza financeira e de transparência das
atividades de lobby. Entre as propostas nele contidas, está a que estabelece instrumentos
de amplo acompanhamento da vida financeira das entidades e pessoas envolvidas no
processo de representação de interesses. Neste caso, o apoio é forte, mas não suficiente
para formar uma maioria, já que a estatística é de 49,3%. Em seguida tem-se a proposta
que visa regulamentar que as entidades representativas, os órgãos de governo e os órgãos
técnico-científicos devidamente credenciados poderão firmar convênios e acordos de
cooperação, bem como colaborar financeiramente, com atividades que visem ampliar o
debate e a deliberação em torno dos temas aos quais têm interesse. Essa proposta teve
apoio parcial ou pleno de 47,7%.
Mais duas propostas compõem o que se está agrupando em termos de controle
financeiro e de atividades. A proposta de número 11 diz respeito à exigência de relatório
de atividades e prestação de contas especificamente dos gastos das entidades com suas
atividades de lobby no Congresso Nacional, que teve apoio de 46,2% dos entrevistados.
Já a proposta de número 12 visa vincular o agente de lobby a apresentar declarações com
informações contendo interesses que representam, seus objetivos, as proposições de seu
interesse e os servidores e as autoridades públicas com quais deseja tratar. Medida que se
caracteriza como fonte de controle bastante amplo das atividades de lobby. Não sem razão,
essa proposta recebeu apenas 44,6% de apoio parcial e total por parte dos respondentes.
37
Brasília, outubro de 2015
Por fim, a proposição que visa garantir que os representantes dos grupos de pressão
deverão ser necessariamente ouvidos nas comissões que avaliem proposições de seu interesse,
também não une os respondentes. Neste caso, inclusive, o percentual de apoio parcial ou
pleno, que é de 38,5%, é inferior à soma das respostas contrárias à ideia, que é de 46,2%.
Interpretações mais substantivas sobre os resultados podem ser encontradas nas
seções seguintes, quando da análise desagregada das opiniões. Por agora, o importante
é notar que, embora em seis das sete proposições que dividem opiniões os percentuais
sejam mais favoráveis que contrários, os graus de polarização das respostas desse grupo
são bem elevados. Se considerados em comparação com a polarização das respostas dadas
às propostas com ampla concordância, nota-se que a polarização destas varia de 0,14 a
0,45, enquanto o mesmo indicador aponta uma variação de 0,55 a 0,85 para o padrão
de respostas do segundo grupo.
De forma resumida, o que se depreende desse resultado sobre as controvérsias
acerca das propostas de regulamentação é que em pelo menos três aspectos o consenso
fica abalado. O primeiro diz respeito ao controle financeiro das atividades, o segundo à
imposição da declaração pública dos interesses, das atividades e dos interlocutores dos
grupos de pressão e o terceiro, e não menos relevante, diz respeito à inclusão dos grupos
de interesse como atores relevantes no processo legislativo, atribuindo a estes um papel
regimental e legalmente reconhecido. Não sem razão, estes pontos são relevantes pois os
dois primeiros estabelecem uma interferência muito forte no controle sobre as atividades
de lobby. Já o terceiro, atribui um status bem relevante dos interesses organizados no
processo legislativo, atribuindo aos grupos um papel no processo legislativo que
constitucionalmente cabe exclusivamente aos parlamentares.
A próxima subseção explora as diferenças entre os respondentes, em busca de
elucidar melhor o quebra-cabeças.
6.3 As diferenças entre os grupos
Considerando as propostas com ampla concordância, se vê que, embora os percentuais
de apoio sejam altos no geral, quando analisados separadamente os diferentes atores
apresentam algumas diferenças nas suas opiniões. Nos dados que constam na tabela 6,
estão as respostas desagregadas por grupos.
38
Texto para
Discussão
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
TABELA 6
Opiniões favoráveis sobre às proposições de regulamentação do lobby: agentes do
Estado e sociedade civil
Agentes do Estado
Questão
Discorda Indiferente Concorda
Sociedade civil
Não sabe/não
respondeu
Discorda Indiferente Concorda
Não sabe/não
respondeu
Goodma-Kruskal
1. As doações de campanha realizadas
pelos grupos de pressão devem ser
declaradas e tornadas públicas.
4,3
0,0
69,6
26,1
5,4
2,7
83,8
8,1
0,003
2. Exige procuração da entidade para
que seus representantes possam
exercer suas atividades a fim de
que possam atuar regularmente
em seu nome.
13,0
0,0
69,6
17,4
10,8
8,1
73,0
8,1
0,008
3. Obriga o registro dos representantes
de grupos de interesses para o
acesso ao Congresso Nacional e o
exercício de suas atividades.
17,4
0,0
65,2
17,4
16,2
2,7
75,7
5,4
0,002
4. Os parlamentares e ministros
devem disponibilizar suas agendas
de compromissos oficiais, contendo
eventos, interlocutores e temas.
8,7
13,0
56,6
21,7
18,9
2,7
73,0
5,4
0,017
5. Veda a concessão de qualquer
tipo de remuneração ou vantagem
a parlamentares e servidores,
incluindo presentes, viagens,
refeições etc.
8,7
4,3
65,3
21,7
24,3
13,5
54,1
8,1
0,043
6. P ermite a entidades credenciadas
protocolar pareceres, estudos,
pesquisas e inclusive sugestões
legislativas, com encaminhamento
obrigatório pela Mesa.
26,1
13,0
43,5
17,4
18,9
10,8
62,2
8,1
0,016
Fonte: UFMG/Ipea (2013).
Obs.: Dados primários coletados em pesquisa de survey. Disponíveis sob consulta aos autores.
Em termo gerais, o primeiro resultado importante é que o apoio às propostas de
regulamentação por parte dos representantes da sociedade civil é maior que o apoio
apresentado pelos assessores parlamentares ligados aos órgãos de Estado. Os dados
mostram que, em cinco das seis propostas analisadas, o apoio mais significativo tende
para os respondentes da sociedade civil. Ou seja, na maioria dos casos, os grupos de
interesse são mais favoráveis à regulamentação que os assessores parlamentares.
Este apoio mais intenso dos representantes dos grupos de interesse da sociedade à
regulamentação é um resultado de certa forma inesperado, visto que seria mais plausível
imaginar que esses grupos deveriam ser naturalmente mais refratários a uma legislação
que impusesse limites às suas atividades. As razões para isto não estão ao nosso alcance
elucidar, mas uma hipótese plausível seria pensar que esses representantes sofrem, de
forma mais acentuada que os assessores parlamentares, o preconceito com relação à
39
Brasília, outubro de 2015
atividade que desempenham. Como já visto, em geral a atividade de lobby é frequentemente associada à corrupção e ao tráfico de influência. Nesse sentido, poderia este
resultado ser visto como uma interpretação mais generalizada de que os grupos de
interesse veem na regulação uma possibilidade de se defenderem contra a percepção
pejorativa que a atividade enseja.
O segundo aspecto relevante fica por conta da exceção que escapa da análise anterior.
Com relação ao apoio menos intenso da sociedade civil à vedação ao oferecimento de
vantagens, presentes e outros benefícios aos servidores públicos e agentes políticos.
Nesse caso, são os assessores parlamentares que defendem mais fortemente a iniciativa.
A interpretação desde dado sugere que os assessores parlamentares, por serem funcionários
públicos, podem possivelmente estar enxergando esta iniciativa como uma medida
protetiva para o exercício de suas funções públicas. Mas essa é apenas uma hipótese que
carece ainda de confirmação.
Mas, de um modo geral, mesmo com essa exceção, o que se depreende dos dados
é um apoio quase generalizado a essas propostas. Entretanto, o mesmo não acontece
com as questões analisadas a seguir.
6.4 Opiniões divididas
A tabela 7 mostra as opiniões desagregadas por grupos sobre as proposições que foram
consideradas como propostas que dividem as opiniões dos respondentes. E nesse caso,
as diferenças entre os grupos é bem mais evidente. Aqui se nota que das sete propostas,
quatro receberam mais apoio dos agentes do Estado que da sociedade civil.
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Texto para
Discussão
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Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
TABELA 7
Opiniões divididas sobre as proposições de regulamentação do lobby: agentes do Estado,
sociedade civil e outros
Agentes do Estado
Questão
Discorda Indiferente Concorda
Sociedade civil
Não sabe/não
Não sabe/não
Discorda Indiferente Concorda
respondeu
respondeu
Goodman-Kruskal
7. O
ferece aos grupos a possibilidade de
apresentar formalmente e em seu nome
emendas legislativas no âmbito das
comissões parlamentares.
30,4
4,3
47,9
17,4
24,3
16,2
51,4
8,1
0,011
8. L imita o credenciamento no Congresso
Nacional apenas para as entidades que
cumpram regras democráticas de gestão
e que mantenham atividades de lobby
regular e comprovadamente.
34,8
4,3
39,2
21,7
29,7
2,7
54,1
13,5
0,012
9. E stabelece instrumentos de amplo
acompanhamento da vida financeira das
entidades e pessoas envolvidas com a
atividade de lobby.
17,5
4,3
56,5
21,7
45,9
8,1
37,9
8,1
10. P ermite que se firmem convênios e
acordos de cooperação com entidades
credenciadas, inclusive financeiros.
30,5
17,4
39,1
13,0
21,7
16,2
48,6
13,5
0,009
11. E xige relatórios periódicos de atividades e
prestação de contas dos gastos das entidades
com ações de lobby no Congresso Nacional.
26,1
0,0
56,5
17,4
43,2
8,1
35,2
13,5
0,061*
12. O
briga o agente de lobby a apresentar
declarações com informações contendo
seus interesses, as proposições e os
servidores e autoridades públicas com
quais deseja tratar.
39,2
4,3
43,5
13,0
40,5
8,1
40,6
10,8
0,002
13. D
etermina que os grupos de pressão
devem ser necessariamente ouvidos nas
comissões que avaliem proposições de
seu interesse.
43,5
4,3
39,1
13,0
51,5
8,1
32,4
8,1
0,006
0,070*
Fonte: UFMG/Ipea (2013).
Obs.: Dados primários coletados em pesquisa de survey. Disponíveis sob consulta aos autores.
Parece interessante dividir esse conjunto de sete propostas em pelo menos dois blocos.
Um que agrupe propostas que afetam o controle de gastos, as finanças e as atividades de
lobby das entidades da sociedade civil – formado pelas questões 9, 10, 11 e 12; e outro
que agrupe as demais propostas que tratam de estabelecer as formas de participação dos
grupos de interesse no processo legislativo – formado pelas questões 7, 8 e 13.
Este agrupamento se justifica pela afinidade temática das propostas, que permite que
sejam feitas análise mais associadas entre elas.
Quanto ao primeiro bloco, duas propostas tratam diretamente de aspectos financeiros.
A primeira é a que estabelece instrumentos de amplo acompanhamento da vida financeira
das entidades e das pessoas envolvidas com a atividade de lobby, a segunda é a que
exige relatórios periódicos de atividades e prestação de contas dos gastos das entidades
com ações de lobby. Em ambos os casos os grupos de interesse da sociedade civil são
mais contrários que a favor, enquanto os agentes do Estado são majoritariamente a favor.
41
Brasília, outubro de 2015
O resultado dessa divisão parece auto-evidente. Nesses casos, fica claro que, embora sejam
favoráveis à regulamentação da atividade, os grupos de interesses tendem a não aceitar
um controle mais efetivo de suas finanças e, portanto, não estão realmente muito
dispostos a torná-las mais transparentes. Importante notar que, para estas duas propostas,
o Tau de Goodman e Kruskal mostra as mais altas associações entre todas as propostas
analisadas. O teste revela, ainda, significância estatística com nível de confiança de 95%,
o que permite inferir que as diferenças aqui encontradas entre os grupos podem ser
generalizadas para a população.
A terceira proposta desse bloco é a que prevê a possibilidade de as entidades representativas, os órgãos de governo e os órgãos técnico-científicos devidamente credenciados
poderem firmar convênios e acordos de cooperação, bem como colaborar financeiramente,
com atividades que visem ampliar o debate e a deliberação em torno dos temas nos quais
têm interesse. Nesse caso, os grupos de interesse são mais favoráveis que os agentes do
Estado. E aqui o resultado parece bastante plausível. É possível interpretar este posicionamento favorável porque além de ser este um mecanismo de controle financeiro bem
mais ameno, ele viabiliza a contribuição formal por parte das entidades representativas
de aportar recurso à atividade de lobby. Sendo assim, parece razoável que o apoio a esta
proposição seja maior entre os grupos da sociedade civil.
Concluindo a análise deste bloco, tem-se a proposta que obriga o agente de lobby
a apresentar declarações com informações contendo seus interesses, as proposições e os
servidores e autoridades públicas com quais deseja tratar. Não sem razão, nesse caso o
resultado é o esperado. Embora não se possa generalizar para a população, o apoio dos
assessores parlamentares a esta proposição é maior que o apoio dos grupos da sociedade
civil. O dado faz sentido por que, embora esse seja um controle menos contundente que
o controle financeiro, ele afeta as atividades dos grupos de pressão à medida que os obriga
a tornar públicos seus interesses, suas estratégias de atuação e seus interlocutores. É factível
considerar os resultados coerentes porque, no limite, disponibilizar estas informações pode
ter consequências desfavoráveis a certos grupos. De fato é o que se pode observar, quando
se verifica que a proposta divide ao meio os próprios respondentes da sociedade civil.
A observação mais atenta do segundo bloco sugere também resultados bem interessantes.
Todas as propostas deste bloco visam regulamentar mecanismos de participação dos
grupos de interesses no processo decisório. Duas delas podem ser interpretadas como
favoráveis para esses grupos. Trata-se das propostas 7 e 13. A primeira é a iniciativa que
visa permitir que as entidades credenciadas tenham o direito de protocolizar na Mesa
pareceres, estudos, pesquisas e inclusive sugestões legislativas. É importante registrar que
42
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
a proposta determina que a Mesa deve obrigatoriamente encaminhar os documentos aos
demais órgãos do Legislativo. A segunda determina que os grupos de pressão devem ser
necessariamente ouvidos nas comissões que avaliem proposições de seu interesse.
No primeiro caso, o apoio maior das entidades da sociedade civil é auto-evidente, pois essa
medida significaria uma vantagem e possivelmente um ganho relevante para suas atividades.
Por outro lado, faz sentido defender que o apoio menor dos assessores parlamentares
a esse ponto está relacionado à natureza de suas atividades. No caso dos assessores do
governo e das instituições de Estado, os inputs sobre questões de seus interesses ingressam
no Parlamento pela via do Executivo ou com a chancela de instituições poderosas como
as agências reguladoras, os tribunais, entre outras. Obviamente, nesses casos os assessores
parlamentares não veem nesse procedimento uma vantagem no processo decisório.
Quanto à segunda proposta, contudo, tem-se um resultado pouco intuitivo. Nesse
caso, o apoio à proposta que prevê que os grupos devam ser necessariamente ouvidos nas
comissões quando uma matéria afete diretamente seus interesses é mais intenso entre os
assessores parlamentares. Ora, à primeira vista esta deveria ser uma proposta de interesse
dos grupos da sociedade civil, visto que teriam garantida sua participação no processo
decisório no âmbito das comissões. Uma hipótese alternativa, contudo, pode ser pensada
em termos do receio dos grupos com relação ao dispositivo gerar mais competição
por influência. Não sem razão, a literatura afirma que é mais fácil o lobby obter sucesso
quando não existe oposição e, preferivelmente, sem suporte ativo do público, de outros
interesses organizados e de agentes públicos (Fowler e Shaiko, 1987; Schlozman e Tierny,
1986). Nesse sentido, agir sem oposição seria a melhor das alternativas para os grupos
de interesses. Esta hipótese, contudo, ainda carece de confirmação empírica.
Por fim, ainda nesse bloco, os resultados relativos à proposta número 8 também
se apresentam como contraintuitivos. Seria de se esperar que os grupos de interesses
fossem refratários às limitações de credenciamento. Contudo, eles são majoritariamente
favoráveis à proposta. Da mesma forma que para a proposta anterior, parece razoável
aplicar o mesmo raciocínio anteriormente citado. Segundo este raciocínio, seria coerente
esse posicionamento, uma vez que essa regra pode representar limites à participação de
muitos grupos de interesse, diminuindo assim a competição por influência. Nunca é
demais lembrar que os respondentes desse survey são justamente os representantes dos
grupos de interesse mais institucionalizados e que, portanto, são os grupos que detêm mais
recursos e, por conseguinte, são os menos afetados por possíveis barreiras à participação.
Mas, da mesma forma que na análise anterior, esta é uma hipótese que ainda precisa de
confirmação empírica.
43
Brasília, outubro de 2015
Para este segundo bloco, não é possível responder de forma mais efetiva estas perguntas.
De fato, o que se vê é que o Tau de Goodman e Kruskal não deram significativos para
nenhuma delas, o que não nos permite inferir se estes resultados podem ser generalizados
para a população.
6.5 Resumo dos resultados
Pode-se inferir que o apoio à regulamentação do lobby é bastante amplo entre todos os
respondentes. Contudo, as análises desagregadas mostraram que existem divergências
significativas no que diz respeito a como regular a atividade. O apoio se torna controverso
quando o assunto é o controle das atividades financeiras dos grupos de interesses e dos
seus gastos com atividades de lobby. Nesses casos, as organizações da sociedade civil
são refratárias às propostas que aumentam esse controle. O mesmo acontece quando a
proposta trata da obrigatoriedade da revelação pública dos interesses e atores políticos
envolvidos em decisões que afetam interesses específicos. Ou seja, embora no geral
as opiniões controversas sobre as proposições que regulam a atividade financeira e a
transparência dos interesses apresentem percentuais mais favoráveis que contrários,
não é seguro afirmar que há convergência de opiniões, pois os limites entre as posições
favoráveis e desfavoráveis é reduzido.
Por outro lado, há divergências importantes no que diz respeito às propostas que
alteram os mecanismos de participação dos grupos de interesse no processo decisório.
Aqui é possível verificar contradições e opiniões favoráveis e contrárias sobre a ampliação
destes mecanismos. Se em alguns casos os respondentes se apresentam majoritariamente
favoráveis a criação de garantias de participação mais amplas, em outros, contraditoriamente,
as organizações da sociedade civil se posicionam de maneira menos favorável a
estes mecanismos.
Em suma, o resultado geral sugere uma certa convergência sobre a necessidade de
regulamentação da atividade, mas o problema começa exatamente quando se discute
como regulamentar. Importante notar que a polêmica se dá exatamente naquilo que é
mais importante. A regulamentação do lobby tem por objetivo tornar as relações políticas
mais transparentes e aumentar a accountability entre sociedade e sistema político.
Convenhamos, isto não será possível sem regulamentação em pelo menos três pontos:
i) a declaração dos gastos; ii) a divulgação ampla dos interesses envolvidos no processo
decisório; e iii) a participação do maior número possível de interesses no processo
decisório, em especial daqueles interesses menos poderosos.
44
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
Dando apoio a essas conclusões, a seção 7 traz as opiniões dos grupos de interesse
e de parlamentares sobre porque o lobby ainda não foi regulamentado no Brasil.
Este é o objeto da última parte deste estudo.
7 POR QUE O LOBBY AINDA NÃO FOI REGULAMENTADO
NO BRASIL?
Existem percepções bem variadas sobre qual o principal motivo de o lobby ainda não ter
sido regulamentado no Brasil. A pesquisa revela que 16,9% dos respondentes acham que
o lobby ainda não foi regulamentado porque a maioria acredita que a autorregulação é
suficiente, 12,3% acham que é porque os grupos de pressão são contra, 10,8% atribuem
a não regulamentação ao fato de que os políticos em geral são contra e 7,7% ao fato
de que os lobistas profissionais são contra. Já 27,7% dos respondentes afirmaram que
não sabem o motivo, ou preferiram não responder a questão. Contudo, 24,6% dos
respondentes apontaram outros motivos, diferentes daqueles disponíveis nas alternativas
sugeridas pelo questionário. A questão aberta que perguntou aos respondentes sobre que
outros motivos poderiam justificar porque a regulamentação não se concretiza mostrou
aspectos bem interessantes.
Entre os outros motivos apontados pelos respondentes, pode-se identificar pelo
menos três. O primeiro diz respeito à visão negativa que a opinião pública e a mídia têm
sobre a atividade de lobby, o que impede que a regulamentação seja discutida de forma
apropriada e bem informada, gerando controvérsia sobre o tema. O segundo motivo foi a
falta de conhecimento da sociedade sobre o que seja o lobby, o que impediria que o tema
ganhasse relevância a ponto de entrar na agenda política. A terceira foi a falta de consenso
sobre como regular a atividade, o que impede um acordo mínimo sobre a regulamentação.
Com relação à visão negativa da mídia e da opinião pública sobre a atividade, os entrevistados (na pesquisa de survey) afirmaram que o lobby ainda não foi regulamentado porque:
“Há ainda a imagem negativa que a mídia irradia em relação a essa atividade. Temos também
uma associação automática à corrupção, que realmente existe, mas não de maneira generalizada.”
“A grande mídia desvirtua a atividade de lobby, que acaba tendo conotação negativa e preconceituosa.”
45
Brasília, outubro de 2015
“A opinião pública ainda não aceita bem o lobby, mesmo aquele feito de forma ética e transparente.
Isto influencia negativamente para que o tema seja discutido de forma apropriada.”
A respeito da falta de conhecimento da sociedade sobre o tema, dois entrevistados
afirmaram que:
“O assunto é de baixíssimo conhecimento das pessoas em geral. Mesmo os profissionais da área
saberiam pouco discorrer sobre a questão.”
“O tema simplesmente ainda não amadureceu. A sociedade não sabe ainda o que é lobby. O tema
não tem poder de agenda. Além do mais, uma lei anticorrupção efetiva é bem mais necessária
que a regulação do lobby.”
Quanto à falta de consenso, argumento que interessa mais de perto aos resultados
obtidos anteriormente, alguns fragmentos apoiam as conclusões prévias. Segundo cinco
respondentes, a regulamentação não se materializa porque:
“Existem pessoas e grupos que se beneficiam com a desregulamentação, o que possibilita uma
confusão entre lobby e tráfico de influência.”
“Há consenso de que o lobby necessita ser regulamentado, mas ainda não há consenso sobre
vários pontos do texto (mesma coisa que a reforma política). Algumas questões, infelizmente, são
distantes da realidade política atual.”
“Os profissionais não sabem se a regulamentação será para melhor ou para pior e o governo não
se posiciona diretamente sobre o assunto, muito embora existam ações da CGU e Casa Civil
neste sentido.”
“Falta de consenso entre os grupos privados de atuação e o lobby da iniciativa pública.”
“Porque as propostas em tramitação não apresentam propostas adequadas.”
Como já referido anteriormente, as respostas abertas neste estudo elencadas
representam as posições diferenciadas de aproximadamente um quarto dos respondentes
(24,6%), o que sugere que esses motivos que justificam a não regulamentação da atividade
não devem ser desconsiderados. Incluí-los no debate, portanto, parece fundamental.
46
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A polêmica sobre a regulamentação do lobby, que marca a literatura especializada e as
experiências de outros países, não parece tão forte entre os atores políticos envolvidos
no processo de influência no Brasil. Os resultados da pesquisa mostraram que existe um
amplo consenso sobre a necessidade de regulamentação e que esses atores compartilham
fortemente as percepções positivas sobre os efeitos benéficos que a regulamentação pode
produzir para o sistema político brasileiro.
Todavia, esse apoio à regulamentação não se verifica com a mesma intensidade
quando são submetidos à apreciação dos entrevistados os pontos mais relevantes das
propostas legislativas colocadas à disposição no Congresso Nacional. Para a maior delas,
as opiniões tanto dos representantes da sociedade civil quanto dos assessores parlamentares
dos órgãos de Estado parecem divididas.
Quando se verificam os resultados desagregados, importantes divergências se
revelam. As entidades da sociedade civil e de interesses privados apresentam uma divisão
de opiniões em alguns desses quesitos, e em um dos segmentos, a rejeição é maior que
a aprovação. Nos demais, há empate ou mais aprovação que rejeição: i) a exigência da
prestação de contas de seus gastos com lobby; ii) a obrigatoriedade de revelar seus interesses e os atores com os quais pretende interagir e exercer influência; e iii) com relação
à forma como regulamentar a participação no processo decisório.
Cabe registrar que são exatamente esses os pontos centrais no debate, visto que a
regulamentação do lobby tem como finalidade predominante ampliar a transparência e a
accountability em sistemas democráticos. Não há exagero em afirmar que uma regulação
da atividade que não contenha provisões normativas sobre esses pontos, corre sério risco
de não gerar os efeitos esperados. Esses pontos se convertem, portanto, nos principais
desafios a serem enfrentados pelo sistema político brasileiro, caso esteja no plano de seus
principais atores empreender esforços para regular a atividade.
Por seu turno, como restou demonstrado, a falta de conhecimento e a percepção
negativa da sociedade e da mídia sobre o lobby também é um relevante problema
identificado. A crença amplamente compartilhada pela sociedade e pela opinião pública
sobre as fortes relações entre lobby, tráfico de influência e corrupção é certamente um
aspecto a ser considerado para que o tema entre definitivamente na agenda política do país.
47
Brasília, outubro de 2015
Como recomendações, sugere-se uma pauta com aspectos importantes a se levar
em consideração, caso esteja entre os planos do governo o enfrentamento da questão na
direção regulamentar o lobby no Brasil.
1) Embora as opiniões dos grupos de interesses e dos assessores parlamentares sugiram
um apoio amplo sobre a necessidade de regulamentar a atividade, divergências a
respeito de como regulamentar levam a crer que as preferências desses atores apontam
para uma regulamentação parcimoniosa. Nesse sentido, um balanço cuidadoso das
propostas deve preceder qualquer iniciativa, visto que a controvérsia sobre como
regulamentar não é nada trivial.
2) Dada a tendência a uma legislação parcimoniosa, equacionar as propostas para evitar
a ineficiência ou os efeitos não intencionais se faz necessário. O trade off envolvido
nas experiências internacionais aponta para sérios riscos de negligenciar aspectos
importantes. Em especial aqueles que são fundamentais para a transparência e
accountability, tais como: i) a prestação de contas; ii) a divulgação dos gastos do
lobista e de seus empregadores; e iii) o detalhamento das atividades e das relações
entre lobistas e políticos.
3) Outro aspecto importante diz respeito à necessidade de se considerar mecanismos
que permitam diminuir a assimetria de recursos e oportunidades que separa os
grupos mais poderosos daqueles com menos capacidade de participação e influência.
4) Dada a visão negativa da sociedade e da opinião pública sobre a atividade, é fundamental ampliar o debate e focalizar o tema de forma a permitir uma reflexão
madura e consequente que supere os preconceitos e as visões do senso comum.
Por fim, não se deve sob nenhuma hipótese esquecer que a atividade de lobby é
um importante mecanismo de participação política. Dela depende, em grande parte,
o acesso de diferentes grupos sociais ao poder constituído e seus representantes. A falta
de atenção sobre este aspecto pode gerar, no sentido contrário do esperado, prejuízos à
qualidade da representação e, com certeza, à qualidade da democracia.
REFERÊNCIAS
ARAGÃO, J. M. Grupos de pressão no Congresso Nacional: como a sociedade pode defender
licitamente seus direitos no Poder Legislativo. São Paulo: Maltese, 1994.
BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei no 25, de 21 de março de 1984. Dispõe sobre o registro
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48
Texto para
Discussão
2 1 4 1
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
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50
Texto para
Discussão
Percepções sobre a Regulamentação do Lobby no Brasil: convergências e divergências
2 1 4 1
ANEXO
QUADRO 1
Propostas de regulamentação do lobby no Congresso Nacional (1984-2014)
Número/ano/casa
Autoria e
partido
Ementa
Última ação
(data)
PLS no 25/1984 – Sen. Marco Maciel
Senado
PFL/PE
Dispõe sobre o registro de pessoas físicas ou jurídicas junto as Casas do Arquivado ao final da legislatura
Congresso Nacional, para fins que especifica e dá outras providências.
(5 de dezembro de 1987)
PRC no 337/1985 – Dep. Francisco
Câmara
Dias PMDB/SP
Dá nova redação ao art. 60 do Regimento Interno, incluindo
no credenciamento dos grupos de pressão, lobby e órgãos de
representação de funcionários públicos.
Arquivado ao final da legislatura
(1o de fevereiro de 1987)
PLS no 203/1989 – Sen. Marco Maciel
Senado
PFL/PE
Dispõe sobre o registro de pessoas físicas ou jurídicas junto as
Casas do Congresso Nacional, para fins que especifica e dá outras
providências.
Aprovado no Senado e enviado à Câmara.
Arquivado no Senado
(9 de fevereiro de 2007)
PL no 6.132/19901 – Sen. Marco Maciel
Câmara
PFL/PE
Dispõe sobre o registro de pessoas físicas ou jurídicas junto as
Casas do Congresso Nacional, para fins que especifica e dá outras
providências (reapresentado).
Declarado inconstitucional pela Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC).
(2 de junho de 1993) Aguardando apreciação
de recurso ao Plenário da Câmara.
PRC n 23/1995
Dep. Aroldo
Cedraz PFL/BA
Altera dispositivos do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.
(estabelecendo várias regras de cadastramento e prestação de
contas por parte de lobistas e grupos de interesse)
Desapensado do PRC 231/1990 e apensado
PRC-63/2000.
Proposição sujeita à apreciação do Plenário
(4 de agosto de 2009)
PRS no 72/1995
Sen. Lucio Alcântara
Dispõe sobre o registro de pessoas físicas ou jurídicas junto ao
Senado Federal, para fins que especifica e dá outras providências.
Arquivado ao final da legislatura
(10 de fevereiro de 2003)
PRC no 83/1996 – Dep. José Fortunati
Câmara
PT/RS
Dispõe sobre o credenciamento de pessoas físicas ou jurídicas
junto à Câmara dos Deputados para o exercício de atividades
destinadas a influenciar o processo legislativo
Arquivado ao final da legislatura
(2 de fevereiro de 1999)
Dep. Ronaldo
PRC no 87/2000 –
Vasconcellos
Câmara
PFL/MG
Disciplina a atuação dos grupos de pressão, lobby e assemelhados
na Câmara dos Deputados.
Arquivado ao final da legislatura
(31 de janeiro de 2011)
PRC no 03/2001 – Dep. Walter
Câmara
Pinheiro PT/BA
Disciplina a atuação dos grupos de pressão ou de interesses e
assemelhados na Câmara dos Deputados e dá outras providências.
Parecer contrário (CCJC).
Arquivado ao final da legislatura
(31 de janeiro de 2011)
o
Cria o Estatuto para o Exercício da Democracia Participativa,
PL no 6.928/20022 – Dep. Vanessa Grazziotin
regulamentando a execução do disposto nos incisos I, II e III do
Câmara
PCdoB/AM
art. 14 da Constituição Federal de 1988.
Parecer favorável do relator na CCJC ainda
não votado.
(11 de julho de 2003) – em tramitação
PL no 1.713/2003 – Dep. Geraldo
Câmara
Resende PPS/MS
Regulamenta a atuação dos agentes de pressão junto a administração
Rejeitado na CTASP e arquivado
pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos estados,
(16 de maio de 2005)
do Distrito Federal e dos municípios, e dá outras providências.
PL no 5.470/2005 – Dep. Ricardo
Câmara
Zarattini PT/SP
Disciplina a atividade de lobby e a atuação dos grupos de pressão
ou de interesse e assemelhados no âmbito dos órgãos e entidades
da administração pública federal, e dá outras providências.
Devolvida ao autor (art. 137, § 1o do Regimento
Interno – prejudicabilidade
(2 de agosto de 2005)
PL no 1.202/20073 – Dep. Carlos
Câmara
Zarattini PT/SP
Disciplina a atividade de lobby e a atuação dos grupos de pressão
ou de interesse e assemelhados no âmbito dos órgãos e entidades
da administração pública federal, e dá outras providências
Apresentado um substitutivo na CCJC
(12 de fevereiro de 2012) – em tramitação
Acrescenta art. 259-A ao Regimento Interno, criando novos
credenciamentos junto à Câmara dos Deputados.
Parecer favorável da CCJC
(17 de julho de 2013) – em tramitação
PRC no 14/2011
Dep. Mendes
Ribeiro PMDB/RS
Substitutivo 01 Dep. Cesar
da CCJC ao PL no Colnago
1.202/2007
PSDB/ES
Disciplina a atuação de pessoas e grupos de interesse cujas ativiSubstitutivo apresentado na CCJC
dades visem influenciar atos e decisões sujeitos à discricionarieda(12 de fevereiro de 2012) – em tramitação
de do poder público, e dá outras providências.
Dep. Francisco
PRC no 103/2007
Rodrigues
– Câmara
DEM/RR
Dispõe sobre o registro e a atuação de pessoas físicas e jurídicas,
junto à Câmara dos Deputados, com a finalidade de exercer o
direito de informar e influenciar o processo decisório na Casa.
Parecer contrário na CCJC, arquivado ao final
da legislatura
(31 de janeiro de 2011)
PRC no
158/2009 –
Câmara
Institui o Código de Conduta para Representantes da Sociedade
Organizada e adapta o Regimento Interno às necessidades de
regulamentação do lobby
Arquivado ao final da legislatura
(31 de janeiro de 2011)
Dep. João
Herrmann Neto
PT/SP
Fonte: Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/>.
Notas: 1 O PLS no 203/1989 foi aprovado no Senado, enviado para a Câmara sob o no 6.132/1990. Devido à declaração de inconstitucionalidade, foi arquivado no Senado
em 9 de fevereiro de 2007.
2
Tramitam apensados a este projeto as seguintes proposições: PL no 689/2003 (2), PL no 1.846/2007, PL no 3.453/2012; PL no 758/2003; PL no 4.718/2004;
PL no 7.004/2006; PL no 4.219/2008 (2), PL no 7.003/2010, PL no 2.024/2011; PL no 4.764/2009; PL no 4.805/2009; PL no 3.310/2012.
3
Nos termos do § 1o do art. 137 do RI. (Nova versão do PL no 5.470/2005)
51
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
EDITORIAL
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