CUIDADO E HUMANIZAÇÃO NA ENFERMAGEM: REFLEXÃO NECESSÁRIA
Ariana Rodrigues Silva Carvalho1
Maria Carla Vieira Pinho2
Laura Misue Matsuda3
Maria José Scochi4
Resumo
Com a industrialização, as máquinas vêm invadindo as instituições hospitalares como
sinônimo de alta tecnologia e cuidados avançados. Mas no que se refere à saúde, não
se pode substituir o trabalho humano pelo mecânico. A enfermagem é cuidadora em
sua essência e foi a primeira a profissionalizar o cuidado. O cuidado é o processo de
saúde, de adoecimento, de invalidez, de empobrecimento, pois ele busca promover,
manter ou recuperar a dignidade e totalidade humana. Objetiva-se com este estudo,
realizar uma reflexão sobre cuidado e humanização na enfermagem na sociedade
atual. Espera-se discutir mais a temática sobre o cuidado na enfermagem, não sob a
ótica do senso comum que se baseia no cuidado como caritativo, mas sim, na
tentativa de discutir o cuidado holístico, além de intencionalmente buscar algumas
iniciativas, valores, pensamentos capazes de melhorar as relações do cuidado. Para
que haja um avanço nas discussões sobre o cuidado, é necessário que o trabalhador
adote a postura de colocar-se no lugar do ser que é cuidado para sentir quais são
suas reais necessidades, e que o contexto familiar e institucional sejam
reorganizados, garantindo conforto, resolutividade e atendimento humanizado para os
protagonistas do cuidado, seres que cuidam e seres que são cuidados. Há muito que
Docente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE; Mestranda pelo
Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá – UEM.
Rua Minas Gerais, 2161 apto 1502. Centro. Cap 85.812-030. Cascavel, PR. E-mail:
[email protected]
2
Enfermeira Coordenadora da Unidade de Saúde Vila Ricardo – Londrina – PR; Mestranda pelo
Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá – UEM. Email: [email protected]
3
Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá – UEM;
Docente do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de
Maringá – UEM. Email: [email protected]
4
Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá – UEM;
Docente do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de
Maringá – UEM. E-mail: [email protected]
1
se pensar, eis aqui mais um desafio a ser enfrentado pelos “profissionais da saúde”
em busca de deixar para trás qualquer vestígio da presença dos “profissionais da
doença”.
Palavras-chave: cuidado, humanização, enfermagem.
INTRODUÇÃO
Com o advento da industrialização, as máquinas estão cada vez mais
presentes nas instituições hospitalares como sinônimo de alta tecnologia e cuidados
avançados. Mas no que se refere à saúde, não se pode substituir o trabalho humano
pelo mecânico. Assim, algumas perguntas vêm à tona: como está acontecendo o
cuidado? Mas, o que é o cuidado?
Atualmente, espera-se discutir mais a temática sobre o cuidado na
enfermagem, não sob a ótica do senso comum que se baseia no cuidado como
caritativo, mas sim, na tentativa de discutir o cuidado holístico, além de
intencionalmente buscar algumas iniciativas, valores, pensamentos capazes de
melhorar o contato humano entre o profissional e o usuário, entre os próprios
profissionais da saúde, entre o hospital/unidade básica de saúde/comunidade visando
o enfrentamento das lacunas existentes entre este e a atenção integral à saúde do
indivíduo.
O cuidado voltado para a enfermagem, segundo Waldow (1998), engloba o
processo de saúde, de adoecimento, de invalidez, de empobrecimento, pois ele busca
promover, manter ou recuperar a dignidade e a totalidade humana. Waldow (2004)
lembra ainda que a enfermagem é cuidadora em sua essência e foi a primeira a
profissionalizar o cuidado.
Passamos por uma imensa crise de humanismo. O que está acontecendo com
as pessoas? Onde está o humano? Certos valores passaram a ser descartáveis.
Antes da humanização, tem-se o desafio da “hominização”, ou seja, criar para os
seres humanos oportunidades de existir e viver dignamente, um desafio para ações
inovadoras (PESSINI; BERTACHINI, 2004).
Como profissionais de saúde, na lida em defesa da vida e da garantia do
direito à saúde, aceita-se enfrentar muitos desafios. Um país como o Brasil, com as
profundas desigualdades socioeconômicas e culturais, conhecido pelas graves falhas
no seu sistema de saúde, devido a uma série de fatores que vem desde sua
implantação, cria-se barreiras de acesso aos serviços e aos bens de saúde com
pouca resolutividade e acompanhamento das necessidades de cada usuário. Com
isso, acontece o comprometimento da valorização dos diferentes sujeitos implicados
no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores.
Quando se fala em atendimento humanizado, pensa-se em um processo para
facilitar que a pessoa vulnerabilizada enfrente positivamente os desafios pelos quais
está vivenciando naquele dado momento.
Para que o cuidado seja possível, faz-se necessário olhar para si e para o
outro, na tentativa de que o autoconhecimento colabore positivamente no cuidado de
cada ser. É o encontro entre cuidador e o ser cuidado, na intenção da criação de um
elo empático que norteará as ações para o cuidado.
Martin (2004) desenvolve a idéia de que as considerações éticas vão
fundamentar as ações para o cuidado e seguem quatro princípios ou valores: a
autonomia, a beneficência, não-maleficência e a justiça. O mesmo autor acredita que
a
ética
tem
vasta
contribuição
ao
processo
de
humanização
hospitalar
fundamentando-se racionalmente na defesa do resgate à dignidade humana no que
se refere ao cuidado hospitalar.
O autor anteriormente citado ainda relata que os valores predominantes em um
ambiente tecnocientífico do hospital, são o conhecimento científico e a eficiência
técnica, e o principal alvo da atenção do profissional da saúde passa a ser a doença e
sua cura.
E os profissionais da saúde? Agora são profissionais da doença? Será que a
maior preocupação não deveria ser uma forma de prevenir a doença e não apenas
tentar desvendar sua etiologia ou terapêutica, quando os sinais e sintomas já agridem
o organismo humano?
À medida que nos aproximamos das relações do cuidado para verificar as suas
dimensões/significados, nos deparamos com o sentido de que se existe um ser a ser
cuidado existirá um indivíduo que cuida. Ao tentar compreender o significado da
experiência de cuidar e ser cuidado é preciso ouvir aqueles que vivenciaram tal
situação. Pensando ainda que pouco se tenha refletido sob o olhar daquele que
recebe o cuidado.
Para que haja um avanço nas discussões sobre o cuidado, faz-se necessário
que o trabalhador adote a postura de colocar-se no lugar do ser que é cuidado para
poder vislumbrar de uma forma mais aproximada quais são suas reais necessidades,
e que o contexto familiar e institucional sejam reorganizados, garantindo conforto,
resolutividade e atendimento humanizado para os protagonistas do cuidado, seres
que cuidam e seres que são cuidados.
OBJETIVO
Realizar uma reflexão sobre cuidado e humanização na enfermagem na
sociedade atual.
METODOLOGIA
Tal estudo trata-se da elaboração de um texto reflexivo sobre a temática do
cuidado e da humanização. Os dados foram obtidos por meio de revisão de literatura
que, de acordo com Krainovich-Miller (2001), é um conceito essencial para o
crescimento da teoria, pesquisa, educação e prática da enfermagem, criando uma
base de conhecimento para realizar pesquisa e outras atividades especializadas. Tal
revisão realizou-se de março a abril de 2005, sendo constituída de livros, revistas e
artigos especializados.
RESULTADOS
Fala-se muito que a enfermagem tem o cuidado como essência da profissão,
mas o que é cuidado?
Baseados na definição de cuidado de Waldow (1998) está realizando-se o
cuidado exatamente quando interagimos com o indivíduo que vive aquela situação,
ouvindo o que ele tem a dizer sobre ele, sobre aquele episódio, sobre suas
necessidades para aquele momento, ou até mesmo, que o enfermeiro possa criar um
elo empático entre cuidador e ser cuidado, a ponto de perceber os sentimentos do
paciente, mesmo que este relute em revelá-los.
A semente da confiança entre o paciente e o enfermeiro/equipe de saúde deve
ser semeada e regada a cada momento, pois uma relação de cuidado sem confiança
deixa de ter o seu valor.
Pessini; Bertachini (2004) relatam que existe um círculo vicioso de coisificação
das pessoas e sacralização das coisas, com inversão de valores, deixando de lado a
dignidade. Essa idéia é complementada por Zauhy; Mariotti (2002, p.48) ao exporem
que “como donos da verdade, julgamos estar autorizados a dizer o que o outro deve
fazer – mais que isso, o que ele deve ser. Transformamo-nos no dono do outro, que
deixa de ser o outro e passa a ser uma coisa”.
A humanização dos cuidados em saúde pressupõe considerar a essência do
ser, o respeito à individualidade e a necessidade da construção de um espaço
concreto nas instituições de saúde que legitime o humano das pessoas envolvidas.
Quando se fala em atendimento humanizado, pensa-se em um processo para
facilitar que a pessoa vulnerável enfrente positivamente os desafios pelos quais está
vivenciando naquele dado momento.
O cuidar humanizado implica, por parte do cuidador, exercer na prática o resituar das questões pessoais num quadro ético, em que o cuidar se vincula à
compreensão da pessoa em sua peculiaridade e em sua originalidade de ser
(PESSINI; BERTACHINI, p.3, 2004).
Waldow (1998) defende que quando se fala em cuidado já está embutida a
humanização, afinal, o cuidado é oferecido a seres humanos.
Humanizar o cuidar é dar qualidade à relação profissional da
saúde-paciente. É acolher as angústias do ser humano diante da
fragilidade de corpo, mente e espírito. Destaca-se nesse
contexto a presença solidária do profissional com habilidade
humana e científica. Diante de um cotidiano desafiador pela
indiferença crescente, a solidariedade e o atendimento digno
com calor humano são imprescindíveis. Ser sensível à situação
do outro, criando um vínculo, graças a uma relação dialogal, para
perceber o querer ser atendido com respeito, numa relação de
diálogo
e
de
necessidades
compartilhadas
(PESSINI;
BERTACHINI, p.4, 2004).
Cogitando as idéias abordadas, Zauhy; Mariotti (2002, p.49) citam que “o mais
dramático é que não percebemos que ao coisificarmos as pessoas, tornamo-nos
também coisas. Coisificar os outros, coisifica a nós mesmos. Desumanizar os outros,
desumaniza-nos. Não acolher os outros é não acolher a nós mesmos”.
É válido lembrar que numa relação de cuidado, além da sua prática efetiva, do
contato profissional, tem-se o contato com a própria consciência, o que traz a reflexão
ética do cuidado na enfermagem, não apenas na aplicação de técnicas sob a visão
das necessidades de determinadas patologias, mas embasados nos princípios de
beneficência e não-maleficência, ou seja, não basta praticar o bem, mas sim, evitar
que aconteça algo de ruim.
Corroborando com isso, Martin (2004) desenvolve a idéia de que as
considerações éticas vão fundamentar as ações para o cuidado e seguem quatro
princípios ou valores: a autonomia, a beneficência, não-maleficência e a justiça. O
mesmo autor acredita que a ética tem vasta contribuição ao processo de humanização
hospitalar fundamentando-se racionalmente na defesa do resgate à dignidade
humana no que se refere ao cuidado hospitalar.
Com a evolução mundial, desde a Revolução Industrial, iniciou-se o processo
da busca de tecnologia cada vez mais avançada nos locais de trabalho. Os hospitais
não fugiram a essa regra, e hoje, são considerados bons hospitais, de maneira geral,
aqueles portadores de tecnologia de ponta no atendimento às patologias das mais
variadas etiologias.
Os profissionais da saúde se encontram em situações em que podem ser
definidos como profissionais da doença, em que a maior preocupação é tratar a
sintomatologia do indivíduo, esquecedo-se que por detrás daquela história clínica está
um ser humano, que muitas vezes não entende o que ocorre com ele naquele
momento e que precisa muito ser ouvido quanto aos seus medos e anseios. Isso é
uma forma de desumanização. O paciente fica fragmentado, despersonalizado
quando são identificados por sua patologia, pelo número do seu leito e seus nomes
entram em desuso. Em nome de um cuidado voltado à ciência e à eficiência, o corpo
e o saber sobre o corpo são abandonados, em detrimento de uma alta tecnologia e
pouco conhecimento sobre o que sente o ser cuidado. Às vezes, o cuidador não se
atenta nem para ele próprio, assim, como alguém que não se importa com ele mesmo
vai conseguir ter a percepção das necessidades do outro? O autoconhecimento
pessoal é ferramenta imprescindível para o cuidado, o imaginar-se no lugar do outro
e, pelo menos tentar a implementação de ações que realmente atinjam às
necessidades daquele que está sendo cuidado.
Com o embasamento de profissionais voltados para a doença, espera-se que o
cume do atendimento, do cuidado, seja a cura, e quando essa “cura” não é possível,
tais profissionais se frustram, mesmo tendo feito tudo o que podiam para aquele
momento, pois suas expectativas baseavam-se na ausência da doença e não no
acontecimento do melhor para o indivíduo. Na verdade, tais sentimentos negativos
devem apresentar-se nesse momento, porque o que eles planejaram como ponto
máximo do “cuidado” – a cura, não aconteceu, trazendo-lhes à lembrança de que não
são seres onipotentes, ou melhor, que eles tudo podem até que O Ser Maior que rege
a vida assim o permita. Waldow (2004, p.13) relata que a cura da doença com certeza
é esperada, mas que nem sempre isso pode ser alcançado. Mas quando isso
acontece, “mais ainda deveriam importar as ações de cuidar, o seu processo e a
presença do profissional como ser humano competente e sensível. Não significa que o
cuidado não contemple a cura, o que é necessário salientar é que não é a sua
prioridade”.
A autora defende a idéia de que a maior ação da enfermagem não é a cura, e
sim uma ação que engloba atitudes e comportamentos que “visem aliviar o
sofrimento, manter a dignidade e facilitar meios para manejar com as crises e com as
experiências do viver e do morrer” (WALDOW, 1998, p.129; 2004).
Outro assunto a ser refletido: os hospitais da atualidade são invadidos por
aparelhos de altíssima tecnologia e profissionais especializados para manuseá-los,
mas é inexistente ou pelo menos pouco presente a preocupação com o acesso da
população a essas grandes invenções. Infelizmente, pequena parte da população tem
acesso às “tecnologias de ponta”, que na maioria das vezes pertence aos “hospitais
de ponta”. [Grifo nosso] E a população marginalizada assiste a tudo isso nas filas para
atendimento público que muitas vezes não tem profissionais da saúde suficientes nem
para oferecer um cuidado básico. Esta discrepância, também é uma desumanização.
Alguns profissionais da enfermagem consideram-se bons no que fazem
baseados apenas na destreza de manusear aparelhos e equipamentos complexos, de
altíssima tecnologia, mas se esquecem que tal aparelho será usado em alguém com
sentimentos, que está passando por uma fase inusitada no processo de saúdedoença, que está acostumado a (con) viver em um meio que não é aquele que o
recebe naquele momento (o hospital). Corroborando com isso, os autores Stefanelli et
al. (2005) trazem à reflexão sobre o enfrentamento do medo durante uma
hospitalização, à exposição ao linguajar científico e termos médicos, aos comentários
sobre seu quadro clínico, na maioria das vezes, esquecendo que podem advir dúvidas
sobre tais relatos, é o “falar do paciente, sem ser para o paciente”.
A convivência em ambientes estressantes como aqueles observados nos
hospitais, não raras vezes faz com que o profissional da saúde se torne indiferente
aos problemas e necessidades dos pacientes e seus familiares. Em que pese às
diversas razões para que tal fato ocorra, as informações pertinentes à manutenção da
saúde e cuidados devem ser fornecidas sempre que possível e necessárias,
desempenhando o papel de cuidador, de gerenciador, de educador ou exercendo
alguma competência técnica.
Ao nos comunicarmos com o indivíduo que está sendo cuidado, descobrimos
grandezas de sabedorias pessoais e populares, crenças e valores que são
demasiadamente importantes para aquele Ser, naquele momento específico.
Mas ao discutirmos sobre o cuidado, sobre a humanização, não se pode deixar
de abordar o cuidador e o ser cuidado.
Waldow (2004) relata um estudo realizado a partir da visão dos protagonistas
do cuidado, ou seja, cuidadores e seres cuidados. Através das entrevistas realizadas
com cuidador, sendo este profissional da área da saúde, são feitos relatos de
envolvimento através de um vínculo, geralmente afeto ou carinho. Foram relatados: a
perda traduzida por dor, sofrimento, tristeza e frustração e que de algum modo traz
aprendizagem para a vida pessoal; a doação, na medida em que se tem a
responsabilidade de fazer o “melhor possível” para o paciente; a gratificação pelo
cuidado prestado, além de conseqüências como humanização do cuidado, em função
da Assistência Integral, possibilidade de avaliar as necessidades do paciente e
satisfação em saber que a instituição em que se trabalha valoriza o cuidado.
Neste mesmo estudo os seres cuidados também foram ouvidos e enquanto
alguns expressaram segurança, no sentido de confiar no cuidador e nas suas ações,
competência técnica de quem cuida, sentir-se à vontade pela atenção, bom humor e
bom relacionamento da equipe, outros expuseram humilhação, pelo constrangimento
de precisar ser higienizada, ficar despida na presença dos profissionais, dependência
e medo de estar hospitalizado (WALDOW, 2004).
Ainda há uma outra face, a do esquecimento do fato de quem cuida também
precisa ser cuidado, receber apoio no local de trabalho, expressar seus sentimentos,
sua vivência e dificuldades diárias. Esses profissionais lidam com as mais diversas
situações, seja de perdas, envolvimento, deformidades e não tem ajuda profissional
dada pela instituição na qual faz parte, e isso pode afetá-los diretamente na sua vida
pessoal e desempenho profissional.
Sabe-se ainda que os cuidadores têm personalidades e experiências diferentes
e disso depende o resultado do seu trabalho, alguns verão a experiência de cuidar
como positiva e outros não estarão satisfeitos.
A discussão que pode ser aqui iniciada, de acordo com a literatura consultada,
é que “humanizar o cuidar é dar qualidade à relação profissional da saúde-paciente. É
acolher as angústias do ser humano diante da fragilidade de corpo, mente e espírito”
(PESSINI; BERTACHINI, p.4, 2004). É válido lembrar que numa relação de cuidado,
além da sua prática efetiva, do contato profissional, tem-se o contato com a própria
consciência, o que traz a reflexão ética do cuidado na enfermagem, não apenas na
aplicação de técnicas sob a visão das necessidades de determinadas patologias, mas
embasados nos princípios de beneficência (praticar o que faz bem) e não-maleficência
(não praticar o que faz mal).O cuidado humanizado pode ser definido apenas como
cuidado, haja vista que as ações de enfermagem e da equipe serão fruto de um elo
empático entre cuidador e ser cuidado, oferecidas a um ser humano.
Porém, constantemente faz-se necessário trazer o tema da humanização à
tona, como forma de reciclar, de renovar os conhecimentos de cada um, de cada ser
que cuida e dos que são cuidados. È um momento que se traz à reflexão introspectiva
sobre “que tipo de cuidado estamos prestando”. Por isso é tão importante
conhecermos a nós mesmos, sabermos o que é bom e o que não é bom, aprender a
respeitar a individualidade, a saber reconhecer-se na situação do outro. Dar o melhor
de nós é uma das formas de obtermos o melhor resultado, a certeza do dever
cumprido.
CONCLUSÕES
Para que haja um avanço nas discussões sobre o cuidado, é necessário que o
trabalhador adote a postura de colocar-se no lugar do ser que é cuidado para sentir
quais são suas reais necessidades, e que o contexto familiar e institucional sejam
reorganizados, garantindo conforto, resolutividade e atendimento humanizado para os
protagonistas do cuidado, seres que cuidam e seres que são cuidados. Assim,
acontece o “cuidado humanizado” ou seja, o cuidado propriamente dito, a criação da
empatia entre cuidador e ser cuidado, cada um colocando-se no lugar do outro e pelo
menos, tentando entender o que se passa naquele momento na vida daquele
indivíduo. È realizar a reflexão de que se deve cuidar do outro como se o cuidado
fosse para ele próprio. “Não faça ao outro aquilo que você não gostaria que fosse feito
a você”, é uma frase bastante conhecida, mas muitas vezes, pouco praticada.
As pessoas devem expor suas idéias, processarem os seus pensamentos, e
por que não construir um espaço democrático de escuta e encaminhamentos para as
discussões surgidas, propor e promover ações que possam colaborar com as relações
entre profissionais da saúde/ usuários/ instituições/ cuidadores.
Assim como Zauhy; Mariotti (2002, p. 53), concordamos que “muitas vezes a
saúde, a cura, a prevenção, depende de tantos fatores, que não estarão em nossas
mãos, porém o acolhimento e o cuidado – estes sim, sempre possíveis – mesmo que
não possam curar a patologia, poderão, antes de tudo, “curar” a desumanidade, uma
doença que está nos matando a todos”.
Há muito que se pensar, eis aqui mais um desafio a ser enfrentado pelos
“profissionais da saúde” em busca de deixar para trás qualquer vestígio da presença
dos “profissionais da doença”. [Grifo nosso].
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTIN, Leonard M. A ética e a humanização hospitalar. In: PESSINI, Leo;
BERTACHINI, Luciana (org.). Humanização e cuidados paliativos. São Paulo,
Edições Loyola: 2004. cap. 2, p.31-50.
PESSINI, Leo; BERTACHINI, Luciana (org.). Humanização e cuidados paliativos.
São Paulo, Edições Loyola: 2004.
STEFANELLI, Maguida Costa et al. Comunicação e enfermagem. In: STEFANELLI,
Maguida Costa; CARVALHO, Emília Campos de (org.). A comunicação nos
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WALDOW, Vera Regina O cuidado na saúde: as relações entre o eu, o outro e o
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______________ Cuidado humano: o resgate necessário. Porto Alegre: SagraLuzzato, 1998.
ZAUHY, C.; MARIOTTI, H. O pensar: considerações éticas. In: ZAUHY, C.;
MARIOTTI, H. Acolhimento: o pensar o fazer o viver. São Paulo: Secretaria
Municipal de Saúde, 2002.
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CUIDADO E HUMANIZAÇÃO NA ENFERMAGEM