DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
1
DOSSIÊ IPHAN
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
{Festa de Sant„Ana de Caicó}
2
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Luiz Inácio Lula da Silva
MINISTRO DA CULTURA
João Luiz Silva Ferreira
PRESIDENTE DO IPHAN
Luiz Fernando de Almeida
SUPERINTENDENTE IPHAN-RN
Jeanne F. Leite Nesi
FOTOGRAFIAS ANTIGAS
Acervo Digital – Museu do Seridó
FOTOGRAFIAS
Maria Iglê de Medeiros (fotos)
PROCURADOR-CHEGE FEDERAL
Antônio Fernando Alves Neri
Vilma Vitor Cruz (fotos)
DIRETORA DO DEPTº DE PATRIMÔNIO IMATERIAL
Márcia Genésia de Sant'Anna
CONSULTORIA IPHAN – INVENTÁRIO
Romero de Oliveira
COORDENADORES DO INRC – SERIDÓ POTIGUAR
Marcos Vinícius Garcia
Julie Cavignac (Formas de Formas de Expressão)
COORDENAÇÃO GERAL DO INVENTÁRIO DA CULTURA DO
SERIDÓ
Muirakytan Kennedy (Celebrações)
Maria Isabel Dantas (Ofícios e Modos de Fazer)
Julie Cavignac (DAN/UFRN)
Paula Sônia de Brito (Lugares)
Jeanne F. Leite Nesi (IPHAN/RN)
CONSULTORIA EM ANTROPOLOGIA
Cyro H. de Almeida Lins
CONSULTORIA EM HISTÓRIA
Ana Cristina Oliveira
3
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
PESQUISADORES (BOLSISTAS)
Gracineide Pereira dos Santos
Thaís Fernanda S. De Brito
Ana Nery Silva de Oliveira
Gilson José R. Junior
Helder Almeida
Flávio Rodrigo F. Ferreira
Helder Macedo
FOTOS DE CAPA E CONTRA CAPA
Túlio Gabriel de Cortês José Antônio F. De
Melo
Iracema Nogueira Batista
Capa: Imagem de N.S. de Sant‟Ana durante a
procissão (Foto: Acervo do IPHAN)
Juarez de Brito M. Junior
Luis Eduardo de N. Neto
PESQUISADORES (COLABORADORES)
Andréa Lúcia V. De Aguiar
Alessandro A de Azevedo
Contra-capa: Detalhe do Arco do Triunfo da Igreja
Matriz (Foto: Acervo do IPHAN)
Maria Dolores de A Vicente
Maria Lúcia B. Alves
Andrey Jonathon de M. Morais
Maria Isabel Dantas Marcelo de Freitas
Cardoso
Ana Zélia Maria Moreira Custódio
Olívia Morais de M. Neta
Jacinto de Medeiros
Paula Sônia de Brito
Erivan Ribeiro de Faria
Rosenilson da Silva Santos
Francimário Vito dos Santos
Sebastião Genicarlos dos Santos
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL IPHAN
SBN Quadra 2 Bloco F Edifício Central
Brasília
Cep: 70040-904 Brasília – DF
Telefones: (61) 3414.6176, 3414.6186,
3414.6199
Faxes: (61) 3414.6126 e 3414.6198
http://www.iphan.gov.br
[email protected]
4
DOSSIÊ IPHAN
EDIÇÃO DO DOSSIÊ E EDIÇÃO DE TEXTO
José Antônio F. De Melo
Cyro H. de Almeida Lins
Ana Cristina Oliveira
TEXTO DE ABERTURA
Romero de Oliveira (IPHAN-PE)
TEXTO PRINCIPAL
Ana Cristina Oliveira
Cyro H. de Almeida Lins
Julie Cavignac
Maria das Dores Medeiros
Maria Isabel Dantas
Marta Maria de Araújo
Muirakytan Macedo
Paula Sonia de Brito
Romero de Oliveira
{Festa de Sant’Ana}
FINALIZAÇÃO DO DOSSIÊ
Cyro H. de Almeida Lins
Ana Cristina Oliveira
REVISÃO DE FICHAS
Ana Cristina Oliveira
Cyro H. de Almeida Lins
AGRADECIMENTOS
Diocese de Caicó
Paróquia de Sant'Ana de Caicó
Museu do Seridó e Casa de Cultura de Caicó
Zezinho Vídeo
Lydia Brito
Fábrica Murielle
Tarcisio Salustiano Silva
Site Kurtição
SEBRAE-CAICÓ
REDESIST/IE/UFRJ
Associação dos Caminhoneiros de Caicó
5
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
APRESENTAÇÃO
Caicó é o maior município do
Seridó e a sua povoação começou na
Fazenda Penedo, em 1735. O município
está localizado na região centro-sul do
estado e fica distante cerca 269 km da
capital e possui cerca de 60.000
habitantes.
A Festa de Sant’Ana de Caicó
é um bem cultural da mais alta
importância para a vida dos sertanejos
do Rio Grande do Norte, e para pessoas
que, vindas das mais diversas partes do
Brasil e do mundo, afluem para o
Seridó Potiguar no período da Festa.
São filhos da terra vivendo em lugares
distantes,
pagadores
de
promessa,
pesquisadores, curiosos, juntando-se à
comunidade caicoense e seridoense,
Estes elementos, associados a muitos
numa troca coletiva de experiências
outros, compõem uma espécie de
culturais e de fé. Apesar de seu caráter
contexto cultural sertanejo, gestado
eminentemente religioso, a Festa de
durante séculos, no transcorrer de um
Sant‟Ana aglutina elementos diversos
processo
da
populações
cultura
sertaneja,
incluindo
a
que
envolveu,
ibéricas
e
sobretudo,
ameríndias,
indumentária (bordados, chapéus), a
principais fontes do amálgama humano
culinária
filhoses,
ali observável. A Festa de Sant‟Ana
buchadas), o artesanato (fabricação de
possui ainda um forte componente
imagens,
e
produtor de sociabilidades, já que gera
madeira), e as mais diversas formas de
um clima de revisitação de uma
expressão (como a arte de enfeitar
memória que, em termos oficiais, já
altares e andores e ritos como o “beija”,
conta com mais de dois séculos e meio
estabelecendo-se uma relação afetiva
ininterruptos, mesmo nos anos de fortes
com a imagem da Santa). Ela também
secas (como nos fins do século XIX).
reforça
(chouriços,
trabalhos
a
com
existência
de
couro
lugares
sagrados, como o mítico poço de
Sant‟Ana (o “poço que nunca seca”) e
o local onde hoje se encontra a matriz.
6
DOSSIÊ IPHAN
Introdução
A Festa de Sant’Ana de Caicó:
uma tradição viva
Localizada no semi-árido da
{Festa de Sant’Ana}
do Seridó e, finalmente, Caicó.1 Possui
cultura seridoense. A Festa torna–se
expressividade regional nos setores
relevante do ponto de vista cultural,
agropecuário, educacional e cultural
histórico e social, pois é um dos
com destaque para o artesanato de
principais veículo da memória e da
bordados, comidas e bebidas típicas.
identidade coletiva, em especial os
Celebrada há 259 anos, a Festa de
relacionados com as expressões ligadas
Sant‟Ana, realizada entre o final de
à fé católica.
julho e início de agosto, destaca-se
entre as múltiplas festas de padroeiro
região do Seridó Norte-Riograndense, a
por revivificar os laços de solidariedade
atual “capital do Seridó” teve a sua
e acionar registros específicos da
origem em 1687 com a construção da
casa Forte do Cuó e, em 1735, com o
povoamento
da
Fazenda
Penedo,
posteriormente denominada Vila Nova
do Príncipe. Em 1890, elevou-se à
categoria de cidade, recebendo os
nomes de Cidade do Príncipe, Cidade
De acordo com Câmara Cascudo (1955), a origem
do nome Caicó é indígena. Entre as versões existentes,
o nome Caicó seria formado a partir dos termos Acauã
e Cuó que servem à designação de acidentes geográficos
(rio e serra, respectivamente) da região. Acauã
pertence ao idioma tupi, enquanto Cuó, à língua dos
Tapuias ou Tarairiús. As populações indígenas
identificavam ainda o rio pelo nome de "quei", o que
sugere que Caicó seja uma corruptela de "Queicuó", o
mesmo que rio do Cuó (Macedo 2005; 2007: 41;).
1
7
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
8
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Senhora Doce e Clemente,
Mãe da graça e do perdão
Abrigai-nos docemente,
Dentro em vosso coração!
Salve, Sant'Ana gloriosa,
Nosso amparo e nossa luz
Salve, Sant'Ana ditosa,
Terno afeto de Jesus.
Vossos filhos desta terra
Vos suplicam que sejais
O seu refúgio na guerra
E sua alegria na paz.
(Hino de Sant’Ana . Letra: Palmyra e Carolina Wanderley
Música: Manoel Fernandes)
9
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
SUMÁRIO
A HISTÓRIA
43 A MISSA DE ENVIO DAS IMAGENS E OS
87 TRANSFORMAÇÕES RECENTES:
PEREGRINOS DE SANT’ANA
ENCONTRO DE GERAÇÕES, A ILHA DE
SANT’ANA
06 APRESENTAÇÃO
49 E COMEÇA A FESTA! ABERTURA
07 INTRODUÇÃO
OFICIAL DA FESTA DE SANT’ANA
11 A LENDA DO VAQUEIRO E A CRIAÇÃO
52 PAVILHÃO E FEIRINHA DE SANT’ANA
DA CIDADE DE CAICÓ: PRIMÓRDIOS DA
CELEBRAÇÃO NOS SÉCULOS XVII E XVIII
56 A CAVALGADA E A CARREATA DE
18 A CONSTRUÇÃO DA CAPELA
SANT’ANA: TRADIÇÃO E MODERNIDADE
JUNTAS
A FESTA DE SANT’ANA
COMO OBJETO DE
REGISTRO
PRIMITIVA E IGREJA MATRIZ: A
CONSOLIDAÇÃO DA FÉ EM SANT’ANA
59 MISSA SOLENE, O BEIJA DA IMAGEM
103 ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA A
DE SANT’ANA E A PROCISSÃO
EXISTÊNCIA DA FESTA
69 BAILES, BANQUETES E REENCONTROS:
106 CONCLUSÃO
BAILE DOS COROAS E FESTA DA
JUVENTUDE
108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
24 A PASSAGEM DO VISITADOR GERAL E
A PROIBIÇÃO DAS CELEBRAÇÕES
NOTURNAS
28 ENFIM, A MODERNIDADE: O
PROGRESSO E SUA INFLUÊNCIA
73 CELEBRANDO REENCONTROS
A FESTA HOJE
76 ARTESANATOS E COMIDAS FESTIVAS:
UM PASSEIO PELOS COSTUMES DO
SERIDOENSE
39 A ATUAÇÃO DA PARÓQUIA:
ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA FESTA DE
SANT’ANA
95 PROFISSIONALIZAÇÃO DA FESTA DE
SANT’ANA
ANEXOS
116 ANEXO 1 – MAPAS E CROQUIS DA
FESTA DE SANT’ANA
118 ANEXO 2 - LINHA DO TEMPO
120 ANEXO 3 – ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
10
DOSSIÊ IPHAN
A
{Festa de Sant’Ana}
HISTÓRIA
11
DOSSIÊ IPHAN
responsável
{Festa de Sant’Ana}
pela
construção
dessa
que, ao adentrar numa densa mata
identidade do povo seridoense. É
sagrada, morada de um deus indígena,
difícil, porém, separar com precisão o
se viu repentinamente atacado por um
que é mito do que é história na devoção
touro bravo. Diante de tão grande
do povo seridoense a senhora Sant‟Ana.
perigo, o tal vaqueiro fez um voto à
O que se sabe sobre o surgimento dessa
prática
devotiva,
é
que
ela
está
associada à criação da cidade de Caicó,
que por sua vez também estava muito
A senhora Sant‟Ana para o
povo seridoense representa não apenas
a fé, mas também a tradição e, mais
recentemente a modernidade, ela é,
antes de tudo símbolo de identidade e
união do povo, sua festa, aparece como
um grande evento cultural e social,
mais ligada aos interesses da coroa
portuguesa em colonizar o interior do
Brasil. Por toda uma tradição oral e
escrita, sabe-se que o surgimento do
lugar Caicó está associado à construção
de uma capela votiva dedicada à santa.
Por essa tradição, conta-se e reconta-se
que ela foi erguida por um vaqueiro
12
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Senhora Sant'Ana de erguer uma igreja,
comandante das tropas militares e seus
Seridó pela fé do vaqueiro e do senhor
se ela o livrasse da fúria incontida
ajudantes que combatiam alguns índios
(sesmeiro e comandante de tropas) que
daquele
Salvo
que haviam se rebelado. Segundo a
adentraram
milagrosamente pela Santa, tratou logo
cultura local, foi um milagre que
“caminhos das águas,” rasgando as
de cumprir sua promessa. Os trabalhos
motivou a entronização da Senhora
distâncias para desafiar o intrincado da
de edificação foram iniciados. Ano de
Sant´Ana naquela capelinha, erguida
caatinga e o solo de pedregulhos,
seca sob sol escaldante, a única fonte de
sem ostentação, em meio a pedras e
áspero e cortante.
água disponível era a de um poço no leito
cactos da vegetação nativa, já os
Em 1683 foi construída a Casa
do Rio Seridó. Novamente, o vaqueiro
estudiosos referem-se à popularidade da
Forte do Cuó, origem da Cidade de
clamou pela intercessão da Santa, que
santa entre os colonos brasileiros, com
Caicó. Os alicerces desta construção
culto público celebrado em templos
ainda se conservam no Sítio Penedo.
religiosos e devoção privada dentro dos
Esta Casa Forte foi construída por
lares,
oratórios
iniciativa do Coronel Antônio de
domésticos. Modelo de Mãe e Mestra
Albuquerque da Câmara, um dos
exemplar, Sant‟Ana era tida como
primeiros sesmeiros da Região do
padroeira dos mineiros, marceneiros,
Seridó, densamente
proprietários
(espargindo
indígenas Tapuios (Janduís, Canindés e
benções sobre as fazendas) e defensora
Pegos ou Paccas). Quando começaram
das mulheres casadas, ao protegê-las da
a implantação das Fazendas de gado
morte súbita de seus maridos. Essa
nesta região, os indígenas reagiram
devoção venerável foi introduzida no
iniciando, dessa forma um conflito que
animal
selvagem.
operou mais um milagre: impediu que o
poço
secasse.
Agradecido,
passou
a
denominá-lo de Poço de Sant´Ana e este,
segundo conta a tradição local, nunca mais
secou, mesmo quando haviam
longas
estiagens.
A história oficial nos conta que
essa primitiva Capela foi erguida em
1695, nas proximidades da Casa Forte
do Cuó (ou Acauã), mais ou menos
entre os anos de 1683 e 1697, pelo
em
volta
de
dos
terras
nessas
terras
habitada
pelos
pelos
13
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
ficaria conhecido como a Guerra dos
do Arraial – que deveria chamar-se
e expostos criminosos), que era o
Bárbaros (1683-1713), travada entre os
Queiquó – ocorreu em 1700, porém,
símbolo da autoridade da Coroa e a
indígenas e os colonizadores que aqui
somente em 07 de julho de 1735 na
bênção pelo Padre Messias José Pereira
chegaram para iniciar o processo de
Fazenda
da imagem de Sant'Ana. Esta antiga
Penedo,
foi
instalada
interiorização dos domínios
imagem de Sant'Ana,
da coroa de Portugal. Assim,
doada pelo cearense
em meados do século XVII,
Luiz da Fonte Rangel,
a coroa portuguesa daria, por
encontra-se de pé, até
fim, início ao processo de
hoje no nicho lateral da
interiorização da Capitania
Catedral de Sant‟Ana,
do Rio Grande, concedendo
tombada pelo IPHAN
doações
de
–
terras
Sesmarias
–
destinadas
basicamente
que
desde
eram
1962.
A
solenidade foi na Praça
a
da Capela e da Casa da
A
Suplicação (Casa da
construção de uma capela
Fazenda). Em 1788 a
dedicada à Sant‟Ana fez
povoação seria elevada
criação
de
gado.
com que as pessoas que já
freqüentavam o local, pudessem fazer
sua morada na terra. Segundo o
historiador Helder Macedo, a fundação
à
oficialmente a Povoação do Caicó, com
a colocação do pelourinho (colunas de
pedra colocadas em lugar público
da cidade ou vila onde eram torturados
categoria
administrativa de Vila, e quase um
século
depois
transformada
em
Município, mais precisamente em 1868.
14
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Quanto ao nome da cidade “Caicó”, não
designavam o pássaro que dava nome
que comprove a existência dessa tribo
se sabe ao certo sua origem, o que
ao rio e à região. Considerando a
na região.
podemos afirmar é que existem várias
partícula "quei", como sendo "rio", rio
A religiosidade é um marco
versões. No dicionário da língua Tupi-
Acauã seria o mesmo que "Queicuó", e
característico do povo seridoense, a
Guarani, por exemplo, deriva da língua
posteriormente
vivência dessa religiosidade, refletia um
Cariri e significa "Mato Ralo". Alguns
Porém, a versão mais aceita é a do
forte
historiadores acreditam que a região foi
folclorista Luiz da Câmara Cascudo o
providencia celestial, a quem se atribuía
habitada pelos índios Caiacós, da
qual, fala que o nascimento do nome
a abundancia das chuvas ou os rigores
família dos Cariris, e que os mesmos
Caicó vem dos nomes "Acauã" e
da seca, portanto, para o povo tudo
denominaram a região de Cai-icó, que
"Cuó", que designam dois acidentes
estava nas mãos de Deus. A fé e a
significaria
geográficos
serra,
confiança na força sobrenatural da avó
causa dos serrotes cuja vegetação era
respectivamente). "Acauã" pertence a
de Jesus podem ser percebidas nos
desmatada. Já o pesquisador Olavo de
língua Tupi, enquanto "Cuó" ao dialeto
nomes de algumas cidades, serras ou
Medeiros Filho, diz que o nome vinha
dos Tapuias e Tarairius. Tais tribos
construções que compõe a região do
de uma ave agourenta, comedora de
ainda identificavam o rio pelo termo
Seridó Potiguar – Serra de Santana, Ilha
cobras e que havia em abundância no
"quei", o que sugere que Caicó seja
de Santana, Poço de Santana, Barra de
curso d'água que passava próximo a
uma derivação de "Queicuó", o mesmo
Santana, Santana do Seridó – ou nos
casa-forte do cuó, chamado rio Acauã.
que rio do Cuó. Essa teoria desmistifica
lugares habituais de culto: igrejas,
Os nomes "acauã" e "cuó" seriam
a lenda que relata a existência de uma
capelas e oratórios a ela dedicados,
sinônimos, a primeira forma em tupi e a
tribo chamada Caiacós, supracitada,
cujos
segunda em tarairiu, e ambas as formas
pois não há registro histórico algum,
devoções, atos religiosos e festivos dos
"macaco esfolado" por
se
(rio
tornaria
e
Caicó.
grau
estudos
de
nos
conformação
revelaram
a
as
15
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
povoadores do Seridó antigo e seus
por alguns historiadores locais que
da Casa de Suplicação, em 7 de julho
descendentes.
consideram um equívoco de interpretação
de 1735. Após o rito litúrgico, a
atrelar a primeira Festa à instalação da
população beijou a imagem da santa,
Freguesia. Se, no ano de 1699, foram
cujo
concedidas indulgências à Capela de
reverência
se
Senhora Sant´Ana do Acauã (ou Cuó), se
investido de sacralidade; ao mesmo
impõe: em qual ano começou a ser
havia uma população, mesmo pequena,
tempo,
celebrada a Festa da Senhora Sant´Ana
que se movia em torno do Arraial e,
de
em
ainda, se os curas do Piancó prestavam
considerar-se a primeira Festa quando da
assistência espiritual e religiosa aos
instalação solene da Freguesia, com título
moradores da Ribeira do Seridó, sem
e invocação de Sant´Ana do Seridó, pelo
dúvidas, a Festa foi celebrada desde o
padre Francisco Alves Maia, em 26 de
início do setecentos.
Ao interpretar os postulados que
tecem
os
devocional,
Caicó?
alicerces
um
Há
dessa
prática
questionamento
uma
tendência
julho de 1748. Naquele mesmo dia, o
Mais um indício, não menos
primeiro padre da Freguesia e as pessoas
impactante, emerge da documentação
“de melhor nota” escolheram um novo
para emprestar aos historiadores os
lugar para a construção da Matriz (atual
elementos que lhes asseguram afirmar a
Catedral) e da residência do vigário, uma
vez que a primitiva Capela havia sido
construída em terreno acidentado, o que
dificultava o acesso de pessoas idosas.
Todavia, essa data vem sendo contestada
celebração dos festejos antes de 1748.
Durante a cerimônia pública para
instalar a Povoação do Caicó, o padre
Messias José Pereira celebrou uma
missa na Praça da Capela de Sant´Ana e
gesto
religioso
para
a
com
renovação
exprimiu
o
do
a
“objeto”
fervor
devocional que se inscreve no culto
coletivo para com a protetora do lugar.
Assim, se a nota geral da religiosidade
dos católicos, naqueles tempos era dada
pelas festas, é evidente que os núcleos
urbanos cultuavam festivamente os
santos titulares de suas igrejas e
capelas. E, em Caicó, não foi diferente.
Essa corrente vem tomando cada dia
mais corpo entre alguns religiosos
estudiosos dos festejos de Sant‟Ana no
Seridó, embora ainda não haja fontes
cabíveis que comprovem tal fato. Nesse
sentido,
indaga-se
ainda:
qual
a
16
DOSSIÊ IPHAN
composição
para
deve ter acontecido com a presença
com a imagem da Santa. O cortejo
Sant´Ana,
obrigatória dos poucos moradores do
provavelmente
celebrado em Caicó, nas primeiras
lugar e de seus arredores até uma légua
sacerdote, seguido pelos agricultores,
décadas do século XVIII? Mesmo que
de distância, conforme determinavam
criadores e vaqueiros instalados na
ainda
as
Ribeira do Seridó, acompanhados pelos
exaltação
do
de
hajam
cerimonial
{Festa de Sant’Ana}
Senhora
lacunas
a
serem
Ordenações
do
Reino.
Pelo
pela
Igreja
instituído
possível
primeiras
Católica,
os
litúrgicos
compungidos ou alegres, formulavam
se
for
possivelmente envolveram repiques de
as suas preces em meio aos cânticos
considerado o contexto histórico e
sino, iluminação da capela, missas,
religiosos.
religioso daquela época. A realização
récita de orações, tendo como ponto
de um tríduo religioso, pelo menos,
alto a procissão conduzindo o andor
manifestações
festivas
atos
Arraial
pelo
cerimonial
as
do
formado
preenchidas nas fontes oficiais, é
vislumbrar
moradores
foi
que,
17
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
criada a capela primitiva, em 1695.
visitador Manoel Machado Freire criou
Após ser firmado o Tratado de paz
a nova Freguesia de Sant‟Ana de Caicó,
entre brancos e indígenas, (a guerra
cumprindo um decreto feito no dia 20
continuou em outras localidades até o
de fevereiro de 1747, fazendo assim
Século
a
com que a Freguesia se tornasse enfim,
construção da Capela de Sant'Ana,
paróquia independente. Em Julho de
erguida próxima à Casa Forte pelo
1748, o padre Francisco Alves Maia,
Comandante e subordinados da Casa
primeiro vigário de Caicó, ergueu um
Forte do.
Cruzeiro, que daria início a construção
XVIII),
foi
possível
A edificação da capela, foi
da atual Catedral de Sant‟Ana. A Festa
intermediada pelo frei Antônio do
de Sant‟Ana de Caicó, ao longo dos
Amor Divino (pároco das tropas das
tempos tem se perpetrado como uma
pequenos vilarejos e cidades quase
guarnições da Capela de Olinda), e
das
sempre estava ligada a construção de
consagrada à Senhora Sant‟Ana. Em
religiosas da região Nordeste, sua
uma capela dedicada a algum santo,
1730, foi criada a Freguesia de Nossa
grandiosidade é conhecida além dos
essas práticas deram origem às raízes
Senhora do Bom Sucesso do Piancó,
limites do estado, chegando até mesmo
da devoção do povo seridoense a
onde hoje é a atual cidade de Pombal,
ao
Sant’Ana. Essa devoção nasceu quase
na Paraíba, ficando toda a região Seridó
conterrâneos de Caicó que saem da
que no mesmo instante em que foi
pertencente a essa Paróquia. Em 1748 o
cidade para tentar a vida lá fora, levam
A
origem dos lugares, dos
maiores
exterior,
festividades
pois
muitos
sócio-
dos
18
DOSSIÊ IPHAN
consigo a fé e devoção a santa,
assumir
passando assim, aos seus herdeiros o
paramentos
mesmo sentimento de pertencimento
música, foguetório e iluminação interna
representavam
que eles próprios têm com a padroeira e
do Templo. No término dos festejos, a
manifestação de fé e devoção coletiva,
a cidade.
realização da procissão pelas ruas do
mas também momento de sociabilidade,
Povoado, em cujo séqüito hierarquizado
educabilidade e congraçamento. Por
festejos para louvar a Senhora Sant´Ana
destacavam-se
as
assim ser, o ato de festejar mereceu por
passaram a ter maiores solenidades no
autoridades,
das
parte do Bispo de Pernambuco – Dom
âmbito da Freguesia do Seridó. É bem
Irmandades
do
Thomaz da Encarnação Costa e Lima –
provável que, após ser fundada a
Santíssimo Sacramento (criada em
em
Irmandade de Sant´Ana, em 1754, uma
1756) e, por fim, os devotos da Santa.
disciplinadoras, em especial, contra a
nova composição festiva tenha sido
À noite, a Matriz ganhava luminárias
prática abusiva de novenas em casas
introduzida, já que competia a ao povo
que anunciavam aos moradores do
particulares com festejos e solenidades
promover
lugar
seguinte,
próprias da Igreja. Ao mesmo tempo,
Padroeira e organizar ano-a-ano as suas
celebrações mais solenes. Desse modo,
propôs a proibição de danças, bebidas e
festividades.
eficiente
o rito litúrgico era revestido de pompas
cânticos ilícitos, por serem ofensivos à
instrumento de sustentação material do
para estabelecer a distinção dos atos
religião católica, à moral e aos bons
culto,
religiosos semanais e para realçar a
costumes.
Não se sabe ao certo quando os
a
também
devoção
Enquanto
era
sua
à
excelsa
atribuição
os
{Festa de Sant’Ana}
dispêndios
litúrgicos,
haver,
os
os
grandeza e o poder do sagrado. Na
ornamentos,
crônica do sertão, as festas religiosas
sacerdotes,
os
de
com
“irmãos”
Sant´Ana
no
dia
e
1777,
não
somente
disposições
uma
normativas
19
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A primitiva capela edificada sob
contribuiu para que se construísse uma
capela ter sido elevada ao posto de
a invocação da Senhora Sant‟Ana no
nova sede, em espaço mais acessível,
Paróquia, hoje, atual Igreja Matriz de
século XVII,
local
principalmente devido ao crescimento
Sant‟Ana de Caicó. Com a instalação
acidentado e de difícil acesso, fato que
da freguesia e pelo fato de também a
da freguesia da Gloriosa Senhora
situava-se
em
20
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Sant‟Ana do Seridó, em 26 de julho de
do Pe. Francisco de Brito Guerra10
em vãos de arcos ogivais, todas com
1748, os seridoenses escolheram um
entre
cercaduras de massa. No coro existem
novo local para ser erguida a Matriz,
colhidas junto a Diocese de Caicó.
conforme registrou na época o Padre
Hoje,
1804-1843,
a
Igreja
segundo
Matriz
fontes
apresenta
Francisco Alves Maia, primeiro vigário
por
guarda-copos de ferro. Seu interior é
na Praça que recebe o nome do
atual Catedral de Sant‟Ana - a antiga
Monsenhor Walfredo Gurgel, padre,
capela perdeu parte de sua importância,
educador e político caicoense. Um dos
funcionando a partir daí como Capela
fundadores
de Nossa Senhora do Rosário. Seu
do
Ginásio
Diocesano,
deputado, senador e governador do Rio
desaparecimento ocorreu entre 1789 e
restam
protegidas
e pia batismal. A Catedral localiza-se
construção de um templo maior - a
Atualmente,
janelas
constituído por capela-mor, naves, coro
da recém criada freguesia. Iniciada a
1800.
três
Grande do Norte. A então Igreja Mariz
seus
de Sant‟Ana de Caicó passou por
vestígios junto à Casa-Forte do Cuó,
várias transformações, uma delas em
como marco das primeiras construções
1823, e outra para o acréscimo da
do Seridó. No transcorrer dos anos, o
segunda torre, em 1955, quando era
terreno doado para a construção da
bispo Diocesano D. José Adelino
Paróquia de Sant‟Ana foi aos poucos
frontispício curvilíneo, ladeado por
tendo suas dimensões alteradas, desde o
duas torres sineiras. Possui uma porta
inicio da construção da Matriz em
central, assentada em vão de arco
1748, até sua finalização no paroquiado
pleno, ladeada por duas outras portas
Dantas, foi também durante o seu
bispado que foi erguido o Arco do
Triunfo, em homenagem a passagem de
N.S. de Fátima por Caicó em 1953. O
21
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
templo passou ao longo dos anos por
apesar do tempo, dentre eles podemos
do cargo de vigário colado (sacerdote
diversas reformas, a fim de torná-lo
citar o sobrado que serviu durante um
fixo, na época, nomeado pela coroa), da
mais claro, ventilado e funcional. Em
bom tempo de casa para o Padre
freguesia do Seridó. Passou a residir no
1920 foram suprimidas as tribunas, as
Guerra,
sua
sobrado, acompanhado de sua mãe e
cadeiras individuais foram substituídas
construção iniciada em 1810 e foi
das irmãs, morou por 34 anos, e veio a
por bancos coletivos e instalada a
concluído um ano depois. Esse sobrado
falecer no Rio de Janeiro, no dia 26 de
iluminação elétrica no seu interior, nos
apresenta dois pavimentos, tendo uma
fevereiro
anos de 1960-1970, os altares da nave
sóbria fachada, na qual se divisam
funcionou por muito tempo a primeira
central (exceto o altar mor), e das naves
cinco portas e igual número de janelas,
Escola de Latim do Seridó. Hoje o
laterais foram retirados e na década de
estas protegidas por grades de ferro. O
sobrado abriga a Casa de Cultura do
1980 foi erguida a segunda torre e
seu interior já sofreu alterações. A
município de Caicó, porém seu estado
construída a capela em honra a N.S. de
mobília original, infelizmente, já se
inspira cuidados, e precisa ainda ser
Fátima na nave lateral, ao longo da
perdeu com o tempo; consta que o
restaurado. Além do famoso sobrado,
década de 80 e inicio de 90, várias
padre
podemos
outras pequenas reformas e mudanças
madeira de lei e talheres, copos,
Matriz, um vasto casario de diversos
foram feitas na Catedral. O local que
colheres, estribos, salva, brida de prata.
estilos arquitetônicos que vai desde o
hoje abriga a Matriz de Sant‟Ana
Ele o construiu, após ter retornado do
estilo colonial ao moderno.
também é rodeado por um belíssimo
Rio de Janeiro, depois de ter se
conjunto arquitetônico bem conservado
submetido ao concurso para provimento
esse
Guerra
sobrado
utilizou
teve
móveis
de
de
1845.
perceber
No
no
prédio,
entorno
da
22
DOSSIÊ IPHAN
No entorno das construções das
{Festa de Sant’Ana}
vários que traziam os fazendeiros e suas
comemorações
primeiras capelas ainda nos séculos XVI
famílias
Igreja.
festividades representavam uma trégua na
e XVII, formaram-se os núcleos centrais
Chegavam a cavalo, bem cedinho, para
dureza da vida cotidiana do mundo rural
das cidades, as edificações das capelas
fugirem do calor do sol, sendo seguidos
e mesmo da pequena Vila.
ocorriam, como já citado anteriormente,
pelos arrieiros que tangiam as mulas com
em sua maioria como cumprimento de
as cargas de alimentos, roupas e objetos.
promessas aos santos devotivos de seus
As casas da “rua”, que permaneciam
benfeitores. Para a Vila do Príncipe, até
quase sempre fechadas, eram abertas para
então única Freguesia e município do
as festas: da Padroeira – a Gloriosa
Seridó, em fins do século XVIII e inicio
Senhora Sant´Ana – de Nossa Senhora do
do século XIX, convergiam os caminhos
Rosário, das Benditas Almas e para as
para
as
festas
de
natalinas.
Essas
23
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
categoricamente qualquer celebração
com as velas? De fato, a despesa com a
noturna na Igreja Matriz e capelas de
iluminação das igrejas pesava nos
toda a Freguesia, exceção para os
cofres das irmandades de leigos que
últimos três dias da Semana Santa,
mantinham o culto aos santos patronos,
Noite de Natal, e no caso de levar-se o
desequilibrando as suas contas. O
Viático a algum enfermo. Não há
acatamento a essa medida deve ter
indícios
os
limitado as manifestações festivas do
motivos para a adoção dessa medida e
antigo modo de vida da Vila do
até quando ela vigorou nos limites da
Príncipe (antigo nome da cidade de
Freguesia do Seridó. Seria a noite
Caicó),
propícia à transgressão ou eram as
singelamente a devoção e a diversão.
festas
diversões
Parece-nos que o condicionamento dos
consideradas inaceitáveis pelo Padre
ofícios religiosos da Freguesia da
Visitador? É certo que os ensinamentos
Gloriosa Senhora Sant´Ana do Seridó à
Senhora Sant´Ana do Seridó, no ano de
da Igreja Católica prescreviam aos fiéis
duração do dia, onde metaforicamente a
1809, foi surpreendida com a decisão
uma determinada orientação de vida
luz se opõe às trevas, vigorou por
do Visitador Geral e Delegado dos
pautada na oração, na penitência, na
pouco tempo. Segundo o escritor José
Crismas dos sertões baixos do Norte –
virtude cristã e na recusa a tudo que
Melquíades, durante o vigariato do
Padre Inácio Pinto de Almeida e Castro
pudesse afastá-los da prática religiosa
Padre Brito Guerra (1802-1845), a
– que, num presumível arroubo de
fervorosa. Ou seria, ainda, uma medida
Matriz de Senhora Sant´Ana passou a
autoridade
econômica para evitar gastos avultados
ser conhecida em todo o sertão pelo
A
Freguesia
da
eclesiástica,
Gloriosa
proibiu
que
que
possam
justificar
ensejavam
onde
se
misturavam
24
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
“esplendor de suas alfaias” e pela
civis, que temiam o cometimento de
não perturbassem as famílias e o
suntuosidade das celebrações festivas,
excessos em meio ao entusiasmo
sossego público. Durante o século XIX,
que emprestavam novos atrativos às
festivo da comunidade visitante e dos
as
populações espalhadas na amplidão da
moradores locais. Assim, a ordenação
continuaram reservadas aos festejos de
paisagem sertaneja. Tal afirmação pode
do espaço e do tempo festivo seguia
Senhora Sant‟Ana: suas solenidades,
ser um indicativo para a realização de
normas e regras determinadas. Em
seus
cerimônias múltiplas à noite, uma vez
dispositivo
de
1835,
que a profusão luminosa dos círios no
Municipal
da
Vila
interior do Templo realçava o fausto
regulamentou
das alfaias e a estética dos ornamentos,
espetáculos
cerimônias
simbolismos,
seus
litúrgicas
propósitos
a
Câmara
formativos, suas atrações não cessavam
do
Príncipe
de crescer a cada ano. Mais do que em
de
qualquer outro lugar sertanejo, a Festa
do
assegurou a afirmação do prestígio das
bem como a pompa dos ritos litúrgicos.
vilarejo durante os dias de Festa e a
autoridades locais (religiosas e civis)
A vida social da Vila do Príncipe
venda de bebidas “espirituosas,” de
perante o poder público provincial.
gravitava basicamente em torno dos
modo
festejos da Padroeira que, a cada ano,
entretenimentos em consonância com a
tornavam-se mais concorridos, atraindo
ordem social, a moral cristã e os
devotos, festeiros, negociantes e artistas
costumes sertanejos. Outrossim, em
populares
de
1855, a municipalidade fixou o horário
Pernambuco, do Ceará e da Paraíba,
de funcionamento dos divertimentos e
principalmente.
manifestações
das “funções com vozerias” nos limites
devocional
urbanos da Vila, os quais não podiam
causavam apreensão nas autoridades
exceder às nove horas da noite para que
exteriores
das
ao
províncias
As
culto
a
a
grandes
apresentação
públicos
assegurar
nas
a
ruas
prática
de
É por isso que, no ano de 1861,
o
Presidente
da
Província,
o
Comendador Pedro Gomes de Leão
Velloso (que governou o Rio Grande do
Norte de 1861-1863), alimentador da
idéia de que, por meio da difusão da fé
católica, a Igreja opera na educação e
progresso das sociedades, visitou a Vila
do Príncipe em Festa da Padroeira.
25
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
(“Relatório apresentado à assembléia
nos dias dos festejos. Chamaram-lhe a
1864, a municipalidade regulamentou a
[...]”, 1862). Com essa visita, o
atenção os gestos de boas vindas aos
execução dos trabalhos de pintura das
Presidente Leão Velloso inauguraria,
visitantes, bem como a elegância e o
casas, reparos das calçadas e limpeza
naquele longínquo ano, uma prática
jeito das mulheres caicoenses “de
das ruas, para o início do mês de julho
político-social que ganharia seguidores
costumes puros, sinceras nas suas
(o mês de Senhora Sant´Ana), sob pena
através dos anos, a qual se mantém nos
afeições e fiéis aos deveres de família e
de seus proprietários serem multados se
tempos atuais: visitar a cidade em Festa
religião”. Nas vilas interioranas, se as
assim não procedessem. Tal medida
de
Fez-se
festas traduziam a força da classe
revela, emblematicamente, como a Vila
acompanhar pelo Deputado Provincial e
dirigente, elas também revelavam o
foi se organizando em função da Festa,
historiador Manoel Ferreira Nobre, este
dinamismo econômico do lugar, a
a qual promovia a ocupação das suas
na condição de Ajudante de Ordens e
organização do urbano, ao mesmo
ruas e praças para a vivência de muitas
de cronista da sua visita oficial e da
tempo em que exprimiam a aparente
cenas culturais e pedagógicas.
aparição pública ao lado da população
unidade da comunidade social que
em festividade. Atento aos ornamentos,
celebrava em exultação seus santos e
às alfaias, à magnificência e esplendor
santas
do culto devocional, asseverou Ferreira
entusiasmo manifesto, tornou-se um
Nobre
imperativo para o poder público da Vila
Senhora
que
concorrida,
Sant´Ana.
a
Festa
tanto
foi
pelos
bastante
moradores
do
patronas.
Príncipe,
Em
meio
proporcionar
ao
aos
locais quanto pelos das freguesias
visitantes, aos devotos e festeiros um
vizinhas, bem como pelos negociantes
ambiente acolhedor, aprazível e uma
de outras províncias que afluíram à Vila
paisagem urbana civilizada. No ano de
Atrações educativas - visuais,
cênicas e literárias - tais como: queima
de fogos, cosmoramas, representações
teatrais, comédias, mágicas, danças de
corda e apresentação de poetas e
cantadores
populares
eram
proporcionadas aos festeiros após as
novenas. Nos últimos dias dos festejos,
eram promovidos “certames” literários
26
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
entre os poetas e improvisadores de
fundamento reavivar uma encenação da
trovas e cantigas, os quais ensejavam
permanência dos postulados católicos,
lições e aprendizagens para a sociedade
culturais e educativos no seio das
sertaneja, do mesmo modo em que
famílias sertanejas. Nesses tempos de
proporcionavam lineamentos de coesão
outrora (bem como hoje em dia), longos
social. A variedade dos espaços de
preparativos precediam os festejos, os
sociabilidades e a diversificação dos
quais envolviam a organização do
entretenimentos
cerimonial
sócio-religioso,
festivas permitiram aos legisladores da
recolhimento
das
Cidade do Príncipe, em 1871, estender
Irmandade de Sant´Ana, o recebimento
o horário de funcionamento das lojas,
de prendas para o leilão, a preparação
das tabernas e das diversões públicas
dos foguetórios, a contratação da banda
para as dez horas da noite, durante o
de música, a limpeza das ruas e pintura
período da Festa de Senhora Sant´Ana,
das edificações da cidade e, de modo
instituindo
todo especial, a ornamentação do
assim
nas
o
celebrações
“tempo
do
permitido” e alterando a rotina diária da
anuidades
o
da
templo religioso.
vida citadina. Não é demais repetir, que
as celebrações festivas continuaram a
pleno vapor, no final do século XIX,
cada vez mais revestidas de solenidades
e ritos litúrgicos que tinham por
27
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
semanário “O Povo” anotou, em 1890,
que os pais de família abriram mão de
suas
Nos termos apregoados pelo
uma
pelas
da
sociedade local. A programação das
festividades para exaltar a Padroeira da
cidade ganhava (dessa data em diante)
Também eram divulgadas as atrações
cultivar esse refinamento as famílias de
culturais
como
posses faziam compras uma vez por
noticiadas as iniciativas do comércio
ano na “praça” do Recife, de onde
local em face desse evento festivo.
traziam sempre o que existia de novo
e
sociais,
bem
Para atender as exigências dos
páginas da imprensa periódica local ao
fregueses, as lojas, instaladas na Praça
anunciar as cerimônias religiosas dos
do Mercado (hoje, Praça da Liberdade),
dez dias de festejos, que começavam
renovavam os seus estoques para
numa quinta-feira e terminavam no
apresentar à clientela uma variedade de
primeiro
dia
artigos de qualidade e de acordo com os
Sant´Ana.
padrões da época. O observador do
consagrado
à
após
Senhora
o
pelos
afirmou Manoel Dantas que para
maior dizibilidade e visibilidade pelas
domingo
compartilhada
de bom gosto e distinção. Com efeito,
serem
famílias
norma
aquisitivo - ao mesmo tempo indicativo
programadas diversões populares e
patrocinados
meninas
estratos sociais com maior poder
caicoenses, uma vez que estavam sendo
a
as
elegância urbana. Vestir-se bem era
foi aguardada com entusiasmo pelos
bailes”
para
trajarem de acordo com os ditames da
semanário “O Povo”, a Festa de 1890
“importantes
economias
em matéria de vestuário.
Bem vestidos, os devotos e festeiros,
após o novenário, postavam-se no adro
da Igreja Matriz e suas adjacências para
assistirem à queima de fogos de
artifício. Durante alguns anos, os
artistas Joaquim Cordeiro e Inácio de
28
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Loyola proporcionaram ao público
ensinamentos, atrativos e ornamentos
Maio”, na década de 80 do século XIX,
ávido por novidades um espetáculo
exteriores ao cerimonial religioso, que
a Festa de Senhora Sant´Ana ganhou
pirotécnico digno de nota, oferecendo-
asseguram a sua continuidade no tempo
novo brilhantismo proporcionado pelas
lhe, de modo bem especial no ano de
histórico. No período dos festejos, as
notas harmoniosas executadas pelos
1890, um “girassol” e um “amor-
ruas ganhavam iluminação e adornos
instrumentistas dessa agremiação, sob a
perfeito,” os quais deslumbraram os
especiais com muitos arcos floridos, em
regência do professor e maestro Manoel
espectadores pela sua beleza luzidia.
face de novas exigências criadas pelas
Fernandes
Ao lado das figuras riscadas nos céus
famílias
pessoas
Apresentava-se bem ensaiada, afinada e
pelos “fogos de vista,” espocavam as
ocupavam os logradouros públicos em
com bom repertório de peças variadas e
girândolas de dez dúzias de foguetões e
busca de lazer e de congraçamentos
modernas
os cordões de bombas que retumbavam,
vários: praticavam as brincadeiras de
começava a descobrir o gosto pelo
ao longe, entre as serras que circundam
tiro ao alvo, as “pescarias” e as corridas
gênero musical tido como erudito.
a cidade. Vivenciar o espaço festivo
de argolinha que produziam diversão e
Extinta
com suas luzes, sons, imagens, aromas
competição entre os jovens festeiros.
filarmônica foi formada na cidade, em
e sabores, bem como ampliar os
Buscavam as barracas de bebidas
1907, por iniciativa do Dr. Augusto
momentos de sociabilidade e reafirmar
(incluindo os licores e aluás produzidos
Monteiro,
laços de amizade e de vizinhança,
na cidade), de bolos, de doces – sendo
Novembro de
confirmam a função social, estética,
muito apreciadas as puxa-puxas e os
“Recreio Caicoense,” afirma padre
cultural e educativa dos festejos da
alfenins de Açu, cujo sabor, forma e
Eymard L. Monteiro. Mais do que
Gloriosa Senhora Sant´Ana de Caicó.
cores agradavam à meninada. Com a
compor a atmosfera musical da cidade,
Destarte,
criação da Banda de Música “4 de
acompanhava os ofícios religiosos e
a
Festa
reveste-se
de
e
visitantes.
As
de
para
essa
Araújo
um
banda,
recebendo,
Nóbrega.
público
uma
em
que
nova
17
de
1909, o nome de
29
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
animava os festejos sociais promovidos
Luciano Herbert, depois da saudação
a novena, no coreto da Praça da
pelos organizadores da Festa.
musical à Senhora Sant´Ana, “a banda
Liberdade: era o momento da retreta,
No passado, assim
pura poesia musical para o
como no presente, às cinco
deleite e emoção de muitos
horas
festeiros e dos casais de
da
manhã,
a
“Furiosa” (carinhosamente
namorados.
apelidada
Esporadicamente,
pelos
era
caicoenses) garbosamente
contratada outra filarmônica
desfilava pelas ruas do
para o “abrilhantamento da
Caicó antigo para despertar
Festa de Sant´Ana.” Cita-se,
os moradores da cidade
como exemplo, a Festa de
com
das
1924 que contou com a
marchas, dos dobrados e
participação da Banda de
espocar dos fogos. Era a
Música
a
sonoridade
do
Batalhão
de
alvorada festiva, anunciando mais um
saía pelas ruas da cidade executando
Segurança da capital do Estado. Era a
dia
seu repertório e arrastando atrás de si
primeira vez que uma banda militar
folguedos e atrações diversas. Ao meio
um
apresentava-se
dia, era o momento da tocata. A banda
acompanhava
e
particularmente, em Caicó, informa o
postava-se no patamar da Igreja, perto
cadenciado dos músicos”. Entre o ano
jornal “O Seridoense.” Mas não foram
do mastro onde ficava hasteado o
de 1918 e a década de noventa do
somente no contexto da festa em si que
estandarte da Santa. Na escrita de
mesmo século, passou a exibir-se, após
as mudanças aconteceram, ao longo
de
celebrações
religiosas,
de
grupo
de
o
meninos
passo
lento
que
no
Seridó
e,
30
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
desses dois séculos de festividades e
bispo diocesano e quando era pároco de
diferente chegava a Caicó, em julho de
devoção, também a Igreja Matriz
Sant‟Ana o Mons. Walfredo Gurgel. A
1906: era o carrossel de Francisco
passou por várias transformações, uma
devoção a Nossa Senhora de Fátima foi
Azevedo, que se tornou o divertimento
delas bem visível, segundo o padre
amplamente divulgada nos fins da
preferido da meninada e da rapaziada.
Antenor, foi a construção da segunda
primeira metade do século XX, quando
No ano seguinte, nos termos do
torre, antes a igreja possuía apenas
foi reconhecida oficialmente pela Igreja
correspondente do jornal Comércio de
uma, porém ao ser elevada ao posto de
a partir da aparição da Virgem Maria a
Mossoró, novamente, “tivemos a boa
Igreja Matriz, segundo o padre, fez-se
três crianças na pequena aldeia de
diversão do Carrossel que foi muito
necessária a construção da segunda
Fátima, em Portugal, no ano de 1917. A
concorrida”, trazendo, mais uma vez, a
torre da Igreja, ainda no mandado do
sua venerável imagem, desde então,
alegria esfuziante para os apreciadores
Padre Guerra, visto que, precisava-se de
tem peregrinado pelo mundo inteiro
desse brinquedo.
uma segunda torre para abrigar os sinos
levando a mensagem de Fátima.
Com as diversões ampliadas,
que a igreja passaria a possuir como
Ao longo dos tempos, diferentes
ano após ano, os parques animaram (e
Matriz, outra mudança significativa foi
tipos de entretenimentos ocuparam os
continuam animando) os festejos de
a
em
espaços
cuja
Senhora Sant‟Ana, com o balanço das
de
destinação
considerava
as
canoas, o barulho e o colorido dos jipes,
Fátima: o Arco do Triunfo. Foi erguido
diferenciações
sociais
e
o encantamento da roda-gigante, dentre
para comemorar a visita da imagem
populares) e, ao mesmo tempo, as
tantas outras atrações modernas. Na
peregrina de Nossa Senhora de Fátima
oposições entre homens e mulheres,
crônica de José Lucas, no suave embalo
ocorrida aos 22 de novembro de 1953,
solteiros e casados, adultos e crianças.
da
quando D. José Adelino Dantas era
Nesse sentido, uma diversão bem
namorados ascendiam às alturas, sob
construção
homenagem
a
de
um
Nossa
arco
Senhora
públicos
da
cidade,
(elites
roda-gigante,
os
casais
de
31
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
um céu estrelado, para contemplarem a
instalados em salas da Intendência
da Banda “Recreio Caicoense,” as
cidade aos seus pés. Bem agarradinhos,
Municipal durante a Festa de Senhora
feiras de caridade (substituídas, anos
escutavam pelo serviço de alto-falantes
Sant´Ana de 1910, momento em que os
depois, pela feira de comidas típicas),
do Parque Lima os sucessos musicais
caicoenses
as
do momento, que lhes eram dedicados
primeira vez, à projeção de imagens em
(organizados
em código („de um apaixonado para
movimento. Dessa data em diante, os
Medeiros), os bailes realizados no
uma jovem trajando vestido azul‟),
cosmoramas, com seus quadros fixos de
Pavilhão da Festa e em residências,
para que não fossem identificados pelos
paisagens naturais, de cidades e de
constituindo-se em ocasiões propícias
bisbilhoteiros do Jornal da Festa. Tudo
batalhas sangrentas, deixaram de ser
ao aprimoramento das maneiras de
isso conferia ao público festeiro o
atrativos para ceder lugar ao cinema,
sociabilidade do caicoense. É certo que,
regozijo redobrado e a emoção intensa
exibido a cada mês de julho. Somente
no modo polido de comportar-se das
vivenciada nas tardes amenas e nas
no ano de 1925, em plena Festa de
mulheres e homens, residia o sucesso
noites coloridas do mês consagrado à
Senhora Sant´Ana, Enico Monteiro
desses acontecimentos realizados no
Senhora Sant´Ana. Efetivamente, no
inaugurou
interior das festividades devotadas a
transcurso dos séculos, a Festa se
propriedade para ser integrado à vida
constituiu em monumento patrimonial
cultural de Caicó.
puderam
um
assistir,
cinema
de
pela
sua
barracas,
os
pela
“chás
dançantes”
professora
Júlia
Senhora Sant´Ana.
A Festa também se apresentava
de diversões culturais e educativas para
As famílias promoviam eventos
como momento ideal para a difusão de
expor a vitrine das novidades a serem
sociais em benefício da Matriz ou das
padrões e valores culturais modernos.
experimentadas na cidade. Mas, sem
obras sociais da cidade os quais se
Para tanto, contaria com a atuação da
dúvida, a novidade surpresa foram os
tornavam muito concorridos: os leilões,
imprensa
dois
as quermesses animadas pelas retretas
Binóculo, do Jornal da Festa, do Jornal
aparelhos
cinematográficos,
local,
em
especial
d´O
32
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
das Moças e d´O Novenário. À medida
outros
pelo
Júlia Medeiros) foi a grande vitoriosa,
que
procuravam
Jornal da Festa sempre no período dos
sendo coroada no salão nobre da
inspirar entre os caicoenses padrões e
festejos de Senhora Sant´Ana: no ano
Prefeitura
valores
de
a
homenagem, a sociedade caicoense
igualmente legitimar novos estilos de
ganhadora e, em 1927, a jovem
ofereceu-lhe um baile com a orquestra
vida em detrimento de outros por vezes
considerada a mais linda da Festa foi
regida pelo Maestro Manoel Vitoriano
superados. O mais eficaz exemplo
Generosa
os
de Fontes (Bedé), que proporcionou um
dessa sagacidade consistiu na promoção
concursos até então realizados, o que
belo espetáculo festivo na cadência
de
pelos
mais mobilizou os caicoenses, inclusive
desse novo estilo de vida em ascensão
redatores d´O Binóculo, para a escolha
as autoridades do município, as quais
(Medeiros; Araújo, 2006).
da jovem mais simpática da Festa de
foram
comissão
Ao colocar em evidência a
Sant´Ana no distante ano de 1916. A
apuradora de votos, foi o “certame”
prática de realização desses concursos
eleita foi a senhorita Maria da Nóbrega,
para a escolha da Rainha da Festa de
como marca distintiva de uma dinâmica
cuja vitória repercutiu nas “rodas da
1930. O Jornal da Festa justificou a
cultural recente, a imprensa periódica,
elite caicoense” como legítima, por
realização desse evento, alegando que
promotora desses “certames,” oferecia
resumir os verdadeiros traços de uma
“todos os países do mundo civilizado
às
simpatia cativante. No ano seguinte, o
têm feitos concursos, inclusive o nosso
possibilidades de romperem com a
mesmo
um
Brasil com o fim de escolher a sua
imagem idealizada e simplória de
concurso de beleza, sendo agraciada a
Miss.” Com apenas quatorze anos de
mulher recatada, aparentemente restrita
jovem Delmira Araújo com o título de
idade,
Dantas
ao ambiente doméstico. Em oposição à
“A mais bela da Festa.” Sucederam-se
(sobrinha da professora e feminista
mentalidade conservadora de certos
esses
um
periódicos
modernos,
concurso,
periódico
buscavam
encetado
promoveu
concursos
1926,
Theresa
Araújo.
indicadas
a
organizados
jovem
Dantas
De
para
foi
todos
a
Severina
jovens
Municipal.
das
elites
Em
sua
caicoenses
33
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
setores desse universo sertanejo, os
constituía-se no ápice da programação
motivo das atenções dos presentes pela
intelectuais da cidade aclamavam a
social. Depois de um largo período, os
beleza
nova imagem de mulher – sofisticada,
bailes
grandes
demonstrada e pela simpatia cativante,
culta, bela, profissional e feminista –
orquestras, promovidos pelas (e para
emprestando ao elegante evento social
condizente com o alargamento da esfera
as) elites caicoenses, passaram a ser
um charme todo especial.
pública em detrimento da esfera íntima.
realizados no Caicó Tênis Clube, onde
Também, durante a Festa de
Na programação social, o evento
elegantes pares se exibiam pelos salões
Senhora Sant´Ana, esse clube promovia
mais esperado e comentado era o baile
ao som e compasso dos gêneros
desfiles
que
musicais
samba-canção,
patrocinado pelos tecidos Bangu e pela
o
bolero, mambo, salsa e outros ritmos.
Loja Copacabana, na época importante
encerramento dos festejos religiosos,
Nessas ocasiões, predominavam o bom
casa
cujo ambiente ganhava uma decoração
gosto das toilettes das senhoras e
temáticas e bailes para homenagear
primorosa, iluminação e perfume de
senhoritas
pelas
personalidades políticas, profissionais
essência de eucalipto. Acontecimento
habilidosas modistas da cidade) e a
liberais e empresários. Na década de
fechado para a maioria da população,
distinção dos jovens cavalheiros que
sessenta do século XX, as instalações
estava aberto para a confirmação de
“emprestavam
um caráter
do Caicó Tênis Clube foram adquiridas
namoros, oficialização de noivados ou
puramente aristocrático,” observou o
pela Associação Atlética do Banco do
mesmo para reforçar os laços de
cronista do Jornal da Festa. No ano de
Brasil (AABB), que passou a realizar o
amizade
convivialidade
1956, o êxito maior foi atribuído às
Baile de Debutantes, promoção do
estabelecidos antes e durante os festejos
presenças das misses do Rio Grande do
Lions Clube de Caicó, ocasião em que
da Padroeira. Assim, o Baile da Festa
Norte, do Ceará e do Distrito Federal,
as jovens da cidade, ao completarem
se
realizava
municipalidade
e
de
de
no
prédio
Caicó, após
da
animados
da
pelas
época:
(confeccionadas
à
festa
juvenil,
(o
pela
mais
comercial
de
elegância
famoso
Caicó),
era
o
festas
34
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
quinze anos, eram apresentadas com
Outras festas menos glamorosas, mas
confeccionados, e um perfume à base
muito glamour à sociedade local em
cheias de animação, aconteciam no
de flores, na maioria das vezes,
ritual festivo. Às vezes, esse evento
Caicó Esporte Clube, conhecido como a
comprado na capital. O clube tinha suas
acontecia nos salões da Associação dos
“Sede dos Morenos.” Os segmentos
normas
Sargentos e Subtenentes de Caicó
sociais que não tinham acesso aos
padrões aceitáveis de comportamento.
(ASSEC), clube
dos militares do
clubes das elites (fosse pela condição
Os
Exército brasileiro. As soirées deixaram
social ou pela cor da pele) encontravam
consumir
as residências e ganharam os salões dos
nesse clube um ambiente acolhedor,
excesso e os casais de namorados não
clubes Grêmio Social e Cultural de
acalorado e democrático. Em seus
podiam beijar na boca para evitar
Caicó ou da ASSEC, tendo como
tempos áureos (década de cinqüenta e
situações embaraçosas.
público alvo, notadamente, os jovens
começo dos anos sessenta do século
No rol das festividades, o
que se esbaldavam no ritmo frenético
XX), os bailes organizados na “Sede
passeio em volta da pracinha do coreto
do rock n‟roll, do twist e que
dos Morenos”, durante a Festa de
(Praça
“mandavam brasa” ao som do iê-iê-iê
Senhora
muito
apreciado pelas jovens da cidade e de
nacional.
eles
concorridos, animados e se estendiam
outras localidades, enquanto os rapazes
afastavam-se da tradição e inovavam na
até a madrugada. Para a jornalista
circulavam em sentido contrário ou
maneira de se vestir: a mini-saia para as
Arizela
ocasiões
ficavam sentados nas cadeiras do bar,
mulheres e as calças justas com “boca
especiais, o terno de linho branco e os
paquerando as mocinhas ao vê-las
larga” para os homens, de acordo com
sapatos de bico fino estavam em voga
passar.
as tendências da moda juvenil dos
para os homens, enquanto as mulheres
tornou-se o ponto de encontro da
grandes centros urbanos brasileiros.
usavam
juventude após as novenas, onde grupos
Nessas
ocasiões,
Sant´Ana,
Cunha,
vestidos
eram
nessas
de
seda,
bem
através
das
quais
freqüentadores
bebidas
da
não
deviam
alcoólicas
Liberdade)
Durante
definia
anos,
era
a
em
muito
pracinha
35
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
eram formados e namoros iniciados. No
quatro zonas. Em meados da década de
cultuam a santa cujo final da festa se dá
alto do Coreto, a Filarmônica “Recreio
1950 o padre Galvão Celestino, visando
exatamente no dia 26 de julho, dia da
Caicoense”
músicas
o crescimento da Festa de Caicó,
padroeira
românticas ou os sucessos do momento.
resolve mudar sua data de finalização,
canônico, as manifestações em louvor a
executava
segundo
o
calendário
Por volta das vinte e três
Sant‟Ana na cidade de Currais
horas, a pracinha começava a
Novos não apresenta a mesma
ficar esvaziada, pois muitos
dimensão que apresenta em
dos
Caicó,
seus
freqüentadores
Currais
Novos
se
dirigiam-se aos clubes para
diferencia pelos atores que
mais uma festa dançante.
compõem
a
atualidade,
novos
Além das mudanças
festa
na
cânticos,
sociais, o século XX também
novos hinos, festas públicas
trouxe
em praças, o que pouco tem
outro
grande
acontecimento para o povo
ocorrido
seridoense: a criação em fins
forma, podemos observar que
da década de 1930, da
a Festa de Sant‟Ana de Caicó,
Diocese de Caicó, a 25 de
novembro de 1939, pelo Papa Pio XII,
desmembrada da Diocese de Natal com
uma superfície de 9.372 km². A
Diocese de Caicó, hoje subdivide-se em
fazendo-a terminar no ultimo domingo
do mês de julho, ao contrário da Festa
de Sant‟Ana da vizinha cidade de
Currais Novos e demais cidades que
em
Caicó,
dessa
a cada ano se tornou a maior em níveis
regionais
para
seus
devotos.
As
mudanças mais significativas ocorridas
na Paróquia de Sant‟Ana começaram a
ocorrer,
segundo
relatos
do
Pe.
36
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Antenor, pároco emérito da Catedral de
Sant‟Ana a partir de 1917, e com a
chegada a Caicó do padre Walfredo
Gurgel em 1936 a cidade de Caicó
ganharia também uma voz forte no
processo de criação da Diocese. A
participação de toda a região nas
celebrações a Sant‟Ana se faz presente
visto
que
comungam
marcante
as
cidades
seridoenses
de
uma
religiosidade
arraigada
aos
lugares
e
tradições, isso reforça a manutenção
das práticas religiosas que se destacam
na atualidade, no cenário do Rio
Grande do Norte, mantendo os aspectos
tradicionais ligados ainda ao período de
colonização desse território.
37
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A FESTA HOJE
38
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A festa de Sant‟Ana é a celebração
Sant‟Ana
carreatas,
procissões,
típicos. A presença da música, da
invocações a Nossa Senhora, a Jesus
dança, dos shows, dos fogos, da comida
Cristo e aos santos protetores, como
e da bebida, muitas vezes em excesso,
intermediários entre Deus e os homens
presentes.
e
de comidas, bebidas e artesanatos
longo da colonização, em que as
estiveram
novenas
cavalgadas,
apresentações artísticas, bailes, venda
do catolicismo tradicional difundido ao
sempre
envolve
poderia levar-nos a pensar a festa
As
inserida no assim denominado tempo
devoções são relacionadas a milagres
realizados por santos próximos, pois
de promessas e na realização de festas
profano. A festa é a poesia que não
são
A
aos santos padroeiros. Momento ímpar
existe sem a prosa, é a desordem que
é
na
tanto
não se concretiza sem a ordem. É
festivo quanto solene, a Festa de
condição inerente para o cotidiano, sua
eminentemente
identidade
cultural
humanos.
e
religiosa
baseada, principalmente, no pagamento
sociabilidade
seridoense,
39
DOSSIÊ IPHAN
quebra
e,
simultaneamente
{Festa de Sant’Ana}
sua
dividem-se na elaboração de um intenso
Carreata de Sant'Ana, as Novenas, a
retomada. A festa é, na verdade, um dos
calendário sócio-religioso que faz da
Missa Solene, a Procissão, além dos
elementos
Festa de Sant'Ana um dos mais
bingos,
fundamentando-se em um ritual que
significativos
registramos
marca o princípio de reciprocidade, que
religiosos do Rio Grande do Norte. Em
sociabilidade
é central a toda vida social. A paróquia,
eventos como as Peregrinações rural e
religiosidade peculiares, fundadas em
o poder público e a iniciativa privada
urbana, a Cavalgada de Sant’Ana, a
valores morais fixados pela tradição.
Os festejos em homenagem à
organização e gestão de toda a parte
a cada ano a Comissão é em certa
Sant'Ana de Caicó acontecem sempre a
litúrgica,
sócio-cultural
medida renovada, com a saída de
partir da quinta-feira que antecede o dia
promovida pela paróquia. A Comissão
alguns membros e a entrada de outros.
26 de julho, dia de Sant'Ana no
da Festa veio somar esforços ao antigo
Seus componente, em sua maioria, são
calendário
seu
Conselho Paroquial, inaugurado por
pessoas mais ligadas à Igreja, com
encerramento no primeiro domingo
Monsenhor Antenor Salvino de Araújo
grande
subsequente, com a realização da
ao longo de seus 39 anos de paroquiado
participação nas celebrações ordinárias,
procissão. No entanto, podemos afirmar
(de 1968 a 2007). Contudo, a Comissão
sejam
que, de fato, a Festa de Sant'Ana tem
manteve parte das atribuições do antigo
funcionários públicos ou profissionais
início bem antes disso, já em meados
conselho, mudando a sua composição e
liberais. Estas pessoas realizam trabalho
do mês de abril, quando é realizada a
forma de atuação. A Comissão da Festa
voluntário
primeira reunião da Comissão da Festa
de Sant'Ana de Caicó é composta de 40
satisfação em participar da organização
de Sant'Ana de Caicó, responsável pela
(quarenta) membros não fixos, ou seja,
da mais expressiva festa de padroeiro
que
funda
litúrgico,
o
coletivo,
tendo
acontecimentos
religiosa
e
sócio-
leilões,
shows
a
bailes,
presença
de
uma
festiva
e
uma
devoção
à
estudantes,
e
e
Sant'Ana
e
professores,
demonstram
grande
40
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
da região. A Comissão é dividida em
organização e gestão dos vários eventos
paróquia. A tabela abaixo mostra as
subcomissões compostas de um a cinco
que ocorrem dentro da programação
subcomissões
membros, cada uma responsável pela
sócio-religiosa
pela
atribuições:
Logística e gestão da
Feirinha de Sant'Ana:
organização
e
distribuição
das
barracas;
decoração; venda de
comidas
e
bebidas,
controle financeiro e
prestação de contas.
Peregrinação
Urbana
Organização das novenas
(inscrição das pessoas
interessadas em receber
novenas em suas casas);
elaboração de calendário;
ornamentação
das
imagens peregrinas e
coordenação do encontro
das imagens peregrinas.
Beija
Agenciamento do espaço
e coleta das ofertas.
Organização
do
calendário das novenas e
mobilização
dos
noitários.
Divulgação da festa,
elaboração de plano de
mídia e arrecadação de
patrocínios.
Subcomissão
Atribuições
Pavilhão
de
Sant'Ana
(ou
Pavilhão
Cultural) – são
duas
subcomissões,
uma para os
bares,
outra
para as comidas.
Organização, logística e
gestão
do
Pavilhão:
contratação
e
organização das barracas
e bares; do palco e telões
e
da
programação
cultural.
Feirinha
Festa dos Doces
Almoço
Sant'Ana
Cavalgada
de
Organização
dos
expositores/vendedores.
Logística
e
gestão:
elaboração do cardápio,
decoração do espaço;
coordenação
das
cozinheiras e organização
das mesas.
Organização da parte
litúrgica da Cavalgada:
acolhimento
dos
cavaleiros, organização
da missa e da benção dos
animais
Jantar
Sant'Ana
Peregrinação
Rural
de
promovida
Logística
e
gestão:
elaboração do cardápio,
decoração do espaço;
coordenação
das
cozinheiras e organização
das mesas.
Organização das novenas
(inscrição
das
comunidades
rurais
interessadas),
ornamentação
da
imagem
peregrina;
elaboração do calendário
de
peregrinações
e
organização e gestão
financeira dos leilões.
Novenas
(Noitários)
Comunicação e
Marketing
existentes
e
suas
41
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A primeira reunião da Comissão
intuito de “profissionalizar a Festa de
Comissão
costuma acontecer em meados de abril;
Sant'Ana no que diz respeito à sua
voluntários, geralmente parentes ou
em 2010 a primeira reunião já ocorreu
produção”. Nesse sentido é elaborado
amigos daqueles que a compõem
no dia 10 de março, com o objetivo de
um plano de mídia apresentado a
oficialmente. Com isso podemos notar
dar
da
possíveis patrocinadores da Festa –
que a Festa de Sant'Ana possui uma
Peregrinação Rural, uma das principais
políticos, empresas da iniciativa pública
significante participação popular não só
fontes de arrecadação para cobrir as
e privada, instituições, etc.
enquanto expectadores, mas enquanto
início
à
organização
despesas de preparação da Festa de
Ao
longo
dos
meses
que
costuma
receber
mais
realizadores dos festejos. O trabalho é
Sant'Ana. Contudo, no sentido de
antecedem a Festa, a Comissão da Festa
realizado
angariar fundos para a Festa foi
mobiliza
nos
voluntária, demonstrando o forte apego
fundamental a criação da comissão de
preparativos, acionando amplas redes
e zelo do caicoense por esta celebração
comunicação e marketing, composta
de
que, mais do que qualquer outra,
por
de
conseguir executar suas tarefas. No
expressa
Caicó,
período da Festa propriamente dita, os
peculiaridades do modo de vida deste
radialistas, jornalistas e blogueiros.
esforços aumentam proporcionalmente
povo.
Essa comissão atua desde 2007 com
à quantidade de trabalho que surge, a
pessoas
ligadas
à
comunicação
social
de
área
seus
sociabilidade
esforços
no
sentido
de
integralmente
de
profundamente
forma
as
42
DOSSIÊ IPHAN
As
receber
visitas
das
imagens
peregrinas nas zonas urbana e rural –
a
{Festa de Sant’Ana}
imagem
da
santa,
No caso da peregrinação rural, a
mobilizando amigos e parentes para
imagem da santa percorre os sítios, as
uma recepção calorosa. Durante a visita
fazendas e os povoados mais próximos.
Os rituais de celebração compostos por
peregrinação urbana e rural – que se
novenas
iniciam nos meses de junho e abril
por
leigos
e
como com vendas de bebidas e
religiosas locais sob coordenação da
comidas,
Comissão da Festa; tem como objetivo
A
visitação da imagem de Sant‟Ana nas
para
de
peregrinação
das
imagens
de
onde é celebrada uma missa em ação de
família, a avó de Jesus, Sant‟Ana, vem
espiritualmente
fonte
Ilton Pinheiro em frente à Catedral,
Representando a figura máxima da
preparam
torna
das Imagens” e a chegada da Caravana
preparação da Festa de Sant'Ana.
se
se
Sant'Ana é encerrada com o “Encontro
casas dos fiéis e marcam o ciclo de
momento em que as famílias católicas
que
arrecadação para a realização da Festa.
o estabelecimento de uma rede de
solidificar a fé entre os sertanejos. É o
geralmente
agrícolas e outros bens doados, bem
lideranças
reavivar os laços de parentesco e
missas,
finalizam-se com leilões de produtos
respectivamente, são organizadas e
geridas
e
graças aos peregrinos de Santa'Ana.
rezam novenas, depositam suas ofertas
A peregrinação rural ocorre ao
na urna de Sant‟Ana e confraternizam-
longo de 15 sábados que antecedem o
se com lanche provido pelos anfitriões.
início oficial da Festa, e é organizada
43
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
por uma subcomissão formada a partir
bebidas até animais de pequeno e
maioria dos itens são arrematados pelo
da Comissão de Festas Religiosas. A
médio porte (galinhas, patos, porcos,
dobro ou triplo de seu valor de
cada ano são praticamente os mesmos
garrotes, carneiros, etc).
comercialização; de acordo com a
sítios e fazendas que recebem a imagem
anfitriões,
subcomissão da peregrinação, cada
peregrina de Sant'Ana, o que expressa a
juntamente com a subcomissão da
leilão rende em média R$ 4.000,000
existência de uma rede de sociabilidade
peregrinação rural são responsáveis
(quatro
já consolidada em torno do evento. A
pela arrecadação dos itens a serem
destinados à organização da Festa de
iniciativa de receber a peregrinação
leiloados,
pela
Sant'Ana. A peregrinação urbana é
urbana por vezes parte de cada
comercialização de bebidas e comidas
iniciada no início de junho, ocorrendo
proprietário, que procura a paróquia
durante os leilões. O leilão de Sant'Ana
diariamente até a véspera da abertura
para manifestar o desejo de receber
é um evento fundamental para a Festa
oficial da Festa de Sant'Ana; consiste
uma novena em sua propriedade. A
de
renda
na visita de imagens peregrinas em
peregrinação rural se divide em dois
arrecadada é destinada à sua realização.
diferentes bairros da cidade de Caicó. A
momentos: um mais devocional, no
Além disso, o leilão põe em evidencia
maioria das imagens – cerca de
qual se celebra pequena missa em
um
da
cinquenta – assim como o roteiro da
homenagem à Sant'Ana; outro mais
sociabilidade seridoense, arrematar um
celebração da novena são providos pela
lúdico, com a realização de leilões de
item durante um leilão é mais do que o
própria paróquia, que realiza uma
diversos
pela
desejo de contribuir com a realização
seleção de articuladores, responsáveis
pequenos
da Festa, é também a “dramatização” de
por organizar e conduzir os rituais de
souvenires, pratos prontos de comidas
um status social evidenciado pela
recepção da imagem peregrina em sua
típicas,
demonstração de poder econômico. A
comunidade, entrando em contato com
produtos
comunidade,
doces,
doados
desde
produtos
agrícolas,
Geralmente
os
assim
Sant'Ana,
aspecto
como
pois
toda
a
interessante
mil
reais),
integralmente
44
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
as famílias que desejam recebê-la em
articuladores
dos
sua
receberão.
ornamentação e o local de realização
peregrinação
das novenas – seja numa residência ou
peregrinação urbana é integralmente
se
em algum centro comunitário, escola ou
conduzido por leigos, e podem ocorrer
principais avenidas da cidade (Av.
outro espaço público. O início da
concomitantemente
diferentes
Seridó com Av. Coronel Martiniano),
peregrinação urbana é marcado pela
bairros; é de bom grado que, após a
recepcionando a caravana de peregrinos
realização da missa do envio, durante a
celebração, cada anfitrião ofereça um
que saem à pé da cidade de Acari,
qual são distribuídas as imagens de
jantar ou uma degustação simples de
distante cerca de 60 km de Caicó. O
Sant'Ana que vão percorrer os bairros
iguarias típicas da região. Quando num
evento é conhecido como o Encontro
até a véspera da abertura oficial da
mesmo bairro ou comunidade houver
das Imagens, e é marcado por muita
Festa. A missa do envio acontece
mais de um anfitrião para a imagem
emoção e manifestação de fé e apego
sempre no domingo que antecede as
peregrina, esta é conduzida em cortejo
do caicoense à Senhora Sant'Ana.
primeiras
da
para “dormir” no local onde será
celebração de uma missa regular ao
realizada a próxima novena. O ciclo da
final da qual se apresenta e distribui as
peregrinação urbana é encerrado na
imagens
véspera do dia de abertura oficial da
casa;
providenciando
novenas,
peregrinas
trata-se
para
sua
os
bairros
as
Festa de Sant'Ana, quando as imagens
Diferentemente
da
peregrinas deixam os diversos bairros e
rural,
da
comunidades de Caicó em procissão e
o
em
que
rito
encontram
no cruzamento
das
45
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
à Sant'Ana. Inicialmente a idéia era
trecho entre Currais Novos e Acari, na BR
partir desde Natal, cumprindo um
427, rodovia cheia serrotes e de curvas
percurso de quase 270 km. No entanto
sinuosas, obstáculos perigosos para quem
as
idealizadoras
percurso
seria
pensavam
demasiado
que
o
avançada;
decidiu-se
então
realizar a peregrinação partindo da
cidade de Currais Novos, que também
A peregrinação a Sant'Ana “Caravana
Ilton Pacheco” teve início no ano de
2000 a partir da idéia de três mulheres
caicoenses que residiam em na capital
Natal, desde 2004 a caravana recebe o
Ao
longo,
especialmente para as pessoas de idade
mais
caminha às suas margens.
tem Sant'Ana como padroeira, passando
pelas cidades de Acari, Cruzeta e São
José do Seridó, num percurso de
praticamente 85 km. A partir de seu
quarto ano, a peregrinação sofreu uma
longo
do
percurso
os
peregrinos, em uma quantidade que
varia entre 40 e 50 pessoas por ano,
param apenas para alimentar-se e
dormir, ou em caso de extrema
necessidade. Ao longo do caminho
rezam e cantam o hino do peregrino e
outras
canções
sacras,
e
são
calorosamente recebidos em pontos de
apoio distribuídos em residências nas
nome de um de seus mais dedicados
redução no seu percurso, partindo da
cidades e na zona rural dos municípios
membros,
ano.
cidade de Acari. A mudança ocorreu por
percorridos,
Inspiradas pela peregrinação a Santiago
questão de segurança, uma vez que os
refeições,
de Compostela, na Espanha, as três
peregrinos encontraram dificuldades em
ferimentos nos pés e compartilhar suas
amigas
uma
conseguir o apoio de batedores da Polícia
experiências com os demais. A cada
peregrinação até Caicó em homenagem
Rodoviária Federal para acompanhá-los no
ano
falecido
decidiram
naquele
realizar
a
onde
cuidar
comissão
podem
de
realizar
eventuais
organizadora
da
46
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Caravana solicita uma taxa de inscrição
Mariz, o Marizão, por autoridades do
de Sant'Ana, constituindo-se numa das
para arcar com os custos da caminhada,
poder público local, representantes da
primeiras
o dinheiro arrecadado é utilizado na
paróquia, e um grande público de
manifestações de fé e apego do
confecção de camisetas e bonés, na
devotos.
com
caicoense à Sant'Ana. A paróquia
compra de alimentos e água, de
foguetório e com a apresentação da
aparece nestes eventos quase como uma
combustível para os veículos de apoio e
Banda de Música Recreio Caicoense, a
coadjuvante, pois são organizados e
pagamento de hospedagem; o montante
Furiosa. Logo em seguida seguem sua
geridos por leigos, demonstrando a
que eventualmente sobra é doado para a
caminhada até o centro da cidade, onde
dedicação dos devotos caicoenses e sua
paróquia de Caicó. Ao chegar em
está localizada a Catedral de Sant'Ana.
vontade de contribuir de todas as
Caicó, sempre na véspera da abertura
No cruzamento das avenidas Seridó e
formas não só na celebração da Festa,
oficial
a
Coronel Martiniano, ocorre um dos
mas na sua própria concepção. O
é
acontecimentos mais emocionantes da
Encontro das Santas e os Peregrinos de
calorosamente recebida em frente ao
Festa de Sant'Ana, qual seja, o encontro
Sant'Ana são iniciativas pessoais de
estádio de futebol Dinarte de Medeiros
da
imagens
devotos que, juntamente com outras
peregrinas de Sant'Ana. Todos, então,
formas de manifestação de devoção,
se dirigem à Catedral de Sant'Ana, onde
passaram
é celebrada uma missa de ação de
significativa a programação religiosa da
graças pela chegada dos peregrinos. O
Festa de Sant'Ana.
da
Caravana
Festa
Ilton
de
Sant'Ana,
Pinheiro
São
Caravana
homenageados
com
as
e
a
mais
integrar
emotivas
de
forma
Encontro das Santas com os Peregrinos
de Sant'Ana marcam o início da Festa
47
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
48
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
com uma passeata de caráter solene,
novenário
saindo da Catedral de Sant'Ana e
acontecem os batismos coletivos e
percorrendo as principais avenidas e
mutirões de confissão, intensificando
ruas do centro de Caicó (Avenida
ainda mais a programação religiosa.
Seridó, Rua Renato Dantas, Rua Celso
Apesar de o Encontro das
Santas, que coincide com a chegada dos
Peregrinos de Sant'Ana, ocorrer sempre
na quarta-feira que antecede o dia de
Sant'Ana (26/07), a Festa de Sant'Ana é
oficialmente iniciada um dia depois,
sempre na quinta-feira precedente ao
dia 26 de julho. A abertura oficial da
Festa tem inicio, geralmente às 16h,
e
Depois
as
missas
das
solenes,
celebrações
de
Dantas e Avenida Cel. Martiniano) até
abertura, no Pavilhão de Sant'Ana,
retornar ao largo da Catedral, momento
espaço
em que o estandarte de Sant'Ana é
programação sócio-cultural promovida
hasteado em mastro localizado em
pela paróquia, é oferecido o Jantar de
frente
Sant'Ana, realizado desde 1985. Para
somente
à
Catedral,
após
a
sendo
retirado
procissão
destinado
à
realização
da
de
participar do tradicional banquete, é
encerramento. Encerra-se a abertura
preciso comprar uma senha, que dá
solene da Festa de Sant'Ana, que
acesso ao espaço de onde é servido, o
durante dez dias anima a cidade de
que implica uma restrição em seu
Caicó com uma vasta programação
público – cerca de 1000 pessoas –
religiosa e sociocultural. Nos dias de
composto basicamente por gente de
Festa a igreja praticamente não para,
classe média-alta, que reúne-se com
entre as celebrações principais, como o
familiares e amigos de uma forma que o
49
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
critério de ocupação das mesas é
espontaneamente definido de acordo
com os grupos familiares presentes. No
Jantar
de
Sant'Ana
são
servidas
algumas comidas típicas da região,
como a paçoca de carne de sol com
macaxeira, dentre outros. A venda das
senhas, a organização do local, a
preparação do cardápio bem como a
tarefa de servi-lo fica tudo ao encargo
de uma subcomissão criada dentro da
Comissão das Festas Religiosas. O
Jantar de Sant'Ana é o primeiro evento
social promovido pela paróquia na
Festa de Sant'Ana, no qual as famílias e
amigos se reúnem e onde os caicoenses
que vivem longe se reencontram,
reafirmando seus laços e construindo
novas redes de sociabilidade.
50
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
As novenas são celebrações
no pavilhão, de onde os fiéis podem
feminino no RN, tendo fundado em
comuns durante as festas religiosas
acompanhar a celebração. Durante as
Natal
católicas, são reuniões de fiéis para a
novenas existem os ritos iniciais,
circulação voltada para o público
realização
compostos por canções de louvor e
feminino, em 1914. O professor Manoel
direcionadas à um santo específico. As
invocações
missas
Fernandes ficou com a incumbência de
novenas, conforme sugere o nome, são
católicas, em seguida reza-se a ladainha
musicar o poema. Outra particularidade
realizadas ao longo de nove dias,
de Sant'Ana como forma de evocação à
das novenas da Festa de Sant'Ana
coincidindo com o período de duração
santa. Depois a novena segue conforme
ocorre na noite do dia 26 de julho, dia
da festa. No caso da Festa de Sant'Ana
a praxe católica, com a leitura e
de Sant'Ana, quando é declamado o
são onze dias de celebração, e as
pregação da palavra, a adoração ao
Ofício de Sant'Ana, criado na década de
novenas são celebradas todas as noites,
Santíssimo Sacramento e a comunhão.
1970 por Monsenhor Antenor Salvino
exceto na do dia de abertura oficial da
A novena se encerra com o Hino de
de Araújo, sua irmã poetisa Hilda
Festa, e na última quando ocorre a
Sant'Ana,
cantado
de
Araújo, juntamente com os poetas Iara
procissão. As novenas sempre contam
Sant'Ana
e
fervorosamente
Diniz e José Lucas de Barros. Trata-se
com um público além da capacidade de
acompanhado pelos fiéis. O Hino foi
de um poema sacro que é declamado
acomodação das dependências internas
composto pelas primas Palmira e
em antifonia entre público e celebrante,
da Catedral, por este motivo uma
Carolina
poetisas
enaltecendo as virtudes de Sant'Ana e
estrutura de telões e cadeiras é montada
consideradas precursoras do jornalismo
seu esposo São Joaquim, assim como
de
orações,
geralmente
habituais
das
pelo
Wanderley,
Coral
a
revista
“Via-Láctea”,
de
51
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
pedindo proteção e graças. Além do
culinária seridoense. Em 2007, a Festa
significado
novenas
de Sant'Ana entra para a “era digital”,
também apresentam um aspecto de
com as novenas e a Missa Solene sendo
sociabilidade. A cada noite a novena
transmitidas ao vivo pela rede mundial
ocorre
de computadores.
devocional
em
as
homenagem
a
vários
segmentos da sociedade: universidades,
escolas, associações, sindicatos, grupos
beneficentes, profissionais, movimentos
religiosos,
pastorais,
paróquias
da
região do Seridó, instituições publicas e
privadas, etc.
Após as novenas os devotos podem
desfrutar de apresentações culturais no
Pavilhão de Sant'Ana, brincar no
parque de diversões ou simplesmente
passear pelas praças da Matriz e da
Liberdade, onde existem barracas com
venda de comidas e bebidas, lugar de
reunião de parentes e amigos, de flertes
e conversas animadas acompanhadas de
uma
bebida
e algum
petisco da
52
DOSSIÊ IPHAN
Compondo o cenário da Festa
{Festa de Sant’Ana}
novenas e missas. Estes momentos são
desfrutados, geralmente, por mais que o
há o Pavilhão de Sant'Ana, uma área
delimitada pela paróquia com o auxílio
da Prefeitura Municipal ao redor da
Catedral de Sant'Ana, onde ocorrem os
eventos
sócio-culturais
promovidos
pela paróquia, como apresentações de
artistas locais, a venda de artesanato e
comidas típicas, o Jantar e a Feirinha
de Sant'Ana. Além de abrigar toda a
programação
sociocultural
realizada
pela paróquia, o pavilhão funciona
como uma extensão da Catedral nos
momentos de celebração, como nas
dobro
de
público comportado
no
interior da Catedral, pois são instalados
telões ao lado do palco do pavilhão,
através dos quais as celebrações são
transmitidas. Todas as noites, durante
as novenas, centenas de cadeiras são
dispostas em frente aos telões, para que
os fiéis possam desfrutar de um mínimo
de
conforto.
Ao
término
das
celebrações reigiosas, as cadeiras são
removidas
para
dar
lugar
às
apresentações culturais no palco do
pavilhão, que se estendem até meia
noite,
dando
lugar
à
intensa
programação dos clubes e da Ilha de
Sant'Ana.
O evento que se destaca como
um acontecimento lúdico e profano no
Pavilhão é a Feirinha de Sant'Ana,
realizada sempre na ultima quinta-feira
do mês de julho, feriado municipal em
53
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
homenagem à padroeira. A feirinha é o
passado, apreciar a culinária, festejar,
carnavalescos
ponto de encontro entre peregrinos,
encontrar amigos, etc.
confeccionam
turistas, famílias de Caicó e migrantes,
O
nome
no
diminutivo
–
para
a
de
Caicó,
camisetas
feirinha,
que
específicas
realizando
um
os chamados “caicoenses ausentes.”
feirinha – exprime o afeto que o
verdadeiro carnaval fora de época
Nesse
a
caicoense tem para com o evento, mas
dentro da principal festa religiosa da
estratificação social identificada nos
não condiz com a sua grandiosidade,
região. A venda de bebidas alcoólicas
diferentes estilos de vida, visíveis nas
pois trata-se de um dos eventos mais
na Feirinha de Sant'Ana é um assunto
práticas e atitudes correspondentes à
esperados e frequentados da Festa de
um tanto polêmico, muitos devotos
posição social de cada grupo. Os filhos
Sant'Ana e extrapola os limites do
sustentam a opinião de que a paróquia,
das famílias mais abastadas disputam
Pavilhão,
com as pessoas de origem mais
feirinha, se estendendo até a Praça
humildes os espaços cobiçados da praça
Senador Dinarte Mariz (Praça da
pública durante o dia animado por trios
Liberdade) localizada na quadra ao lado
de forró. Representantes da política
do Pavilhão. São praticamente duas
local
de
feirinhas antagônicas, mas que ocorrem
participar desse momento de grande
em harmonia: aquela “oficial”, onde se
visibilidade social. As casas de família
congregam as famílias no espaço
acolhem todos os parentes e amigos,
respeitoso organizado pela paróquia; e
aplicando
da
outra paralela na Praça da Liberdade,
generosidade e hospitalidade. Todos
realizada de forma espontânea pelos
aproveitam a ocasião para lembrar o
jovens
momento,
e
regional
o
evidencia-se
não
preceito
deixam
cristão
território
integrantes
“oficial”
de
da
por
reconhecer
que
o
álcool
é
responsável pela desestruturação da
blocos
54
DOSSIÊ IPHAN
instituição
familiar,
não
{Festa de Sant’Ana}
deveria
bastante singular de fazer filhós, uma
frequentadores
permitir a comercialização dese tipo de
massa frita à base de batata coberta com
acondicionar
bebida. No entanto a paróquia não vê
o mel de engenho ou mel de rapadura;
comercializados.
problema nisso, pois consideram que
ou o mítico chouriço, um doce feito
padronização nas barracas além de
aqueles que frequentam a feirinha ou o
com sangue de porco. Como afirmou
causar impacto negativo do ponto de
pavilhão ao longo da Festa consomem
um dos participantes da feirinha, “no
vista estético, gera problemas em sua
bebida alcoólica de forma moderada.
dia da feirinha, ninguém faz comida em
montagem e distribuição. Ainda assim,
Além disso, sua comercialização e o
casa, e você não vê ninguém nos
a feirinha é o evento social mais
apoio dado por uma das maiores
restaurantes da cidade, tá todo mundo
significativo da Festa de Sant'Ana, é
cervejarias do país (Brahma Chopp) são
comendo na feirinha.” Em termos
nela onde se aglutinam os elementos
fontes de renda fundamentais para
estruturais,
mais
cobrir os gastos da realização da Festa.
centenas de mesas distribuídas no
seridoense,
espaço do pavilhão, e com a montagem
culinária, artesanato e manifestações
pode encontrar os pratos mais típicos da
de
artísticas,
culinária seridoense: galinha caipira,
comercializadas bebidas e comidas
hospitalidade bastante peculiar, que se
bode assado, buchada, panelada, carne
típicas. Nos últimos anos a feirinha vem
faz questão de ser expressa pelas
de sol, paçoca, entre outras iguarias são
enfrentando
pessoas de Caicó.
itens
relação
É também na feirinha onde se
indispensáveis
como
prato
a
tendas
à
feirinha
e
barracas
conta
onde
com
são
sérios
problemas
com
sua
estrutura,
os
principal da maioria das refeições em
organizadores reclamam sobretudo da
dias de festa. A doçaria seridoense é
falta de espaço e de instalações
bastante
adequadas
peculiar,
com
um
modo
para
receber
tanto
quanto
para
os
A
significativos
produtos
falta
da
de
identidade
representados
assim
uma
como
pela
pela
os
55
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
56
DOSSIÊ IPHAN
A Cavalgada de Sant‟Ana é
uma
expressão
da
devoção
{Festa de Sant’Ana}
santa e receber benção para seus
caminhões
animais. Por volta da década de 1970,
camponeses em dias de feiras e festas
caicoenses retomou essa tradição e, em
conjunto
cavalaria, era celebrado pelas pessoas
na
zona
rural
único
meio
a
Associação
dos
da Festa a Cavalgada de Sant´Ana. O
evento,
usavam os animais (jegues, mulas e
como
com
Vaqueiros, realiza no primeiro domingo
do
município de Caicó. Estas pessoas
cavalos)
os
Desde 2002, um grupo de
a 1970 este evento, então denominado
residiam
transportavam
para a cidade.
dos
vaqueiros à santa. Nas décadas de 1950
que
que
além
de
contar
com
a
participação dos cavaleiros que residem
de
nas zonas rurais, atrai também pessoas
transporte, sobretudo para se dirigir à
que residem em Caicó, cidades vizinhas
cidade nos dias de feiras, trazendo seus
comercializarem.
com a chegada do automóvel à zona
e
Estando em Caicó no período da Festa
rural do município, esta expressão foi
participantes,
de Sant'Ana, estes agricultores se
extinta. O meio de transporte utilizando
cavalos e carros de bois, alguns
organizavam em cavalgada até o pátio
os animais passou a ser substituído por
trajando a vestimenta típica do vaqueiro
da Catedral de Sant'Ana para louvar a
carros,
sertanejo
produtos
para
sobretudo
caminhonetes
e
amantes
–
das
vaquejadas.
montados
perneira,
em
Os
seus
guarda-peito,
gibão e chapéu de couro – percorrem as
57
DOSSIÊ IPHAN
principais ruas e avenidas da cidade,
com
saindo do Parque de Exposições de
tradicional da foi reavivado, o Leilão de
Caicó, na BR 427, com destino ao Pátio
Sant'Ana, que antigamente logo após a
da Catedral de Sant'Ana. Durante o
celebração da chegada da cavalaria.
percurso da cavalgada os participantes
Segundo um dos organizadores da
conduzem
há
vaquejada, em 2001 o Leilão de
acompanhamento de músicas religiosas
Sant'Ana arrecadou cerca de R$ 400,00
e diversas outras aclamações como
(quatrocentos reais), a partir de 2002
preces e aboios. Ao chegarem, são
com a retomada da antiga cavalaria,
recebidos com a celebração de uma
hoje chamada cavalgada, o leilão de
missa e com a benção aos animais. É
Sant'Ana foi reencontrando seus dias de
um evento que une a devoção do
explendor,
seridoense às narrativas de fundação da
arrecadação de mais de R$ 10.000,00
cidade de Caicó, que teria surgido a
(dez mil reais) em 2009.
estandartes,
a
{Festa de Sant’Ana}
cavalgada
outro
culminando
evento
numa
partir das preces de um vaqueiro.
Em 2002, quando a cavalgada
foi retomada, houve a participação de
cerca de 40 montarias, em 2007 este
número subiu para cerca de 300
montarias, com um recorde de mais de
400 participantes em 2009. Juntamente
58
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A carreata de Sant'Ana, também
Para se chegar ao atual percurso, os
ainda assim foi contabilizado um
denominada carreata dos motoristas,
organizadores
diversos
montante de mais de 60 caminhões que
ocorre sempre na noite da novena
experimentos,
lugares
receberam benção no largo da Catedral.
dedicada aos motoristas, última sexta-
distintos,
feira da Festa de Sant'Ana, desde a
caminhoneiros localizado às margens
organizada
década de 1940. Não há registros
do
Caminhoneiros de Caicó, que se divide
precisos a respeito da origem da
crescimento
carreata, mas especula-se que ela tenha
participantes, assim como do porte dos
mobilizar os motoristas e de ornamentar
sido criada como forma de pagamento
veículos (caminhões e carretas), a
o caminhão que carregará a imagem
de promessa de um devoto. Ela
carreta sofreu uma redução no seu
principal de Sant'Ana e a de São
congrega caminhoneiros, motoristas,
percurso, passando a percorrer apenas
Cristóvão, padroeiro dos motoristas.
motoqueiros e até mesmo ciclistas e
as principais e mais largas avenidas de
Desde que a carreata passou a ser
pedestres, que seguem em cortejo desde
Caicó. Em suas primeiras ocorrências, a
organizada pela Associação dos
o Parque de Exposições localizado na
carreata aglutinava não mais do que 20
Caminhoneiros, em 1991, algumas
BR 427 até a Catedral de Sant'Ana,
veículos, chegando hoje a mais de 300
inovações foram levadas à cabo, como
seguindo
entre carros, motos e
caminhões.
algumas mudanças no percurso, ou a
percurso da cavalgada. Ao chegarem
Segundo os organizadores, em 2009
busca de patrocínio junto a empresas do
na Catedral, os motoristas e seus
mesmo com a alteração em seu
ramo rodoviário, o que possibilitou, por
veículos recebem bençãos de um padre
percurso no sentido de facilitar o fluxo
exemplo, em 2007 a participação de
e acompanham a novena em sua
de veículos, a carreata enfrentou um
veículos
da
homenagem.
sério problema de congestionamento,
carreata.
Empresas
praticamente
o
mesmo
açude
fizeram
partindo
como
Itans.
do
do
de
clube
Conforme
número
dos
o
de
Atualmente
nas
a
pela
tarefas
de
carreata
Associação
buscar
“Fórmula
é
dos
patrocínio,
Truck”
na
fabricantes
de
59
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
caminhões, concessionárias, postos de
ornamentação do veículo que carrega as
antigos de veículos são outras atrações
gasolina
ramo
imagens, com a compra de fogos de
que fazem da carreata um evento
automotivo apoiam financeiramente a
artifícios e com a oferta oferecida à
bastante peculiar da Festa de Sant'Ana.
carreata,
paróquia. A decoração e os modelos
e
comerciários
cobrindo
custos
do
com
a
60
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
As celebrações mais importantes da
Catedral, e ainda um momento de
Festa, são as Missas de Abertura,
preparação
realizada na quarta-feira, a Missa
Encerramento. A missa começa às
Solene celebrada às dez horas da manhã
10:00h e finda por volta do meio-dia. A
no último domingo da festa, e a grande
igreja fica completamente lotada com
procissão de encerramento. Ápice da
pessoas tentando assisti-la até mesmo
festividade e antecedendo o momento
do lado de fora da Catedral. A
final da festa, a procissão reúne
grandiosidade que esse evento assume é
peregrinos,
local,
retratada pelo Monsenhor Antenor,
civis,
Padre Emérito da Paróquia de Sant´Ana
população
autoridades
religiosas
e
percorrendo as principais ruas da
cidade:
uma
acompanha
o
multidão
andor
a
Procissão
de
como:
fiéis
[...] Culto divino que se centraliza na
altar e da igreja fica diferenciada dos
Gloriosa
eucaristia. No entanto, o povo se encanta bem
demais dias da festa; com especial
mais com as novenas, que são muito bonitas,
decoração de enfeites e flores, a igreja
muito solenes; mas [...] não teria sentido uma
fica no maior esplendor. Todo esse
de
da
para
Sant'Ana, pagando promessas, entoando
cantos e orações. Após o cortejo, há
festa de padroeiro sem a missa solene, a
uma
eucaristia (informação verbal, julho de 2007).
missa
campal,
seguida
da
exposição da imagem da Santa para
É na Missa Solene que muitos
veneração. A Missa Solene acontece
devotos
aproveitam
para
pagar
sempre no último domingo da festa. É
promessas. Espaço onde o sagrado, com
um momento em memória ao dia de
suas imagens, se impõe e pleiteia a
Sant‟Ana, ápice da religiosidade na
atenção dos fiéis. A ornamentação do
aparato é acompanhado das vestes
solenes dos celebrantes e das roupas de
luxo que o público faz questão de
ostentar.
Algumas pessoas fazem questão
de assistir a missa de pés descalços ou
61
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
vestindo roupa branca. São inúmeros os
há mais de trinta anos arca com os
público de curiosos para ver como ficou
meios de se diferenciar e assim cumprir
custos
a ornamentação daquele ano e já para
o pagamento votivo. A Missa é também
ornamentadores de João Pessoa – PB e
um momento de agradecimento por
de importar flores naturais diretamente
mais um ano de Festa de Sant‟Ana. A
de São Paulo – SP.
missa é transmitida desde tempos
de
trazer
Depois
da
uma
equipe
preparação
de
dos
imemoriais pelas rádios da região do
andores as imagens são retiradas do
Seridó, e em 2007 teve sua primeira
altar da Catedral , único dia do ano que
transmissão ao vivo via internet.
a imagem de Sant'Ana deixa seu nicho.
Ao término da Missa Solene
As poucas pessoas que tem acesso ao
conclui-se a ornamentação dos andores
interior da Catedral naquele momento
utilizados para conduzir as imagens de
aplaudem fervorosamente o momento
Sant'Ana e São Joaquim durante a
em que a imagem é retirada do altar.
procissão. O andor é levado para o
Com muito zelo ela é acomodada no
interior da Catedral, que permanece de
andor, e caprichosamente recebe os
portas fechadas até a conclusão dos
últimos retoques dos ornamentadores,
trabalhos de ornamentação, iniciados na
que trabalham o tempo inteiro com uma
noite anterior com a colocação das
introspecção perceptível, demonstrando
bases nas quais são fixadas as flores. A
fé e dedicação ao seu ofício. Por volta
ornamentação
é
das quatorze horas as portas da Catedral
patrocinada por uma única família, que
são abertas novamente, recebendo um
dos
andores
deixar alguma oferta para a santa.
62
DOSSIÊ IPHAN
Com
a
imagem
Sant'Ana
já
final, depois que a imagem da Santa
durante os pouco mais de dois minutos
andor
e
retorna ao interior da Catedral, ocorre
em que os fiéis se engalfinham na
devidamente ornamentada, os devotos
um
beija,
tentativa de pegar ao menos uma da
podem adentrar à Catedral onde já estão
acompanhado de uma acirrada disputa
rosas que acompanhou Sant'Ana em seu
posicionados próximos à imagem os
pelas flores que ornamentam o andor e
cortejo devocional. Nesse sentido, há
cestos
a imagem. Muitos acreditam que o chá
uma organização prévia do espaço,
(doações) dos fiéis. Esse é um momento
dessas
outros
realizada antes mesmo da procissão,
particular da Festa de Sant'Ana de
guardam como lembrança ou fazem o
dispondo-se os bancos da Catedral em
Caicó, quando os devotos veneram a
voto de mantê-las intactas até a
um formato de meia lua ao redor da
imagem de Sant'Ana, depositam sua
procissão do ano seguinte, outras
imagem, com dois ou três sacristões
oferenda e com um gesto de profunda
pessoas se contentam simplesmente em
sempre
reverência beijam a própria mão e
tocar o andor ou os pés da imagem. É
desestabilização na imagem. Em 2010 a
tocam a imagem, transferindo todo seu
um momento de profunda manifestação
imagem principal de Sant'Ana deixou a
afeto simbolizado no beijo, este é
de fé e reverência à Senhora Sant'Ana,
Catedral para passar pelo seu quarto
denominado o momento do beija, gesto
que exige muito esforço e organização
processo de restauração, e ao que tudo
que se repete desde a cerimônia pública
por
paroquial
indica ganhará uma redoma de vidro
de instalação da Povoação do Caicó, em
responsável pelo momento. Há um
para não sofrer mais deterioração. A
1735, antes mesmo da criação da
cuidado especial em evitar qualquer
paróquia já demonstra preocupação
paróquia de Sant'Ana. Após a procissão
acidente com a imagem, sobretudo
com a reação dos devotos, que não mais
acomodada
que
em
de
{Festa de Sant’Ana}
seu
recolherão
as
ofertas
segundo
flores
parte
da
momento
é
do
milagroso,
comissão
atentos
a
qualquer
63
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
poderão tocar a imagem. Contudo, é
apresenta uma tradição estética distinta
imagem primitiva foi leiloada, ficando
importante equacionar as perdas e
daquela difundida entre os santeiros do
sob posse da família do Sargento Mor
ganhos em relação ao isolamento da
sertão
outra
Manoel Gonçalves de Mello, que a
imagem, uma vez que ao longo dos
versão, a imagem teria sido trazida do
deixou como herança para seu filho,
anos foram observadas diversas avarias
Rio de Janeiro pelo padre Francisco de
José Batista de Mello. Sem herdeiros, o
muitas vezes causadas por devotos
Brito Guerra, no início do séc. XIX.
Pe. José Batista teria doado a imagem
demasiado fervorosos.
Tudo que se sabe, através dos registros
primitiva à um dos descendentes da
dos
paroquiais, é que a imagem principal de
família
restauradores Hélio de Oliveira e
Sant'Ana está em Caicó desde 1811.
primitiva foi finalmente devolvida à
Neilton
Em janeiro de 2010 a Paróquia de
paróquia em julho de 1999, onde
panejamento das figuras é flagrante o
Caicó
de
permanece em um nicho localizado em
desgaste que ao longo dos anos o
tombamento da imagem principal de
uma das paredes laterais da Catedral de
conjunto vem sofrendo dado o apego
Sant'Ana. Uma outra imagem primitiva
Sant'Ana. Esta imagem é tombada pelo
dos fiéis em tocar o seu referencial de
de Sant'Ana, que é retratada em pé, está
IPHAN, conforme notificação nº 887 de
fé”. A origem da “imagem principal da
presente em Caicó pelo menos desde a
25 de junho de 1962. Em março de
Senhora Sant'Ana”, retratada sentada
instalação oficial da povoação do
2009 um episódio curioso marcou a
com uma jovem ao lado, permanece
Caicó, em 1735. Foi doada pelo
vida devocional dos caicoenses, quando
desconhecida. Uma versão dá conta de
cearense Luiz da Fonte Rangel, ficando
foi anunciada a retirada da imagem de
que a imagem foi escupida em Caicó,
no altar principal da Igreja de Sant'Ana
Sant'Ana para restauração. Houve uma
por Tomás de Aquino, versão pouco
até o ano de 1823, quando foi
mobilização popular que resistia à idéia
sustentada, uma vez que imagem
substituída pela imagem atual. A
de retirar a Senhora Sant'Ana de seu
Segundo
Santana
o
laudo
da
Silva,
“no
seridoense. Em
entrou
com
uma
pedido
Fonte
Rangel.
Sant'Ana
64
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Cicco em outubro de 1919. Segundo
relatos de Ms Antenor Salvino de
Araújo14, a substituição da imagem de
Sant'Ana, que naquela ocasião passou a
ser denominada Sant'Ana Velha, a
mesma
principal,
que
hoje
causou
é
denominada
insatisfação
dos
“lar”. No entanto, a imagem destinada à
devotos. Ainda segundo Ms. Antenor, a
restauração não era a principal, que sai
Sant'Ana Velha foi restaurada em 1935,
atualmente
como
e somente em 1947 foi recolocada no
pensavam os devotos, mas sim a
altar central da Catedral de Sant'Ana,
imagem
desde
passando a ser denominada como a
1962. Apesar de seu enorme valor
imagem principal da Senhora Sant'Ana.
em
primitiva,
procissão,
tombada
histórico e artístico, diante dos fatos
ocorridos percebeu-se que a imagem
primitiva de Sant'Ana não possui o
mesmo valor afetivo que tem a imagem
principal para os caicoenses.
Há ainda uma terceira imagem
de Sant'Ana, também retratada de pé,
que foi entronizada pelo Cônego Celso
65
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A procissão final da festa de
Sant‟Ana de Caicó continua sendo até
hoje o maior aglutinador de todos os
festejos religiosos da região do Seridó,
reunindo um público estimando em
mais de cem mil pessoas no ano de
2009, bastante significativo para uma
cidade de pouco mais de sessenta mil
habitantes. A cada ano esta celebração
agrega
um
número
maior
de
participantes, oriundos de diversos
lugares. Desde a saída até retornar para
o largo da catedral, onde é celebrada
uma missa campal, torna-se notória a
relação dos fiéis com a imagem da
Emérito da Paróquia de Sant'Ana dá o
devoção a Sant‟Ana. Em se tratando da
santa, o Monsenhor Antenor, Padre
seguinte depoimento:
66
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
“Eu acho Sant´Ana um encanto o ano todo,
porém o momento alto, o ápice é quando ela
toma posição na soleira da Catedral, daí, pára.
Então, ela vai, o andor começa a ser dirigido
pelos devotos. Ela vem do interior da igreja e
toma posição na soleira da Catedral. Todo
mundo vê, bate palmas. É uma coisa!!! Eu fico
olhando... Cada ano pra mim é novidade. Eu
acho que naquele momento tudo vira outra
forma.
Parece que ela “envivece”, parece que ela está
se comunicando, parece que ela está ouvindo,
parece que está dizendo, parece que ela está...
é uma coisa de impressionar, é um estrondo!
(julho de 2007)”.
67
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
O cortejo inicia-se sempre às 16:30h,
significação especial para o povo de
Federal vai à frente do cortejo, abrindo
quando a multidão devota deixa a
Caicó, como: a Catedral de Sant‟Ana; a
espaço para a procissão passar. Em
Catedral percorrendo as principais ruas
Praça da Matriz; a Praça da Liberdade;
seguida
e
Caicó,
o Mercado Público; o Grupo Escolar
paralelas, vem os coroinhas seguidos do
cumprindo o seguinte itinerário: Av.
Senador Guerra e a Prefeitura de Caicó.
grupo de escoteiros abrindo o cortejo,
Seridó, Rua Pedro Velho, Av. Celso
Os moradores das ruas e avenidas por
entre as fileiras um diácono carrega um
Dantas
Martiniano,
onde passa a procissão contribuem
crucifixo conduzindo uma terceira fila
retornando pela Av. Seridó até chagar
deixando os caminhos livres, sem
composta pelos porta-bandeiras das
novamente à Catedral de Sant‟Ana.
carros ou motos estacionados e, mesmo
ordens
aqueles
compõem
avenidas
da
e
cidade
Av.
de
Cel.
O percurso atual teve início em
que
não
acompanham
a
formando
religiosas
a
duas
e
fileiras
pastorais
Diocese
de
que
Caicó.
meados da década de 1990, diante do
procissão participam dela, estendendo
Seguindo os escoteiros nas fileiras
crescimento de número de fiéis, fez-se
lençóis brancos e exibindo imagens da
laterais, vem as ministras da eucaristia
necessário
caminho
santa em suas janelas. Ao longo de todo
entre as quais vem tocando a Banda
percorrido. Com as proporções que a
o trajeto ouve-se os foguetórios em
Recreio
procissão foi tomando também foi
homenagem
Sant'Ana,
juntamente com duas fileiras formadas
preciso introduzir carros de som ao
misturando-se ao som dos cânticos e
lado a lado por associações e pastorais
longo do cortejo, para facilitar a
orações declamados pelos devotos.
religiosas, condutores de estandartes e
aumentar
o
à
Senhora
Caicoense,
a
Furiosa,
uma
bandeiras. Fechando a comissão de
sua
organização básica que parece se repetir
frente da procissão, ao fim das fileiras
dispersão. Nesse percurso, há lugares
ao longo dos anos, com pouca variação:
laterais
de
os batedores da Policia Rodoviária
diocese, entre eles as autoridades
comunicação entre os celebrantes e os
devotos,
evitando
memória
que
assim
a
possuem
uma
A
procissão
apresenta
estão
os
seminaristas
da
68
DOSSIÊ IPHAN
eclesiásticas,
conseguem contentam-se em segurar o
andor, num furor que não se pode
paralelas. Na fila central, o Bispo é o
ombro
esteja
conter. Ao chegar no interior da
primeiro à sua esquerda, o Pároco de
alcançando,
verdadeiros
Catedral, em frente ao altar principal, a
Sant'Ana. Não se sabe precisar desde
cordões humanos que emanam a partir
imagem de Sant'Ana é posicionada para
quando passaram também a formar um
da imagem, como se as bençãos da
o segundo momento do beija, quando
cordão humano composto de jovens
santa fossem atravessando os corpos,
além de tocar a santa, os devotos
voluntários da paróquia, separando as
chegando a cada um dos fiéis. O andor
arrancam as flores do andor, cujo chá
autoridades eclesiásticas da multidão
é objeto muito disputado, todos querem
acredita-se ser milagroso. Enquanto
que
vem
formando
filas
de
alguém
que
formando
o
o
cortejo,
ter o prestígio ou cumprir promessa de
isso, o clero se posiciona para a
primeira
imagem
carregá-lo, nem que seja por poucos
celebração de uma missa campal de
conduzida, a de São Joaquim, marido
segundos.
o
encerramento, no pátio frontal da
de Sant'Ana, que certamente goza de
privilégio de carregar o andor de
Catedral, lugar que se torna minúsculo
prestígio bem menor em comparação à
Sant'Ana desde sua saída da Catedral já
para as quase cem mil pessoas que
sua esposa, que vem em seguida. A
chegam ao recinto cerca de duas horas
acompanham o cortejo. Na procissão de
procissão de encerramento da Festa de
antes da saída do cortejo. As imagens
encerramento a fé e devoção à Senhora
Sant'Ana é um momento magnífico, um
de Sant'Ana e São Joaquim são
Sant‟Ana emanam nos gestos de fiéis
desfile de comoção e fé do sertanejo,
recebidas de volta à Catedral com o
que vem acompanhar sua padroeira em
que não mede esforços no pagamento
repicar dos sinos e fogos de artifícios.
cortejo solene pelas ruas e avenidas da
de suas promessas, que se engalfinha na
Enquanto a imagem toma posição para
cidade de Caicó. Muitos são os
tentativa de ao menos tocar um pedaço
voltar ao altar, os devotos avançam para
pagadores de promessas que vem
do andor de Sant'Ana; os que não
retirar as flores que ornamentam seu
agradecer as “graças alcançadas” por
envolvendo
seguindo
cinco
{Festa de Sant’Ana}
a
Os que
querem
ter
69
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
intercessão da avó de Jesus. Percorrer o
principais destaques deste evento que
que só depois de um ano deixará
trajeto da procissão conduzindo o andor
culmina com a bênção final e o
novamente seu altar-mor, para visitar as
da padroeira constitui-se como um dos
arreamento do Estandarte de Sant'Ana,
ruas de Caicó.
70
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
71
DOSSIÊ IPHAN
Principal
{Festa de Sant’Ana}
Liberdade, o Poço de Sant‟Ana, o
acontecimento
sociocultural de todo o sertão do Rio
Grande do Norte, as festas religiosas
Colégio Diocesano Seridoense (CDS),
os clubes (Atlético Clube Coríntians de
Caicó, Caicó Iate Clube, etc.) e, hoje, a
de
Ilha de Sant‟Ana, destacam-se como
confraternizações, de encontros ou
espaços onde acontecem as festas.
reencontros das famílias, dos amigos e
Durante as comemorações a Senhora
dos
nas
Sant‟Ana, esses lugares transformam-
identidade construída, às vezes, mais na
homenagens à Padroeira da cidade.
se num novo “espaço” onde funcionam
subjetividade do “sentir-se caicoense”
Assim como a Senhora Sant´Ana abriga
múltiplas redes de sociabilidades. Nesse
do que numa identidade religiosa. Não
docemente em seu coração todos os
sentido, cada festa cristaliza-se como
obstante ser uma demonstração de fé e
filhos dessa e de outras terras, também
um novo cenário recuperado pela
devoção religiosa, a Festa de Senhora
a sua Festa comporta festividades,
memória coletiva que se faz presente
Sant´Ana sempre foi, como comprovam
comemorações, solenidades cívicas e
em todos aqueles que vivenciam tais
os
eventos diversos organizados não pela
práticas. São espaços de encontro nos
encontros
paróquia, mas pelos poderes públicos
quais o sagrado e o profano se
Apresentava-se e ainda se apresenta
municipal e estadual e pela iniciativa
misturam no sentido de estabelecer
como tempo propício de retorno à
privada. A Catedral de Sant‟Ana, o
laços
e,
cidade, quando o caicoense (o “filho
Pavilhão de Sant'Ana, a Praça da
principalmente, de afirmação de uma
ausente”) deixa-se levar pelos caminhos
são
sempre
visitantes
motivo
que
se
unem
de
sociabilidade
registros
históricos,
e
objeto
de
congraçamentos.
72
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
que o reconduzem à sua terra natal para
chegada dos conterrâneos costuma ser
dos que vieram com os que sempre
compartilhar dos atos litúrgicos e
anunciada efusivamente pela imprensa
permaneceram
festivos de exaltação à Padroeira. Num
periódica. “A Festa oferece condições
cronista.
gesto de pura cortesia e saudação, a
para tudo isso, porque ela é o encontro
aqui,”
escreveu
o
73
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Com a intenção de reviver o
tipo de bebida a ser consumida,
políticas, representantes dos poderes
glamour e o encanto dos bailes do
permitindo-se consumir apenas uísque
públicos e lideranças religiosas de todo
passado, animados musicalmente por
ou vinho; traje passeio completo para
o estado e até mesmo de outras partes
grandes
foi
os homens e mulheres, as quais só terão
do país. E a juventude festeira? Para ela,
idealizada a Festa dos Coroas, ou Baile
acesso ao baile se estiverem usando
em substituição às soirées, a realização dos
dos Coroas, pelos senhores Darci
vestido. Por sua vez, os homens, ao
shows de grandes bandas no Caicó Iate
Fonseca, Automendes José e Erivanor
adentrarem nos salões do Atlético
Clube, na ASSEC, na AABB, na Ilha de
Bezerra.
evento
Clube Coríntians de Caicó, não podem
festivo, sempre na última sexta-feira da
em nenhum momento dispensar o uso
Festa
orquestras,
O
de
em
sucesso
1974,
desse
cidade.
Nessas
ocasiões,
os
jovens
apresentam um visual despojado, trajam
terminou
por
do paletó. O acesso ao Baile é feito
Baile
de
mediante a aquisição de uma mesa, com
Encerramento que era realizado após a
direito a entrada de quatro pessoas,
adotam
procissão. Tendo um público assíduo, a
custando em torno de trezentos reais, ou
Acompanham com o corpo o ritmo da
cada ano atrai novos freqüentadores de
através da compra de senhas avulsas,
música sertaneja, o gingado do forró, o
diferentes categorias sociais do Rio
saindo por volta de cem reais por
compasso do axé e o molejo do pagode.
Grande do Norte e de outros estados
pessoa. Em 2008 o Baile dos Coroas foi
Agrupam-se por faixa etária, demarcam
brasileiros. O seu sucesso reside no
transmitido ao vivo pela primeira vez
territórios na praça e no clube e vivem a
diferencial:
através
fugacidade do momento num “ato coletivo
substituir
Sant'Ana,
Sant'Ana e nos bares espalhados pela
o
antigo
ambiente
totalmente
da
emissora
TV
União,
iluminado, com guarda de honra na
demonstrando a notoriedade do evento,
entrada,
frequentado
animado
por
grandes
orquestras de baile, com restrição ao
pelas
mais
abastadas
famílias, empresários, personalidades
roupas modernas de acordo com a moda
ditada pela cultura de consumo em vigor e
atitudes
independentes.
jubilatório.” Para o público jovem duas
programações se destacam: a Festa da
Juventude e a Ilha de Sant'Ana.
74
DOSSIÊ IPHAN
A Festa da Juventude, realizada há mais
cantores
no
funcionando desde 2007, ano em
de vinte anos, surgiu em contraposição
momento, com preferência pelas bandas
agregou espaço à Festa de Sant'Ana
ao Baile dos Coroas, com toda a sua
de forró e axé.
pela
pompa e formalidade. Segundo os
que
{Festa de Sant’Ana}
fazem
Certamente
a
sucesso
primeira
vez.
O
Complexo
programação
Turístico Ilha de Sant'Ana comporta
organizadores, o Baile dos Coroas não
festiva não religiosa mais frequentada
uma estrutura de bares e restaurantes,
despertava interesse no público jovem,
pela juventude é a que ocorre na Ilha de
além de um anfiteatro, um ginásio
que preferia uma programação festiva
Sant'Ana, ilha fluvial localizada em um
poliesportivo e palcos para shows.
mais despojada, ficando sem uma
dos rios que corta a cidade de Caicó, o
Durante a Festa de Sant'Ana a Ilha
alternativa na sexta-feira da Festa de
rio Seridó. Foi inaugurada oficialmente
recebe um parque de diversões um
Sant'Ana. Foi então que um grupo de
em julho de 2008, mas já vem
grande palco central, onde ocorrem os
amigos, funcionários do Banco do
principais shows, com bandas
Brasil, decidiram criar a Festa da
de
Juventude para acolher esse público,
nacional.
ocorrendo
da
dúvidas é o espaço que mais
Associação Atlética Banco do Brasil
agrega a juventude festeira,
(AABB). A Festa da Juventude
pois seu acesso é totalmente
acontece sempre na última sexta-
gratuito, com as atrações em
feira da Festa de Sant'Ana, mesmo
sua maioria patrocinadas pelo
dia e horário do Baile dos Coroas,
governo do estado em parceria
sempre
com a prefeitura municipal.
nas
animada
dependências
por
bandas
e
sucesso
Sem
regional
e
sombra
de
75
DOSSIÊ IPHAN
A Festa de Sant'Ana é o lugar
privilegiado
dos
reencontros,
é
a
oportunidade dos “filhos ausentes”
retornarem para visitar seus familiares e
amigos. O período da Festa, que
coincide com o recesso escolar da
metade do ano, propicia a oportunidade
de muita gente retornar ao seu lugar de
origem. Além do Pavilhão de Sant'Ana
e das celebrações religiosas, existem
pelo menos duas celebrações que são
diretamente destinadas ao objetivo de
promover o reencontro de amigos e
familiares que vivem distante e que
aproveitam a ocasião da Festa de
Sant'Ana para rever os seus. São a Festa
do Reencontro e as festas de ExAlunos, com destaque para aquela
{Festa de Sant’Ana}
promovida pelo Colégio Diocesano
Seridoense, criado em 1942, mais
conhecido como o CDS.
A festa do reencontro teve início
no ano de 1983 sob iniciativa da “Loja
Maçônica Regeneração do Seridó”,
então presidida pelo Venerável Mestre
rigor em relação aos trajes. Em sua
Francisco
seus
primeira edição houve uma parceria
organizadores, o objetivo da festa do
entre a igreja católica e a loja maçônica
reencontro era agregar mais uma
Regeneração do Seridó, que só se
atrativo à grande Festa de Sant'Ana,
manteve mesmo na primeira festa. A
propiciando um espaço festivo de
festa do reencontro já teve como palco
reencontro entre o citadinos e seus
a Assoiação AtlÉtica Banco do Brasil
conterrâneos
fora.
(AABB), a Associação dos Servidores
Ocorrendo sempre no último sábado da
da Caern de Caicó (ASSEC) e até
Festa de Sant'Ana, a festa do reencontro
mesmo o Atlético Clube Coríntians de
teve seus estilo inspirado no baile dos
Caicó, mesmo lugar onde ocorre o baile
coroas, que acontece no dia anterior,
dos coroas, finalmente se fixando pelos
mas certamente com menos pompa e
últimos dez anos no Caicó Iate Clube.
Santiago.
que
Segundo
viviam
76
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Assim como no baile dos coroas, o
(CDS), esta última apontada como a
acesso à festa do reencontro é pago por
mais
primeiras
uma composição ritual um pouco mais
meio da aquisição de mesas ou de
tentativas de se organizar um festa em
elaborada, com a celebração de uma
senhas
um
homenagem aos ex alunos do CDS
missa, seguida de aulas da saudade das
público que varia entre oitocentas e mil
datam de meados da década 60 do séc.
turmas de 10, 20, 30, 40 e 50 anos,
pessoas. O principal interesse dos
XX,
continuidade.
finalizando com uma festa animada
participantes nessa festa, conforme seus
Apenas a partir de 1986, com os
geralmente por alguma banda da região.
relatos é o da confraternização entre
esforços da Associação dos Ex Alunos
Outra característica particular é o
aqueles residentes na cidade, e os
do CDS, a festa passou a ter mais
horário de sua realização, iniciando
amigos que retornam em época de
consistência, ocorrendo a cada ano com
sempre às oito e trinta da manhã do
férias coincidente com a Festa de
um público cada vez maior. Um dos
primeiro sábado da Festa de Sant'Ana,
Sant'Ana. É com esse espírito que
objetivos da festa, em seus primórdios,
com a celebração de uma missa na
transcorre
muitos
era o de arrecadar fundos para a
igreja Matriz de São José, antiga capela
cumprimentos, abraços e conversas
manutenção das dependências físicas
do CDS, seguida das aulas da saudade.
calorosas, ao som das tradicionais
do CDS, bem como das bolsas de
A
orquestras de baile. As festas de ex
estudo que até hoje são concedidas para
exclusivamente aos ex alunos, e só a
alunos propiciam outro espaço de
estudantes de baixa renda. Há vinte e
partir do meio-dia as portas do CDS se
reencontros, se tem conhecimento de
quatro anos a festa do ex aluno do CDS
abrem para acolher também familiares e
pelo
é
amigos dos ex alunos. O público é
avulsas,
a
menos
comportando
comemoração,
duas:
a
do
Centro
Educacional José Augusto (CEJA) e a
do
Colégio
Diocesano
Seridoense
tradicional.
mas
sem
organizada
As
uma
e
gerida
Associação de Ex Alunos.
pela
sua
A festa do ex aluno envolve
parte
limitado
cerimonial
com
a
é
venda
destinada
de
uma
quantidade de senhas equivalente ao
77
DOSSIÊ IPHAN
público
máximo
que
comporta
{Festa de Sant’Ana}
o
colégio, cerca de mil e quinhentas
pessoas, que tem direito a churrasco e
vinho à vontade. Tudo ocorre nas
próprias dependências do CDS, que
empresta momentaneamente seu espaço
formal de estabelecimento de ensino ao
orgiasmo festivo do reencontro. A cada
ano há homenagens à uma turma ou
grupo de ex alunos, dentre os quais
podemos
encontrar
várias
personalidades religiosas e políticas,
assim como empresários e profissionais
liberais bem sucedidos, formados nos
quadros de uma das mais respeitadas
instituições de ensino do estado.
78
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Nas festas de padroeiro em geral, e
em especial, na Festa de Sant'Ana de
Caicó, nos deparamos com um conjunto
de ofícios e modos de fazer rituais e
cotidianos, cada qual com funções e
significados
sociais
e
simbólicos,
econômicos
estéticos,
particulares,
atribuídos pelos executantes e por
apreciadores. São saberes e fazeres –
ligados à alimentação,à arte decorativa,
ao
artesanato
–
que
podem
ser
encontrados em todos os municípios do
Seridó, concentrando-se em Caicó nos
períodos
de
festejps,
sobretudos
naqueles em homenagem à Sant'Ana.
As comidas festivas, e os bordados
fazem parte da vida cotidiana dessa
população e configuram seu universo
cultural, sendo reconhecidos como
patrimônio cultural da região.
79
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
As festas de padroeiros, em
parentes que moram distantes, para
sertão nordestino. Muito embora o
especial a de Sant‟Ana, se constituem
comemorar aniversários, casamentos e
ofício seja de domínio de homens e de
como um momento ideal para os
batizados e em outras datas especiais,
mulheres,
caicoenses viverem o passado no
como as festas de fim de ano e Natal.
presença mais expressiva na produção
presente, ao saborearem as apetitosas
Dentre as “comidas festivas” presentes
do queijo de manteiga. As mulheres se
comidas
na culinária do município de Caicó e
relacionam mais com a produção do
pertencer ao domínio e ao espaço das
que são degustadas na
Festa de
queijo de coalho. Mesmo assim, a
donas de casa, algumas se especializam
Sant‟Ana, figuram pratos tradicionais
produção de queijo é uma fonte de
na profissão e passam a ser convidadas
como a buchada, a panelada, a fritada, a
renda
e / ou contratadas para preparar o
galinha caipira, a carne de criação e de
integral, que termina por envolver
cardápio
de
outrora.
Apesar
de
os
primeiros
familiar,
têm
complementar
uma
ou
familiares
e
porco torrada, a paçoca de carne de sol,
diversos membros do grupo doméstico.
regadas
a
os queijos de manteiga e de coalho, os
No imaginário coletivo, os queijos de
“comidas festivas.” A culinária do
biscoitos (raivas, sequilhos, palitos) e
coalho e de manteiga artesanais são
Seridó oferece
os doces, como o chouriço e os filhoses
comidas
guarnecidos com mel.
especialidades
disponibilizadas aos comensais em
O ofício de queijeiro e o modo de
Acredita-se que o queijo de coalho teria
ocasiões festivas. Essas são elaboradas
feitura dos queijos de coalho e de
surgido com a necessidade que tinham
com mais freqüência no ensejo de
manteiga
saber
os viajantes, ao realizarem longas
festas de padroeiros, para recepcionar
relacionado ao ciclo da pecuária no
jornadas, de acondicionar o leite nas
de
comunitárias
“comidas
festas
que
são
uma
variedade
tradicionais”
que
de
são
constituem
um
tipicamente
da
nordestinas,
culinária
local.
80
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
mochilas (matulões) fabricadas a partir
que a massa ganhe uma consistência
ainda
do estômago de animais jovens. Com
mais firme, recebendo, no final, o
apresentações
isso, os viajantes observaram que o leite
tempero da “manteiga da terra”. As
técnicas e regras antigas.
coagulava e que a massa era muito
denominações queijo de coalho e queijo
No passado, com raríssimas exceções, o
saborosa. Daí surgiu o queijo de coalho.
de
devem-se,
ofício de doceira e o modo de feitura de
Contudo, esse conhecimento já era
respectivamente, ao uso, em suas
chouriço, filhoses, biscoitos de goma de
dominado por alguns povos antigos,
receitas, do coalho e da manteiga. Essas
mandioca,
conforme nos lembra Cascudo (1973,
iguarias
são
guloseimas da doçaria seridoense, era
2004). Tanto o queijo de manteiga
assadas,
ou
como o de coalho têm no leite seu
acompanhamento
ingrediente principal, diferenciando-se
regionais.
quanto ao sabor, ao modo de feitura, às
industrializada
um
praticamente assistemático, aprendido e
formas
de
fenômeno surgido nas últimas décadas,
transmitido no seio familiar, onde as
comestibilidade. Enquanto a fabricação
os modos de feitura sofreram algumas
humílimas doceiras, ainda meninas,
do queijo de coalho é baseada na
modificações. Buscando ajustarem-se
iniciavam-se na doçaria. Era exigido
simples coagulação do leite de vaca ou
às normas da vigilância sanitária e dos
esmero e dedicação na feitura dos
de cabra, por meio de produto químico
mercados
quitutes, sob pena de se pôr em risco a
ou de coalho animal e na prensagem da
queijeiros passaram a seguir uma
reputação
massa, na do queijo de manteiga, o leite
padronização em seus produtos, quanto
familiar, algumas mulheres não se
é coagulado com o soro de leite e
à forma, ao peso e à embalagem. A
contentavam com a simples reprodução
depois é submetido ao cozimento, para
despeito dessas modificações, alguns
de “receitas da vovó” e inventavam
de
apresentação
e
manteiga
saboreadas
como
de
Com
dos
frescas,
“tempero”
alguns
a
ou
pratos
fabricação
queijos,
consumidores,
muitos
mantêm
as
de
assim
formas
acordo
como
com
de
e
as
outras
reservado às mulheres, como outras
atividades culinárias e
domésticas.
Tratava-se
saber-fazer
de
da
um
família.
Em
clima
81
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
novas receitas e combinações a partir
crescendo e que gera renda para a
que ficam impressas nas guloseimas. É
dos elementos disponíveis no contexto.
economia doméstica, um crescimento
pelo nome delas que os produtos
Com o passar do tempo, esse saber-
diretamente associado à valorização das
circulam na comunidade. Além das
fazer
e
“coisas da terra” nos mercados regional
doceiras citadas e respectivas famílias,
transformado com novos ingredientes e
e nacional. Todos os recursos materiais
há
novas
Antigamente,
necessários para a feitura dos biscoitos
desenvolvendo essa atividade na região.
mesmo existindo algumas doceiras que
são oriundos das doceiras e de sua
O
faziam
por
família. Em geral, a fabricação dos
atividade e de sua relevância para a
encomenda, prática que ainda subsiste,
doces envolve o trabalho de membros
economia familiar ainda está por ser
a grande maioria da produção era para
da família e de “ajudantes”, os quais
feito.
consumo da própria família. As iguarias
recebem salário pelo serviço prestado.
eram apropriadas para serem servidas
A mulher continua à frente desse
apreciadíssimo,
e/ou presenteados aos visitantes e
segmento de produção alimentar, apesar
diferente das variações da doçaria
convivas mais exigentes. Alguns tipos
de a participação do homem vir
portuguesa. No Seridó, ele é servido
eram fabricados principalmente para
crescendo,
décadas,
com mel feito de rapadura ou de
ocasiões especiais e pelas famílias que
conforme observações das doceiras.
engenho e é mais consumido no
tinham
condições
Elas detêm o controle da produção e da
carnaval, durante a Quaresma e na
socioeconômicas. Hoje, grande parte do
comercialização dos doces e biscoitos,
Festa de Sant'Ana. Segundo as doceiras,
que é produzido é comercializada na
em parceria com familiares. Apesar da
antigamente o filhós era produzido no
região e exportada para outras cidades.
participação dos ajudantes na feitura
dia de carnaval, conhecido como
Trata-se de uma atividade que vem
dos “doces”, são as marcas das doceiras
“domingo de entrudo” ou “domingo
vem
sendo
tecnologias.
as
acumulado
especialidades
melhores
nas
últimas
muitas
estudo
da
outras
importância
famílias
dessa
O filhóes ainda é um doce
mas
segue
receita
82
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
mela-mela”, quando se faziam festas e
pelas doceiras seridoenses, há aqueles
uma prática muito antiga que continua
“mela-mela”
outros
em que se utiliza, como matéria-prima
em vigor entre os seridoenses. Os
produtos afins pelas ruas da cidade. As
básica, a fécula de mandioca, também
biscoitos ainda são utilizados como
pessoas tinham o costume de se
conhecida como polvilho, ou araruta. A
guloseimas
sujarem com goma e mel e saírem
raiva, o biscoito de leite e os sequilhos,
presentearem parentes e amigos, status
“melando” as outras, dentro das casas.
ou iscas, são os três tipos de “biscoitos
de que também goza o chouriço. O
A brincadeira era uma maneira de
caseiros” mais requintados e mais
chouriço é fruto de uma combinação
proporcionar um prazer a mais na
apreciados pela população. A produção
culinária de sangue e banha de porco,
alimentação da família e de integrar
e o consumo desses biscoitos é mais
rapadura, castanha de caju, leite de
vizinhos e amigos na alegria do período
intensa nos períodos de festas na
coco, farinha de mandioca, especiarias
carnavalesco. Outro fato associado à
localidade,
moradores
(canela, erva-doce, cravo, pimenta do
feitura dos filhoses, no período de
costumam receber visitas de parentes
reino e gengibre) e água. Algumas
carnaval,
dos
ou amigos em suas residências, pois os
mestras costumam usar também um
“papangus”. Estes se fantasiavam com
biscoitos caseiros são atrativos a serem
pouco de gergelim e uma e sal. A
máscaras , trajavam-se com roupas
oferecidos aos convivas. Afora as
feitura acontece no espaço da casa e é
velhas e saíam assustando as pessoas,
ocasiões festivas, os biscoitos são
um evento culminante e ideal para se
principalmente as crianças, dentro de
iguarias indispensáveis no “café de
reunir a família “extensa” – parentes,
suas casas. Para que eles não fizessem
finado”, oferecido aos parentes, amigos
vizinhos e amigos – e para o sangue de
medo às crianças, os adultos davam-
e conhecidos da família, após a missa
porco tornar-se comestível. Para que
lhes filhoses com mel e, então, eles iam
de trinta dias ou de ano do falecimento
isso aconteça, são necessárias, em
embora. Dentre os biscoitos produzidos
de um de seus membros. Trata-se de
média oito horas de fogo doméstico e a
com
era
a
goma
e
presença
quando
os
especiais
para
se
83
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
por alguns sobretudo, principalmente
ou carne-seca, da lingüiça de carne
por ser feito de sangue de porco A
bovina ou suína. Alguns marchantes
carne-de-sol, ou carne-seca, é a carne
também
bovina salgada de modo especial, uma
preparação da buchada. Para realizarem
iguaria
suas atividades, a maioria deles precisa
muito
seridoenses
e
apreciada
pelos
produzida
pelo
da
são
colaboração
especializados
de
na
ajudantes,
marchante. O ofício de marchante é
conhecidos na região como abatedores,
perícia técnica de uma mestra – como é
uma
predominantemente
magarefes e ajudantes. Geralmente, os
conhecida a mulher que faz o doce na
masculina, normalmente aprendida e
ajudantes tornam-se – posteriormente –
região – e de ajudantes, mulheres e
transmitida na própria família ou entre
marchantes ou somente abatedores,
homens.
pessoas
responsabilizando-se apenas pelo abate
Estes
últimos
geralmente
prática
conhecidas,
marchantes
e
participam mexendo o doce no tacho.
ajudantes.
Apesar de o chouriço ser um doce
comerciante especializado na compra,
praticamente
feito
na venda e no abate de bovinos,
encontramos
alguns
mestres
chouriço
região.
O
por
mulheres,
O
marchante
é
um
de
caprinos, ovinos e suínos. Ele também
chouriço
comercializa a carne desses animais e
permanece como uma iguaria singular
pode realizar a castração artesanal dos
na doçaria sertaneja, uma guloseima
machos. Além de suas atividades
não recomendada para pessoas doentes
comerciais, ele também domina o modo
e apreciado, sobretudo, por ter sabor
de conservação das carnes por meio do
doce. Mas é também um doce rejeitado
salgamento e a feitura da carne-de-sol,
na
e pela preparação das carnes.
As denominações que a carne-
84
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
de-sol recebe estão associadas ao fato
assada – na paçoca ou em pedaços. Já a
base de vísceras finas, misturadas ou
de
sua
buchada é uma “iguaria festiva” da
não com essas partes. Normalmente, as
preparação, ela era salgada e depois
culinária sertaneja – feita ora com carne
“buchadinhas”
exposta ao sol ou em ambiente fresco
ora como vísceras de caprinos ou
conjuntamente com os mocotós, as
até ficar seca. Ao discorrerem sobre o
ovinos – cujo modo estrutural de
tripas e a cabeça da criação (nome
processo de fabricação dessa carne, os
preparo, em especial seu recheio,
associado a espécies de caprinos e
marchantes dizem que, no passado, ela
apresenta variações de município para
ovinos, assim como a carne desses
era feita por salgamento e secagem ao
município. Contudo, em todas as
animais), num caldo que serve para
sol e ao vento, para ser desidratada e
situações, trata-se de uma comida feita
fazer o pirão. As partes da carne do
conservar-se por mais tempo. Apesar de
com bucho de criação, no formato de
animal que acompanham as buchadas
hoje praticamente os marchantes não
pequeno saco – chamado de “buchada”
formam
deixarem mais a carne secando ao sol, o
ou
buchada completa é um prato composto
processo de feitura da carne-de-sol
recheado com algumas partes desse tipo
pouco mudou. O consumo da carne-
de carne. Em alguns municípios, o
O consumo da buchada é mais
seca bovina pelos seridoenses é um
recheio é composto por carne de
intenso durante os fins de semana,
hábito que vem desde o desbravamento
criação
feriados e festividades e ainda é
da região pelos colonos. Nessa região,
temperada,
ela é considerada um alimento forte,
pedaços de vísceras, em outros, ele é
caprinos e ovinos. Desde muito tempo,
saudável e substancioso, indispensável
preparado com fígado, coração, bofe e
é um costume, na região do Seridó,
na alimentação, principalmente no dia-
sangue (estes dois últimos, opcionais).
quando do ensejo da matança de uma
a-dia.
Há, ainda, uma especialidade feita à
criação, a feitura da buchada ou da
que,
É
antigamente,
saboreada,
em
normalmente,
“buchadinha”
–
cortadinha
podendo
costurado
ou
moída
conter
e
e
alguns
a
são
“panelada”.
cozidas
Assim,
a
de duas comidas.
bastante
associado
à
matança
de
85
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
panelada, de preferência para ser
sagrado (o cordeiro). Hoje, o hábito
comensalidade.
saboreada no dia seguinte. Mesmo
ainda
continuam enfeitiçando a memória dos
assim, é comum a comercialização, no
proporções.
sertanejos, sobretudo quando estes são
mercado local, da buchada crua (já
As comidas festivas fazem parte da
capturados pelos seus aromas e sabores
preparada ou para ser feita) ou cozida.
culinária
vindos das “cozinhas maternas” durante
A buchada cozida é um dos “pratos” da
patrimônio
cozinha regional também apreciado em
Potiguar. Na qualidade de acepipes,
excepcionalidades que estes parecem
bares e restaurantes. No passado, era
elas vêm sendo elaboradas e saboreadas
reafirmar seu estatuto de comidas
muito freqüente o consumo de buchada
na atualidade, a despeito de algumas
festivas.
de carneiro no Sábado de Aleluia, por
mudanças vivenciadas em seus modos
ser essa comida derivada de um
de feitura, de comestibilidade e de
existe,
mas
sertaneja
imaterial
em
e
menores
do
do
vasto
Seridó
as
festividades.
Como
Pois
outrora,
são
nestas
símbolo
86
DOSSIÊ IPHAN
(ou
{Festa de Sant’Ana}
A arte do “bordado de Caicó”
Madeira, a partir do bordado à mão.
“arrumar um bom casamento” eram
do
Inclusive,
praticamente
Seridó),
segundo
os
os
padrões
tradicionais
obrigadas
de
a
bordar e
ter
as
interlocutores, chegou até a região do
remetem aos da Ilha da Madeira, em
habilidades
costurar.
Seridó trazida pelas mulheres dos
Portugal, com flores, folhas e pistilos.
Apesar de tratar-se de uma prática
colonizadores portugueses, no final do
Antigamente, o ofício de bordadeira
predominantemente
século XVII e início do século XX,
assim como o de costureira eram tão
desenvolvida
advinda, provavelmente, da Ilha da
importantes que as moças que queriam
residência da bordadeira, nos últimos
feminina
normalmente
–
na
87
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
anos tem havido a inclusão de homens
ainda, a máquina industrial, que garante
renascença e labirinto. A linha de seda,
na produção de bordados. Dentre os
mais rapidez e dispensa o controle com
que tem sido produzida em grande
municípios
produzem
os pés. Foram acrescentados, nesse
escala nos últimos anos, é usada como
bordados, estão Caicó e Timbaúba dos
processo, outros pontos e estilos de se
mais
Batistas. Os bordados de Caicó é o item
bordar bem como alguns incrementos
enxovais. O bordado tem um amplo
mais comercializado no período da
na
a
repertório e acompanha com freqüência
Festa de Sant'Ana, segundo pesquisas
máquina industrial tende à imprecisão
a moda. Atualmente, as peças mais
desenvolvidas
nos
produzidas são: caminhos de mesa,
que
mais
pelo
SEBRAE/Caicó
desde 2002. A princípio, o bordado era
matéria-prima.
bordados
No
que
entanto,
pedem
maior
detalhamento.
freqüência
no
bordado
de
panos de bandeja, lençóis de cama,
feito à mão. Mas, nos anos de 1940,
As principais matérias-primas
toalhas para lavabo, toalhas de banho e
com o surgimento da máquina de
dos bordados são os tecidos e as linhas.
redes. Fazem-se, ainda, camisetas e
bordar Singer na região, os pontos à
Borda-se com cores e matizes. Os
blusas de cambraia bordadas. Esses
mão fossem adaptados ao estilo do
pontos utilizados são: ponto cheio,
produtos são feitos a partir da leitura
bordado
matiz, turco, richelieu, granito (variação
que as bordadeiras fazem da moda.
interlocutoras, a primeira mulher a ter
do
reverso
Usam-se, também, bordados no enxoval
contato com esse tipo de bordado foi a
(também conhecido como haste ou
de recém-nascidos. Antigamente, era
caicoense Dona Maria do Vale. Além
atrás), crivo, bainha, ponto aberto,
comum a mulher passar toda a gestação
das de Caicó, as bordadeiras de
pesponto (variação do ponto arroz ou
elaborando as peças que compunham o
Timbaúba dos Batistas e de outros
ponto
mão).
enxoval, o qual incluía: o cueiro (lençol
municípios absorveram a técnica do
Atualmente,
pontos
de uso diário, com barrado bordada à
bordado à máquina. Atualmente, há,
tradicionais, há a junção de renda
mão geralmente com motivos florais,
à
máquina.
Segundo
as
ponto
doido),
contado,
ponto
feito
aliada
à
aos
88
DOSSIÊ IPHAN
com matiz, ponto sombra, ponto arroz e
{Festa de Sant’Ana}
Os diversos usos das peças,
ponto cheio), a camisinha de pagão, os
como
a
no desenvolvimento dos ofícios e
vestidos, para as meninas, e os lençóis
variedade de possibilidades para o uso
modos de fazer das comidas festivas e
para sair. O enxoval do batizado era
do bordado, que vai dos enxovais, às
dos bordados, esses são emblemáticos
especial: incluía o lençol e a camisa
roupas,
momentos
da região do Seridó: são referências que
comprida,
brancos,
importantes da vida e das relações entre
expressam e representam a cultura
matizados. No eventos religiosos mais
as esferas do sagrado e do profano.
seridoense.
Correspondem
solenes da Festa de Sant'Ana, como as
Como são diversos os usos, torna-se
conhecimentos
e
missas e procissão, fiéis e clero se
impossível determinarem-se detalhes
transmitidos de geração a geração,
preparam de modo sui generis, fazendo
muito específicos como também as
normalmente no seio familiar e/ou entre
uso do bordado. As vestes brancas de
dimensões das peças. Há referências
pessoas conhecidas, os quais estão
grande parte dos fiéis se evidenciam
aos bordados da Ilha da Madeira e
enraizados no cotidiano da comunidade,
por meio dos bordados, principalmente
outros
a
tendo expressiva importância social,
os
paramentos
criatividade das bordadeiras é ilimitada
simbólica e econômica para ela. Trata-
litúrgicos da igreja e dos padres
e está, ainda, relacionada às intenções
se de bens referenciais e significativos,
também fazem uso desse tipo de
do mercado e
moda. Assim,
com os quais os caicoenses constroem
adereço. É comum, ainda, que a última
observamos modificações e alterações
um sentimento de pertencimento a um
veste usada pela bordadeira, no leito de
de temas e de modelos, com o passar do
lugar, a uma cultura, e se diferenciam
morte – a mortalha – seja feita com
tempo
de outros povos, pois esses bens
bordado, muitas vezes, confeccionado
tecnologias e novos materiais.
de
regularmente
richelieu.
Os
por ela própria, em vida.
descrito
acima,
passando
tipos
e
de
revelam
Apesar de pequenas variações
por
pontos,
da
surgimento
de
mas
novas
práticas
a
sociais
refletem uma representação coletiva e
uma identidade social.
89
DOSSIÊ IPHAN
geração, sucessivamente. Por não ser
Salvino de Araújo, responsável em
imóvel, a Festa de Senhora Sant'Ana
grande parte pelo desenvolvimento que
abre-se às inclusões e adaptações em
a Festa conheceu nas últimas décadas.
face das demandas da comunidade que
Filho de uma das famílias mais
celebra. Por se tratar de uma Festa
tradicionais
plural – em torno da qual se imbricam
norteriograndense, possuidor de uma
vários eventos, tradições, costumes
astúcia retórica bem peculiar, Mons.
seculares
pedagogia
formal
religiosas,
ocorrem
conservando
das
a
celebrações
inovações
no
interior do acontecimento festivo, cuja
regularidade, ritmo e encadeamento
engendram a herança histórica que
passa a ser transmitida de geração a
inovações
–
sertão
Antenor conseguiu, ao longo dos seus
componentes foram, ao longo dos
quarenta e sete anos à frente da
tempos, incorporados à programação
paróquia
de
Sant'Ana
de
Caicó,
social
“dobrar”
representantes
do
poder
dos
e
do
novos
Algumas
Mesmo
{Festa de Sant’Ana}
festejos
da
mudanças
Padroeira.
bastante
público
e
da
iniciativa
significativas ocorreram a partir do ano
conseguindo
de 2007, com o advento da Ilha de
apoios para a realização da Festa de
Sant'Ana e a mudança do pároco de
Sant'Ana,
Sant'Ana de Caicó.
desenvoltura enquanto gestor de um
A
Festa
de
Sant'Ana
angariar
privada,
importantes
demonstrando
grande
foi
evento que crescia a cada ano. Seus
tomando maiores proporções sobretudo
esforços para a criação, em 1980, do
a partir da segunda metade do séc. XX,
Conselho
no paroquiado do Monsenhor Antenor
representação de diversos seguimentos
Paroquial,
tendo
90
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
da sociedade caicoense, contribuiu
programação
quanto
na
própria
sobremaneira para a organização e
organização da Festa de Sant'Ana, que
gestão dos festejos de Sant'Ana. Além
vem crescendo cada vez mais em
disso, o atual pároco emérito da
número de participantes, patrocinadores
paróquia de Sant'Ana tinha (e ainda
e eventos nos anos de seu paroquiado.
tem) o costume de cobrar publicamente
aos políticos melhorias para a Festa de
Sant'Ana e pra própria cidade de Caicó,
não medindo esforços para angariar o
apoio dos poderes públicos municipal e
estadual. A Ilha de Sant'Ana, construída
em 2006, é o maior ícone de sua luta
pelo aumento “do chão de Sant'Ana,
que estava ficando pequeno para esta
Festa grandiosa que hoje aí está”. Em
2007 Monsenhor Antenor é nomeado
Pároco Emérito, e indica Padre Edson
Medeiros de Araújo, seu primo, para
lhe
suceder
enquanto
Pároco
de
Sant'Ana de Caicó. Este passa a realizar
uma série de inovações tanto na
91
DOSSIÊ IPHAN
Percebe-se que todos os eventos
Diocese
a
cidade de Jucurutu-RN. O arrastão
compõem
programação
necessidade de integrar o público jovem
seguiu até a Catedral, onde houve
concebida pela paróquia, procura-se
na programação religiosa da Festa, que
celebração eucarística presidida por Pe.
envolver toda a sociedade em seus
encontra
João Paulo Pereira de Araújo e animada
diversos níveis, desde o pequeno
eventos “profanos” promovidos na Ilha
pelo
agricultor até os grandes empresários;
de Sant'Ana, clubes e bares da cidade.
Comunidade
do funcionário público mais subalterno
O arrastão ocorreu no primeiro dia da
Renovação Carismática Católica. Em
até as principais lideranças políticas; e
Festa, antecedendo a primeira novena
2010 a paróquia pretende repetir o
das crianças aos idosos. Uma inovação
que tinha a juventude como um de seus
evento, e espere receber um público
ocorrida
na
noitários, saindo às 17h da Praça Dom
ainda maior, ampliando também a
programação religiosa da Festa veio no
José Delgado, bairro Paraíba, indo até a
programação
sentido de contemplar os públicos de
Praça da Catedral de Santana. O
religiosas no Pavilhão de Sant'Ana,
gerações distintas. Sendo assim, a
arrastão da juventude “Sou por Jesus”
tudo isso com o intuito de agregar ainda
paróquia
eventos
foi animado por trio-elétrico puxado
mais a participação dos jovens nos
especiais: a Marcha dos Idosos e o
pelo Pe Heliton Marconi da paróquia de
Festejos de Sant'Ana que em 2010 será
Arrastão da Juventude. O arrastão da
Cruzeta, que já gravou seu segundo CD
dedicada à juventude, levando o tema
juventude ocorreu pela primeira vez no
com músicas religiosas, acompanhado
do ano da juventude da Diocese:
ano de 2009, sob a iniciativa do Setor
pelo Ministério de Música Recado de
“Jovem, levanta-te!”.
Diocesano de Juventude (SDJ), da
Deus, da paróquia de São Sebastião da
que
a
partir
agregou
a
de
dois
2007
de
{Festa de Sant’Ana}
Caicó, que
grande
sentiu
concorrência
nos
Ministério
de
Música
da
Católica
Shalom,
da
de
atrações
artísticas
92
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A Marcha dos Idosos teve início no ano
Marcha tem seu dia marcado na Festa
lazer e de interação entre eles, fazendo-
de 2001 por meio de uma parceria
de Sant'Ana, sempre na primeira sexta-
se ampliar ainda mais as redes de
firmada entre a Secretaria Municipal de
feira, saindo por volta das oito da
sociabilidade.
Ação Social de Caicó e o Movimento
manhã da Prefeitura Municipal de
de Integração e Orientação Social
Caicó com destino à Catedral de
(MEIOS) do Governo do Estado do Rio
Sant'Ana. O cortejo leva à sua frente
Grande do Norte. Ela teria sido
uma
idealizada por um político local em
acompanhado pela Filarmônica Recreio
articulação com alguns municípios
Caicoense (A Furiosa).
vizinhos, a idéia era reunir os idosos de
imagem
Na
de
Sant'Ana
Catedral,
é
recebida
festejos
Caicó.
eucarística, depois da qual é oferecido
Atualmente a Marcha dos Idosos
um “almoço dançante”, oferecido pelos
cresceu,
na
promotores da Marcha no Caicó Iate
programação religiosa oficial da Festa
Clube, onde podem desfrutar de uma
de Sant'Ana. São idosos de diversos
programação de lazer que segue até o
municípios da região, que partem de
final da tarde. A Marcha contribui não
suas cidades com o apoios dos poderes
só com a participação dos idosos de
públicos,
um
outros municípios no maior festejo da
transporte e uma equipe de apoio. A
região, mas propicia uma ocasião de
Sant'Ana
sendo
que
de
integrada
disponibilizam
uma
Marcha
é
seus municípios e trazê-los para os
de
com
a
e
celebração
93
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A maior transformação ocorrida
ginásio de esportes, erigida numa ilha
Ilha foi pela primeira vez utilizada
na Festa de Sant'Ana nos últimos
fluvial localizada no meio do rio
numa Festa de Sant'Ana. Contudo, sua
tempos adveio com a construção do
Seridó. Foi idealizada por Monsenhor
inauguração oficial só ocorreu em
Complexo Turístico Ilha de Sant'Ana.
Antenor, que lutou incansavelmente
2008, conforme noticiado pelo governo
Uma grande estrutura com praça, bares,
pela sua realização, vendo seu sonho
estadual:
restaurantes, palcos, um anfiteatro e um
ser materializado em 2007, quando a
“O Governo do Estado entregou à
população de Caicó, no dia 23 de julho, o
Complexo Turístico da Ilha de Sant‟Ana. Foram
investidos R$ 18 milhões na construção do espaço
que já vinha sendo utilizado pelos caicoenses
para eventos como a Festa de Sant‟Ana,
padroeira do município, que atrai turistas e
conterrâneos durante todo este mês de julho. O
complexo foi construído para incrementar o
turismo de eventos na região. O espaço consiste
num parque temático, parque infantil, palco
para os shows com praça de alimentação, boxes
para artesanato, anfiteatro e um ginásio dotado
de quadra poliesportiva com dimensões oficiais e
arquibancada com capacidade para 3.000
pessoas. O complexo deve atrair também pousadas
que vão atender aos visitantes durante todo o
ano, principalmente nos grandes eventos e festejos
do calendário turístico de Caicó.”
(Governo do Estado. Disponível em:
http://www.rn.gov.br/acoes-dogoverno/complexo-turistico-da-ilha-desantana/12/
94
DOSSIÊ IPHAN
Segundo o próprio Monsenhor
Governo
{Festa de Sant’Ana}
do
Estado,
a
No anfiteatro “Hilda Araújo*"
Prefeitura
Antenor, a Ilha foi idealizada como
Municipal de Caicó e instituições
ocorre
forma de resolver o problema da “falta
financeiras.
Reúne
Sant'Ana”, que dramatiza a “lenda do
de chão” para a Festa de Sant'Ana, que
artesãos de todo o Seridó, de várias
vaqueiro”, narrativa de fundação da
crescia a cada ano, disputando espaço
localidades do Estado e do Nordeste
cidade de Caicó. Ao longo dos dez dias
com barracas, palcos e parques de
brasileiro, cujo colorido e qualidade das
de Festa, dividem o grande palco
diversão. A construção da Ilha, de fato,
produções em tecido, palha, barro,
instalado na Ilha atrações musicais
“desafogou” a Festa de Sant'Ana,
madeira, couro e metal encantam os
regionais e nacionais, como os cantores
abrigando três estruturas que até então
olhos dos visitantes. Os bordados em
Raimundo
funcionavam
da
linho e organdi formam um espetáculo
bandas como Calcinha Preta, Aviões do
Catedral: os parques de diversões, os
à parte pela beleza, delicadeza e
Forró,
shows promovidos pela prefeitura e
criatividade
“desafogo” no espaço da Festa de
governo do estado e a Feira de
cuidadosamente
e
Sant'Ana, a Ilha trouxe benefícios
Artesanato dos Municípios do Seridó,
executados com habilidade e perfeição
financeiros para a cidade, conforme
mais
FAMUSE,
pelas artesãs das cidades seridoenses.
demonstra
coordenada pelo Comitê Regional das
Durante a realização dessa feira de
Produtivos Locais (APL)da Festa de
Associações e Cooperativas Artesanais
artesanato são oferecidas aos visitantes
Sant'Ana, concluído em 2008 pela
do Seridó – CRACAS, tendo como
dos stands variadas atrações musicais e
Redesist/UFRJ:
parceiros o Serviço de Apoio a Micro e
artísticas com valores da terra.
nas
conhecida
Pequena
Empresa
adjacências
como
–
SEBRAE,
A
FAMUSE
dos
desenhos
elaborados
o
espetáculo
Fagner,
dentre
“Terra
Elba
outros.
estudos
dos
de
Ramalho,
Além
do
Arranjos
o
95
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
“A partir da utilização da Ilha para a
realização de shows os impactos econômicos
puderam ser sentidos, principalmente porque, exceto
as atrações principais que são de fora, faz-se
questão que tudo seja adquirido em Caicó, afirma
com orgulho o secretário municipal de planejamento
[…] O secretário destaca o aumento no consumo
em geral e, consequentemente, da arrecadação de
ICMS, que geralmente é o dobro em agosto, quando
comparado a julho.”
(Nota Técnica 13/2008 – APL Festa de
Sant'Ana de Caicó/RN: Fé, Arte e Gastronomia, p.
58)
96
DOSSIÊ IPHAN
De
fato,
para
os
Caicó e adjacências. Além disso, a Ilha
programação de shows da Festa de
eventos realizados durante a Festa de
abriga em seu território dois espaço
Sant'Ana, o Carnaval, encontros de
Sant'Ana, a Ilha conta com um grande
bastante significativos para a identidade
motociclistas, chegando a servir até
aparato material e humano, como a
e história de Caicó, quais sejam, o
mesmo como ponto de apoio para o
montagem de palco, tendas, stands,
Serrote da Cruz, onde foi fixada uma
Rally dos Sertões, a maior competição
bares, banheiros químicos, gerador de
cruz em 1901 em comemoração à
deste gênero no país. Com sua praça de
energia,
passagem de século, recebendo em
alimentação, com estrutura de parque
bombeiros, médicos. Enfim, uma série
1940
São
infantil, telões e palcos para shows e
de
ou
Sebastião; e o mítico Poço de Sant'Ana,
apresentações de pequeno porte, a Ilha
disponibilizados com forma de apoio no
lugar que abriga as principais narrativas
de Sant'Ana se tornou imediatamente
próprio município. De fora, apenas as
de origem da cidade. Nas palavra de
um dos pontos prediletos de lazer tanto
bandas contratadas para realizar os
Monsenhor Antenor “a Ilha hoje é a
para visitantes quanto para moradores
shows e o patrocínio do espetáculo
sala de visitas de Caicó”, é nela onde
de Caicó, durante o ano inteiro.
Terra de Sant'Ana que ainda assim é
ocorrem
encenado por atores, em sua maioria, de
socioculturais
policiamento,
recursos
suportar
{Festa de Sant’Ana}
corpo
contratados
de
uma
capela
os
votiva
principais
da
à
eventos
cidade, como
a
97
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
98
DOSSIÊ IPHAN
É
realizada ou apoiada pela paróquia
notável a transformação
sobretudo no modo de organização e
gestão da Festa de Sant'Ana a partir da
atuação de Monsenhor Edson, que
passa
a
{Festa de Sant’Ana}
almejar
“profissionalização”
uma
no
que
maior
diz
respeito à produção do evento. Nesse
sentido foi criada, no primeiro ano de
seu paroquiado, a Comissão da Festa de
Sant'Ana responsável por conceber,
produzir e gerir a Festa de Sant'Ana.
Trata-se de uma equipe de voluntários,
formada por leigos da paróquia que não
medem esforços para realizar a cada
ano uma Festa cada vez mais grandiosa
e bem organizada. Toda a programação
passa
necessariamente
Comissão,
que
é
por
dividida
esta
em
subcomissões responsáveis por cada
evento
(feirinha,
pavilhão,
peregrinações, jantar, liturgia, etc.).
Monsenhor Edson e sua Comissão são
responsáveis também por inovações
bastante significativas na concepção,
produção e gestão da Festa, que a vem
fazendo tomar proporções maiores a
para integrar o séquito de colaboradores
cada ano. Podemos destacar, assim, a
de sua realização. Nesse sentido, é
realização do Café com a Imprensa,
apresentada uma programação prévia
realizado desde 2008 com o objetivo
sobre a qual os jornalistas, blogueiros e
não só de divulgar a cada ano a
colunistas
programação da Festa de Sant'Ana, mas
inclusive sugerindo modificações.
sociais
podem
opinar,
de mobilizar os profissionais deste setor
99
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Outra novidade substancial foi a criação
estudos realizados pela RedeSist/UFRJ,
padroeira do sertão nordestino. As
da
em 2008 a Festa de Sant'Ana teve a
inovações ocorridas em sua concepção,
marketing, dentro da comissão da festa,
adesão
organização
sendo responsável pela divulgação da
oficiais. Outra façanha da comissão de
acompanhar as dimensões que a Festa
Festa, assim como pela elaboração e
comunicação
a
de Sant'Ana vem tomando, com o
comercialização de um plano de mídia.
elaboração de um website oficial da
desafio de não se deixar de lado tudo
Essa comissão é composta em média
Festa, através do qual o evento vem
aquilo que dá o caráter peculiar aos
por cinco pessoas, entre estudantes
sendo transmitido ao vivo desde 2007.
festejos em homenagem à Senhora
universitários e profissionais da área de
De acordo com a própria comissão,
Sant'Ana promovidos na cidade de
comunicação (radialista e blogueiros).
objetivo num futuro próximo é ampliar
Caicó.
A mentalidade desta comissão é a de
a abrangência do plano de mídia, assim
criar um grupo de patrocinadores
como viabilizar a transmissão televisiva
oficiais da Festa de Sant'Ana, que
ao vivo dos principais momentos da
desejem
Festa
comissão
ter
de
sua
comunicação
marca
e
divulgada
de
quatorze
e
marketing
(Abertura,
Missa
expressivo
da
transformações que a Festa de Sant'Ana
informalidade do “pedido de uma
de Caicó vem sofrendo ao longo dos
ajudinha” para um plano de mídia
anos.
profissional, conforme salienta um dos
extrapolando
membros da comissão. Os esforços
concretizando-se a cada ano como uma
geraram resultados e, segundo os
das
saindo
Sua
mais
as
notórias
gestão
buscam
as
notoriedade
vem
fronteiras
locais,
significativas
e
Solene,
Procissão,
região,
São
foi
naquele que é o evento religioso mais
da
etc.).
patrocinadores
festas
de
100
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A FESTA DE SANT'ANA
COMO
OBJETO
DE
REGISTRO
101
DOSSIÊ IPHAN
A região do Seridó é lugar de
destaque no cenário do sertão do Rio
Grande do Norte, por sua história
original, sua religiosidade vivida no
cotidiano, sua tradição culinária e
festiva, motivos de orgulho dos filhos
da terra de Sant‟Ana. Se, localmente,
essa particularidade é reconhecida e
valorizada,
existiam
verificamos
ainda
ações
que
dos
não
órgãos
governamentais para a promoção e a
valorização da cultura local. Ao elegerse a Festa de Sant‟Ana como objeto de
registro, abrem-se novas perspectivas
que
permitem
elaboram
os
entender
processos
como
se
identitários
conjuntamente à reiteração de uma
cultura nativa através da tradição - via
recorrentemente utilizada pela
{Festa de Sant’Ana}
antropologia. Podemos aproximar esta
A Festa de Senhora Sant‟Ana de Caicó
perspectiva à de Nathan Wachtel,
não apenas socializa, educa e instaura o
quando ele propõe a abordagem da
tempo da celebração, ela constrói
“problemática
história, tece escolhas em torno de
da
construção
da
identidade nas suas relações com a
espaços
memória coletiva.” Com efeito, o
cartografia dos festejos religiosos e não
registro da Festa de Sant‟Ana de Caicó
religiosos.
mostra a cultura do Seridó em ação e
divulga a cultura popular e erudita. Isso
revela regimes de temporalidade que
implica em considerar as formas e os
orientam os discursos sobre o passado.
diversos gêneros de expressão cultural
Na tentativa de uma leitura cruzada da
que constam na vasta programação:
festa,
dos
exposições de pintura e de arte popular,
moradores, dos seus discursos e das
apresentação de grupos de teatro e
suas
das
práticas
narrativas,
cotidianas
públicos
Além
e
disso,
desenha
produz
a
e
sublinhamos
a
cantores locais, lançamentos de livros,
elementos
na
discos, revistas e jornais com encartes
elaboração de uma identidade e, através
especiais, que circulam amplamente no
desta, de uma apropriação peculiar da
período dos festejos. Enquanto “ato de
história e do espaço locais que devem
participação comunitária,” a Festa da
ser
Padroeira enseja maneiras de convívio
importância
desses
amplamente
registrados,
salvaguardados e divulgados.
social
e
pedagogicamente
102
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
fundamentadas ao longo dos séculos,
complementares:
matizadas por um sentimento comum
popular e a institucionalização dos
de
de
festejos sócio-religiosos estabelecida
pertencimento ao lugar Caicó. Sob as
pela Igreja Católica e poderes público e
orientações prescritivas da pedagogia
privado. A pluralidade das celebrações
católica, atuou e atua como uma
imprime à moldura dessa Festa a
instância
possibilidade da (re)criação do modelo
veneração
à
Padroeira
implementadora
religiosidades
articulada
e
de
com
festivo
que
a
espontaneidade
se
articula,
aprendizagens instrutivas, culturais e
simultaneamente, com a tradição e
educativas, envolvendo condutas de
modernidade
convivência pública e comportamentos
religioso e social, com o lúdico e
socialmente aceitos. Por outro lado, a
cultural e com a devoção permanente e
Festa de Senhora Sant´Ana de Caicó
(quase) única a Senhora Sant‟Ana,
permanece situada na confluência de
Padroeira dos caicoenses de outrora e
duas
de então.
dinâmicas
culturais
(renovação),
com
o
103
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
todos são iguais, sejam ricos sejam
identidade caicoense. O chouriço, doce
pobres. A procissão de encerramento da
típico da culinária local, também
Festa de Sant'Ana é um momento
merece lugar de destaque entre os
magnífico, um desfile de comoção e fé
elementos
do sertanejo, que não mede esforços no
Sant‟Ana,
pagamento de suas promessas.
anteriormente, é em dias de festa que a
A Procissão de Sant’Ana
essenciais
pois
da
como
Festa
foi
de
dito
família se une para preparar o quitute e
Momento máximo da expressão
servi-lo, seja para a própria família, seja
de fé do povo do Seridó, a procissão de
para vender na típica feirinha de
Nossa Senhora de Sant‟Ana é o cume
Sant‟ana.Com o intuito de salvaguardar
dos
região,
os ofícios de bordadeira e mestra de
responsável por reunir milhares de
chouriço e dos modos de fazer bordado
pessoas todos os anos provenientes de
e doce de chouriço, propõe-se ações
várias partes do Brasil e do exterior, tão
que
festejos
religiosos
da
forte é essa expressão que nos últimos
anos teve seu trajeto modificado e
Ofício de bordadeira e mestra de
fiéis que seguem em cortejo até a Igreja
Matriz. É nesse momento que a ela se
juntam as diversas irmandades, os
diversos setores. Durante a procissão
do
transmissão
dos
e
garantam
saberes
para
a
as
gerações mais novas, como a realização
chouriço
ampliado para atender a demanda de
incentivem
Caicó carrega o título de “terra
de
bordado”,
culturais, bem como a documentação
se
sobressaindo
internacionalmente pela qualidade de
oficinas,
mostras
e
concursos
textual e visual destes ofícios.
seus bordados. Os bordados de Caicó
dão
o
ponto
na
tão
tradicional
104
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
A culinária típica: doces, biscoitos
vemos além da fé e dedicação de um
com
filhoses e pratos regionais.
povo religioso, um banquete de encher
comuns: o vaqueiro, o touro, um poço e
É impossível conceber a Festa
os olhos, tamanha é a variedade de
Sant‟Ana.
de Sant‟Ana sem a sua culinária típica.
carnes, doces e biscoitos delicados de
tradição oral tudo começou, o poço de
As comidas festivas, como já falado,
massa fina que são feitos especialmente
Sant‟Ana é parte essencial da história
fazem parte da culinária sertaneja e do
para a festa. São comidas que perduram
não apenas da Festa, mas também da
vasto patrimônio imaterial do Seridó
até hoje, passadas de mãe a filha e que
cidade de Caicó. O lugar foi palco
Potiguar. Os filhóses e os doces são
também, a exemplo dos bordados
também da enérgica resistência popular
muito apreciados.
típicos da região, já ganharam o mundo.
quando em Caicó um grupo de pessoas,
No Seridó, bem
referências
Local
e
onde
protagonistas
segundo
a
como em todo o nordeste a culinária é
na revolta ”Quebra-Quilos”, em 1873,
um prazer à parte, dessa forma, não se
contra a adoção do sistema métrico-
pode pensar em festança no nordeste
decimal no Império, atirou ao poço
sem falar da culinária. É assim também
quilos de pesos metálicos. Hoje o poço
durante os festejos de Sant‟Ana, onde
fica dentro do Complexo da Ilha, e é
um dos lugares mais visitados pelos
fiéis devotos de Sant‟Ana, que vêm a
Caicó durante os festejos religiosos.
O poço de Sant’Ana
Apesar das diferentes versões
míticas, a fundação de Caicó emerge
105
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
Calvagada de Sant’Ana
longo dos tempos ela foi se
Entre as atividades que
tornando escassa, mas em 2002
compõe o cenário da Festa,
um
encontramos a Cavalgada de
retomou essa tradição e, em
Sant‟Ana como expressão da
conjunto com a Associação dos
devoção dos vaqueiros que saem
Vaqueiros, realiza no primeiro
da cidade de Acari, cidade que
domingo da Festa a Cavalgada
última sexta-feira da Festa de
dista a 65 km, e finaliza em
de Sant´Ana. O evento conta
Sant'Ana, desde a década de
frente a catedral
com
caicoenses
dos
1940. Não se sabe precisamente
que
nas
a sua origem, mas especula-se
décaca de 1950, a cavalgada de
zonas rurais, e também de
que ela tenha sido criada como
Sant‟Ana é um dos ícones da
pessoas que residem em Caicó,
forma
festa, no ínicio realizada pelos
cidades vizinhas e amantes das
promessa de um devoto. A
moradores das zonas rurais, ao
vaquejadas.
carreata,
Celebrada
desde
a
a
de
participação
Matriz.
na Praça da
grupo
cavaleiros
É
residem
um
evento
de
pagamento
a
exemplo
de
da
significativo para os festejos a
Cavalgada de Sant‟Ana, tornou-
Sant‟Ana, e muito esperado
se símbolo de fé do homem do
pelos amantes da cavalaria.
interior, que agradecido pelas
Carreata de Sant’Ana
graças alcançadas, vêm todos os
A carreata de Sant'Ana,
ocorre sempre na noite da
anos à Festa para celebrar
Sant‟Ana.
novena dedicada aos motoristas,
106
DOSSIÊ IPHAN
A
{Festa de Sant’Ana}
sobretudo no que diz respeito à
cotidiana dos habitantes de Caicó.
sociabilidade
no
Esses têm orgulho em expressar um
demarca um tempo e um espaço de
interconhecimento. Assim, o espaço
sentimento de autoctonia fundada numa
sociabilidade no qual o sagrado e o
sagrado, as expressões narrativas, os
religiosidade e num conjunto cultural
profano se entrelaçam na construção de
atores sociais envolvidos e a tradição
material e imaterial que se adapta às
uma identidade coletiva. É uma ocasião
festiva são elementos que permitem
configurações temporais e espaciais. A
especial para relembrar a história da
manter a continuidade entre o passado e
festa configura-se como um bom
cidade, reavivar laços de solidariedade
o
Reminiscências,
observatório para entender as mudanças
fundados na família ampliada, reafirmar
permanências e variações que, no
sociais ocorridas recentemente, em
valores cristãos e acionar registros
entanto, mantêm uma tradição atuante
particular
específicos
nos
patrimonialização da figura da santa
Festa de Sant‟Ana de Caicó
da
cultura
seridoense,
presente.
diversos
fundada
momentos
da
vida
as
referentes
à
107
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
com o desenvolvimento de um turismo
atraindo assim, turistas que lotam os
Sant‟Ana de Caicó é importante em
cultural - processo pelo qual a presença
hotéis e pousadas da cidade em busca
todos
do passado no presente se expressa
de
ou
caicoenses,
numa polifonia em que o velho e o
simplesmente em agradecimento por
patrimônio
novo se cruzam, na evocação de uma
um ano de bênçãos. A Festa de
preservá-la, mas também dar a ela o
temporalidade
contínua.
Diante
da
grandeza e magnitude dessa festa que já
alento
para
suas
dores,
os
aspectos
da
vida
reconhecê-la
cultural
é
dos
como
não apenas
reconhecimento devido que a faz ser
parte da cultura de um povo.
existe há mais de 200 anos não se pode
deixá-la
passar
despercebida
dos
brasileiros, pois algo que persistiu há
tanto tempo merece e deve continuar
sendo preservado para as gerações
futuras, a Festa de Sant‟Ana vem ao
longo dos anos se reinventando e sua
importância para a cidade de Caicó
deixou
de
ser
apenas
meramente
religiosa, visto que a festa atrai muito
mais que os filhos devotos que foram
morar longe de sua terra, ela passou a
fazer parte do calendário religioso do
estado do Rio Grande do Norte,
108
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115
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
ANEXO 1 – MAPAS E CROQUIS
DA FESTA DE SANT’ANA
Mapa de Atrações Turísticas. (fonte: Paróquia de Sant'Ana de Caicó)
116
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
117
Croqui do Pavilhão de Sant'Ana. (fonte: Paróquia de Sant'Ana de Caicó)
DOSSIÊ IPHAN
ANEXO 2 – LINHA DO TEMPO
{Festa de Sant’Ana}
1754 – Criação da Irmandade de Sant’Ana
1824 – Passagem de Frei Caneca pela vila em
outubro.
1756 – Fundação da Irmandade do Santíssimo
1683 – Construção da Casa Forte do Cuó, no
Sacramento
1858 – Criação da comarca do Seridó,
Sítio Penedo
1771 – Criação da Irmandade dos Negros do
1689 – A região enfrenta uma grande seca, que
Rosário
1868 – Elevação da Vila Nova do Príncipe à
duraria até 1692.
1777 – Proibição por parte da Igreja de
1695 – Construção da Capela Primitiva
compreendendo Vila do Príncipe e Acari.
novenas particulares nas casas.
condição de cidade pela Lei Provincial n. 612.
1870 – Construção do Mercado Público e da
dedicada a Sant’Ana, após a construção da
Praça do Mercado (hoje Praça da Liberdade).
Igreja Matriz, essa capela passou a pertencer a
1778 – Emancipação política de Caicó com a
N.S. do Rosário, até 1800, quando então foi
instalação da Vila Nova do Príncipe, pelo
1876 – Criação da primeira banda de música da
destruída, pelo tempo.
desembargador
cidade.
Antônio
Felipe
Soares
Bederode.
1700 – Fundação do Arraial do Queiquó por
Manuel de Souza Forte, um dos primeiros
sesmeiros da região.
1805 – Restauração da Igreja Matriz.
1809 – Visita canônica à Paróquia de Sant’Ana
1889 – Lançamento do Jornal O povo (9 de
março) e Fundação do Centro Republicano
Seridoense (7 de abril).
1735 – Elevação do Arraial a Povoação,
pelo visitador Padre Inácio Pinto de Almeida e
1890 – A cidade muda mais uma vez de nome,
passando a ser chamado de Povoação do
Castro, irmão de Frei Miguelinho.
passando a ser chamada de Seridó, esse nome
Caicó.
1748 – Inicio da construção da Igreja Matriz de
Sant’Ana do Caicó. Nesse mesmo ano é criada
a Freguesia de Nossa Senhora de Sant’Ana.
1812 – Construção da Casa de Câmara e Cadeia
da Vila do Príncipe.
1818 – A comarca de Caicó deixa de ser
subordinada a Comarca da Paraíba
perdurou entre 1 de fevereiro de 1890 até 7 de
julho do mesmo ano, quando a cidade volta a
ser chamada de Caicó.
1909 – Criação da Banda Recreio Caicoense,
existente até os dias atuais.
118
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
1918 – A Praça do Mercado passa a se chamar
1949 – Criação do jornal Folha de Caicó em 3
1996 – Posse do quinto bispo diocesano, D.
Praça da Liberdade.
de dezembro.
Jaime Vieira Rocha.
1926 – O presidente Washington Luiz visita a
1952 – Posse do segundo bispo da Diocese de
2006 – Posse do sexto e atual bispo diocesano,
cidade.
Caicó, D. José Adelino Dantas.
D. Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz.
1931 – Construção do Coreto Primitivo da
1953 – Chegada da imagem de N.S. de Fátima à
2007 – Ano de transição da paróquia de
Praça da Liberdade.
cidade.
Sant’Ana, saída do Mons. Antenor e posse do
1933 – Visita do Presidente Getúlio Vargas.
1954 – Lançamento do jornal A Folha em 6 de
1939 – Criação da Diocese de Caicó pelo Papa
Pio XII
1940 – Instalação da Diocese de Caicó pelo
Mons. Paulo Herôncio de Melo, vigário de
atual pároco, Mons. Edson.
março
1958 – Construção do Arco do Triunfo na
Catedral de Sant’Ana, em homenagem a
passagem de Nossa Senhora de Fátima por
Caicó.
Currais Novos, representando o Senhor Bispo
de Natal D. Marcolino Esmeraldo de Souza
1959 – Posse do terceiro bispo diocesano D.
Dantas, em sessão solene antes da Missa
Manuel Tavares Araújo.
Solene da Festa de Sant’Ana, em 28 de julho.
1941 – Posse do primeiro bispo da Diocese de
Caicó D. José de Medeiros Delgado, dentro da
Festa de Sant’Ana em 26 de julho.
1962 – Primeira Festa dos Ex- Alunos do
Colégio Diocesano.
1978 – Posse do quarto bispo diocesano de
Caicó, D. Heitor de Araújo Sales.
1943 – Construção do novo e atual Coreto da
Praça da Liberdade.
1984 – Fundação do Mosteiro das Clarissas por
D. Heitor de Araújo Sales.
119
DOSSIÊ IPHAN
ANEXO 3 – ÍNDICE DE
ILUSTRAÇÕES
1-Capa: Imagem de N.S. de Sant’Ana durante a
procissão (Foto: Acervo do IPHAN)
2-Contra-capa: Detalhe do Arco do Triunfo da
Igreja Matriz (Foto: Acervo do IPHAN)
8- Imagem de N.S. de Sant’Ana. (FOTO: Maria
Iglê)
11- Igreja de Sant’Ana em 1924, na época da
inundação. (foto: acervo do Museu do Seridó).
12- O Mítico Poço de Sant’Ana em meados do século
XIX.(Acervo fotográfico do Museu do Seridó)
{Festa de Sant’Ana}
21- Detalhe da imagem primitiva de Sant’Ana
(acervo: Museu do Seridó)
50- Extensão da Catedral nas noites de novena.
(foto: acervo IPHAN)
23- Procissão de Sant'Ana em finais do século
XIX (acervo: Museu do Seridó)
54- Feirinha de Sant'Ana. (foto: acervo IPHAN)
30- Os primeiros componentes da Banda Recreio
Caicoense. (foto: acervo do Museu do Seridó)
36- Pracinha do Coreto, onde ocorriam as feiras e
apresentações durante os festejos mais antigos.
(foto: acervo do Museu do Seridó)
37 – Igreja Matriz na década de 50 já com a
segunda torre e o arco construídos. Abaixo,
detalhe da imagem de N.S. de Fátima,
homenagem feita a esta, quando de sua passagem
pela cidade de Caicó na década de 1930.
38- Detalhe do Arco a noite, em dia de Procissão.
56- Espaço da Feira de Sant'Ana. (foto: acervo
IPHAN)
58- Cavaleiros de Sant'Ana. Caminhão recebendo
a benção ao passar sob o Arco do Triunfo. (foto:
Maria Iglê)
60- Caminhão levando a imagem de Sant’Ana
durante a Carreata. (foto: Maria Iglê)
62- Missa Solene na Matriz (Foto: Maria Iglê)
65- O beija em dois momentos. (foto: Maria
Iglê).
Seridó (foto: Equipe INRC-Seridó - 2007
46- Produtos vendidos durante o leilão de
Sant’Ana. (Foto: Acervo IPHAN)
66- Procissão de Sant'Ana pelas ruas de Caicó
tendo em destaque, as imagens de Sant'Ana e São
Joaquim. (Foto: Maria Iglê)
17 - Imagem de Sant’Ana em procissão pelas ruas
da cidade de Caicó. (FOTO: Maria Iglê)
47- O encontro das imagens peregrinas na Igreja
Matriz. (Foto: Acervo IPHAN)
67- Procissão em torno da Matriz (Foto: Maria
Iglê)
20- Igreja Matriz de Sant’Ana em 1940, antes
de ser construída a segunda torre. (acervo: Museu
do Seridó)
48- Mapa do R.N com o detalhe das cidades
percorridas pelos peregrinos. (elaborado a partir
do original de Darlan P. de Campos).
70- Procissão na Av. Seridó, uma das principais
avenidas da cidade. (foto: Maria Iglê)
14- Detalhe de pintura sobre parede no Museu do
120
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
71- Itinerário da Procissão de Sant'Ana. (foto:
Maria Iglê)
94- Anfiteatro da Ilha de Sant'Ana (Fonte:
Acervo IPHAN).
73- Baile dos coroas. (foto: acervo IPHAN)
96- Vista parcial da Ilha de Sant’Ana. (Foto:
Vilma Vitor)
75- Festa da Juventude. (foto: acervo IPHAN)
78-Festa do Ex Aluno do CDS (Colégio Diocesano
Seridoense). (foto: acervo IPHAN)
79- Bordado de Caicó (pano de bandeja). A
tradicional buchada de bode. (foto: acervo
IPHAN).
84- Acima
à esquerda: Tacho de chouriço pronto.
Abaixo a direita: Doces diversos da culinária
nordestina. (Foto: Acervo IPHAN).
86- Biscoitinhos típicos de Caicó. (Foto: Acervo
IPHAN).
87- Bordado típico de Caicó (Foto: Acervo
IPHAN).
91- Devoto de Sant'Ana. (foto: acervo IPHAN).
93- Arco do Triunfo iluminado a noite,
tendo no detalhe N.S. de Fátima. (foto:
acervo IPHAN)
98- Ilha de Sant'Ana a noite (Fonte: Acervo
IPHAN)
101- Detalhe da Imagem de Sant’Ana tendo a
sua frente o Arco do Triunfo e a imagem de Nossa
Senhora de Fátima. (Foto: Maria Iglê)
103- Frontão da Igreja Matriz, vista a noite,
acima percebe-se o detalhe da cruz iluminada.
(Foto: acervo IPHAN)
104- Filhose e a preparação do doce de Chouriço.
(fotos: acervo IPHAN)
105- Cavaleiros da cavalgada de Sant’Ana e
Caminhões passando pelo arco do triunfo durante
a Carreata.
107- Imagem de Sant’Ana à frente da Matriz.
(Foto: Maria Iglê)
121
DOSSIÊ IPHAN
{Festa de Sant’Ana}
122
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Dossiê Iphan [ Festa de Sant`Ana]